Sarcocystis Neurona Associado À Mieloencefalite Protozoária Eqüina Em Pirenópolis-Go: Relato De Caso

June 1, 2017 | Autor: Lea Moura | Categoria: Parasite
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Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde ISSN: 1415-6938 [email protected] Universidade Anhanguera Brasil

Resende Moura, Léa; Júnior, Arthur Francisco; Trevisan Orpinelli, Stiwens R.; Silva Francisco, Manoel Marcelo da; Coelho, Humberto Eustáquio SARCOCYSTIS NEURONA ASSOCIADO À MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQÜINA EM PIRENÓPOLIS-GO: RELATO DE CASO Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. XII, núm. 2, 2008, pp. 139-149 Universidade Anhanguera Campo Grande, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=26012841012

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Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde V. XII, Nº. 2, Ano 2008

SARCOCYSTIS NEURONA ASSOCIADO À MIELOENCEFALITE PROTOZOÁRIA EQÜINA EM PIRENÓPOLIS-GO: RELATO DE CASO

RESUMO Léa Resende Moura Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected]

Arthur Francisco Júnior Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected]

Stiwens R. Trevisan Orpinelli Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected]

Manoel Marcelo da Silva Francisco Faculdade Anhanguera de Anápolis [email protected]

A mieloencefalite protozoária eqüina (MPE) é uma grave enfermidade neurológica de eqüinos, causada principalmente pelo protozoário Sarcocystis neurona, caracterizada por alteração na marcha, ataxia assimétrica dos membros posteriores, paralisia facial, fraqueza e atrofia muscular. É transmitida por gambás do gênero Didelphis que se infectam pela ingestão de tecido muscular que contém sarcocistos provenientes de um hospedeiro intermediário infectado. Os eqüinos adquirem a doença acidentalmente quando comem alimentos contaminados com fezes de gambás, que possuem esporocistos infectantes. Depois de ingeridos, os esporocistos migram do trato intestinal para a corrente sanguínea, ultrapassam a barreira hematoencefálica e atacam o sistema nervoso central. O objetivo foi relatar um caso de mieloencefalite protozoária eqüina no município de Pirenópolis, Estado de Goiás. O diagnóstico baseou-se nos sinais clínicos, achados anátomo-patológicos e no resultado positivo para anticorpos contra Sarcocystis neurona no soro sanguíneo pela técnica de Western blot. Palavras-Chave: Equinos, Didelphis, incoordenação motora, parasita, sistema nervoso.

Humberto Eustáquio Coelho [email protected]

Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP. 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original

ABSTRACT The equine protozoal myeloencephalitis (EPM) is a severe neurological disease of horses, mainly caused by protozoan Sarcocystis neurona, characterized mainly by changes in gait, ataxia asymmetric members later, facial paralysis, muscle weakness and atrophy. It is transmitted by opossums of gender Didelphis which infected by ingestion of muscle tissue that contains sarcocysts from an intermediary host infected. The horses accidentally acquire the disease when eating food contaminated with feces of opossums, which have infective sporocysts. Once ingested, the sporocysts migrate from the intestinal tract into the blood, exceeded the blood-brain barrier and attack the central nervous system. The objective was to report a case of equine protozoal myeloencephalitis in the city of Pirenópolis, State of Goiás The diagnosis was based on clinical signs, anatomic-pathological findings and the positive result for antibodies against Sarcocystis neurona in the blood serum of Western blot technique. Keywords: Horses, Didelphis, incoordenation motor, parasite, nervous system.

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1.

