Roteiro A Grande Família 2004.pdf

June 1, 2017 | Autor: Alex Spinola | Categoria: Series TV
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1 A Grande Família 2004 UM TÁXI CHAMADO DESEJO Bernardo Guilherme, Nilton Braga & Cláudio Paiva. BLOCO 1. CENA 1 - COPA - GARAGEM - INT/DIA. LINEU E NENÊ TOMAM O CAFÉ DA MANHÃ. UMA DISCUSSÃO NA GARAGEM CHAMA A ATENÇÃO DO CASAL. ELES VÃO VER O QUE ESTÁ ACONTECENDO. BEBEL RECLAMA DA CAMISA NOVA DE AGOSTINHO. AGOSTINHO - Me solta, Bebel. Tem cliente me esperando. BEBEL - Mentira! Se botou camisa nova é porque vai encontrar com alguém! NENÊ - Que isso, minha filha?! LINEU - Não se mete, Nenê! NENÊ - Seu marido agora tem que andar mal vestido pra você não ficar com ciúmes? LINEU - Vamos tomar nosso café, vamos. (PUXA NENÊ) Bom dia, vizinhos... LINEU CONDUZ NENÊ À MESA, MAS A DISCUSSÃO VEM ATRÁS DELES. AGOSTINHO - Sabe pra quê eu botei essa camisa nova, dona Nenê? Pra fazer uma surpresa. Eu ia pegar a Bebel no final do expediente pra gente ir ao cinema. BEBEL - (RECUA) Poxa Tinho... por que você não falou antes? AGOSTINHO - Porque era surpresa. Mas agora você estragou tudo. NENÊ - Ih, Bebel, acho que você exagerou... LINEU - Nenê! AGOSTINHO - Vocês tão vendo? Tudo o que eu faço é pra agradar essa mulher. E o que é que eu recebo em troca? Só ciúme, desconfiança! Eu não mereço isso! LINEU - Agora quem exagerou foi o Agostinho. NENÊ - Não se mete, Lineu. BEBEL - Tinho, desculpa. Fica com a camisa, pra gente ir ao cinema, tá? AGOSTINHO - Não sei, acho que não tem mais clima. BEBEL - Tem sim, Tinho. (BEIJA O MARIDO) Você me perdoa? AGOSTINHO - Eu não devia, mas como sou um cara bacana... Deixa eu ir que tem freguês me esperando. (VOLTA PARA A GARAGEM)

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BEBEL - Que vergonha... Fui tão injusta! NENÊ - Fica assim, não, Bebel. Todo casal normal tem dessas brigas. LINEU - Se todo casal normal tem, imagina esses dois.

CENA 2 - TÁXI - RUAS DA CIDADE - INT/DIA. AGOSTINHO LEVA ELIZETE, UMA SENHORA ELEGANTE, VIÚVA. ELIZETE - Você está usando a camisa que eu lhe dei, Agostinho? AGOSTINHO - Ficou boa? ELIZETE - Ficou ótima. Só acho que não combina muito com a calça. AGOSTINHO - Isso não é problema. Taxista é que nem apresentador de jornal na TV, a pessoa só vê da cintura pra cima. O Willian Bonner pode apresentar o jornal de cueca que a gente nunca vai saber. ELIZETE - Mesmo assim você podia arrumar uma calça mais chique. (T) Tive uma idéia. Vamos ao shopping, que eu vou comprar uma calça nova pra você. AGOSTINHO - (RELUTA) A senhora tá me dando muita coisa... ELIZETE - Se você não quiser, eu não lhe dou mais nada. AGOSTINHO - Que isso? A senhora acha que eu vou fazer uma desfeita dessa pra senhora? De jeito nenhum. (T) O shopping fica pra lá ou pra cá?

CENA 3 - SHOPPING - LOJA DE ROUPAS MASCULINAS - INT/DIA. AGOSTINHO EXPERIMENTA VÁRIAS ROUPAS DIFERENTES. O CLIPE TERMINA COM O VENDEDOR, TRAZENDO DOIS BLAZERS. VENDEDOR - Por que vocês não aproveitam e levam um blazer também? ELIZETE - Escolhe um pra experimentar, Agostinho. AGOSTINHO - Qual dos dois é mais barato? VENDEDOR - Os dois estão com um preço ótimo! AGOSTINHO - Ótimo pra você que tá vendendo. ELIZETE - Na dúvida, acho melhor a gente levar os dois. AGOSTINHO - Os dois?! Não precisa, dona Elizete! Se eu usar um blazer chique desses, meus amigos vão começar a me pedir dinheiro emprestado.

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O VENDEDOR FALA DISCRETO PARA AGOSTINHO: VENDEDOR - Aí campeão, já que é a senhora que está pagando, leva os dois... FECHA NA EXPRESSÃO DE AGOSTINHO, CONSTRANGIDO.

