Salazar enquanto líder estratégico/

July 27, 2017 | Autor: InÊs Garcia | Categoria: Strategic Leadership, Salazarism, National Strategy
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ANTÓNIO OLIVEIRA SALAZAR ENQUANTO LÍDER ESTRATÉGICO UMA ABORDAGEM HOLÍSTICA À SUA LIDERANÇA ESTRATÉGICA

Inês Garcia Aluna número 212167

Trabalho para aprovação na Unidade Curricular de Liderança Estratégica no âmbito do Mestrado em Ciências Sociais na especialidade de Estratégia

Lisboa 2015

António Oliveira Salazar enquanto líder estratégico: Uma abordagem holística à sua Liderança Estratégica Inês Garcia12

Resumo: Este trabalho pretende estudar António Salazar enquanto líder estratégico em Portugal, de acordo com os resultados dos primeiros anos em que esteve à frente das finanças públicas. Pretendemos estudar então Salazar enquanto líder estratégico, à luz daquilo que ficou conhecido como o “milagre financeiro” até à implementação do Estado Novo, em 1933. Para a concretização desta abordagem serão utilizadas as teorias carismático-transformacionais, relacionadas com o conceito de estratégia e de mestre da estratégia de António Silva Ribeiro. Palavras-chave: Salazar, Ditadura Financeira, Liderança Estratégica, Estratégia Nacional

Abstract: This academic work aim is to study António Salazar as a strategic leader in Portugal. We will attend especially to his first years in power as a Financial Minister, and his results, knowned as the “Financial Miracle”, until the implementation of the “Estado Novo”. We will use, to analyse his leadership, the charismatic-transformational theory, in association with the concept of strategy and strategic leader, developed by António Silva Ribeiro. Key words: Salazar, Financial Dictatorship, Strategic Leadership, National Strategy

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Aluna de mestrado em Estratégia, número 212167 [email protected]

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ÍNDICE Introdução..................................................................................................................... 1 Enquadramento Teórico ................................................................................................ 2 I.

Portugal até 1926 .............................................................................................. 5 1.1.

II.

A Situação Político-Social e Financeiro-Económica ................................... 5 A Política de Salazar ......................................................................................... 7

2.1.

Nota Bibliográfica – o homem ................................................................... 7

2.2.

O Líder ...................................................................................................... 8

2.2.1.

Como Homem de Visão ........................................................................ 8

2.2.2.

A Solução Radical................................................................................. 9

2.2.3.

Carismático e Inspirador ..................................................................... 11

III. 3.1. IV.

Portugal em 1933 ............................................................................................ 12 A Confirmação pelos Resultados ............................................................. 12 Conclusões .................................................................................................. 14

Nota Metodológica...................................................................................................... 16 Bibliografia ................................................................................................................. 17 Anexos Anexo 1 A função da Visão Estratégica ...................................................................... 19 Anexo 2 Receitas e despesas do Estado em percentagem do PIB, 1885-1936 .............. 19 Anexo 3 Evolução da Dívida Pública em Percentagem do PIB, 1885-1936 ................. 20 Anexo 4 Índice do PIB Português a Preços Constantes, 1885-1936 (2000 = 1000) ...... 20

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INTRODUÇÃO Este trabalho pretende analisar Oliveira de Salazar enquanto líder estratégico. Pretendemos analisar a sua atuação enquanto Ministro das Finanças e a forma como saldou as finanças pública, culminando esta análise na forma como Salazar conseguiu introduzir o seu projeto político, os seus valores, no comportamento dos portugueses, nomeadamente através da cristalização do seu projeto político na Constituição de 1933. Não pretendemos com este trabalho fazer juízos de valor relativamente aos resultados da política de Salazar sobre a população, sobre o seu empobrecimento e o atraso de Portugal, ao final de quatro décadas no poder. Pretendemos, antes, analisar o milagre económico e financeiro dos primeiros anos em que Salazar esteve no poder enquanto Ministro das Finanças. Compreendemos que os juízos de valor acerca do seu estilo de governação, enquanto chefe do Conselho de Ministros cabe noutros contextos, que não nos da Liderança Estratégica, devendo sempre ser analisados à luz do contexto histórico e social em que se inserem, e não há luz dos valores ontológicos e ideais, da educação e do contexto em que vivemos hoje. Pretendemos, com este trabalho saber como podemos definir um líder de uma forma holística, incluindo nessa definição uma definição de estratégia, permitindo, assim contribuir para um melhor esclarecimento sobre o que pode ser a liderança estratégica. Se este for o principal objetivo, o segundo será compreender a liderança de Salazar enquanto líder estratego à luz desta proposta de conceptualização. De acordo com a conceptualização, desenvolvida mais à frente, sobre a liderança estratégica, com recurso a variadas perspetivas teóricas, a análise será baseada em quatro objetivos de pesquisa, que se tentarão provar. Em primeiro lugar procurar-se-á provar que Salazar forneceu uma visão clara e objetiva, que permitiu cumprir a sua missão. Em segundo lugar procurar-se-á provar que ele forneceu um conjunto de ideias que proporcionaram uma solução radical. Em terceiro lugar procuraremos demonstrar que Salazar fez uso do seu carisma e das emoções para inspirar um sistema de valores e crenças. Por último demonstraremos que a sua liderança foi validada pelos seus sucessos sucessivos.

