ROTA DAS GRUTAS DE PETER LUND, PATRIMÔNIO CULTURAL E TURISMO: possibilidades e limitações

May 24, 2017 | Autor: Gabriel Campos | Categoria: Tourism, Sinalização, Peter Wilhelm Lund, Tourist Routes
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ROTA DAS GRUTAS DE PETER LUND, PATRIMÔNIO CULTURAL E TURISMO: POSSIBILIDADES E LIMITAÇÕES BARBOSA, Maria Flávia Pires (1); BRAGA, Solano de Souza (2); REIS, Gabriela Carneiro (3); OLIVEIRA, Ana Paula Guimarães Santos (4); CAMPOS, Gabriel Victor Martins (5); SANTOS, Thaís Neves (6); ROCHA, Mariana Araújo (7) 1. UFMG/IGC - [email protected] 2. UFMG/IGC - [email protected] 3. UFMG/IGC - [email protected] 4. UFMG/IGC - [email protected] 5. UFMG/IGC - [email protected] 6. UFMG/IGC - [email protected] 7. SETES/MG - [email protected]

RESUMO A Rota das Grutas Peter Lund (RGPL) é um caminho que se inicia em Belo Horizonte e integra outros quatro municípios mineiros - Lagoa Santa, Pedro Leopoldo, Sete Lagoas e Cordisburgo. A RGPL surgiu com o objetivo de impulsionar o desenvolvimento econômico e gerar novos negócios por meio do turismo. O Projeto busca, também, promover maior competitividade turística entre os destinos indutores do estado, além de aumentar o fluxo de turistas na região. Dessa forma, a Rota das Grutas Peter Lund seria uma importante estratégia, capaz de fortalecer a identidade mineira, a partir do resgate da memória do naturalista Peter Lund e de sua contribuição nos estudos sobre paleontologia.É sob esse contexto que este artigo propõe discutir sobre a importância histórica e cultural da Rota das Grutas Peter Lund, além de buscar analisar esse projeto, ainda em fase de implementação, com foco na integração dos municípios que compõem a Rota a partir, sobretudo, da sinalização disponível. As cidades de Lagoa Santa, Pedro Leopoldo e Cordisburgo foram as cidades mais influenciadas pelo trabalho de Peter Lund. Já o município de Sete Lagoas foi integrado à Rota devido ao Monumento Natural Gruta Rei do Mato, onde se localiza alguns dos mais importantes salões cársticos do mundo. A Rota tem início na cidade de Belo Horizonte, no Museu de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC/MG) - Marco Zero do percurso. Em seguida, a rota segue pelo município de Lagoa Santa onde se encontra o Túmulo de Peter Lund e o Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire (CAALE), que correspondem ao marcos 1 e 2 respectivamente. O próximo atrativo proposto é o Museu Peter Lund, localizado no perímetro do Parque Estadual do Sumidouro entre a divisa dos municípios de Pedro Leopoldo e Lagoa Santa. Seguindo pela estrada que margeia o Parque encontram-se a Gruta Lapa do Baú e o Monumento Estadual Lapa Vermelha, onde a “Luzia”, o

mais antigo fóssil humano foi encontrado. A Rota das Grutas prossegue até a cidade de Sete Lagoas, onde está a Gruta Rei do Mato, localizada no Monumento Natural Estadual Rei do Mato, distante aproximadamente 53 quilômetros do município de Cordisburgo. Em Cordisburgo encontram-se os dois últimos marcos da Rota: o Museu da Gruta do Maquiné, localizado no Monumento Natural Estadual Peter Lund e o Museu Casa Guimarães Rosa. No último marco, em Cordisburgo, é possível ao visitante fazer uma transição entre regiões culturais do Estado, uma vez que é possível, por meio de placas e passeios interpretativos, percorrer, além do Circuito Turístico das Grutas, outro Circuito Turístico – o Circuito Guimarães Rosa. A Rota das Grutas Peter Lund apresenta importantes aspectos ligados às ciências naturais (paleontologia, geografia, geologia, botânica e zoologia) e acredita-se que deva ser mais valorizada e conhecida. O projeto que está em curso expõem desafios e possibilidades, além de representar uma alternativa capaz de conciliar o desenvolvimento da atividade turística, com a valorização do patrimônio cultural e o desenvolvimento local.

Palavras-chave: Turismo; Rota das Grutas Peter Lund; Sinalização Turística.

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Introdução O projeto Rota das Grutas de Peter Lund (RGPL) vem sendo desenvolvido, desde 2009, a partir de uma parceria entre a Secretaria de Estado de Turismo e Esporte de Minas Gerais (SETES/MG) e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (SEMAD/MG). Os principais objetivos, segundo seus idealizadores, são conservar o meio ambiente e promover o desenvolvimento econômico por meio do turismo. O nome dado ao projeto remete a Peter Wilhelm Lund, um dos mais importantes naturalistas do mundo, responsável por contribuições efetivas para o conhecimento sobre a botânica e a zoologia, sendo ainda pioneiro e referência para estudo da paleontologia, arqueologia e espeleologia no Brasil. Um dos maiores incentivadores e o primeiro idealizador do projeto foi o também paleontólogo Castor Cartelle que, assim como Peter Lund (figura 1), é um dos maiores especialistas mundiais sobre a fauna do pleistoceno. Com base nos trabalhos desses dois importantes cientistas é que foi traçada a Rota das Grutas de Peter Lund.