CENA 4 - SHOPPING - PORTA DA LOJA - INT/DIA. A VIÚVA SAI DA LOJA CHEIA DE SACOLAS E ENTREGA PARA AGOSTINHO, QUE ESPERAVA POR ELA LÁ FORA, PREOCUPADO. ELIZETE - Desculpa a demora, Agostinho, mas na última hora eu vi um tênis e resolvi comprar de surpresa pra você. (MOSTRA) Olha que lindo! AGOSTINHO - Não precisava... ELIZETE - Que carinha é essa? Não gostou do tênis? AGOSTINHO - Adorei. Eu não gostei foi do jeito daquele vendedor. ELIZETE - Ele disse alguma coisa? AGOSTINHO - Não, mas a gente sente quando a pessoa está maldando as coisas. ELIZETE - Maldando? AGOSTINHO - A senhora é uma pessoa pura, não percebe. Mas as pessoas têm muita maldade. Elas não entendem assim... uma amizade como a nossa. ELIZETE - Você acha que ele... AGOSTINHO - Me dá até um aperto no peito. Quando a senhora me dá um presente, é de coração, não é? ELIZETE - Claro, você merece! Desde que meu marido morreu, eu quase não saía. Agora, você me leva pros lugares, me diverte... (PEGA AS SACOLAS) Mas se você vai se sentir melhor, eu devolvo tudo. AGOSTINHO - Não! A gente não pode ligar pro que as pessoas dizem, não é mesmo? (RETOMA AS SACOLAS) O blazer tá aqui, não tá? Os dois? Então vamos embora.

CENA 5 - SALA - INT/DIA. LINEU LÊ O JORNAL. NENÊ, PRONTA PARA SAIR, APRESSA O MARIDO. NENÊ - Vamos, Lineu! Você prometeu que me levava no supermercado. LINEU - Hoje é sábado, meu dia de folga! Deixa pelo menos eu acabar de ler o jornal.

4 NENÊ - Lê amanhã. LINEU - Amanhã eu leio o jornal de amanhã. Hoje eu tenho que ler o jornal de hoje. NENÊ - Então me dá a chave do carro que eu vou sozinha. LINEU - Você vai dirigindo?! NENÊ - Claro! Eu tenho carteira. LINEU - Ter carteira e saber dirigir são duas coisas completamente diferentes. A pessoa precisa de uns dez anos de prática pra realmente saber dirigir. NENÊ - Como é que eu vou ter dez anos de prática, se não posso dirigir nunca?! O TELEFONE TOCA. LINEU VAI ATENDER. LINEU - Alô? (TAMPA O FONE COMO SE ESCUTASSE BRONCAS) NENÊ - Quem é? LINEU - É a Viviane dando bronca! NENÊ - (CHAMA) Tuco, é pra você. TUCO VEM DO QUARTO, SONOLENTO. ELE PEGA O TELEFONE E DESLIGA. NENÊ - Mas o que é isso, Tuco?! A Viviane quer falar com você! TUCO - Ela não quer falar comigo, quer brigar comigo! LINEU - O que foi que você fez dessa vez? NENÊ - Que isso, Lineu? Só porque os dois brigaram a culpa tem que ser do Tuco? TUCO - Só porque eu quis comprar um tênis, ela fez um escândalo! Disse que ia voltar pra casa do pai dela e o escambau! NENÊ - Tá vendo, Lineu?! Essa menina quer que o Tuquinho ande descalço! TUCO - Disse que o tênis custava quase o preço de um carrinho de bebê. E daí? Pra que que eu quero um carrinho de bebê?! LINEU - Não seria pro filho que você teve com ela? TUCO – Ih... é mesmo... LINEU - Tá vendo, Nenê? O “Tuquinho” quer que o filho dele ande a pé. NENÊ - Tuco!.../

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TUCO - Pode deixar, mãe. A Viviane já brigou comigo. NENÊ - Quem disse?! Eu sou sua mãe, tenho mais direito que ela de brigar com você! LINEU - Ótimo, você briga com ele e eu acabo de ler meu jornal. NENÊ - Não, senhor. Nós vamos pro supermercado. (SAI, ARRASTANDO LINEU) Tuco, eu brigo com você na volta.

CENA 6 - CARRO DE LINEU - INT/DIA. LINEU DIRIGINDO COM NENÊ AO LADO. NENÊ - Lineu, por que é que eu não posso dirigir? LINEU - A questão não é que você não possa dirigir, a questão é que você não precisa dirigir. Deixa comigo, eu dirijo há anos e nunca recebi sequer uma multa. SOM DE SIRENE. UM CARRO DE POLÍCIA SURGE ATRÁS DELES. NENÊ - É a polícia, Lineu! Tá mandando você parar! CORTA PARA LINEU E NENÊ PARADOS, NO CARRO. MAIS A FRENTE, O POLICIAL CONFERE OS DOCUMENTOS DE LINEU. NENÊ - Estão demorando tanto com seus documentos! Será que você fez besteira? LINEU - Quem fez besteira foram eles, parando um motorista prudente, experiente e habilidoso, como eu. O POLICIAL VOLTA COM OS DOCUMENTOS DE LINEU. POLICIAL - Seu Lineu, vou ser obrigado a apreender sua carteira. O senhor está proibido de dirigir por excesso de multas. LINEU - Multas? Eu?! Deve haver um engano! Não é possível! E eu preciso dirigir! Como é que nós vamos no supermercado? Como é que eu vou voltar pra casa?! POLICIAL - A senhora sabe dirigir? NENÊ - (IRÔNICA) Não tão bem quanto ele.

