Saímos da sala, mas não terminou a aula. Aprendendo língua e cultura com ferramentas online

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Saímos da sala, mas não terminou a aula. Aprendendo língua e cultura com ferramentas online. Aitor Rivas - Mariana Ruas

SAÍMOS DA SALA, MAS NÃO TERMINOU A AULA. APRENDENDO LÍNGUA E CULTURA COM FERRAMENTAS ONLINE Aitor Rivas1 [email protected]

Mariana Ruas2 [email protected]

Resumo: Neste artigo inserido dentro do tópico interação e ensino-aprendizagem de língua estrangeira destacaremos a importância de continuarmos trabalhando com a língua e a cultura também fora da sala de aula. Devido ao fato de estarmos longe dos contextos de língua espanhola, temos de criar outros contextos comunicativos autênticos assim como aproveitarmos os recursos existentes na rede para melhorarmos o processo de ensino-aprendizagem do alunado. Neste trabalho, ofereceremos cinco possibilidades no nosso caso focadas na aprendizagem de ELE (Espanhol como Língua Estrangeira), graças às redes sociais e à Web 2.0. As cinco ferramentas utilizadas para os nossos exemplos serão: blogs, Facebook, Skype, Twitter e Instagram. Após as experiências, verificamos como resultados positivos a maior interação entre os alunos, principalmente a partir de materiais e comentários realizados de forma autônoma por eles mesmos; a criatividade na elaboração de conteúdos para a internet além do aproveitamento de conteúdos vistos na sala de aula sendo colocados em prática fora do ambiente acadêmico. Palavras-chave: Redes sociais. Aprendizagem colaborativa. Web 2.0. Aplicações práticas. Batepapo.

1 Introdução

A motivação deste artigo surge da constatação de que as novas ferramentas para o ensinoaprendizagem de línguas estrangeiras já perderam o status de “novas”, pelo menos quando as consideramos desde a ótica dos estudantes. Nossa vida social – de estudo, trabalho, relação – está permeada pelas mais diversas redes sociais, entretanto, o ensino de línguas ainda se mostra, em muitos casos, um mundo à parte e no qual a internet não tem espaço, seja por falta de conhecimento e domínio do professor, seja pelo medo desse mesmo docente de perder seu lugar privilegiado como a pessoa que detém o saber e controla os processos de aprendizagem dos alunos.

Atualmente, as próprias instituições de ensino estimulam o trabalho com ferramentas online, desenvolvendo e disponibilizando plataformas e ambientes virtuais de aprendizagem. Por exemplo, no caso da Universidade Federal de Viçosa contamos com o suporte do PVANet que permite, além de 1

Mestre em Contato linguístico e sociolinguística galega e doutorando em filologia galega na Universidade de Vigo (Galiza). Professor-leitor de espanhol no Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa com o programa MAEC/AECID. 2 Mestre em Estudos Linguísticos Neolatinos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora assistente de espanhol no Departamento de Letras da Universidade Federal de Viçosa e Coordenadora do Centro de Extensão em Língua Espanhola.

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um espaço para que o professor disponibilize materiais e textos para as aulas, a participação dos alunos via fórum e chat. Considerando que a maior parte de nossos alunos – estudantes de graduação em Letras, com uma média de idade entre 18 e 25 anos – possui grande domínio e faz uso frequente de ferramentas como Facebook, Twitter, Instagram, Skype e blogs, aproveitar as possibilidades que a tecnologia nos oferece para tornar o ensino de línguas mais atrativo e próximo à realidade dos estudantes pode trazer resultados positivos. Cria-se um ambiente comum de compartilhamento entre os alunos, estimulandose o maior envolvimento do grupo e a aprendizagem colaborativa. As práticas sociais e comunicativas são dinamizadas, uma vez que todos os alunos podem participar e agregar informações e materiais que sejam de interesse próprio, tornando-os membros ativos no seu processo de aprendizagem: Activar e imobilizar a inteligência da comunidade significa chamar os seus diversos actores a definir, conjuntamente, expectativas, finalidades, objetivos, metas que se pretendem alcançar, assim como identificar actividades concretizáveis atendendo aos recursos disponíveis que se possam afectar. (MARQUES PIMENTEL LEAL e PEREIRA MARQUES, 2011, p. 191)

