Selfie: O (auto) retrato das sociedades contemporâneas

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DeCA | Novas Tecnologias da Comunicação Sociologia da Comunicão 2013 | 2014

Selfie: O (auto) retrato das sociedades contemporâneas

Trabalho realizado por: Alexandra Silva nº 25538 Marco Pinho nº 69360

Docente da disciplina: Prof. Vania Baldi

INDICE O Ritmo Social ...................................................................................................................... 3 Compartilho, Logo Existo (Sherry Turkle)................................................................. 4

O autoconceito .............................................................................................................................. 5

Visivelmente ligados ......................................................................................................... 7 Uma Manifestação de Narcisismo ................................................................................. 9 Em Busca da Fama ........................................................................................................... 11 O Corpo ................................................................................................................................ 12 Autorretrato ...................................................................................................................... 13 Selfie ..................................................................................................................................... 14 Conclusão............................................................................................................................ 15 Bibliografia ........................................................................................................................ 16 Webgrafia ........................................................................................................................... 16

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Ritmo Social Neste trabalho não vamos abordar especificamente qualquer um dos tempos singulares propostos por Edward T. Hall, vamos antes referir o tempo como única entidade global. O nosso propósito é entender a sua relação com o Homem e perceber os efeitos provocados por esta mesma ligação no comportamento social. Não nos parece arriscado afirmar que com o surgir da era industrial o ritmo de vida das pessoas, principalmente nas metrópoles, foi como que contagiado pelas máquinas – quer utilizadas nas fábricas, quer utilizadas nos transportes. Tudo passou a ser mais “rápido”: a produção de alguns bens, o transporte de mercadorias e pessoas, e até mesmo a comunicação – com invenção do telegrafo e do telefone. Este carácter imediato, o compasso frenético imposto pelas novas tecnologias em conjunto com uma cultura de consumo emergente, passou a refletir-se na forma de pensar e agir. A nossa relação com o tempo tem sofrido naturalmente alterações, e cada vez mais se olha apenas para o presente, sem pensar no futuro ou no passado. Stephen Bertman utiliza os termos “cultura agorista” e “cultura apressada” para definir a forma de viver das sociedades contemporâneas (nowist culture). Tais conceitos são, na opinião de Bauman, bastante relevantes para, de certa forma, justificar um tipo de hábito social cada vez mais notável: o consumismo liquido-moderno. E de que forma estamos, mais uma vez, a falar de tempo? Nas palavras desse mesmo autor: “Um ambiente liquido-moderno é inóspito ao planeamento, investimento e armazenamento a longo prazo(...) Podemos dizer que o consumismo liquido-moderno é notável, mais do que por qualquer outra coisa, pela (até agora singular) renegociação do significado do tempo.” Na nossa sociedade, o tempo deixou de ter para os indivíduos o carácter cíclico ou linear de outrora. Dois autores, Michel Maffesoli e Nicole Aubert, referem-se ao “novo tempo” de forma idêntica, como que sendo sinónimos: tempo pontilhista e tempo pontuado, respectivamente. A respeito do tempo pontilhista, Bauman escreve: “o tempo pontilhista é fragmentado, ou mesmo pulverizado, numa multiplicidade de “instantes eternos” – eventos, incidentes, acidentes, aventuras, episódios(...)”. Através deste conceito, passa-se a ideia de que em cada ponto poderá surgir todo um novo universo, pois ele contém em si um potencial infinito. O fascínio pelos pontos – pelo momento presente – não é mais do que “a ideia de Deus sendo recapitulada num eterno presente que encapsula simultaneamente passado e futuro... A vida, seja individual ou social, não passa de uma sucessão de presentes, uma coleção de instantes experimentados com intensidades variadas.”(Maffesoli). Na prática, estamos na presença de um tipo de relação com o tempo que se traduz num comportamento quase obsessivo. O receio de perder qualquer coisa, ainda 3

que não passe de uma mera potencialidade existente num dos pontos, justifica a vida “agorista”, aquela em que temos que ser apressados para não perder nada, ainda que não saibamos exatamente o quê – qualquer tipo de inércia é considerado um crime passível de punição: “A prudência sugere que, para qualquer pessoa que deseja agarrar uma chance sem perder tempo, nenhuma velocidade é alta demais; qualquer hesitação é desaconselhada, já que a pena é pesada.”(Bauman) Assim, para suportar este modo de vida, nós recorremos ás novas tecnologias da comunicação disponíveis e procuramos estar em todo o lado, ao mesmo tempo.

