Saltos históricos qualitativos de governança e progresso social na América do Sul

July 14, 2017 | Autor: V. Silva Do Rego | Categoria: Populismos Latinoamericanos, Políticas Econômicas, Fenômenos Psicossociais
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AMÉRICA DO SUL GIRANDO com o Brasil. Volmer Silva do Rêgo ENSAIO CRÍTICO

Sem análise histórica e entendimento de dados socioeconômicos não há como entender o processo.

São Paulo, 19\04\2015

Repara bem. Torvelinhos noticiosos circulando por todos os lados estão dizendo que a América do Sul, tende, mais uma vez, a retomar o ciclo rotineiro das crises políticas e

econômicas que conformaram as repúblicas nascedouras dominadas por tiranetes e creolos oligarcas, desde antes de 1850 (à exceção do Brasil imperial), como se desta terra não

tirássemos, como um continente, a nossa sobrevivência até então e em crescente movimento,

esta que é terra de bravos e homens intrépidos, sempre às turras com as Instituições; este que é o Novo Mundo (não só os USA o são), lutando aguerridamente contra tudo de reacionário,

antigo e ultrapassado e que representa o velho mundo – leia-se hoje fascista e capitalista de exploração financeira ainda com viés colonial.

É inegável que os eventos cíclicos e críticos se devem à conformação histórica do continente

invadido definitivamente por hordas europeias a partir do século XV, logo após a decisão da igreja católica (resto do império romano de quem descende) efetivar bula papal que

confirmava a divisão das conquistas ultramarinas entre Espanha e Portugal. Assim como é inegável o desenvolvimento alcançado a duras penas nestes 500 anos (ainda que falsos experts

do desenvolvimento adorem fazer comparações esdrúxulas com Japão, Dinamarca, Noruega

etc.) O Brasil era (e é) tão grande e a tarefa de conquistá-lo tão difícil que os portugueses só se

interessaram – ou criaram coragem e reuniram recursos - pelo território cem anos depois de terem aqui chegado pela primeira vez. E só vieram porque outras coroas europeias estavam

extraindo daqui as riquezas que Dom João VI cria serem de Portugal por direito. França,

Holanda, Espanha, piratas ingleses e outros estavam levando algum ouro, pedras preciosas e

pau-brasil já havia anos. Não restou aos portugueses outra saída senão colonizar o país.

Surgiram as capitanias hereditárias e apesar dos contatos feitos com índios desde o século

anterior, no momento da chegada das primeiras naus ao litoral Sul da Bahia, os lusitanos não

encontraram facilidades para o trato da terra. Não havia mão de obra suficiente, outros

europeus pilhavam as riquezas do país, os indígenas não eram todos amigáveis, enfim, era

uma luta constante. Missionários jesuítas se juntaram às capitanias e utilizavam métodos de conquista baseados na confraternização pela educação antes de introduzir a espada e o

canhão pela necessidade. O que queriam desde sempre era tomar as terras, o ouro, as riquezas

da terra e levá-las para a metrópole. É uma idiotice pretender dizer o contrário, mas também é

certo que alguns tenham visto a possibilidade de aqui se firmar e erguer um novo patrimônio,

criar raízes afinal, apesar do desterro, da distância. Vieram para isso, conscientemente. Outros conquistadores eram mais ferozes e partiam em direção ao interior com grandes expedições

em busca de riquezas e escravos, e não se deixavam intimidar com flechas, tacapes, bordunas

e outros artefatos bélicos primitivos dos índios. Contra eles faziam guerras usando aço e pólvora e os capturavam aos montes. Dominados, escravizados, tudo o que estes moradores

naturais da terra queriam era uma chance para poder matar seu opressor branco e fugir de

volta para as matas, tabas e ocas, onde sempre viveram, não trabalhariam para brancos

violentos jamais. Alguns chegavam mesmo a querer comer-lhes as carnes. As tribos

localizadas na região Sul do atual estado do Espírito Santo eram famosas entre os primeiros portugueses que aqui viveram por seu apetite por carne humana. (1)

Estava claro que não serviam para o trabalho ao qual os portugueses se deram desde o início.

