Rumo a uma rádio perene: as TIC como um recurso

June 2, 2017 | Autor: Pedro Duarte | Categoria: Radio, TICs aplicadas a la Educacion
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Rumo a uma rádio perene: as TIC como um recurso   Pedro Duarte ­ Rádio Universitária do Algarve    Pretende­se neste texto fazer uma pequena reflexão e recolha de alguns exemplos de utilização das TIC pela  rádio e de que forma estas estão a moldar as novas formas de fazer rádio. Procura­se perceber de que forma a  rádio se torna menos efémera ao tirar partido destas novas ferramentas. 

   

“A aparição do rádio no começo do século XX supôs uma mudança radical nos sistemas  de comunicação. Mudou­se da narrativa escrita à narrativa oral, do campo visual ao  auditivo...​ ” Lopez, 2010. 

  O  aparecimento/surgimento  da   rádio  foi,  já por si, uma verdadeira alteração no panorama  da  comunicação   social  (e  que  desde  a  sua  criação  está  intimamente  ligado  às  novas  descobertas  tecnológicas).  Com  a  transmissão  via  rádio,  passou  a  ser  possível,  em tempo  real  e  à  distância,  ter  acesso  a  notícias  (mesmo  que  não  se  soubesse  ler),   a  músicas  e  a  outras  produções  (teatrais,  humoristas,  satíricas...).  Se  ao  inicio  era  exclusivo  a  alguma  elite,  uma  outra invenção tecnológica (o transístor) veio democratizar a telefonia, tornou­a  portátil, passando a ser possível aceder à rádio em qualquer local.   A  Rádio  é,  quase  por  definição,  um  meio  de  transmissão  efémero,  onde  as  emissões  de  um  determinado  canal  acontecem,  naquele  preciso  momento  de  forma  unidirecional  e   única.  O  desenvolvimento  das  tecnologias  de  informação  e  comunicação permitiram à rádio uma  alteração da “definição” acima indicada.  A  proliferação  do  telefone,  deu  ao  jornalista  a  possibilidade  de  reportar  em  tempo   real  o  que  se  passava  em  qualquer  local,  desde  de  que  servido  de  linhas  telefónicas.  As  rádios  puderam,  com  menos  recursos,  reportar  ao  minuto  os acontecimentos e o ouvinte passou  a poder participar directamente nas emissões e a ser incentivado a fazê­lo.   Os  gravadores  de  fita  magnética,  passam  a  permitir  uma  maior  mobilidade  e  agilidade  à  rádio e à sua cobertura dos eventos.   A  portabilidade  dos  telefones  (telemóveis)  deu­lhe  uma  maior  mobilidade  e  (mais  recentemente)  melhor  qualidade  sonora  na  cobertura  de  eventos,  mas,  por  outro  lado,  permitiram,  uma  maior  participação  do  ouvinte,  agora  com  o  SMS.  A  Internet,  que  entretanto  também  já  passou  às  plataformas  móveis,  é  para  a  rádio,  quase  tão  revolucionária  como  o  aparecimento  da  rádio  o  foi,  para  os  meios  de  comunicação  da  altura.    “...Hoje,  cem  anos  depois,  assistimos  a  uma  nova  mudança  nos  sistemas  de  comunicação,  que  obriga  a  repensar  a  forma  de  contar  dos  meios  tradicionais.  O  rádio,  como  os  meios  impressos  e  a  televisão,  tem  que  redefinir  seus  fazeres  a  partir  do novo  conjunto de condições que impõe o cenário da era digital.”​  ­ Lopez, 2010    Não  foi  por   esquecimento  que  a  televisão,  muitas  vezes  anunciada  como  carrasco  da  rádio,  não  consta  como  uma  das  novas  tecnologias  que mudou a rádio. Na realidade, não  foi  incorporada  pela  rádio,  como   nos  casos  apresentados,  provocou­lhe,  no  entanto,  grandes alterações como refere Cordeiro 2001,     ”(..)​ O  fascínio que  o  novo meio despoletou, a rádio foi obrigada a mudar. A criatividade  não  deixou  de  se  revelar,  e   a  rádio   apresentou  alguns  programas  que  surpreenderam  a  sociedade.  Procurou  inovar  o  seu  discurso,  (...).  Foi  o  nascimento  de  uma  nova  fase na 