CENA 7 - PORTÃO DA CASA - RUA - EXT/DIA. TUCO, NO PORTÃO DE CASA, VÊ AGOSTINHO PARANDO SEU TÁXI. AGOSTINHO - Tuco, a Bebel tá lá no salão trabalhando? TUCO - Se tu que é o marido não sabe, eu que vou saber?!

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AGOSTINHO TIRA ALGUMAS SACOLAS DE SEU TÁXI AS PRESSAS E ENTRA NA CASA DELE. TUCO, CURIOSO, VAI ATRÁS DO CUNHADO. TUCO - Caraca, Agostinho! Onde tu arrumou essas roupas? Roubou? AGOSTINHO - Que roubei?! Eu ganhei de presente. TUCO - Presente? Foi mulher que te deu, né? AGOSTINHO - Que mulher o quê?! Tá maluco?!

CENA 8 - CASA DE AGOSTINHO - INT/DIA. AGOSTINHO ENTRA E VAI DIRETO ESCONDER OS PRESENTES QUE GANHOU EM ALGUM LUGAR DA CASA. TUCO VEM ATRÁS DELE. TUCO - Se tá escondendo, é porque foi presente de mulher. (ABRE O ÚLTIMO PACOTE E VÊ O TÊNIS) Irado! Eu tô afinzão de um tênis desses! AGOSTINHO - Isso não é pro teu bico, não! (TOMA DE VOLTA) BEBEL ENTRA EM CASA. AGOSTINHO FICA NERVOSO E SE ATRAPALHA. BEBEL - Tinho, você tá em casa?! BEBEL ENCONTRA OS DOIS E VÊ A ÚNICA COISA QUE NÃO DEU TEMPO DE ESCONDER: O TÊNIS. BEBEL - Que tênis é esse? AGOSTINHO - Como assim?... Você quer saber qual é a marca? BEBEL - Isso custa uma fortuna! AGOSTINHO - Era o que eu estava dizendo aqui pro Tuco! Como é que ele gasta dinheiro com um negócio desses?! BEBEL – Você comprou isso, Tuco? TUCO – Comprei?! Não... (T) Quer dizer... ganhei de presente. Um cara aí me deu. (PEGA DE VOLTA O TÊNIS) Dá licença que eu vou dar umas voltas com ele. TUCO VAI PRA RUA ANIMADÃO. AGOSTINHO DISFARÇA E VAI ATRÁS. BEBEL - Você vai aonde, Tinho? AGOSTINHO - Trabalhar, Bebel. Trabalhar. Não tem ninguém pra me sustentar, não! BEBEL - Não esquece o nosso cinema.

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AGOSTINHO - Que cinema?! (ELA FAZ UMA CARA HORRÍVEL) Ah, o cinema! Você acha que eu ia esquecer um negócio desses? BEBEL - Acho. AGOSTINHO - Tá legal. Deixa comigo... (SAI APRESSADO)

CENA 9 - CARRO DE LINEU - INT/DIA. NENÊ DIRIGE O CARRO, QUE ESTÁ CHEIO DE SACOLAS DE COMPRAS. LINEU, IRRITADO, AO LADO DELA. LINEU - Mais de vinte pontos na carteira! Como é que isso foi me acontecer?! NENÊ - Sei lá. Vai ver você dirige mal. LINEU - Nenê, as multas foram por dirigir falando no celular. NENÊ - Mas isso é errado mesmo, Lineu. LINEU - Só que eu não tenho celular! (NENÊ PASSA POR UM SINAL AMARELO) Nenê! Não viu o sinal amarelo? Sinal amarelo é pra você diminuir a velocidade e parar. NENÊ - Não, senhor. Sinal amarelo é pra você acelerar e passar rápido! LINEU - Como é que você sabe que ele não ia fechar na hora? NENÊ - Intuição. LINEU - Você não pode dirigir guiada pela intuição! NENÊ - E você não pode dirigir por causa das multas! LINEU - Multas que não são minhas! Eu não tenho celular! Eu não sou o Agostinho que fala no celular dirigindo... (CAI A FICHA) Agostinho! Foi ele! NENÊ - Olha aí. Mais um sinal amarelo. LINEU - Acelera, Nenê!

CENA 10 - GARAGEM - FUNDOS - SALA - INT/DIA. LINEU E NENÊ CHEGAM DA RUA. ELE DESCE DO CARRO FURIOSO. NENÊ FICA PARA TRÁS, TIRANDO AS COMPRAS DO CARRO SOZINHA. NENÊ - Lineu, você pode me ajudar com as compras? LINEU - Eu estou com as mãos ocupadas.