Convém destacar que nossas experiências no uso dessas ferramentas enquadram-se dentro do trabalho complementar ao que se realiza presencialmente em sala de aula, o que permite ampliar os assuntos e temas propostos pelo professor, principalmente aspectos culturais do espanhol e das suas variedades. Dessa forma, passaríamos a atuar mais como mediadores do conhecimento que adquirem os alunos do que como fonte exclusiva, colaborando na formação de estudantes mais autônomos. Sobre o papel do professor, acreditamos que a reflexão de Fornara (2010) resume de forma muito clara quais devem ser as suas funções principais: El profesor, que participa de la actividad con la misma frecuencia que los estudiantes, juega un doble papel de facilitador de la información y dinamizador. Como facilitador de la información, envía periódicamente enlaces a recursos de interés en la web (vídeos, canciones, películas, páginas web, artículos, eventos, informaciones, etc.), cuelga información sobre el curso (novedades en las otras plataformas (...), fechas de exámenes, cambios en el horario o la fecha de una sesión, etc.) o información sobre las actividades culturales, deportivas y sociales más destacadas de la ciudad (exposiciones, muestras, partidos, fiestas, etc.). Como dinamizador, fomenta la discusión a través de preguntas generales, responde a entradas originales, a preguntas directas y participa de las interacciones de carácter general. (FORNARA, 2010, p. 4)

Acreditamos na importância de contar com um espaço virtual na internet, seja em uma página pessoal do professor, no Facebook ou na plataforma de aprendizagem virtual disponibilizada pela instituição. Assim, o aluno tem à sua disposição um ponto de encontro permanente com a língua (MORAN, 2000, p. 59), a cultura, os professores e os companheiros de grupo, para a prática das diferentes destrezas e conteúdos trabalhados na sala de aula e para o desenvolvimento dos conhecimentos linguísticos e culturais em espanhol. Esse espaço continua sendo útil e importante para complementar o trabalho da sala de aula, embora as atividades que sejam desenvolvidas nesse âmbito não repercutam, necessariamente, na avaliação da disciplina. Contar com o ambiente virtual é também positivo no sentido que flexibiliza a

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relação tempo-espaço que cada aluno estabelece com o estudo da língua, podendo escolher o ritmo da aprendizagem e do seu contato com o idioma.

2 Análise de ferramentas e atividades

Nesta seção, ofereceremos algumas ideias de atividades que já foram desenvolvidas – por nós e também por outros professores – em ferramentas online com grupos de alunos de espanhol. Interessam-nos, particularmente, os trabalhos que podem ser feitos em cinco ambientes: Facebook, Twitter, Blogs, Instagram e Skype. Qual é o motivo da escolha destas 5 ferramentas? Em primeiro lugar pensando na acessibilidade do aluno e do professor: Facebook, Twitter e Instagram são as redes sociais mais conhecidas para o aluno; os blogs têm a vantagem de acolher textos, imagens, vídeos e links a outros sites; quanto ao Skype, achamos que seja muito útil por permitir chat e conferência de áudio ou vídeo. Na nossa proposta, oferecemos apenas algumas possibilidades e tentamos focalizar trabalhos diferentes para cada uma delas: Facebook (grupos, indicação de material, conversas temáticas), Twitter (seguir famosos e interagir, adivinhações com pistas, criação de relato breve colaborativo), Blogs (produção de textos e gêneros comuns na internet, hipertexto), Instagram (trabalho com imagens e legendas, comparação entre culturas), Skype (entrevistas e debates).

2.1 Facebook O Facebook é uma rede social de amplo alcance em vários países do mundo, contando com 1,35 bilhões de usuários, segundo dados de 20143. Atualmente, deixou de ser uma ferramenta apenas de entretenimento e já é usada como canal de comunicação entre várias empresas e seus clientes, aproximando as pessoas e fazendo com que o contato seja mais imediato. Como ferramenta educativa, vemos seu uso como um espaço virtual não só para encontro do professor com os alunos (e dos alunos entre si), mas também como uma página aberta para que os membros possam compartilhar materiais, músicas e descobertas sobre a língua e seus aspectos culturais. Com nossos alunos da graduação em Letras, sempre criamos um grupo fechado no Facebook que serve para postar recados de especial interesse dos alunos e indicar sites que possam ser úteis para o estudo dos conteúdos que estão sendo focalizados em sala de aula. Entretanto, observamos que esse espaço pode ser muito mais explorado, principalmente com o intuito de estimular nos alunos a autonomia e o comprometimento na construção do seu conhecimento. Assim, uma atividade que apresenta resultados muito positivos é a entrevista via Facebook com um membro (nativo ou não) de fora do grupo. O professor fica encarregado de 3

