“SER MAIS” E A DIGNIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

July 5, 2017 | Autor: Adriano Bertanha | Categoria: Social Work, Paulo Freire
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“SER

MAIS” E A DIGNIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Adriano Bertanha1

RESUMO O presente artigo desenvolvido a partir da concepção do brasileiro Paulo Freire, sobre característica marcante em sua obra de “Ser Mais” como elemento presente no processo educativo em sua proposta pedagógica, tem a intenção de explorar suas possibilidades de dignificação dentro do meio de injustiças legitimadas na área da construção civil.

Palavras-chave: “Ser Mais”; Construção Civil; ser humano; trabalho; emprego.

1. INTRODUÇÃO

Abordando os problemas de injustiças legitimadas na construção civil, essas formalizadas por leis e contratos de trabalho, o artigo propõe uma análise sobre o problema sistematizando caminhos para o mesmo através do consagrado conceito de ser mais freireano. Evidenciado situações de opressão nos ambientes de trabalho, subalternos principalmente, será apresentado proposta de diálogos problemáticos através de falas de indivíduos participativos desse meio, afim de suprir possibilidades de buscar o ser mais nesses ambientes de maneira fundamentada pela suas próprias falas problematizadoras.

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Aluno especial no Programa de Pós-Graduação em Educação: Aspectos Ontológicos e Epistemológicos de Paulo Freire, na Universidade Federal de São Carlos campos Sorocaba, UFSCar - Sorocaba, Professora: Dra. Dulcinéia de Fátima Ferreira Pereira

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. O ser humano, o meio e algumas relações

O Educador brasileiro Paulo Freire, indivíduo de fama inegável nacional e internacionalmente por suas publicações e ações na área de Educação, em nível nacional e internacional sendo o brasileiro com maior número de doutorados Honoris Causa da história do país, sem reduzir a vida o pedagogo em títulos mas também não deixar de citar conquistas tão importantes mesmo no âmbito formal do conhecimento. Um dos resultados mais pertinentes dos seus discursos sobre conhecimento, sociedade e educação, uma reflexão interessante ao que ele chama de “Ser Mais”, passo importantíssimo no caminho da educação. O encontro com essas dissertações da obra de Freire inspiraram o trabalho que está resultando esse artigo, “Ser Mais” e a Dignidade na Construção Civil, como uma proposta de analisarmos mais o conceito, também em propostas populares, tornando-o mais difundido e com mais conteúdo. O ser humano tem forte característica de busca em se relacionar e por isso necessita da presença de outro para buscar sua representatividade e identidade. Portanto na ausência do outro a carência da resolução dessa problemática gera a força vital para conviver, que também requer doação de si durante o processo esse essencialmente ‘humanizante’ quando manifestação direta dessa busca. Nesta intersubjetividade, criada através das aproximações resultantes, as doações são das mais diversas, o convívio em grupo é construído de forma diversificada, caminhando assim para contingências únicas. Esses indivíduos resultantes dessas relações por si vão continuar esse processo de unicidade nas futuras relações com outros, todos intermediados pelo mundo todo nesse processo, criando assim mudanças em si e no meio que por si só os mudaram nas mudanças construídas por eles mesmos, isso chamamos de cultura. Paulo Freire se empenha nesta reflexão ao deixar claro que a vocação para a humanização se caracteriza pela busca do “ser mais” por meio da qual o ser humano curiosamente busca o conhecimento de si mesmo e do mundo, em prol de sua liberdade. Há também a necessidade de deixar claro quem é o ser humano para Freire, “existir, humanamente, é pronunciar o mundo, é modificá-lo. [...] Não é no

silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão” (FREIRE, 2008, p. 90). O ser humano é um ser em constante busca por sua autonomia. Tendo como objetivo a liberdade decorrente de processos éticos na educação por parte do(a) educando(a) e educador(a), Freire delimita a autonomia como um processo de vir a ser. Processo, pois, é algo a ser construído, considerando a dinâmica da realidade em todas as suas dimensões, a partir de experiências estimuladoras. Esses processos éticos dão a oportunidade de usar conhecimentos, como o científico por exemplo que tem premissas de obter dominação controlada do meio natural, como instrumento para superar contradições sociais, impostas através de processos ideológicos resultantes das atuais relações de poder. Nessa incompletude do ser humano que resulta na sua busca por convivência, também há a busca pela liberdade, através dos instrumentos da consciência e dos saberes coletivos disponíveis, vivenciar essa incompletude, objetivando ela para realidade, para processar assim o deixar de ser menos culminando não em um ser completo e sim em um ser mais, digno da sua ação refletida para com seus companheiros, intermediados pelo mundo. "Ninguém educa ninguém, ninguém se educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo."(FREIRE, 1981, p. 79)