8 NENÊ - Tá nada. LINEU - É porque eu ainda não comecei a bater no Agostinho. NA SALA, AGOSTINHO TENTA PEGAR O TÊNIS DE VOLTA COM TUCO. AGOSTINHO - Me devolve o tênis, Tuco! TUCO - Você me deu, Agostinho! A Bebel tá de prova. Quer perguntar pra ela? LINEU VÊ AGOSTINHO NA SALA DE SUA CASA E ENTRA. NENÊ VEM ATRÁS COM AS SACOLAS. TUCO APROVEITA E SE TRANCA NO QUARTO. LINEU - Agostinho?! Você está aí, seu safado?! AGOSTINHO - Agora não posso falar, Lineu. Tô resolvendo um assunto com o Tuco. LINEU - Antes você vai resolver um assunto comigo. Você sabe por que eu tenho mais de vinte pontos na carteira? AGOSTINHO - Sei lá. Tu dirige mal pra caramba... LINEU - Não. Eu andei falando no celular enquanto dirigia. AGOSTINHO - Celular?! E desde quando tu tem celular?! LINEU - Eu não tenho, mas você tem! Eu não dirijo falando no celular, mas você dirige! E como até hoje você não passou o táxi pro seu nome, adivinha quem teve a carteira suspensa? São mais de quinhentos reais em multa para pagar! Adivinha em nome de quem... AGOSTINHO - Tá legal, Lineu. As multas são minhas. Mas onde é que eu vou arrumar esse dinheiro?! NENÊ - Por que você não vende o celular? AGOSTINHO - Não posso. Eu preciso dele pra atender os meus fregueses. (O CELULAR TOCA) Não tô falando? (ATENDE) Alô? Dona Elizete? Tá bom. Já vou aí buscar a senhora. (DESLIGA) NENÊ - Quem é essa Elizete? AGOSTINHO - É uma... uma... uma cliente. Uma velha chata pra caramba. LINEU - Agostinho, volta aqui que eu não acabei de brigar com você! AGOSTINHO - Eu tenho que trabalhar, Lineu. Você não quer que eu pague as multas? AGOSTINHO SAI APRESSADO.

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CENA 11 - TÁXI - INT/FIM DE TARDE. ENQUANTO DIRIGE, AGOSTINHO JOGA SUA CONVERSA FIADA. AGOSTINHO - Infelizmente, por causa das multas, eu não vou poder mais levar a senhora... essa é nossa viagem de despedida. ELIZETE - Não pode ser. Quem é que vai me levar pra sair? Pra passear? AGOSTINHO - Não fala assim, que fica mais difícil! Eu não ligo de perder o táxi... o duro é perder clientes que nem a senhora. Eu me apego muito fácil. ELIZETE - Você não vai perder o táxi, Agostinho. Eu vou lhe ajudar. AGOSTINHO - A senhora é muito boa pra mim, mas eu não posso aceitar. ELIZETE - De quanto é a multa? AGOSTINHO - Uns quinhentos reais. ELIZETE - Quinhentos?! AGOSTINHO - Achou muito? ELIZETE - Não, não... AGOSTINHO - Então arredonda pra oitocentos, pro caso de me multarem de novo. ELIZETE - Eu lhe dou esse dinheiro. Mas a gente tem que buscar lá em casa. Estou sem talão de cheques. FECHA NO ROSTO DESCONFIADO DE AGOSTINHO.

CENA 12 - SALA DA CASA DE ELIZETE - INT/NOITE. AGOSTINHO ESPERA, NERVOSO. ELIZETE VEM TRAZENDO DRINQUES. ELIZETE - Aceita um drinque, Agostinho? (DIMINUI A LUZ DO AMBIENTE) AGOSTINHO - Não abaixa a luz, não. Pode atrapalhar na hora de fazer o cheque. ELIZETE - Eu não posso fazer o cheque agora. AGOSTINHO - Por quê? ELIZETE - Porque eu estou sem óculos. AGOSTINHO - Eu busco! ELIZETE - Não, eu não quero que você me veja de óculos. (T) Você gosta de música?

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ELIZETE COLOCA UM DISCO E TIRA AGOSTINHO PRA DANÇAR, JUNTINHO. ELA DEITA A CABEÇA NO OMBRO DELE. AGOSTINHO FICA APAVORADO. ELIZETE - Você acredita em magnetismo? AGOSTINHO - Negócio de imã? ELIZETE - Estou falando de magnetismo entre duas pessoas. Essa força que atrai uma pessoa pra junto de outra. AGOSTINHO - Eu pensei que fosse a senhora que estive me apertando... (TOCA O CELULAR - ELE ATENDE) Alô? Bebel?! Dá licença, dona Elizete, é minha... irmã.

CENA 13 - PORTA DO CINEMA - INT/NOITE. BEBEL ALI PLANTADA, ESPERANDO POR AGOSTINHO. BEBEL - Agostinho, você esqueceu de mim?! O filme já vai começar!

