\"Sempre tem comida, né?\" Percepções sobre alimentação no cenário da migração

July 12, 2017 | Autor: J. Ouverney-King | Categoria: Anthropology of Food, Migration Studies, Anglo-American studies
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Florianópolis, 05 a 07 de novembro de 2014

“Sempre tem comida, né?” Percepções sobre alimentação no cenário da migração Jamylle Rebouças Ouverney-King Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) [email protected] Sergio Guimarães de Souza Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco (IFPE) [email protected] Resumo As conexões entre alimentação e deslocamentos há muito são recuperadas nos relatos de viajantes e nos estudos sobre migrações. Os alimentos, embora tenham sua origem no mundo natural, são beneficiados artesanal ou industrialmente, passando a ter marcas culturais, por vezes estereótipos étnicos. Por outro lado, os alimentos constituem um direito humano a ser assegurado por políticas públicas, respeitando as condições sociais, econômicas e culturais de forma a atender à sociedade sem qualquer discriminação. Portanto, a alimentação adequada nutricional e culturalmente às necessidades e escolhas da população constitui um direito essencial ao ser humano (LOSAN, 2006), devendo estar amparada por políticas capazes de assegurar sua execução. Assim, a relação homem-natureza-alimento torna-se visível em relatos de estrangeiros sobre suas experiências com sabores ao mesmo tempo em que aponta para construções de identidades culturais baseadas em familiaridades e diferenças pelo viés dos sujeitos que escolhem um novo país para viver. A análise crítico-discursiva (FAIRCLOUGH, 2010) dos excertos promove reflexão sobre como os processos de identificação e pertencimento (WOODWARD, 2000; SILVA, 2000; HALL, 1989, 2000, 2003) são construídos no cenário de adaptação de sujeitos anglo-americanos em terras brasileiras. Muito da escolha do cardápio pode advir de experiências novas, de conexões étnicas ou da formação cultural do sujeito. Embora tal escolha seja uma ação autônoma e pessoal ela também resulta da oferta disposta no contexto sociocultural e ambiental proporcionando ao sujeito a manifestação das subjetividades na escolha. Língua, comida e meio ambiente se interseccionam ilustrando um cenário de adaptação híbrido, onde não existem imposições e sim incorporações de paladares, sentidos e culturas.

Palavras-chave: migração, alimentação, anglo-americano Abstract Connections between food and migration have long been recovered through travellers’ stories and migration studies. Food, despite being parte of the natural world is handled manually or industrially developing cultural imprints, sometimes ethnic stereotypes. On the other hand, food constitutes a human right to be assured by public politics, which should respect social, economical and cultural conditions while serving society without any kind of prejudice. That said, befitting nutritional and cultural feeding should be applied to the needs and the choices of the population as an essential right to the human being (LOSAN, 2006), being supported by politics that can be assure its enforcement/compliance. Thus, the man-nature-food relationship is unveiled in accounts of foreigners about their experiences with tastes while such accounts also express constructions of cultural identities based on familiarities and differences perceived through the eyes of the subjects who choose a new country as their home. The critical discourse analysis (FAIRCLOUGH, 2010) of the excerpt provides reflection upon the identification and belonging processes (WOODWARD, 2000; SILVA, 2000; HALL, 1989, 2000, 2003) are constructed in the scenario of adaptation of Anglo-American men in Brazil. The meal choosing may come from new experiences, ethnic connections or by his cultural background. Even though the choice for the meal may be an autonomous and personal action it is the result of what is offered in the socio cultural and environmental context allowing the subject to express his subjectivities while choosing. Language, food and environment intertwine picturing a hybrid adaptation scenario where there are no impositions but the embodiment of flavors, feelings and cultures.

Keywords: migration, food, Anglo-American

   

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Migração e alimentação – um cenário híbrido de adaptação O ‘comer’, de um modo geral, e há muito tempo, sempre esteve imbricado a uma esfera tripartite: comer por hábito, comer por necessidade e/ou comer por prazer. Acima de tudo, os alimentos e a forma como são manipulados até chegarem à mesa representam a cultura de um país, de um povo e de uma região. Com o deslocamento humano no globo, ingredientes, modos de preparo e, enfim, receitas começaram a ser intercambiados entre os povos e as refeições foram se tornando cenário integrante da globalização. Hoje em dia é muito natural encontrarmos restaurantes japoneses, italianos e árabes em qualquer praça de alimentação de shoppings brasileiros. Por outro lado, embora haja uma oferta pública e diversificada, a escolha do cardápio é pessoal e, frequentemente, gerida pelas preferências daquele que o escolhe, seja no ambiente privado do lar, ou público de um restaurante. Cabe ressaltar que a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN1, 2006) em seu Art. 1º2, estabelece as definições, princípios, diretrizes, objetivos e composição do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), por meio do qual o poder público, com a participação da sociedade civil organizada, formulará e implementará políticas, planos, programas e ações com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada. Aqui, mais do que discutir políticas públicas de alimentação, direcionamos nosso foco para o direito à escolha alimentar livre de preconceitos e estereótipos, já que somos cientes da carga cultural que determinados alimentos e pratos contém, gerando a produção de estereótipos. Ao ouvir relatos de anglo-americanos que optaram pelo deslocamento de seus países de origem para viver no nordeste do Brasil, na cidade de João Pessoa, litoral paraibano, percebemos que a alimentação, apesar de não ter sido o foco da pesquisa, também era trazida à baila em suas narrativas revelando percepções contidas na relação comida-cultura-migração, além de estratégias em meio à adaptação – alimentar – e sentimentos de pertencimento enraizados com a cultura de origem. Do mesmo modo, algumas estratégias sinalizavam o desenvolvimento de pertencimento com a nova cultura.                                                                                                                 1

A Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional, LOSAN como é conhecida, Lei nº 11.346, de 15 de setembro de 2006, cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – o SISAN – com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. 2 Informações disponíveis em: . Acesso em: 11 jul. 2014.

