Semiótica da Imagem (GEC 108): Teorias da Fotografia, entre o dispositivo e a experiência (2016.2)

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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CULTURAIS E MÍDIA

Disciplina: Semiótica da Imagem (GEC 108)
Professor: Benjamim Picado
Horário: 6as feiras, das 14 às 18 :00
Local: Sala 405 (Bloco A-Gragoatá)

Do Dispositivo Técnico à Experiência Visual:
percursos críticos pelas teorias da fotografia

Introdução: "Máquina de esperar", "depósitos mecânicos de luz", "relógios
de ver", "engenhos da visualização", imagens de "gênese automática", "lápis
da natureza", camara lucida, todas estas são expressões que se encontram
com freqüência vinculadas a uma extensa amostragem dos discursos que
refletiram (e ainda permanecem demarcando o pensamento mais recente) sobre
uma suposta natureza da fotografia: estabelecidos como modos de pensar
sobre o caráter hipoteticamente determinante de uma suposta arché
propriamente fotográfica, esses discursos tentam fixar uma espécie de
ontologia característica de certos tipos de representação visual; no caso
da fotografia, essa metafísica desponta com uma especial relação de
implicação proposta entre o caráter de seus produtos finais (das figuras
visuais que lhe são próprias e dos discursos que elas geram ou que podem
delas se apropriar) e o fundamento hipotético de seus dispositivos
originários de fixação da imagem.
Nesses termos, supõe-se que o fenômeno fotográfico esteja como que
previamente justificado neste seu aspecto de rendição instantânea ou de
impregnação mecânica do mundo visual numa superfície sensível. Tomada na
condição dessa sua filogênese, essa fixação momentânea do mundo visual (e o
caráter instrumentalizado de sua origem) teria inclusive precedência sobre
quaisquer daquelas outras características das formas visuais que emergiram
desse processo e dos aparatos aí implicados: mantêm-se fora de questão,
portanto, os modos pelos quais a imagem fotográfica entra nos circuitos
semióticos que a disparam, especialmente quando estão em jogo os elementos
que a transformariam em variável dos processos de comunicação vigentes em
nossa cultura e plenamente possibilitados através dessas formas visuais
(sobretudo quando estes envolvem uma dimensão de produção discursiva da
visualidade, em suas manifestações mais variadas).
No presente contexto, nos interessa avaliar criticamente alguns dos
pressupostos e das estratégias argumentativas sobre as quais esse discurso
pôde se sustentar, de modo a impedir-nos vislumbrar o fenômeno fotográfico,
a não ser na condição de sua determinação por um "engenho de visualização".
No horizonte particular deste exame, interessa-nos interpor a essas teses
uma proposição teoricamente alternativa, pela qual a questão da
significação visual na fotografia possa ser menos assimilada aos entornos
mediáticos de seu funcionamento e mais às condicionantes de certos
protocolos semiótico-pragmáticos para sua compreensão (ou seja, nos
circuitos propriamente comunicacionais em cujo interior vemos assimilada a
dimensão aspectualizada da instantaneidade, e com a qual a fotografia é
freqüentemente relacionada).

Objetivos: a disciplina pretende oferecer um percurso crítico pelas teorias
da fotografia com maior circulação nos ambientes acadêmicos, com especial
ênfase sobre aquelas que trabalham sobre a dominância dos dispositivos
técnicos de sua produção como aspectos determinantes de sua significação.
Do mesmo modo, procuraremos reavaliar a localização mais apropriada de
certas implicações acerca da suposta "indexicalidade" da imagem
fotográfica, na medida em que se possam considerar suas relações com os
processos da "gênese mecânica" da fotografia. Do mesmo modo, serão
abordadas as questões relativas à "agência intencional" da fotografia,
visando estabelecer o lugar apropriado de uma fala sobre "estilos"
fotográficos. Finalmente, pretende-se instituir o problema dos "regimes
discursivos" da imagem fotográfica, em seus vários campos de aplicação
(documento, reportagem, narrativa, arte), assim como considerar a questão
de como o discurso fotográfico pode ser implicado em uma "pragmática da
imagem", isto é, na relação instaurada entre suas imagens e os regimes de
sua recepção. 