CENA 14 - SALA - QUARTO DA CASA DE ELIZETE - INT/NOITE. AGOSTINHO FALA BAIXO NO CELULAR, ENROLANDO BEBEL. AGOSTINHO - Entra e guarda um lugar pra mim, que eu já tô chegando! É que eu tô preso no trânsito!... Tá tudo engarrafado!... Vem um guarda aí, vou ter que desligar!... (DESLIGA) Dona Elizete? Onde que essa doida se meteu? AGOSTINHO PROCURA POR ELIZETE QUE SUMIU. A SALA ESTÁ VAZIA. OS COPOS DE BEBIDA FORAM LARGADOS PELA MESA. ELE TROPEÇA EM ALGO E PERCEBE QUE É O SAPATO DE ELIZETE. ELE VÊ UM RASTRO DE ROUPAS PELO CHÃO DO CORREDOR. AGOSTINHO SEGUE O RASTRO TEMENDO PELO PIOR. NO FINAL DO CORREDOR, HÁ UMA PORTA ENTREABERTA. É A PORTA DO QUARTO DE ELIZETE. AGOSTINHO - Ai, meu São Cristóvão, padroeiro dos taxistas... AGOSTINHO ABRE A PORTA COMO SE ESTIVESSE NUM FILME DE TERROR E VÊ ELIZETE, NA CAMA, VESTINDO UMA CAMISOLA SENSUAL. ELIZETE - Vem deitar comigo, vem Agostinho... AGOSTINHO - Obrigado, mas eu não estou com sono. ELIZETE - E quem é que está pensando em dormir? AGOSTINHO - Vai começando sem mim, que eu já volto! AGOSTINHO VOLTA PARA A SALA, ABRE A PORTA DA RUA E FOGE ASSUSTADO. FIM DO PRIMEIRO BLOCO.

11 BLOCO 2. CENA 15 - SALA - INT/NOITE. LINEU LÊ O JORNAL NO SOFÁ. NENÊ VEM DA COZINHA. NENÊ - Lineuzinho, vamos ao cinema? LINEU - Nenê, será que você não vai me deixar acabar de ler o jornal? NENÊ - Então me dá a chave do carro que eu vou sozinha. LINEU - Eu vou com você. (FOLHEIA JORNAL) Tô só escolhendo o filme... NENÊ - Na página de esportes? Vem se arrumar! NENÊ TOMA O JORNAL DELE E VAI PARA O QUARTO. TUCO CHEGA COM OUTRO JORNAL (ELE ESTÁ USANDO O TÊNIS DE AGOSTINHO). TUCO - Olha o que eu trouxe pra você, popozão. LINEU - Chegou na hora certa, Tuco! (PEGA O JORNAL TODO CONTENTE, MAS SE DECEPCIONA) Esse jornal é o de amanhã?! TUCO - Tinha uns moleques vendendo no sinal. Eu comprei pra você. LINEU - E por que eu gostaria de ler o jornal de domingo no sábado à noite? TUCO - Porque amanhã você já acorda com o jornal lido. LINEU - Aí eu leio o quê? O jornal de segunda? TUCO - Tá, foi mal. Eu só queria te agradar. LINEU - Deixa pra me agradar no fim do mês que hoje eu tô sem dinheiro. TUCO - (OFENDIDO) Nossa, popozão, que mau humor! LINEU - (RECUA) Desculpa. Eu ando meio nervoso. O Agostinho me fez perder a carteira e eu acabei descontando em você. Pensei que você quisesse alguma coisa... TUCO - Não chega a ser uma coisa... é uma coisinha. LINEU - Eu sabia. TUCO – Ainda falta cem pratas pra comprar o carrinho do teu neto. Te pago depois. LINEU - Está bem. Mas só porque é para o meu neto. (DÁ O DINHEIRO) E como eu te fiz um favor, agora você vai mostrar que é um filho agradecido e vai levar sua mãe ao cinema no meu lugar.

12 NENÊ - (VEM DO QUARTO, ARRUMADA) Eu ouvi, hein, Lineu! (T) Posso saber que dinheiro é esse com o Tuco? Você deu dinheiro pra ele, Lineu? LINEU - Ele não tem dinheiro pra comprar o carrinho do bebê. NENÊ - (TOMA O DINHEIRO) Ele não tem dinheiro porque comprou esse tênis! TUCO - Esse tênis é do Agostinho. (PEGA O DINHEIRO DE VOLTA) LINEU - Do Agostinho?! Mas ele está me devendo mais de quinhentos reais de multas! Como é que ele tem dinheiro pra comprar um negócio caro desse? TUCO - Isso você pergunta pra ele. LINEU - Cadê o Agostinho?! BEBEL - (CHEGA DA RUA, FURIOSA) Cadê o Agostinho?! NENÊ - Está na casa dele, que por acaso não é mais aqui! Lembra? BEBEL - Eu vou matar o Agostinho! LINEU - Então entra na fila, que eu cheguei primeiro. NENÊ - Você não vai matar ninguém. Você vai é se arrumar pra gente sair. BEBEL - Não! Agora eu quero saber por que o papai quer matar o Agostinho. NENÊ - Isso você pergunta pro Tuco. (EMPURRA O MARIDO PRO QUARTO) LINEU - Pergunta de quem é esse tênis caro que ele está usando. (SAI) BEBEL – Esse tênis não era teu, Tuco? TUCO – Na verdade, ele é emprestado. BEBEL – Quem te emprestou? Foi o Agostinho, não foi? TUCO - Foi. Mas ele não comprou isso não. Ele ganhou de presente... O resto você pergunta pra ele! TUCO FOGE PARA O QUARTO DELE, MAS BEBEL VAI ATRÁS.

