Roteiros para um novo modelo de turistificação: do turismo de massa a águas alternativas (e alegorias) em Alagoas

July 4, 2017 | Autor: Daniel Vasconcelos | Categoria: Tourism Studies, Turismo, Identidade cultural, Alagoas, Turistificação Do Espaço, Maceió
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BEZERRA, E.J.G. ; VASCONCELOS, D.A.L. de . Roteiros para um novo modelo de turistificação: do turismo de massa a águas alternativas (e alegorias) em Alagoas. In: Silvana Pirillo Ramos. (Org.). Planejamento de Roteiros Turísticos. Porto Alegre: Editora Asterisco, 2012.

Roteiros para um novo modelo de turistificação: do turismo de massa a águas alternativas (e alegorias) em Alagoas Edson José Gouveia Bezerra Daniel Arthur Lisboa de Vasconcelos Resumo Com uma dinâmica social global marcada pela cultura de consumo, os lugares turísticos têm se tornado mercadorias simbólicas. Em se tratando da situação local/regional de Alagoas, não obstante a existência de uma imensa gama de variedades de atrativos turísticos de ordem tanto natural, quanto cultural, a exemplo das aproximadamente sessenta lagoas espalhadas por todo o território alagoano, o atual modelo de turistificação no Estado se encontra ancorado em roteiros que, em sua dominância, têm se consolidado sob os enunciados de Sol e Mar, tendência natural do turismo de massa que ocorre nas regiões intertropicais do mundo inteiro, em caso mais especifico, no Nordeste Brasileiro. Nesse sentido, o presente texto está centrado na hipótese das possibilidades da emergência e articulação de outras segmentações de turísticas – turismo cultural, turismo religioso, turismo ecológico, etc. – através da implantação de roteiros nos entornos das lagoas, o que de imediato, em nossa hipótese, nos remete a rastros identitários das origens alagoanas.

Manifesto Sururu: mistura e associação de moluscos, peixes, águas, negros, cafusos, morenos e de todas as mestiçagens possíveis das gentes alagoanas. Manifesto Sururu: do vale do Mundaú para onde houver lagoas (BEZERRA, 2004, p.05)1.

Introdução

Filtrada através de uma percepção estruturada a partir do senso comum, no geral as atividades turísticas são percebidas enquanto atividades planejadas para a produção do ócio, exotismo e deslocamento. Contudo, a totalidade do Turismo está longe de se esgotar nesses movimentos, uma vez que, em suas várias interfaces (econômicas, culturais, e sociais), o mesmo é um fenômeno sobredeterminado, e, enquanto tal, portador de um grande potencial na produção de grandes impactos sócio-culturais. Dentro dessa perspectiva é que se consolida um processo estudado por Knafou (2001), Banducci Jr e Barreto (2001), Cruz (2003), entre outros, denominado turistificação2 Nesse sentido é que se torna imprescindível aos pesquisadores do turismo, 1

As reflexões aqui apresentadas, e aprofundadas pelos autores, nasceram a partir da produção de Bezerra (2004; 2007). 2 Vasconcelos (2005, p.49) identifica que o processo de turistificação implica “no (re)ordenamento ou na (re)adequação espacial em função do interesse turístico. É uma interação entre fixos (território, paisagens...) e fluxos (capital, pessoas, padrões e valores culturais), que influencia as diferentes esferas da organização socioespacial.”

BEZERRA, E.J.G. ; VASCONCELOS, D.A.L. de . Roteiros para um novo modelo de turistificação: do turismo de massa a águas alternativas (e alegorias) em Alagoas. In: Silvana Pirillo Ramos. (Org.). Planejamento de Roteiros Turísticos. Porto Alegre: Editora Asterisco, 2012.

observar, mensurar e criticar o somatório das suas práticas no que se refere aos seus impactos sobre as relações socioculturais nos lugares, no entendimento de que, sendo o mesmo impulsionado por uma dinâmica social global marcada pela cultura de consumo, os lugares turísticos têm se tornado mercadorias simbólicas, nas intrincadas teias de relações sociais atreladas aos fluxos e aos refluxos determinados pelo mercado global. Em se tratando das situações locais e regionais do Estado de Alagoas, não obstante existir nas geografias alagoanas as evidências para a possibilidade de articulação das evidências para a construção de uma ampla variedade de roteiros turísticos, nas mais variadas segmentações (turismo cultural, turismo religioso, turismo ecológico, etc.) o atual modelo de turistificação no Estado se encontra ancorado nos movimentos de rotas, as quais, em sua dominância, têm se consolidado enquanto uma atividade que vem se solidificando sob os enunciados de Sol e Mar, o qual, mesmo sendo esta uma tendência natural do turismo de massa nas regiões intertropicais, e, especificamente no Nordeste Brasileiro, no caso de Alagoas, a sua dominância tem se mostrado devastadora enquanto um turismo de massa sob o binômio de Sol e Mar que, em sua permanente expansão, tem se desenvolvido em detrimento de outras tipologias turísticas. Nesse sentido, o presente ensaio está centrado na hipótese das possibilidades da emergência e articulação de outras segmentações turísticas a serem desenvolvidas a partir de um modelo que se aproxime das aspirações de um desenvolvimento sustentável3. Em particular, como argumentaremos, uma das possibilidades de um turismo voltado para especificidades locais, estaria na construção e articulação de roteiros alternativos, a partir do foco dos complexos lagunares alagoanos, os quais, além do conhecido complexo estuarinolagunar mundaú-manguaba, situados no que os geógrafos delimitaram como a Grande Maceió, também se espalha pelo interior do Estado4. 3

Nesse sentido, Sachs (1993) preceitua que este enfoca um desenvolvimento socioeconômico orientado para a satisfação de necessidades básicas; o reconhecimento do papel fundamental que a autonomia cultural desempenha . 4 Tal pressuposto está sendo construído a partir de que, as evidências históricas sinalizarem terem sido, a trajetória das águas, a principal particularidade na colonização de Alagoas. Além do azulado de sua extensa litorânea e de rios navegáveis por onde os colonizadores se adentraram, as dezenas de lagoas espalhadas por todo o território alagoano, assinalam para o específico de um traço característico; daí o nome de batismo de nosso estado: Alagoas. No que se refere especificamente às geografias das lagoas e lagunas, em Alagoas existem aproximadamente sessenta lagoas espalhadas pelos interiores. Segundo o levantamento e classificação de Moisés Calu, Geógrafo e professor da Universidade Estadual de Alagoas – UNEAL, elas estariam distribuídas do seguinte modo: Lagoas Litorâneas: Lagoa Mundaú, Lagoa Manguaga, Lagoa do Roteiro, Lagoa de Jequiá, Lagoa Escura, Lagoa do Tabuleiro, Lagoa de Guaxuma, Lagoa Vermelha e outras menores (Lagoa do timbó,Lagoa dos Patos Lagoa do Pau, Lagoa das Pacas, Lagoa Comprida,Lagoa Doce, Lagoa do Mangue, Lagoa do Taboado, Lagoa Azeda, Lagoa de Jacarecica, Lagoa da Anta).