Figura 1: Castor Cartelle (esquerda) e Peter Lund (direita). Fonte: Google/2014

O início do projeto esteve ligado ao Projeto Estruturador da Região Metropolitana de Belo Horizonte, no âmbito da SEMAD/MG. Sendo assim, couberam a essa Secretaria e ao Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF/MG), em parceria com o Departamento de Obras Públicas (DEOP), a realização dos projetos arquitetônicos e de engenharia referentes à infraestrutura das Unidades de Conservação (UCs) envolvidas, ou seja, o Parque Estadual do Sumidouro, localizado nos municípios de Lagoa Santa e Pedro Leopoldo; o Monumento Natural Estadual Gruta Rei do Mato, localizado em Sete Lagoas; e o Monumento Natural Estadual Peter Lund, localizado em Cordisburgo, bem como a regularização fundiária dessas UCs, a elaboração dos planos de manejo espeleológicos, além de iniciar a execução das obras dos receptivos turísticos nas três unidades de conservação.

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Notou-se que, muito embora recursos estivessem sendo investidos em infraestrutura nas unidades-alvo, e que estivessem sendo cumpridas obrigações legais impostas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), como a elaboração de planos de manejo, por exemplo, o projeto não contava, de fato, com um planejamento voltado para o turismo. Todavia, em se tratando de áreas protegidas com grande visitação, que contam com atrativos turísticos que receberam recursos públicos para sua estruturação física, a sustentabilidade destas unidades passaria, necessariamente, pela boa estruturação para o turismo. Nesse sentido, em 2010, o Governo de Minas Gerais, por meio da SETES/MG, celebrou parceria com a Organização Mundial de Turismo (OMT) para a realização do Programa Volunteers OMT em Minas Gerais. A finalidade dessa parceria seria a realização de estudos técnicos, com o apoio de especialistas internacionais da área do turismo, para a elaboração de um Plano Estratégico para o desenvolvimento turístico da região em questão. Atualmente, o projeto RGPL está inserido na carteira de projetos estratégicos do Governo do Estado de Minas Gerais, como parte do Programa “Destino Minas”, sob a coordenação da SETES/MG. Trata-se de um programa estruturador que faz parte do Plano Plurianual de Ação Governamental - PPAG 2012-2015. Tal programa visa: promover o desenvolvimento econômico e a geração de negócios por meio do turismo, aumentando a competitividade turística dos destinos indutores de Minas Gerais e demais destinos turísticos, gerando aumento do fluxo de turistas, melhoria na satisfação dos visitantes e, consequente aumento de geração de empregos e renda, contribuindo para consolidação de Minas Gerais como destino turístico de excelência, fortalecendo a identidade mineira e garantindo a sustentabilidade econômica dos empreendimentos turísticos após a copa de 2014 (PPGA 2012-2015, 2012).

Desse modo, o projeto RGPL passou a incorporar, também, a missão de gerar desenvolvimento econômico local aliado à conservação ambiental e valorização das riquezas culturais e históricas por meio do turismo. Assim, a SETES/MG vem realizando ações diretamente ligadas à estruturação do Produto Turístico “Rota das Grutas Peter Lund”, com destaque para as ações de fomento a operacionalização do produto e adequação dos Centros de Atendimento ao Turista dos municípios que integram a Rota. Sob esse contexto, a RGPL apoiou-se no princípio do fomento do desenvolvimento regional por meio do turismo, pautada em elementos naturais e culturais da região cárstica de quatro municípios – Belo Horizonte, Lagoa Santa, Sete Lagoas e Cordisburgo. De acordo com as Diretrizes da Política Pública de Turismo do Estado de Minas Gerais (2001), as instituições envolvidas atualmente na concepção desse produto turístico são: I) Circuito Turístico das Grutas; II) Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF/MG); III) Maquinetur; IV) SELTUR; e V) Prefeitura de Lagoa Santa. Dessa forma,

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a escolha do nome justifica-se pelo elo que conecta as principais atrações do roteiro e direciona a temática das intervenções. Torna-se necessário proteger o patrimônio natural da APA Carste, caracterizada pelos inúmeros sítios arqueológicos e pela fragilidade face à expansão da região. Lund explica-se pelo trabalho de exploração nas grutas calcárias mineiras, do cientista dinamarquês Peter W. Lund - referência mundial no campo da paleontologia, da arqueologia e da espeleologia (Diretrizes da Política Pública de Turismo do Estado de Minas Gerais, 2011, p.22).

