\"Saudade da Infância\" de Mário Henrique Leiria - Leitura

June 2, 2017 | Autor: Conceição Pereira | Categoria: Literatura Portuguesa
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Conceição Pereira, 2011, “‘Saudade da Infância’ de Mário Henrique Leiria: Leitura”, Conto Português, Antologia Crítica, Maria Isabel Rocheta e Serafina Martins (coordenação), Lisboa: Caixotim, pp. 177-184.

LEITURA

Conceição Pereira

“Saudade da Infância”1 foi publicado pela primeira vez em 1973, em Novos Contos do Gin, uma colecção de sessenta textos de dimensão variável (entre as duas linhas e as oito páginas), maioritariamente narrativas, mas incluindo também poemas.2 O presente conto, embora curto, possui estrutura capitular, numa divisão em cinco curtas narrativas com título. Cada capítulo corresponde a um momento marcante da infância do protagonista-narrador que recorda episódios passados na escola, em família e com os amigos. Nada de inesperado num conto que se intitula, precisamente, “Saudade da Infância”. Este título, que apela à nostalgia de um tempo sem retorno possível, poderá criar a expectativa de que se tratará de um conto sentimentalista sobre a irrecuperabilidade da infância. Em parte, esta expectativa revelar-se-á correcta, na medida em que certos momentos do passado são revisitados por um adulto que lança um olhar saudosista à infância. Por outro lado, o título não corresponderá exactamente à ideia que a maior parte dos leitores terá de acontecimentos da infância dignos de serem lembrados com saudade. Ou seja, confrontado com as acções narradas, o título revelarse-á enganador, através do efeito de surpresa suscitado pelo conteúdo dessas mesmas acções. No primeiro capítulo, intitulado “A Flóber”, a tia Albertina morre quando o narrador, “sem querer”, lhe acerta “em cheio”, entusiasmado que estava com aquele presente que lhe permitia caçar pardais. A “arrelia” que lhe causou este acidente acabou por ter como consequência o castigo de ficar impedido de comparecer ao funeral da tia. Assim, em apenas sessenta e quatro palavras, Mário-Henrique Leiria confronta o leitor com a desadequação entre a proposta nostálgica do título e as acções narradas, ao

apresentar como objecto de saudade da infância, em simultâneo, a caça aos pardais e a morte de uma tia. A brevidade e força deste primeiro capítulo, que vai dar o mote para o que se passará nos seguintes, consubstanciam um certo estilo cultivado pelo autor de Novos Contos do Gin que alia a concisão ao impacto dos seus textos. No que diz respeito a este aspecto, os conselhos dados a Isabel Alves da Silva3 sobre como escrever podem bem aplicar-se ao que defende para a sua própria escrita: “(…) tens de pegar logo no início e zás, dares-lhe força e economia de linguagem. Lembro-me agora, por acidente, das duas ou três primeiras linhas do meu segundo romance (…). Creio que era assim: “Matei o primeiro aos dezasseis anos. Fiquei um pouco admirado, depois habituei-me. Afinal isto de matar não tem grandes dificuldades. É só uma questão de adaptação….”4

“Força e economia de linguagem”, embora aplicadas por Leiria a um outro exemplo da sua escrita, um romance que, à data da carta, tinha sido destruído pelo autor5, podem bem aplicar-se à narrativa que abre “Saudade da Infância”, pelo que atrás ficou exposto. “O Luna-Parque” é o título do segundo capítulo, o mais longo do conto e aquele em que os acidentes mortais mais abundam. Ao longo de cerca de uma página, acompanhamos o protagonista que, durante vários sábados, se diverte com a família num parque de diversões onde os acidentes funestos pontuam persistentemente as suas memórias: o primo Rodrigo ficou sem a cabeça numa barraca de tiro ao alvo, a Avó Amélia caiu da Montanha Russa, a tia Clarinda “ficou entalada nas engrenagens” da Grande Roda. O tio Geraldo talvez não tenha morrido, mas desapareceu para sempre no Comboio Fantasma, enquanto o primo Zezito ficou paralisado depois de ter levado “um safanão tal que partiu a espinha”. No parque de diversões as recordações estão associadas aos divertimentos que aí se encontram e os acidentes trágicos acontecem por acaso, sendo tão banal comer algodão doce, como a tia Clarinda ficar entalada nas engrenagens da Grande Roda. Deste modo, a vivência banal de uma criança que desfrutava das visitas ao LunaParque, torna banais todos os acontecimentos aí ocorridos, sejam eles andar na Montanha Russa ou a morte da avó Amélia, provocada por um empurrão do tio Leocádio “lá no meio da maior subida”. Por outras palavras, divertimentos e mortes são