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Figura 1 – Localização do Complexo Estuarino Lagunar Mundaú Manguaba. Alagoas. Brasil. Fonte: LGA – Lagoas da Margem do São Francisco: Lagoa do Tororó, Lagoa de Santiago, Lagoa da Jacobina, Lagoa da Cabeceira, Lagoa da Várzes, Lagoa do Sanção, Lagoa da Marcação, Lagoa do Munguengue, Lagoa de Baixo. As localizadas entre Pão de Açúcar e São Brás, a partir de São Brás em direção a Penedo: Lagoa comprida, Lagoa do Meio, Lagoa Tatuia, Lagoa da Várzea, Lagoa do Campo, Lagoa do Sampaio, Lagoa Enxada, Lagoa Mocambo, Lagoa da Porta, Lagoa do Cangote, Lagoa do Caldeirão, Lagoa do Sobrado, Lagoa Grande, Lagoa do Engenho, Lagoa Marizeiro, Lagoa Salgada. As localizadas abaixo do município de Penedo em direção ao estuário do São Francisco: Lagoa do Botafogo, Lagoa do Mangue, Lagoa da Várzea Grande, Lagoa Caiada. Lagoas dos interiores: Lagoa da Canoa, Lagoa do Rancho, Lagoa do Pai Gonçalo, Lagoa de Santa Luzia, Lagoa do Curral, Lagoa do Gado Bravo, Lagoa do Pé leve, Lagoa do Lunga, Lagoa dos Porcos, Lagoa do Canto, Lagoa Nova. As lagoas recentemente registradas com exclusividade pelo professor e pesquisador professor Moisés Calu: Lagoa do Caldeirão, Lagoa do Capim, Lagoa Comprida, Lagoa Grande, Lagoa da Pedra, Lagoa do Coxo. Ao redor delas, encontramos um verdadeiro relicário da culinária alagoana e espaços de permanências das culturas populares alagoanas.

BEZERRA, E.J.G. ; VASCONCELOS, D.A.L. de . Roteiros para um novo modelo de turistificação: do turismo de massa a águas alternativas (e alegorias) em Alagoas. In: Silvana Pirillo Ramos. (Org.). Planejamento de Roteiros Turísticos. Porto Alegre: Editora Asterisco, 2012.

GEM – CCEN – UFAL, 2004. Adaptação: Daniel Arthur Lisboa de Vasconcelos.

No atual momento de uma discussão entre o global e o local, a questão do referencial das águas das lagoas se apresenta, de um modo particularíssimo, no que se refere à identidade cultural alagoana. Essas águas se revelam enquanto uma possibilidade de diferencialidade no sentido de uma articulação entre o global e o local apontado por Stuart Hall, quando ele nos coloca que “ao invés de pensar no global como ‘substituindo’ o local seria mais acurado pensar numa articulação entre o ‘global’ e o ‘local’” (HALL, 1997, p.83). É nesse contexto que o autor preceitua:

As identidades estão sendo ‘homogeneizadas’? A homogeneização é o grito angustiado daqueles/as que estão convencidos/as de que a globalização faça solapar as identidades e a ‘unidade’ das culturas nacionais. Entretanto, como visão do futuro das identidades num mundo pós-moderno, este quadro, da forma como é colocado, é muito simplista, exagerado e unilateral. Pode-se considerar, no mínimo, três qualificações ou contra tendências principais. A primeira vem do argumento de Kevin Robin e da observação de que, ao lado da tendência em direção à homogeneização global, há também uma fascinação pela diferença e com a mercantilização da etnia e da ‘alteridade’. Há juntamente com o impacto do ‘global’, um novo interesse pelo ‘local’. A globalização (na forma de especialização e da estratégia de criação de ‘nichos’ de mercado), na verdade, explora a diferenciação local. Assim, ao invés de pensar no global como ‘substituindo’ o local seria mais acurado pensar numa nova articulação entre o ‘global’ e o ‘local’. Este ‘local’ não deve, naturalmente, ser confundido com velhas identidades, firmemente enraizadas em localidades bem delimitadas. Em vez disso ele atua no interior da lógica da globalização. Entretanto, parece improvável que a globalização vá simplesmente destruir as identidades nacionais. É mais provável que ela vá produzir, simultaneamente, novas identificações ‘globais’ e novas identificações locais (HALL, 1997, p.83, grifo nosso).

Com esta compreensão, existe no entorno das lagoas a contingência da emergência do que Canclini vai identificar de um porvir do passado no sentido de que “os modernizadores precisam persuadir seus destinatários de que – ao mesmo tempo que renovam a sociedade – prolongam tradições compartilhadas” (CANCLINI, 1998, p. 159). Neste sentido, o referencial das águas das lagoas, em Alagoas, se reveste da construção do que Augé (1994) identifica como um lugar, em oposição ao não lugar5.

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Augé (1994) preceitua que um “lugar antropológico” é a construção do espaço, concreta e simbolicamente, mas que refere-se a todos os indivíduos a quem é designada essa construção; características comuns aos lugares são as pretensões identitárias, relacionais e históricas dos indivíduos que os constroem. Em contraposição à definição de lugar, Augé conceitua como “não-lugar” espaço que não pode ser definido como identitário, relacional e histórico. Ou seja, a história, as relações sociais e a identidade são aspectos comuns e

BEZERRA, E.J.G. ; VASCONCELOS, D.A.L. de . Roteiros para um novo modelo de turistificação: do turismo de massa a águas alternativas (e alegorias) em Alagoas. In: Silvana Pirillo Ramos. (Org.). Planejamento de Roteiros Turísticos. Porto Alegre: Editora Asterisco, 2012.