Vale destacar, ainda, que a Rota das Grutas Peter Lund foi considerada um dos roteiros prioritários para a Copa do Mundo FIFA 2014, definidos pela SETES/MG em conjunto com a antiga Secretaria Extraordinária da Copa (SECOPA/MG). Esse recorte considerou os principais destinos turísticos mineiros, com potencial turístico para público nacional e internacional, localizados a um raio de até 150 km de distância de Belo Horizonte, uma das cidades-sede do evento. Tal fato implica, de antemão, uma maior divulgação e visibilidade no material promocional oficial. É importante dizer, contudo, que os destinos da Rota Lund, ainda que conhecidos e já visitados (em 2013 as três grutas juntas receberam mais de 100.000 visitantes) não refletem para a região os benefícios econômicos que podem ser gerados por esse fluxo de visitantes. Sendo assim, a expectativa da SETES/MG seria, pois, transformar parte do público excursionista das grutas em turistas que permanecerão na RGPL por dois, três ou mais dias. Dessa forma seria possível incrementar a geração de empregos na prestação de serviços relacionados ao transporte, hospedagem e A&B nos municípios da Rota. Nesse sentido, ressalta-se a importância da sinalização turística das cidades que compõem a Rota, uma vez que um atendimento de qualidade e a prestação de informações aos turistas nacionais e internacionais contribuem para uma melhor experiência turística. Desse modo, este artigo propõe discutir sobre a importância histórica e cultural da Rota das Grutas Peter Lund, além de buscar analisar esse projeto, ainda em fase de implementação, com foco na integração dos municípios que compõem a Rota a partir, sobretudo, da sinalização disponível. Vale dizer que a sinalização, tanto geral quanto turística, é tema de debate em Belo Horizonte, assim como nos demais municípios envolvidos, já há algumas décadas e os problemas relacionados a essa questão afetam diariamente a vida de muitos moradores, assim como dos visitantes. Por essa razão, a ênfase na análise sobre esse tema se justifica diante dessa importante demanda.

Metodologia Tendo em vista o contexto no qual está inserido o projeto RGPL, alguns caminhos foram estabelecidos na tentativa de atingir os objetivos propostos neste artigo. A primeira etapa consistiu em um levantamento bibliográfico e documental, a partir de consultas a diversos 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

sites e publicações envolvendo temas pertinentes ao projeto, como o histórico da RGPL, a sinalização turística e sobre itinerários culturais. Ainda, diante da complexidade que envolve os aspectos ligados à sinalização turística no recorte dos municípios integrantes da Rota das Grutas Peter Lund, ou seja, Belo Horizonte, Lagoa Santa, Sete Lagoas e Cordisburgo, essa análise ocorreu em diferentes etapas. Dessa maneira, foram realizadas visitas in loco para registro da sinalização turística em cada um dos municípios integrantes da RGPL, além de registros da sinalização disponível nas vias de acesso que ligam esses municípios. Por fim, para cada área e trecho percorrido, tanto na capital Belo Horizonte quanto nos demais municípios, foram feitas as análises da sinalização geral e turística disponíveis. Os principais parâmetros de análise foram organizados tendo como base o documento Guia Brasileiro de Sinalização Turística, elaborado em 2001, pela EMBRATUR, IPHAN e DENATRAN, conforme mostra o quadro 1. As orientações se referem à forma como a sinalização está colocada, sua visibilidade, a integração com os atrativos, continuidade da informação e a padronização quanto à forma, cores, letras, setas e pictogramas. A escolha desse Guia se justifica, uma vez que o documento é uma orientação para os estados e municípios quanto à forma de sinalização adequada e, além disso, objetiva alcançar uma linguagem comum capaz de retratar o turismo nacional.

O projeto Rota das Grutas Peter Lund Apesar da importância da região onde está localizada a Rota das Grutas Peter Lund, já que foi palco de importantes descobertas para as ciências naturais no século XIX, ela ainda não tem o devido reconhecimento. Assim como Darwin, Lund também desenvolveu estudos que o levaram a questionar a teoria da geração espontânea e do catastrofismo que ainda eram tidas como verdades absolutas na época. Peter Lund também criou a base para o primeiro estudo sobre a ecologia brasileira ao convidar o naturalista Eugene Warming para realizar um levantamento do cerrado da região de Lagoa Santa, que culminou na primeira pesquisa publicada, em 1840, sobre fitoecologia do mundo. Além das descrições feitas por Lund sobre aspectos físicos e culturais da região, os naturalistas que o visitaram também deixaram importantes registros. Temos como exemplo esse trecho de um discurso em que Warming falava sobre a saudade que sentia de Lagoa Santa: Sinto-me fortemente atraído e cativo daqueles lugares, onde a vida era leve como o ar que se respirava; ensolarada como a terra onde se caminhava; e avançava tranquila como as ondas da pequena lagoa de Lagoa Santa. Muitas 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

vezes as singelas melodias brasileiras ressoam aos meus ouvidos, fazendo-me sentir um forte desejo de rever aqueles lugares e então sinto a veracidade do antigo provérbio: “Ninguém vaga impune sob as palmeiras”. Em Lagoa Santa havia luz, felicidade e paz! (Warming, 1973).