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ENQUADRAMENTO TEÓRICO Para a realização deste trabalho considera-se importante definir, em primeiro lugar, os conceitos mais importantes, e o enquadramento teórico utilizado para a compreensão do sujeito de pesquisa. Pretende-se fazer uma análise holística, utilizando várias abordagens teóricas da liderança, uma vez que se considera que a liderança, por se relacionar com o ser humano e com a sua relação com outros seres humanos, num meio complexo, deve ser feita a vários níveis. Dessa forma começar-se-á pela definição de liderança estratégica e seguidamente partiremos para o enquadramento teórico propriamente dito. A liderança estratégica é impossível de compreender sem se definir, primeiramente, o que entendemos como estratégia. Esta conceptualização é útil para a compreensão, ao longo do trabalho sobre aquilo que nos referimos. Isto porque, o conceito de estratégica tem vindo a ser cada vez mais vulgarizado. No entanto, estratégica pode ser definida como (Ribeiro, Teoria Geral da Estratégia, 2010, p. 92): “A ciência e a arte de edificar, dispor e empregar os meios de coação, no meio e no tempo, para se materializarem objetivos fixados pela política 3, superando problemas e explorando eventualidades em ambiente de desacordo”. Este é um conceito amplo, que pode ser aplicado a várias áreas, no entanto, encontramos alguns indicadores que identificam a estratégia. Em primeiro lugar, salienta-se o ambiente de desacordo. Este pressupõe que devem haver duas entidades com interesses divergentes, ou atores contrários, com vontade e capacidade própria e devem ter estruturas de comando, habilitadas a tomar decisões e a reagir. Naturalmente, numa relação estratégica cada entidade terá sempre que lidar com oportunidades e problemas. Ambos devem ser equacionados para que o poder nacional seja aplicado, tendo em vista a evolução da situação no sentido desejado. No entanto as oportunidades relacionam-se com a forma como o ator estratégico lida com os apoios e neutralidades. Enquanto os problemas relacionam-se com a forma como o ator estratégico aplica o seu poder para superar os obstáculos colocados pelo seu contrário. É relativamente aos objetivos que podemos identificar algumas diferenças entre aquilo que conceptualizamos aqui como estratégia, e aquilo que tem sido vulgarizado. A estratégia A utilização do termos “objetivos fixados pela política” não se refere apenas aos objetivos definidos no âmbito do Estado ou dos organismos públicos. Prende-se com a relação, manutenção ou aquisição de poder, que existe em qualquer relação entre um grupo de indivíduos, aplicando-se assim, também, a quaisquer organismos privados, como empresas, organizações sem fins lucrativos, etc. 3

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destina-se a materializar objetivos com finalidades coletivas, identificadas com precisão, que serão os objetivos fixados ao mais alto nível (no âmbito do Estado serão os objetivos nacionais). Estes devem ser priorizados de acordo com a sua importância. A procura pelo alcance ou preservação destes objetivos pode provocar uma reação de negação do contrário, pelo que a estratégia estará cingida a processos disjuntivos. Para alcançar esses objetivos são utilizados meios de coação, que devem ser criados, organizados e empregados, no devido momento e no devido sítio, de forma a aumentar a vantagem estratégica própria e destabilizar o contrário. Os meios de coação utilizados dependerão do grau de negação e da natureza e prioridade dos objetivos a alcançar. Por fim, é considerada uma ciência e uma arte porque embora se baseie em métodos científicos, retirados de ciências como a Ciência Política, pelas técnicas matemáticas no apoio à decisão, é também uma arte. Isto porque a definição da melhor modalidade de ação, ou a tomada da melhor decisão estratégica não é percetível para todos, estará mais clara para o génio estratégico, aquele que intuitivamente compreende o centro de gravidade do seu contrário, podendo assim melhor empregar os seus meios, com uma maior eficácia (Ribeiro, Teoria Geral da Estratégia, 2010). Para António Silva Ribeiro (2010), a estratégia deve ser executada por um mestre da estratégia, que deve simultaneamente ser: líder estratégico; praticante estratégico; teórico estratégico, sendo apenas a primeira dimensão que será focalizada na realização desta exposição. O líder estratégico deve então ser capaz de, com arte, “definir como melhor edificar meios, dispor ou organizá-los, e emprega-los num determinado momento e lugar, a fim de cumprir com os objetivos definidos ao mais alto nível” (p. 92). Para ele, o líder estratégico é alguém que “proporciona visão e objetividade, exerce comando, aprofunda as perícias de liderança e inspira outros a pensar e a agir” (Ribeiro, 2010, p. 30). Para complementar esta perspetiva, que é um contributo feito no âmbito da estratégia, utilizaremos outras abordagens teóricas. Serão então utilizadas a Teoria da Liderança Carismática e Transformacional. Para Weber (Rosinha & Duarte, 2009) a liderança carismática surge em momentos de grande crise social ou desespero, situações de grande instabilidade. A pessoa que tomará a liderança surge com dotes extraordinários que atrai um conjunto de seguidores, que acreditam ter poderes transcendentais. Essa pessoa fornece ainda um conjunto de ideias que proporcionam uma solução radical ou inovadora, sendo validado enquanto líder pelo conjunto de sucessos repetidos. 3

