Se não tem pão, que comam brioches

June 5, 2017 | Autor: Laírcia Vieira lemos | Categoria: Resenha
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SE NÃO TEM PÃO, QUE COMAM BRIOCHES Teria Maria Antonieta dito mesmo isso? Não pela visão muitos biógrafos que estudaram a história da rainha fashionista e exagerada e de Sofia Coppola, que baseou-se pela biografia de Antonia Fraser para o filme, tal biografia mostra um lado mais suave da rainha. A Maria Antonieta do filme, por Kirsten Durst, é uma mulher com seus dilemas próprios de alguém que casou cedo demais sob a pressão de tornar dois países aliados, Áustria e França, e ter de consumar o seu casamento para ser bem-sucedida nisto. Coppola, como de costume, vem ao cinema mostrar o verdadeiro lado feminino das histórias e o faz com competência. Durante todo o filme, é possível sentir a áurea delicada e romântica. Coppola usa seu talento para mostrar Maria Antonieta como mulher e não como rainha. Ela deixa as questões políticas em segundo plano, mostrando apenas algumas decisões do rei, como a quem ele decide fornecer suporte durante a guerra, não mostrando ao telespectador, todavia, a perspectiva de como a decisão influenciou o cenário político da França. Todavia, as decisões políticas do rei fizeram com que o povo se voltasse contra o próprio regime da monarquia absolutista. Sob crise fiscal, déficit interno, dívida externa, contraída durante a Guerra dos Sete Anos e da participação na Guerra de Independência Americana, e com a Grande Fome, que perdurou de 1787 a 1789, momento abordado pelo filme quando a famosa frase foi atribuída à rainha, os franceses se rebelaram contra incompetência e indiferença com a decadência econômica de Luís XVI, o sistema desigual de taxação e privilégios e altos cargos que a rainha reservava aos amigos, ignorando a necessidade de redução de custos. Segundo François Mignet, França se encontrava "intoxicada com liberdade e entusiasmo", momento que iniciou a Revolução Francesa, marcada pela Tomada da Bastilha, fortaleza usada como presídio, Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e a épica Marcha sobre Versalhes. Os ideais monarquistas foram então substituídos pelos princípios de Liberté, Égalité, Fraternité, presentes na Déclaration des Droits de l'Homme et du Citoyen. O documento levou em consideração os direitos naturais, pertinentes da natureza humana, e foi marcado com ideais libertários e liberais. Art. 4.º A liberdade consiste em poder fazer tudo que não prejudique o próximo: assim, o exercício dos direitos naturais de cada homem não tem por limites senão aqueles que asseguram aos outros membros da sociedade o gozo dos mesmos direitos

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(...) Art. 5.º A lei proíbe senão as ações nocivas à sociedade...

Maria Antonieta é avisada sobre a possibilidade de seus gastos serem excessivos ao longo do filme. Depois disso, a rainha abre mão de luxos como diamantes, chegando a dizer para a filha “You don’t need any diamonds, need you, Marie Thérèse?” e passa a vestir-se de maneira mais simples, provavelmente a intenção era mostrar uma rainha preocupada com seu povo. Isso, porém, não impediu o povo se rebelar contra os gastos excessivos da rainha, incluindo apostas de jogos e grandes festas na corte. O filme termina com a Marcha sobre Versalhes, que fez com que a rainha, o rei e seus filhos fossem obrigados a deixar o lugar e irem para o palácio da Tulherias, em Paris. E, a partir desse momento, a monarquia absolutista daria lugar a república. A célebre frase é encontrada no livro Confissões de Jean-Jacques Rousseau. No livro, Rousseau menciona que uma princesa, a qual ele não nomeia, pronunciou tais palavras ao tomar conhecimento de que o povo estava faminto. Entretanto, em razão de ser um autor de grande sucesso à época da Revolução Francesa e do estilo de vida extravagante da corte francesa, o povo responsabilizou a rainha pelos dizeres, ainda que o livro tenha sido escrito pelo autor quando Maria Antonieta ainda vivia na Áustria, muito antes de seu casamento com Luís XVI.

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