Samora Feminista: o que se cala quando se fala do feminismo em Moçambique.
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Dulce Maria Passades Pereira1 Samora Feminista: o que se cala quando se fala do feminismo em Moçambique. A partir da bandeira ideológica e pragmática da FRELIMO, liderada por Samora Machel, sobre a emancipação da mulher moçambicana na década 60 e 70, discuto a de-construção do conceito género como uma construção (bio)sociaocultural da identidade comportamental das mulheres e dos homens no quotidiano social nos espaços privados e públicos, por um lado, e problematizo o conceito samoriano da emancipação. Neste contexto, a questão central é: falamos da emancipação da mulher nos espaços privados e públicos, ou simplesmente no espaço público? Discussões o processo de descolonização de Moçambique, o projecto de unidade nacional trouxeram igualmente a exigência de avaliar o impacto e a força dos debates teóricos contemporâneos incluindo narrativas e representações sociais sobre o feminismo e sobre o papel da mulher na construção do ‘novo’ Moçambique. Abordagens teóricas glocais como etnofeminismo, etnogénero, re-significar, de-construir, saberes locais, fazem parte dos discursos contemporâneos sobre o feminismo, género e mulher têm sido amplamente produzidas e debatidas em Moçambique por vários actores e instituições sociais, tais como, as agências das nações unidas, ONGs locais e internacionais, instituições bilaterais e escolas de pensamento. Estas reflexões, muitas vezes apresentadas como produtos e globalmente produzidos, são localmente propostos como sistemas cosmológicos de parâmetros de estruturação da sociedade. E este não é um movimento exclusivo a Moçambique, diversos países de mundo embarcam pela mesma senda mesclando perspectivas e realidades discursivas que buscam instituir novas formas de ser e expressar a existência do indivíduo e firmar representações sobre o feminismo. Os discursos e narrativas sobre feminismo e género que perpassam o imaginário moçambicano, estão amplamente carregados de abordagens pré-critivas centradas em aspirações transformistas. Aspirações de transformar a sociedade, de converter valores e dar novos sentidos as relações entre mulheres e homens. Em nome do projecto ‘unidade nacional’ surgem práticas quotidianas ligadas a falta de coesão e união entre ao diversificado campo de saberes locais, conhecimentos locais, línguas locais e posturas identitárias locais. Com base na visão samoriana sobre as mulheres, a comunicação irá analisar os discursos feministas hegemónicos que promovem a ideia de direitos/ igualdades de género, rastrear e compreender as práticas quotidianas que concorrem para legitimação de certas práticas, estereótipos e representações, que definem e caracterizam o papel das mulheres. Introdução A partir da bandeira ideológica e pragmática da FRELIMO, liderada por Samora Machel, sobre a emancipação da mulher moçambicana na década 60 e 70, discuto a de-construção do conceito género como uma construção (bio)sociocultural da identidade comportamental das mulheres e dos homens no quotidiano social nos espaços privados e públicos. Permitam-me começar a minha comunicação falando das pontes entre o feminismo e o género. No que se refere ao conceito de feminismo é um movimento ideológico, social, cultural, científico, espiritual, académico e sobretudo, político que visa a igualdade e a equidade nas 1
Docente da Universidade Pedagógica- Delegação de Quelimane Comunicação feita no Seminário Provincial do Movimento de Resinificação de Pátria, Identidade Nacional e Cidadania- Matola- Novembro de 2016. Documento ainda em por terminar
oportunidades entre as mulheres e os homens, ou seja, um feminismo virado para os direitos humanos das mulheres e dos homens. No que respeita ao conceito de género, é um produto de construção psicossocial, com aspectos que socialmente fazem uma mulher e um homem. Porque os conceitos não estão parados no tempo epistémico, aparecem categorias como re-significação, de-construção, desnaturalização do conceito de género, pois a ideologia filosófica existencialista da Simone de Beauvoir não deve ser assumida de forma linear na totalidade no contexto moçambicano, visto que o processo de construção comportamental, social e cultural do sexo social deve ser imbuído do contexto local, com as representações sociais, porém sem deixar de lado a abordagem glocal. Abordagens teóricas glocais a mulher têm sido amplamente produzidas e debatidas em Moçambique por vários actores e instituições sociais, tais como, as agências das nações unidas, ONGs locais e internacionais, instituições bilaterais e escolas de pensamento. Neste processo da glocalidade, da construção de um saber paralelo, que poderíamos chamar de epistemologias de sul2 no campo da construção comportamental, social e cultural do sexo social, apresento os conceitos de etnofeminismo e etnogénero, onde etnofeminismo estaria mais próximo a ideologia social, cultural, política, académica e espiritual na igualdade e equidade entre as mulheres e homens dentro de um determinado evento e contexto social, que é caracterizado pelo falas, narrativas, discurso, preconceitos, formas de pensamentos e formas de comunicação sobre o que é ser mulher e o que é ser homens, ou seja, um conjunto de representações sociais e culturas sobre a cidadania, a identidade, os valores das mulheres e dos homens. Enquanto que o conceito de etnogénero vem como uma forma de desconstrução e resignificação do papel da mulher e do homem na realidade social concreta, ou seja, o feminismo ocidental pode não ter enquadramento no feminismo e sobretudo no quotidiano das mulheres e dos homens do sul global. Aqui, forjo o conceito de etnogénero no qual género é a construção (bio)social da identidade comportamental das mulheres e dos homens no quotidiano social nos espaços privados e públicos. Evoco o campo da Psicologia Social, particularmente a Teoria das Representações Sociais (culturais), para o campo de reflexão de feminismo e género.