Aprofundando as reflexões teóricas: a modernidade e o(s) processo(s) de modernização

Fenômeno recente e que vem desenvolvendo a sua estrutura de redes globais a partir da década de 1970 do século passado, o turismo tem se revelado enquanto uma atividade a qual, em suas particularidades, tem que ser compreendido enquanto um processo inserido nos parâmetros de expansão da modernidade6. Assim, torna-se necessário compreender, neste processo de expansão, uma bifurcação matizada por uma destruição e por uma seleção das tradições. Mediante o exposto, podemos falar não de uma, mas de modernidades enquanto processos situados a partir de conjunturas históricas, econômicas, geográficas e seus dispositivos. Enquanto processos situados é que identificamos nestes, dois tipos de modernidade – uma modernidade vazia e uma modernidade situada - as quais, além de suas contradições, os seus antagonismos ficam por conta de que, enquanto a modernidade vazia vai se caracterizar pela pura e simples destruição dos patrimônios ecológicos, a situada vai se desenvolver a partir de uma percepção das características geográficas e, ao reconhecimento dos patrimônios ecológicos locais; enquanto que a modernidade vazia vai se caracterizar pelo desconhecimento ou desprezo para com os patrimônios culturais, eventos e personagens da cultura local, a situada vai se desenvolver a partir de um conhecimento dos patrimônios indissociáveis da noção de “lugar". Vale ainda lembrar que esse teórico nos chama a atenção para o fato de que o não-lugar também pode existir como lugar, ou seja, não existindo o puro não-lugar, pois sempre as relações estão se recompondo. Pode-se considerar que o não-lugar nunca realiza-se totalmente, da mesma forma que o lugar nunca se apaga totalmente (AUGÉ, 1994). 6

Problematizando a modernidade, Giddens refere-se a ela enquanto um “estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência” (Giddens, 2003, p.11). Segundo esse autor, ela opera através de um conjunto de descontinuidades, cujo ritmo, sendo veloz, a sua amplitude é global, multidimensional, operando o capitalismo enquanto uma força avassaladora, o qual, em nível global tem acelerado processos de divisão de trabalho, estando ainda dentre as mudanças, a alteração da relação tempo e espaço, um desencaixe das relações sociais, e como conseqüência, uma reordenação reflexiva de relações sociais. Ainda segundo Giddens, se na sociedade pré-moderna a reflexividade era subordinada à tradição, com o advento das relações da modernidade, essa reflexividade tornou-se base para reprodução do sistema, produzindo conseqüentemente autonomia e oportunidades de escolha ao sujeito no seu modo de vida, agora livre do peso das tradições. É a mesma direção a que nos leva David Harvey no sentido de apontar, na modernidade, a perda da sacralidade do passado ao assinalar a transitoriedade das coisas. Segundo ele: Se a vida moderna está de fato tão permeada pelo sentido do fugidio, do efêmero, do fragmentário e do contingente, há algumas profundas conseqüências. Para começar, a modernidade não pode respeitar nem mesmo o seu próprio passado, para não falar do de qualquer ordem social pré-moderna. A transitoriedade das coisas dificulta a preservação de todo sentido descontinuidade histórica. (Harvey, 1992, p. 22, grifo nosso).

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culturais, eventos e personagens locais; no que a modernidade vazia vai pura e simplesmente colonizar os espaços públicos, a situada vai ocupar os espaços públicos respeitando as particularidades e seus localismos; enquanto a rede de articulação ao capital da modernidade vazia vai atrelar o capital local às grandes cadeias de bens e serviços globalizados7 em detrimento das possibilidades de uma articulação do capital com as possibilidades locais, as articulações de uma modernidade situada se instala a partir de uma articulação do capital local atrelado às grandes cadeias de bens e serviços globalizados a partir das possibilidades de uma articulação voltada para as possibilidades locais; e, finalmente, no que se refere às micronarrativas, enquanto a modernidade vazia se desenvolve a contrapelo das micro-narrativas locais, a situada vai se desenvolver e se articular a partir dessas. Entre as duas, diferentes registros e inserções do que seja ser moderno. No encaminhar das diferenças, enquanto a modernidade vazia é movida em dominância por uma relação com o local através de parâmetros cartesianos de uma relação meramente instrumental, os parâmetros de uma modernidade situada se instalam enquanto estratégias de desenvolvimento a partir de um desentranhamento das particularidades locais sufocadas pelas teias das relações instrumentais. Em particular, a instalação dos processos de modernidade e modernização em Alagoas podem ser esclarecidos se atentarmos, tanto para a permanência dos traços dos ethos de origem das elites alagoanas, bem como ainda, para o tipo de relação que as mesmas mantêm para com o local, e, particularmente, à relação das mesmas no que se refere aos os patrimônios das culturas populares alagoanas. Aprofundando as particularidades, se diante de nosso ethos de origem nos deparamos com uma elite historicamente identificada através de práticas de violência8, de exclusão9 e de baixo nível cultural10, sincronicamente nos deparamos com a mesma elite, a qual, identificada a partir de parâmetros da construção de um olhar voltado para o local, pode ser enquadrada em três categorias:

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Ao perguntar sobre o que é ser moderno Canclini questiona esta realidade a partir das seguintes constatações: “é possível condensar as interpretações atuais dizendo que quatro movimentos básicos constituem a modernidade: um projeto emancipador, um projeto expansionista, um projeto renovador e um projeto democratizador” (Canclini, 2005, p.31, Grifo nosso). Das quatro características apontadas, destacamos ser o projeto expansionista a principal característica, do que estamos apontando da modernidade vazia, todavia, apenas no sentido de acumulação e concentração de poder e de renda. 8 Enquanto um dos marcos da formação cultural das elites alagoanas está a matança genocida dos Caetés e da destruição da República de Palmares 9 Mecanismo o qual, vai se expandir e se consolidar após a expulsão dos holandeses e da destruição da República dos Palmares, com o desenvolvimento da economia da cana-de-açúcar. 10 Uma vez que por aqui não herdamos, nem a presença do colonizador português culto, como foi o caso de Pernambuco e Bahia, nem da presença holandesa, como foi especificamente o caso de Pernambuco.

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a) A de uma minoria de elevado padrão cultural e historicamente alheia ao consumo e visibilidade no que se refere às culturas populares. b) A de uma minoria de elevado padrão cultural, consumo dos produtos tradicionalmente canonizados nos critérios de elevado padrão cultural (bons filmes, teatros, cinema, ballet, etc.) e com uma percepção saturada no tocante as culturas populares11.

c) Finalmente, a de uma esmagadora maioria extremamente rica e poderosa, que têm como uma de suas características dominante, um baixo nível de consumo cultural.

A partir desta primeira clivagem, se atentarmos para as escolhas culturais, através das quais as elites alagoanas escolheram como símbolos de status, as evidências sinalizam que as suas escolhas têm sido direcionadas para a posse de três tipos de bens: a posse da terra12, a exibição de bens suntuários13 e, finalmente, para a posse do poder político14. No geral, historicamente tem sido esta espécie de “santíssima trindade” que têm articulado as práticas políticas e os sujeitos em suas práticas articulatórias nos processos da instalação de nossa modernidade. Todavia, esmiuçando o empírico, as evidências indicam que os processos de modernidade e modernização os quais, ao longo do tempo vêm sendo implantados, têm sido processos protagonizados e articulados pela primeira e terceira categorias: É justamente a partir do domínio destas minorias, que deve ser contextualizada a problemática do turismo alagoano e suas perspectivas, tanto de expansão, bem como ainda diante das possibilidades do desenvolvimento de outras alternativas, uma vez que, têm sido àquelas duas categorias ( uma minoria de elevado padrão cultural e historicamente alheia ao 11

