Seminários Avançados em Processos Criativos I - aula 2
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
Seminários Avançados em Processos Criativos I
Prof. André Luiz Gonçalves de Oliveira 31/10/2016
Encontro anterior ❖
Introdução em princípios de fenomenologia e ecologia.
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Sistema perceptivo em vez de órgão do sentido; percepção direta; affordance/invariante, busca por padrões informacionais.
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Conduta estética como fundamento da arte
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Arte como movimento de emoções (história das espécies e grupo sociais) por meio de percepções.
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Corpo no mundo como aspecto central para a descrever atividades perceptivas.
Esse encontro ❖
Ontologia da escuta, da escuta estética e introdução à uma fenomenologia da escuta para além da epoché husserliana.
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Ampliação do papel da percepção nos processos criativos em arte (música inclusa) apontam para necessidade de estudo da “escuta”, do “olhar”…
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Categorizações da escuta - escuta estética.
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Música como história dos hábitos consensuais de escuta.
Perguntas iniciais ❖
Qual o papel dado à escuta na pesquisa musical?
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De que tipo de música estamos tratando quando deixamos a escuta em segundo plano?
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Porque e como re-colocar o papel dos corpos e dos lugares na descrição da experiência de escuta estética?
Escuta corporificada e situada ❖
Escutar é sempre ação de um corpo em um local específico. Escuta ocorre junto com olhar, tato, olfato…
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É o corpo que escuta não o ouvido, ou o cérebro. Todo o corpo escuta porque vibra com o mundo. Uma corporeidade específica e não outra (o sistema auditivo tem uma forma muito peculiar de vibrar com o mundo), um corpo como um modo de ser no mundo que se realiza também por meio da escuta e da fala. (Pessoa = Per sona).
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Local da Escuta - que da origem a qualquer Local de Fala. Toda escuta é escuta de algo em algum lugar (arranjo acústico), uma pessoa escuta de um local específico em um tempo específico.
Escuta corporificada e situada ❖
Escutar é engajar-se no mundo por meio das relações do corpo com determinados padrões de arranjos vibratórios do mundo.
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Tal engajamento se dá por meio de hábitos de condutas corporais específicas. Seja a conduta de produzir padrões vibratórios específicos por meio de ações também específicas com aquilo que chamamos “instrumentos musicais”, seja a conduta de escutar e buscar escutar padrões vibratórios específicos.
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“É preciso que com meu corpo despertem os corpos associados, os “outros”, que não são meus congêneres como diz a zoologia, mas que me frequentam, que frequento, com os quais frequento um único ser atual, presente, como animal nenhum frequentou os de sua espécie, seu território ou seu meio.” (Merleau-Ponty, 2004, p. 17)
Escuta estética ❖
Escuta é hábito da vida (dia-a-dia), mas a escuta estética é um outro tipo de hábito.
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Conduta estética (Couchot, 2012) - animal antes de humana, emerge de diversas condições cognitivas (enaccionistas) específicas, é morfotrópica (direciona-se para gestalts), é autoteleológica (se alimenta de si mesma).
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Arte é sistematização humana de conduta estética.
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Estética é possibilidade da natureza. A cultura é uma forma de especificidade dessa possibilidade.
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Natureza não é o contrário de cultura, a arte ganha abordagem mais naturalista e a fronteira com a vida fica mais tênue ainda.
Ontologia da escuta ❖
A escuta não ocorre desligada dos outros sistemas perceptivos, portanto falar dela sem falar dos outros modos de atenção é sempre uma abordagem parcial.
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A história do corpo que escuta em locais específicos suporta a possibilidade de experiência musical, de escuta estética.
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Ihde (2007) indica níveis de abstração da música a partir da escrita no s. IX, passando pelos sistemas de gravação e distribuição analógicos e digitais. Fala de uma “música de cabeça” e uma "m. de corpo”.
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A escuta na sala de concerto já descorporifica e des-loca a escuta. Prende-se o corpo a uma cadeira e isola-o do mundo.
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A escuta fonográfica, no estúdio/laboratório, por um lado, des-corporifica e des-situa ainda mais a escuta, o som.
Ontologia da escuta ❖
Música Ocidental moderna é recheada de metáforas visuais.
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A teoria da música tonal é basicamente reduzida a aspectos gráficos que descrevem uma estrutura descritiva matemática (abstrata) para parametrização da escuta.
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Para Ihde (2007) a escrita é uma outra corporificação para a música, assim como a gravação, tal como a escrita e imprensa foram para a linguagem. Isso traz novas possibilidades e limitações.
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Música que se reduzida a escrita torna-se “metáfora”.
Ontologia da escuta estética ❖
Escuta estética (música) como um modo de escuta, como experiência vivida que suporta a abordagem de uma estética naturalizada (da natureza e na natureza).
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Tecnologias corporificam e situam a escuta em um tempo/espaço específicos. E essa história de corporificações e descorporificações, situações e dessituações da experiência de escuta é que chamamos de história da música.
Idéias para uma fenomenologia da escuta estética
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Já que a percepção mesma jamais é acabada, (…) ela pode ser também o reconhecimento (…) de uma significação que não visa o objeto ja dado, mas o constitui e o inaugura (…). (Merleau-Ponty, 2002, p. 82).
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segue na próxima aula.
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