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Conceito forjado por Boaventura de Sousa Santos. Comunicação feita no Seminário Provincial do Movimento de Resinificação de Pátria, Identidade Nacional e Cidadania- Matola- Novembro de 2016. Documento ainda em por terminar
Porque um pensamento samoriano feminista no século XX? Permitam-me falar do papel e da relevância de Samora Moisés Machel na luta pela emancipação da mulher. Samora Machel destacou-se internacionalmente pelo seu engajamento na libertação do país de nome Moçambique e dos países irmãos. ‘Existem duas bandeiras ou cavalos de batalha que naturalmente são relacionadas a figura ideológica do Samora Machel, a saber, educação e saúde, com a vossa permissão, ouso defender que a bandeira das mulheres deveria ser agregada ao terceiro elemento que caracteriza a ideologia samoriana’. Importar frisar que o engajamento ideológico samoriano não foi um evento isolado da época, pois, decorria em paralelo o processo da consolidação do feminismo ocidental, por um lado, e a consolidaria precoce do feminismo em alguns países africanos, que per si começa pela luta ao direito ao voto pelas mulheres, o que chama atenção ao ocidente da época, há existência de um africano, um moçambicano revolucionário engajado com a emancipação das mulheres. Ainda, no que toca às ideias emancipatórias de Samora Machel, faço referência da 1ª Conferência da OMM em Março de 1973, como a minha tese, ou melhor, o meu cavalo de batalha nesta comunicação, em que o primeiro Presidente da República Popular de Moçambique destacou a importância da emancipação da mulher, com a seguinte citação: “A libertação (mental, social, espiritual, educacional, política, académica3) da Mulher é uma necessidade fundamental da revolução, garantia da sua continuidade, continuação do seu triunfo…. A emancipação da mulher não é um acto de caridade, não resulta de um acto de caridade e de compaixão, A revolução tem por objectivo essencial a destruição do sistema de exploração a construção duma sociedade libertadora… É neste contexto que surge a questão da emancipação da mulher”
Neste contexto coloco a seguinte questão central é: falamos da emancipação da mulher nos espaços privados e públicos, ou simplesmente no espaço público? Discussões o processo de descolonização de Moçambique, o projecto de unidade nacional trouxeram igualmente a exigência de avaliar o impacto e a força dos debates teóricos contemporâneos incluindo narrativas e representações sociais sobre o feminismo e sobre o papel da mulher na construção do ‘novo’ Moçambique, na construção do ‘homem novo’, ou 3
Acrescimos da autora. Comunicação feita no Seminário Provincial do Movimento de Resinificação de Pátria, Identidade Nacional e Cidadania- Matola- Novembro de 2016. Documento ainda em por terminar
seja, qual foi o contributo das mulheres na construção do moçambique novo e na construção do homem novo no contexto do projecto da unidade nacional? Procurando ilustrar as desigualdades de género decorrentes das representações sociais, existem mitos sobre o papel da mulher e do homem, a saber, a mulher é tido como a detentora do espaço privado (casa) e o homem é tido como o detentor do espaço público (trabalho) e como pontos de reflexão, sugiro que se reflicta em quatro vertentes: A incorporação da ideologia samoriana nos saberes e conteúdos locais sobre a emancipação da mulher (nas três dimensões curriculares, oficial, local e oculto); Ideologia samorina sobre o papel e o lugar na mulher na sociedade (espaço privado e espaço privado), ou seja, os desafios da emancipação privada versus emancipação socia, política, pública; Ideologia samoriana sobre a mulher na actulidade, realidade ou utopia? Como se re-significar a mentalidade e o comportamento social