Outra passagem que revela como a admiração pelas novas paisagens convivia com a busca por novas descobertas é essa descrição que Lund fez da Gruta de Maquiné: Os esplêndidos reflexos produzidos pela luz, ferindo as inúmeras facetas destes cristais, deslumbram a vista, de modo que o homem se julga transportado a um palácio de fadas. A mais rica imaginação poética não saberia criar tão esplêndida morada para seres maravilhosos; diante dessa notável gruta, ela seria forçada a confessar a sua impotência. Meus companheiros permaneceram durante muito tempo mudos à entrada deste templo; depois, involuntàriamente, se ajoelharam e, persignando-se, exclamaram, diversas vezes: “Milagre! Deus é grande!”Foi-me impossível dissuadi-los da ideia de que este templo devia servir de morada a Nosso Senhor. Quanto a mim, confesso que nunca meus olhos viram nada de mais belo e magnífico nos domínios da natureza e da arte (LUND, 1950).

Ao longo dos anos que morou em Lagoa Santa, Lund fez inúmeras expedições, sobretudo na região onde foi criado a Rota das Grutas Peter Lund, como é possível ver na comparação com o mapa onde o cientista realizou suas expedições e o mapa da Rota atual, conforme mostram respectivamente as figuras 2 e 3:

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Figura 2: Mapa de localização dos municípios e atrativos da Rota das Grutas Peter Lund Fonte: Jornal Estado de Minas

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Figura 3: Mapa das cavernas pesquisadas por Peter Lund e das rotas feitas pelo naturalistas em MInas Gerais. Fonte: Adaptado de “Das grutas à luz: os mamíferos Pleistocênicos de Minas Gerais”, 2012.

Pelas razões apresentadas é que consideramos que a proposta da Rota das Grutas Peter Lund converge para o que é proposto pela UNESCO para os Itinerários Culturais.

Itinerários Culturais A Rota das Grutas Peter Lund engloba diferentes municípios cada qual com características próprias. Além dos monumentos naturais representados pelas grutas existentes na RGPL, a história da região cárstica informa sobre os antepassados da espécie humana. Compondo todas essas características, a RGPL pode receber a chancela de Itinerário Cultural. Devido à presença de características particulares na região que compõe, seguem algumas considerações a respeito dos Itinerários Culturais. 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

De acordo com o documento “Carta dos Itinerários Culturais”, - A Carta foi constituída sob os objetivos de se estabelecer os fundamentos conceituais e a metodologia de investigação da categoria, apresentar as informações fundamentais para desenvolver o conhecimento, a valorização, gestão, proteção e conservação dos Itinerários, definir as orientações, critérios e princípios para a correta utilização dos Itinerários enquanto recurso para um desenvolvimento social e econômico e definir as bases da cooperação internacional indispensável à realização dos projetos relativos aos Itinerários Culturais -, o conceito de Itinerário Cultural demonstra uma evolução acerca das ideias sobre o conceito de patrimônio cultural e do crescente papel “dos valores atribuídos ao meio e à sua significação à escala territorial e revela a sua macro estrutura a diferentes níveis” (ICOMOS, 2008, p.1). Ademais, representa a concepção atual dos valores do patrimônio para a sociedade como recurso para o desenvolvimento social e econômico, além de ser considerado como um conceito “inovador” e “multidimensional” (ICOMOS, 2008). Nesse sentido, “os Itinerários Culturais representam processos evolutivos, interativos e dinâmicos das relações humanas interculturais, realçando a rica diversidade das contribuições dos diferentes povos para o património cultural” (ICOMOS, 2008, p.1). Ainda em conformidade com a “carta”, os Itinerários Culturais, como uma nova categoria patrimonial, não é deslocada das outras categorias já existentes, pelo contrário. Essa categoria reconhece as outras categorias da mesma forma que as valoriza e amplia a percepção sobre o patrimônio cultural favorecendo sua conservação. Os Itinerários Culturais, em alguns casos, surgiram como projeto definido pela vontade do homem para atingir determinado objetivo ou, em outros casos, resultam de um processo evolutivo em que intervém coletivamente diversos fatores humanos que coincidem objetivos comuns. Todavia, o documento ressalta que os Itinerários Culturais são fenômenos culturais singulares (ICOMOS, 2008). Nesse sentido, através das informações da “Carta dos Itinerários Culturais”, observa-se que os Itinerários Culturais devem, principalmente, apresentar em sua composição representações da cultura humana e suas interações com o meio ambiente que são únicas e singulares em determinados locais, regiões, país, etc. Nota-se então que esse fato se torna diferencial na categoria de Itinerários Culturais. Dada a riqueza e a variedade que podem oferecer as relações mútuas assim como os diferentes elementos diretamente associados à razão de ser dos Itinerários Culturais (como os monumentos, sítios arqueológicos, cidades históricas, arquitetura vernacular, patrimônio intangível, industrial e tecnológico, obras públicas, paisagens culturais e naturais, meios de transporte, saber fazer e aplicação das técnicas tradicionais específicas etc.) o seu estudo e tratamento exigem uma abordagem pluridisciplinar capaz de ilustrar e renovar as hipóteses científicas e de permitir o crescimento dos conhecimentos históricos, culturais, técnicos e artísticos (ICOMOS, 2008). Nessa perspectiva, a Rota das Grutas de Peter Lund pode se apresentar como um projeto que integra registros da história que rementem às origens e evolução do homem, seus antepassados, bem como a atual relação que é 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