   

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Norman Fairclough (2010a, p. 84), ao falar sobre a interpretação de textos, destaca que “[...] textos estabelecem posições para interpretar os sujeitos que são ‘capazes’ de criar sentido a partir deles, e ‘capazes’ de fazer as conexões e inferências, de acordo com os princípios interpretativos relevantes, necessários para gerar leituras coerentes”. Nesse sentido, a interpretação feita sobre o discurso de um determinado sujeito, neste caso o migrante, leva em consideração a identidade cultural do mesmo e o seu conhecimento de mundo, revelado na narrativa. Migração e alimentação se interseccionam em conexões estabelecidas pelos sujeitos com outras culturas, estas poderiam advir do contato com a origem ou de heranças familiares. Impressões sobre hábitos alimentares são aqui discutidas em um cenário, teoricamente, muito mais fácil do que aquele enfrentado pelos colonizadores portugueses quando primeiro desembarcaram no Brasil e não dispunham das facilidades de importação de bens de consumo alimentícios. Seis sujeitos anglo-americanos foram entrevistados durante o período de Maio de 2012 a Outubro de 2013 para a pesquisa de doutoramento de Jamylle Ouverney-King, porém, para este artigo somente as narrativas de cinco deles são trazidas, já que somente estas apresentam referências à alimentação, refeição e experiências com a culinária local. Intercalamos os apontamentos teóricos aos excertos, o que possibilita visualizar a (re)construção de memórias e identidades culturais em meio as experiências no cenário da adaptação dos imigrantes. Dos cinco entrevistados apenas um promoveu sua narrativa em português – Steve –, assim, apresentamos os excertos traduzidos no corpo do texto e os originais 3 em notas de rodapé. A pedido de um dos entrevistados e buscando trazer uniformidade à pesquisa, seus nomes, de familiares e amigos, caso tenham surgido durante a entrevista, foram alterados para que fossem mantidas as identidades em sigilo. A seguir, apresentamos como os relatos sobre adaptação de imigrantes na Terra Brasilis colocam um ‘pézinho na cozinha’ e contam um pouco sobre quem são esses homens e como é a relação deles com outro, neste caso o brasileiro. Este artigo está dividido em três seções, a saber: na primeira refletimos sobre o processo de identificação do sujeito anglo-americano com alimentos, as relações de                                                                                                                 3

Durante a transferência do material do meio auditivo para o escrito, alguns elementos paralinguísticos foram incorporados de acordo com os códigos, a saber: pausa [ ]; pausa longa [pl]; risos [r]; quando há uma hesitação [h]; quando há uma mudança de tópico [mt]; interrupção [/]; [palavra(s)] quando o entrevistado utiliza um termo ou expressão diferente da língua enunciada, neologismo ou tradução aproximada, nesse caso estarei utilizando os [] para colocar o termo ou expressão equivalente; entonação mais forte através do recurso negrito, tanto para uma palavra quanto para uma expressão ou frase; itálico para expressões que não pertencem à língua em que a entrevista está sendo realizada.

   

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pertencimento e vínculo, além de representações acerca da sociedade de origem e sociedadelar4; na segunda parte, as narrativas nos permitem elaborar interpretações sobre a adaptação aos novos sabores e a busca pelo familiar; na terceira parte, discutimos as mudanças no paladar e as práticas sociais de consumo e os costumes que provocam estranhamento. 1 – “Quando é comida você se identifica com isso” JRO-K: Você se sente um pouco Brasileiro? R: Sim! Me sinto, sim, eu tenho esse aspecto, eu acho, principalmente com a comida, e as atitudes em relação à comida, você entende? A maneira como as pessoas falam da comida, falam sobre a comida, agora, comida é um tópico bem popular, você entende? Mas quando é, quando é comida você se identifica com isso, torna-se bem mais interessante. (ROBERT, 2013)5

O relato acima, feito por Robert, possibilita a percepção do quão importante, mas não essenciais, as relações de identificação são para os processos de adaptação de estrangeiros, de um modo geral. As identidades culturais dos sujeitos migrantes são perpassadas por suas experiências nas sociedades de origem e, em alguns casos, até mesmo pelos relatos de familiares sobre as sociedades de origem destes, como é o caso dele, nascido na Inglaterra, porém filho de pais caribenhos. Identidades, discursos e práticas discursivas se entrelaçam aos contextos migracionais na produção de subjetividades construídas ou herdadas. Para Stuart Hall (2000), a construção das identidades também é atravessada pela historicidade do sujeito que traz consigo experiências e anseios e as (re)constrói no decurso do seu caminho. Identidade e identificação são categorias que se mesclam no cenário da adaptação e em meio a construção subjetiva e contingente do que o sujeito é. Neste cenário, sentimentos de pertencimento são evocados discursivamente pelos sujeitos que buscam conexões com a sociedade-lar. Hall (2003) explica que ‘pertencimento’, de um modo geral, pode nos remeter a determinados ‘vínculos’ que se apresentam ao sujeito na relação com o outro e que os aproximam. Aqui, nos reportamos aos sentimentos de pertencimento, isto é, à percepção afetiva que os sujeitos estabelecem para com determinados elementos ao constituírem seu ambiente de adaptação. Na voz de Robert, o pertencimento apareceu na forma como as pessoas falam sobre a culinária e, dentre as conexões que o sujeito estabelece com sociedades diferentes daquelas onde nasceu, ele, igualmente, destaca o Meio Ambiente: o Meio Ambiente também, você entende? Eu disse, a Dominica 6 é, na verdade, 80% da ilha de Dominica é floresta tropical. Eu acredito que é isso,

                                                                                                                4  Entendo que a sociedade-lar representa o local onde o sujeito se estabelece, cria vínculos e núcleo familiar, nesse caso, representada pelo Brasil (OUVERNEY-KING, 2014a).   5

I do! I do, yeah, I do have that aspect, I think, especially around the food, and attitudes towards food, you know? Yeah, the way people speak about food, talk about food, now, food is a very popular topic, you know? But when it’s, when it’s food you can identify with it, becomes even more interesting. (ROBERT, 2013) 6 A Dominica não deve ser confundida com a República Dominicana. A primeira pode ser referenciada como

   

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[ ] então a vegetação é algo que você vê aqui, você sabe, o verde, os coqueiros, os tipos diferentes de plantas, os tipos diferentes de, a biodiversidade é muito forte no Caribe e aqui do mesmo modo [...] (ROBERT, 2013)7

Analogias físicas entre o Caribe e o Brasil são elencadas como dispositivos que atraem os sujeitos e, simultaneamente, promovem o enraizamento e a permanência no país. Antecipamos que identidade e identificação, eventualmente, se ligarão a duas outras categorias muito importantes no cenário de intercâmbio étnico: a alteridade e o self. Seguindo este mote, Stuart Hall (1989, p. 16) aponta que a identidade faz parte da narrativa do sujeito e “é constituída em parte pela representação. Identidade é uma narrativa do self; é a história que nós contamos sobre o self para sabermos quem somos”. Assim, inferimos que identidade e representação estão diretamente ligadas à linguagem e como os sentidos expressos discursivamente são inerentes àquele que fala. Seguindo tal reflexão, o que é descrito e como é descrito representa aquele que o descreve, naquele momento da descrição, podendo ser modificado a qualquer tempo pelo narrador. Recorremos à fala de Robert para ilustrar como a herança familiar funciona como um dispositivo de auxílio na construção de laços culturais: eu acho que mencionei antes para você, meus pais são das Antilhas e a cultura de lá é um pouco semelhante, é semelhante e a herança africana, os maneirismos, eu acho que eu também tenho isso em mim [...] eu acho que me adaptei muito bem. (ROBERT, 2013)8