Conteúdo Programático :
Introdução: Teoria, interrompida : de onde vêm e para onde vão as teorias
da fotografia. Dominâncias poéticas na origem das teorias da fotografia: a
questão da reprodutibilidade técnica como matriz de um "discurso do
dispositivo" (Kracauer, Benjamin, Flusser); as "idades do índice" nas
teorias da fotografia – da analogia visual ao dispositivo de visualização
(Barthes, Dubois, Schaeffer).
Unidade 1: Persistências contemporâneas de uma ontologia da fotografia :
índice, transparência e automatismo. (Arnheim, Maynard, Walton, Scrutton);
do entre-imagens à querela dos dispositivos (Bellour). Genealogias criticas
do índice nas teorias da fotografia (Lefèvre, Elkins): Reavaliando o índice
fotográfico: suspeitas contra o automatismo do dispositivo (Chateau,
Phillips, Davies). Recolocando o problema da transparência nas novas
teorias da fotografia: instante, aspecto, representação (Lopes, Costello,
Atencia-Liñares)
Unidade 2: Discursos, Intenção, Estilo : dimensões do agenciamento na
fotografia. Delimitando o estilo fotográfico enquanto "padrão de
intenção" (Baxandall) e como "valor epistêmico da imagem" (Cohen e Meskin,
Perini): agenciamento e automatismo (Armstrong); a questão de uma "fatura
fotográfica", como gestão intencional dos índices luminosos (Maynard); os
"regimes discursivos" da fotografia no universo da arte (Krauss); as
modalidades da espera como traços de estilo na fotografia moderna
(Lissovsky); .
Unidade 3: Estética da Fotografia como "Pragmática da Imagem": para além
(ou aquém) do dispositivo, mas ainda no plano dos signos indexicais
(Schaeffer, Pettersson). Do diálogo entre fotografia e pintura: instante,
artifício e a "forma tableau" (Fried, Chevirer); fotografia, representação
e percepção (Currie, Lopes, Snyder e Allen); as ordens da seriação na
história da fotografia: temática e plasticidade das séries visuais na
fotografia documental (Lugon, ); da dimensão narrativa do instante: outra
retomada da questão da indexicalidade na fotografia (Gombrich, Snyder,
Picado);

Procedimentos e Critérios de Avaliação: a disciplina será conduzida na
forma de sessões expositivas feitas pelo docente, em torno do universo
temático do programa (definido a partir do conteúdo programático e do
cronograma das aulas), com eventuais debates com todos os estudantes (as
notas referentes a estas atividades estarão disponíveis no blog da
disciplina, para consulta ao fim de cada sessão, no endereço seguinte:) A
avaliação se dará mediante a exames parciais, no decorrer da disciplina,
versando sobre aspectos do universo temático exposto e discutido durante o
semestre, levando também em conta aspectos do envolvimento nas atividades
da disciplina, sob critérios e valores que serão discutidos oportunamente,
em sala de aula.

Referências Bibliográficas :