Um segmento à parte dentro desta categoria são os folcloristas. No articulado das classes dominantes, eles constituem uma exceção. Filhos ou intelectuais atrelados à aristocracia agrária alagoana, eles formam uma camada a parte. Em geral, eles fogem aos hábitos das elites dominantes. Muito embora politicamente conservadores, o papel dos folcloristas deve ser contextualizado em sua ambigüidade enquanto grupo envolvido num duplo papel: sujeitos oriundos das classes dominantes e portadores de uma visão senhorial da cultura popular – do popular preservado das transformações e também de preservadores e mantenedores das culturas populares, e, enquanto tais, enraizados, mas apáticos a posicionamentos políticos no que se refere ao somatório das exclusões. É nesse contexto que devem ser pensadas as obras e a trajetórias de intelectuais como Theo Brandão, José Aloísio Vilela, José Maria de Melo, etc., e também ainda os estudiosos da cultura negra – Abelardo Duarte, Artur Ramos, Manoel Diégues Jr. etc. 12 Os dados indicam ser Alagoas o estado de maior concentração fundiária do Brasil. 13 No particular da exibição de bens suntuários – casas de praia, condomínios de luxo, etc. – no crescente e atual boom econômico, os dados sinalizam ter sido Alagoas o estado no qual ocorreu a maior renovação de carros do Brasil. 14 Neste caso, basta atentarmos para a permanência histórica da luta pelo poder dos grupos políticos no que se refere à conquista de cargos, tanto no executivo, bem como ainda no legislativo através da intrincada rede de crimes de morte e de toda a teia de corrupção que tem sido desbaratada pela Polícia Federal na última década.

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consumo e visibilidade no que se refere às culturas populares e uma esmagadora maioria extremamente rica e poderosa, como um baixo nível de consumo cultural) que têm sido responsáveis pela consolidação do atual modelo de turistificação em Alagoas.

Compreendendo o modelo de turismo de massa alagoano Em particular, a emergência do turismo alagoano fica por conta de que, ao contrário do fomento das práticas alternativas ocorridas em outros estados 15; em Alagoas, o turismo não se desenvolve através da mediação dos patrimônios e das manifestações culturais situadas, sendo este um dos impasses dessa atividade em Alagoas16. Tal problemática deve ser aprofundada a partir de dois movimentos: o primeiro se refere às possibilidades de ser o turismo uma das possibilidades de desenvolvimento do Estado17, e o segundo, atrelado ao primeiro, diz respeito às negativas conseqüências no que se refere a total dominância do atual modelo turístico e de seus impactos no que se refere ao desenvolvimento local. No que se refere ao primeiro movimento – as possibilidades de desenvolvimento – este decorre de ser o turismo apontado como uma das atividades mais emergentes em nível mundial. Segundo Cruz (2000), o crescente desenvolvimento econômico do turismo é ao mesmo tempo causa e conseqüência de sua dinâmica sócio-espacial. Conforme a autora: Os “números de turismo” indicam que a atividade suplantou a indústria bélica, nos últimos anos do século XX, em volume de capital transacionado, e que está muito próxima de atingir valores iguais ou superiores àqueles gerados pela indústria petrolífera, primeira no ranking mundial. Estatísticas oficiais mostram, ainda, que a atividade turística apresenta números expressivos, também, no que se refere a deslocamentos de fluxos, à mão-de-obra empregada, à geração de renda, etc. (CRUZ, 2000, p.08).

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Sem maiores detalhes, basta pensarmos na persistência do turismo cultural e histórico em outros estados nordestinos - Pernambuco e Bahia são exemplares – para termos uma idéia das possibilidades lagoanas. Naqueles estados, diante da existência de um turismo de massa voltado para o binômio Sol e Mar, também se desenvolvem as praticas do turismo histórico e cultural. Destas práticas, o carnaval e “A paixão de Cristo” em Pernambuco e o Festival de Verão, de Salvador, são realidades exemplares de alternativas à dominância do turismo de Sol e Mar. E aqui se torna perfeitamente legítima a pergunta: impasse para quem? A partir de onde está havendo um impasse? Quais forças ou a partir de onde está havendo esta visibilidade, uma vez que o turismo que se desenvolve em Alagoas, continua inserido no mesmo modelo de concentração de capital das elites alagoanas? Há visto ser atualmente, o turismo, a segunda maior atividade econômica do Estado.

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Já no que se refere ao segundo movimento, trata-se do impacto e das expectativas sobre a possibilidade da construção e consolidação de um espaço turistificado atrelado a referenciais identitários alagoanos, quando se compreende ser, esse espaço, uma construção, pois conforme explica Rodrigues (2001) “o espaço turístico resulta, (...), de captação do imaginário coletivo na tentativa de resposta. Por outro lado, o espaço criado é reforçado pela mídia, a qual produz, reproduz as práticas em espaços geográficos esquadrinhados e determinados por critérios meramente instrumentais”. No fundo, no esmiuçar destas práticas, nos deparamos com a identificação de Foucault (1985), de que toda geografia é política. Sendo Alagoas um Estado portador de rica e diversificada formação geográfica (extensa área litorânea, zona da mata, planaltos, lagoas, mangues, rios, agreste e sertão) por dentre a qual se espalha um rico acervo histórico e cultural, a problemática que se coloca, em si mesma reveladora de uma das variáveis de nosso colonialismo cultural, é justamente sobre o tipo de exploração turística que atualmente se desenvolve de forma predominante nesse Estado: o turismo massificado de sol e mar, em detrimento de outras possibilidades (turismo cultural, turismo ecológico, turismo rural, turismo de negócios, turismo comunitário 18, etc.) uma vez que aquele, além das particularidades inerentes ao seu modelo (poluição, desprezo pelo patrimônio, alheamento para com as características locais, etc.), tem se caracterizado pela maciça predominância do turismo de Sol e Mar. Tem sido esse o principal índice nas pesquisas sobre os estímulos da procura dos pacotes turísticos com destino para Alagoas, visto que as estatísticas da Secretaria Estadual de Turismo indicam que, mais de 90% dos turistas que visitam Alagoas são atraídos pelos enunciados de sol, praia e mar. Esses dados são reveladores e devem ser comparados, diante das possibilidades do desenvolvimento de outras alternativas de roteiros turísticos, os quais, devido as suas particularidades de inclusão social, teriam capacidade de favorecer a inserção no mercado de amplas parcelas da população de baixa renda, não apenas para as camadas pobres residentes nas imensas áreas lagunares, mas também, da inserção no circuito das trocas das camadas de baixa renda19 dos moradores residentes nas dezenas de cidades históricas atualmente postas totalmente às margens diante do atual e dominante modelo de turistificação. Na prática, a questão passa necessariamente pela construção de políticas públicas 20 18

