Seminário: \"Teoria Ator-Rede\" (ANT)

May 27, 2017 | Autor: Bruno Campelo | Categoria: Actor Network Theory, Brazil, Bruno Latour, Anthopology
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Seminário sobre a Teoria Ator­Rede e “Introdução”. In: Reagregando o Social: uma  introdução à teoria do ator­rede (Bruno Latour)   Disciplina: Antropologia e Teoria Social Contemporânea (IFCH­Unicamp)   Em  “Reagregando  o  Social”,  estamos  diante  de  uma  nova  proposta  teórica  de  abordagem  do  social.  Este  que,  em  suas  novas  configurações,  parece  a  Latour,  exigir  uma  abordagem  em  novos  termos  e  com  novos  conceitos.  Foi,  portanto  a  necessidade  de  uma  nova teoria social ajustada aos estudos, sobretudo, de ciência e tecnologia, que se originou a  TAR. Latour é levado à Teoria Ator­Rede a partir de sua identificação: 1.  Primeiro:  da  ineficácia  da  proposta  ontológica  moderna  que  distingue  natureza­ cultura / sujeito­objeto. 2. Segundo: de que a modernidade acima de tudo foi responsável pela proliferação de  uma grande quantidade de híbridos: quase­sujeitos e quase­objetos. Essa ideia, inclusive, é a mesma que dá o tom de "Jamais Fomos Modernos" (2009).  Isto  é,  na  sua  tentativa  de  ser  moderno,  o  ocidente  da  modernidade  nunca  concretizou  a  distinção sujeito­objeto, que é base de sua ontologia. Na melhor das hipóteses, tão somente  delineou essas entidades híbridas: quase­sujeitos / quase­objetos. A  grande  contribuição  dos  teóricos  da  TAR  está  em  propor,  partindo  dessas  entidades híbridas (quase­sujeitos, quase­objetos) e de uma outra ontologia, de forma  plana  (que  rompe  com  as  dicotomias  sujeito­objeto,  natureza­cultura,  ciência­sociedade).  Uma  teoria  que  percepciona  estas  entidades  híbridas  (que  são  coisas,  objetos  em  geral,  leis,  inovações científicas, etc.; humanos e não humanos) como "actantes que formam (e se formam  em) redes". Essa é o que podemos enxergar como distinção mais básica entre uma tradicional  "sociologia do social" e uma "sociologia das associações" (ou da mobilidade). Nessa introdução: Latour aponta essas duas formas de sociologia como abordagens  fundamentais, que partem de pressupostos distintos e de origens teóricas distintas. 1.  Em  uma:  o  social  e  a  sociedade  são  tomados  como  explicação  dos  fenômenos  (tanto sociais quanto de outras disciplinas, como economia, geografia, artes, etc.). A ideia é a  de que vamos estudar e compreender o “contexto social” ou a “estrutura social”, ou ainda os  “fatores  sociais”  que  levam  a  este  ou  àquele  fenômeno;  ou  seja,  insiste  em  uma  explicação  social de um fenômeno. Aqui, estamos falando de uma sociologia de inspiração claramente 

durkheimiana,  versão  que  se  tornou  a  posição  padrão  no  pensamento  sociológico,  cuja ideia que leva em conta é a de que: Existe  um  "contexto"  social  em  que  ocorrem  atividades  não  sociais;  ele  é,  portanto,  uma  esfera  especifica  da  realidade;  pode  ser  usado  como  um  tipo  especial  de  causalidade  para explicar os aspectos que escapam a outros domínios (psicologia, direito, economia etc.) E qual seria a maior consequência disto, segundo Latour? Como  os  agentes  comuns  estão  sempre  sendo  entendidos  como  "dentro"  de  um  mundo  social  que  os  abrange,  eles  podem,  na  melhor  das  hipóteses,  tão  somente  nos  "dar  informações"  sobre  esse  mundo  cujo  efeito  total  só  seria  percebido  pelos  olhos  mais  disciplinados de "nós", cientistas sociais. 2. Em contraponto, na outra abordagem: é o social o que é explicado, um social que  está em constante mudança, por meio de inovações que alteram os fenômenos sociais.  Isso  quer  dizer  que  não  existe  ordem  social,  contexto  social  ou  força  social.  Portanto  é  cair  na  ideia  de  que  a  sociedade,  nesses  termos,  não  existe.  Contudo,  o  social  deve  ser  entendido  como associações entre elementos distintos, “um tipo de conexão que não são em si mesmas  sociais”. É  seguindo  este  aspecto  da  abordagem  que  Latour  e  os  outros  teóricos  da  TAR  resgatam a sociologia de Gabriel Tarde. Se,  na  primeira  abordagem,  toda  atividade  (direito,  ciência,  tecnologia,  religião,  política,  etc.)  podia  relacionar­se  e  ser  explicada  pelos  mesmos  aspectos  sociais supostamente  existentes  por  trás  dela;  nessa  segunda  versão,  não  há  nada  subjacente  às  atividades, embora elas possam ser agrupadas de modo a produzir uma sociedade (ou não).  As  entidades  com  que  Tarde  trabalha  não  são  pessoas,  mas  inovações.  São  mudanças  dotadas de vida própria. *