Fonte: http://blogs.estadao.com.br/link/facebook-chega-a-135-bilhao-de-usuarios-no-mundo/

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convidar um famoso ou um falante de espanhol que se relacione de alguma forma aos interesses do grupo (cantor, escritor, professor, etc.) e os alunos devem realizar uma entrevista à essa pessoa, utilizando uma postagem comum dentro do grupo. As vantagens desse tipo de atividade é que pode ser realizada em praticamente qualquer nível, desde os iniciais aos mais avançados; além disso, os alunos sentem-se muito estimulados ao conseguir interagir com um falante nativo ou proficiente. Outra atividade que apresenta bons resultados e envolve os gostos pessoais dos alunos são as “semanas temáticas”, onde cada estudante fica responsável por alimentar a página do grupo com vídeos, textos, fotos e informações sobre um tema relacionado ao mundo hispânico que seja do seu interesse. Dessa forma, podemos tanto ter uma “Semana de Shakira” como a “Semana de la comida mexicana”, exigindo dos alunos uma pesquisa sobre o assunto que vai querer abordar, seleção dos materiais e gestão das informações e das postagens, uma vez que também precisa estimular seus companheiros a comentar e a interagir com o material que é fornecido.

2.2 Twitter O Twitter é a terceira rede social mais acessada do Brasil, ficando atrás apenas do Facebook e do Youtube. É um aplicativo que permite aos usuários enviar e receber atualizações pessoais de ou­ tros contatos (em textos de até 140 caracteres, conhecidos como "tweets"). O Twitter faz com que a comunicação que se produz seja muito próxima de uma conversação real, mas nas nossas interações e atividades não devemos esquecer que é um gênero diferente, com características próprias, e por causa disso não seria adequado pedir para os nossos alunos escreverem mensagens com outra tipologia tex­ tual. Apresentamos aqui uma experiência do trabalho com o Twitter de um professor de espanhol e logo depois outra própria. Héctor Ríos (@rioshector) pediu a seus estudantes que comentassem um evento ao vivo com o Twitter (jogo de futebol, concerto, show, conferência, protesto...), com um mar­ cador determinado, avisando antes da data e hora para que os outros colegas pudessem acompanhá­lo e mesmo acrescentar comentários, ao tempo que se favorece o conhecimento de outros artistas, gru­ pos e lugares e o intercâmbio cultural. Nós fizemos a seguinte atividade que funcionou muito bem com uma turma universitária. Trata­se de entrevistar famosos. Cada aluno fica encarregado de seguir alguma pessoa famosa duran­ te 15 dias. Durante esse tempo, pode investigar no Twitter sobre essa pessoa, fazendo perguntas a ou­ tros seguidores (e mesmo interagindo com a própria pessoa se surgir a oportunidade). Depois, cada dia um estudante vai apresentar a pessoa que escolheu para toda a turma. Finalmente os colegas de sala podem perguntar como é essa pessoa, o que fez nas últimas semanas, quais são os seus interes­ ses, compartilhando assim o conhecimento. Sobre a avaliação, achamos que um bom método para avaliar as atividades no Twitter é o que

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oferece a professora Pilar Munday (2010), quem entregou a seus alunos um formulário onde eles pró­ prios avaliavam a sua utilização: quantos  tweets  enviaram; com que pessoas conversaram, a quem retweetaram e por que; perguntas de autoavaliação que servirão para que os alunos reflitam sobre o seu processo de aprendizagem: você aprendeu alguma coisa nova? você praticou novo vocabulário? você apreendeu alguma estrutura gramatical? Finalmente, Felipe Arellano (2013) indica quais são as vantagens de utilizarmos Twitter como parte do processo ensino­aprendizagem de ELE fora da sala de aula: (...) Twitter puede ayudar al profesor de ELE a llevar la enseñanza y la práctica de la lengua por parte de sus estudiantes más allá de los límites espacio temporales que establecen los cursos   presenciales.   (...)   los   estudiantes   deben   realizarlas   desde   cualquier   dispositivo electrónico desde el que se puedan conectar a internet y utilizar Twitter, lo que fomenta de forma significativa la autonomía y la libertad de los estudiantes. Además en el desarrollo de las actividades damos opción a que sea el estudiante el que escoja los contenidos que desea trabajar   o   que   más   le   interesan   dentro   del   marco   del   tipo   de   actividad   que   se   realiza. (ARELLANO ARELLANO, 2013, p. 52)