em relação a emancipação glocal da mulher? Minhas senhoras e meus senhores, permitam-me enquadrar o engajamento ideológico e político samoriano no século XX, e juntos vamos olhar para o cenário das mulheres no século XXI, numa fase pós-samoriana. Aprendi desde cedo na escola primária que a mulher era o celeiro da família, que ideologia estava por detrás desta frase? Identidade feminina versus identidade masculina nos espaços de poder público, exemplo da Sra. Ministro, ou seja, a Sra. Ministra na época pela conjuntura estrutural, tinha uma identidade de Sr. Ministro e não gostava de ser trata do Sra. Ministra, mas sim de Sra. Ministro;
Em 2014 nos bastidores informais e formais políticos surge uma rapariga moçambicana que sonhava em ser presidente ou seja “ era uma vez, uma rapariga que queria ser presidente num país de nome Moçambique”, fenómeno (a)normal!
Comunicação feita no Seminário Provincial do Movimento de Resinificação de Pátria, Identidade Nacional e Cidadania- Matola- Novembro de 2016. Documento ainda em por terminar
Em 2014, ainda nos meandros dos bastidores políticos, quando uma outra rapariga ousa em se apresentar como umas das candidatas, entre outras candidatas e candidatos a presidente de um concelho municipal, surge a celebre expressão “DHABUNO
MUTHABWA4”; Em 2014, académico e pensador de renome (inter)nacional da o seguinte exemplo generalizado e linear da sua obra, recém lancada, quando este falava da influencia dos media na sociedade, ‘toda mulher moçambicana que se respeite, tem uma sapatos de alto fino brasileiro e uma bolsa cavalinho’, será verdade? Preciso destes artefactos para ser respeitada?
Vivemos numa sociedade onde as instituições pública quando convidam as mulheres para os debates públicos, o fazem legitimando a figura das mamas nos espaços públicos, exemplo: as mamas da educação nas reflexões em torna da educação moçambicana; A nomeação de jovens dirigentes coloca a sociedade em sobressaltos, porque será?
O ciber-intelectual comentando a nomeação da actual Ministra de Educação e Desenvolvimento Humano a caracteriza de “ uma verdadeira mãe educadora”; Assistimos o processo de representação social das mulheres e dos homens nos media, e quando o debate é a questão das mulheres nos cargos de tomada de decisão, sempre surge uma voz que diz, não é só género, é também competências, querem dizer os ciberintelectuais e os jornalistas que as mulheres não são capazes?
Assistimos na casa do povo pronunciamentos ligados ao requisito sexo biológico e não ligados ao sexo social das mulheres, ou seja, as inteligências e competências das mulheres são invisíveis;
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‘Vocês “mulheres” agora estão a piorar’ na tradução literal. Vide DHABUNO MUTHABWA:(re)definindo o papel das
mulheres no campo político “As donas da Zambézia, as donas da campanha, as donas das eleições! E donas do pós-15 de Outubro?” Comunicação feita no Seminário Provincial do Movimento de Resinificação de Pátria, Identidade Nacional e Cidadania- Matola- Novembro de 2016. Documento ainda em por terminar
Em 2016, vivemos o fenómeno candidatos versus candidatos na eleição de individualidades para o cargo de reitor da Universidade Pedagógica;
Porque é que quando falamos e pensamos as mulheres nos espaços públicos associamos e reduzimo-la ao sexo biológico e não ao sexo social? Porque é desafiante para a sociedade olhar e aceitar as competências e inteligências das mulheres? Minhas senhoras e meus senhores, muito obrigada a todas e a todos, ‘A LUTA CONTINUA’
Comunicação feita no Seminário Provincial do Movimento de Resinificação de Pátria, Identidade Nacional e Cidadania- Matola- Novembro de 2016. Documento ainda em por terminar
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