Tanto que as capitanias feneceram, uma a uma, restando apenas duas delas com capacidade organizada e administrativa de acordo com o plano inicial

(2). Ainda

assim alguns indígenas

mais calmos participaram ativamente destes processos colonizadores e a miscigenação foi inevitável em muitas situações, dada a proximidade e a convivência, à despeito das pregações

conservadoras e de ordem religiosa de que índios não tinham alma, não eram humanos, eram feras bravias etc. Obviamente, os caboclos, resultantes do cruzamento entre brancos e índios

eram colocados de lado e visto com desconfiança por ambos os lados; não aceitos pelos brancos por sua impureza racial, e, portanto, meros serviçais à serviço do senhor local, tanto

quanto não eram aceitos pelos indígenas pelas mesmas razões, além de serem mestiços

considerados traidores por venderem a alma ao demônio branco europeu ‘invasor’.

Entretanto, a necessidade e a dificuldade por encontrar mão de obra capaz e suficiente era

ainda constante e imperiosa, e sua ausência um empecilho para o arranque definitivo da “nova”

colônia. Foi então que se iniciaram as chegadas de escravos negros africanos, inaugurando um comércio intercontinental de grandes proporções e extremamente lucrativo.

(3)

Vários

entrepostos comerciais foram criados na África e o esquema da compra e venda de escravos

tomou vulto e subsistiu por séculos enriquecendo muitas pessoas. Europeus organizados e

bem equipados e também aventureiros ávidos por fortuna e bons negócios navegavam até as

costas atlânticas africanas, adquiriam escravos com outros europeus e negociantes negros e os

traziam como mercadoria para o Brasil, os levavam para as Antilhas e outras ilhas do Caribe e para a América do Norte. Espanhóis, portugueses e judeus sefarditas eram os principais donos

do negócio escravagista, mas havia acionistas italianos, franceses, ingleses, holandeses e outros em menor monta. Era um grande negócio (4).

Aqui os africanos, como na América Central e do Norte, trabalhavam a terra enquanto se esforçavam para manter as suas culturas de origem. Religião, cantos e danças, alimentação e

culinária, vestimentas, indumentárias do cotidiano etc, uma tradição que se perpetuou pela necessidade de afirmar a diferença. Sua capacidade de trabalho era reconhecidamente

superior à dos indígenas, e havia razões psicossociais para isto. Muitos sonhavam em reconquistar a liberdade, comprar uma passagem e retornar para seu continente, país e tribo

de origem. Muitos não aceitavam a escravidão, principalmente aqueles que foram trazidos já

na condição de escravos, que foram retirados à força de guerra, violentamente de suas tribos e

e separados de sua gente. Havia também aqueles que vieram ludibriados pelos comerciantes

escravagistas com a promessa de terra, trabalho e riqueza. Não vieram escravos, tornaram-se

aqui, após serem submetidos às péssimas condições de trabalho e de vida e perceberem a

enrascada em que se meteram. É provável que eles tivessem comprado as passagens, contraído dívidas e ao chegarem ao destino não teriam mais como voltar, limitando-se a

trabalhar sob qualquer condição para um senhor detentor de seus títulos a fim de renegociar a dívida e readquirir uma passagem de volta. Fim de um sonho. Não há registro histórico

aparente, mas algum negro africano melhor situado economicamente do que seus irmãos de

cor e continente deve ter pagado integralmente a passagem e embarcado na viagem rumo às Américas, ao Novo Mundo onde tudo era possível (as cartas dos escrivães portugueses

enviadas ao Rei, por exemplo, diziam maravilhas sobre um país enorme chamado Brasil e as notícias de riquezas sempre correram o mundo até “mesmo antes dos homens”), acreditando

ir para um país melhor e onde pudessem progredir, e quem sabe fazer fortuna e um dia

retornar rico para sua tribo, mas ao chegar aqui percebeu o engodo e sentiu-se traído). Assim

como devem existir documentos que mostrem que outros negros eram negociantes de seus

pares e cometeram as mesmas atrocidades que os brancos cometeram contra estes. Eram

negócios. A nossa história vai se contando aos poucos, e obviamente, há razões e interesses múltiplos e variados envolvidos nesta questão que não permitem a sua total elucidação. Ainda.