estabelecida entre comunidades da região da RGPL no contexto presente. O documento define Itinerário Cultural da seguinte forma: [...] uma via de comunicação terrestre, aquática, mista ou outra, determinada materialmente, com uma dinâmica e funções históricas próprias, ao serviço dum objectivo concreto e determinado. O Itinerário Cultural deve também reunir as seguintes condições: a) ser o resultado e o reflexo de movimentos interactivos de pessoas e de trocas pluridimensionais contínuos e recíprocos dos bens, das ideias, dos conhecimentos e dos valores sobre os períodos significativos entre povos, países, regiões ou continentes; b) ter gerado uma fecundação mútua, no espaço e no tempo, das culturas implicadas, que se manifeste tanto no seu património tangível como intangível. c) Ter integrado, num sistema dinâmico, as relações históricas e os bens culturais associados à sua existência (ICOMOS, 2008, p.3).

Cabe ressaltar que o Itinerário Cultural está intimamente ligado ao seu meio além de ser parte integrante do mesmo. Na perspectiva do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), os Itinerários Culturais, bem como os conceitos de Paisagem Territórios Culturais correspondem à tentativa de ampliar o conceito de patrimônio cultural, o qual não se restringe mais aos monumentos e cidades históricas. A reflexão e utilização desses conceitos conformam a ideia de que é preciso enriquecer a importância e a significância do patrimônio cultural nacional dentre os assuntos que dizem respeito ao desenvolvimento socioeconômico do país e vão de encontro com o esforço do órgão de se reposicionar assumindo um “papel pró-ativo na política de preservação do patrimônio cultural” (IPHAN, 2011, p. 18). O órgão ressalta que o emprego de conceitos como Itinerário Cultural, ainda que o mesmo não constitua uma forma de institucionalizada de preservação ou gestão, deve ser considerada para o estabelecimento de estratégias e ações de preservação do patrimônio cultural do Brasil (IPHAN, 2011).

Neste documento, o IPHAN recorre à descrição de

Itinerários Culturais expressa na “Carta dos Itinerários Culturais” e complementa: [...] o conceito de itinerário cultural complementa o leque de categorias patrimoniais mais amplas, trabalhadas a partir de recortes geográficos abrangentes e que, além de interpretar de forma diferenciada as múltiplas ocorrências do patrimônio, sejam materiais ou imateriais, dando-lhes maior coesão e significação histórica, conduzem diretamente a um modelo de gestão compartilhada (IPHAN, 2011, p. 20).

Sob esse cntexto e a partir das consideraçoes a respeito de Itinerário Cultural pode-se ampliar o olhar sobre a Rota das Grutas Peter Lund considerando suas particularidades enquanto atrativo turístico e potencial produto turístico a ser promovido internacionalmente.

A Sinalização Turística e sua importância no atual contexto turístico brasileiro A sinalização se constitui como fator primordial para a mobilidade urbana, que por sua vez, organiza o uso e a ocupação de um território, avaliando a melhor forma de garantir o acesso aos bens que a cidade oferece. Surgiu da necessidade de comunicar uma informação que poderia ser percebida por diferentes pessoas. Desse modo, entender as diferentes

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classificações da sinalização facilita o cumprimento das respectivas exigências legais e funcionais. Para que exista eficiência na organização da atividade turística em uma região é necessário existir um sistema de informações acessível aos atrativos turísticos. A sinalização turística tem como objetivo garantir esse fácil acesso às informações sobre quaisquer atrativos da cidade e, assim, possibilitar um deslocamento mais eficiente. Para Barreto Filho (1999), a sinalização turística faz parte do marketing turístico e estaria assim compreendida entre todas as ações que visam captar e manter fluxos de turistas. Segundo o autor, “[...] a sinalização turística é um exemplo imediato que beneficia os habitantes e os visitantes. A sinalização turística facilita a chegada e saída do turista, assim como seus deslocamentos durante sua estadia em determinado local” (BARRETO FILHO, 1999, p. 61). Portanto, sem ela se tornaria inviável a promoção de qualquer produto, equipamento ou serviço turístico. No contexto brasileiro, a sinalização turística foi regulamentada em 1994, quando passou a fazer parte da sinalização de trânsito, por meio das placas de indicação de atrativos turísticos. Com o objetivo de fornecer subsídios técnicos e normativos na elaboração de projetos locais de sinalização turística, o Instituto Brasileiro de Turismo (EMBRATUR), juntamente com o Departamento Nacional de Trânsito (DENATRAN) e o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) lançou em 2001 o Guia Brasileiro de Sinalização Turística (GBST). De acordo com informações do GBST (2001), a sinalização de orientação turística, assim denominada, faz parte do conjunto de sinalização de indicação de trânsito. No Quadro 1 estão destacados os princípios fundamentais do Guia, no sentido de garantir ao usuário uma eficiência e segurança do sistema viário.