Compartilho, Logo Existo (Sherry Turkle) A crescente necessidade de omnipresença que um individuo sente, faz com que ele seja cada vez mais dependente das tecnologias que lhe permitem uma ligação constante à rede; segundo, tenha necessidade de gerir a sua atenção única e exclusivamente de acordo com os seus interesses individualistas. De acordo com os estudos levados a cabo pela autora Sherry Turkle, os dispositivos a que as pessoas têm acesso e integram de forma cada vez mais sistematizada nas suas vidas, dispõem de uma capacidade de alteração psicológica tão potente, que modificam, não apenas o que se faz, mas também o que se é. As pessoas sentem que o seu tempo é tão precioso que necessitam de doseá-lo, e estas tecnologias são aliciantes porque as fazem sentir-se no controlo, ainda que equivoco, satisfazendo três tipos de fantasias: conseguem colocar a sua preciosa atenção apenas onde querem; serão ouvidas, sempre que tenham necessidade; nunca terão de ficar sozinhas. No entanto, levantam-se aqui algumas questões, que segundo defende a autora, são mais que pertinentes, e precisam ser discutidas com urgência. É preciso ter em consideração que atualmente tudo evolui a um ritmo desenfreado, e os comportamentos sociais não são diferentes. Se ainda há pouco tempo teria considerado estranho ou até mesmo perturbador, o facto de alguém estar numa reunião ou numa sala de aula a enviar uma sms, um email, ou a utilizar uma rede social, hoje em dia isso é totalmente aceitável – encontrámos, inclusive, um movimento criado com o propósito de servir selfies tirados em contextos fúnebres. Desta forma, estes atos que se tornam automáticos, sem exigir qualquer tipo e reflexão, são já muitas das vezes utilizados como escapes ao mundo real. As relações interpessoais assentam de forma crescente nos meios electrónicos, o que provoca consequências na forma como nos relacionamos com os outros, e consequentemente, com o “eu”. Existe aqui, mais uma vez, a necessidade que o ser humano tem de sentir que está em pleno controlo. Se por um lado consegue dosear o fluxo de informação proveniente do emissor, e receber apenas o que de um modo egoísta lhe interessa,

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por outro poderá editar, apagar, retocar: a sua cara, a sua voz, a sua carne, o seu corpo – no fundo, poderá apresentar-se ao mundo, não como é, mas como quer ser. Mas o hábito de estar permanentemente ligado, está a modelar uma nova forma de ser, em que estar sozinho é motivo de pânico e ansiedade, e resulta numa busca imediata por um dispositivo – as pessoa deixam de saber dar valor ao seu espaço individual, ao isolamento, ao silencio, à autorreflexão; necessitam de estar ligadas para se sentirem elas próprias, para se sentirem a elas próprias. Sherry Turkle sugere uma nova forma de estar: “compartilho, logo existo”. O sentido desta frase poderá ser considerado, de certa forma, como que oposto ao presente na frase de Decartes1, pois como a própria autora conclui: “antigamente, sentíamos algo e pensávamos: vou telefonar; agora é, preciso de sentir algo: vou ligar-me”. Nas sociedades contemporâneas deixámos de saber construir um “eu” forte, capaz de suportar o isolamento e aproveitá-lo para auto refletir; passámos a depender dos outros para sustentar uma mera imagem projetada de quem pretendemos ser. O autoconceito Para melhor compreendermos as ligações comunicacionais que estabelecemos com os outros e, antes de mais, com o “eu”, e por forma a percebermos como a ultima influencia a primeira e como estas se influenciam mutuamente, é necessário abordarmos dois tópicos essenciais: o autoconceito e o corpo. Entendemos por autoconceito, a consciência que cada um de nós tem, ou não, acerca do que é - George Mead escreveu que “o desenvolvimento do autoconceito depende da capacidade de cada pessoa ser um objeto para si mesmo, e se colocar no lugar de um outro (eu mesmo /eu mim)”. Este é um aspecto fundamental para a comunicação humana, uma vez que determina o comportamento dos indivíduos perante a comunicação intra e interpessoal. Consequentemente, o autoconceito deverá ser construído com apoio dos nos dois tipos de experiencia propostos por Adriano Rodrigues: a experiencia primária e a experiência secundária. É precisamente no decorrer da experiencia primária – aquela que se refere a socialização primária e é realizada no primeiro ciclo de vida, a infância – que se inicia o processo de construção da identidade individual e, por conseguinte, o autoconceito – segundo Vaz Serra (1988b), há que salientar neste processo de construção os seus constituintes: a autoestima; as autoimagens; a autoeficácia; as identidades; o autoconceito real e o autoconceito ideal.