Trabalhar à terra invadida ou negociada com os índios pelos portugueses era uma tarefa árdua. Tudo tinha um preço e adquirir as ferramentas adequadas era por demais dificultoso. Era

mais fácil ser empregado, e com o tempo e o pagamento de seu salário poupado e acumulado –

se não fosse roubado antes - comprar uma enxada, uma foice, uns facões, quem sabe um

pedaço de terra e começar a sua própria plantação, montar uma pequena casa para morar, e muito torcer (rogar a todos os deuses de sua cultura e etnia) para não adoecer e para

amolecer o coração do feitor e de sua mão com a chibata; antes porém, ele tinha de pagar a dívida da viagem, tinha também de pagar a conta da comida diária, o alojamento, da roupa, dos remédios, cujos preços eram sempre reajustados ao sabor dos ventos e pelo humor do

proprietário da capitania, de tal sorte que dificilmente aquela seria paga, e se aquela o fosse

outra imediatamente a substituiria mantendo assim a sua condição de escravo devedor até o dia de sua morte, ou de sua fuga para um quilombo qualquer. Nem todos, contudo, tinham esta

disposição, esta paciência de aguardar um dia melhor. Aliás, é bom frisar, a esperança, era um

mal inventado e adotado como virtude teologal (junto com a fé a caridade) pela igreja católica

na idade média (século XI) para ser difundido entre os europeus, brancos pobres remanescentes do império romano decadente. Os africanos tinham outros deuses, outra ética,

outras religiões. Uns fugiam tão logo chegavam, outros arquitetavam silenciosamente com seus colegas de infortúnio planos de revoltas, sabotagens e fugas para os tais quilombos, onde

seriam livres novamente, sem um patrão branco a lhes molestar com chicotes e pelourinhos,

embora não mais em sua terra natal.) Para os que aceitaram a irremediável situação e não se

dispunham a lutar e/ou a correr o risco de morrer na luta ou no açoite - os feitores e capitães

do mato tinham armas de fogo, arcabuzes, bacamartes, espadas de ferro e o apoio de alguns

índios domésticos bons de flecha e rastreamento que facilitavam a recaptura de muitos fugidos – o negócio era ficar na senzala ou onde desse e aceitar a labuta, encarar o diabo, ‘os

tranca-caminhos’, e a sina do trabalho escravo. Cantar as suas músicas, fazer as suas orações e

os cultos aos seus deuses, fazer a sua comida, enfim, tudo o que pudesse manter a união dos

grupos e reforçar seus laços e lembranças – só tinham si mesmos. (5)

Ocorre que os negros trazidos nos navios negreiros eram originários de vários rincões da

África e, mesmo entre eles havia diferenças tribais marcantes, e ainda que essencialmente para muitos a religião e certas características linguísticas fossem bem parecidas a diversidade

cultural africana em muito supera diversos países europeus. Infelizmente carecemos de literatura nacional (em língua portuguesa) à respeito.

(6)

Aqui, apesar de tudo e sob tais

circunstâncias também foi possível a miscigenação, a mistura inter-racial. Brancos

portugueses e europeus de diversas origens e culturas com negros africanos de diversas tribos e culturas, geraram mulatos, e em menor monta, ou menos documentado por razões sócio-

históricas (índios e negros eram os seres inferiorizados na relação hierárquica com os brancos

dominantes, e ainda o são) as misturas entre negros com índios das diversas tribos que aqui

existiam há milênios geraram os cafuzos, além dos brancos com índios que geraram os chamados de mamelucos, e, possivelmente, do resultado destes com negros e vice-e-versa.

A sequência histórica e o caldo social formado a partir de tais ocorrências constantes e o

desenvolvimento das colônias sul-americanas, das imposições e as negociações constantes em níveis diversos entre os povos que aqui vieram habitar, com os que já aqui habitavam a terra,

formaram após dois séculos e meio de acertos e erros, mandos e desmandos, classes sociais

bastante distintas, dentre as quais sobrepunham-se umas às outras, aquelas que de um lado

detinham a riqueza em parte trazida (recebida) da corte ou metrópole, e aqui

adquirida/aumentada pela força, usurpação ou negociação, os que vieram de fora e se

impuseram sobre os nativos, seguidos de uma sequência de categorias de serviçais brancos que negociavam diretamente com negros e os frequentavam, com trânsito razoavelmente livre

entre os escravos da casa e da senzala, escravos da cidade e negros livres, com os índios da

cidade já catequizados, e os índios não ‘civilizados’, e talvez com os mestiços de forma mais

militarizada, com a rudeza comum entre os que se odeiam de alguma forma, todos sob um rígido manto de regras e leis acordadas e mantidas à ferro e fogo com a coroa, a igreja e os fiscais do reino aqui presentes, ainda que vez ou outra a distância entre os dois continentes e o tempo facilitassem tomadas de decisões à revelia do gosto real, e o descumprimento de várias regras que perdem o valor ou entram em desuso pelas mesmas razões.