As teorias da liderança transformacional, segundo Zaleznik, caracterizam os líderes como aqueles que “fornecem visão para o futuro, fazem uso das emoções e do carisma para inspirar os seguidores e mudar o seu sistema de valores e crenças, enfatizando a convicção moral da sua missão” (Rosinha & Duarte, 2009, p. 62). De acordo com Bass e Avolio, os líderes transformacionais são pró-ativos, não se limitando a reagir apenas aos problemas que surgem, procuram contruir para a construção de um objetivo coletivo. Procuram mudar a forma como os subordinados se percecionam e enfatizam as oportunidades e desafios colocados, otimizando assim o desempenho do individuo, do grupo e da organização. Incentivam sempre os subordinados a alcançar níveis mais elevados que aqueles esperados. Assim o líder deve inspirar aqueles que o rodeiam, estimular intelectualmente os seus subordinados, permitindo que ultrapassem os seus interesses pessoais em prol do interesse coletivo e, por último, deve elevar os ideais e o nível de maturidade e os níveis de bem-estar dos indivíduos, da organização e da sociedade. Os líderes carismáticos e transformacionais criam motivação e alteram a identificação dos indivíduos de acordo com a missão e os objetivos da organização do líder (Bass, Avolio, Berson, & Jung, 2003). Por fim, de acordo com House (Rosinha & Duarte, 2009) o líder deve ser capaz de comunicar claramente a visão, apelando ao autossacrifício dos subordinados, demonstrando confiança nas suas capacidades para alcançar os objetivos proposto, pela responsabilização e legitimação. Então concluímos que um líder deve ser alguém capaz, em primeiro lugar, de comunicar, de forma clara, a sua visão, os seus objetivos e a missão da organização, por forma a motivar os seus subordinados a trabalhar para a sua realização. Deve, então, ter uma visão e ser capaz de a transmitir com sucesso. Em segundo lugar, consideramos também que o líder deve ser alguém que consegue implementar um conjunto de novas ideias que permite uma solução radical de um problema. Em terceiro lugar deve ser carismático, capaz de fazer uso das emoções e do carisma para inspirar um sistema de valores e crenças, de cativar os seus subordinados, aos seus valores e ideais, capaz de criar a mudança organizacional através do exemplo. Por fim a sua liderança será validada pelos resultados obtidos, que deverão corresponder a sucessos repetidos. Estas serão as dimensões que vamos procurar analisar na liderança de Salazar. 4

I.

PORTUGAL ATÉ 1926

1.1. A SITUAÇÃO POLÍTICO-SOCIAL E FINANCEIRO-ECONÓMICA O século XIX foi um século de particular instabilidade e mudança para Portugal, identificando-se grandes mudanças estruturais e perdas para o País que levaram à instabilidade social, política, económica e financeira, potenciadas por crises internacionais e por poderes externos. Com o ultimato britânico de 1810, que obriga Portugal a deixar os seus projetos africanos, nomeadamente aquele que ficou conhecido como o “mapa cor-de-rosa”, entra-se num período de luto nacional, descontentamento face à aparente subjugação nacional perante a Inglaterra. Posteriormente, continua a perder investimento estrangeiro, o que leva à cada vez mais dificil sustentação da dívida interna e externa. Em 1820 Portugal celebra o Acordo de Comércio Luso-Britânico, que, de acordo com certos autores, veio dar início ao fim da estabilidade económica portuguesa45. Seguidamente dá-se a independência do Brasil, em 1822 6. Este era o parceiro mais importante para Portugal, a principal fonte de riqueza, de matérias-primas e destino de produtos manufaturados. Portugal declara em 1892 a Bancarrota parcial. A este período segue-se um outro de grande volubilidade social, de rápida degradação económica e financeira, associada a um enorme atraso económico e industrial relativamente aos restantes Estados europeus. O descontentamento face à monarquia era generalizado. Ela representava todos os problemas sociais e a subjugação portuguesa aos interesses britânicos. Em 5 de outubro de 19107 dá-se um Golpe de Estado, organizada pelo Partido Republicano Português, que leva à implementação da República.

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Este acordo vem estabelecer uma relação comercial entre Portugal e a Inglaterra, que vai obrigar Portugal a pagar altas taxas alfandegárias à Inglaterra, não havendo um equilíbrio entre as taxas que esta paga a Portugal (Ruiz, 1980). Este acordo é feito de acordo com as vantagens comparativas de David Ricardo. 5 Para além deste acordo também é referido por Ruiz (1980) que a própria estrutura agrária, baseada numa lógica senhorial, potenciou o atraso e a dificuldade de adaptação da economia portuguesa. 6 De acordo com Lara (Lara, 2000) uma das causas para a independência do Brasil foi a abertura dos seus portos ao estrangeiro, o que levou à transmissão de ideias de independência. Entre os Estados que o promoveram estão os EUA, e a Inglaterra, que tinha interesse em fazer negociação direta com um Brasil livre. 7 De acordo com Jesus (2008), havia, desde o início, a intensão de substituir o governo democrático por um regime político que impusesse a ordem nas ruas e resolvesse o grave problema financeiro e económico que Portugal enfrentava. O convite a Oliveira de Salazar, e a outros académicos, professores, civis, deu-se ao facto de os militares reconhecerem que sem a sua ajuda não conseguiriam resolver o problema financeiro português.