rádio  portuguesa,  mais  moderna,  em  oposição  à  anterior.  Testaram­se  novas   configurações,  que  se  opunham  no  campo  do  discurso  e   da  expressão,  e  desenvolveram­se  novas  ideias especialmente no  campo  da  música  e da  ficção. A década  de  60  viu  nascer  vários  programas  impertinentes  que  se  aproximavam  demasiado  dos  limites  impostos  pela  censura.  Ao  longo  desta  década,  a  rádio  começou  lentamente  a  assumir  um  papel  de  divulgação  da  cultura.  A  informação  passou  a  ser  um  elemento  central  para  os  programas  que  se  especializaram  em  torno  de  temáticas  tão  diferentes  como a informação de actualidade ou a divulgação musical​ .” 

  Este  primeiro  choque  que  a  rádio  sofreu  ­  televisão  ­  obrigou­a  a  sair  da  sua  zona  de  conforto  e  fê­la  reinventar­se,  melhorar  e  o  mesmo  se  está  também  a  passar  com  o  segundo  choque  ­  a  Internet.  É  interessante  observar  como  a  segunda,  acabou  por  permitir que a primeira acabasse por se integrar no mundo da rádio...    Ao  longo  da  sua  história  a  rádio  conseguiu  ir  tirando  partido  de  muitas  das  inovações  tecnológicas e algumas das que foram encaradas como ameaças, foram transformadas em  oportunidades  e  colocadas  ao  seu  serviço,  não  só  como  forma  de  aumentar  a  sua  funcionalidade  (transmissão  à  distância  e  gravação)   mas  também  para  alcançar  outros  públicos.  A  internet  (e  as  suas  ferramentas)  é  a  última  dessas  ameaças,  mas,  como  já  referia  Meditsch  em  2001  “​ o  rádio  não  desaparecerá,  mas  será  fortalecido  pelas  possibilidades  que  a  internet  e,  acredita­se,  a  digitalização,  oferecem”  ​ porém  parece­me  que  ultrapassa  as  3  características  propostas  por  Meditsch  “um  meio  de  comunicação  sonoro, invisível e que emite em tempo real​ ”.    A Rádio ”virtual”    “​ O processo de mutação do  rádio  acentuou­se  desde  a  década  de 1990, quando os sites  de  emissoras  convencionais  e   virtuais  começaram  a  se  multiplicar  na  internet.  Desde  então,  a  emissão  e  a  sintonia  de  emissoras  convencionais  e  virtuais  pode  ser  feita  em  computadores e outros dispositivos informáticos fixos e móveis​ “ Almeida​ , ​ 2010.      As  primeiras  presenças  da   rádio  na  web  fizeram­se  através  de  páginas  e  blogs  e   1​ remontam  a  meio  da  década  de  90​ ,   altura  em  que  se  iniciam  também  as  primeiras  2​ 3​ transmissões pela grande rede – (WXYC, EUA, 1994 ​ – Virgin Radio, Europa, 1996 ​ ).     Portugal  acompanhou  as  tendências  mundiais  e  em  1996  a  TSF  (Rádio  referência  no  jornalismo  radiofónico)  inicia  a  sua  presença  na  rede,  no  mesmo  ano  que  Rádio  Universitária  do  Minho  (RUM),  mas esta logo com emissão ​ on­line​ . Um ano depois, a RFM,  lider de audiências, estreia a sua página (​ on­line​  desde 2000).     A  rádio  torna­se  visual,  as  páginas  e  blogs,  passam,  não  só,  a  dar   uma imagem à rádio e  marcar  a  sua  presença  na  rede  (com  a  sua  capacidade  de  pesquisa,  promoção,  interacção...),  mas  também  a  mostrar  o  seu  “interior”,  a  dar  cara  às  vozes.  As  rádios  aumentam  a  sua  vocação  de  promoção musical, com críticas escritas aos novos trabalhos,  notícias  de  concertos  e  transcrição  de  entrevistas,  outras  começam  a  criar  arquivos  de  bandas ou da actualidade; querem ser uma referência na sua área: musical ou noticiosa.  Torna­se  possível  criar  um  registo  do  que  se  passa  nas  emissões,  consultar  grelhas  de  programação,  saber  o  que  se  irá  passar  dali a umas horas, dias, semanas, mas também o  que  se  passou.  Autores  de  Programas  iniciam  o  registo  das  suas  emissões  nos  blogues,  reportagens  de  eventos,  entrevistas...  A  rádio  começa  a  deixar  de  ser  efémera  e  a deixar 