(7)

Abaixo destas camadas os negros fugidos, os índios rebelados, os mestiços abandonados e

brancos aventureiros livres, todos sentindo-se distantes o suficiente das forças do rei para nada lhes dever sob hipótese alguma. Ainda assim, os que não viviam sob a tutela do rei ou

dos administradores da cidade tinham de negociar ente si e novas regras e modos específicos eram criados, evoluíam e tornavam-se as vias naturais das negociações, às vezes de forma

bastante diferenciada daquelas praticadas pelo aglomerado civilizatório crescente e mantido

pela coroa, causa de espanto e horror aos feitores, meirinhos, oficiais e cobradores do reino.

Era de se esperar o surgimento de lideranças, e a capacidade organizacional, administrativa e

de aglutinação que detinham com o tempo se fez notar e o sentido de independência em relação à coroa ganhava espaço, lugar e cada vez mais importância nas mentes destas pessoas.

A coroa, suas leis e seu pessoal eram um problema para os seus negócios, assim como eles

eram um problema para os negócios da coroa. Ferro e fogo, portanto, marcavam os limites

desta relação: de um lado mais armas, mais soldados, mais repressão, e de outro mais rebeldia, mais resistência, mais inteligência e mais estratégias para se manter sempre em fuga, sempre

escondidos, sempre distantes e sempre em ação, a um passo à frente contra as forças

dominantes. Mas, a vida não é uma linha reta e nem todas as lógicas orientam-se para um

mesmo resultado, que se espera racionalmente. A cidade se encantava com a liberdade dos

rebeldes e suas façanhas novelísticas e romanceadas, só a riqueza acumulada pela exploração

constante de suas fontes de renda (a escravidão, por exemplo) seria capaz de produzir um tempo de ócio em que uma cultura florescesse capaz de revelar novelas, contos, romances, escrita e descritivos floreados que ao mesmo tempo exercia sobre alguns destes rebeldes um certo fascínio e os atraía, dada a sua organização, os seus modos corteses, seu

desenvolvimento ordenado e a riqueza mantida graças à proximidade com a metrópole e a coroa. E desta forma novos negócios surgiam, evoluíam e procuravam se estabelecer. De José de Alencar a Lima Barreto, há uma enormidade descritiva do tipo brasileiro, em prosa ou

poesia, ora romanceado, ora realista, desfilam aos nossos olhos milhares destes personagens anônimos ou conhecidos da nossa história. (8)

O jogo expresso nas contradições deste imenso tabuleiro desenvolveu-se ainda mais e criou

diversas correlações de forças. No Novo Mundo tudo o que pudesse trazer de volta costumes e

regras abandonadas no velho mundo mereceria críticas, revisões e quiçá abandono. Destas

suspeições e modus operandi surgiram no expoente do poder várias tiranias sequenciais e

libertárias, enquanto e durante a formação, reformulação e afirmação do status republicano

que atualmente orienta o Brasil, a América do Sul e a Latina, e a serviço desde sempre do

grande capital internacional, das suas indústrias de extração de recursos minerais e

exploração de mão-de-obra barata, aliadas às elites locais (banqueiros, empresariado

industrial, latifundiários e fazendeiros – agronegócio - mídia, militares, intelectuais, igreja, e a

nova burguesia de serviços), acostumados à vassalagem, ao ganho fácil com o comércio sem

regras e de povo simples, submetido ao gosto dos oligarcas e fazendeiros donos de terras que ditam regras.