As semelhanças e as conexões étnicas são, muitas vezes, trazidas à baila na forma de marcadores distintos, não para aludir às dicotomias de superioridade ou inferioridade, mas para ressaltar suas existências e convivências harmoniosas e identificações com as culturas e, no caso de Robert, para mostrar como são facilitadores no processo de adaptação. Ser filho de cidadãos das Antilhas parece conferir a ele uma predisposição quase genética à adaptação no Brasil, já que ele afirma ‘ter isso [herança africana e maneirismos] nele’. A localidade desempenha papel de destaque na construção e manutenção das identidades culturais. Achar uma possibilidade de conexão entre a sociedade de origem – ainda que não seja a sua, mas uma herdada dos pais – e a sociedade-lar significa forjar um porto seguro para o imigrante que deseja permanecer no local. O processo de identificação não ocorre somente pela escolha                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           Comunidade das Nações de Dominica e está localizada na porção oriental do arquipélago caribenho, ao passo que a segunda está localizada ao norte do Caribe. Informações disponíveis em: Acesso em: 13 jan. 2014. 7  The environment as well, you know, I said, Dominica it’s actually, Dominica it’s the case of 80% of the island is rainforest. I believe that’s the case, [ ] so that vegetation is something you see here, you know, the greenest, the coconut trees, the different types of plants, the different types of, the biodiversity is very strong in the Caribbean and here as well […]. (ROBERT, 2013)   8 I think I said to you earlier, my parents are from the West Indies and the culture there is a bit similar, it is similar and the African heritage, the mannerisms, I think I have that in me as well […] I think I’ve adapted pretty well. (ROBERT, 2013)

   

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pessoal, ele tem raízes no capital hereditário. Sérgio Costa (2009) afirma que as representações feitas sobre determinados aspectos da sociedade deixam resíduos nos sujeitos. Entendemos que os resíduos são impressões deixadas no sujeito que podem ser, a nosso ver, positivas ou negativas. Seguindo o mote do autor, examinamos que se as representações são residuais, então estes elementos são incorporados ao sujeito na forma de identificações ou manifestações de pertencimento via prática sócio-discursiva. Aliás, os conceitos de pertencimento e de identificação, por vezes, são tidos como semelhantes, deste modo convém ilustrar o segundo com mais clareza. Hall (2000, p. 17) aponta que “identificação é, então, um processo de articulação, sutura, uma supra-determinação, não uma subsunção. Como todas as práticas significantes, está sujeita ao ‘jogo’ da différance”. A alteridade, por sua vez, se faz presente no jogo das identificações mostrando que existe no outro e que pode ser incorporada ao sujeito, ou não, pois é uma questão de escolha. Nesse sentido, entendemos que na busca por identificar uma pessoa, ou um grupo, nunca pode-se atingir o processo de sua identificação de uma forma completa, pois ora este pode estar em falta, ora pode estar em demasia na caracterização da identificação. A identificação também é colocada na esfera relacional das categorias analíticas, já que leva em consideração a diferença, a alteridade, o que é exterior, ou aquilo que não ‘condiz’ com o sujeito ou com o grupo que está sendo considerado, mas sempre de uma forma relacional e inclusiva, pois apesar de considerar o que está fora do sujeito ou do grupo, a identificação é construída transversalmente à diferença. As culturas de origem africanas, por exemplo, parece ser um elemento latente no discurso de Robert, onde o pertencimento toma forma e o jogo da semelhança se faz presente em meio à identificação. Ele destaca aspectos que tomam um ar consanguíneo: sim, [ ] um aspecto da cultura que eu gosto é a cultura Africana aqui, e [ ] uhmm, candomblé, capoeira, estas influências, suas origens, e essa conexão, você pode ver a conexão com a minha família, não uma conexão direta, entende? Na comida, na culinária, entende? (ROBERT, 2013)9

Se, por um lado, ele sente-se ‘pertencendo’ à cultura africana por seus pais serem nascidos lá, inicialmente ele demonstra insegurança, ou talvez dúvida em revelar sua opinião, ao iniciar sua fala sobre a cultura africana, principalmente no momento que antecede a menção às religiões africanas. Em seguida, estabelece a ligação entre religião, família e culinária, deixando no ar dúvida sobre onde exatamente a família se encaixaria: na conexão                                                                                                                 9

Yeah, [ ], one aspect of the culture that I like is the African culture here, and [ ] ahmm, candomblé, capoeira, those influences, where it originates from, and that connection, you can see that connection with my family, not direct connection, you know? In the food, in the cuisine, you know? (ROBERT, 2013)

   

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com a religião ou com a culinária? A culinária nos parece o caminho mais confortável, e socialmente aceitável, uma vez que discussões sobre religião podem gerar desconfortos e dissabores sociais. Em inglês, dispomos da expressão comfort food, frequentemente utilizada para fazer alusão aos alimentos que transmitam uma sensação de nostalgia ao seu consumidor ao recobrar memórias da culinária familiar. Na situação de Robert a alusão à culinária africana transmite um sentimento de conforto quando ele estabelece a ligação com a culinária brasileira. Fairclough (2010b) pondera sobre o fato de que a análise crítico-discursiva permite uma visão sobre a construção de mundo do sujeito e, igualmente, sobre como esse mesmo sujeito busca mudar tal construção, em seus termos, a partir de reflexões. Robert segue, em um exercício de reflexão sobre os povos, mostrando como as relações com o outro brasileiro refletem as identidades culturais e as formas de agir. Em um passeio entre Antilhas e Bahia ele relata sua experiência: você pode ver, porque as coisas são, porque as pessoas vivem da maneira que vivem, por exemplo, em Salvador, na Bahia. Eu, quando eu estive na Bahia, eu pensei nas Antilhas, imediatamente, eu pensei no tempo em que passei lá, a maneira como as pessoas preparam o alimento, entende? Eu, é muito, é bem singular naquele contexto e é bem valorizado aqui. Eu acho que no Brasil, que você sabe, hmm [ ] a herança, as pessoas, as pessoas são muito inseguras sobre isso também, eu acho, por diferentes razões, isso afeta as pessoas de modos diferentes, você meio que sente isso, eu sinto isso, entende? (ROBERT, 2013)10

No excerto acima pertencimento e identificação se manifestam discursivamente estabelecendo as raízes de que Robert necessita em sua ligação com o Brasil. O pertencimento vem da herança familiar, mas é a identificação dele com o povo, de ambos os locais, que o aglutina afetivamente. Confirmando a insegurança sinalizada anteriormente, ele retoma que, como ele, as pessoas também se sentem inseguras quanto à valorização de traços culturais como religião e culinária. Acreditamos que associações estereotípicas são, muitas vezes, traçadas entre alimentos e práticas sociais levando os sujeitos à situações pouco agradáveis, em alguns casos, dada essa circunstância sua cautela discursiva seria justificada. Cabe aqui destacar que a política nacional de segurança alimentar busca assegurar, dentre outros direitos, o livre arbítrio na escolha dos alimentos a serem consumidos, incluindo os fatores