2.2. A Construção civil e a sua desumanização

Dentro de uma sociedade marcadamente capitalista, a relação trabalho x humano tem um significado muito forte para os indivíduos dessa, onde perder o trabalho pode ser aniquilador, criando a perspectiva de que a força de trabalho desse cidadão é desprezível e sua existência social produtiva se estagna, assim o desemprego torna-se intimamente ligado com as forças do buscar desse indivíduo, fortalecendo assim sua sensação de ser menos, distanciando de sua liberdade. A indústria da construção civil tem como maior e mais marcante qualidade a informalidade, menosprezando sua mão-de-obra, é de admirar como isso pode ser discriminatório no Brasil de forma econômica pois os mais atingidos por essa característica são os trabalhadores pertencentes às camadas de menor poder decisivo no canteiro de obras. Em um trabalho de campo informal, promovendo uma atividade em um grupo que organiza eventos para pessoas inseridas em programas de redução de danos, a

maioria dos integrantes se revelou já ter ocupado cargos na área da construção civil. Durante a exposição da atual situação da área, anseios problematizadores foram surgindo: “Quem gosta de trabalhar na construção civil?”; “Larguei a área por falta de pagamento!”; “A gente reclama sem união mesmo.” A primeira expõe a contradição social mais clássica do marxismo, que Freire se apropria para construir a diferenciação de uma relação entre opressor e oprimido e uma relação de trabalho humanizante. Marx em sua obra O Manifesto do Partido Comunista diferencia trabalho e emprego, aonde trabalho, o esforço que o ser humano faz para transformar o meio para melhor existir como necessidade e que, provavelmente houve em qualquer sociedade. Emprego ele constrói dizendo que é a venda da força de trabalho do indivíduo a aquele que detém os meios de produzir melhor a existência no meio, e que a sociedade se articula de uma forma que essa relação de troca seja necessária para sobreviver na mesma, mas nunca humanizadora, pois o humano não vai ao meio buscar a existência praticando e refletindo sua prática em grupo, não há ai a busca pelo outro durante essa reflexão para suprir seus anseios de se relacionar, identificar-se, libertar-se, ser mais. Se observamos a fala do participante, há um claro sentimento de incompletude na prática de atuar na área em questão, há, se observado por um viés da relação oprimido-opressor, uma problematização muito consistente: Quem gosta de ser oprimido na construção civil? Na última fala citada, é nítida a insatisfação das condições do seu emprego que o participante expressa, por inúmeros motivos trabalhistas provavelmente mas também há uma problemática mais atenuante. Repara-se o uso de um pronome pessoal informal no plural, mas também um contexto de falta de união, isso pode evidenciar uma não comunhão entre os colegas de emprego mas também que o descontentamento com a situação é generalizada. Em uma citação de Paulo Freire nesse artigo, o indivíduo somente se liberta em comunhão, a situação como está impede essa união mas ainda elucida nas falas desses participantes que colaboraram com suas falas o ser menos.

3. CONCLUSÃO

Ao brevemente expor a realidade da construção civil através de alguns discursos e vivências sintetizadas em modestas falas, nota-se minimamente em uma perspectiva freireana que sua situação é desumanizadora. A lógica do opressor-oprimido tem de ser quebrada em sua base, quando não houver mais quem oprimir o opressor se impossibilidade de continuar a sua prática, por tanto o ser mais tem de ser atingido através do diálogo popular com os indivíduos que sustentam as relações, ou seja a libertação mora nos trabalhadores que em comunhão caminharão para o processo, colocando em questão o status quo. O opressor por si, não compreenderá mas internalizará uma inquietude que corresponde com sua necessidade de buscar a autonomia nos seres humanos e não através deles, explorando, essa falsa liberdade. E se somente essas inquietude internalizada se concretizar no opressor já é o suficiente, o meio fará o resto.

4. BIBLIOGRAFIA BERTANHA, A. Dignidade do Trabalhador na Construção Civil. 2014. 38 f. Monografia – FACENS – Faculdade de Engenharia de Sorocaba, Sorocaba, 2014. FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 9ª ed. São Paulo: Paz e Terra. 2003. __________. Pedagogia do Oprimido. 9ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1981.

Diálogo Sobre a Dignidade na Construção Civil, 2015, Ong Pode Crê.

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