Rumo a um novo internacionalismo? (Cadernos do CEAS, 227, Salvador-BA, abr.-jun. 2007)

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Manoel Nascimento

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e XX" (p. 180), caracter stica particular que os leva a ser jornais que "tiveram capacidade de coletar informa es em n vel mundial durante todo o s culo XX" (p. 181). A base de dados, assim como o projeto de coleta, "n o pretende analisar todas as formas de a o coletiva dos trabalhadores" (p. 46), n o foram concebidos todos ou mesmo da maioria dos incidentes de agita o trabalhista ocorridos no mundo, no s culo passado" (p. 184), mas, mudan as nos n veis de agita o trabalhista" (p. 184), com foco nos "per odos de insatisfa o oper ria mais intensa" (p. 46), pois "essas grandes ondas de insatisfa o trabalhista, ao contr rio das formas de protesto mais institucionalizadas, pressionam Estados e capitalistas a promover inova es e s o, portanto, as formas de protesto oper rio mais relevantes para se compreender per odos de transforma o dram tica no sistema capitalista mundial" (p. 46). Foram feitos estudos de confiabilidade dos dados atrav s da compara

o do perfil temporal das manifesta es de trabalhadores encontrado atrav s do com a produ o acad mica sobre a hist ria do trabalho e outras fontes como todas as fontes, deva

ser usada com o cuidado necess rio, ela provou ser uma fonte bastante confi vel de identifica o dos padr es mundial de agita o trabalhista" (p. 186). Chegou-se a um total de 91.947 men es de protestos de trabalhadores em 168 pa ses, ao longo de 126 anos. dos trabalhadores e as solu es encontradas pelos capitalistas para min -lo. Tendo como base um estudo de Erik Olin Wright sobre o poder da classe trabalhadora, interesses da classe capitalista e compromissos de classe, Beverly Silver apresenta duas ou seja, as "'v rias formas de poder que emanam da organiza o coletiva dos trabalhadores' (em especial

ou seja, o "poder conferido aos trabalhadores 'apenas em virtude de sua posi o (.. ) no sistema econ mico'" (p. 29), que lhes confere maior poder de barganha Beverly Silver divide este "que 'resulta e poder de barganha no local "que adv m 'da localiza o estrat gica de um certo grupo de trabalhadores num setor industrial-chave'" (p. 29). entre elas "(1) a posse de habilidades escassas em alta demanda por empregadores, (2) n veis Salvador Abril/Junho 2007 n' 226

codernos do

Resenha

baixo de desemprego geral e (3) a capacidade dos trabalhadores para sair do mercado e sobreviver de fontes de renda que n o o sal rio" (p. 29). 0 poder de barganha no local de trabalho " conferido a trabalhadores envolvidos em processos produtivos bem integrados, nos quais uma paralisa o num ponto essencial capaz de causar perturba es numa escala muito mais ampla do que a pr pria paralisa o" (p. 29). J os capitalistas, com base nos dados do WLG, tendem a adotar as seguintes mudando mudando de mediante a automa o, atrav s da fuga do capital do setor produtivo para o setor financeiro. Toda a base de conceitos operacionais do livro concentra-se nestas formas simples e concretas de conflito entre trabalhadores e capitalistas. A partir de tantos cuidados na prepara o de uma base de dados ampla e confi vel, o que se segue uma exposi o "em camadas" dos resultados encontrados na base de dados do WLG. A partir da base conceituai adotada pela autora somos levados a analisar, dentro de uma longa perspectiva hist rica e de uma ampla perspectiva geogr fica, a agita o trabalhista em n vel implantadas no setor industrial tido por ela como o mais importante do s culo XX, a ind stria automobil stica: migra o do capital do setor automobil stico dos

Estados Unidos ara a Europa, desta Sul, da

para o Leste Asi tico etc.

ltima para a Am rica Latina e

frica do

adotada na migra o do capital da ind stria t xtil (o setor industrial mais importante do s culo XIX, segundo Silver) para a ind stria automobil stica, e aponta alguns poss veis sucessores desta ltima (supercondutores, educa o, servi os, transporte etc.), tanto quanto um cen rio poss vel para o acirramento da luta de classes no s culo XXI: a quanto a um num futuro tido como incerto, mas vistas segundo o pressuposto aberto pelos movimentos hist ricos do capital: "para onde o capital vai, o conflito vai atr s".