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No entanto esta mudança de regime não altera a situação de instabilidade social, degradação económica e financeira. Acrescenta-lhe ainda a instabilidade política. Em cerca de 16 anos de República, foram conhecidos inúmeros governos, alguns com a duração de meses apenas, impossibilitando a persecução de qualquer plano que invertesse essa situação. “Compreende-se os vários confrontos sociais entre trabalhadores, Estado, a pequena e média burguesia e o patronato verificados em 1920" (Martins & Duarte, 2010, p. 8). A convulsão social era enorme. António Oliveira de Salazar (1966) refere-se a esta época como uma época cheia de direitos, mas sem quaisquer responsabilizações. Portugal, tendo perdido o Brasil8, vivia agora de sucessivos créditos, que suportavam os défices orçamentais sistemáticos. Este mecanismo, que seria excecional mas que se torna a regra, leva a uma tendência inflacionária galopante (Telo, 1994). A riqueza distribui-se desigualmente e o movimento operário desenvolve-se. A inflação leva ainda à desvalorização da moeda portuguesa, o escudo e à fuga de capitais. À fuga de capitais, junta-se a emigração, nomeadamente, para o Brasil. Todos estes processos levam a um forte desequilíbrio da balança de pagamentos. Portugal vivia da regra do crédito para solucionar o problema da instabilidade política. Não eram desenvolvidas reais políticas económicas que resolvessem o problema de fundo, a própria instabilidade política não permitia a introdução de políticas de longo prazo (Telo, 1994). A inflação era incontrolável e Portugal estava completamente desprotegido das flutuações económicas e financeiras internacionais e das exigências dos seus credores (Martins & Duarte, 2010). A participação na I Guerra Mundial teve também graves prejuízos para a situação económica e financeira portuguesa, pela redução do PIB em cerca de 12%, e pelo aumento da dívida portuguesa que sustentou o esforço de guerra através de sucessivos créditos e emissão de moeda que aumentaram considerávelmente a inflação (Martins & Duarte, 2010). Então, com a I Guerra Mundial, os gastos do Estado quadriplicam. Já a dívida pública aumeta cerca de 76%, ultrapassando, em 1920, 70% do PIB português. No final da I Guerra Mundial, toda a indústria portuguesa estava virada apenas para o mercado interno, não tendo capacidade para competir no mercado externo. Como tentativa de resolver os problemas De acordo com Ruiz (1980) era o fluxo de ouro proveniente do Brasil que sustentava o “défice crónico da balança comercial com o exterior”, desde o século XVIII até 1815-19 (p. 779). 8

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financeiros e económicos em Portugal, surgem duas posições. A primeira apoiava o desenvolvimento e a revolução tecnológica, mas essa impunha grandes investimentos que Portugal não tinha a capacidade para adquirir. A segunda posição advertia para uma rígida austeridade económica. A primeira posição vence e é imposta pelos republicanos fundamentalistas, não tendo resultado, tal como nota José Telo (1994): A obra financeira de 1924-1925 falha no seu objetivo essencial: provoca uma significativa valorização do escudo, mas esta, nas condições de Portugal, traz consigo a crise de importantes sectores, a queda dos salários reais e uma forte instabilidade política e social (p. 784)

É então deixado o ambiente ideal para que Salazar impusesse as suas ideias, os seus valores, o seu programa, que deveriam trazer a unidade e grandeza nacionais. Por todo o país, neste mesmo ano, ocorreram greves, manifestações, comícios, atentados bombistas e diversos assassinatos, inclusive de figuras importantes do Estado. Tudo isto afectou seriamente a credibilidade do regime político, que se viu a braços, não só com uma crise económica e financeira, mas também perante uma grave crise social (Martins & Duarte, 2010, p. 8)

Em 1922 são realizados esforços, frutíferos, para controlar a escalada de preços, a inflação, para aumentar as receitas do Estado e procurar reduzir a dívida pública. No entanto a dívida, continuava ainda acima dos 60% do PIB. Durante o período da República as finanças nunca foram sustentáveis, devido aos défices orçamentais e à elevada dívida pública. Portugal vivia-se assim um momento de grande flagelo social e económico, financeiro e político, que torna popícia uma liderança carismática e transformacional, alguém que introduza novos valores, novas formas de governar, que podem ser consideradas radicais.

II.

A POLÍTICA DE SALAZAR

2.1. NOTA BIBLIOGRÁFICA – O HOMEM António Oliveira de Salazar nasce no Vimieiro, em 1889, único filho de uma família de posses humildes, vai estudar para o Seminário de Viseu, sendo a sua educação básica custeada pela Igreja Católica. Pouco tempo depois da proclamação da República, Salazar vai para Coimbra e faz o curso de Direito, que acaba com uma média de 19 valores, doutorando-se posteriormente, em 1918, em Ciências Económicas (Antunes, 1993). Embora tenha sido convidado para deputado pelo Centro Católico Português, rapidamente Salazar volta a Coimbra para retomar o seu lugar como professor universitário, tendo obtido a regência das cadeiras de Economia Política e Finanças. Católico e monárquico, Sala7

zar, viveu um tempo conturbado, altura em que os seus ideais eram ameaçados por uma República instável. Salazar é caracterizado pelos seus próximos (Pinto, 1993) como um homem de hábitos, com um temperamento calmo, muito trabalhador, sempre fechado no seu gabinete, mas muito humano. O que aqueles que mais próximo de si trabalharam evidenciam é que, Salazar, sendo muito humano, se empenhara na sua missão de governar o país como mais ninguém. É caracterizado como um homem com sentido de humor, mas de quem todos tinham respeito. Para além disso, podemos retirar da análise dos testemunhos de todos os que lhe eram próximos, que Salazar teve sempre o cuidado de se rodear de pessoas eficientes, adequadas ao trabalho e, naturalmente, adequadas aos seus ideais. No entanto não podemos deixar de referir que todos tinham uma adoração pelo homem enquanto líder, enquanto definidor do destino do país, enquanto trabalhador pelos resultados.

2.2.

O LÍDER

A Ditadura Financeira, imposta por Salazar em 1928 e que dura até 1932, altura em que é aprovada a Constituição do Estado Novo, reflete o seu pensamento estratégico e o seu projeto político para Portugal, é uma solução financeira para resolver o problema político do Estado (Telo, 1994). Oliveira Salazar partilha com Oliveira Martins9 (com 40 anos de separação entre os dois) a perceção que o problema político e social em Portugal, que o problema da autoridade do Estado, tinha que ser resolvido, através da resolução do problema económico e financeiro. O modelo é de completa reestruturação do Estado, completa mudança económica e social, uma verdadeira estratégia integral. Esse modelo económico impõe-se em alturas de graves crises económicas mundiais, momentos propensos à grande mudança, e também à criatividade nas soluções, sendo essas crises, a de 1890-91, que leva Oliveira Martins por uma rápida passagem pelo poder, e a de 1929-31, que, juntamente com a grave crise interna, permite Oliveira Salazar chegar ao poder e aí permanecer durante cerca de 40 anos (Telo, 1994).