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Quadro 1: Objetivos e Princípios Fundamentais da Sinalização de Orientação Turística Objetivos e Princípios Fundamentais da Sinalização de Orientação Turística - Cumprir o estabelecido no Código de Trânsito Brasileiro e nas Resoluções CONTRAN; Legalidade - Cumprir a legislação de preservação de sítios tombados pelo IPHAN e protegidos pela Lei de Arqueologia. - Seguir um padrão preestabelecido quanto a: formas e cores dos sinais; Padronização letras, tarjas, setas e pictogramas; aplicação – situações sinalizadas da mesma forma; colocação na via ou nas localidades. - Ser visualizada e lida a uma distância que permita segurança e tempo hábil para tomada de decisão, de forma a evitar hesitação e manobras bruscas; - Selecionar trajetos de fácil compreensão para os usuários, com o objetivo Visibilidade, de valorizar os aspectos de interesse cultural e turístico, levando em conta a legibilidade e segurança do trânsito; segurança - Garantir a integridade dos monumentos destacados e impedir que a sinalização interfira em sua visualização; - Resguardar as peculiaridades dos sítios. - Oferecer as mensagens necessárias a fim de atender os deslocamentos dos Suficiência usuários; - Auxiliar a adaptação dos usuários às diversas situações viárias. - Assegurar a continuidade das mensagens até atingir o destino pretendido, Continuidade e mantendo coerência nas informações; coerência - Ordenar a cadência das mensagens, para garantir precisão e confiabilidade. - Acompanhar a dinâmica dos meios urbano e rural, adequando a sinalização Atualidade e a cada nova realidade; valorização - Assegurar a valorização da sinalização, mantendo-a atualizada e evitando gerar desinformações sucessivas. Manutenção e - Estar sempre conservada, limpa, bem fixada e, quando for o caso, conservação corretamente iluminada. Fonte: EMBRATUR, IPHAN, DENATRAN – Guia Brasileiro de Sinalização Turística (2001).

Ressalta-se que o estabelecimento de critérios específicos, por meio da padronização e sequência das mensagens, apresenta como principal objetivo atender os usuários em seus diversos deslocamentos. Assim, as placas que constituem a Sinalização de Orientação Turística devem obedecer a um conjunto de critérios, de modo a garantir a imediata identificação e assimilação das mensagens, além de seguir uma padronização quanto a “cores e formas, o cumprimento dos parâmetros de dimensionamento e de composição dos elementos gráficos e a obediência aos princípios de aplicação das placas” (GBST, 2001, p. 45). As placas devem ser direcionadas de acordo com as necessidades e o contexto em que se encontra o visitante, ou seja, para cada demanda há um tipo de placa específica, que pode ser de Identificação de Atrativo Turístico, Placa Indicativa de Direção, Placa Indicativa de Distância ou Placa Interpretativa. Existem ainda critérios de seleção e ordenamento das mensagens. Assim, “ao contrário da sinalização vertical de regulamentação e advertência, a sinalização de orientação de atrativos turísticos não perde a eficácia quando colocada em maior quantidade” (GBST, 2001, p. 45).

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A sinalização da Rota das Grutas Peter Lund e a integração entre os municípios A seguir, apresenta-se a análise referente à sinalização existente nos trechos que ligam os municípios integrantes da Rota das Grutas Peter Lund – Belo Horizonte, Lagoa Santa, Sete Lagoas e Cordisburgo. O mapa 1 a seguir ilustra o trajeto e os marcos da RGPL. Mapa 1: Rota das Grutas de Peter Lund – Trechos e Marcos

Fonte: Elaboração própria/2014 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Trecho 1: Museu de Ciências Naturais da PUC Minas (Marco 0) – Túmulo do Peter Lund (Marco 1) O Marco 0 da Rota das Grutas Peter Lund é o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas. Esse marco conta com uma placa de identificação de atrativo turístico. Porém, foi possível observar problemas referentes à continuidade da sinalização, já que não existem indicações para outros marcos da RGPL. Como não há placas indicando o próximo marco, nem mesmo a existência da própria Rota, a opção dos usuários é seguir em direção à região central de Belo Horizonte passando pela Via Expressa até o Complexo da Lagoinha e, posteriormente, pela Avenida Cristiano Machado, quando se notam placas indicativas de sentido, sobretudo, para o município de Lagoa Santa. O totem da Estrada Real na entrada de Lagoa Santa indica ao visitante outro contexto turístico em que o município também está inserido. É possível observar, contudo, que do ponto de vista da sinalização turística, não existe uma integração entre o atual projeto RGPL, o Circuito das Grutas e a Estrada Real. A aproximadamente 3 km da entrada da cidade está o Túmulo do Peter Lund, ou seja, o Marco 1 da Rota. Em Lagoa Santa foi possível observar a ausência de placas indicativas de sentido para esse Marco, além da falta de placa de identificação desse atrativo turístico.