CENA 16 - CASA DE AGOSTINHO E BEBEL - INT/NOITE. AGOSTINHO, SOZINHO, OLHA OS PRESENTES QUE GANHOU. BEBEL VEM LÁ DE FORA JÁ GRITANDO O NOME DELE. ELE ESCONDE OS PACOTES COMO PODE. UM TÊNIS VOA POR CIMA DA CABEÇA DELE. BEBEL - Cachorro!

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AGOSTINHO - O cinema! Bebel, eu posso explicar! BEBEL - Eu não quero saber de cinema! Quero saber disso aqui! (MOSTRA TÊNIS) AGOSTINHO - (CÍNICO) Tênis novo? Comprou? BEBEL - Não, eu arranquei do pé do Tuco, que disse que esse tênis é seu! AGOSTINHO - Dedo-duro! BEBEL - E você é um safado, que me escondeu esse tênis por algum motivo! AGOSTINHO - Eu conto. Um passageiro não tinha grana pra pagar a corrida..../ BEBEL - E te pagou com um tênis caro desse? AGOSTINHO - A corrida foi longa. BEBEL - (JOGA O OUTRO TÊNIS NELE) Agostinho! Eu não sou idiota! AGOSTINHO - Tá bem. Foi uma passageira, uma senhora. Ela cismou de me dar esse tênis e eu não tive coragem de recusar. BEBEL - O que mais essa sem-vergonha te deu? AGOSTINHO - Nada do que você está pensando. Só umas coisinhas... bobagem. (FALA RÁPIDO) Camisa, calça, meia, blazer... BEBEL - Ela te deu um blazer?! AGOSTINHO - Um, não. Dois... BEBEL - Agostinho, essa mulher tá de olho em você! AGOSTINHO - Tá vendo? Por isso que eu não te contei. Eu sabia que você ia maldar. É só amizade, Bebel. Você sabe que eu sou carente de mãe. BEBEL - E ela é carente de homem! TOCA O CELULAR. BEBEL TOMA DELE E ATENDE. BEBEL - Alô? Quem quer falar com ele? (PARA AGOSTINHO) Quem é Elizete? É a vagabunda?! AGOSTINHO - Fala baixo, Bebel! (TOMA O CELULAR DELA) Boa noite dona Elizete. Como vai a senhora? Quem? Foi minha irmã que atendeu.../

14 BEBEL - (TOMA DE VOLTA O CELULAR) Ô, sua sem-vergonha, o Agostinho não tem irmã nenhuma! Ele tem é uma esposa violenta! Sai fora, senão o tempo vai fechar pro teu lado! (DESLIGA) Agora, vai lá e devolve tudo que ela te deu!

CENA 17 - GARAGEM DE LINEU E NENÊ - INT/NOITE. LINEU E NENÊ ENTRAM NO CARRO. ELA DÁ A PARTIDA. LINEU - Nenê, não ligue o carro com o pé no acelerador! Basta girar a chave, apertar a embreagem, passar a primeira e então pisar no acelerador. Aí é só sair lentamente. NENÊ - Eu não vou dirigir do lado de uma pessoa que não confia em mim!!! NENÊ, ENFURECIDA, SAI DO CARRO E BATE A PORTA COM FORÇA. LINEU - Não bate a porta assim! NENÊ ABRE A PORTA DE NOVO E BATE COM MAIS FORÇA AINDA. LINEU - Está bem, está bem. Eu não falo mais nada. E se você não quer ir, ficamos em casa. É até bom, que eu continuo a ler o meu jornal. NENÊ - (DECIDIDA) Nós vamos ao cinema! LINEU - Mas se eu não posso dirigir e você não quer dirigir, como é que a gente vai? LINEU VÊ AGOSTINHO SAINDO DE CASA COM SUAS SACOLAS DE PRESENTES E BOTANDO TUDO NO TÁXI. LINEU - Já sei. Nós vamos de táxi.

CENA 18 - TÁXI - INT/NOITE. AGOSTINHO, CONTRARIADO, DIRIGE COM LINEU E NENÊ NO TÁXI. AGOSTINHO - Gente, eu tenho um assunto importante pra resolver. LINEU - Tinha. Enquanto eu não puder dirigir, você vai me levar onde eu quiser. AGOSTINHO - Você é quem manda. (LIGA TAXÍMETRO) LINEU - E de graça! (DESLIGA TAXÍMETRO) NENÊ - (VÊ A SACOLA COM OS PRESENTES) Que roupas são essas, Agostinho? LINEU - (VÊ TÊNIS NA SACOLA) É o tênis que você comprou, né, irresponsável?! AGOSTINHO - Lineu, fale com o motorista somente o indispensável. TOCA O CELULAR. AGOSTINHO ATENDE. LINEU TOMA O CELULAR.

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LINEU - Você não vai atender isso! AGOSTINHO - Então atende você. LINEU - Eu não. Não é pra mim. NENÊ - Me dá isso! (ATENDE CEL.) Alô? Sei... Agostinho, é uma tal de Elizete. AGOSTINHO - Elizete?! É uma cliente, quer dizer, ex-cliente. Diz que eu estou levando as coisas dela e vou deixar tudo na portaria. NENÊ - Dona Elizete, o Agostinho mandou dizer que vai deixar tudo na portaria. (P/ AGOSTINHO) Ela pediu pra você subir na casa dela pra buscar seu cheque. AGOSTINHO - Manda ela rasgar o cheque. LINEU - Não, senhor. Você está me devendo dinheiro e vai buscar esse cheque. AGOSTINHO - Tá bom. Mas primeiro eu vou levar vocês ao cinema. LINEU - Não. Você vai buscar o cheque antes.