Este período de 'vampiragem' das elites econômicas e intelectuais, no entanto, sempre provocou nas mentes mais esclarecidas sentimentos de horror, de revolta, e produziu poetas, cantadores, romancistas e panfletários gritando contra o status quo, colocando-se na

vanguarda do pensamento revolucionário, instigando as pessoas a buscarem novos rumos, novas correlações de força e quebrar as cadeias da dominação secular, colonial, cruel. (9)

Este processo avassalador de exploração deu mostras de algum declínio com o surgimento de

programas políticos mais populares e progressistas, com o apoio de parte da população

(geralmente, e até então, mantida em baixo nível crítico e com pouca capacidade de entendimento), e que atendem de forma sistemática parte das demandas básicas reprimidas

das sociedades em questão, cujos ecos remontam já aos fins da segunda metade do século XX e início do XXI. A formação de um patrimônio eleitoral capaz de durar algumas dezenas de anos,

garantindo o poder e concentrando-o num grupo ordenado de inteligências argutas faz a

delícia de toda a ordenação política que se possa imaginar. Por isso e para isso se organizaram

e surgiram. Seu legado, queriam ou não os historiadores e críticos de plantão, foram

conquistas efetivas utilizando o aparelho de estado sem prescindir dos incentivos aos investimentos de setores privados (em parte estrangeiros), apostas que podem sofrer uma

inversão e recrudescer, posto que ainda e atualmente se luta contra as ramificações mais

mesquinhas de elites conservadoras e subservientes, incrustadas no poder e presas nas mãos de muitos contrários. Um fenômeno que deram rapidamente de chamar de populismo (pela

ação e intelligentsia de acadêmicos naturais e de fora, interessados em deixar tudo como

sempre esteve, qual seja, imersos no abandono que servia de fonte de renda para oportunistas

de toda ordem), que embora não seja o ideal, foi o movimento, a expressão natural (claro que

alguém pensou muito nisso) e a única opção que se colocou à mesa (ou isso ou a eterna

submissão) que se opôs às constantes e duradouras investidas dos grupos internacionais de exploração com anuência das elites locais, e que, atualmente, ganhou o nome de globalização,

factóide que logrou vulto e manchete (de fato, na mais que corporações transnacionais

operando a partir de suas bases locais a exploração de recursos e mão de obra em diversas regiões do planeta aliadas aos grandes especuladores financeiros com muita tecnologia e

poder de barganha). (10)

A História e as análises de estudiosos, da Sociologia à Filosofia Política, a partir de dados

oficiais, tem demonstrado que o vai e vem, a oscilação e a inconstância político-econômica da

região são mais um fruto amargo do intervencionismo externo das grandes potências que

geram tensões e delírios entre as elites ao prometer-lhes mundos e fundos ligados aos acordos

comerciais realizáveis, do que da propalada incompetência ou corrupção endêmica (mal

comum entre as diversas formas de poder, mas que faz a delícia suprema das fontes

emissoras/criadoras de informações/opiniões – mídia oficial - dominadas por uma dúzia de

famílias e apaniguados, um pouco mais, em todo o hemisfério). Qualquer análise superficial

em órgãos sérios pode confirmar estas informações. E isto só é possível pela involução

burguesa aprovada e gerida pela nossa sociedade estratificada em modelos e de mentalidade comercial desde a época colonial.

É notória a debilidade continental, e sua momentânea incapacidade de erguer-se ao patamar exigido pelas nações mais poderosas, num padrão artificial imposto e utilizado como

propaganda negativa e comparativa (a pretender que o cavalo seja capaz de carregar mais peso que o elefante, e que, por não fazê-lo merecesse o descrédito e o achincalhamento como

castigo), não por inexistirem aqui as condições necessárias e suficientes para tanto. É risível

que alguma inteligência nacional defenda e teça as comparações oferecidas sem crítica. A

título de informação apenas, há sim, em todo o território brasileiro e sul-americano recursos

de toda a ordem, e são quase ilimitados, bastando para isso gerenciamento e inteligência local

- um projeto país, no caso do Brasil - que os façam retornar num primeiro momento toda a

riqueza para o mercado interno, e os recursos energéticos e minerais excedentes a serem

comercializados sob novos contratos impliquem na obtenção do know how – joint ventures - a fomentar fundamentalmente a Educação com vistas ao desenvolvimento científico e

tecnológico, atributos e investimentos que se vem demonstrando repetidas vezes nos últimos

30 anos em diversas cadeias produtivas e geração de riquezas e divisas. É inegável as

alterações do quadro do desenvolvimento social alcançado, através de programas de combate à pobreza, de geração de empregos, de acesso ao crédito e melhor distribuição de renda, do

acesso à educação em diversos níveis, do aprimoramento da saúde pública, dos investimentos em infraestrutura e no fortalecimento do mercado interno capaz de gerar divisas e esteio