Esta última possibilidade emerge como novo paradigma de resistência, de um tipo de turismo situado, perante o Turismo massificado. Vide coletânea organizada por BARTHOLO; SANSOLO E BURSZTYN e Divulgada pelo ministério do turismo. 19 E nelas incluídos, os artistas das culturas populares, as feiras populares das cidades do interior, os artesãos, etc. 20 Para o turismo, política pública abrange tudo o que os governos decidem fazer, ou não, relacionados ao setor (JENKINS, 1993; HALL, 1994; HALL E JENKINS, 1995 apud HALL, 2001). Para ser considerada

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voltadas para o setor, na compreensão do que poderia ser um desenvolvimento turístico a partir da construção de uma identidade cultural associada às particularidades de desenvolvimento no Estado, uma vez que, sendo Alagoas um estado maçiçamente composto por culturas mestiças e geografias culturais híbridas que se dividem e se espalham lado a lado ao longo do litoral e de seus interiores, até a presente data não existe, em nível governamental, um planejamento sólido voltado para a implantação de um turismo cultural para o desenvolvimento das áreas lagunares ou ainda alternativas para a diferencialidade dos municípios abundantes na construção de roteiros turísticos desenvolvidos a partir de suas referências históricas e culturais. Neste sentido, além do lugar comum do turismo de massa, o que se verifica até o presente é a não existência de metas desenvolvidas a partir de um de planejamento estratégico comprometido com o desenvolvimento de roteiros turísticos alternativos ao binômio de Sol e Mar. Com uma leve exceção para a cidade de Penedo, na esmagadora maioria de nossas principais cidades históricas - Marechal Deodoro, Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco, Porto Calvo, Jequiá da Praia, etc. – o que se verifica nestes municípios pontuados por particularidades de roteiros históricos situados em meio a riqueza de seus patrimônios naturais e acervos arquitetônicos, é uma grande carência, tanto de infraestrutura quanto de equipamentos turísticos (hotéis, bares, restaurantes, estradas, etc.), bem como ainda de um cuidado dos gestores públicos destes municípios no que se refere à preservação, visibilidade , dizibilidade e conservação dos patrimônios culturais e naturais 21, como também, a não capacitação dos mesmos no entendimento de seus espaços geográficos no que se refere às possibilidades de um desenvolvimento sustentável a partir do turismo.

A consolidação do modelo atualmente praticado

Aprofundando a problemática, o esclarecimento de como se estrutura o turismo pública uma política deve, ao menos, passar por um processo de autorização ou ratificação em órgãos públicos (HALL E JENKINS, 1995 apud HALL, 2001). 21

Lugar de referência de nossas raízes arcaicas, a região das lagoas com seus municípios históricos – Marechal Deodoro (antiga Santa Maria Madalena da lagoa do sul) e Pilar, na lagoa Manguaba; Santa Luzia do Norte, Coqueiro Seco e Satuba, nas áreas lagunares são registros fundamentais em nossas trajetórias. E é enquanto uma referência às lagoas, o batismo totêmico: Alagoas. Desse modo o desenvolvimento de práticas turísticas naquelas regiões seria fundamental na sedimentação de um imaginário alagoano a partir das margens, em oposição ao turismo de não-lugar, atualmente dominante.

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alagoano se esclarece quando verificamos, em detalhes, como se articulam e se desenvolvem as práticas locais a partir dos interesses compartilhados entre as grandes operadoras nacionais, as agências e os receptivos locais, para uma compreensão situada para o tipo de articulações dos roteiros turísticos alagoanos, com a atual dominância da trajetória do turismo de Sol e Mar. Observemos:

a. Numa primeira etapa, o olhar dos empresários locais e suas escolhas e articulações com a rede de capital local a partir das articulações com donos de hotéis, pousadas, restaurantes, etc. estrategicamente situados em áreas privilegiadas do litoral;

b. Pari passo à primeira etapa montam-se, juntamente com as grandes operadoras nacionais e com os órgãos representativos do trade local, as imagens dos roteiros através das simulações das imagens (com o hiper-real das fotografias e os simulacros dos clips) dos roteiros de Sol e Mar; c. Numa terceira etapa, estrutura-se o transporte, com as companhias aéreas e as empresas de transporte rodoviário traçando roteiros já previamente determinados a partir das escolhas anteriores; d. Numa quarta etapa, as hospedagens e as refeições, também são previamente determinados a partir das escolhas (dos roteiros) e dos interesses já anteriormente articulados e compartilhados22; e. Finalmente, fecha-se o ciclo com o receptivo local, neles incluídos algumas localidades básicas de visitação: Piscinas Naturais, Maragogi, Praia do Francês, Barra de São Miguel, Praia do Gunga, Delta do São Francisco, etc. e todos, quase que sem exceção, construídos a base do receituário de Sol e Mar, consolidando-se, assim, o processo iniciado na primeira etapa.

A conseqüência deste processo tem sido um aprofundamento das desigualdades 22

Nas entrelinhas é aí que se articula um detalhe do capital. Geralmente os guias levam para roteiros turísticos viciados no Mar e Sol, e nestes locais eles são remunerados pelos dos donos de bares e restaurantes por cada viagem, turista, ou qualquer acerto feito nas entrelinhas entre dono do empreendimento e guia. Entende-se que neste contexto, não existe nenhum interesse dos guias em criar roteiros alternativos para as regiões das lagoas e nem tampouco para as cidades históricas distantes do litoral e do ganho permanente de sua comissão (entre eles conhecida com jabá).

BEZERRA, E.J.G. ; VASCONCELOS, D.A.L. de . Roteiros para um novo modelo de turistificação: do turismo de massa a águas alternativas (e alegorias) em Alagoas. In: Silvana Pirillo Ramos. (Org.). Planejamento de Roteiros Turísticos. Porto Alegre: Editora Asterisco, 2012.

sociais23 através da má distribuição de renda, na medida em que o turismo de massa, reforça a concentração de renda de uma minoria. Na prática, diante da ausência de outras práticas turísticas alternativas ao modelo dominante, com o turismo de massa, os lucros e dividendos dos empreendimentos turísticos vão ser repartidos e concentrados entre os proprietários da rede hoteleira, das agências de viagens e do complexo circuito que se desenvolve ao redor do trade turístico local: os donos dos grandes restaurantes, dos hotéis, das empresas de receptivo, etc. Na prática, o que se consolida em conseqüência destes roteiros é uma sistemática invisibilidade, tanto no que se refere às multiplicidades de cenários das geografias culturais alagoanas, bem como ainda, de uma esmagadora invisibilidade da rica culinária local e das dezenas de manifestações da cultura popular de Alagoas, que se proliferam e permanecem nas diferentes geografias culturais do Estado24. Aprofundando a questão que se refere a construção de um modelo de turistificação, alternativo ao atual modelo de turismo de massa, nós nos deparamo-nos com a clássica problemática dos paradigmas25. Afinal, é esta a pergunta que se impõe: se um modelo esta dando certo, quais razões existiriam para se procurar outro? É esta a questão que se articula a partir do segmento das elites alagoanas envolvidas com o somatório dos interesses do turismo local. Afinal, se nas altas temporadas26 a rede hoteleira está com a sua capacidade lotada, qual razões haveria para mudanças? Por que haveria de existir uma alternativa governamental ao modelo existente? Por aí se explica como se encaminha o fortalecimento da rede de conveniências e de seu agenciamento: a rede hoteleira escolhe o seu representante para a Secretaria de Turismo do Estado, o qual por sua vez escolhe os seus quadros técnicos viciados na eficácia do mesmo paradigma, o que na prática, implica no fortalecimento do atual modelo, perpetrando, assim, a permanência do atual do círculo vicioso de Sol e Mar e seus roteiros. Reflexo desta conjuntura têm sido os tipos de visibilidade e de dizibilidade que vêm 23