colocados ao mesmo nível, na medida em que o insólito surge integrado no quotidiano, como refere Cristina Almeida Ribeiro, a propósito de outra narrativa de Leiria.6 A ideia de normalidade é igualmente transmitida através de uma série de comentários banalizadores após a narração dos acidentes graves que vitimam familiares do narrador. Assim, “Tivemos pena” é suscitado pela morte da Avó Amélia, enquanto “Era bom. Que saudade!” se segue ao acidente do primo Zezito que “partiu a espinha” no Grande Chicote que era “divertido, divertido mesmo”. Ao comparar as narrativas de Leiria com as de Pedro Oom, Maria de Fátima Marinho lembra que “Mário-Henrique Leiria quer dar a impressão de que as suas personagens pertencem, na sua generalidade, a um mundo mais real” 7. Esta característica contribui para nivelar acontecimentos estranhos e comuns, ao provocar um certo efeito de real através de alguns pormenores descritivos que permitem criar uma ilusão referencial8, tais como as “barracas de tiro ao alvo”, os “carrinhos de amendoins, sorvetes e aquele algodão de açúcar que nos deixava todos lambuzados”, ou “o Comboio Fantasma”. A força desta narrativa de Leiria reside, precisamente, no modo como a ingenuidade da recordação da infância se amalgama com o que essa mesma memória tem de insólito. Mais que descrições de espaços, praticamente ausentes do texto de Leiria9, são as descrições de acções que criam um efeito de real: acções banais, como fazer tiro ao alvo, andar na Grande Roda ou comer algodão doce, entre outras, que correspondem genericamente à visita a um parque de diversões, como a Feira Popular em Lisboa. Estas recordações partilhadas implicitamente por muitos leitores, tornam-se explicitamente partilhadas, quando o narrador questiona directamente o leitor sobre esse mesmo passado comum “E o papagaio que tirava a sina, lembram-se?”; esta sugestão de intimidade proporcionada por uma recordação comum ancorada numa realidade vivida por narrador e leitores deve ser também entendida ironicamente quando a lembrança se refere aos seus familiares, claramente ficcionais, como “a prima Josefina que depois casou com o Clarimundo da Fonseca, devem estar lembrados”. No terceiro capítulo, é narrado um passeio dado num dia da espiga, quando a escola fechava e alunos e professores saíam para passear no campo. Nesta mininarrativa, o acidente que vitima o professor Fernandes ocorre “junto à Quinta das Silvas que tinha aquele poço bem fundo mesmo ao lado da estrada. Parece que ainda lá está.” A localização precisa da acção, e a sugestão de que o poço ainda existe, ao criar um efeito de real, permitem, mais uma vez, intensificar o insólito da partida supostamente inocente que o Quim Louro, colega do narrador, “ferrou” ao professor de Aritmética.

