Seqüestro midiático: informação, entretenimento e construção midiática da realidade na cobertura do caso Eloá

Seqüestro midiático: informação, entretenimento e construção midiática da
realidade na cobertura do caso Eloá.
Autora: Li-Chang Shuen Cristina Silva Sousa

Professora Assistente do Curso de Jornalismo da Universidade Federal do
Maranhão, Campus II

Doutoranda em Ciências Sociais com Especialização em Estudos Comparados
sobre as Américas da Universidade de Brasília

RESUMO

Este artigo analisa os padrões de comportamento da televisão brasileira
durante a cobertura do seqüestro da jovem Eloá Pimentel, em Santo André/SP,
entre os dias 13 e 18 de outubro 2008. Identificamos mecanismos de
transformação de uma notícia dura (hard news) em história de interesse
humano e evento midiático. Também discutimos o dimensionamento dos
critérios de noticiabilidade presentes em um acontecimento desse tipo e
levantamos a hipótese de que a conjuntura de ocorrência do fato é mais
importante que sua estrutura na determinação da noticiabilidade. O artigo
analisa o papel da cobertura midiática no desfecho do caso, que resultou na
morte da garota seqüestrada e na glorificação/condenação do seqüestrador.
Em nosso trabalho analisamos ainda a dimensão social dos meios de
comunicação de massa, em especial a televisão, como elemento de catarse e
fator de identificação nacional em uma sociedade com as características da
brasileira. O homem brasileiro sente-se cidadão ao participar da vida do
país via televisão, cidadania que às vezes lhe é negada no campo político e
social da vida real. A discussão perpassa, também, a dimensão antropológica
dos eventos catalisados pela mídia e transformados em espetáculo. A
sociedade que produz e se alimenta de espetáculos midiáticos é uma
sociedade cuja humanidade se encontra rebaixada ao nível da
instrumentalização do próprio ser humano. Conforme Debord (1997), o homem
que se realiza na mídia e em seus espetáculos é um homem que procura fora
de si a sua própria essência. Os eventos midiáticos são transformados em
eventos individuais por cada cidadão-receptor das mensagens e estes
cidadãos-receptores retroalimentam o sistema. Dessa forma, deixa-se de ser
humano para ser midiático.



Palavras-chaves: Mídia – Comportamento – Sociedade