                                                                                                                10

You can see, why this is, why people live in the manner that they do, for example, in Salvador, in Bahia. I, when I was in Bahia, I thought of the West Indies, immediately, I thought of my time there, the way people prepared food, you know? I, it’s a very, it’s quite unique in that respect and it’s very much valued here. I think in Brazil, that you know, ahm [ ] the heritage, the people, people have very self conscious about that as well, I think, for different reasons, it affects people differently, you kind of sense that, I sense it, you know? (ROBERT, 2013)

   

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culturais que influenciam essas escolhas (PNAN, 2000)11. Assim, assegura-se a todos os cidadãos, inclusive aos migrantes, o acesso universal à alimentação adequada, sem qualquer discriminação, respeitando a diversidade étnica, racial e cultural (BRASIL, 2006). Embora inseguro quanto ao tópico, ele ressalta o conhecimento positivo que a localidade assegura à culinária, em termos de valorização de sabores e cultura. 2  –  “A  comida  é  monótona”   A díade alimentação-adaptação, expressa nos relatos dos sujeitos, aponta para uma experiência positiva ou até, em um caso, de apatia, como expressa Gary: ok, então, foi, a minha adaptação não foi especialmente difícil e eu acho que a razão principal era que eu queria vir [...] eu acho que na primeira vez que eu cheguei, o lugar onde fiquei, um tipo de hotel, hotel para professores visitantes e alunos da Universidade, eu achei que a comida não era realmente estranha mas bem monótona, parecia que toda refeição era a mesma. (GARY, 2012)12

É interessante ressaltar a percepção de que vir para o Brasil, independentemente da região, estado ou cidade, apresentaria uma marca de aventura, um entusiasmo em relação a um país que figura no imaginário europeu como o país ‘exótico’ e, assim, desperta a curiosidade dos estrangeiros que desejam visitá-lo e experimentar do exotismo brasileiro. Inferimos, com base no excerto, que Gary tivesse a expectativa de encontrar uma culinária exótica e variada, mas sua primeira impressão foi frustrada pela falta de diversidade no cardápio. Os encontros com a culinária brasileira circulam em duas esferas: a familiar e a diferente. A familiar pode ser subdividida entre o que o sujeito de fato conhece, por já ter experimentado – e esta também pode ser arrolada o cenário dos alimentos elaborados pela família per si –, e o que o sujeito tem conhecimento, por ter lido livros, revistas, etc., ou assistido programas sobre o alimento. No caso de John, ele relata: “[com] a comida eu não tive problema, você entende, um monte de coisas com queijo, sim [ ] os churrascos eram os mesmos do Rio [de Janeiro]”(JOHN, 2012)13. A familiaridade e o apreço pelos laticínios, provavelmente parte da sua herança europeia, e proporciona a ele uma aproximação com os alimentos típicos da região mineira. Muito embora ele utilize o termo cheesy que pode                                                                                                                 11

Política Nacional de Alimentação e Nutrição do Setor Saúde. Disponível em: . Acesso: 06 jul. 2014. 12 Ok, well, it was, my adaptation was not especially difficult and I think the main reason was that I had wanted to come […] I think that when I first arrived, the place where I stayed, a kind of hotel, hotel for visiting faculty and students from the University, I found the food to be not really strange but rather monotonous it seemed that every meal was the same. (GARY, 2012) 13 [with] the food I didn’t have a problem with, you know, a lot cheesy things, yeah [ ] churrascos were the same as the ones in Rio […] (JOHN, 2012)

   

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carregar uma carga semântica negativa, acreditamos que a sua referência é, na verdade, pela variedade de alimentos produzidos ou que contém queijo, a exemplo de pães de queijo, queijadinha, entre outros. Na esteira que transporta as noções de familiaridade, destacamos, no excerto de John, a apropriação do interesse pelos churrascos, muito embora, tradicionalmente de origem gaúcha, são destacados e localizados por ele no estado do Rio de Janeiro, mostrando que esta seria uma prática alimentar também reproduzida naquele estado do sudeste. Assim como em boa parte do território brasileiro, os churrascos são tidos como eventos ideais em ocasiões de confraternizações, comemorações e, às vezes, simplesmente como forma de reunir os “mais chegados’ nos finais de semana. Posteriormente, John destaca outra familiaridade, desta vez, com base nas construções propagadas mundo afora e que elaboram representações culturais acerca da sociedade-lar: “[...] e você tem que lembrar que existe essa ideia estereotípica de Brasil, é o sol, é o sol, são as praias, é o clima quente, e caipirinhas e esses tipos de coisa, essa imagem, mas eu não estava vivendo nada disso, eu estava congelando até morrer [

]” (JOHN, 2012)14. As

caipirinhas, de caráter originalmente brasileiros, são itens unidos ao montante de categorias auxiliadoras na composição de uma representação do que seria, no plano ideal para John, viver no Brasil. Além disso, enquanto drinks nacionais, estão disponíveis em qualquer localidade do território nacional e podem ser tidas como indutores de interação familiar e social, verdadeiros lubrificantes do convívio social, conferindo a John uma brasilidade no gosto pela bebida. A ausência de alimentos familiares, igualmente, é trazida no discurso não como um sentimento de nostalgia, mas em uma reflexão que aponta o processo de globalização como fundamental para o estabelecimento de laços alimentares atravessados pelo sentimento de saudade. Quando Steve é questionado sobre algo que ele sente muita falta, o chocolate KitKat vem à baila: hmmm, eu tava pensando o ano passado em KitKat. E cada vez que viajo para a Grã Bretanha compro vários KitKats, aí agora tem KitKat [...] um mar de KitKat no Pão de Açúcar, até aqui no supermercado, você vai no caixa e tem KitKat quase caindo na sua cesta. (STEVE, 2012)

A facilidade de importação de produtos do século XXI, e até mesmo a produção de bens alimentícios que anteriormente eram importados, mas agora são manufaturados em território brasileiro, produz o reencontro entre os sujeitos e as guloseimas de suas preferências, criando oportunidade para o estabelecimento do conceito de comfort snack, isto                                                                                                                 14

[…] and you gotta remember there is a stereotypical idea of Brazil, it’s the sun, it’s the sun it’s the beaches, it’s the hot weather, and caipirinhas and all this sort of thing, this image, but I wasn’t living in any of it, I was absolutely freezing to death [ ]. (JOHN, 2012)

   