INTRODUÇÃO A mieloencefalite protozoária eqüina (MPE) é uma grave enfermidade neurológica de eqüinos, causada principalmente pelo protozoário Sarcocystis neurona (STANEK et al., 2003). Esse protozoário foi identificado em 1974 no sistema nervoso de cavalos com MPE e pensava-se que o agente causal era o toxoplasma gondii. Em 1991, um protozoário foi cultivado in vitro a partir de material proveniente de tecido nervoso de um cavalo com paralisia e foi nomeado Sarcocystis neurona. O hospedeiro definitivo é o Didelphis virginiana (FENGER, 1997a; DUBEY et al., 2000) e o hospedeiro intermediário natural não é conhecido (DUBEY et al., 2001a). Esporocistos de S. neurona foram recentemente isolados de gambás da espécie Didelphis albiventris que são encontrados no Brasil (DUBEY et al., 2001b). De acordo com Stanek et al. (2003) os gatos podem atuar como hospedeiro intermediário. Os eqüinos acometidos costumam ter histórico de transporte, treinamento intenso, parto ou qualquer outro fator que possa gerar estresse (STEPHEN; WARWICK, 2000). A infecção ocorre após a ingestão de esporocistos presentes no alimento, água e pastos contaminados com fezes do hospedeiro definitivo. Os eqüinos não transmitem S. neurona a outros eqüinos ou gambás. (FENGER, 1997a). Após a ingestão dos esporocistos, alcançam o estágio de esporozoitos e nas células intestinais e endoteliais vasculares dos eqüinos, completam o primeiro estágio de merogonia. Em seguida, passam a chamar-se merozoítos, que passam através do endotélio vascular da barreira hematoencefálica para alcançar o sistema nervoso central. Os merozoítos podem passar através da barreira hemato-encefálica dentro de leucócitos ou atravessando os citoplasmas das células endoteliais (GRANSTROM; REED, 1994). A Encefalite protozoária é uma das principais causas de inflamação do sistema nervoso de cavalos sendo o S. neurona o agente etiológico mais comumente associado à MPE, uma doença neurológica progressiva caracterizada por ataxia assimétrica associada com atrofia muscular localizada (DUBEY, 2001). De acordo com Thomassian (2005) as manifestações podem levar o cavalo a apresentar fraqueza, tropeçar no solo ou em objetos, arrastar as pinças no solo, apresentar espasticidade em um ou mais membros e incoordenação motora. Ainda segundo este mesmo autor, alterações encefálicas, paralisia de língua, perda de sensibilidade na córnea e nas narinas, disfagia e balançar compulsivo da cabeça são as principais anormalidades apresentadas.

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Lesões localizadas no neurônio motor inferior da medula espinhal levam a paresia e decúbito (VASCONCELLOS, 1995), e atrofia dos músculos quadríceps e glúteo (THOMASSIAN, 2005). Já no caso de lesão sacral é observado paresia da cauda, incontinência urinária e anal (RADOSTITIS et al., 2002). O diagnóstico definitivo é realizado mediante a identificação do parasito no sistema nervoso por visualização direta em histopatologia ou por meio de exames específicos tais como imunohistoquímica e PCR (reação em cadeia polimerase). A detecção de anticorpos contra S. neurona pela técnica de western blot no líquido cefalorraquidiano e no soro sanguíneo devem ser interpretados com cautela, pois apenas um pequeno número de cavalos soropositivos desenvolve a doença (PAIXÃO et al., 2007). O resultado positivo do teste no soro sangüíneo indica a exposição do animal ao parasito, enquanto o resultado positivo no líquor, indica que o parasito penetrou na barreira hematoencefálica estimulando a resposta imune local. O imunoblot (Western blot) tem sido apontado como um teste que apresenta aproximadamente 90% de sensibilidade e 90% de especificidade (GRANSTRON e REED, 1994). O diagnóstico diferencial deve incluir outras enfermidades neurológicas ou osteomusculares tais como traumas encefálicos e medulares, mielopatia estenótica cervical, doença do neurônio motor, otite média ou interna, mielite eqüina por herpesvírus, polineurite eqüina, mieloencefalite verminótica (FENGER, 1997; ZANATTO et al, 2006) e leucoencefalomalácia (BARROS, 2003). A prevenção resume em impedir o acesso dos gambás às cocheiras e estábulos. Os gambás são onívoros e por isso deve-se evitar deixar alimentos tais como rações, grãos, frutas e lixo disponíveis a esses animais (MACKAY, 2001). Recentemente foi desenvolvida uma vacina contra MPE, que atualmente só está liberada nos Estados Unidos. Ela é produzida a partir de protozoários mortos, e sabe-se que não provoca efeitos colaterais nos animais, entretanto, testes de eficácia e potência ainda estão sendo desenvolvidos (SILVA et al., 2003). Segundo Stashak (2006) tratamento é baseado na utilização de drogas antiprotozoárias que atuam inibindo a síntese de ácido fólico. As recomendações incluem o uso de pirimedina a 1 mg/kg a cada 24 horas, por via oral, em combinação com sulfadiazina ou sulfadiazina-trimetropin, por via oral, 20 a 25 mg / kg, a cada 12 horas, por no mínimo 90 dias ou até a exame de Western blot apresentar resultado negativo. O diclazuril está sendo avaliado no tratamento da MPE em eqüinos. Resultados preliminares de um ensaio utilizando a 2,5 mg /450 kg, por via oral, por 21 a 28 dias indicaram