CENA 19 - RUA - FRENTE DA CASA DE ELIZETE - EXT/NOITE. AGOSTINHO PÁRA O TÁXI E DESCE DO CARRO. NENÊ - Rápido, Agostinho, senão a gente vai perder o filme. AGOSTINHO - Eu vou e volto num pulo! (PEGA AS SACOLAS E SAI) LINEU - (VÊ PLACA DE ESTACIONAMENTO PROIBIDO) Aí! O Agostinho parou em local proibido. Nenê, põe o carro ali na frente senão a gente pode ser multado. NENÊ - (IRÔNICA) Eu não. Vai que eu ligo o carro com o pé no acelerador...

CENA 20 - CASA DE ELIZETE - INT/NOITE. AGOSTINHO ENTRA C/ SACOLA. ELIZETE ESTÁ SENTADA NO PARAPEITO. AGOSTINHO - Elizete, o que você está fazendo?! ELIZETE - Vou me jogar! AGOSTINHO - A gente tá no segundo andar. Você vai, no máximo, quebrar a perna. ELIZETE - Uma perna quebrada pra fazer companhia a um coração despedaçado. (MOSTRA O CHEQUE) É o cheque que você quer? Pega lá embaixo, no meu bolso. AGOSTINHO - Não faz isso! Toma! Eu tô devolvendo tudo, não quero nada de você!

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ELIZETE - É por isso mesmo que eu vou me jogar. AGOSTINHO - Então tá... (SOBE NO PARAPEITO) Se você vai se matar, eu também vou. Tenho muito mais motivos que você pra fazer isso! ELIZETE - Agostinho?! O que você está fazendo? AGOSTINHO - Eu menti pra você, pra minha mulher, pra todo mundo! Eu não presto! ELIZETE - (SAI DO PARAPEITO E VOLTA PRO APARTAMENTO) Olha, eu não vou mais me matar. Sai você também daí. Vem... Você pode cair... AGOSTINHO - É isso que eu quero! Eu mereço! Você foi boa pra mim e eu... eu te chamei até de velha chata. ELIZETE - (CHOCADA) Velha chata? Eu sou uma velha chata, Agostinho? AGOSTINHO - Chata, não. Você é uma velha legal. ELIZETE - Eu sou velha, Agostinho? AGOSTINHO - É... (TENTA CONSERTAR) ...mas ainda dá um caldo. ELIZETE, OFENDIDA, FECHA A JANELA E O DEIXA DO LADO DE FORA. AGOSTINHO - Elizete? Elizete?! ELIZETE - Você nunca mais pisa nessa casa! (T) Ah, toma o seu cheque! ELIZETE PÕE O CHEQUE NA FRESTA DA JANELA. AGOSTINHO TENTA PEGÁ-LO, MAS ELE ENGASGA. QUANDO ELE USA AS DUAS MÃOS PARA PUXAR, O CHEQUE SE RASGA AO MEIO E AGOSTINHO CAI.

CENA 21 - RUA - FRENTE DA CASA DE ELIZETE - EXT/NOITE. LINEU E NENÊ ESPERANDO NO TÁXI. LINEU - Agostinho tá demorando. NENÊ - Ele disse que voltava num pulo! AGOSTINHO CAI SOBRE O CAPÔ DO CARRO. OS DOIS SAEM DO CARRO E O SOCORREM. O TAXISTA ENTREGA UM PEDAÇO DO CHEQUE PARA LINEU. AGOSTINHO - Toma parte do pagamento, Lineu. Depois dou o resto... FIM DO SEGUNDO BLOCO.

17 BLOCO 3. CENA 22 - SALA - INT/FIM DE TARDE. DOMINGO. LINEU LÊ JORNAL. TUCO BRIGA COM VIVIANE NO TELEFONE. NENÊ BOTA O JANTAR. TUCO - Vivi... espera... deixa eu falar... Viviane, me deixa... Desligou. NENÊ - O que foi que aconteceu? TUCO - Tá chateada porque eu comprei o carrinho sem perguntar se ela gostava da cor! NENÊ - Ela não gostou da cor? TUCO - Gostou. Mas como eu não perguntei antes, ela ficou chateada! (JOGA-SE NO SOFÁ) Por que é que eu fui ter filho? LINEU - Eu também já me fiz essa pergunta muitas vezes. AGOSTINHO CHEGA DA RUA, EXAUSTO. NENÊ - Agostinho, que cara é essa? AGOSTINHO - Cara de quem ralou o dia inteiro depois de quase ser assassinado. NENÊ - Não exagera, que daquela altura você quebrava no máximo uma perna. AGOSTINHO - Teria sido melhor. Assim agora eu estaria num hospital em vez de estar sendo explorado pelo Lineu. LINEU - (SEM TIRAR OS OLHOS DO JORNAL) Falando nisso... AGOSTINHO - (DÁ R$ 20 P/ LINEU) Toma. LINEU - Vinte reais. Pagando isso todo dia você quita a dívida em um mês. AGOSTINHO - Ei, eu vou dar vinte reais por semana! LINEU - Aí, você quita a dívida em... (FAZ CONTA) ...sete, oito meses. É claro que, assim, você fica à minha disposição por todo esse tempo. AGOSTINHO - Lineu, isso é escravidão. Diária nunca mais! LINEU - Enquanto o táxi estiver no meu nome você pode me ver como o seu senhor de engenho. NENÊ - Vai jantar com a gente? AGOSTINHO - Obrigado, dona Nenê, mas eu vou pra casa. Vou descansar nos braços da minha mulherzinha. (VAI PARA CASA)

