Sambaqui do Tromomo: uma visão ambiental

July 6, 2017 | Autor: C. Parellada | Categoria: Sambaqui Archaeology, Arqueología, Arqueologia, Arqueología del Paisaje, Shellmound
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PARELLADA, C.I.; COLLA, T.G.; SANTA CRUZ, D.A. 1992. Sambaqui do Tromomo: uma visão ambiental. Boletim de Resumos Expandidos do 37 Congresso Brasileiro de Geologia. São Paulo: SBG- SP. p. 86.

SAMBAQUI DO TROMOMO: UMA VISÃO AMBIENTAL Claudia Inês Parellada*, Tayne Graciela Colla, Débora Arruda Santa Cruz *Museu Paranaense/ Seção de Arqueologia O Museu Paranaense vem realizando desde 1987 o projeto de caracterização de sambaquis por análise ambiental e fotointerpretativa na Baía de Guaraqueçaba, litoral norte do Paraná. Os objetivos principais são a reconstituição do paleoambiente de algumas áreas previamente selecionadas, caracterizando os fatores que determinaram o assentamento de populações pré-históricas e históricas naqueles locais; a caracterização dos processos ambientais que aconteceram durante e após as ocupações destas áreas, além da definição das melhores técnicas para se realizar futuras escavações nestes sambaquis já parcialmente destruídos. Neste trabalho abordar-se-á o sambaqui do Tromomo, representado por uma ilha coberta por capoeirão e circundada por manguezais, aituado a 500 metros a oeste da comunidade de Tromomo, município de Guaraqueçaba- PR. Este sambaqui vem sendo erodido em todo o seu redor pela ação das marés e atualmente tem as seguintes dimensões: 21 x 16m, e altura máxima de 3,20m. O limite do primeiro nível de ocupação por populações pré-históricas e o embasamento geológico situase a 1,50m abaixo do nível médio do mar, sendo que o embasamento deste sambaqui é composto de sedimentos argilo-arenosos cinza esverdeados escuros. Para ser executada esta pesquisa fez-se um levantamento bibliográfico de aspectos arqueológicos e ambientais, a análise interpretativa de fotos aéreas com escala 1:25.000 (1980), e em campo a descrição de 7 perfis estratigráficos, e

uma quadra no centro do sambaqui, coletando-se amostras das diversas camadas de cada perfil para a análise da sua composição sedimentológica, cultural, faunística e florística. Paralelamente ao estudo arqueológico realizou-se análise micro-ambiental relacionada ao sambaqui estudado, com um mapeamento geológico, faunístico (invertebrados) e florístico. Nos perfis A, B, C, D e G, localizados nos lados sul e leste do sambaqui, pode ser observada uma maior quantidade de níveis estratigráficos, de composição heterogênea e muito lenticularizados. Nestes perfis ocorrem predominantemente camadas formadas por sedimentos argilo-arenosos cinza esverdeados e valvas fragmentadas do molusco Mytella sp, e algumas dispersas de Crassostrea sp. Secundariamente foram registrados níveis orgânicos, com fragmentos de carvão e coquinhos associados a restos ósseos de animais, predominando a fauna ictiológica. Em cada um dos perfis ocorre pelo menos 3 níveis com concentração de valvas de Crassostrea sp, nos quais estão associados sepultamentos humanos. Junto ao perfil A, a 1,10m de profundidade em relação à superfície do sambaqui foi retirado um crânio de esqueleto feminino, que estava sendo desagregado pela maré. O crânio estava deformado pelo peso das camadas superiores, e ao lado haviam fragmentos de limonita, com 3cm de diâmetro, além de 2 valvas de Amiantis purpurata, bivalvos que somente foram observados neste ponto do sítio

PARELLADA, C.I.; COLLA, T.G.; SANTA CRUZ, D.A. 1992. Sambaqui do Tromomo: uma visão ambiental. Boletim de Resumos Expandidos do 37 Congresso Brasileiro de Geologia. São Paulo: SBG- SP. p. 87.

arqueológico. O esqueleto prolongava-se em direção ao centro do sambaqui e estva em posição fletida, e sobre estes ossos humanos havia um nítido nível de carvão. Nos perfis E e F, situados nas porções norte e oeste do sambaqui, ocorrem apenas 4 camadas com espessura de até 40cm, compostos de sedimentos argilo-arenosos, muito orgânicos, com coloração cinza escura a negra, e havendo predominantemente valvas de Crassostrea sp, seguida de fragmentos de Mytella sp, com raros ossos de mamíferos, peixes e aves. Esta parte do sambaqui é a menos erodida, e apresenta uma maior homogeneização das camadas, originadas pelo retrabalhamento dos níveis superiores deste sítio arqueológico. Já, nos lados sul e leste, onde o canal do rio Tromomo acentuou o processo erosivo, estão aflorando áreas centrais do sambaqui. Estas áreas foram provavelmente os locais de preparo de alimento e habitação, pois há concentração de estruturas com fogueiras e sepultamentos humanos, além de grande quantidade e diversidade de sedimentos e restos alimentares. O início da formação do sambaqui deu-se em nível marinho menor que o atual, cerca de 2 a 3m, pois o limite do embasamento geológico com o primeiro nível de ocupação situase a 1,5m abaixo do nível médio do mar. Acredita-se que houve uma pequena compactação da base devido o peso do sambaqui, porém não suficiente para caracterizar que no início da construção do sítio o nível do mar fosse igual ou superior ao atual. Os primeiros níveis de ocupação deram-se provavelmente em período transgressivo, devido a presença de valvas de molus-cos como a Mytella sp e a Crassostrea sp, que tem como substrato sedimentos argilosos e areno-argilosos. A curva média de oscilação marinha durante os últimos sete mil anos no Paraná, segundo Martin et al. (1988), indica que o nível marinho encontrava-se abaixo do atual, em período transgres-sivo, em aproximadamente 3.800 anos AP e 2700 anos AP.

Os sedimentos que ocorrem junto as camadas originaram-se da transformação de material orgânico proveniente de restos alimentares e de habitações, além de sedimentos trazidos junto com as conchas dos moluscos na época das ocupações humanas e por material depositado pela oscilação do nível marinho. Atualmente não se observam nas proximidades do sambaqui bancos de moluscos, e mesmo peixes são bastante escassos, uma das justificativas destes fatos seria a baixa salinidade da água naquele local, que é 7%, tanto na maré alta como na baixa. Apesar disso, os peixes identificados por otólitos, que faziam parte da dieta alimentar dos sambaquieiros do Tromomo eram principalmente o Genidens genidens, o bagre pararê, e o Netuma barba, ou bagre-branco, que são peixes típicos de ambiente estuarino. Também deve ser destacado que na praia de retrabalhamento do sambaqui, que aparece na maré baixa, é imensa a quantidade de ossos humanos e de animais, além de vértebras de peixe trabalhadas ou não, e de valvas de moluscos, como a Mytella sp e a Crassostrea sp. O material lítico encontrado são poucas lascas e raspadores de quartzito, quartzo leitoso e migmatito, que se apresentam sob a forma de seixos e blocos no continente, a cerca de 500m da ilha-sambaqui.

Referências

MARTIN, L.; SUGUIO, K.; FLEXOR, J.M.; AZEVEDO, A.E.G. 1988. Mapa geológico do quaternário costeiro dos estados do Paraná e Santa Catarina, com texto explicativo. Brasília: DNPM, série geol. Bás. 18. 40pág.

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