A desigualdade, neste caso, diz respeito às reais possibilidades de desenvolvimento perfeitamente viáveis nas áreas de rios e regiões de lagoas. 24 Só para termos uma idéia sobre as possibilidades da implantação de roteiros turísticos atentos para as possibilidades de uma multiculturalidade latente em Alagoas, somente no que se refere ao vale do MundaúParaíba e suas dezesseis cidades e no entorno do complexo mundaú-manguaba, nossos levantamentos indicam a existência de algo em torno de mais de oitocentos terreiros de cultos religiosos de matriz africana (CAVALCANTI; ROGÉRIO, 2008). É por ai que se entende presença, nestes espaços, de uma rica variedade de manifestações das culturas populares alagoanas, todas, em sua maioria de matriz afro-alagoana. 25 Estamos nos referindo para a problemática da questão dos paradigmas levantada por Thomas S. Kuhn (1987) sobre as possibilidades e as necessidades nas mudanças dos paradigmas enquanto explicadores das realidades científicas. 26 As altas temporadas. Estamos aqui nos referindo aos meses de Julho, Dezembro, Janeiro e Fevereiro.

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sendo construídos sobre Alagoas pelas agências governamentais. Assim as conseqüências da consolidação do atual modelo dominante são:

a.

Alheamento no que se refere a identificação de nossos patrimônios naturais;

b. A exceção das imagens de sol e mar, e do Rio São Francisco exclusão ou delegação a segundo plano de outras geografias culturais: rios, olhos d’água, lagoas, canais, etc.; c.

Alheamento e desvalorização dos patrimônios históricos e culturais alagoanos;

d.

A ausência de políticas culturais efetivas, direcionadas para o nosso acervo cultural;

e. No que se refere a Maceió, uma grande carência de referência aos seus patrimônios e à sua vida cultural.

Provocando uma proposta: por um roteiro nas lagoas e suas alegorias

No atual contexto de uma modernidade local e regional 27, especificamente de uma modernidade emergente em Alagoas, as particularidades das águas se revestem de múltiplas possibilidades. Quanto a isto já a escrita de Octávio Brandão, 28 em Canais e Lagoas, nos apontava para preciosas visões de uma ancestralidade alagoana: No mar alto... bravio, cheio de fosforescências duradouras e clarões subitâneos. E, sobre ele, a noite infinita iraundando-se tão tenebrosamente, como turbilhões de vapores que elevassem de um oceano de asfalto e ignição. Os navegantes – perdida a nau, perdido o sono, perdida a esperança – reuniram-se no toldo batido pelos ventos e lavado pelas ondas. Ai, no silêncio das coisas mortas, cercado pela agitação profunda das coisas vivas, os navegantes elevaram os pensamentos ao céu azul e prometeram, pelos ossos de suas mães, que se a Senhora dos Remédios29 os salvasse, eles levantariam uma capela na primeira terra que avistassem. A noite inteira, a nau andou a barlavento e a julavento, até que, pela manhã, no horizonte longínquo, apareceu um monte com uma palmeira no alto. Os navegantes arribaram á praia, atravessaram o canal, subiram o monte e, de lá seus olhos de náufragos dilataram-se pela a imensidão do cenário. Depois, embrenharam-se na mata vizinha e, ao voltar, fincaram os esteios e ergueram uma capela à Senhora dos Remédios. Em seguida, embrenharam-se na mata 27

No caso, de uma modernidade que nos remete para o que estamos identificando de modernidade

situada. 28

Trata-se de uma narrativa em um dos tópicos de Canais e Lagoas - A lenda dos Descobrimentos – lugar e escrita de onde Otávio Brandão descreve de uma forma mítica a descoberta de Alagoas nos entorno da lagoa Mundaú. 29 Igreja de Nossa Senhora dos Remédios que fica localizada nos arredores da lagoa Mundaú perto da cidade lacustre de Coqueiro Seco.

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vizinha e viram que ela era cheia de Canais e lagoas oscilantes (BRANDÃO, 2001, p. 23).

As referências históricas no tocante à geografia das águas são inequívocas, sendo esta, uma evidência percebida por não alagoanos. Gilberto Freyre, por exemplo, na introdução de “O Bangüê das Alagoas” de Manoel Diegues Jr., identifica que: Se do Brasil inteiro que se formou à sombra dos engenhos patriarcais de açúcar, pode-se dizer que a água foi um dos elementos mais nobres de sua paisagem, nas Alagoas – uma terra de tantas lagoas, tantos rios, tantos riachos – a importância da água foi máxima na caracterização do complexo agrário. Muitos foram os engenhos alagoanos que, em vez de tomarem das famílias proprietárias, nomes de santos ou de mulheres, foram buscar um tanto pagãmente na água suas denominações (DIEGUES, 2002, p. 17. grifo nosso).

Não há dúvida de terem sido as trajetórias das águas – as águas marinhas, as das lagoas e as fluviais – os marcos persistentes na ocupação dos espaços geográficos alagoanos. Situando os nossos núcleos primitivos da população nos três últimos decênios do século XVI, Manoel Diegues Jr. vai identificar nas águas, uma presença comum nos pólos primitivos de colonização em Alagoas:

Do ponto de vista geográfico podem-se caracterizar estes núcleos pela influência do seu principal acidente; acidente, no caso dos três núcleos do litoral, principalmente hidrográfico, por isso que o seu elemento é a água: rios ou lagoas. O litoral alagoano podemos distribuí-lo em três grandes regiões: a região dos quatro rios, que é a do norte, presidida pela presença dos rios Manguaba, Camaragibe, Santo Antônio Grande e Tatuamunha, que se juntam outros rios menores: o São Bento, o Maragogi, o Comatanduba, o Moicatá, o Tatumundé. (Id. Ibid., p. 36, grifo nosso).

E logo em seguida nos aponta à singularidade da região das lagoas:

Depois a região das grandes lagoas, onde se destacam as lagoas do Norte ou Mundaú, e a do Sul ou Manguaba; finalmente, a região são-franciscana presidida pelo Rio São Francisco, cujo centro, Penedo, foi o ponto de irradiação do seu povoamento, quer instalando-se para o norte, quer penetrando para o sertão (Id. Ibid., p. 36, grifo nosso).