o seu registo.    “​ O  rádio  é  um  veículo  com  emissão  e  recepção   instantânea,  sem  recursos  para  gravar  todos  os  conteúdos  e  permitir  que  o  ouvinte  “volte”  ou  repita  as  mensagens  de  seu   interesse,  no  horário  que  ele  quiser.  (...)  A  internet  oferece  ao  rádio  a  possibilidade  de  armazenamento  de  conteúdos  com  facilidade  de  localização  e  de  recuperação  instantânea  da  informação.  Ou  seja,  a  digitalização  agrega  ao  rádio  bancos  de  dados   online  no  ciberespaço.  O  jornalismo  tem  sua  primeira  forma  de  memória  múltipla,  instantânea  e  cumulativa​ .”  

Almeida, 2010 

    As  barreiras  geográficas  e  limitações  de  potências  de  emissores  deixam  de  ser  uma  limitação  para  o  auditório.  Apesar  das  velocidades   ainda  serem  baixas,  com  as  emissões  on­line,  torna­se  possível  ouvir  uma  rádio  do  outro  lado  do  Oceano  e  em  tempo  real  e  participar  em  directo.  Mas  a  vontade  de  ouvir  mais  e  aquilo  que  não  se  pode  ouvir  em  directo,  vai  aumentado  e  a  rádio  tem  de  seguir  essas  tendências  e  a  vontade  de  quem  a  ouve.    “​ Esta mudança não se estabelece simplesmente pelas tecnologias digitais de transmissão  de áudio e pela melhoria na qualidade de sinal, mas sim porque o comunicador agora se  encontra em um cenário de tecnologias inseridas no cotidiano​ .” ­ Lopez, 2010    O  consumidor  começa  a ter o desejo que consumir o que quiser, onde quiser e à hora que  quiser.  A  rádio,  para  além  de  ​ “um  meio  de  comunicação  sonoro,  invisível  e que emite em  tempo  real​ ”  como  refere  Meditsch,  passa  a  ser  multiplataforma  e   multimédia  onde  é  possível, não só ouvir o que se passa na emissão, mas visualiza­lo, a qualquer momento.  Com  este  segundo  choque  também  o  jornalista  ou  radialista  se  tem  de  tornar  num  profissional  multitarefas,  acrescentando  à  apresentação  do  seu  programa  (herdada  da  década  de  1920),  os  comandos  técnicos,  a  pesquisa  na  internet,  a  integração  com  a  redacção  (via  telefone  ou  mensagens)  e  a  comunicação  com  os  ouvintes  através  das  ferramentas virtuais. E tudo em tempo real.  O  repórter  que  sai  para  o  campo,  também  deixou  de  se  poder  concentrar  apenas  na  captação  de  informações  vitais  para  um  directo,  mas  grava,  mistura,  fala,  fotografa  e  actualiza a presença virtual em dispositivos moveis.  A  rádio,  mais  uma  vez,  usou  uma  potencial  ameaça  para  se reinventar e tirou partido das  ferramentas que se vão cruzando no caminho.      Para  Ferraretto  (2007)  a  internet  consegue  beneficiar  a  rádio  em  diferentes  aspectos,  tanto  porque  substitui qualquer sistema  de ondas hertzianas, como permite que a emissão  seja  acessível  em   formatos  móveis  ou  ainda,  porque  disponibiliza  o  conteúdo  radiofónico  em  qualquer  momento,  pelo  RSS.  Esta   funcionalidade  foi  a  que  permitiu  ao  “ouvinte”  passar  a  saber  que  programas ou notícias, por si subscritos, já foram actualizados e poder  escutá­los/lê­los  quando  mais  lhe  aprazer.  Deixa  de  ser  necessário  estarem  todos  os  ouvintes  ligados  à  mesma  hora,  na  mesma plataforma, podendo a escuta ser adaptada às  necessidades  de  consumo  e  disponibilidade  de  cada  um.  O  ouvinte  é  livre  de  escutar  à  hora  que  quiser  e  no  suporte  que  desejar  (fixo  ou  móvel).  Porém,  Meditsh  2001  afirma  que  “S​ e  não  for   feito  de  som  não  é  rádio,  se  tiver imagem junto não é mais rádio, se não  emitir  em  tempo  real  (o  tempo  da  vida  real  do  ouvinte   e  da  sociedade  em  que  está  inserido) é fonografia, também não é rádio​ .”   Mas  o  que  é  a  rádio,  hoje  em  dia?  É  bem  mais  do  que  uma  estação  que  emite  musica,  notícias  e  programas  por  via  hertzianas.  Não  tem  uma  página?  Não  emite  via  net?  Quem 