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Cogito, ergo sum (“Penso, logo existo”)

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Através da socialização primária, o individuo tem oportunidade de aprender as regras socioculturais, como por exemplo distinguir o bem do mal; de aprender a perceber-se como individuo; a observar a sua influencia nos outros, etc. Esta fase de socialização é também essencial para definir o habitus, pois segundo Bourdieu, ele “é esse principio gerador e unificador que retraduz as características intrínsecas e relacionais de uma posição num estilo de vida unívoco, isto é, num conjunto unívoco de escolhas de pessoas, de bens, de práticas(...) Assim como as posições das quais são o produto, os habitus são diferenciados; mas também são diferenciadores.” Falamos de algo que permite acumular experiencias e dar-lhes significação, concluindo que não será uma mera reação aos estímulos exteriores, mas antes resultado do que se sente interiormente, e o que o que se sente conduz a determinadas escolhas que refletem a comunicação do individuo. Nas palavras de Durkheim: “a personalidade é o individuo socializado. O processo de socialização, efetuado pela família e, secundariamente, pela escola e por outros agentes de formação de carácter, modifica a natureza humana para que esta se sujeite ás normas sociais dominantes.” Antes de avançarmos, e porque quando falamos de humanos, falamos inevitavelmente de comunicação, é importante lembrar que humano comunica por quatro razões – conhecer-se e dar-se a conhecer; conhecer os outros e o mundo; influenciar-se a si e influenciar os outros; por divertimento, como comportamento lúdico – e que a comunicação humana, devido à sua natureza consequencial, é: inevitável, uma vez que a comunicação é condição de ser do Humano; intencional, pois decorre da inevitabilidade da comunicação. Sendo que todo o processo da comunicação é sempre com intenção, porém, nem sempre é consciente; irreversível, visto a comunicação manifestar-se em processo. Assim, para melhor entendermos estes níveis de interação e para melhor compreendermos a dinâmica entre estes objetos comunicacionais, Joseph Luft e Harry Ingham, propuseram, em 1969, a Janela de Johari – um instrumento geralmente utilizado para analisar o processo transacional de abertura do “eu”, de feedback, e de autoestima. Ela representa quatro facetas que, de modo interdependente, constituem o EU: Eu público; Eu cego (dar feedback) ; Eu escondido; Eu desconhecido (pede feedback). O primeiro, representa todas as informações, todos os comportamentos, todas as atitudes, crenças, valores, e todos os sentimentos pessoais que são conhecidos pelo Eu e pelos outros. O segundo, representa aquilo que os outros conhecem acerca de nós e nós desconhecemos. O terceiro, representa aspectos nossos, desconhecidos para os outros. O ultimo, representa tudo aquilo que conhecemos acerca de nós mesmos, mas que não revelamos, ou só o fazemos junto de quem confiamos.

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Visivelmente ligados “Vivemos na era da modernidade líquida, num mundo repleto de sinais confusos, propenso a mudar com rapidez e de forma imprevisível - é fatal para a nossa capacidade de amar, seja esse amor direcionado ao próximo, nosso parceiro ou a nós mesmos. Reflete-se na fragilidade dos laços humanos, o que se traduz numa insegurança inspirada por essa condição estimula desejos conflitos de estreitar esses laços e ao mesmo tempo mante-los frouxos” - Zygmunt Bauman em “Amor Liquido” Os homens e mulheres contemporâneos pela ansia em relacionar-se e ter um ombro amigo nos momentos menos bons, recorrem à condição de “estar ligado” momentaneamente, uma vez que tudo o que esteja associado ao permanente assusta-os. Quando se “ligam” numa rede social, num chat, as pessoas saem e entram constantemente do circuito das conversas. Neste caso não importa tanto o conteúdo de cada mensagem, mas sim a sua circulação, o fluxo constante de palavras. “Pertencemos à conversa, não àquilo sobre o que se conversa”- Zygmunt Bauman em “Amor Liquido”. Isto faz com que as nossas ligações com o mundo sejam mais banais, intensas e breves, já que os sujeitos - cada vez mais heterónimos – estão em modo de “agenda”, numa fuga às responsabilidades. Satisfaz-nos o imediato, intenso, mas célere e isso é reflexo de uma sociedade, onde as pessoas fazem uso dos recursos que melhor dominam, para promover e vender o seu produto: elas mesmas. Tornam-se “promotores das mercadorias e as mercadorias que promovem. São simultaneamente o produto, e agentes de marketing, os bens e os seus vendedores" - Zygmunt Bauman em “Vida para Consumo” “E assim é numa cultura consumista como a nossa, que favorece o produto pronto para uso imediato, o prazer passageiro, a satisfação instantânea, resultados que não exijam esforços prolongados, receitas testadas, garantias de seguro total e devolução do dinheiro. A promessa de aprender a arte de amar é a oferta (falsa, enganosa, mas que se deseja ardentemente que seja verdadeira) de construir a “experiência amorosa” à semelhança de outras mercadorias, que fascinam e seduzem exibindo todas essas características e prometem desejo sem ansiedade, esforço sem suor e resultados sem esforço.” - Zygmunt Bauman em “Amor Liquido” Daqui resulta, o deterioramento das competências de sociabilidade, que faz com que avaliemos os outros por aquilo que nos têm para oferecer – já que, também eles, tal como nós, são objetos de consumo.

