Rota africana da al-Qaeda passa também por Angola

June 13, 2017 | Autor: E. Costa Almeida | Categoria: African Studies, International Terrorism, Angola, al-Qaeda
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FOLHA8 23 DE janeiro DE 2015

Rota africana da Al-Qaeda passa porAngola

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ste texto de Eugénio Costa Almeida, um dos mais reputados especialistas em questões africanas, data de 26 de Setembro de 2005 e foi publicado no Notícias Lusófonas. A questão do terrorismo, também em África (ver o mais recente caso do ataque a um hotel em Ouagadougou, capital do Burkina Faso), é mais do que actual, como é há muito conhecida. Daí a importância deste texto. “A questão islâmica tem sido largamente debatida em Angola, havendo quem questione das vantagens do aparecimento e proliferação de mesquitas em Luanda e em algumas outras cidades angolanas O Semanário Angolenese (SA), sob o título ”As pegadas de Al Qaeda em Angola” traz na primeira página como Manchete a passagem e, ou, fixação de elementos ligados à Al Qaeda em Angola, nos últimos anos, em grande parte devido não só à sua extensa e vulnerável fronteira nacional mas também por causa na aproximação, cada vez maior – e compreensível e desejável – aos norteamericanos e ao mundo ocidental.

De certa forma na linha do que uma investigação do Notícias Lusófonas que, em Fevereiro 2003, titulava em Manchete: “Iraque e Al-Qaida recrutam mercenários em todo o lado”, alertando para o recrutamento de angolanos e portugueses por pessoas afectas a Saddam Hussen e Bin Laden para a elaboração de “alguns serviços” e “levar algumas encomendas para pontos estratégicos da Europa”. Mas não é só Angola onde os fundamentalistas islâmicos estão sedeados. Este semanário relembra, ainda, as células fundamentalistas descobertas em países como Argélia, Chade, República Democrática do Congo, Djibouti, Egipto, Guiné-Bissau, República da GuinéConacry, Líbia, Mali, Mauritânia, Nigéria, Somália, Sudão, Tanzânia e Tunísia. Relativamente à Somália, o Diário de

Notícias, na edição de domingo de 25 de Setembro passado, refere que 7 elementos terão sido detidos na autoproclamada República Somalilândia (no Norte do país) e que outros dois suspeitos estarão em fuga algures na localidade de Hargeisa, a auto-proclamada capital. Ainda segundo o SA, alguns dos eventuais elementos suspeitos de pertencerem a Al Qaeda, embora de ascendência árabe, são de nacionalidade brasileira e paraguaia e estarão ligados às redes do narcotráfico. De notar que, ultimamente, a questão islâmica tem sido largamente debatida em Angola, havendo quem questione das vantagens do aparecimento e proliferação de mesquitas em Luanda e em algumas outras cidades angolanas. Todavia, o bispo emérito da Igreja Metodista, Emílio de Carvalho, não parece preocupado

com essa penetração islâmica. Para aquele bispo metodista, com larga obra publicada, nenhuma religião deve ver cerceado o seu crescimento e divulgação desde que os seus princípios religiosos e societários se pautem pelos princípios humanistas da religião e cumpram com os preceitos da sociedade onde estão inseridos. E quem diz o Islamismo, diz uma qualquer outra religião. Realidade angolana vai em sentido contrário

De acordo com os meios de comunicação social angolanos, nomeadamente o citado SA e, indirectamente, o Independente – ao referir a expulsão de cidadãos nigerianos por viverem ilegalmente em Luanda –, os islamitas estarão claramente disseminados na sociedade angolana: desde o Ministério do Interior, onde trabalha um dos líderes de uma das mais fortes sociedades islâmicas do país, a Comunidade Angolana dos Muçulmanos Crentes (CAMC), fundada em 1996 por Kapeco – Benguela, Huambo, Bié, KwanzaSul, Lundas e Cabinda serão locais onde estará bem implantada –; a partidos políticos, como o Udpa (pertencente à Convenção Nacional Democrática de Angola que agrupa vários partidos e grupos políticos, entre eles a FNLA e o PDA), cujo presidente é José do Nascimento e o Secretário-geral é Pedro Emous, reconhecido pelo islâmico nome de Saidy os quais fundaram primeiro o Centro Islâmico de Documentação e, mais tarde, a Nahduatul Islâmico de Angola cuja finalidade principal será obter fundos para o seu partido; ou o PDP-ANA cujo presidente da Co-