Trecho 2: Túmulo do Peter Lund (Marco 1) – Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire (CAALE) (Marco 2) O Marco 2 – CAALE –, está distante 6 Km do Marco 1 da Rota. Foi possível observar os mesmos problemas relativos à falta de sinalização indicativa de sentido na cidade de Lagoa Santa. Durante o período da pesquisa in loco, o CAALE passava por reformas, e não havia nenhuma placa de identificação da RGPL, apenas um banner de lona na entrada. Pode-se dizer que não existe sinalização indicativa entre os marcos 1 e 2. Assim como foi observado para o Marco 1 – Túmulo de Peter Lund, também não existem placas indicativas para o Marco 2 – CAALE.

Trecho 3: Centro de Arqueologia Annette Laming Emperaire (CAALE) (Marco 2) – Museu Peter Lund / Gruta da Lapinha (Marco 3) Já nas proximidades do Marco 2 – CAALE, observou-se a presença de sinalização indicativa de sentido para a Gruta da Lapinha, que se localiza no Km 6, na divisa dos municípios de Pedro Leopoldo e Lagoa Santa. Todavia, as placas são antigas, apenas em português e fora dos padrões técnicos especificados pelo GBST (2001), o que pode confundir, sobretudo, o visitante estrangeiro. Contudo, pode-se dizer que a existência dessas placas, embora não 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

seja ideal, auxilia no deslocamento até o Marco 3. Esse é um dos poucos trechos no qual é possível se deslocar de um marco a outro orientados apenas pelas placas indicativas. Outro fator que merece destaque é que esse Marco é o primeiro ponto com sinalização da RGPL, propriamente dita.

Trecho 4: Museu Peter Lund/Gruta da Lapinha (Marco 3) – Monumento Natural Estadual Gruta Rei do Mato (Marco 4) Na via de acesso para o Parque Estadual do Sumidouro é possível observar algumas placas indicativas de sentido para essa Unidade de Conservação, mas, ainda assim, nenhuma delas faz referência à RGPL. Na saída do Museu Peter Lund, ainda em Lagoa Santa, além de não existirem placas indicativas para o próximo marco, ou seja, para o Monumento Natural Estadual Gruta Rei do Mato, que se localiza na BR-040, em Sete Lagoas, também não há placas indicativas para o próprio município de Sete Lagoas. Em Sete Lagoas, para se chegar ao Marco 4 – Monumento Natural Gruta Rei do Mato, é necessário seguir pela MG-238. Contudo, não há placas indicativas de sentido para o Marco 4 dispostas no centro da cidade, nem pelo entorno da Lagoa Paulino, um importante atrativo de Sete Lagoas. Já nas proximidades da Gruta existe identificação da RGPL, no entanto, a logomarca é diferente da utilizada atualmente para divulgação da Rota.

Trecho 5 – Monumento Natural Estadual Gruta Rei do Mato (Marco 4) – Monumento Natural Estadual Peter Lund (Marco 5) Assim como nos trechos analisados anteriormente, não existem placas indicativas para os próximos Marcos da Rota, localizados no município de Cordisburgo. No entanto, já na cidade de Cordisburgo, foi possível observar placas indicativas de sentido para vários atrativos da região. Notou-se inclusive, placas específicas sobre a Rota Lund. A sinalização rodoviária não era bilíngue, mas era contínua e conservada. O problema observado no trecho foi a presença de mato alto às margens da MG-231 impedindo a visibilidade de algumas placas no trecho entre a BR-040 e a sede de Cordisburgo. No Marco 5 existe identificação da Rota das Grutas de Peter Lund. A sinalização foi considerada boa nesse trecho analisado. Embora não houvesse sinalização específica sobre a Rota Lund, pode-se dizer que as placas indicativas de sentido para o município de Cordisburgo, além daquelas dispostas dentro da cidade, indicando os atrativos, facilita o deslocamento.

Trecho 6: Monumento Natural Estadual Peter Lund/Gruta de Maquiné (Marco 5) – Museu Casa Guimarães Rosa (Marco 6) 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Os seis quilômetros entre os marcos 5 e 6 da RGPL são bem sinalizados. A Prefeitura Municipal de Cordisburgo realizou recentemente um projeto de sinalização municipal e apresenta os trechos mais bem sinalizados da RGPL. Vale ressaltar, no entanto, que o projeto de sinalização municipal não tem ligação direta com o projeto estruturador da RGPL. Logo, não existe uma sinalização específica sobre a Rota Lund na cidade. O Marco 6 da Rota – Museu Casa Guimarães Rosa – conta com placa de identificação, embora não siga os padrões estabelecidos pelo GBST (2001). Existem placas antigas que coexistem com placas novas, fato que pode provocar algumas dúvidas, sobretudo no turista estrangeiro, já que, também, praticamente não existe placa bi/trilíngue na cidade. Vale ressaltar ainda que a sinalização encontrada nesse município não faz referência à Rota das Grutas de Peter Lund, o que denota a falta de articulação entre a Prefeitura e o projeto do governo de Estado de Minas Gerais.