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Nesta sociedade em que importa ser visto, notado 2 , sem que se esteja entre a massa cinzenta, mas sim a que é cobiçada e comentada pelo outro: “sou o que sou, porque outros me reconhecem como tal” por Michel Maffesoli, ou não fosse “a vida social empírica se não uma expressão de sentimentos de pertenças sucessivas”, verifica-se cada vez mais que as redes sociais se tornaram autênticos confessionários, em que através das mesmas, os utilizadores partilham detalhes íntimos das suas vidas, com informações precisas e partilha de fotografias. Este intercâmbio de informações sociais ocorre no lugar onde, segundo Bauman, “todo mundo que é alguém precisa ser visto” e promove a exibição pública do eu interior. Deixa então de existir uma linha entre o que é privado e público, uma vez que se transforma o ato de expor publicamente o privado numa virtude e num dever público. “O que antes era invisível – agora deve ser exposto no palco público” Zygmunt Bauman em “Vida para Consumo”. Zygmunt Bauman no seu livro “Amor Liquido” faz menção ao facto de a “Ideologia da intimidade” ter substituído os interesses compartilhados, por “identidade compartilhada” - rejeitando os que não estivessem dentro desse círculo (como prevenia Sennet). Já Benedict Anderson utilizou o termo “comunidade imaginada” para se referir ao “mistério da autoidentificação com uma ampla categoria de desconhecidos com quem se acredita compartilhar alguma coisa suficientemente importante para que se fale deles como um "nós" do qual eu, que falo, sou parte”. Assim, para que os diversos “eu” se tornem um “nós”, é imperativo revelar o interior, confessar intimidades, promovendo assim as biografias compartilhadas – onde se busca a todo o custo o consenso (divisão do mapa do Lebenswelt) e "a introspeção é substituída por uma interação frenética e frívola que revela nossos segredos mais profundos juntamente com nossas listas de compras". Desta forma, ser invisível equivale a não existir, a não significar, uma vez que não se é reconhecido pelos outros como sendo. A identidade de cada um é uma amálgama que reúne aquilo que o sujeito é, aquilo que gostaria de ser para si e para os outros. Ao abdicar da sua intimidade, do “espaço” que lhe permite criar a sua identidade, de um certo diálogo interior, relega para segundo plano as relações intrapessoais e a sua identidade pluraliza-se. Devemos “amar o próximo como a si mesmo” – é uma questão de sobrevivência humana. Porém, o que significa isto? Amamos os nossos “eu’s” apropriados para ser amados. “O que amamos é o estado, ou a esperança, de sermos amados. De sermos objetos dignos do amor, sermos reconhecidos como tais e recebermos a prova desse reconhecimento” - Zygmunt Bauman em “Amor Liquido”. Deste modo, o amor-próprio constrói-se através do amor que os outros nos dão, quando nos reconhecem como pessoas únicas, insubstituíveis e não descartáveis. Exemplo: Corine Bailey Rae, cantora de 27 anos, com a mãe professora de escola primária, quando perguntou aos meninos o que querem ser quando crescerem, responderam "famoso" "não sei porquê, só quero ser famoso". 2

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“Talvez não exista pior privação, pior carência, que a dos perdedores, na luta simbólica por reconhecimento, por acesso a uma existência socialmente reconhecida, em suma, por humanidade” - Pierre Bourdieu, Meditações Pascalianas.