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que 60 % dos eqüinos tiveram melhora nos déficits neurológicos. Outro coccidiostático utilizado é o toltrazuril na dose diária 5 a 10 mg/kg, por via oral, por 30 dias. Além destes, nitazoxanida outro agente antiprotozoário, também pode ser utilizado na dose de 25 mg/kg, a cada 24 horas, por 5 dias, seguidos de 50 mg/kg, a cada 24 horas, durante 23 dias. Agentes antiinflamatórios não esteroidais e DMSO, podem ser úteis, particularmente, nas fases iniciais do tratamento. Em 1986, BARROS et al. relataram um caso de mieloencefalite por protozoários em um eqüino de 10 anos de idade, no Sul do Brasil. Posteriormente, a presença de esquizontes e merozoítos de Sarcocystis, em cortes histológicos de sistema nervoso, foi associada a sinais de ataxia em eqüinos (MASRI et al., 1992). Sofaly et al, (2002) induziram MPE experimentalmente e avaliaram diferentes doses de esporocistos de S. neurona no desenvolvimento de doença neurológica. Para isso utilizaram 6 grupos de 4 cavalos com doses de 102, 103, 104, 105, 106 de esporocistos de S. neurona, e um grupo controle, que foram fornecidas aos animais por meio de sonda nasogástrica. Exames neurológicos foram realizados semanalmente e amostras de soro sanguíneo coletadas para determinação de anticorpos pela técnica western blot. Coletou-se líquido cerebroespinhal antes da inoculação e da eutanásia para determinação de anticorpos para S. neurona. Sinais clínicos moderados foram evidenciados com todas as dosagens administradas e foram mais pronunciados na dosagem de 106 esporocistos. Lesões histológicas sugestivas de MPE foram detectadas em 4 dos 20 equinos. Os parasitas não foram detectados por microscopia de luz e imunohistoquímica. Paixão et al. (2007) em estudo retrospectivo de 1942 a 2005 avaliaram o SNC de 203 equídeos dos quais 54 (62,8%) apresentavam alterações inflamatórias e foram avaliados para detecção de antígenos de Sarcocystis neurona pela técnica de imunohistoquímica que foi positiva em um caso de encefalite eqüina. De acordo com os autores este foi o primeiro caso de MPE no Brasil confirmado imunohistoquimicamente. Importantes trabalhos epidemiológicos foram realizados no Brasil e caracterizaram positividade sorológica, indicando que existiu contato com o parasita (DUBEY et al., 1999), além disso, houve a confirmação da presença desse parasita na espécie de gambá presente no país (DUBEY et al., 2001b). Visando contribuir com dados epidemiológicos, este trabalho tem como objetivo relatar um caso de MPE em Pirenópolis, Goiás.

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2.