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é, iguarias ou petiscos – doces ou salgados – provenientes da sociedade de origem e que proporcionam aos sujeitos migrantes recuperar na sociedade-lar, através do paladar, lembranças, boas experiências e sabores. Fedora Gasparetti (2009) salienta que o caráter tradicional, ou típico, de um alimento é construído pela frequência de consumo em determinada cultura, pelos processos de construção e invenção do prato em si e pela identidade cultural que lhe é atribuída, a despeito da origem dos produtos necessários para a elaboração do prato quando os sujeitos estão localizados em outros países. Robert destaca elementos típicos da culinária britânica no rol do seu comfort food: peixe e batatas, sim, essa é a base da alimentação que não tem aqui. Adoraria trazer para cá. E tomar o típico café da manhã inglês. O que eu gostaria de trazer aqui é, não necessariamente os bares, mas as cervejas, porque as cervejas lá são mais variadas e tem diferentes tons, texturas, sabores. E você aprecia a cerveja. A cerveja. Não o álcool, mas a cerveja. Eu sinto muita falta disso. (ROBERT, 2013)15

Deslocar o tradicionalismo inglês para o Brasil, tanto no âmbito da culinária quanto da bebida, sinaliza um potencial patriotismo alimentar, no qual ele poderia dispor da oportunidade de se deliciar e oferecer aos brasileiros a chance de estar em contato com algo que ele aprecia. Explorar os aspectos discursivos que os sujeitos promovem sobre a alimentação permite perceber muito sobre o self e práticas culturais e alimentares. Neste excerto, percebemos a preocupação de Robert com a apreciação da bebida, não pelos efeitos psicoemocionais que ela pode ter sobre ele, mas pela memória gustativa que a bebida traz ao paladar do consumidor. 3 – “O paladar da gente muda” O passar do tempo promove (re)construções e mudanças nas subjetividades. Com o prazer gastronômico não poderia ser diferente. Relembramos Hall (1989, p. 15) ao mencionar que a “identidade [é] um processo de identificação [...] que ocorre através do tempo, que nunca está absolutamente estável, que está sujeita ao jogo da história e ao jogo da diferença”. Desta forma, a identificação per si muda à medida que o sujeito arquiteta sua história, traçando novas rotas, estabelecendo prioridades alimentares sobre o que é saudável e o que não o é, e conhecendo outras iguarias, enfim, nas palavras de Emma-Jayne Abbots (2008) “o gosto é cultural e socialmente influenciado”. O relato de Steve faz um recorte de como as experiências do passado são vistas na atualidade e em face as novas experiências:                                                                                                                 15

Fish and chips, yeah, is a staple diet there isn’t it. I’d love to bring that here. And have the typical English breakfast. What I’d love to bring here is, not necessarily the pubs, but the beers, because the beers there are more variety and different tones, different textures, different tastes. And so you appreciate the beer. The beer. Not the alcohol, but beer. I do miss that a lot. (ROBERT, 2013)

   

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[...] mas o mais interessante ainda, como eu costumava partir dos 21 anos passar dois anos, as vezes três anos, uma vez quatro anos, isso foi difícil. Uau! Geralmente fora do meu país! Eu voltava, e na véspera eu pensava, ah não vejo a hora de comer steak and kidney pie. Eu não acredito que comia rim. Quando era jovem, na minha região, era muito popular, então chegava lá, pegava um steak and kidney uhhhhh. O fish and chips que eu acho que gosto um pouco, eu compro lá e é muito oleoso. Arrghh. (STEVE, 2013)

É importante ressaltar, igualmente, que muito do que provamos quando jovens imprime uma sensação palatal na memória. Esta, por sua vez, é ativada quando sentimos o desejo de apreciar tal alimento, ou, motivados pela nostalgia que o preparo, ou o consumo, do alimento proporcionava à época entre os comensais. Acreditamos ainda que refeições típicas, ou tradicionais, são significativas para a manutenção e consolidação de laços entre sujeitos migrantes e suas sociedades de origem. Não obstante, com o passar do tempo esses laços podem ser reforçados; ser dispensados pela oferta de novos produtos na sociedade-lar; ser revistos pela mudança pessoal no paladar; ou até mesmo pela necessidade de alteração na dieta objetivando a melhoria da saúde. Nesse sentido, entendemos que as expressões de reprovação de Steve sinalizam, inicialmente, uma ruptura cultural alimentar, da qual ele não se separou durante muito tempo e, posteriormente, uma mudança nos hábitos alimentares ao se mostrar indignado por ter o costume e o anseio de consumo, já que nos momentos que antecediam a viagem ele desejava a iguaria – rim. Se, por um lado, Robert deseja trazer a ‘base alimentar’ britânica – o peixe com batatas –, Steve, por outro lado, embora reconheça os vínculos com seus antigos hábitos, não se mostra apegado ao prato e ainda o destaca como não sendo exatamente um prato saudável. Outro detalhe interessante a destacar é o fato de que Steve faz referência à culinária britânica se valendo das expressões originais em inglês, muito embora toda a sua narrativa tenha sido feita em português, mostrando que a conexão entre língua, identidade cultural, alimentação e discurso é latente e indissociável, e que as expressões são munidas de cargas semânticas para além da tradução, fazendo com que o sujeito promova um discurso linguisticamente híbrido ao relatar suas experiências16. Pablo Bose e Alisha Laramee (2011) orientam que, frequentemente, as mudanças ocorridas com práticas alimentares – preparo e consumo, por exemplo – não são restritas a estas, mas que vão além, alcançando os hábitos alimentares – em termos do que é apreciado e do que é rejeitado. Determinados alimentos, quando analisados no contexto de migração,                                                                                                                 16

Sobre discursos híbridos em narrativas de anglo-americanos ver: OUVERNEY-KING, Jamylle Rebouças (2014b). “Anglo-americanos em João Pessoa: percepções sobre língua e cultura”. Trabalho apresentado na 25a Jornada Nacional do Grupo de Estudos Linguísticos e Literários do Nordeste (GELNE) em Natal, UFRN, 03 out. 2014 e publicado nos ANAIS do evento.