2.2.1. COMO HOMEM DE VISÃO Um líder deve ser alguém capaz de impor uma visão. Ela tem que motivar e mobilizar todos em direção aos objetivos propostos. Esta é uma componente muito importante para a

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Oliveira Martins foi teórico do socialismo e economista. Em 1890, na sequência do Ultimado Britânico foi convidado a fazer parte do Governo de Salvação Nacional (Porto Editora, 2003-2015).

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estratégia (ver Anexo 1). Sem ela os objetivos e ações realizados pelos indivíduos em qualquer organização ou instituição não terão um rumo definido. Um pequeno país, mas um grande Portugal, esta era a visão de Salazar. Em estratégia é da missão que dependerão todas as ações estratégicas e os objetivos a alcançar, é ela que guiará o esforço estratégico. Todos devem estar em sintonia com a sua concretização. Passa pela arte do líder, trazer a todos o sentimento de necessidade de cumprimento da missão proposta. Salazar (1966) refere, no seu discurso de tomada de posse que sabe o que pretende fazer, “sei muito bem o que quero e para onde vou” (p. 94). Tem portanto, um plano. Esse plano tem como objetivo final, ou como visão para Portugal, a resolução do problema político, das divisões entre os indivíduos que criaram a instabilidade política e financeira em Portugal. Outro problema a solucionar é o da instabilidade e debilidade financeira e económica portuguesa. Através da análise do discurso de Salazar ao longo do período de tempo escolhido é possível compreender que ele queria um Portugal à imagem dos seus ideais, que fosse tão forte e determinado como o povo que permitiu Portugal empenhar-me nos descobrimentos e na sua expansão além-mar.

2.2.2. A SOLUÇÃO RADICAL Consideramos que o líder deve ser alguém capaz de fornecer um conjunto de ideias e proporcionar uma solução radical. Uma das principais reestruturações do funcionamento do Estado português, que constituiu a premissa para que Salazar aceitasse o cargo de Ministro das finanças passou pela imposição do Planeamento Financeiro como método de tomada de decisão10. Esta é uma tendência que surge, de forma generalizada, na década de 1950, e que passa pela orientação da ação no sentido de todo o esforço ser direcionado para a redução das despesas orçamentais. António Oliveira de Salazar coloca, assim, todo o poder nas suas mãos. Algo só acontecia se ele, como Ministro das Finanças o autorizasse. Condiciona a sua aceitação do cargo a esta exigência, considerando uma “forma de íntima colaboração” entre o Conselho de Ministros e o Ministério das Finanças. Dessa forma, a reorganização do Estado estaria assente 10

A grande inovação está na implementação do Planeamento Financeiro como forma de tomada de decisão, que se baseia na orçamentação de acordo com as despesas e receitas dos anos passados. Esta tem a precariedade de levar aos gastos excessivos para que no ano seguinte não seja cortado o orçamento.

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em quatro pontos essenciais: cada Ministério compromete-se a limitar os seus serviços dentro da verba global atribuída; as medidas tomadas com repercussão direta nas receitas ou despesas do Estado devem ser discutidas e ajustadas previamente com o Ministério das Finanças; o Ministério das Finanças tinha o poder de veto sobre aumentos de despesa corrente ou ordinária; o Ministério das Finanças compromete-se a colaborar com os restantes Ministérios por forma a reduzir as despesas para cumprir com os critérios anteriores (Telo, 1994). Fica assim toda a atuação do Estado português dependente da aprovação do Ministério das Finanças. Esta política, que submete toda a atuação ministerial à aprovação do Ministério das Finanças revela o pensamento de Salazar, que revela no seu discurso de tomada de posse que sabe para onde vai e o que quer fazer. Trata-se de uma exigência muito anormal, que, quando é aceite, transforma o ministro das Finanças no verdadeiro centro de poder, ao qual todos os outros ministros são obrigados a dirigir constantes pedidos (Telo, 1994, p. 788).

Em qualquer estratégia integral, ou nacional, como Salazar adotou, torna-se necessário priorizar objetivos e interesses, de forma a atingi-los progressivamente. A priorização dos objetivos é de extrema importância, uma vez que é impossível aplicar todas as forças ao mesmo tempo. Salazar pretendia resolver os problemas da nação, vendo da seguinte forma o problema português: "Vamos relacionar (...) todo este mal-estar com quatro problemas fundamentais: o financeiro, o económico, o social e o político. (...) [Esta] simples disposição revela uma rientação definida" (Salazar, 1966, p. 59). Sendo impossível atacar simultaneamente e com igual intensidade todos os problemas, era necessário concentrar os maiores esforços aquele cuja solução, tida em conta a interdependência de causas e efeitos, se visse poder aproveitarse como elemento dominante para resolver os demais, e sem resolver o qual nada de grande e de sólido se podia empreender ou realizar. Esse é o problema financeiro (Salazar, 1966, p. 62).

Salazar tinha como objetivos prioritários acabar com o défice orçamental, estabilizar o câmbio, consolidar a dívida, reorganizar o crédito e promover o desenvolvimento (Telo, 1994). Salazar reconhece que a sua política será uma política de sacrifício, para conquistar a ordem e o poder financeiro, mas Salazar tem em mente um Portugal tão forte, como aquele do século XVII. Nos discursos de Salazar encontramos, por diversas vezes, linhas de orientação da sua política, que coincidem com os seus valores e ideais, que procura trazer para a população

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portuguesa. António Oliveira de Salazar foi desde sempre um fervoroso adepto da educação, considerava-se honesto e impunha essa honestidade no trabalho a todos.