2.3 Blogs Os blogs oferecem múltiplas ferramentas e possibilidades de exploração como textos, fotos, hiperlinks, vídeos e áudios e apresentam a vantagem de manter um registro do trabalho que se fez por mais tempo, conservando um material que pode ser utilizado posteriormente pelos próprios membros. Entretanto, muitas vezes o blog é usado apenas como uma plataforma para postagens de textos feitos pelos alunos e, o que parece-nos mais grave, como um novo suporte para as mesmas práticas. Pedir que o aluno escreva uma “redação” e, em lugar de entregar em papel, poste no blog é fazer um uso pouco inovador da tecnologia. Dessa forma, propomos o trabalho com o gênero blog e com textos que fazem parte desse universo: resenhas (de filmes, livros, séries), receitas, artigos de opinião, tutoriais, além dos comentários que se deixam ao escritor de cada postagem pelos leitores. Além disso, nos blogs há interposição de textos escritos e audiovisuais, permitindo que se criem hipertextos que levem o leitor a outros blogs ou páginas de internet. Geralmente, em nossas turmas da graduação, criamos um blog que acompanha a evolução de temas e conteúdos do semestre, no qual cada estudante deve postar seus textos conforme é demandado pelo professor. O que nos parece mais positivo do trabalho com o blog é o sistema de avaliação e correção colaborativo que utilizamos. Após a publicação de um texto, todos os alunos devem fazer sua leitura e, nos comentários, indicar melhorias para a reescrita. Assim, o próprio grupo precisa investigar os erros ou inadequações que se apresentam e, a partir do diálogo com seus pares, definir uma versão final para a produção escrita. Há também a possibilidade de usar o blog como um espaço complementar e de prática da argumentação. O professor ou algum aluno (alternadamente) pode, por exemplo, ser o responsável de

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postar vídeos/áudios sobre temas polêmicos e atuais, favorecendo e estimulando a discussão de ideias e a argumentação positiva ou contrária ao que se expõe. Esse tipo de atividade é positiva em dois aspectos: aumenta o contato do aluno com produções orais em língua espanhola – normalmente uma habilidade que apresenta certa dificuldade por parte dos estudantes – e propicia a participação de todos, inclusive daqueles que em sala são mais tímidos para emitir opiniões. 2.4 Instagram Instagram é uma rede social criada em 2010 e a sua popularização é mais recente do que ou­ tras redes sociais, mas muitos dos nossos alunos já a utilizam para as suas fotos pessoais no seu dia a dia. Apresentamos algumas propostas para apreender com fotos e textos em espanhol. A primeira foi a experiência de Guillermo Gómez (@cometa23) para trabalhar as realidades culturais de diferentes países. Os alunos colocavam fotos das coisas que percebiam como diferentes e colocavam um breve texto explicando porque chamavam a sua atenção. Em um segundo momento, tinham de observar e refletir sobre quais coisas eram iguais na sua cultura de origem e na de acolhida. Essa atividade esta­ va focada na comparação entre os países e culturas dos alunos de um intercâmbio, mas também pode­ ria se fazer apresentando outros tópicos dentro de um mesmo país: por exemplo, comidas das que gostam, música, literatura, cinema, etc. A segunda é a que propôs Martín Bosque (2014) em Desafio #InstagramELE: o professor (@amartinbosque) escolhe um marcador (hashtag) cada dia com uma palavra ou uma frase em espa­ nhol e os alunos têm de colocar fotos relacionadas com esse tema. Esta atividade fez muito sucesso e já tem mais de 8000 fotos e 22 turmas participando. Aproveitando que  Instagram  está associada à festa, eventos e novas descobertas podemos fazer atividades de carácter mais lúdico. Uma outra atividade que propomos seria que cada dia um aluno postasse uma fotografia mis­ teriosa. Pode ser um personagem, um lugar, um evento ou um objeto. Então, livremente, os outros alunos podem fazer perguntas para tentar adivinhar. A pessoa que colocou a foto apenas pode respon­ der com "Sí" e "No". A pessoa que adivinhar a que se refere a foto tem direito de tirar uma nova foto e colocá­la com um novo hashtag para continuar com o jogo. Além disso, também é possível comen­ tar outros detalhes interessantes nas "fotos misteriosas". Com esta atividade tentamos potenciar a criatividade dos alunos, as capacidades de dedução e pesquisa na rede, assim como favorecer a interação em espanhol entre os colegas da turma.