Uma Manifestação de Narcisismo Enquanto consequência da relação do individuo com o tempo nas sociedades da segunda metade do século XX e devido ás influencias do contexto sociocultural, surgiu uma nova forma de estar, um comportamento individual refletido no todo social: “o aparecimento das desordens do carácter como as mais proeminentes formas de patologia psiquiátrica, junto com a mudança na estrutura da personalidade que este desenvolvimento reflete, derivam de alterações bem especificas na nossa sociedade e cultura – da burocracia, da proliferação de imagens, de ideologias terapêuticas, da racionalização da vida interior, do culto do consumismo e, em ultima analise, das mudanças na vida familiar, assim como de padrões variáveis de socialização.”(Lasch). Christopher Lasch que fez um estudo sobre a sociedade americana, distingue este “novo narcisista” do ganancioso individualista da economia política do século XIX. Ao contrário do segundo, que acumulava bens e provisões para o futuro, o primeiro é ganancioso, mas sentido de não ter limites para os seu desejos, para os quais exige gratificação imediata. Este narcisista “vive num estado de desejo, desassossegado e perpetuamente insatisfeito”(Lasch). Como mencionado anteriormente, as pessoas passaram a preocupar-se apenas com o presente, com a infinidade teórica dos pontos e com o receio de perder algo que seja: “O novo narcisista é perseguido, não pela culpa, mas pela ansiedade. Ele procura não infligir suas próprias incertezas aos outros, mas encontrar um sentido para a vida.”(Lasch) Como novo factor a adicionar aos referidos, aquilo a que o autor chama de o “sentido de um fim”3, alimentado e moldado pela literatura do século XX, passa a integrar o imaginário coletivo – instala-se um sentimento comum de apocalipse inevitável e anunciado. Algo tornado tão ordinário, que as pessoas deixam de pensar em formas de o evitar e orientam, como reflexo individualista, os seus esforços para “estratégias de sobrevivência, medidas destinadas a prolongar as suas próprias vidas, ou programas garantidos, que assegurem boa saúde e paz de espírito.” Como Lasch escreve: “Viver para o momento é a paixão predominante – viver para si, não para os que virão a seguir, ou para a posterioridade. Estamos a perder

Frank Kermode escreveu “O sentido de um fim... é... endémico ao que chamamos de modernismo.”, continuou “...Em geral, parece que combinamos um sentido de decadência na sociedade(...)” 3

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rapidamente o sentido de continuidade histórica, o senso de pertencermos a uma sucessão de gerações que se originam no passado e que se prolongarão no futuro.” Relativamente a este ambiente de conformação, Hougan refere que o espírito de sobrevivência tornou-se o “lema dos anos setenta”, enquanto que o “narcisismo colectivo”, se tornou na motivação preponderante. Queria então isto dizer, que se humanidade estava condenada, faria sentido viver apenas para o momento, tal como se encontrava “aconselhado” no slogan da cerveja Schlitz: “você só vive uma vez, portanto tem que agarrar todo o prazer que puder”. Esta forma de pensar descrita nas palavras de Lasch: “faz sentido(...) fixarmos os olhos nos nossos próprios desempenhos particulares, tornarmo-nos peritos na nossa própria decadência, cultivarmos uma auto-atenção transcendental.” As próprias terapias desenvolvidas nessa altura, muitas pertinentemente associadas a filosofias orientais, aproveitando-se do fascínio cultural – tal como menciona Bourdieu no inicio da obra “Razões Práticas”, é comum apreciarmos mais outras culturas do que a nossa própria 4 – apenas contribuem para um fortalecimento do espírito individualista. Fala-se de partilhar sentimentos sem limitações, de encontrar o “eu”, mas sempre com o incentivo pessoal, nunca em prol do bem colectivo. Lasch observa: “A terapia estabeleceu-se, ela própria como a sucessora, tanto do áspero individualismo como da religião;(...) Mesmo quando os terapeutas falam de necessidades de “sentido” e de “amor”, definem eles o amor e sentido simplesmente como o preenchimento das necessidades emocionais do paciente. Dificilmente lhes ocorre – nem há razão por que deveria ocorrer, dada a natureza da empresa terapêutica – encorajar o sujeito a subordinar as suas necessidades e interesses aos de outras pessoas, a alguém ou a alguma causa ou tradição fora dele mesmo.” Podemos então dizer que vivemos numa sociedade narcisista, em que os traços narcisistas são proeminentes e estimulados. Novas formas de personalidade, novos modelos de socialização e novos modos de se organizar a experiencia, deverão ser encaradas como reação natural ás novas formas sociais. Assim, o conceito de narcisismo mais do que proporcionar à investigação uma mera designação feita por medida, poderá facultar um meio que ajudará a compreender o impacto psicológico das mudanças sociais contemporâneas. Nas palavras de Lasch, e em jeito de conclusão deste tópico: “o narcisismo parece realisticamente representar a melhor maneira de lutar em igualdade de condições com as tensões e ansiedades da vida moderna, e as condições sociais predominantes tendem, em consequência, a fazer aflorar os traços narcisistas presentes, em vários graus, em todos nós. Estas condições também transformam a família, que, por sua vez, modela a estrutura subjacente da personalidade. Uma

“(...)os intelectuais japoneses ou americanos dizem adorar a cozinha francesa, ao passo que os intelectuais franceses adoram frequentar os restaurantes chineses ou japoneses(...) 4

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sociedade que teme não ter futuro, muito provavelmente dará pouca atenção ás necessidades da geração seguinte(...)”