RELATO DE CASO Foi atendido no Hospital Veterinário São Francisco de Assis da Faculdade Latino Americana no município de Anápolis, Goiás, um Eqüino, macho, SRD, 7 anos, proveniente de Pirenópolis, Goiás, com histórico de dificuldade em se levantar, locomoção e incoordenação a mais ou menos 4 dias. O animal era utilizado para lida com gado de corte, criado a pasto sem complementação alimentar e vacinado contra raiva. Houve também histórico de outros dois animais que vieram a óbito em um período de três meses, com os mesmos sinais clínicos. Ao exame clínico contatou-se incoordenação motora progressiva, déficit proprioceptivo, fraqueza muscular, ataxia, hiperestesia, sonolência, ranger de dentes, cegueira evidenciada por miose permanente e pela incapacidade de desvio a obstáculos, cabeça pendente, apoio contra obstáculos, disfagia e sialorréia. O animal apresentou temperatura retal de 37,7°C, freqüência respiratória de 25 rpm, freqüência cardíaca de 48 bpm, em estação, com postura e estado mental sem alteração, micção e defecação normais. Foi realizado exame físico com completa avaliação do sistema nervoso e locomotor. Amostras de sangue total foram obtidas a cada 2 dias após anti-sepsia por meio de punção da veia jugular em tubos a vácuo (Labnew, Ind. Comércio Ltda, Campinas, SP, Brasil.) com anticoagulante para realização do hemograma e sem anticoagulante para obtenção do soro sanguíneo. O soro sanguíneo foi encaminhado congelado para realização da pesquisa de anticorpos contra antígenos de S. neurona pelo teste de Western blot (Equine Biodiagnostic, Lexington, KY, USA). As contagens de eritrócitos foram realizadas na câmara de Neubauer e a contagem diferencial de leucócitos, em esfregaços sangüíneos corados pelo Leishman, seguindo recomendações de Jain (1986). A determinação do volume globular foi efetuada pelo método do microhematócrito (Quimislabor, Marília, SP, Brasil) e a determinação da hemoglobina, pelo método da cianometahemoglobina. Os sinais clínicos foram progressivos e a terapêutica instituída à base de sulfametoxazol/trimetroprima, cetoprofeno e solução glicofisiológica a 5%. No dia 28/03/2008 foi eutanasiado e realizou-se necropsia onde foram coletadas amostras de encéfalo, tronco encefálico, cerebelo e medula espinhal. As amostras foram conservadas parte em formol a 10% destinada à histopatologia e outra resfriada que foi encaminhada para realização de diagnósticos diferenciais incluindo raiva, encefalomielite tipo leste e oeste e herpesvírus.

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3.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Levantamento realizado na Universidade Estadual de Ohio revelou que, de 158 eqüinos acometidos com MEP, 80% apresentavam comprometimento medular e apenas 6% apresentavam alterações encefálicas, enquanto 14% manifestavam anormalidades medulares e encefálicas (PEIXOTO et al., 2003). Em animais que apresentavam envolvimento da medula espinhal, com freqüência, observou-se fraqueza nos membros, ataxia e incoordenação, simétricas ou assimétricas (MACKAY, 1997). O animal em questão apresentou alterações medulares e encefálicas. Observou-se nos testes de reação postural um “déficit” proprioceptivo nos membros torácicos e pelvinos. A sensibilidade à dor superficial estava presente em todos os membros e no exame com o animal em movimento pôde-se observar incoordenação dos membros pélvicos. As alterações encefálicas foram evidenciadas pela cegueira central que indicou comprometimento do segundo par de nervos cranianos e pela disfagia. De acordo com Thomassian (2005), alterações encefálicas observadas podem afetar qualquer núcleo dos nervos cranianos. As principais anormalidades relacionadas aos nervos cranianos citados por este autor foram encontradas como: paralisia do nervo facial, ataxia vestibular, incapacidade de desvio a obstáculos, cabeça pendente, apoio contra obstáculos e sialorréia..Contudo segundo RADOSTITIS et al., (2002), andar em círculos, decúbito agudo, pressionar a cabeça contra obstáculos e convulsões podem ser os únicos sinais clínicos observados. Com relação aos problemas músculo-esqueléticos primários, o exame detalhado do sistema locomotor excluiu essa possibilidade. Com relação ao sexo, raça e, idade tratou-se de um eqüino, macho, SRD, de 7 anos. Nossos resultados estão de acordo com Silva et al. (2003) ao relatarem que a faixa etária pode variar de 2 meses a 24 anos, sendo a maior ocorrência com o aumento da idade e sem predileção aparente por raça ou sexo. O hemograma mostrou intensa leucopenia (tabela 1). Segundo Mackay (1997), a mieloencefalite por protozoários não produz alterações consistentes no hemograma ou na bioquímica sérica, embora possam ser observadas anormalidades inespecíficas como linfopenia, hiperfibrinogenemia, elevações na bilirrubina sérica, uréia e enzimas teciduais, possivelmente relacionadas com estresse, terapia com corticóides, traumas, anorexia e danos musculares (MACKAY et al., 1992). Os achados de necropsia não revelaram alterações macroscópicas significativas, além de hiperemia no sistema nervoso, concordando com Fenger (1997a) ao relatar