Embora a narração seja focalizada num adulto que recupera, através da memória, momentos chave da sua infância, a verdade é que na referida recordação de escola, assim como nas anteriores, está bem patente uma certa ingenuidade do modo de narrar que, do mesmo modo que os pormenores realistas, vai permitir evidenciar o insólito das acções narradas: o modo de narrar e de encarar as acções é ingénuo, mas as acções narradas não são, à partida, associadas à ingenuidade infantil10. Tal como no primeiro capítulo, no terceiro, o papel dos adultos é discreto, não constituindo estes figuras de autoridade, nomeadamente pelas consequências inócuas que impõem às acções praticadas pelas crianças: o castigo de ter acertado com um tiro na tia Albertina é ficar impedido de ir ao seu funeral, enquanto o desaparecimento do professor de Aritmética apenas leva a uma conversa inconsequente entre o director da escola e o pai do narrador. A única personagem que tenta exercer autoridade sobre as crianças surge no quarto capítulo, com o Senhor Ricardo, o dono da mercearia local, que batia nos miúdos como punição por lhe partirem “a montra da loja de vez em quando, à pedrada” e por darem “uns pontapés ao filho”, actos desvalorizados pelo narrador que, na sua atitude ingénua habitual, não consegue compreender a razão da zanga do merceeiro. Ora, a atitude impositiva do Senhor Ricardo acabaria por sair-lhe cara quando decidiu “sovar de tal maneira” o Adriano, um colega do narrador, que este ficou “cheio de escritos”. A atitude viria a revelar-se fatal para o dono da mercearia que acabaria os seus dias “pendurado pelo pescoço na trave das cebolas” devido à desforra do Adriano, acontecimento que diverte sobremaneira o narrador e os colegas. O quinto, e último, capítulo narra um momento em família: o narrador e o primo Zezito brincavam com o cão Patusco, quando a avó Amélia apareceu de visita. O que os dois primos fazem a seguir assemelha-se em ingenuidade e violência à partida que vitimara o professor Fernandes: um bife pregado com alfinete nas costas da avó foi o suficiente para provocar um ataque do Patusco, que quase matou a avó Amélia. Em todo o caso, esta morreria pouco depois na Montanha Russa, e o Zezito ficaria paraplégico no Grande Chicote, lembra o narrador. Como castigo, as duas crianças ficaram impedidas de ir ao cinema no Domingo seguinte, o que não obstou a que a recordação que tenha prevalecido tenha sido a dos primos a divertirem-se com o sucedido “O Zezito rebolavase no chão, agarrado à barriga. Eu também não podia mais.” O riso que eclode com o ataque do Patusco à avozinha surgira já após o empurrão que vitimara o professor Fernandes “Foi uma risota pegada”, assim como após o conhecimento da desforra do Adriano “gozámos à farta”. Este riso infantil

recordado pelo narrador é suscitado por situações que os adultos, no mesmo universo ficcional, não consideram cómicas, excepção feita ao narrador adulto que lembra a infância. No entanto, note-se que esta recordação surge não filtrada pela vivência adulta, ou seja, numa perspectiva que é, ainda, a de uma criança. Segundo Freud, as crianças riem de puro prazer numa série de circunstâncias e sabem por que razões o fazem, ao contrário dos adultos que desconhecem os motivos que os levam a considerar certo acontecimento, que vitima os outros, cómico. Para as crianças, está em causa um sentimento de superioridade por saberem que tal situação aconteceu aos outros em vez de a si próprias.11 No conto de Leiria, esta característica infantil surge associada a situações de exagerada violência provocada pelas crianças que riem patenteando uma completa despreocupação relativamente às consequências nefastas que as acções que as divertem acarretam para os outros. No caso do leitor de “Saudade da Infância”, o riso é suscitado por um tipo de humor que corresponde a uma noção recente: segundo André Breton, o conceito de “humor negro” surgiu em 1939, no decurso da publicação da Antologia do Humor Negro.12 Assim, este registo surge, desde logo, associado ao surrealismo que o encarava como “inimigo mortal da sentimentalidade”13, permitindo surpreender, e mesmo escandalizar, o leitor através do inesperado e do sangrento14, constituindo “uma revolta superior do espírito”15 que torna possível rir da morte e da violência gratuita. Breton, citando Freud, lembra que o riso tem algo de libertador, nomeadamente o que é provocado pelo humor negro, que permite rirmo-nos de nós próprios em situações limite.16 Gérad Durozoi define humor negro precisamente como um “processo mental que oblitera o carácter repressivo dos acontecimentos (…) zomba da morte, do tempo, recria o mundo a seu prazer”17, atribuindo-lhe intuitos subversivos, de “denúncia da contradição do homem com os seus desejos e do mundo com a sua realidade.”18 A antologia de Breton, que apresenta um conceito novo e surge no contexto do surrealismo, extravasa esse âmbito ao incluir textos anteriores (ao conceito e ao movimento). Os primeiros textos da antologia são da autoria de Jonathan Swift, que Breton considera o verdadeiro iniciador do humor negro, pelo distanciamento que consegue interpor entre si e o que escreve através de uma racionalidade que não permite interferências do sentimento.19 Um dos referidos textos de Swift intitula-se “Proposta Modesta para evitar que os filhos dos pobres da Irlanda sejam um fardo para os seus pais, ou o país, tornando-se úteis à comunidade”