A TAR, partindo dessas influências: mostra como o social, por exemplo, constrói­se  no próprio desenvolvimento das ciências e das técnicas. O que ele quer dizer, portanto, é que  não é possível que separaremos: questões econômicas, simbólicas, institucionais, jurídicas de  questões ditas "científicas". Elas estão em constantes processos de associação. E  aqui:  associação  é  um  termo  chave  (assim  como  tradução,  mobilidade,  inconstância). Pois é nela que está o enfoque de uma teoria ator­rede, que levando em conta todos os seus pressupostos teóricos. Não se trata de uma teoria sobre "o ator na rede" ou "da  rede no ator" (como se ator correspondesse a individuo e rede à sociedade), pois aqui ator é 

rede e rede é ator ,e ambos são mediadores de associação. O  hífen  do  termo  inclusive  é  uma  forma  encontrada  de  sair  de  uma  discussão  que  busca entender de que lugar se fala sobre os fenômenos sociais. 1. da agência, do micro, do individual? 2. da estrutura, do macro, do contexto, do fundo? Para além dessa discussão vista com improdutiva, uma teoria ator­hífen­rede aponta  para a mobilidade (não para a imobilidade); aponta para a circulação (não para um polo ou  outro de ação). Trata­se  de  uma  redefinição  do  social,  e  esse  é  o  foco  do  problema:  Já  que  nem  a  sociedade é estável e nem a ciência, portanto, o objeto e a metodologia das Ciências Sociais  precisam passar por uma nova roupagem Veja que "social"  aqui  é  entendido  como  movimento  de  reassociação e reagregação 

(ou  seja,  está  longe  de  ser  algo  estável!).  É  seguindo  este  sentido,  portanto,  que  podemos  falar  em  uma  "sociologia  da  mobilidade".  Mobilidade  entendida  como  formação  das  associações,  dos  movimentos  de  conexão  e  desconexão,  da  comunicação  e  da  não­ comunicação das coisas Uma  sociologia  como  essa  se  torna  relevante,  quando  adentramos  nas  mudanças  trazidas  pela  inovação  tecnológica  ou  até  mesmo  em  questões  de  grupo  (para  entender  os  limites  e  suas  fronteiras)  e  notamos  que  uma  tal  "sociologia  do  social"  não  dá  conta  de  perceber as associações existentes nem a sua mobilidade. * Para  a  TAR,  precisamos  perceber  as  amarrações  existentes  entre  humanos  e  não  humanos, que aqui estão sob o mesmo plano e são vistos como igualmente capazes de gerar  significados: isto é, são actantes. Estão sempre se fazendo e se desfazendo como redes; e o  entendimento de redes está relacionado à ideia de que existem vários fios que nos conectam,  sem necessariamente formar uma unidade, mas sim um processo contínuo de associações. Isso quer dizer que, um actante (humano ou não­humano). é um mediador constituído 

anteriormente  por  condições  específicas  e  que,  ao  se  relacionar  com  outros,  vai  produzir  novas condições de existência, novas condições associativas Por essa razão, as redes estão  longe  de  serem  algo  como  infraestruturas  por  onde  passam  as  coisas:  são  o  próprio  movimento de associação pela mediação ou tradução Nesse sen do, uma teoria como a TAR afasta-se de tudo que é fixo: essências, estruturas, sistemas unificadores, paradigmas, etc. A sua ontologia é uma que define o ser 

não  pela  substância,  mas  pelos  seus  movimentos  de  subsistência.  O  seu  objetivo  é  pensar  a  mobilidade  da  agência  (da  ação).  O  social  como  é  aqui  entendido  não  é  nem  agência, nem estrutura, mas uma "entidade em circulação". O  analista  deve  seguir  a  ação,  seguir  os  actantes  que  se  apresentam  em  formatos  variados. A melhor forma de apontar a circulação é pela valorização dos actantes através da  descrição dos seus rastros. * Consequentemente  a  atenção  estará  no  fluxo,  no  movimento,  na  formação  e  no  esfacelamento das associações ● o técnico nunca é apenas técnico ● o científico nunca é apenas científico ● o social nunca é apenas social ● o natural muito menos Essas  definições  restritivas  são  formas  fixas  de  tomar  algumas  consequências  como  causas  (ou  seja  tomar  a  estrutura  ou  a  agência  como  causa,  quando  na  verdade,  são  consequências) A  proposta  então  é  que,  saindo da oscilação estrutura-agência/agência-estrutura: podemos situar o debate naquilo que circula. Não é que estruturas e agências não existam. Mas para a TAR elas são apenas consequências temporárias das associações, nunca suas causas.