Em Busca da Fama Nos anos 60, com o auge da Pop Art nos E.U.A., dá-se o culminar de um movimento associado ao consumismo cultural, anteriormente cunhado por Adorno e Horkheimer como a Industria Cultural. Neste período foi passada a mensagem que o trivial era afinal de contas objecto de arte e poderia, por isso, ser valorizado. Mais do que em qualquer outra altura, enalteceram-se os ídolos – como podemos observar nas famosas obras de Andy Warhol. Esta sensação de acessibilidade e suposta facilidade de subir ao estrelato alastrouse ao cidadão “comum”, como se finalmente se percebesse que estas figuras eram afinal humanos comuns, e que se eles eram famosos, qualquer pessoa o poderia também ser. E enquanto não se obtinha a fama desejada, vivia-se a vida dos famosos como se fosse a sua própria. “Os meios de comunicação de massa, com o seu culto da celebridade e a sua tentativa de cercá-la de encantamento e excitação, fizeram dos americanos uma nação de fãs, de frequentadores de cinema. O meio dá a substância e, por conseguinte, intensifica os sonhos narcisistas de fama e glória, encoraja o homem comum a identificar-se com as estrelas e a odiar o “rebanho”, e torna cada vez mais difícil para ele aceitar a banalidade da existência quotidiana.”(Lasch) É possível observar este fenómeno no testemunho de Susan Stern, que vive de celebridades como se fosse a sua. A sua associação aos Weathermen fê-la, nas suas palavras, sentir que tinha finalmente encontrado o seu “lugar adequado na vida”. Referindo-se à forma como via Bernardine Dohrn, ela mencionou: “Qualquer que fosse a qualidade que possuísse, eu queria-a para mim. Queria ser apreciada e respeitada como Bernardine.” A experiencia documentada de Stern dá ainda conta de como estar associada a pessoas famosas ou estar integrada “numa vasta rede de pessoas intensas, excitantes e brilhantes”, a faziam sentir-se bem e importante. Neste contexto de ídolos, exaltação e consumismo, surge, como forma de purga associada ao modelo terapêutico supra mencionado, uma nova forma de escrita no seio da critica cultural, caracterizada pelo seu carácter pessoal e autobiográfico, que se reflete nos modelos adotados pela maioria dos “escritores” de rede: a autoexposição. Nas palavras de Lasch, esta forma de escrita “na pior das hipótese, degenerou em autoexibição.” Como é referido, na busca pelo mediatismo, os escritores “em vez de explorarem as suas lembranças(...) apoiavam-se na mera autoexposição, para manter o leitor interessado, apelando não para a sua compreensão, mas para a sua curiosidade lasciva sobre as vidas privadas de pessoas famosas.” Assim, podemos melhor entender alguns dos padrões

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comportamentais atuais, uma vez que já na altura se observava que quando o escritor se expunha à atenção publica, já usufrui de um mercado aberto ás confissões verdadeiras. Algo que se verificou na altura e que se pode constatar na atualidade, é o recurso à autoparódia como forma de desarmar a critica com a sua antecipação. Muitas vezes, escreve Lasch, “Tentam encarar o leitor, em vez de reivindicar a importância da sua narrativa. Usam o humor, não tanto para se distanciar do material, mas para se insinuar, conseguir a atenção do leitor, sem pedir-lhe que leve a sério o escritor ou a sua obra.” Este formato, quase em jeito de confissão, “permite a um escritor honesto(...) fazer um relato aflitivo da desolação espiritual dos nossos dias, tal como permite, também, a um escritor preguiçoso perder-se na espécie de autorrevelação imodesta, que, em ultima análise, esconde mais do que admite.” Como podemos verificar, estes padrões ou modelos mantém-se completamente atualizados, basta para isso estarmos um pouco atentos ao mundo que nos rodeia.

O Corpo “Tudo é linguagem, tudo é texto, e tudo, portanto, produz significação” (Roland Barthes) Vamos partir desta frase de Barthes para falarmos um pouco sobre o corpo, não da anatomia, mas da forma como este de transformou em objecto capaz de produzir significação, ou como especifica Marx, um dos pioneiros a dar conta de como o corpo do trabalhador estava transformado em mercadoria, uma vez que, no capitalismo, a produção era resultado da ação corporal e mental. Existem ainda outros autores a abordar este tema, no entanto parece-nos pertinente dar um exemplo específico de um movimento que influenciou a dinâmica e relação da cultura com o corpo: a body art5. Com estas manifestações artísticas, o corpo passa, ele próprio, a ser utilizado como suporte ou meio de expressão – ou seja, há uma desmitificação do corpo humano, transformando-o em objecto. Existe uma hipervalorização do corpo do artista desvinculado de um propósito, isto é: o corpo é apresentado ou atacado como forma passível de transformação segundo uma consciência – o corpo é portanto uma matéria. Pierre Bourdieu e Michael Foucault defendem que o corpo não é meramente um texto gravado pelas marcas e características da cultura a cultura inscreve suas marcas e características, ele é um objecto dinâmico, vivo, diretamente vulnerável ao controlo social. Assim, é por influencia das regras e práticas ordinárias (hábitos alimentares, modo de vestir, formas de lazer), por sua vez reflectidas como atividades quotidianas, que a cultura “(...) se faz corpo”. (Bourdieu)