Depois de identificar o rio São Francisco enquanto “o grande rio da unidade nacional,

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o distribuidor do povoamento”, ele também destaca as águas como um marco na ocupação da região do antigo Quilombo dos Palmares, ressaltando que ali as concessões de terras aos colonizadores Bernardo Vieira de Melo e de Domingos Jorge Velho terem sido demarcadas pelos rios Paraíba, o Mundaú, o Parangaba e o Satuba. Na seqüência a particularidade da colonização no entorno lagunar: De modo que podemos admitir, e com razão, que a irradiação do povoamento no segundo foco – o das lagoas – partiu de dois pontos: um na lagoa do Norte, margeando o rio Mundaú; outro, na lagoa do Sul, costeando o Paraíba. É em derredor das águas dos rios, fixando-se em suas ribeiras, aproveitando a riqueza dos seus vales, que vai se desenvolvendo a colonização das Alagoas, (...) (Id. Ibid., p. 37).

Aprofundando esses marcos de origem, Lindoso (2002, p.50), depois de identificar a cultura alagoana como uma “cultura de fortes dominâncias anfíbias30“, e no somatório das observações de Gilberto Freyre e Manoel Diegues Jr., projeta sobre Alagoas uma classificação totêmica apontando Alagoas como uma civilização das águas: Alagoas é, de fato e por antonomásia, uma civilização da água: de chuvas, nas matas úmidas onde amadurecem os canaviais; marinhas no recortado litoral de rios e esteiros de mangues; lacustres, nas lagoas que se estendem esparsas de Maceió para o sul; fluviais, nas abundâncias dos grandes rios – como o São Francisco – e nos pequenos rios onde medrou a civilização do açúcar (Id. Ibid., p.50).

A consolidação deste universo se intensifica quando da crescente densidade demográfica em meados do século XIX, mediante o desenvolvimento do comércio e a necessidade das trocas e em conseqüência de sua posição central e da ausência de estradas, as lagoas se consolidariam enquanto uma região estratégica para o escoamento da produção interna31. 30

Era através das lagoas e de seus canais que trafegavam os moradores e os

Na íntegra, eis a citação: “Poucas ou abundantes, psicológicas ou físicas, as águas dominam a cultura alagoana, marcando-lhes as criações, das egrégias às mais simples e anônimas. Não só a alagoana uma gente anfíbia, como a caracterizou Gilberto Freyre, mas de cultura de fortes dominâncias anfíbias: a pesca, os meios de comunicações, as habitações palafíticas, as cidades beirando os rios, mares, lagoas e mangais marinhos: a toponímia exposta ao domínio do aquático (...)” (LINDOSO, 1985, p.50). E de tão persistentes, as agias serviram até mesmo enquanto parâmetros de referências geométricas: “Os rios não eram somente os vales férteis, através de cujas margens os canaviais gostosamente se estendiam, como se estendem ainda hoje; eram também os caminhos, por onde as canoas ou as barcaças navegavam, fazendo o comércio do açúcar. E até as próprias barracas se construíam tendo como referência de tamanho o número de sacos ou de caixas que pudessem conduzir” (DIEGUES JR., 1980, p.37). 31 Escoação da produção interna através das relações de escambo entre os municípios lacustre e áreas adjacentes já que a externa, das importações e exportações era realizada através do cais do porto da cidade de

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comerciantes. Os que residiam nos municípios do Pilar, Marechal Deodoro e adjacências nas águas da lagoa Manguaba e, pela Mundaú, os moradores de Coqueiro Seco e Santa Luzia do Norte, permanecendo os espaços lagunares enquanto um ponto estratégico para o intercâmbio e deslocamento de seus moradores até as primeiras décadas do século passado, quando então, diante do acelerado processo de modernização consolidado através da abertura de estradas, o transporte rodoviário passou a proporcionar uma maior agilidade e facilidade de deslocamento para os moradores daqueles espaços geográficos. Todavia, mesmo com o desenvolvimento da modernidade e seus processos de modernização, a beleza e a riqueza de patrimônios de bens materiais e imateriais por dentre as geografias no entorno das cidades que compõem o complexo mundaú- manguaba permanecem e se alternam em diferentes grandezas. Nas margens da Mundaú, as cidades de Maceió, de Coqueiro Seco e de Santa Luzia do Norte de onde através de seus planaltos se avista em panorâmica, além da imensidão da Mundaú, a cidade de Maceió por dentre as imagens do antigo bairro de Fernão Velho até o secular bairro do Pontal da Barra. São visões repletas de ilhas, de vastos coqueirais e também, geografias repletas de canais por dentre a lama dos mangues repletos de caranguejos. Aos arredores, os tiradores de sururu, os catadores de massunin, de unha de velho e toda uma fauna lagunar ao redor da qual se consolidou uma culinária tipicamente alagoana. Por dentre estes espaços, outros espaços geográficos comprimidos: a ilha de Santa Rita, o povoado de massagueira, geografias culturais repletas de tipos humanos tipicamente alagoanos: os pescadores, os canoeiros, os tiradores de sururu, as marisqueiras. Nas margens da lagoa Manguaba, as cidades de Marechal Deodoro e do Pilar, também cidades construídas por dentre a alternância de planícies e planaltos. A cidade de Marechal Deodoro e seu rico patrimônio arquitetônico, as suas ladeiras e seus recantos históricos. Taperaguá. O bairro da Poeira e suas dezenas de rendeiras e a cidade do Pilar, cidade histórica de velhos casarões e pontuada por dezenas de olhos d’água e em seus arredores circundada por antigos engenhos e belas paisagens. Todavia, se a importância destes lugares com o desenvolvimento da modernidade e dos processos de modernização com o passar do tempo foram se tornando enclaves na modernidade, atualmente eles permanecem enquanto celeiros inexplorados para os mais variados tipos de atividade turísticas no que se refere de turismo cultural, turismo alternativo, Maceió.

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turismo de aventura (e suas variedades: trekking e hikking32, bóia cross33, rafting34, etc. ), turismo náutico, turismo religioso e ecoturismo e por uma proliferação de roteiros possíveis de serem articulados através de políticas públicas alternativas. No entanto, mesmo diante da exuberante beleza das geografias lagunares, os atuais roteiros turísticos vêm se desenvolvendo nos espaços litorâneos e em áreas bem delimitadas que se desenvolvem sob os enunciados de sol e praia e consolidando aquelas geografias à crescente marginalização. Neste contexto, ao situá-las em movimentos de exclusão, estas geografias têm se tornado locais de permanência das culturas arcaicas e espaços liminares situados entre o arcaico e o moderno, lugares de práticas residuais.