Por  exemplo:  um  objeto  técnico  (como  o  smartphone)  é  sempre  resultado  temporário de uma estabilização. Isso quer dizer que ele é um evento estabilizado de outras  redes:  de  redes  que  o  formam  (redes  de  laboratórios,  estratégias  empresariais,  ideologias  governamentais  e  visões  de  mundo  dos  utilizadores)  e  de  redes  que  o  mantem  em  funcionamento (distribuição, energia, publicidade, os próprios usuários). No  entanto  nada  disso  está  determinado,  pois  sua  essência  se  definirá  no  momento  mesmo de sua associação a outros objetos (humanos e não­humanos) formando novas redes O objeto estabilizado (essa caixa­preta) agirá de acordo com associações específicas,  sendo que essas redes serão componentes a serem levados em consideração na analise, mas  não as causas essenciais de seu comportamento sempre em qualquer lugar. Se  estamos  presos  às  estruturas,  ou  ao  local,  ou  ao  global,  ou  ao  micro  ou  ao  contexto pouco se acrescentaria ao que já se sabe, ao que está estabilizado. Isso não abriria  caixas­pretas e apenas reforçaria esteriótipos, e então perderíamos o movimento

O mais interessante é:  ver a circulação das agências, as mediações que podem depois  se "ecaixapretarem" em estruturas ou indivíduos, em sujeitos ou objetos, em local ou global,  mas mesmo assim, provisoriamente (pois nada é estável!). Enquanto a sociologia do social toma a consequência como causa (estrutura, micro,  macro, contexto), a  TAR,  enquanto  uma  "associologia",  inverte  a  polaridade  e  se  preocupa  mais  em  olhar  as  mediações  entre  tudo  aquilo  que  produz  ação,  inscrição,  tradução,  circulação das coisas e o que se forma nessa relação: as redes, isto é o espaço­tempo. Dizer  que sociedade é uma entidade em circulação nada mais é do que dizer que sociedade é rede  se fazendo e se desfazendo a todo momento. * Um outro aspecto relevante é que todos os conceitos e pressupostos teóricos da TAR  insistem no tensionamento do espaço e do tempo Desta forma: espaço =  movimento de mediação = associação de coisas e de lugares = rede tempo = produzido pela relação entre as coisas, pela dinâmica de constituição = rede Um  objeto  (qualquer  que  seja  ele)  é,  portanto,  sempre  uma  rede  que  estabiliza  um  agregado  heterogêneo  de  soluções  científicas  e  técnicas,  de  materiais,  de  processos  de  épocas e temporalidades diferentes. Se  voltamos  ao  mesmo  exemplo  do  smartphone,  no  entanto  pra  tentar  agora  identificar  de  onde  vieram  as  peças  e  entidades  que  o  compõem,  de  que  tempo  e  de  que  lugares  são:  encontraremos  os  mais  diferentes  lugares/espaços  e  processos  de  tempo  cristalizados em um um único objeto. A natureza do plastico (toda industria petroquímica por  trás, circuitos eletrônicos, trabalho de engenheiros, as antenas colocadas para captar ondas de  radio que o tempo inteiro nos envolve invisivelmente, as lentes que permitem ao objeto fazer  fotos e videos, o desenho do aparelho, o estoque de energia antecipando o tempo futuro de  uso na bateria, as leis e concessões do Estado que permitem fazê­lo funcionar, as empresas  que  dão  garantia  de  conserto,  o  mercado  que  o  fará  consumi­lo).  Ele  estabiliza  espaço  e  tempo diferenciados (mas provisoriamente!) Espaço e tempo são consequências das associações e a associação só acontece no  agenciamento.  Assim,  qualquer  acontecimento  histórico  pode  ser  visto  como  multitemporal,  remetendo ao passado, ao contemporâneo e ao futuro simultaneamente A ideia da TAR é escapar das formas hegemônicas de explicação do social, que se  constroem a partir de concepções "prescritivas" do espaço e do tempo. Aqui, pelo contrário, 

espaço e tempo passam a fazer parte do que se constitui na circulação.  Mais do que explicar os fenômenos tendo como causa a sociedade/o social. O social aqui: é o que emerge das associaç ões, das redes

Sobre o analista, para Latour: este deve tentar seguir o social nas associações que se  fazem  em  determinado  momento  e  lugar,  isto  é,  seguir  os  actantes  que  se  apresentam  nos  formatos  mais  variados,  apontando  a  circulação  pela  valorização  dos  actantes,  ou  melhor,  pela  descrição  dos  rastros  que  eles  mesmos  apontam.  Mas  as  identificar  e  apreender  tais  rastros dependem intimamente do olhar atento do pesquisador. Mas identificados os rastros (ou indícios de ações): eles podem ser articulados pelo  pesquisador  num  relato,  textual  ou  imagético,  a  fim  de  mapear  os  actantes  mobilizados  nas  associações em questão. É esse mapeamento o método por excelência de que os autores da  TAR chamam Cartografia de Controvérsias. [...]   Referências:

LATOUR, B. Reagregando o Social: uma introdução à teoria do ator­rede. Salvador:  Edufba; Bauru: Edusc, 2012, 400 p. LEMOS,  André.  A  comunicação  das  coisas:  teoria ator-rede e cibercultura. São paulo, Annablume, 2013 (Coleç ão ATOPOS)

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