ouve rádio não visita a sua página? Não participa em, pelo menos, uma rede social?    Em  Portugal,  a  Associação  Portuguesa  de  Radiodifusão  colocou  em  marcha,  em  2005,  o  4​ projecto  ROLI​ .  O  objectivo  era  disponibilizar  às  rádios,  de  uma  forma  fácil  e  barata,  a  colocação  da  sua  emissão  ​ on­line​ ,  numa  plataforma  que  as  agregasse,  de  forma  a  fazer  uma  promoção  conjunta.  Este  projecto,  co­financiando  pela  União  Europeia  (FEDER),  disponibilizava  não  só  o  aconselhamento  técnico,  mas  todo  o  equipamento   necessário,  e  conseguiu,  em  pouco  tempo,  colocar  220  rádios  a transmitir via net, colocando, na altura,  Portugal como um dos países com um dos maiores rácios de “emissoras virtuais”.  Em  Maio  de  2007 foi inaugurado  o portal ​ www.radios.pt onde é possível aceder a todas as  rádios participantes neste projecto.    Porém a emissão ​ on­line​  não é a única ferramenta que a rádio colheu da nova era digital.   A  presença  das  rádios  faz­se  cada  vez  mais  com  componentes  de  texto,  fotografia,  infografia,  produções  multimédias,  numa   procura de complementaridade e uma ampliação  do seu conteúdo sonoro.    

“é  importante  destacar  que  o  uso  do  portal  na  internet  pode  ultrapassar  o  limite  da  informação  transmitida  via  rádio:  sem  deixar  de  lado  o  estilo  que  dita  a  programação  radiofônica,  o  conteúdo  da  internet  pode  ser  bem  mais  que  complementar,  configurando  um  outro  espaço,  com  fins  de  fidelização  do  ouvinte­internauta.  Em  outras  palavras,  o  site  da  emissora  pode  duplicar  uma  informação–  e  manter  disponível,  contrariando  a  ideia  de  efemeridade  –  ou  oferecer  outros  dados,  outros  conteúdos. “ ​  ​ Gambaro , 2010   

Como  em  qualquer  produto,  a  rádio  tem de satisfazer o público que serve e acompanhar  as  suas  tendências  de  consumo.  O  internauta  e  o  ouvinte  de  rádio  são  hoje  a  mesma  pessoa  e  com  necessidades  diferentes.  A  internet  é  som  e  imagem  e  a  rádio  também  caminha nesse sentido, pelo menos aparenta.  A  complementaridade  com  o  som  começou  com  o  texto  e  a  imagem,  depois  o  som  passou  a  “viajar”  na  grande  rede  e  tornou­se  acessível  em  qualquer  altura, finalmente foi  o vídeo que entrou no meio da rádio.     O video em Rádio ­ a televisão na rádio    É interessante ver que o chamado segundo choque (para a rádio) ­ internet ­ acabou por  possibilitar que a causa do primeiro choque ­  televisão ­“entrasse” no dia a dia da rádio,  com a transmissão quer de programas ao vivo, quer gravados.    A imagem em movimento na rádio não é, na realidade uma novidade, desde há alguns  anos que algumas rádios decidiram colocar webcams nos seus estúdios para que os  visitantes das suas páginas podessem espreitar o que se passa no seu “interior”.   Porém o que se passa hoje em dia é bem para além disso: há (ainda) imagens “estáticas”  o animador/jornalista em directo; há imagens com diversas câmaras;, há emissões de  rádio que passam em televisão e ainda produções propositadas para serem  disponibilizadas nas páginas das rádios como complemento às suas emissões ou acções.    6 São  muitas  as  rádios  que  colocam  webcam  nos  estúdios:  BBC1​   (Londres,  Inglaterra),  7 8 9 Rádio   Comercial​   (Lisboa,  Portugal),  Antena  3​   (Lisboa,   Portugal),  Super  Jovem​   (Paraná,  Brasil)...  Há  depois  algumas  que  disponibilizam algumas dessas emissões, não em directo (ou não 