Por sua vez, o cap tulo 4 insere estes movimentos din micos da luta de classes desenvolvimento nos remete a n veis Salvador Abril/Junho 2007 n' 226

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progressivos de complexidade de an lise da luta de classes num per odo hist rico e com uma abrang ncia geogr fica amplos o suficiente para que tenhamos dados emp ricos suficientes para subsidiar um entendimento profundo da din mica do capitalismo em diversos per odos hist ricos. Mas seu m rito n o termina em seu conte do. Al m de ser um excelente

, como tamb m o afirmamos, um manifesto pol tico e uma provoca o aos intelectuais e acad micos ligados aos movimentos sociais. Em que sentido? Ele tem pelo menos "panos de fundo" igualmente importantes. Em primeiro lugar, o extremo rigor metodol gico (at a metodologia de constru o das tabelas anal ticas da agita o "trabalhista" exposta em todos os detalhes) transparece um esfor o em usar as armas do capital contra ele mesmo; no caso desta obra, a ci ncia acad mica. Para a ci ncia tradicional, que n o cessa de acusar estudos cient ficos anticapitalistas de parcialidade, ideologismo, um tapa na cara, pois a mesma metodologia da ci ncia tradicional foi usada em todos os momentos, quase obsessivamente, e demonstrou o que considerava quase indemonstr vel.

coloca para os pesquisadores acad micos o desafio de retornar a humilde, desgastante, por m eficac ssima pr tica, de aliar ao fastia observa o emp rica rigorosa. As diversas observa es sobre as insufici ncias da base de dados do WLG recorrentes por todo o livro, e concentradas especialmente s o quase um apelo para que ele n o se torne mais um livro a ser apenas lido, comentado com furor e devolvido as estantes das bibliotecas, mas que seja o primeiro passo para estudos semelhantes em mbito geogr fico mais restrito. Convidam a que a base de dados do WLG n o seja usada apenas como capital cient fico, mas permanentemente atualizada e desenvolvida, para que se converta numa arma na luta anticapitalista.

Outro aspecto importante desta obra seu pano de fundo pol tico. Nela, Silver chega a conclus es muito pr ximas aquelas de uma corrente marginal do marxismo rotulada, a depender do autor ou coletivo de autores enfocado, como "marxismo autonomista", "opera smo", "marxismo aberto", "escola da composi o de classe", "marxismo heterodoxo", "marxismo das rela es de produ o" etc., que nos ltimos anos tem retornado aos debates acad micos e volta a influenciar movimentos sociais, seja atrav s da obra de Antonio Negri, Jo o Bernardo, Sergio Bologna, Maur cio Tragtenberg, Mario Tronti Salvador Abril/Junho 2007 n' 226

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do Campo (SP) , a luta dos trabalhadores passa a ser pela manuten capital no mesmo lugar.

o do

De forma semelhante, quando os trabalhadores migram para onde o capital est se estabilizando, os trabalhadores locais tendem a barrar a chegada destes novos trabalhadores migrantes como a autora demonstra estar acontecendo nas zonas urbanas da China , a buscar medidas protetivas de seus pr prios postos de trabalho ou mesmo a manter-se inertes diante da exclus o destes trabalhadores da rede de prote o social complementar a estes mesmos postos com resultados j conhecidos atrav s das cada vez mais frequentes rebeli es de migrantes na Europa. Beverly Silver coloca a quest o: o desenvolvimento da agita o "trabalhista", tal como se v atrav s de manifesta es simult neas, solidariedade internacional e outros expedientes, conduzir a um "novo internacionalismo"? Ela n o d respostas. Fiel a seu compromisso de ater-se aos dados emp ricos para desvelar as tend ncias do desenvolvimento capitalista e da luta de classes em 120 anos, prefere deixar a quest o em aberto. Nas entrelinhas, respondeu como (S o Paulo, Cortez, 1991), um livro de inten o semelhante: "N o foi uma cr tica de teorias (.. ) que neste livro pretendi elaborar, mas um quadro de refer ncia que permitisse concentrar a aten o nos fen menos que julgo ir o marcar o futuro do capitalismo. E, para este fim, n o pode recomendar-se melhor fonte do que a leitura dos jornais e revistas, a participa o ativa nos conflitos do nosso tempo em suma, andar na rua".

assessor da Equipe Urbana do Centro de Estudos Cadernos do ([email protected] j

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