   

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possuem significados diferentes; alguns, por exemplo, invocam sentimentos e estão ligados ao sujeito de forma pessoal, outros sugerem pertencimento com a sociedade de origem do migrante e representam uma experiência social comum – como é o caso do peixe com batatas para os britânicos. É importante ressaltar que ao migrar os sujeitos transportam consigo traços e símbolos da sociedade de origem para a sociedade-lar. Refletimos que os hábitos e as práticas alimentares deixam transparecer não somente as percepções sobre os sujeitos, como também as práticas de gênero: o paladar da gente muda. Não, mas ainda assim pra me defender, Marina é excelente cozinheira, excelente, realmente, ela tem o dom, eu não tenho o dom. Para me defender, uma vez por mês, três vezes por mês, eu faço a minha comida. A minha comida. Meus filhos, sentem falta dessa comida do pai que é um tipo de pie, curry eu gosto de curry, brasileiro geralmente não gosta. Marina odeia. Então eu faço. Chilli com carne. Qualquer coisa picante é do meu cardápio. Então eu gosto. (STEVE, 2013)

Aqui ele continua sua reflexão sobre a historicidade a qual está sujeito e suas consequências, na forma de mudanças. A conjugalidade no cenário familiar aparece como dicotômica. A comida de Steve é colocada na esfera dos alimentos picantes, pelo qual ele destaca o apreço. Acreditamos que o alimento apimentado está intimamente ligado ao self de Steve, refletindo não somente o consumo individual, o qual lhe assegura satisfação pessoal, como também um pouco de sua personalidade, consequentemente, o ato de elaborar a refeição lhe confere individualidade. Por outro lado, enquanto brasileira, a esposa é destacada em um polo oposto, o polo daqueles que não apreciam o condimento picante. Os hábitos do preparo do alimento também são expostos através de relações antagônicas – a esposa tem o dom e ele não, o cardápio dele e o cardápio dela –, além de remeterem a noção de laços afetivos entre Steve e os filhos – do primeiro casamento e nascidos no Brasil –, pois estes apreciam com prazer a culinária paterna. Entendemos que ele opta pela culinária picante em determinados momentos pelo fato de que sua esposa não aprecia o sabor e, muito provavelmente, não se dispõe a cozinhar com tais condimentos. Nesse sentido, quando está desejoso de tais sabores, ele mesmo ‘coloca a mão na massa’. Seguindo a reflexão de Steve, em outro relato, o momento da refeição e as peculiares características culturais, as quais ele não estaria acostumado, representariam a esfera do encontro com a novidade, com o diferente e com a alteridade. Ele descreve sua experiência com os costumes brasileiros em relação à visitas nos momentos de refeições e, simultaneamente, desenha características particulares à região do nordeste onde se encontra: para um britânico parece, a nossa noção de família é mais nuclear né. Uau, por exemplo, a primeira vez que visitamos os pais da minha futura [primeira] esposa, isso aconteceu com Marina também [a segunda esposa]. Essa minha primeira esposa dizia, “Já que estamos perto vamos almoçar na casa deles”.

   

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Mas não pode eles não estão esperando, não vão ter comida. “Pode sim.” Não é, eu não me sinto confortável, então ainda tinha esses riscos, não pode, não pode simplesmente chegar sem avisar. (STEVE, 2012)

É na observação das diferenças e contrastes culturais das relações com os parentes que há o aprofundamento do aprendizado cultural tornando a refeição em família um espaço de sociabilidade. Chegar sem avisar, um costume brasileiro corriqueiro, justificado nas palavras da esposa pelo simples fato de possuir relações de parentesco, parece não ser argumento suficiente para Steve, que traz consigo suas raízes culturais britânicas, estas bem diferentes dos hábitos locais e, quiçá, nacionais. Em um segundo momento de entrevista, Steve relata experiência semelhante com a segunda esposa: a primeira vez que estávamos, não sei, é perto da casa da mãe dela né, ela disse, e havia pouco tempo que estávamos namorando né, ela, ‘Ah vamos passar lá e vamos jantar’. Eu disse ‘mas não vai ter comida, não tão esperando’. Ela não entendeu isso. Sempre tem comida, né? A expressão é colocar mais água no feijão. E isso é diferente e eu acho que, eu sempre ressalto o fato de que a geração jovem, moderna dos ingleses é diferente, para a minha geração era impossível, para mim, por exemplo, levar meu melhor amigo à casa dos meus pais sem avisar, especialmente na hora do jantar. Eu lembro [do] meu pai ter dito várias vezes, depois de uma visita inesperada, digamos na hora do jantar, ele não ofereceu, ele ficou com fome, e quando saiu a visita ele, ele perguntou a minha mãe ‘por que será que ele veio?’ (STEVE, 2013)

As diferenças entre as visões de Brasil e as do país de origem são enunciadas em experiências anteriores às viagens e posteriores ao contato. São percepções de comunidades imaginadas (ANDERSON, 1990), modeladas a partir de matrizes que podem advir tanto de estereótipos reforçados pelos contrastes culturais e históricos quanto de novas criações, alavancadas pelo panorama midiático contemporâneo, pelas imagens reais que são vividas pelos sujeitos que se deslocam, ou ainda a partir de opiniões de terceiros que exercem determinada influência sobre o estrangeiro. Aqui, elas são modeladas pelo contato familiar. O contraste cultural e relacional entre os estrangeiros e os ‘nativos’ desmistifica as próprias noções, podendo, inclusive, as desconstruir, possibilitando novas sensações, sentimentos, afetividades. As diferenças entre gerações, destacadas por Steve, não são suficientes para justificar a dessemelhança vivenciada no Brasil. Muito embora, com o passar do tempo, ele compreenda os mecanismos e os dispositivos sociais e as novas dinâmicas, a comparação com a sua herança familiar é inevitável e expõe atitudes da sua família e, porque não, suas também. Steve elabora, de forma talvez inconformada, e admite a flexibilidade que a experiência brasileira o fez perceber em situações de refeição com visitas inesperadas, no

   

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excerto “sempre tem comida, né?”. Além disso, busca a anuência dos ouvintes ao se valer da contração ‘né?’, sinalizando o senso comum que gira em torno de tal estratégia social. A utilização de uma expressão tipicamente brasileira, “colocar mais água no feijão”, reforça a noção do já consagrado ‘jeitinho brasileiro’ em tentar solucionar problemas de última hora sem prejuízo para nenhum lado17. Acrescentar água ao feijão, significa fazer com que o alimento renda mais, possibilitando que todos os comensais – convidados e visitas de ‘última hroa’ – se alimentem. A expressão, igualmente, destaca um dos alimentos prediletos do brasileiro, o feijão, que rico em ferro está presente quase que diariamente na dieta. Seria o comfort food brasileiro. Avançando mais um pouco nesse sentido, os sujeitos descrevem experiências singulares e intensas. Contudo, ao vivenciarem essas ‘imersões’ e sensações, eles têm a sensibilidade de perceber que foram os contrastes presentes na diversidade e na alteridade que os fizeram sentir-se bem, despertando o desejo de mudar para aquela nação, ser parte dela, serem afetados por essas relações e desenvolverem tais sentimentos e, por fim, aqui permanecer. Charles Tilly (1990) reflete que as relações de percepção entre o sujeito imigrante e o outro, sujeito nativo, podem estar relacionadas ao posicionamento social e geográfico desses. Norbert Elias e John Scotson (2000) acrescentam que a autoimagem vem cercada de determinadas implicações do próprio self e também de impressões construídas ao longo dos tempos. Seria o que Eunice Nodari (2009) alude a um agrupamento dicotômico entre o ‘nós’ e o ‘eles’, quando realiza estudos sobre descendentes de imigrantes no Sul do Brasil. Retomamos, então, a relação de ausência e presença. Nela, discursos sobre o ‘nós’ e o ‘eles’ seriam orientados pelas características que existem no ‘nós’, mas não existem no ‘eles’ e viceversa. Por um lado, a percepção de si e dos outros pode variar em decorrência do grau e frequência de interação entre os sujeitos e, quando não há tal interação, muito da percepção sobre o outro vem à superfície narrativa a partir de observações estilizadas. Por outro lado, se há uma ação recíproca de troca de conhecimentos e experiências, muito da percepção sobre o outro partirá do que é vivenciado. O relato de Peter ilustra como a vivência com o ‘eles’ é relevante para a construção da relação com o ‘nós’ e [ ] mais uma [anedota]. Fim de semana passado. Nós temos uma senhora que lava nossas roupas, então ela vive no Recanto do Poço, então bem humilde, muito humilde, família pobre e eu, então eu levo as roupas para