só  em  directo),  mas  a  possibilidade  de  visualizar  o  que  têm  gravado  ­  algumas  emissões   10 especiais  ou  bandas  a  tocar  ao  vivo  nos  seus  estúdios  ­  RNE3​   (Espanha),  NRJ  11 ​  12 (França),  Le  Mov’​  (França)...  A  possibilidade  de  ver  alguns  dos  vídeos  das  bandas  ou  temas  que  promovem,  são  também  disponibilizados  por  algumas  rádios  como  forma  de  afirmação da sua mensagem e posicionamento na divulgação de certos tipos de músicas.    Algumas  rádios  começam  já  a  filmar  alguns  programas  ou actuações nas suas emissões,  mas  de  num  formato  televisivo,  onde  a  experiência  se  torna  muito  próxima  da   disponibilizada  pela  “caixa  mágica”,  mas  conservando  um  traço  do  que  é  a  rádio  e  que  podem ser vistos em directo ou através dos arquivos que vão criando.   13 A  KCRW​   (Santa  Mónica,  Califórnia)  é  um  destes  exemplos  onde,  por  exemplo,  o  programa  ​ Morning  Becames  Eclectic​ ,  transmite  as  actuações  das  bandas  em  directo  (na  rádio),  num  sistema  multicâmara,  como  se  de  uma  emissão  de  televisão  se  tratasse,  14​ podendo aceder­se a essas actuações através da secção de arquivos​ .   Esta  é  mais  uma  forma  da  rádio  se  perpetuar  ­  os  arquivos  ­  quer  de  texto,  audio  ou  vídeo.  É  possível  seguir  a  história  da  rádio,  dos  seus  programas  ou  até  da  actualidade  através  da  mera  consulta  desta  nova  forma  de  conservar  a  história  recente.  Sem sairmos  15 de  casa  e  sem  grandes  burocracias  podemos  ouvir  os  programas  da TSF​  desde 2006 ou  16​ que é produzido no diversos canais das rádios Públicas Portuguesas​ (Antena 1/2/3).    Há,  no  entanto  um  outro  exemplo  em  Portugal  que  apostou  em  algo  diferente,  a  RFM.  Em Abril de 2006 o director de programas da RFM afirmava ao jornal Público:     "«Acho  que  ninguém  sabe  para  onde  a  rádio  está  a  ir.   Aquilo  que  se  sabe  é  que,  de  acordo com o se viu nos últimos 30 a 40 anos, a rádio já não é só o FM. Pode haver outros  suportes»,  defende  António   Mendes,  director  de  programas  da  RFM.  Reconhece  que  a  relação da internet com a estação jovem adulta da Renascença  é de complementaridade e  que sobre o «podcast» «fala­se mais do que se adere»: «o ouvinte da RFM não tem muita  paciência para isso. Não sei como é que se será daqui a um ano ou dois»"   (Público15/4/06, «A rádio está a mudar. E vai ter de mudar»)    Quatro  anos  depois,  a RFM não lança um serviço de podcast, apesar de estarem a  dar  os  primeiros  passos  ­  “até  agora  pensávamos  que não compensava” (António Mendes) ­ mas  sim o RFM vi, que, parece­me, se assemelha mais a um canal de videocast.  17 O  canal  RFM  vi​   foi  inaugurado  em  Dezembro  de  2010  e  nele  são  disponibilizados  conteúdos  video,  com  aplicações  para  iPad,  iPhone/iPod,  Android  e  está  já  presente  num  dos  serviços  de  TV  por  cabo.  Neste  canal,  que  é  uma  página  diferente da oficial da rádio,  são  colocados  algumas  das  produções  da  RFM,  entrevistas,  mas  também  algumas  reportagens  de  concertos  e  de  actividades  extra­rádio  (jantares  com  músicos,  sessões  de  motivação  da  equipa),  bem  como  alguns  videos  que  servem  de  complemento  a  ações  de  publicidade durante as emissões.   Este  fenómeno  é  interessante  e  mostra  uma  evolução  no   pensamento  desta  rádio  e  um  acompanhar da alteração dos comportamentos do seu ouvinte, como internauta.   Em  relação  a  este  caso  há  um  comentário  interessante  do  autor  do  blog  18​ Segundochoque​ ,  em relação à afirmação da não existência de podcast por parte da RFM.  Questiona­se  João  Paulo  Menezes  se  a  RFM  teria  programas/rubricas  que   se  adaptassem  ao  Podcast,  uma  vez  que  é  uma  rádio  de  cariz  musical.  E  esta  é,  parece­me  uma  das  questões pertinentes. Que conteúdos podem/devem ser disponibilizados para Podcast?  A  RFM,  aparentemente  parece  ter  resolvido  a  sua  questão,  pois   optou  por  um  formato,  que, de alguma maneira é inédito em Portugal, mas a questão mantém­se.    