2.5 Skype  Em algumas empresas e casas particulares, o  Skype  chegou quase a substituir o telefone. É uma ferramenta que muitas pessoas conhecem e que utilizam diariamente para falar com amigos, fa­

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miliares, colegas de trabalho e para realizar reuniões formais e informais. Mas também pode ser mui­ to interessante trabalhar algumas atividades complementares fora da sala de aula. Vamos comentar brevemente duas experiências de atividades que fizemos utilizando o Skype. A primeira foi com alu­ nos do nível A2 de galego da Universidade de Tübingen (Alemanha) e da Universidade de Stirling (Escócia). Depois de uma primeira sessão de contato por chat, com o objetivo de que os alunos se co­ nhecessem, uma semana depois organizamos uma segunda sessão. Participaram seis alunos alemães e sete escoceses. O objetivo da sessão era falarem sobre as cidades em que moravam e se passarem por guias turísticos. Previamente, na sala de aula, trabalhamos os conteúdos culturais sobre os que podi­ am falar e as perguntas que queriam fazer para os outros alunos. Quais prédios ou lugares seriam mais interessantes para mostrar como guias turísticos? O que eles queriam saber da outra cidade ou país? Em casa, eles prepararam as perguntas para a sessão seguinte em que, a pesar do nervosismo de falarem em vídeo por vez primeira (cara a cara) com os seus parceiros, conseguiram completar a tare­ fa de forma satisfatória. Os alunos e alunas adoraram a experiência de aprender coisas de outras cida­ des, conhecer outras pessoas, e ficaram felizes ao constatar que se podiam comunicar com eles em galego sem problema nenhum. A segunda atividade que vamos comentar é uma que desenvolvemos em junho de 2014, com uma turma de alunos do curso de conversação em espanhol na Universidade Federal de Viçosa. Neste caso foi uma entrevista grupal via Skype com o escritor uruguaio Ramiro Sanchiz. Previamente, cada aluno preparou todas as perguntas que queria lhe apresentar e na sessão todos tiveram a oportunidade de entrevistar pessoalmente a Sanchiz em espanhol durante quatro ou cinco minutos. Finalmente, a entrevista foi incorporada ao podcast que apresentaram como trabalho final da disciplina. O podcast completo   está   disponível   no   seguinte   endereço:   . A avaliação da experiência foi muito positiva, pois os alunos acharam que foi uma oportunidade ótima para conhecer a um autor, entrevistá­lo e praticar espanhol com ele.

3 Vantagens e dificuldades das ferramentas online Segundo Onrubia (2007, p. 26-27) podemos resumir em quatro eixos relevantes o uso das tecnologias para o processo ensino-aprendizagem: o grau de ajuste da ajuda oferecida pelo professor às características dos estudantes; a consideração dos companheiros como fontes explícitas para a aprendizagem colaborativa entre estudantes; a promoção, planificada, explícita e sistemática, de uma maior responsabilidade, regulação e controle dos estudantes sobre os seus próprios processos de aprendizagem; e o uso de textos e tarefas autênticas como base da atividade conjunta entre professor e estudantes.

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Como já comentávamos alguns anos atrás, um bom professor tem de assumir novas funções (para a sua tarefa profissional, mas também como dinamizador cultural) e utilizar os mecanismos mais próximos da realidade atual: Vivemos num momento em que, afortunadamente, as novas tecnologias já deixaram de ser novas. A partir dos nossos telemóveis temos mais possibilidades de encontrar informações e de comunicar do que alguma vez se teve no passado. Então, se o sabemos, façamos aulas adequadas ao século XXI, não mais ao XIX. Sejamos altifalantes que sirvam para amplificar e fazer chamadas de atenção para aspetos que possam ser interessantes. Ajudemos a ativar as capacidades de relação do alunado, criemos interesse, utilizemos os meios que temos ao nosso dispor e, mais importante que tudo, criemos ligações com os seus conhecimentos, com o mundo que o nosso alunado já conhece. A didática da cultura tem de estar relacionada, sempre, com os referentes que os nossos alunos têm. Se esses referentes prévios não existirem, temos de ajudá-los: terão de experimentá-los, ouvi-los, vivê-los ao máximo. (RIVAS, 2012, p. 45)