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missão de Disciplina e Controlo é Niiti Mansur e fundador da Liga Islâmica de Angola, de orientação sunita. Mas não serão só organizações internas angolanas que fazem a transmissão directa da mensagem islâmica. Segundo pessoas ligadas à segurança interna e ao poder existem cerca de uma vintena de organizações internacionalistas em Angola. A Associação Islâmica para o Desenvolvimento de Angola (AIDA), liderada pelo guineense Niame, que teve a sua origem na Africa Muslim Agency, uma organização xiita de origem koweitiana e liderada por um marroquino abertamente conotada com movimentos terroristas islâmicos. Nesta altura a AIDA parece estar unicamente virada para a educação e para a construção de um centro de saúde em Luanda; A Associação Ansar Suna (AAS) fundada em 1998 por um sudanês mas, actualmente liderada por um congolês-democrático. A sua principal função é doutrinar as populações segundo princípios ultra-fundamentais islâmicos. Estão próximos dos talibans; A Comunidade de Divulgação de Documentação da Religião Islâmica em Angola, também reconhecida por Cdria/Dawah-Angola, claramente sunita, é reconhecidamente uma organização vocacionada para a instrução militar. Tendo

sido a primeira organização islâmica a operar em Angola, e sabendo que alguns angolanos estão a operar no Iraque, compreende-se como ainda se mantém operacional no país. Mas também existem ONG’s que a coberto da solidariedade social, mais não são que organizações recrutadoras de pessoas para a islamização forçada, nomeadamente em países onde a doutrina islâmica faz parte integrante do aparelho de Estado. Relembro que a Associação de Beneficência de Angola (ABA), de orientação sunita, foi, em tempos, referenciada como tendo sido a “fornecedora” de jovens angolanos para o Mali a fim de serem islamizados. A maioria dos jovens, desempregada, aceita, sob a capa da formação, serem levados para outros países de onde, teoricamente, virão melhor preparados para contribuírem para o desenvolvimento nacional. Todavia, e na prática, acabam por ser submetidos à doutrinação imperativa do Islão. E aqui, relembro que num ensaio publicado em 2003, “Fundamentalismo Islâmico: A Ideologia e o Estado” (ed. Autonomia27) relembrava que, ao contrário do que se teria passado nos séculos anteriores, a progressão do Islamismo, quer como força religiosa, cujos princípios são credíveis e acatáveis como

qualquer outra religião humanista, quer como doutrinária – e aí essa expansão poderia ser preocupante – não mais estaria contida nas suas fronteiras naturais, ou seja, no caso africano, nas florestas equatoriais. Moçambique a o caso afroaustral mais paradigmático, onde sobressai um fundamentalista islâmico, do ramo xiita, Ya-Qub Sibindy, do Partido Independente de Moçambique (PIMO) e, claramente, apoiado pela Líbia. Recordo uma passagem do livro, inserido nas Considerações Finais, sob a presença islâmica no Continente africano. “Apesar dos significativos esforços que, conjuntamente, os dirigentes africanos, com especial destaque para os dos países do Magreb, e os europeus vêm a desenvolver, a onda fundamentalista islâmica parece longe de estar contida nas suas fronteiras geohistóricas. Uma das medidas preconizadas por esses dirigentes, destacandose os países da margem norte do Mediterrâneo, para a contenção dessa onda, prende-se com a melhoria de vida do povos do Norte de África, – principal

região donde provém o maior foco de instabilidade integrista na Europa. – Para tanto, procuraram desenvolver as principais actividades económicas da região, no âmbito do comércio, serviços e indústrias, elevando assim o nível de vida das sociedades muçulmanas dessa região, aumentando a riqueza e reduzindo substancialmente o desemprego. Ou seja, conter esses povos na região, fixando-os nas suas terras natais. Daí que alguns países magrebinos tenham celebrado com a UE acordos preferenciais de associação e “joint-ventures” com vista ao desenvolvimento económico de certas regiões. Igualmente diminuir a profunda dependência cultural da religião pode ser uma medida necessária e oportuna, isto, porém, sem nunca desprezar o poder histórico que a mesma tem nas sociedades islâmicas. A Sharia é, na grande maioria dos Estados muçulmanos, a Lei Fundamental do país. Outra das medidas que os dirigentes moderados da região vêm tomando, em particular na Argélia e no Egipto, prende-se com a contenção das ideias

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fundamentalistas islâmicas provenientes da Líbia, Sudão e Irão. A maioria mantém relações cortadas ou congeladas com estes países islâmicos, considerados a par da Síria (este na óptica norteamericana) os países exportadores do terrorismo fundamentalista islâmico.” Ontem como hoje, a situação mantém-se inalterável. Talvez, e preocupantemente, mais evidente. Não será com o encerramento das mesquitas – até porque até ao presente a religião islâmica ainda não conseguiu impor-se como tal pelo facto de não ter conseguido obter as 100 mil assinaturas exigidas e em dois-terços das províncias do país – mas tão só com o controlo dos movimentos islâmicos que proliferam sob a capa da solidariedade. Será isto um acto e uma defesa da Censura. Seja-o; mas primeiro está a defesa dos princípios que devem nortear a vida e segurança nacional; depois há a convivência internacional. Numa comunidade cada vez mais globalizante, uma não é indissociável da outra.”

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