20

e tinha como objectivo chamar a

atenção para a situação dos agricultores pobres irlandeses propondo que alguns dos seus

filhos fossem usados na alimentação e sugerindo mesmo modos de os cozinhar. Robert Escarpit sublinha o facto de o humor da proposta de Swift ser de tipo “engagé”, na medida em que o autor quer fazer rir para levar à reflexão e romper com a indiferença da opinião britânica.21 A “Proposta Modesta” de Swift é feita sob a forma de um tratado22 e como se o autor a tomasse a sério, do mesmo modo que “Saudade da Infância” se apresenta como um texto nostálgico de uma época idealizada da vida do seu narrador. O tipo de intervenção intencionado por cada um dos autores não é equivalente, todavia ambos comungam de uma perspectiva semelhante, visto que utilizam um mesmo registo, o do humor negro, embora em situações distintas: no caso de Swift este tipo de humor é usado como arma política, enquanto para Leiria se tratará, neste conto, de subverter a ideia instituída de autoridade parental e de ingenuidade infantil. Além disso, Swift cultiva o humor negro na ausência de um conceito que o subsuma, enquanto Leiria o usa num momento em que é já algo reconhecível enquanto tal. Leiria retoma um subgénero surrealista, a que talvez não seja alheia a sua passagem pelo movimento. O autor teria uma participação pontual no movimento surrealista, tendo integrado o grupo “Os Surrealistas” (fundado após a saída de Mário Cesariny do “Grupo Surrealista de Lisboa”23), entre 1949 e 1952. Em Janeiro deste ano desvincular-se-ia do grupo liderado por Cesariny, através de um comunicado em que afirma não querer adaptar-se “a um surrealismo português-bacalhau-com-batatas”24, até porque, como comenta, numa carta a Carlos Eurico da Costa, referindo-se a si próprio e aos

participantes

no

movimento,

“nada

de

verdadeiramente

revolucionário

25

construímos” . Mário-Henrique Leiria não gostou nunca de sentir-se acomodado, como pode facilmente confirmar-se pelo seu percurso de vida26. E quando é, finalmente, reconhecido como autor, também não fica satisfeito, como revela a Isabel Alves da Silva: “De literatura e outras tretas, informo-te que a semana passada passei a best-seller nº1. (…) logo à noite vêm buscar-me para jantar com os editores (…). Pois aí está, até sei o que querem: 2ªs edições dos dois livros e pedido para um terceiro, já me avisaram por carta. Estão enganados. Se me deixo cair na engrenagem, lixo-me.”27