Como afirmam Túñez e Sixto (2012, p. 78), devido às ferramentas online de ensino, “entendida como un acto de comunicación virtual alumno-profesor profesor-alumno, la docencia en soportes on line se ha venido planteando como una opción de proximidad en las relaciones docentes trasladando el aula a los entornos virtuales”. A utilização destas novas ferramentas na aprendizagem de uma língua estrangeira tem que aproveitar todos os recursos oferecidos, não só na sala de aula, sendo produtiva e tentando contribuir ao cumprimento dos objetivos da turma. O que não devemos é cair no erro de fazermos as mesmas atividades que na aprendizagem "analógica", mas utilizando agora um quadro digital. Por outro lado, mesmo considerando que o uso dessas tecnologias é fundamentalmente positivo, reconhecemos que possam existir dificuldades que comprometem os resultados a ser alcançados. A primeira barreira que o professor deve vencer é conseguir motivar seus alunos a participarem das atividades propostas. Além disso, também precisa acompanhar as pesquisas de materiais que fazem os alunos e colaborar na seleção, visto que na internet há muitos materiais e os estudantes podem não saber analisar a qualidade dos mesmos, disponibilizando assim informações inadequadas para os demais companheiros. Considerando que a internet é um campo aberto, essa seleção também deve considerar as mostras culturais que se apresentam, para não se cair no erro de compartilhar apenas opiniões pessoais – que muitas vezes se mostram preconceituosas –, nem repetir estereótipos já assumidos como verdade. Outra questão importante para a aplicação das ferramentas apresentadas passa pela necessidade de adequar o tipo de atividades ao suporte concreto e ao nível da turma. Por exemplo, se o que se pretende é trabalhar a produção escrita dos alunos em gêneros mais específicos e extensos como o artigo de opinião ou a resenha, o mais aconselhável é fazê-lo em um blog e não em postagens do Facebook. Por último, outro dos pontos negativos, ou que pode chegar a sê-lo, é o da privacidade dos alunos e docentes. É bom que docentes e alunos sejam «amigos virtuais»? Alguns acham que é necessária essa distância entre professor-aluno para manter o respeito. Uns acreditam que o professor tem de ser um conselheiro, um modelo, um mentor, mas não um amigo. Porém outros argumentam

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que muitas vezes a utilização do Facebook agiliza a comunicação. De qualquer jeito, para evitarem este problema, tanto professor como aluno podem criar uns perfis novos para a aula.

4 Conclusões Após a nossa experiência com as ferramentas citadas previamente, observamos que o papel do professor tem que evoluir para adaptar-se às novas realidades e habilidades dos estudantes. Uma constatação que fizemos é que graças ao contato dos alunos com a língua na rede (no nosso caso o espanhol), ampliam-se – qualitativa e quantitativamente – as possibilidades de praticar os conhecimentos adquiridos em sala de aula. Sabendo que o tempo em sala de aula não é suficiente para aprender uma língua, também consideramos que é muito positivo que os alunos tenham um espaço de referência virtual para continuar o processo de aprendizagem onde quer que estejam e a qualquer momento. Este espaço virtual funciona bem como lugar de encontro e ponto de partida de muitas outras propostas de atividades, servindo também para a ampliação do leque de materiais (audiovisuais, textuais) com os quais o aluno pode entrar em contato com realidades linguísticas e culturais que o professor não teria tempo de apresentar em sala. Está claro que as ferramentas online não substituem o trabalho do professor nem do aluno, mas complementam e agregam outras possibilidades, sempre tentando fazer do estudante uma pessoa mais autônoma, estimulando um processo colaborativo de aprendizagem entre os discentes. Acreditamos que esse processo não tem como finalidade uma meta comum ou única, visto que cada aluno vai descobrindo seus próprios interesses, sua própria dinâmica de trabalho e irá alcançando suas próprias metas. Como as ferramentas apresentadas têm muitas possibilidades, o que fizemos foi oferecer ideias para seu uso, sem a pretensão de limitar a aplicação às nossas propostas. Esperamos, com este trabalho, contribuir para um modelo em que “vamos construindo caminhos de aprendizagem em cada etapa, estando atentos – professor e alunos – para avançar da forma mais rica possível em cada momento.” (MORAN, 2000, p. 59) Referências ARELLANO ARELLANO, F. El uso de Twitter en la enseñanza de español como lengua extranjera: una propuesta práctica. Trabalho final de mestrado. Versão profissionalizante. Universitat de Barcelona, Universitat Pompeu Fabra: Barcelona. 2013. Disponível em: [Acesso em: 7 dezembro 2014]. FORNARA, F. Microtextos ubicuos: Twitter y la práctica constante de la L2. Oficina apresentada no XXI Congreso Internacional de ASELE, Salamanca, Universidad de Salamanca. 2010. Disponível em: [Acesso em: 7 dezembro 2014].

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