2.2.3. CARISMÁTICO E INSPIRADOR Enquanto líder carismático e inspirador, o líder deve ser capaz de recorrer às emoções e ao carisma para inspirar um sistema de valores e crenças. Acreditamos que foi isso que Salazar fez com a restauração das “Grandes Certezas”: Deus, a pátria e a família. Para além disso impôs ao povo português o valor do trabalho e do sacrifício, valores e ideais consolidados através da educação. Salazar reconhecia o atraso português, das suas instituição, das condições de vida do povo, relativamente aos restantes países europeus. O plano de Salazar passava por uma estratégia geral, baseada na educação. A educação como forma de desenvolvimento mas também como forma de criação de uma nova cultura nacional. Nesse sentido, Salazar compreendia que o governo devia esclarecer a opinião pública, sobre os assuntos do seu interesse, moldá-la e orientá-la, “sem lhe esconder do que importa à vida coletiva e à solução dos problemas nacionais” (1961). Salazar era um fervoroso adepto e apoiante da educação, acreditava que era na educação que se moldava o homem, que se lhe moldava a alma, que se construía o individuo, o cidadão (Salazar, 1966). Era através da educação que se incutia os valores máximos da nação: Deus, a pátria e a família. Para Salazar a "Ditadura deve resolver o problema político português". Porque a experiência demonstrou que não podemos confiar em modelos de governo importados. Para que a sua "obra reformadora se nao inutiliza e se continue", para que "se crie a mentalidade nova que é indispensável à regeneração dos nossos costumes políticos e administrativos, à ordem social e jurídica, à paz pública, à prosperidade da Nação" (1966, p. 65). Fazê-lo através da educação "Por meio duma obra educativa que modifique os defeitos da nossa formação, substituia a organização à desorganização atual e integre a Nação, toda a Nação no Estado, por meio de um novo estatuto constitucional." (p. 66) Represento uma política de verdade e de sinceridade, contraproposta a uma política de mentira e de segredo. Advoguei que se fizesse a política da verdade, dizendo-se claramente ao povo a situação do País para o habituar à ideia dos sacríficios que haviam um dia de ser feitos, e tanto mais pesados quanto mais tardios.. (Salazar, 1966, p. 15)

Salazar baseia a ditadura financeira em três pilares essenciais. A política da Verdade, a Política de Sacrifício e a Política Nacional. 11

“Num sistema de administração em que predominava a falta de sinceridade e de luz, afirmei, desde a primeira hora que se impunha uma política de verdade. Num sistema de vida social em que só direitos competiam, sem contrapartida de deveres, em que comodismos e facilidades se apresentavam como a melhor regra da vida, anunciei, como condição necessária de salvamento, uma política de sacrífico. Num Estado que nós dividimos ou deixámos dividir em irredutibilidades e em grupos, ameaçando sentido e a força da unidade da Nação, tenho defendido, sobre os destroços e os perigos que dali derivara, a necessidade de uma política nacional” (Salazar, 1966, p. 16).

Serão estas as linhas de ação principais que deverão reger a ação de todos aqueles que estão no governo, devem ser este os valores principais que devem estar na mente de todos os portugueses. Consegue, assim criar um sistema de valores, de ideias de referência, que devem balizar o comportamento de toda a população do Estado, no sentido da recuperação económica e financeira, e por consequência, da recuperação política e social. Relativamente à captação da simpatia e “adoração” por aqueles que trabalhavam junto de Salazar, podemos compreender pela leitura de “Salazar visto pelos seus próximos”, da organização de Jaime Nogueira Pinto, que era visto como, pelo menos um exemplo a seguir. A sua honestidade, inteligência e “sensibilidade muito humana” (Pinto, 1993, p. 25), a forma como se dedicava inteiramente à nação, o gosto por crianças, faziam dele um homem exemplar, completamente dedicado à missão que tomou como sua. Considerado um homem isolado, prudente, cauteloso, que se entregava completamente. Parece então que Salazar conseguia cativar os seus subordinados, pela sua ética de trabalho e pela sua entrega, pela sua personalidade e pelo seu génio. No entanto não seria científico não considerar a oposição que sempre existiu relativamente à Ditadura Financeira e Militar, instaurada pelo Golpe de Estado de 1926. Esta não era, pelo menos no seu início uma oposição a Salazar, mas ao fim dos direitos políticos e sociais democráticos, que a I República tinha trazido (Jesus, 2008). Salazar sabia disso, e sabia que tinha que contar com o apoio dos militares para realizar a sua obra política.