5Body

Art, ou arte do corpo, designa um movimento da arte contemporânea que toma o corpo como meio de expressão e/ou matéria para a realização dos trabalhos - – o corpo do próprio artista pode ser utilizado como suporte –. Frequentemente associada a happening e performance, surgiu no final da década de 60.

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Autorretrato O autorretrato é um género antigo, através do qual o artista/sujeito, se torna o objeto de representação. Consiste numa forma instantânea de congelar o momento em que se encontra. Isto, por sua vez, reflete a vontade de registar a sua imagem e existência no mundo, transportando quem vê para uma dimensão temporal e cultural diferente – a vivida pela pessoa autorretratada. “Segundo o ponto de vista tradicional, realizar um autorretrato é olhar-se refletido, tomar consciência de si como um todo unificado.”6 Na pré-história temos o caso da pintura rupestre da “Caverna das Mãos” que retrata como homens e mulheres representavam as suas marcas de mãos dentro das cavernas, mas foi no renascimento que o género adquiriu uma maior dimensão e popularidade (passagem do teocentrismo da era medieval, para o antropocentrismo, no qual o homem se torna o centro das preocupações). Apesar de, Albrecht Dürer ter sido o primeiro artista do renascimento a desenhar um autorretrato, foi no século XVII/XVIII que Rembrandt Van Rijn (1606 – 1669), pintou cem autorretratos (o maior número da história). Esta obsessão narcisista do homem, fê-lo seguir à letra a célebre frase “espelho meu, espelho meu, existe alguém mais belo do que eu?”, usando precisamente o espelho como instrumento para a realização dos autorretratos, antes e depois da fotografia que entretanto se tornou uma prática social, na qual a imagem desempenha a função de significar. Deste modo, a fotografia “começou, historicamente, como uma arte da Pessoa: da sua identidade, do seu estado civil, daquilo a que se poderia chamar, em todas as acepções da expressão, o quanto-asi do corpo” (Barthes). “Aliás, a fotografia de acordo com Stuart Hall (1992), a identidade se constrói na interação entre o self e a sociedade, a fotografia, enquanto instrumento de representação do mundo, pode atuar como expressão dessa relação7, na qual o retrato permite ao sujeito construir a sua identidade, pelo olhar dos outros. «A Foto-retrato é um campo de forças fechado. Aí se cruzam, se confrontam e se deformam quatro imaginários. Perante a objetiva, eu sou simultaneamente aquele que eu julgo ser, aquele que eu gostaria que os outros julgassem que eu fosse, aquele que o fotógrafo julga que sou e aquele de quem ele se serve para exibir a sua arte. Por outras palavras, trata-se de uma ação bizarra: não paro de me imitar a mim próprio e é por isso que sempre que me fotografam (...) sou invariavelmente assaltado por uma sensação de inautenticidade, por vezes de impostura (...). Virginia gil araujo - Auto-Retrato fotográfico: um estudo sobre a construção fisionómica como arbitariedade em Artur Barrio. 7 Caetano Ana - "práticas fotográficas e identidades. A Fotografia privada nos processos de (re)construção identitária. 6

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Ao nível imaginário, a Fotografia (...) representa esse momento deveras subtil em que, a bem dizer, não sou nem um sujeito nem um objeto, mas essencialmente um sujeito que sente que se transforma em objeto: vivo então uma micro-experiência da morte (do parêntese), torno-me verdadeiramente espectro.» (BARTHES, Roland. A Câmara Clara).