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CENA 23 - CASA DE AGOSTINHO - INT/NOITE. AGOSTINHO ENTRA E UM OBJETO VOA POR CIMA DA CABEÇA DELE. AGOSTINHO - É assim que um trabalhador é recebido pela mulher? BEBEL - Mulher?! Que mulher? Eu sou sua irmã, esqueceu? AGOSTINHO - Espera aí, Bebel... BEBEL - “Espera” você! E lá na rua. Você vai dormir no táxi, neguinho. Vaza!

CENA 24 - SALA - INT/NOITE. AGOSTINHO VOLTA E TENTA TIRAR TUCO DO SOFÁ. AGOSTINHO - Tuco, sai daí que eu preciso dormir. TUCO - O que aconteceu com os braços da sua mulherzinha? AGOSTINHO - Eles estão agitados demais pro meu gosto. Sai, anda. TUCO - Eu não vou sair nada. Se quiser dormir no sofá, vai dormir no sofá da sua casa! AGOSTINHO - Tuco, eu tô pedindo na boa. Eu ralei o dia inteiro. TUCO - Eu também. AGOSTINHO - Ralou nada. Aquele teu trabalho é uma moleza. TUCO - Moleza é o seu, que fica sentadão no carro jogando 171 nas coroas. NENÊ E LINEU SAEM DO QUARTO DELES ARRUMADOS. LINEU - Agostinho?! Que ótimo. Vamos ao cinema? AGOSTINHO - Obrigado pelo convite, Lineu, mas eu vou dormir mais cedo. LINEU - Eu não estou te chamando pra pegar um cinema, mas pra nos levar ao cinema. AGOSTINHO - Lineu, não há Cristo que me faça sair de casa agora.

CENA 25 - TÁXI - RUA - PORTA DO CINEMA - EXT/NOITE. O TÁXI PÁRA NA PORTA DO CINEMA. LINEU E NENÊ DESCEM DO CARRO. NENÊ - Agostinho, você não quer entrar pra ver o filme? LINEU - Não. Ele quer é economizar pra pagar as multas.

19 AGOSTINHO - Deixa, dona Nenê. Eu vou dar uma volta pra ver se pego passageiro. LINEU - Não senhor. Espere aqui pra levar a gente pra casa. AGOSTINHO - Você é quem manda. (LIGA TAXÍMETRO) LINEU - (DESLIGA TAXÍMETRO) De graça. LINEU E NENÊ ENTRAM NO CINEMA. AGOSTINHO VÊ OUTRO TÁXI PARAR NA SUA FRENTE. ELIZETE SAI DELE. AGOSTINHO VAI FALAR COM ELA. AGOSTINHO - Elizete?! ELIZETE - Agostinho?! Estou vendo que você está inteiro. AGOSTINHO - E eu estou vendo que você arrumou outro táxi. ELIZETE - Não, eu cansei dos taxistas. O VENDEDOR DA CENA 3 APARECE. ESTÁ VESTINDO AS ROUPAS QUE AGOSTINHO DEVOLVEU PARA ELIZETE, INCLUSIVE A CAMISA DA CENA 1. VENDEDOR - (RECONHECE AGOSTINHO) E aí, campeão, tudo bem? AGOSTINHO - (RECONHECE AS ROUPAS) Tudo. Tá na beca, hein? VENDEDOR - Nós temos o mesmo tipo. (T) Dona Elizete, eu vou comprar as entradas. ELIZETE - (DÁ DINHEIRO PARA ELE) Toma. VENDEDOR - Que isso? Não faz assim na frente do outros. O campeão aqui eu sei que entende uma amizade pura com a nossa, mas quem está passando pode maldar. ELIZETE - Então tá. ELA VAI GUARDAR O DINHEIRO, MAS ELE PEGA DE VOLTA. VENDEDOR - Mas eu também não posso fazer uma desfeita dessas pra senhora. (SAI) ELIZETE - Adeus, Agostinho. Manda um abraço pra sua irmã. ELIZETE VAI PARA O CINEMA ATRÁS DO VENDEDOR. AGOSTINHO FICA OLHANDO ATÉ QUE SE TOCA QUE UM GUARDA ESTÁ MULTANDO SEU TÁXI PARADO NUM LOCAL PROIBIDO. AGOSTINHO - Ei! Eu só fui ali levar uma velhinha ao cinema, seu guarda... CRÉDITOS SOBRE AGOSTINHO TENTANDO ENROLAR O GUARDA. FIM DO PROGRAMA.

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