À Guisa de Conclusão

Partimos do princípio de que um turismo situado deve ser desenvolvido perante uma racionalidade estruturada a partir de uma rede de atividades programadas para a produção do ócio, do exotismo e do deslocamento, então nos perguntamos: qual o diferencial que um nossa proposta poderia trazer de novo para o turismo alagoano? Na prática, esta é uma questão que poderia ser respondida a partir de dois movimentos: o primeiro poderá ser o questionamento a respeito do que ele, o turismo de lagoas e alegorias, poderia trazer para o turista, no entendimento existirem visitantes em busca do exótico. E a segunda, qual o diferencial em termos de desenvolvimento local, a articulação daquela atividade poderia proporcionar para as comunidades nativas residentes nos entornos das comunidades lagunares? Comecemos pelo primeiro movimento. Na prática, além de uma diferencialidade no que se refere à dominância de um turismo de Sol e Mar, ele, o turismo lagunar poderia nos trazer justamente o que Benjamim identifica como experiência35, no entendimento de ser 32

Caminhada a pé. Descida de rio em bóias. 34 Descida pelo rio de bote ou caiaque. 35 Ao refletir sobre a perda da experiência, Benjamin indaga: 33

(...) qual o valor de todo o nosso patrimônio cultural, se a experiência não mais o vincula a nós? A horrível mixórdia de estilos e concepções do mundo do século passado mostrou-nos com tanta clareza aonde esses valores culturais podem nos conduzir, quando a experiência nos é subtraída, hipócrita ou sorrateiramente, que é hoje em dia uma prova de honradez confessar nossa pobreza. Sim, é preferível confessar que essa pobreza de experiência não é mais privada, mas de toda a humanidade.

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justamente ela, a experiência, justamente o não-dito, o contato do turista com o novo e com exótico,

o que, na prática constitui o núcleo da busca dos sujeitos para os quais são

encenadas e ritualizadas36 a trajetória dos roteiros turísticos que se afastam dos modelos massificados. Com esta compreensão, se existe nos entornos lagunares a possibilidade do que Canclini vai identificar de tradições compartilhadas (1998, p.159), estas tradições, exóticas para o estrangeiros, no que se refere às comunidades nativas, elas são práticas vivenciadas por suas comunidades através das reminiscências de suas memórias coletivas (Halbwachs, 1990) e encenadas performaticamente em seus rituais. Neste entendimento, este rituais são encenações das experiências vivenciadas através do paladar e do cheiro compartilhado através dos pratos oferecidos pelas comunidades locais,37 práticas encenadas em um cenário alternado por dentre geografias primitivas e uma arquitetura situada por dentre as ruínas e as alegorias (Benjamin, 1984) dos monumentos históricos e dos casebres dos moradores pobres. Na prática, alegorias38 por dentre os somatórios das experiências, no sentido de estar na experiência, as possibilidades do que Heidegger vai identificar como desentranhamento (Heidegger, 1988). A partir daí, podemos inverter o eixo da problemática e indagar o que, para além da experiência do contato dos estrangeiros com as comunidades nativas, a articulação de um turismo lagunar poderia proporcionar às comunidades nativas? Ou, afunilando a problemática: quais os benefícios que roteiros focados nas lagoas poderiam proporcionar às comunidades locais em termos desenvolvimento? Questão que se esclarece quando equacionamos o IDH (índice de Desenvolvimento Humano) das cidades situadas no entorno das geografias das lagoas, e através dele verificamos que, a exceção de Maceió – que se mantêm um pouco acima dos índices dos outros municípios - os demais se apresentam quase no mesmo patamar do Índice de Desenvolvimento Humano.39 No que se coloca então a questão dos possíveis benefícios que 36

Encenadas e ritualizadas, uma vez que, assim como num ritual e seus gestos repetitivos, os roteiros turísticos seguem sempre a mesma padronização que sempre se repetem ano a ano. 37 Que se pense, a título de exemplo, a forma de se degustar um caranguejo. Na prática, o seu consumo por um estrangeiro na comunidade local, somente se torna possível através da ajuda e do compartilhamento de algum nativo no ensinamento a ele, estrangeiro, de como para degustá-lo, é necessário, antes de mais nada, quebrá-lo e esmiuçá-lo através da disjunção de suas partes. Na prática, o miúdo do exemplo é esclarecedor de um compartilhar de experiências. 38 No fundo, as alegorias – os fragmentos dos monumentos históricos, as culturas populares, a fala nativa dos cordéis, etc. - são representações de ausências e de símbolos, os quais, na medida em que são apagados/transfigurados pela modernidade, aos poucos vêm sendo transformados em representações alegóricas, uma vez que segundo Benjamin: “Para que um objeto se transforme em significação alegórica, ele tem de ser privado de sua vida. (...). Esvaziado de todo brilho próprio, incapaz de irradiar qualquer sentido, ele está pronto para significar enquanto alegoria” (Idem, p. 40). 39 Compreendendo-se que a escala de IDH estabelece que um IDH Elevado situa-se em uma variação situada entre 0,800 a 0,899; o de Médio IDH, entre 0,500 a 0,799 e, finalmente, os que apresentam um índice

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um turismo de lagoas e alegorias poderia proporcionar às suas comunidades, a mesma se esclarece diante das evidências que sinalizam para o fato de que, cada turista em suas trajetórias de flaneur gasta por dia uma média aproximada de 100 reais40. Reside então nas construção de alternativas similares – sendo o turismo de lagoas e alegorias apenas uma dentre muitas – a construção de um somatório de atividades turísticas voltadas, tanto para o desenvolvimento local, bem como ainda, para o somatório de encantos a que pode nos remeter o Estado de Alagoas.

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abaixo de 0,500 enquadra-se dentro de um Baixo IDH. No geral, todos os municípios lacustres situados no entorno do complexo mundaú-manguaba se encontram inseridos dentro dos parâmetros de um Índice Médio de Desenvolvimento Humano, conforme aponta o Relatório do PNUD – 2000 para os seguintes municípios: Maceió: 0,739; Marechal Deodoro: 0,649; Santa Luzia do Norte: 0,632; Coqueiro Seco: 0,631; Pilar: 0,604. Todavia, esse quadro se altera quando os indicadores do IHD são submetidos à clivagem do Índice Geni que avalia a problemática social através da distribuição de renda. Neste sentido, levando-se em conta a classificação estabelecida por aquele índice, mesmo estando a cidade Maceió classificada dentro dos parâmetros de um IDH médio, o quadro se altera, quando os dados sinalizam que 56,42 % da renda se concentra nas mãos dos mais ricos e apenas 1,4 % da renda estão nas mãos dos 20% dos mais pobres. 40

Segundo os últimos dados da Secretaria de Turismo de Alagoas, no ano de 2006, o gasto médio do turista foi de 92,24 Reais, sendo 62,40 Reais a média do turista interno, e de 122,08 Reais a média dos estrangeiros.

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