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Em visita ao Brasil no ano de 2013, o papa Francisco destacou a inclinação brasileira para a ajuda o próximo, ao citar a expressão. Disponível em: . Acesso em 20 set. 2014.

   

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eles e eles lavam e então eu vou buscar e eu os pago. [Então eu liguei para eles:] ‘Você está em casa? Posso levar minhas roupas?’ ‘Sim, sim, pode vir’. Foi um sábado, elas pegam as roupas no sábado e as lavam na segunda e depois eu busco. Então eu fui lá e haviam carros na rua toda e eles estavam fazendo tipo uma festa. Foi terrível. Eu fiquei super envergonhado, ‘entra aí Peter’, ‘Peter’, ‘entra aí, entra aí’. Então eu entrei, e eu não conhecia ninguém. Eu conheço as moças que lavam as roupas, porque elas lavam as roupas da família da minha esposa há anos, então as eu conheço bem, mas eu não conhecia nenhum dos outros convidados e ‘entra aí, entra aí, toma uma ... você quer uma cerveja?’ [...] Então eu tive que comer. [beber] Duas cervejas, em cerca de meia hora, eu bebi duas latas de cerveja, e comi dois pratos de ensopado de camarão e marisco. (PETER, 2013)18

No relato de Peter, percebemos que uma aproximação permite-lhe interação e a compreensão de práticas sociais as quais ele não tinha experiência, nem muito menos esperava ter, pois afinal não possuía relações interpessoais de afeto com as pessoas, somente relações de trabalho. A partir desse contato ele promove observações e relações no que tange as situações sociais com determinados grupos. Ele usa o adjetivo ‘terrível’, mas não para descrever o local ou as pessoas, e sim a circunstância em que ele se viu: rodeado e sem perspectiva de ‘escape’ do convívio social com pessoas que desconhecia, muito embora não estivesse sendo destratado, muito pelo contrário, estava sendo muito bem acolhido pelos anfitriões e seus comensais. Ao final, contudo, o uso do adjetivo é contrastado com a experiência cultural – e gustativa – que ele teve. Mencionamos, anteriormente, que os excertos, do mesmo modo, são reveladores de práticas sociais regionais, no caso, mais precisamente do nordeste brasileiro, materializado na cidade de João Pessoa, Paraíba. Noções estereotípicas ligadas à produção imagética de nordeste brasileiro reduzem e ‘essencializam’ a formação e união familiar nesta região. Nas palavras de Durval Muniz de Albuquerque Junior (2008) a região, e todo o arquétipo a ela ligado, serviria para legitimar as ações e a produção de discursos carregados de imagens construídas que não refletem, necessariamente, a realidade dos dias atuais. Nos discursos, o estereótipo da família nordestina é trazido para marcar a diferença entre o brasileiro do Nordeste e o brasileiro de modo geral, além de alocar também o inglês no cenário da diferença. Além disso, Peter faz questão de alocar a posição financeira dos sujeitos da                                                                                                                 18

and [ ] another one, last weekend. We have a lady who washes our clothes, so she lives in Recanto do Poço, so quite humble, very humble, poor family and I, so I take the clothes to them and they clean them and I go and pick them up and I pay them. “Are you at home? Can I bring my clothes?” “Yeah, yeah, come round”. It was on a Saturday, they take them on a Saturday, and they wash them on a Monday and then I pick them up, so I went round and there were cars all out the street and they were having like a party. It was terrible. I was really embarrassed, “come in Peter”, “Peter”, “come in, come in”. So I went in, and I didn’t know anyone. I know the the ladies who wash the clothes, ‘cause they wash my wife’s family’s clothes for years, so I know them quite well, but I didn’t know any of the guests and “come in, come in, have a … do you wanna a beer?” […] So I had to eat. [drink] two beers, in about half an hour, I had two cans of beer, and two plates of ensopado de camarão e marisco. (PETER, 2013)

   

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narrativa, atentando que, para ele, é o contraste entre a ausência de recursos e a presença de bens de consumo que podem apresentar um valor um pouco mais custoso, como é o caso do camarão: e de novo, eu estava dirigindo mas eles não ligam muito para isso aqui então eu [r] [ ]. “Toma uma cerveja, come um pouco de ensopado de camarão”. Ok, eles tinham ensopado de camarão e marisco. “Então qual você quer?” Camarão. E mais uma vez, essas são pessoas muito pobres elas me deram esse ensopado de camarão e estava delicioso, cheio de camarões nele, muito muito bom, então eu sentei lá, comendo meus camarões e bebendo minha cerveja. [...] e mais uma vez, eu sei que isso é um pouco estereotipado, mas essas são, são pessoas muito pobres, eles apenas, você entende, essas pessoas e as festas e eles estavam falando comigo. Eles não tinham a mínima ideia de quem eu era e me deram sua comida. E toda hora eu [pensava] ‘eu vou embora’, e eles ficam ofendidos se você sair, então eu tive que ficar. (PETER, 2013)19

Aqui, a referência à Lei Seca20 parece mostrar brasileiros despreocupados, que agem de maneira leviana, sem levar à sério as consequência do consumo de bebidas alcóolicas combinadas à condução de veículos. A forma irônica como Peter censura o comportamento dos seus anfitriões, quanto a ausência de preocupação com os perigos de ingestão de bebidas alcoólicas em associação com a direção, já que ele estaria dirigindo, é suavizada nas próximas frases quando ele enaltece os mesmos pela generosidade em termos de alimentos servidos e pela conversa que estabeleceram com ele. Chamamos a atenção para a oposição estabelecida por Peter entre alimento e ‘condição financeira’, já que ele destaca, em vários momentos, a presença do crustáceo camarão como prato servido na ocasião e, em paralelo, cita que seus anfitriões seriam pessoas humildes. Camarões e mariscos fazem parte da culinária litorânea pessoense, assim como a de outras cidades costeiras do Brasil, refletindo um pouco da prática alimentar local. A região descrita por ele como Recanto do Poço fica no município de Cabedelo, litoral norte da Paraíba, localizada em uma extensão de terra entre o mar e o Rio Sanhauá, possibilitando o acesso a tal diversidade de crustáceos. Muitos dos moradores residentes na localidade investem na pesca artesanal como fonte de renda, o que pode explicar a presença, aparente, da fartura. Ao mesmo tempo em que o camarão pode indicar um produto local e pertencente às                                                                                                                 19