Na  sua  génese,  o  podcast  surge  como  uma  alternativa  ao  que   era  produzido  e  19​ disponibilizado  pelas  rádios  e  até  televisão.  Adam  Curry​ ,  considerado   um  dos  impulsionadores  do  podcast,  começou  a  usá­lo  para  mostrar  algo  que  de  outra  maneira  20   ​ não  seria  possível.​ Uma  forma  de  procurar  uma  alternativa  ao  que  era  oferecido  pelas   emissões  convencionais.  Uma  boa  parte  dos  podcast  que  podemos  encontrar  são  de  programas  com  algo  para  dizer,  não  propriamente  música  (até  porque  ainda  persistem  alguns  problemas  com  os  direitos  de  autor).  Se  é  apenas  música,  não  se pode considerar  um  podcast,  se  não  for  interessante,  quem  o  vai  ouvir?  As  rádios  agarraram  nesta  nova  ferramenta,  que,  através  do  RSS  indica  ao  subscritor  quando  há  “episódios”  novos  e  usaram­na  para  perpetuar  o  que  nas  suas  emissões  há  de  mais  radiofónico  e  onde  o  ouvinte  “investe”  tempo  a  ouvir.  As  rádios  com  maior  produção  de  conteúdos  serão,  até  por  dedução  das  palavras  de  João  Paulo  Meneses,  as  mais  indicadas  para  colocação  das  suas produções em podcast.   Rádios  culturais,  comunitárias  e  académicas,  em  oposição  às  de  músicas  (e  pouca  palavra),  são  as  que  mais  poderão  contribuir  e,  em  verdade  é  o  que  acontece.  Ao  disponibilizarem  na  sua  grelha  (em  FM)  muitos  programas  de  autor,  de  debate,  temáticos...  acabaram  por  ver  na net uma extensão natural e uma forma de conquistarem  novos  públicos.  As  rádios  de  música  também  o  fazem,  não  apenas  nas  rubricas,  mas  em  programas,  porémsão   no  entanto  os  chamado  programas  de  autores  que  mais  disponibilizam na rede (e alguns sem a possibilidade de os descarregar, apenas ouvir).  21​ Ao  consultar   as  páginas  de   algumas  das  rádios  universitárias  (PT  ­  RUCoimbra​ ,  22​ 23​ 24​ 25​ RUMinho​ ,  RUAlgarve​ ;  ES  ­  Uniradio​ ,  RULeon​ …)  vemos  que  o  podcast  dos  seus  programas  é  uma  constante.  Até  partilham  os   programas  mais  musicais,  mas  há  que  ter  em  conta  que  muitos  são  temáticos  ou  por  género  musical.  O  mesmo  acontece  com  as  26​ 27​ 28​ rádios  culturais  (FR  ­  Radioculture​ ;  DE  ­  DKultur​ ;   SW  ­  RSI  Rete  Due​ ;  NO  ­  NRK  29​ Ostfold​).   O  Podcast  faz  já  parte  da  realidade  de  muitas  rádios  e  assim,  para  além  de  criarem  um  arquivo, facilmente acessível, do seu espólio, também o fazem chegar a mais pessoas, não  só  pela  possibilidade  de  escuta  em  diferentes  plataformas  e  em  diferentes  horários,  mas  porque a partilha é mais ampla com outra das ferramentas da Web 2.0, as redes sociais.    Web 2.0    Este  é  mais  um  dos  meios  para  perpetuar  a  rádio.  A  facilidade  com   que  hoje se partilha  uma  notícia,  um  programa  em  audio  ou  uma  rubrica em  vídeo, contribui, não só para que  seja  mais  fácil  encontrar,  no  futuro,  essa  referência,  mas  para  que  a  própria  rádio  e  os  seus  produtos  sejam  mais  conhecidos.  O  investimento  em  publicitar  um  novo   talento  humorístico  num  programa  da  manhã,  pode  muito  bem  passar  pela  partilha  desses  momentos,  em  vez  de  se  investir  na  típica  publicidade  de  anunciar  o  acontecimento,  por  muito  que  seja  repetida.  O  impacto  de  poder  assistir  quando  se  quiser  a  algo  que   foi  partilhado/sugerido  por  amigos,  é  elevar  o  potencial  reconhecido  do  boca­a­boca  a  valor  dificilmente imagináveis.    30​ Segundo  a  página  FbRank  PT​ ,  as  rádios  conquistaram  um  lugar  cimeiro  nas  31​ preferências  dos  mais  4  200  000  utilizadores  do  Facebook  em  Portugal​ .  Torna­se  especialmente  perceptível  se  for  feita  a  filtragem,  primeiro  às paginas de marcas e depois  às  pertencentes  à  Comunicação  Social.  Três  rádios  no  top  5  das  páginas  de  comunicação  do  FB  com  mais  fãs,  demonstra  que a rádio conseguiu tirar partido destas  funcionalidades  e,  em  vez  de  ser  prejudicada  pelas  novas  ferramentas,  conseguiu  absorve­la  e  fazer  uso  das suas potencialidade para se auto­promover   

