Rumo aos Infernos: Comparações entre as catábases de personagens da Antiguidade e dos heróis do mangá \"Os Cavaleiros do Zodíaco\"

May 29, 2017 | Autor: R. Santana dos Sa... | Categoria: Classical Culture, Mitologia, Literatura Japonesa, Katábasis, Saint Seiya, Narrativa Setsuwa
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XXVIII Congresso de Iniciação Científica da UNESP Rumo aos Infernos: Comparações entre as catábases de personagens da Antiguidade e dos heróis do mangá Os Cavaleiros do Zodíaco Aluno-autor: Rodrigo Marcelo Santana dos Santos. Orientador: Prof. Dr. Carlos Eduardo Mendes de Moraes. Colaboradora: Prof.ª M.ª Teresa Augusta Marques Porto. Faculdade de Ciências e Letras de Assis – Letras/Japonês. E-mail: [email protected]

Introdução

Resultados e Discussão

O mangá Os Cavaleiros do Zodíaco, em japonês Saint Seiya, é um dos ícones da cultura pop japonesa mais conhecidos em todo o mundo, que completa, em 2016, o aniversário de 30 anos. Sua trama conta sobre jovens guerreiros que lutam em nome da deusa Atena, que volta ao plano terreno sempre que deuses poderosos ameaçam acabar com a humanidade. Para a construção de sua narrativa, Masami Kurumada busca referências e motivos em várias mitologias para a criação da maior parte de suas personagens, batalhas e aventuras (MAGI, 2010). São nas páginas do mangá dedicadas à Saga de Hades, fase da narrativa que conta a última e decisiva batalha entre os deuses Atena e Hades, que encontramos um motivo em comum com os mitos e epopeias: a catábase. Literalmente “descida”, catábase é um topos (“motivo”) da Antiguidade que retrata a jornada de deuses, heróis e mortais no Mundo dos Mortos na finalidade de averiguarem o que não lhes é claro em seus respectivos mundos, uma missão de importância ou ir ao encontro de um ente já falecido (FERNANDES, 1993). Na Antiguidade clássica, os heróis Odisseu, Eneias, Héracles e Orfeu visitam o mundo inferior (SOUSA, 1975) e suas ações no reino do maravilhoso são tematizadas pelo motivo da viagem aos infernos. O mangá Saint Seiya recupera essa tradição multissecular, mostrando-nos que o percurso no outro mundo continua sugerindo outros sentidos além do que compreendemos, sempre representados pela ação de personagens, que por vários motivos, atendem ao chamado da jornada heroica (CAMPBELL, 1990) e vão ao reino dos mortos, onde encontrarão sombras ilustres, perigos, mistérios e primordialmente a iluminação.

Ao contrário dos heróis clássicos, que são dependentes do destino e da vontade dos deuses, sujeitos portanto à permissões para o trânsito livre entre os planos celeste, terreno e subterrâneo, os Cavaleiros de Atena quebram as regras do Mundo dos Mortos (Meikai) e o invadem para confrontar Hades e seu exército de Espectros. Além dessa diferença entre a ação dos heróis antigos e de Seiya e seus amigos, encontramos ainda um combate nunca ocorrido na mitologia: o confronto entre os dois deuses, Atena e Hades, apresentando-nos um possível sentido alegórico, que será examinado mais adiante. Acima de tudo, os Cavaleiros conseguem uma vitória gloriosa, através da entrada subversiva no território do inimigo, proibido aos vivos, conferida pelo objeto pessoal de poder (armadura) e pelo despertar da consciência que jamais é perdida (arayashiki), sem esquecerem-se de seu propósito ao realizarem a passagem do mundo dos vivos para o além-mundo.

Objetivos 1) Confrontar catábases narradas na Antiguidade clássica com a apropriação do conceito pelo mangá Saint Seiya. 2) Discutir as diferenças de concepção que redundarão na diferença de ação dos personagens no Mundo dos Mortos. 3) Apontar os elementos selecionados pelo autor para construir seu universo: os mitos, os símbolos, as forças que motivam os personagens, referências literárias etc.