Again, I was driving but they don’t really care about that here too much so I [r] [ ]. “Have a beer, have some ensopado de camarão”. Ok, they had ensopado de camarão e marisco. “So which one would you like?” Camarão. And again these are really poor people, and they gave me this ensopado de camarão and it was delicious, loads of prawns in it, really really nice, so I sat there, eating my prawns, and drinking my beer. […] And again this I know it’s a bit stereotypical but these are very, these are poor people, […] [ ] they just , you know, these people, and the parties and what we were talking to me. They didn’t have a clue of who I was and they were giving me their food. And I was all the time ‘I will leave’, and they get offended if you walk out, so I had to stay. (PETER, 2013) 20 A lei 11.705 de 19 de junho de 2008 estabelece tolerância zero e impõe punições ao condutor de qualquer veículo que for flagrado conduzindo sob a influência de álcool. Disponível em: . Acesso em: 30 set. 2014.

   

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tradições culinárias regionais, ele vai à mesa em uma situação de confraternização conferindo àqueles que oferecem a iguaria um investimento não só financeiro, na compra do produto, mas também pessoal, com a compra de um alimento com qualidade e apreciado pelos convidados. A cerveja, por outro lado, funciona como um indutor de interação em eventos sociais, fazendo com que haja uma maior liberdade de comunicação entre os convidados e anfitriões à medida que o álcool age no organismo. Por fim, compartilhar da refeição, convidá-lo a permanecer por mais tempo e oferecer mais do alimento, dentre outras manifestações de interatividade, permitem a compreensão de igualdade entre Peter e seus anfitriões, fazendo com que as fronteiras cultural e financeira, pelo menos por esse momento, desapareçam. Em situação similar ao relato de Steve, percebemos que Peter está atento às práticas sociais referentes à aceitação de convites, de oferta de alimentos, e de permanência no local durante determinado período de tempo em respeito ao ritual de festa ou da confraternização em que se encontra, o que convencionou-se chamar no vocabulário popular de ‘fazer a social’. Ao aceitar o convite para entrar e compartilhar da festividade que ocorria na casa, ele estabelece uma relação social com os comensais e participantes do evento, que, muito embora não o conhecessem, compartilharam daquele momento com ele. Apreciar o ensopado de camarão e de marisco não significa, necessariamente, um movimento de total incorporação à cultura regional do nordeste brasileiro, mas sinaliza identificação pessoal com a cultura e culinária. Conclusão Ao considerarmos as narrativas de Robert, Steve, Gary, John e Peter, procuramos não discutir somente o comer como um ato de alimentação que mantém o ‘sujeito em pé’. Em sentido oposto, trocamos ideias sobre o discurso alimentar e como este apresenta implicações sociais sobre e para o self. Entrevistas que se valem da História Oral, frequentemente, mostram-nos narrativas sobre as impressões que giram no infinito universo da refeição. Nossas discussões não estiveram atadas ao paladar do anglo-americano, elas também possibilitaram vislumbrar como as relações com o outro brasileiro, no momento da refeição, refletiam a identidade cultural do sujeito migrante, apontando para um sujeito que se mostra aberto às mudanças, um sujeito cosmopolita e híbrido ao compor suas estratégias de vida e de adaptação. Os sujeitos buscam conexões – étnicas ou não – entre a sociedade de origem e a sociedade-lar nos mais variados âmbitos: desde a herança familiar até a escolha pessoal. A

   

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produção da localidade através das conexões exerce a força de atração necessária à permanência. O continente Africano e o Caribe compõem alguns dos cenários de conexão, a exemplo da narrativa de Robert. A existência de dispositivos estereotípicos não os impede de exercer o livre arbítrio na escolha do cardápio. O nexo alimentação-adaptação evoca discursos de otimismo e confiança que unem o familiar ao diferente à apropriação de novos hábitos alimentares e sociais. A globalização minimiza a potencial nostalgia presente na ausência de alimentos, petiscos, temperos, etc., oriundos da sociedade de origem, pois através da importação, os sujeitos dispõem de amplo acesso a qualquer bem de consumo alimentício que desejarem, ainda que seu custo seja eventualmente elevado. A famosa ‘comidinha caseira’, o comfort food, está marcada na memória gustativa e pode ser acessada em, praticamente, qualquer gôndola de supermercado. O processo de envelhecimento, as atuais tecnologias de controle social e alimentar do self – na forma de dietas – e as demandas físicas do corpo – em relação à saúde pessoal – promovem a modificação no paladar e no consumo de produtos tradicionais da sociedade de origem. Gênero e o preparo de refeições se interseccionam apontando para a dicotomia do gostar: o que o homem gosta e o que a mulher gosta, separando-os ou aproximando-os no ato de preparação. A família ampliada, o capital social e as relações de trabalho, do mesmo modo, auxiliam no processo de adaptação, muito embora sob impactos e situações de estranhamento advindos dos diferentes hábitos e costumes que, posteriormente, são naturalizados no discurso apontando para a positividade de percepções. As narrativas aqui interpretadas refletem múltiplos sentidos sobre o campo social da alimentação. Nostalgia, estranhamento, apreciação e até monotonia, para citar alguns deles. No geral, as conexões estabelecidas pelos sujeitos apontam para sentimentos críticos sobre a diferença e sobre a necessidade da mesma, mostrando que eles a reconhecem como rica na composição cultural da qual escolheram fazer parte. Muito embora os sujeitos estejam inseridos diariamente na cultura da sociedade hoje eleita como lar, e a despeito desta imersão, são autônomos o suficiente para se desprenderem de fazeres e práticas culturais que não estabelecem conexões com o self e, igualmente, escolherem aquelas que melhor se conectam a eles, estabelecendo assim as identificações, o sentimento de pertencimento, ainda que híbrido, e, consequentemente, se reinventando na localidade. Referências ABBOTS, Emma-Jayne. ‘It Doesn’t Taste as Good from the Pet Shop’: Guinea Pig Consumption among Ecuadorian Migrants in New York City. Food and Migration Workshop, School of Oriental and African Studies, University of London, 2nd/3rd February

   

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