Esta atitude revela uma vontade expressa de não querer tornar-se um autor instituído: recusou o surrealismo enquanto grupo, tal como não consegue conceber-se

como o autor que não se encontre “à margem”. Os seus livros, nomeadamente Contos do Gin Tonic e Novos Contos do Gin, não estão comprometidos com qualquer movimento ou grupo específico, antes se apresentam como conjuntos de textos narrativos e poéticos (e algumas imagens) que, embora passíveis de conexões com o surrealismo ou mesmo com uma certa tradição do humor português na sua vertente intervencionista28, não deixam de ser fruto da singularidade de um autor que neles deixou a sua marca específica. “Saudade da Infância” é uma das manifestações desse estilo próprio não definível apenas através de um enquadramento no surrealismo, ou mesmo no humor negro. Sem dúvida que um dos modos de descrever o conto passa pela referência ao humor negro, que se amalgama com a vivência social portuguesa de uma época não muito precisa, mas reconhecível, tornando-se verosímil através de pormenores descritivos realistas que permitem intensificar o contraste entre o ambiente sugerido e as acções insólitas descritas. Este contraste contribui para uma construção ficcional realizada através de uma série de oposições colocadas em evidência e, ao mesmo tempo, niveladas como se fosse habitual a sua conjugação. Assim, a suposta sentimentalidade do olhar lançado à infância integra recordações de acontecimentos banais relacionados com as vivências na escola, com amigos e em família e, simultaneamente, ocorrências insólitas que acabam por tornar-se triviais no decurso da acção, nomeadamente através dos comentários banalizadores do narrador, um adulto que olha nostalgicamente para um passado supostamente idealizado, apropriando-se dos factos narrados através do olhar ingénuo da criança que foi e ainda parece ser.

1

Mário-Henrique Leiria, Novos Contos do Gin, Lisboa, Editorial Estampa, 1973. Na edição de 1973, o sexagésimo texto surge como separata, impresso em folha à parte. A partir da segunda edição (1978) este texto passará a constar do índice com o título “Separata gratuita”, sendo impresso no corpo do livro. De referir, ainda, que um dos textos é pictórico e outro combina ilustração e imagem. O volume passa a incluir igualmente um conjunto de dez textos com o título “Fábulas do próximo futuro”. 3 O excerto citado surge numa das cartas dirigidas por Mário-Henrique Leiria a Isabel Alves da Silva, advogada da sua ex-mulher no seu processo de divórcio, foram publicadas em Depoimentos Escritos, cartas, poemas e cartas de amor, Lisboa: Editorial Estampa, 1997. 4 Idem, p. 114. 5 Cf. Carta datada de 8-9 de Outubro de 1961 (idem, p 113). 6 Refiro-me à leitura de umas das narrativas de O Mundo Inquietante de Josela em “Humor e insurreição no surrealismo português”, Românica: O Riso, nº 11, Lisboa: Edições Colibri, 2002, p. 95. Maria de Fátima Marinho chama também a atenção para a importância do insólito na obra de Mário-Henrique Leiria em O Surrealismo em Portugal, Lisboa: Imprensa Nacional, 1987. p. 237 7 Maria deFátima Marinho, idem, p. 336 2