Introdução:
BARTHES, R. "A mensagem fotográfica" (trad. Cesar Bloom). In et al. Teoria
da Cultura de Massa (Luiz Costa Lima, ed.). Rio: Paz&Terra (1978): pp.
303,316;
BARTHES, R. "A retórica da imagem". In: O Óbvio e o Obtuso (trad. Léa
Novais). Rio: Nova Fronteira (1990): pp.
BAZIN, A. "Ontologia da imagem fotográfica". In et al.: A Experiência do
Cinema (Ismail Xavier, Ed.). Rio: Graal (1983): pp. 121,128;
BENJAMIN, W. "Pequena história da fotografia". In: Walter Benjamin: magia e
técnica, arte e política (trad. Sérgio Paulo Rouanet). São Paulo:
Brasiliense (1985): pp. 91,107;
BENJAMIN, Walter. "A obra de arte na época de sua reprodutibilidade
técnica". In: Walter Benjamin: magia e técnica, arte e política (trad.
Sérgio Paulo Rouanet). São Paulo: Brasiliense (1985): pp. 165,196;
DUBOIS, P. "Da Verossimilhança ao Índice: pequena retrospectiva histórica
sobre a questão do realismo na fotografia" e "O Ato Fotográfico: pragmática
do índice e efeitos de ausência. In: O Ato Fotográfico (trad. Marina
Appenzeller). Campinas: Papirus (1993): pp. 23, 108;
FLUSSER, V. Ensaio sobre a Fotografia: para uma filosofia da técnica.
Lisboa: Relógio d'Agua (1998);
FRIDAY, J. "André Bazin's ontologic of the photographic and film imagery".
In: Journal of Aesthetics and Art Criticism. 63/4 (2005): pp. 339,350;
KRACAUER, S. "Photography". In: Theory of Film. New York: Oxford University
Press (1060): pp. 3,23;
PICADO, B. "Sobre/Pelo/Contra o Dispositivo: revisitando a arché da
fotografia". In: Matrizes. 5/2 (2011): pp. 165,181;
SCHAEFFER, J.-M. "O arché da fotografia". In: A Imagem Precária (trad.
Eleonora Bottman). Campinas: Papirus (1996): pp. 13,53;
XAVIER, I. "As aventuras do dispositivo (1978/2004)". In: O Discurso
Cinematográfico. Rio: Paz&Terra (2005): pp. 175, 207.

Unidade 1:
ARNHEIM, R. "On the nature of photography". In: Critical Inquiry. 1/1
(1974): pp. 149,161;
ATENCIA-LIÑARES, P. "Natural images and fictional incompetence". In: Arts
and Facts: fiction, non-fiction, and the photographic medium. PhD Thesis in
Philosophy, London: UCL (2013): pp. 56,101;
BELLOUR, R. "A querela dos dispositivos" (trad. Luciano Vinhosa). In:
Poiésis. 12 (2008): pp. 15,22;
CHATEAU, D. "L'indiciaité: la question de la photographie". In: Le Bouclier
d'Achille: théorie de l'iconicité. Paris: L'Harmattan (1997): pp. 91,108;
COSTELLO, D. e PHILLIPS, D.W. "Automatism, Causality and Realism:
foundational problems in the philosophy of photography". In: Philosophy
Compass. 4/1 (2009): pp. 1, 21;
DAVIES, David. "Scruton on the inscrutability of photographs". In: British
Journal of Aesthetics. 49/4 (2009): pp. 341,355;
ELKINS, J. "What does Peirce's sign theory has to say to Art History?". In:
Culture, Theory and Critique. 44/1 (2003): pp. 5,22;
LEFÈBVRE, M. "The Art of Pointing: on Peirce, indexicality and photographic
pictures". In et al.: Photography Theory (James Elkins, ed.). Routledge
(2007): pp. 220,243;
LOPES, D. "The aesthetics of photographic transparency". In: Mind. 112
(2003): pp. 433,448;
MAYNARD, P. "Photo Technologies". In: Engines of Visualization. Ithaca:
Cornell University Press (1997): pp. 3, 145;
PICADO, B. "Engenhos de Visualização e 'Modos de Ver': um outro discurso
sobre a arché fotográfica". In: Contemporanea. 9/1 (2011): 99,116;
PHILLIPS, D.W. "Photography and Causation: responding to Scruton's
scepticism". In: British Journal of Aesthetics. 49/4 (2009): pp. 327, 340;
SCRUTTON, R. "Photography and representation". In: Critical Inquiry. 7/3
(1981): pp. 577, 603;
WALTON, K. "Transparent Pictures: on the nature of photographic realism".
In: Critical Inquiry. 11/2 (1984): pp. 246, 277;