Trecho 7: Museu Casa Guimarães Rosa (Marco 6) – Belo Horizonte Os 117 km que separam as duas cidades são praticamente todos percorridos na BR-040. A BR é duplicada e possuiu sinalização em todo o trajeto. Novamente é importante ressaltar que não existe sinalização específica da RGPL, mas o quantitativo de placas indicativas de sentido e de distância pode ser considerado suficiente para guiar os visitantes até a cidade de Belo Horizonte. Vale destacar, entretanto, que a falta de padronização com relação à sinalização pode confundir o visitante. Pode-se observar ainda que as informações sobre a Gruta de Maquiné e da Gruta Rei do Mato estão indicadas em placas na cor marrom e verde apesar de ambas indicarem informação turística. Da BR 040 é possível visualizar indicações para a Gruta Rei do Mato e, na chegada da gruta existe um outdoor que permite a visualização da entrada. A sinalização não faz referência ao projeto RGPL, também não apresenta bom estado de conservação, nem tampouco segue a padronização exigida pelo GBST (2001). Já nas proximidades de Belo Horizonte a sinalização se mantém constante e o visitante pode facilmente seguir caminho para o centro da cidade ou avenidas localizadas próximas ao Anel Rodoviário. O destaque negativo foi o estado de conservação de boa parte das placas. Ressalta-se, nesse sentido, que as placas mal conservadas perdem sua eficiência como dispositivos de controle de tráfego.

Considerações Finais Após percorrer o caminho proposto pelo Projeto Rota das Grutas de Peter Lund é possível perceber os problemas relacionados à sinalização existentes nos trechos analisados. Nesse sentido, os municípios, os atrativos turísticos e os marcos que compõe a RGPL contém informações e conteúdos multidisciplinares que perpassam o campo da História, Geografia, 3° COLÓQUIO IBERO-AMERICANO PAISAGEM CULTURAL, PATRIMÔNIO E PROJETO - DESAFIOS E PERSPECTIVAS Belo Horizonte, de 15 a 17 de setembro

Geologia, Biologia, Arqueologia e do Turismo, por exemplo. Paralelamente a esses aspectos, existe a intenção do governo em transformar a região em um produto turístico, como visto anteriormente. Sob esse contexto, ressalta-se a importância da existência de uma sinalização adequada capaz de estabelecer a ligação entre os munícipios, informando sobre os destinos da Rota, os atrativos, os serviços e equipamentos turísticos disponíveis durante o percurso e nos próprios municípios. A presença da sinalização materializa a RGPL e integra os municípios componentes, bem como os atrativos. Ademais, é preciso ressaltar a importância histórica, geográfica e cultural da região e as características próprias de cada município conformando um caminho diferenciado quanto à sua diversidade cultural e natural. Tendo em vista que o conceito de Itinerário Cultural representa uma transformação acerca do entendimento sobre o patrimônio cultural, de acordo com a “Carta dos Itinerários Culturais” e a perspectiva do IPHAN, considerando a importância da preservação do patrimônio cultural e os objetivos do Projeto da Rota, a Rota das Grutas de Peter Lund pode ser considerada como uma expressão de Itinerário Cultural bem como dessa nova perspectiva acerca do patrimônio cultural que se pretende alcançar em todo o território nacional.

Referências BARRETO FILHO, Abdon. Marketing turístico para o espaço urbano: comentários acadêmicos e profissionais. In: CASTROGIOVANNI, Antônio Carlos (Org.). Turismo Urbano. São Paulo: Contexto, 2001. ICOMOS. Carta dos Itinerários Culturais. Comitê Científico Internacional dos Itinerários Culturais (CIIC) do ICOMOS, ratificada , 2008, Québec, Canadá. EMBRATUR. Guia Brasileiro de Sinalização Turística. Brasília, DF, 2001. INSTITUTO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO E ARTÍSTICO NACIONAL. Reflexões sobre a chancela da Paisagem Cultural Brasileira. Coordenação de Paisagem Cultural. Brasília, 2011. LUND, Peter W. Notícias sobre ossadas humanas fósseis achadas numa caverna do Brasil 1844a, in INL, Memórias da Paleontologia Brasileira. São Paulo: INL, 1950. WARMING, Eugênio. Lagoa Santa e a vegetação de cerrados brasileiros. Belo Horizonte: Itatiaia e São Paulo: EDUSP, 1973. JORNAL ESTADO DE MINAS. Disponível em:

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