Presença da Rádios no FB ​ ­ Janeiro 2012    Global   Marcas     Com. Social  Rádio Comercial  14º           7ª             3ª                ± 445 000   fãs  Rádio Cidade  18ª          11º            4ª                ± 417 000   fãs  RFM  19ª          12º            5ª                ± 411 000   fãs  Caderneta de Cromos (programa)  34º       21º            7ª               ± 270 000   fãs  Antena 3    ­       33º           13ª              ± 191 000   fãs  Mega Fm     ­       37º           14ª              ± 160 000   fãs 

  Mas as redes sociais não são apenas o FB.  Twitter, Hi5, Youtube, Myspace, LastFM, são  redes onde muitas das rádios portuguesas marcam a sua presença e a lista continuará a  aumentar à medida que outras redes e outras funcionalidades vão aparecendo. Segundo  Gambaro (2010)  o uso das novas TICs ligadas à rádio é ainda limitado pela falta de  acesso a recursos digitais por um público mais amplo mas também pela falta de iniciativa  das emissoras. Já Almeida (2010) diz mesmo que     “As equipes que produzem os conteúdos dos sites das emissoras ainda são pequenas e  com pouca informação ou estudos sobre o trabalho que realizam. Ainda há pouco  conhecimento entre os profissionais e dirigentes das rádios, dos potenciais que a internet  pode adicionar ao conteúdo que produzem. Ou seja, ainda falta percepção para que as  características da web sejam entendidas e utilizadas rotineiramente pelos profissionais do  rádio.”    À medida que os responsáveis se forem apercebendo da sua potencialidade é natural que  a presença das TIC no dia a dia de um animador, jornalista, repórter seja cada vez maior.  Até porque também o é para o ouvinte/internauta e já há exemplos de rádios desenhadas  a pensar nesse ouvinte.   32​ A Vodafone FM​ , com o lema “mexe na música”, permite e incita o utilizador a gostar/não  gostar das músicas das listas, contribuindo assim para que a música que a rádio (FM e  34​ Net) passa seja feita à sua medida (e com reduzido custos para a empresa) A BBC​  já  permite quase que uma rádio on­demand onde é possível escolher o que se quer ouvir  apartir de tudo o que é produzido no seu grupo.    A expansão da banda larga e os novos habitos de consumo on­line, deixam antever um  crescimento exponencial das TIC nas mais simples situações quotidianas. Segundo o  33​ relatório do Obercom​ , em 2009,  Portugal contava já com 42% de utilizadores com  banda larga, mas 97% dos jovens tinham acesso através da escola, a cobertura pela rede  móvel era de 80% (em 2012 será disponibilizado espaço radio­electrico para a sua  expansão), 50% ouvia rádio on­line (mesmo que esporadicamente) e 30% descarregava  podcasts. Vemos que os hábitos se alteram e que o espaço para um crescimento das  rádios na Rede, é tão vasto quanto a sua imaginação e capacidade as conseguir levar.    Não há razões para se pensar que, em muitos países, estes dados sejam muito diferentes,  o que deixa ainda mais um alento, é que por todo o lado as iniciativas vão aparecendo, as  TIC vão tendo utilizações inovadoras e até nisso a internet vem beneficiar a rádio (e não  só, claro!). É que estes exemplos estão apenas á distancia de um ​ “click”.      “se a internet não ajuda a ampliar o público, ao menos promove sua manutenção”  Gambaro (2010)   