Selfie Selfie (substantivo Self (Eu) e o sufixo ie) foi eleita a palavra do ano, pelos editores do Dicionário Oxford de Inglaterra e passou a configurar na sua página oxforddicionaries.com, definida como: “uma fotografia que uma pessoa tira a si mesma, geralmente com um smartphone ou uma webcam e que depois descarrega numa rede social na Internet” Esta palavra já tinha aparecido no Flickr em 2004, mas só em 2012 é que se generalizou e passou a fazer parte do vocabulário dos media, uma vez que o seu uso na internet aumentou em 17.000% no último ano – tornando-se um fenómeno global. Contudo, esta palavra já tinha sido utilizada em 2002, numa publicação num fórum australiano: “Um, drunk at a mates 21st, I tripped ofer [sic] and landed lip first (with front teeth coming a very close second) on a set of steps. I had a hole about 1cm long right through my bottom lip. And sorry about the focus, it was a selfie,” said the Sept. 13, 2002, ABC Online forum posting. O significado desta palavra aumenta com a relação entre hardware e software (os telemóveis/smartphones com ligação à internet transformaram-se em máquinas fotográficas). E, com a ajuda de aplicações como : Instagram (tem mais de 60milhões de imagens publicadas, com a hashtag “selfie”) . Há três grupos definidos de autores de selfies:   

Os exibicionistas ; As pessoas que querem apenas mostrar o seu estado de espírito; Os que querem mostrar que estão em algum sitio, a fazer algo.

O criador da aplicação selfie.im diz que "O selfie permite que você mostre seus sentimentos sem artifícios, sem uso de filtros que distorcem fatos" - aplicação dedicada exclusivamente aos autorretratos : tem apenas três botões : um para capturar a imagem, outro para programar o instante em que a foto será feita (temporizador) e, finalmente, um para compartilhar o produto nas redes sociais.

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Como se trata de um fenómeno global, as celebridades não são exceção e o selfie é explorado por cantoras como a Rihanna, Lady Gaga, Demi More , Miley Cyrus, porém Justin Bieber (utiliza o selfie para cumprimentar as suas fãs, geralmente em tronco nu)investiu 1.1 milhão de dólares numa aplicação chamada “Shots of me”. Até mesmo o Papa Francisco aumentou a popularidade do termo, ao aceitar pousar com um grupo de adolescentes, numa fotografia tirada por um deles. Para Judy Pearsall – “a influência das redes sociais na explosão do termo é clara, pelo imediatismo que é permitido. Eu tiro a fotografia agora e agora é quando os meus amigos e seguidores a podem ver e comentar”. “Uma selfie é uma expressão de uma identidade online ativa, uma coisa sobre a qual tens algum controlo. Até podes tirar várias fotografias, mas publicarás só as que gostas” - Aaron Balick (psicólogo). Para a investigadora da UCLA Andrea Letamendi, “os autorretratos permitem aos jovens adultos e aos adolescentes expressarem os seus estados de espírito e partilharem experiências importantes”, tendo um peso muito importante na sua vida. Ao publicarem estes momentos nas redes sociais, estas pessoas sentem-se parte de um mundo, que é cada vez mais digital.

Conclusão Depois da pesquisa que efetuámos, poderemos então concluir que o selfie, mais do que uma forma contemporânea de autorretrato, é o reflexo de uma sociedade. Ele surge como conceito associado a uma ação, consequência de uma dependência crescente que o individuo tem de estar ligado; espelha o desejo que o Homem atual tem de ser constantemente reconhecido, ilustrando a sua necessidade de aprovação publica para se sentir vivo: “(...) o narcisista depende dos outros para validar a sua autoestima. Ele não consegue viver sem uma audiência que o admire (...) Para o narcisista, o mundo é um espelho.” (Lasch) Este recurso, entre muitos outros suportados pelas novas tecnologias associadas à comunicação, alimentam uma capacidade ilusória de omnipresença, a falsa sensação de estar em todo o lado, em qualquer instante. Podemos dizer que será como que um manifesto, em que o sujeito pretende provar a sua existência, registando a sua presença num determinado local, num determinado momento, esperando que o modo de funcionar da rede o possa “imortalizar”. Escreveu Exley: “sonho com um destino grande demais para mim(...) não desejo menos do que estender-me pelos tempos e deixar as marcas dos meus dedos(...) na posteridade.” A web 2.0 veio alimentar ainda mais esta fantasia. O consumidor torna-se também produtor de conteúdos, e parece cada vez mais fácil, com a rapidez que a rede proporciona, passar de “zero” a “hero” – basta pegarmos no youtube, por exemplo,

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e pensarmos quantas são as pessoas que de um momento para o outro, e sem mérito aparente, têm o seu vídeo com uns milhares de visualizações e passam, consequentemente, a ganhar dinheiro. No atual panorama sociocultural, os fins parecem justificar todos os meios. Deixou de ser relevante a forma como se atinge o estrelato, pois muitas vezes o nível de exigência das audiências também o permite - dá-se muito valor ao absurdo, exaltase o ridículo – , o importante, como já referimos anteriormente, é ser “famoso”.

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