Unidade 2 :
ARMSTRONG, C. "Automatism and Agency Intertwined: a spectrum of
photographic intentionality". In: Critical Inquiry. 38/4 (2012): pp. 705,
726;
BAXANDALL, M. "Introdução: linguagem e explicação" In: Padrões da Intenção
(trad. Vera Maria Pereira). São Paulo: Cia das Letras (2005): pp. 31,44;
COHEN, J. E MESKIN, A. "On the epistemic value of photographs". In: Journal
of Aesthetics and Art Criticism. 62/2 (2004): pp. 197,210;
KRAUSS, R. "Os espaços discursivos da fotografia" (trad. ?). In: Arte e
Ensaios. (2006): pp. 155, 168;
LISSOVSKY, M. "O portal do instante". In: Contracampo. 9 (2004): pp.
221,238;
MAYNARD, P. "Drawing and Shooting: causality and depiction". In: Journal of
Aesthetics and Art Criticism. 44/2 (1985): pp. 115,129;
PERINI, Laura. "Depiction, detection and the epistemic value of
photographs". In: Journal of Aesthetics and Art Criticism. 70/1 (2012): pp.
151,160.

Unidade 3 :
CHEVRIER, J-P. "Walker Evans et la question du sujet". In: Communications.
71 (2001): pp. 63,103;
CURRIE, G. "Photography, painting and perception". In: Journal of
Aesthetics and Art Criticism. 49/1 (1991): pp. 23,29;
FRIED, M. "Three beginnings". In: Why Photopgraphy Matters as Art as Never
Before. New Haven: Yale University Press (2008): pp. 5,36;
GOMBRICH, E.H. "Standards of Truth: the arrested image and the moving eye".
In: The Image and the Eye. London: Phaidon (1982): pp. 244,277;
LOPES, D. "Directive pictures". In: Journal of Aesthetics and Art
Criticism. 62/2 (2004): pp. 189,196;
LUGON, O. "La série". In: Le Style Documentaire. Paris: Macula (2001): pp.
241, 295;
PETTERSSON, Mikael. "Depictive Traces: on the phenomenology of
photography". In: Journal of Aesthetics and Art Criticism. 69/2 (2011): pp.
185,196;
SCHAEFFER, J.-M. "O ícone indicial". In: A Imagem Precária (trad. Eleonora
Bottman). Campinas: Papirus (1996): pp. 55, 93;
SNYDER, J. "Picturing vision". In: Critical Inquiry. 6/3 (1980): pp.
499,526;
SNYDER, J. e ALLEN, N.W. "Photography, vision and representation". In:
Critical Inquiry. 2 (1975): pp. 143,169;

Cronograma (sujeito a alterações de percurso) :

1. 02/09: apresentação da disciplina e do conteúdo programático;
2. 09/09: não haverá aula (reunião de avaliação da CAPES);
3. 16/09: imagem, modernidade, reprodutibilidade (Benjamin, Kracauer,
Flusser)[1];
4. 23/09: dos dispositivos às "idades do índice" (Barthes, Dubois,
Schaeffer, Bellour);
5. 30/09: índice, transparência, automatismo (Maynard, Walton, Scrutton);
6. 07/10: do índice fotográfico: um "retorno a Peirce" (Lefèbvre,
Elkins);
7. 14/10: genealogias críticas do índice: automatismo e sentido (Chateau,
Wilson);
8. 21/10: não haverá aula (dia do funcionário público e Congresso da
ANPOF);
9. 28/10: pragmática da transparência visual (Lopes, Costello, Atencia-
Liñares);
10. 04/11: discursos e estilística na fotografia: intenção e discurso
(Baxandall, Krauss);
11. 11/11: espera, fatura e automatismo (Armstrong, Maynard e Lissovsky);
12. 18/11: pintura e fotografia: instante, artifício e forma-tableau
(Fried e Chevirer);
13. 25/11: fotografia, representação e percepção (Currie, Snyder, Lopes,
Gombrich);
14. 02/12: da seriação fotográfica: temática e plasticidade (Lugon, );
15. 09/12: por uma indexicalidade narrativa (Gombrich, Snyder, Pettersson,
Schaeffer);
16. 16/12: encerramento do curso


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[1] Filmes : Duchamp, « Nude Descending », Palletes (1a parte) ; John
Berger, Ways of Seeing, 1o capítulo.
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