   

         

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Lopez, Debora Cristina  ­ ​ Aproximações aos níveis convergência tecnológica em comunicação:  um estudo sobre o rádio hipermidiático ​  ​ In: E o rádio? : novos horizontes midiáticos /org. Luiz  Artur Ferraretto, Luciano Klöckner.).Porto Alegre : Edipucrs, 2010.     Meditsch, Eduardo.O ensino do radiojornalismo em tempos de internet. In: Moreira, Sonia  Virginia.; Del Bianco, Nelia. (Org.). Desafios do Rádio no Século XXI. 1 ed. Rio de Janeiro/São  Paulo: UERJ/Intercom, 2001.    MARTÍNEZ­COSTA, Maria Del Pilar. Un nuevo paradigma para la radio. Sobre convergencias y  divergencias digitales. In: MARTINEZ­COSTA, María Del Pilar (coord). ​ Reinventar La Radio​ .  Pamplona: Eunate, 2001.       1 – An Introdution to Internet Radio ­ EBU TECHNICAL REVIEW – October 2005 ­ Franc  Kozamernik and Michael Mullane (04­01­12)  2 ­ http://www.wxyc.org/about/history (04­01­12)  3 ­ http://onegoldensquare.com/2008/09/a­brief­history­of­virgin­radio­by­adam­bowie/  (04­01­12)  4 ­ http://www.radios.pt/portalradio/projectoroli/ (04­01­12)  5 ­ http://www.superfm.com (04­01­12)  6 ­ http://www.bbc.co.uk/bbcone (04­01­12)  7 ­ http://radiocomercial.clix.pt/ (04­01­12)  8 ­ http://www.rtp.pt/antena3/ (04­01­12)  9 ­ http://www.superjovem.seleski.com.br/ (04­01­12)  10 ­ http://www.rtve.es/radio/radio3/ (04­01­12)  11 ­ http://www.nrj.fr/ (04­01­12) 

12 ­ http://www.lemouv.fr/ (04­01­12)  13 ­ http://www.kcrw.com (04­01­12)  14 ­ http://www.kcrw.com/music/programs/mb/mb090417buraka_som_sistema (04­01­12)  15 ­ http://www.tsf.pt/podcast/ (04­01­12)  16 ­ http://www.rtp.pt/multimediahtml/podcasts/ (04­01­12)  17 ­ http://rfmvi.sapo.pt/ (04­01­12)  18 ­  http://osegundochoque.blogia.com/2006/042002­o­ouvinte­da­rfm­n­o­tem­paciencia­para­o­  podcasting­.php ­ consultado a 04­Fev­12  19 ­ http://en.wikipedia.org/wiki/Adam_Curry ­ (04­01­12)  20 ­ http://pressroom.mevio.com/2006/05/23/podfather­plots­a­radio­hit­of­his­own­la­  times ­ (04­01­12)  21 ­ http://www.ruc.pt ­ (05­01­12)  22 ­ http://www.rum.pt ­ (05­01­12)  23 ­ http://www.rua.pt ­ (05­01­12)  24 ­ www.uhu.es/uniradio/ ­ (05­01­12)  25 ­ http://www.ivoox.com/escuchar­radio­universitaria­leon_nq_9212_1.html ­ (05­01­12)  26 ­ http://www.franceculture.fr/ (05­01­12)  27 ­ http://www.dradio.de/dkultur/ ­ (05­01­12)  28 ­ http://retedue.rsi.ch/home/networks/retedue.html ­ (05­01­12)  29 ­ http://www.nrk.no/ostfold/ ­ (05­01­12)  30 ­ http://fbrankpt.com/ ­ (06­01­12)  31 ­ http://www.socialbakers.com/facebook­statistics/ (06­01­12)  32 ­ http://vodafone.fm/(06­01­12)  33 ­ A Internet em Portugal 2009, Obercom ­ http://www.obercom.pt  34 ­ http://www.bbc.co.uk/iplayer/radio       

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