III. PORTUGAL EM 1933 3.1. A CONFIRMAÇÃO PELOS RESULTADOS Se a competência do líder é confirmada pelos sucessos repetidos da sua ação, então podemos conisderar que Salazar foi um líder que valia a pena seguir, isto porque, como vamos ver a seguir, o seu génio e engenho levaram a uma grande melhoria situação financeira

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e económica portuguesa. Salazar resolveu, em pouco mais de um ano, um problema estrutural da economia portuguesa. Como referem Martis e Duarte (2010) Portugal estava desde o final da Monarquia com uma enorme dívida externa constante. Portugal tinha um nível de desenvolvimento muito abaixo do verificado na Europa. Embora, no início da década de 1920, Portugal apresentasse, com a primeira República, um ligeiro melhoramento financeiro e económico, segundo os autores, Portugal não teria um crescimento tão grande se não fosse a política de Salazar 11. Em 1929 Salazar faz um discurso, expondo os resultados do primeiro ano da Ditadura financeira: "eu tenho de pedir humildemente perdão ados discordantes da minha orientação financeira, por as contas da gerência finda em 30 de junho não se limitarem a confirmar o equilíbrio previsto nos orçamentos, mas apresentarem um saldo positivo de cerca de 300 000 contos. Apresento como desculpa que não esperava tão grande e que há um ano era impossível prevê-lo (...) Ser-me-á ainda levado em conta que na melhor suposição a indignada veemência com que vou ser acusado é inferior àquele com que o seria se as contas apresentasssem um deficit em vez de um saldo." (Salazar, 1966, p. 98)

Em 1931 António Oliveira de Salazar chama a atenção para o facto de se terem conseguido saldar a dívida externa e colmatar a dívida interna. Realmente, como podemos verificar, através dos dados disponíveis, Salazar conseguiu sistemáticamente aumentar as receitas do Estado, reduzindo as despesas e assim permitir uma redução significativa da dívida pública, reduzindo de cerca da 70% do PIB para 30% (ver Anexo 2 e Anexo 3). Já o PIB teve um aumento exponêncial (ver Anexo 4) Em 1928 as “vozes críticas praticamente desapareceram, por convicção, repressão ou conveniência. Há algumas exceções a esta regra, mas eram raras” (Telo, 1994, p. 791), fruto, essencialmente dos resultados obtidos durante os primeiros anos da Ditadura Financeira. Salazar vai, então, obtendo sucessivos apoios das diferentes fações económicas, entre os agricultores e operários, devido aos sucessos das suas políticas de desenvolvimento e fomento. Nesta fase cresce o apoio de significativos sectores sociais a Salazar devido a uma obra financeira e económica, ou seja, devido a uma actividade aparentemente não política, onde os anteriores factores ideológicos de clivagem social perdem importância e se esbatem. Na nova conjuntura, muito peculiar, a criação de blocos de apoio social deixa de depender do jogo partidário ou das alianças dos «representantes». (Telo, 1994, p. 792) 11

Os autores fazem uma análise econométrica, analisando, não só as variáveis económicas e financeiras, mas tendo também em consideração os desenvolvimentos sociais e políticos do país no período em análise (19081935).

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A sua política é validada pelos factos, levando a que, em 1931, Salazar profira um discurso na manifestação da União Nacional, intitulado “O interesse nacional na política da Ditadura”, demonstrando como é do interesse Nacional a sua atuação.

IV. CONCLUSÕES Salazar foi sem dúvida um líder. No entanto os objetivos deste trabalho passavam pela clarificação do conceito de liderança estratégica, aos olhos do conceito de Estratégia e Líder Estratégico de António Silva Ribeiro e das Teorias Carismáticas-Transformacionais. Nesse sentido, um líder deve ser um homem com características naturais que façam os outros seguilo e adotar os seus valores e ideais. Deve ser, em primeiro lugar alguém capaz de expor uma missão, objetivos e uma visão que motive os subordinados à sua realização. Deve ser uma pessoa carismática e que consiga impor um novo sistema de valores e crenças, assim como um conjunto de novas ideias, que se apresentem como uma solução radical para determinado problema. Por fim a sua liderança será comprovada e aprovada pelos resultados das suas medidas. Podermos então considerar que Salazar foi capaz de fornecer uma visão clara e objetiva, que permitiu cumprir a sua missão, que forneceu um conjunto de ideias que proporcionaram uma solução radical? Terá, em terceiro lugar, feito uso do seu carisma e das emoções para inspirar um sistema de valores e crenças? Por último podemos considerar que a sua liderança foi validada pelos repetidos sucessos? Salazar revelou desde o início ter uma visão clara sobre aquilo que pretendia fazer, sobre o Portugal que queria criar. Salazar refere em alguns dos seus discursos que o povo português da altura não era mais fraco que aquele do século XVII, podendo antever que Salazar tinha como visão para Portugal, um país forte, capaz de influenciar e reconhecido em todo o mundo, à dimensão global e imperial. Isso é visível quando recusa o lugar como Ministro das Finanças, impondo a exigência de ter o poder de veto sobre quaisquer despesas ministeriais e de administração pública. É ele quem implementa, em Portugal o Planeamento Financeiro enquanto método de tomada de decisão, conseguindo, assim controlar todas as despesas do Estado. Estas soluções pretendiam resolver o problema prioritário: o financeiro, que por sua vez, possibilitaria a resolução do