8

Cf. Roland Barthes, “L’Effet de Réel”, Communications 16, 1968 (“O Efeito de Real”, O Rumor da Língua, tradução de António Gonçalves, Lisboa: Edições 70, Lisboa, 1987), p. 136. 9 Numa outra carta enviada a Isabel Alves da Silva, Leiria escreveria “…achei uma coisa: complexidades demais com a descrição. Porque não experimentas ser mais económica e mais directa na tua linguagem escrita?” (Depoimentos escritos, p. 131). Também aqui a sugestão se aplica à sua própria escrita. 10 Este aspecto é abordado por Maria Manuela Pardal Krühler em Humor Negro e Surrealismo na Obra de Mário Henrique Leiria, Tese de Mestrado em Literaturas Comparadas Portuguesa e Francesa, Universidade Nova de Lisboa, 1994, pp. 48-49. 11 Cf. Sigmund Freud, Der Witz und seine Beziehung zum Unbewussten, 1905 (Jokes and their Relation to the Unconscious, tradução de James Srachey e outros, London: Vintage, The Hogarth Press, 2001, p. 224): “It is probably right to say that children laugh from pure pleasure in a variety of circumstances that we feel as ‘comic’ and cannot find the motive for, whereas a child’s motives are clear and stated. For instance, if someone slips in the street and falls down we laugh because the impression – we do not know why – is comic. A child laughs in the same case from a feeling of superiority or from Schadenfreude: ‘you’ve fallen down, I haven’t.” 12 Cf. André Breton (ed.), Anthologie de l’Humour Noir, 1939 (Paris: Biblio, 1995), p. 5. 13 Cf. Idem, p. 16. 14 Cf. Nicole Chardaire, “Anthologie de l’Humour Noir”, idem, p. 1. 15 Breton, op. cit, p. 12. 16 Breton (op. cit., p. 15) cita o exemplo dado por Freud de um condenado à morte que, no dia da execução, afirma ser aquela uma semana que estava a começar bem: “The crudest case of humor (…) may be instructive (…) . A rogue who was being led out to execution ona a Monday remarked: ‘Well, this week’s beginning nicely’” (Freud, op. cit, p. 229). Rir nas situações mais terríveis não é alheio à vida de Mário-Henrique Leiria que, numa carta a Isabel Alves da Silva, comenta, assim, a morte acidental de Marília, a sua companheira brasileira “Morreu na 6ª feira. Fui identificá-la ao hospital; era mesmo ela. Fartei-me de rir. E acabou-se.” (Depoimentos Escritos, p. 210). 17 Gérad Durozoi, Le Surrealisme, Théories, Thémes, Thècnhiques, Paris: Larousse, 1972 (O Surrealismo, tradução de Eugénia Aguiar e Silva, Coimbra: Almedina, 1976), p. 270. 18 Idem, ibidem. 19 Cf. idem, p. 20. 20 Cf Breton, op cit, pp. 26-32 e Jonathan Swift, “A Modest Proposal for Preventing the Children of poor People in Ireland, from being a Burden to their Parents or Country; and for making them beneficial to the Publick.”(1729), Swifts Irish Pamphlets (ed. Joseph McMinn), Gerrads Cross: Colin Smythe, 1991. A tradução do título para português é de Aníbal Fernandes (Lisboa: e Etc, 1980). 21 Cf. Robert Escarpit, L’Humour, Paris: PUF, 1960 (1994), p. 87. 22 Cf. Idem, ibidem. 23 Cf. Adelaide Ginga Tchen, A Aventura Surrealista, Lisboa: Colibri, 2001, p. 110. 24 Mário-Henrique Leiria, “Comunicado”, 22 de Janeiro de 1952, Biblioteca Nacional, Espólio de MárioHenrique Leiria, E22/61 (reproduzido em Adelaide Ginga Tchen, op. cit., pp. xxxiii-xxxiv). 25 Mário-Henrique Leiria, “Carta a Carlos Eurico da Costa”, Três Poetas do Surrealismo, Lisboa: Biblioteca Nacional, 1981, p. 158. 26 Veja-se, a propósito, a biografia na segunda pessoa de Fernando Correia da Silva, “Mário-Henrique Leiria”, Vidas Lusófonas, http://www.vidaslusofonas.pt/mario_h_leiria.htm, 4/2/10. 27 Mário-Henrique Leiria, Depoimentos Escritos, cartas, poemas e cartas de amor, Lisboa: Editorial Estampa, 1997, p. 311. Carta datada de 13/2/1974. 28 De acordo com Ernesto Sampaio “O humor português foi sempre, salvo algumas excepções raríssimas, arma de combate na esfera política e social, meio de denúncia e de redução irónica de um sistema variável ao longo dos séculos (…)”, Vergílio Martinho e Ernesto Sampaio (selecção e notas), Antologia do Humor Português, Lisboa: Edições Afrodite, 1969, p. xxiii.

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