Material e Método O estudo tem como corpus os volumes 19 ao 28 do mangá Os Cavaleiros do Zodíaco, que compreendem a Saga de Hades, os cantos XI da Odisseia e VI da Eneida e comentários de Bulfinch (2006) e Grimal (1993) sobre os mitos de Orfeu e Héracles. Quanto ao motivo da viagem aos infernos (catábase), apoiamo-nos em Sousa (1975 e 2013) e Fernandes (1993). Paralelamente, investigamos o motivo da visita ao Mundo dos Mortos na literatura clássica japonesa, denominado em japonês meikaikudari e jigoku-meguri, com a colaboração da Prof.ª M.ª Teresa Augusta Marques Porto, docente da área de Japonês da UNESP de Assis, que nos auxilia no estudo de algumas narrativas setsuwa budistas e também na compreensão do conceito de arayashiki, promovendo um estudo interdisciplinar, somando à pesquisa o nosso interesse por ampliar a visão sobre o outro mundo na cultura japonesa.

Conclusões O motivo do “descenso” não é desconhecido pelos japoneses antigos, pois está difundido na tradição oral da Antiguidade japonesa o mito xintoísta da visita do deus Izanagi ao reino de Yomi e narrativas de essência budista (setsuwa) de personagens que foram aos domínios do Rei Yama e retornaram à vida ou renasceram no paraíso do Buda Amida. Propomos a hipótese, numa primeira abordagem, de que a viagem aos infernos dos Cavaleiros de Atena tem maior semelhança com as narrativas e mitos greco-romanos, apresentando como uma das poucas referências ao universo budista o conceito de arayashiki, que substitui a nékyia grega, isto é, o rito de invocação dos mortos e das entidades infernais. Para o budismo, a entrada no outro mundo só é possível após a morte, diferente da catábase greco-romana, que pode ocorrer por uma prerrogativa dos favorecidos pelos deuses.

Bibliografia • BULFINCH, T. O livro de ouro da mitologia: história de deuses e heróis. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006. • CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 1990. • FERNANDES, R. M. R. Catábase ou Descida aos Infernos: alguns exemplos literários. Hvmanitas, Coimbra, vol. 45, 1993, pp.347-59. • GRIMAL, P. Dicionário da Mitologia Grega e Romana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993. • HOMERO. Odisseia. São Paulo: Editora 34, 2011. • KEOWN, D. Oxford Dictionary of Buddhism. Cambridge: Oxford University Press, 2003. • KURUMADA, M. Os Cavaleiros do Zodíaco. Vols. 19-28. São Paulo: JBC, 2013. • MAGI, A. O mito em Os Cavaleiros do Zodíaco. Revista do Seminário de Literatura, História e Memória, vol. 6, n.7, Cascavel. Universidade Estadual do Oeste do Paraná, 2010, pp.179-88. • MIETTO, L. F. M. R. O Kojiki e o universo mitológico japonês da Antiguidade. Estudos Japoneses, n. 15, São Paulo. Universidade de São Paulo, 1995, pp. 67-93. • NAKAMURA, K. M. Miraculous Stories from the Japanese Budhist Tradition – The Nihon ryôiki of the Monk Kyôkai. Abington: Routledge, 2007. • PORTO, T. A. M. Máscaras de Kannon – Percurso Simbólico em Três Narrativas da Obra Konjaku Monogatarishû. 2008. 165 f. Dissertação (Mestrado em Língua, Literatura e Cultura Japonesa) – Departamento de Letras Orientais, Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. • SOUSA, E. Catábases: estudos sobre viagens aos infernos na Antiguidade. São Paulo: Annablume Clássica, 2013. • ______. Horizonte e complementariedade: ensaios sobre a relação entre o mito e metafísica nos primeiros filósofos gregos. São Paulo: Duas Cidades; Brasília: Editora da UnB, 1975. • VIRGÍLIO. Eneida. São Paulo: Editora 34, 2014.

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