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me Granstron e Reed (1994), lesões macroscópicas podem, quando presentes, revelar áreas multifocais de hemorragia com perda da coloração normal do tecido nervoso e malácia podendo ser muito discreta ou ter vários centímetros. Microscopicamente, a medula espinhal e os tecidos cerebrais e cerebelarares exibiram áreas de necrose com gliose reacional e focos de infiltrado linfocitário e hemorragia na substância branca e cinzenta. Quanto as localizações das lesões, nossos resultados concordam com Barros (2003), ao relatar que elas são restritas ao sistema nervoso, mais freqüentes na medula e tronco encefálico do que em outras partes do encéfalo. Com relação às características microscópicas, observam-se malácia e reação inflamatória não supurativa. O infiltrado inflamatório é geralmente formado por linfócitos, mas podem ocorrer eosinófilos, neutrófilos e células “Gitter” (BARROS, 2003). Hahn et al.(1999) relataram que extensas áreas de necrose com hemorragia estão presentes nos casos mais graves e agudos. No presente estudo os microorganismos não foram visualizados. Este resultado corrobora com Fenger (1997b) ao afirmar que parasitos não são comumente encontrados, particularmente nos pacientes tratados. Quando vistos, aparecem como um modelo clássico em formato de rosa, dentro dos corpos celulares dos neurônios, células microgliais ou raramente dentro das células endoteliais dos vasos sanguíneos. A pouca quantidade de microorganismos visualizados, mesmo em lesões extensas, sugerem que citocinas ou metabólitos celulares podem estar associados com as lesões (DUBEY, 2001). Mesmo que não seja possível a visualização dos parasitos, deve-se suspeitar de EPM quando as alterações histopatológicas forem compatíveis com as da doença (HAHN et al., 1999). Embora o diagnóstico definitivo para a mieloencefalite protozoária eqüina seja realizado mediante a identificação do parasito no sistema nervoso, os resultados positivos para pesquisa de anticorpos contra S. neurona no soro sangüíneo do animal relatado, demonstrou que houve exposição ao parasito. Diante dos sinais clínicos apresentados, da exclusão de outras enfermidades neurológicas eqüinas tais como traumas encefálicos e medulares, mielopatia estenótica cervical, doença do neurônio motor, otite média ou interna, encefalomielite por vírus tipo leste e oeste, encefalite por herpesvírus, raiva e dos resultados positivos para pesquisa de anticorpos contra S. neurona no soro sangüíneo do caso relatado, pode-se concluir que houve exposição do animal ao parasito fechando o diagnóstico em Mieloencefalopartia protozoária eqüina.

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Tabela 1. Hemograma de um eqüino (Gaúcho) com mieloencefalite protozoária eqüina. Hemácias (/µL)

7.130.000

Hemoglobina (g/dL)

12,33

Volume Globular (%)

51,89

Leucócitos (/µL)

600

Neutrófilos (/µL)

102

Linfócitos (/µL)

486

Monócitos (/µL)

12

Eosinófilos (/µL)

00

Basófilos (/µL)

00

Figura 1. Foto macroscopia: hiperemia cerebral.

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Figura 2. Microscopia (H.E.) 100x. Medula espinhal com áreas de gliose reacional.

Figura 3. Microscopia (H.E.) 40x. Medula espinhal com manguito perivascular linfocitário.

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