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problema económico, do problema social e do problema político. Esta é uma solução radical e pouco habitual à altura. A interpretação de António Oliveira de Salazar enquanto líder carismático deve ter em conta, em primeiro lugar que ele surge numa situação de completa desordem e flagelo social, económico, financeiro e político. Em segundo lugar, Salazar tem, de acordo com aqueles que junto de si trabalharam, e que conviveram com ele, características “transcendentes”. Ou seja, Salazar, pela sua dedicação, ética de trabalho e “humanidade” consegue cativar os seus “subordinados”. Para além disso, Salazar, homem monárquico e católico, baseou a sua atuação em três importantes vetores, Deus, pátria e a Família. Estes valores irão moldar toda a sociedade portuguesa, sendo introduzidos através da educação, que Salazar acreditava moldar o espírito do homem. Ainda impôs três políticas que deveriam guiar a ação e os pensamentos dos dirigentes administrativos e da população no seu geral: a Política de Verdade; a Políticas de Sacrifício; a Política Nacional. Estes valores projetados por Salazar são posteriormente cristalizados na Constituição Portuguesa de 1933, que instaura o Estado Novo. Relativamente aos resultados, aqueles que foram tidos em conta foram essencialmente os financeiros e económicos, no entanto não podemos deixar de ter em conta dos resultados sociais e políticos. Relativamente aos primeiros, temos que a situação financeira em Portugal foi equilibrada passado cerca de um ano após a chegada ao poder de António Oliveira de Salazar. A resolução da situação económica seguiu-se com a solução de problemas de diversos setores importantes, nomeadamente o da agricultura e dos operários. Naturalmente, e como previa o Ministro das Finanças, resolvidos estes problemas, deu-se a estabilização da sociedade, e como sabemos, também a estabilização política, através da instauração da Ditadura. António Oliveira de Salazar foi sem dúvida um líder. Influenciou verdadeiramente a forma de governar, demonstrando a sua seriedade para com o projeto político que defendia. Temos que reconhecer que Salazar mudou o rumo de Portugal e, ainda hoje, influencia a sociedade e a política portuguesa. Por fim considera-se que a abordagem feita permite, não só interpretar o líder aos olhos da sua relação com os subordinados, mas enquadrar a liderança no âmbito da estratégia. Só tendo em linha de conta o líder, que procura levar uma organização ou instituição, num determinado sentido (visão), num ambiente de desacordo e explorando eventualidade e resol15

vendo problemas para alcançar determinados objetivos políticos, através de meios de coação, é que podemos considerar que estamos diante de um líder estratégico.

NOTA METODOLÓGICA Reconhecendo-se a importância do método para a consagração de trabalhos como científicos, serve esta nota metodológica para colocar o autor a par das formas de recolha e tratamento de informação utilizadas para a realização deste trabalho de investigação e exposição crítica. Assim evidenciamos os métodos utilizados e as técnicas preferidas para a concretização desta obra académica. O método utilizado será o qualitativo, sendo as técnicas de análise documental e de discurso as mais utilizadas. Pretende-se analisar discursos e artigos publicados do sujeito de investigação, Salazar, assim como cartas e declarações, feitas por pessoas próximas de si, que o caracterizem. Para além disto, também será feita uma pequena análise quantitativa, referente apenas aos dados económicos e financeiros do país, à data do final do período aqui estudado, a fim de analisar a eficácia, ou não da liderança de António Salazar.

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BIBLIOGRAFIA Antunes, J. F. (1993). Salazar e Caetano - Cartas Secretas 1932-1968. Lisboa: Círculo de Leitores. Bass, B. M., Avolio, B. J., Berson, Y., & Jung, C. I. (2003). Predicting Unit Performance by Assessing Transformational and Transactional Leardership. Journal of Applied Psychology, 88(2), pp. 207-218. doi:10.1037/0021-9010.88.2.207 Jesus, N. M. (2008). As Oposições ao Estado Novo entre 1926 e 1949 (Não editado ed.). Lisboa: Universidade Lusífona de Humanidades e Tecnologias. Lara, A. S. (2000). Colonização Moderna e Descolonização. Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Martins, N. F., & Duarte, A. P. (2010). A Primeira República e a Sustentabilidade das Finanças Públicas Portuguesas: Uma Análise Histórico-Económica. Encontro anual da Associação portuguesa de História Económica e Social . Lisboa: ISEG. Pinto, J. N. (1993). Salazar visto pelos seus próximos (1946-68). Venda Nova: Bertrand Editora. Porto Editora. (2003-2015). Artigos de Apoio: Oliveira Martins. (P. Editora, Editor) Obtido em 8 de Janeiro de 2015, de Infopédia: http://www.infopedia.pt/%oliveira-martins Ribeiro, A. S. (2010). Teoria Geral da Estratégia. Coimbra: Edições Almedina, SA. Ribeiro, A. S. (18 de Novembro de 2014). A função da Visão Estratégica. Aulas de Teoria Geral da Estratégia. Lisboa: Insituto Superior de Ciências Socais e Políticas. Rosinha, A. J., & Duarte, M. E. (2009). Liderança Transformacional e Trasaccional. Em A. J. Rosinha, & M. E. Duarte, Conhecimento tácito em contexto militar: inclusões na promoção do desenvolvimento de competências de comando (Não editado ed., pp. 6181). Lisboa: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação - UL. Ruiz, J. M. (1980). A independência brasileira e a sua repercussão no Portugal da época (1810-34). Análise Social, XVI(64), 779-795. Salazar, A. O. (1961). Discursos (1928-1934) (5ª ed., Vol. I). Coimbra: Coimbra Editora, Limitada. 17

Salazar, A. O. (1966). Antologia, discursos, entrevistas, artigos, testes, notas e relatórios 1909-1966. (M. D. Fonseca, Ed.) Coimbra: Coimbra Editora, Limitada. Telo, A. J. (1994). A obra financeira de Salazar: a "ditadura financeira como caminho para a unidade política, 1928-1932. Análise Social, XXIX (128)(4º), pp. 779-800.

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Anexos

ANEXO 1 A FUNÇÃO DA VISÃO ESTRATÉGICA Fonte: Adaptado de Ribeiro, A função da Visão Estratégica, 2014

ANEXO 2 RECEITAS E DESPESAS DO ESTADO EM PERCENTAGEM DO PIB, 1885-1936 Fonte: Martins & Duarte, 2010

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ANEXO 3 EVOLUÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA EM PERCENTAGEM DO PIB, 1885-1936 Fonte: Martins & Duarte, 2010

ANEXO 4 ÍNDICE DO PIB PORTUGUÊS A PREÇOS CONSTANTES, 1885-1936 (2000 = 1000) Fonte: Martins & Duarte, 2010 20

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