(vejam as arrecadações, os níveis de exportação de alimentos e commodities – ainda dentro do

modelo puramente comercial, é certo, de extração e venda de matéria prima bruta – em que pesem as constantes evoluções em seus modelos extrativistas usando tecnologia de ponta,

além dos reiterados PIBs – todos apontando saldos positivos.) Comparem os déficits das balanças comerciais, o que entra e sai, e os saldos do país nestas 3 últimas décadas,

contabilizando os indefectíveis superávits primários, mordida contumaz dos credores internos e externos. Reflitam sobre as fontes de energia, renováveis ou não, da extração de

petróleo e a descoberta do pré-sal (em território marítimo nacional) levando as nossas empresas e às internacionais envolvidas no sistema produtivo de energia fóssil e suas cadeias subsequentes a desenvolverem plantas de negócios e tecnologia avançada capazes de fazer

frente aos padrões internacionais estabelecidos, inclusive abalando-os e provocando reações colossais a ponto de expor o país a uma crise institucional (lobistas em ação e gente que

perdeu eleições e lugares marcados nas mesas de negócios e contraíram dívidas com credores e investidores), estudem a paulatina substituição do café, como a commodity agrícola da

primeira fase de matriz comercial no país ainda colônia e após a independência, e sua substituição já na nossa incipiente industrialização pela soja, e a atual e consequente

ampliação da margem fértil de terras agricultáveis em direção ao interior do país, chegando mesmo a provocar danos ao patrimônio ecológico, e atraindo críticas de todos os lados.

Tais indicadores e números se não ofuscam a promessa e o desejo dos economistas e analistas do crescimento e da competitividade, os ultrapassa, ainda minimamente, é certo, ou os acompanha em suas margens lado a lado, mas a 'indústria' dos ansiosos e suas falácias cheias

de “dados estatísticos” forjados em suas academias de sonhos, descontentamento, pesadelos e ilusões, aqui e lá fora, trabalha sem precisar respirar para satisfazer-lhes as entranhas

doentias e dos clubes de especuladores, como se fôssemos obrigados por uma força e dinâmica divinas a sermos os primeiros e melhores em apenas 127 anos de república, se tanto

(minha bisavó teria hoje esta idade se estivesse viva.) Eles que existem já há mil anos, elo

menos, organizados, imperialistas, invasores, colonizadores, e com várias testas de ferro vestidos de verde e amarelo aqui colocadas para jogarem a seu favor.

REFERÊNCIAS – 1- Staden, Hans. Viagem ao Brasil. Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Letras, 1988. 2 - Fausto, Boris – História do Brasil – EDUSP – 1994.

(Obs.: Se possível, a título de orientação histórica, ver as relações e as diferenças existentes

com as 13 colônias norte-americanas que buscaram após um século de exploração a sua

liberdade em relação à metrópole e coroa inglesa. As 13 colônias - federados).

3 – Vainfas, Ronaldo - Sefardismo africano no século XVII - Universidade Federal Fluminense. Em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0002-05912013000100010&script=sci_arttext (19\06\2015) 4 – Albuquerque, Roberto Chacon - A Cia. Das índias Ocidentais - Revista da USP 2010 Em: http://www.revistas.usp.br/rfdusp/article/viewFile/67891/70499 (19\06\2015).

5 - Prandi, Reginaldo - Herdeiras do Axé - São Paulo, Hucitec, 1997, páginas 1-50.

6 – Países de onde vieram negros escravos para o Brasil Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Com%C3%A9rcio_atl%C3%A2ntico_de_escravos (19\06\2015)

7 - Ribeiro, Darcy – O povo brasileiro – A formação e o sentido do Brasil – Cia das letras, 2001.

8 - Bosi, Alfredo – Dialética da Colonização – Cia das Letras, 1993 (2ª edição)

9 – Delgado, Zilda Castro - Aportes del pensamiento estratégico de Bolívar y Martí al proceso de integración latinoamericana y caribeña. 2013 - Universidad de Costa Rica Em: http://catedramarti.srp.ucr.ac.cr/ponentex-pdf/texponen31.pdf

10 - Chesnais, François - A globalização e o curso do capitalismo de fim-de-século – Artigo em:

http://www.eco.unicamp.br/docdownload/publicacoes/instituto/revistas/economia-esociedade/V4-F2-S5/01-CHESNAI5.pdf (19\06\2015)

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