Seriam leques ou abanos Parte II

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Seriam leques ou abanos Parte II Maria Luísa Pedroso

Segunda hipótese: «colarinhos» ou «manteos» (golas também chamadas abanos)

Talvez não seja de admirar que o uso da palavra abanos para referir golas plissadas ou encanudadas, peças de vestuário ainda muito em voga no primeiro terço do século XVII e que se obtinham com recurso à complexa e especializada arte de preguear (enrocar) com goma, fosse desaparecendo a partir de meados do século XIX, acabando praticamente reduzido a quem se interessava pelo estudo do traje de época, já que por alguma razão se diz que as línguas são vivas. Por estar directamente ligado com o assunto que tenho abordado desde o princípio, pareceu-me necessário tentar perceber como se terá começado a ligar colarinhos, ou seja golas, com abanos. Recordo que, ao escrever «BRISAS DE LEQUES», procurei demonstrar que nem tudo o que era abano abanou ou foi leque, por ter encontrado inúmeras vezes estes objectos injustificadamente considerados como sendo de abanar, quando na realidade correspondiam sem qualquer dúvida a peças de vestuário ou roupa branca, entre as quais colarinhos ou «manteos» de camisas, que eram usados como peças independentes no traje do período que nos interessa. Assim, quando resolvi desenvolver este assunto, ligado que está, como mostrarei, ao tema principal deste trabalho, os já tão falados «milhares de abanos», vi-me obrigada a confrontar a dificuldade, muito minha conhecida, de situar correctamente certas palavras na respectiva época, aliás uma questão fulcral desde a Parte I, como o leitor com certeza já se deu conta.

Situar uma palavra na respectiva época, eis a questão: Pyrard de Laval chegou a Goa em 1608 na condição de prisioneiro, tendo-lhe sido contudo tiradas as grilhetas dos pés por ordem do Capitão-mor da Armada ao Capitão da galé em que se encontrava, afim de ser levado à presença daquele. Mas, por estar então muito doente, assim como um seu companheiro, seriam ambos levados ao Hospital Real, que no dizer do próprio Laval 1 «pela sua aparência mais inculcava um grande palácio...É pois êste hospital o melhor que na minha opinião há no mundo...». Seria aí que tomaria contacto com a primeira roupa branca da Índia, que tanto viria a elogiar: «...os lençóis são de pano de algodão muito fino e branco...calções, camisa lavada...toalha e lenço de assoar, que se mudam de três em três dias...». Numa das muitas apreciações que se encontram na sua obra referentes à qualidade desta roupa, uma em particular considero de interesse para este assunto por referir «rabats», que naquela data, 1608, eram certamente colarinhos lisos de 1 «VOYAGE DE PYRARD DE LAVAL aux Indes orientales (1601-1611)» SECONDE PARTIE du VOYAGE DE PYRARD DE LAVAL depuis son arrivée à Goa jusqu´à son retour en France.

2 pontas descaídas e não uma espécie de gravata com o mesmo nome, como li no Glossário da edição da obra a que recorri, pela simples razão que essa gravata só estaria em moda na segunda metade do século XVII: « Quant au blanchissement du linge, ils y ont une merveille curiosité, et avec cela il coûte fort peu. Tout leur linge est de coton fort fin, et de longhe durée, et si est fort sain, comme j´ai expérimenté dix ans durant que j´en ai usé. Les mainatos vous rendent une chemise et une pair de caleçons trés blancs et savonées, por deux bazarucos; et encore ils se le rendent tout crepê et ployé d´une gentille façon, car ils la mouillent ainsi, puis le laissent sécher de sorte que cette crêpure lui dure longtemps, et ils me semble que ce soit linge damassé et façonné ainsi. Ils usent de ce linge tant à table qu´au lit, chemises, rabats*, mouchoirs et autres. La plupart changent tous les jours. Une fort belle chemise ne coûte qu´ une tanga ou 7,5 sols. De ces toiles de coton, il en vient une quantité merveilleuse á Goa.» *Rabat: pièce de toille que les hommes mettaient autour du collet de leur pourpoint, comportant une partie retombant sur la poitrine faisant office de gravatte.»,

Jovem de 25 anos em 1607 com «rabat»

Na tradução abaixo do texto anterior, datada de 1862 e da responsabilidade de Cunha Rivara, «rabats» correspondem a «bacalhaus», bacalhaus estes que eram realmente um determinado tipo de gravatas na maioria dos dicionários de meados do século XIX que consultei, no entanto é importante aqui esclarecer que no tempo de Laval «rabats» só podiam ainda ser colarinhos de pontas descaídas, por não estar inventado um outro tipo de peça de vestir, que também se chamou «rabat», mas que se assemelhava a uma gravata, tudo isto podendo parecer hoje algo confuso para quem não se interesse por traje. «...Quanto à lavagem da roupa, faz-se alli com maravilhosa perfeição, e mesmo assim custa muito pouco. Tôda a sua roupa é de algodão muito fino, e de longa duração, e também é saudável, como eu próprio experimentei durante anos durante dez anos que della usei. Os Maimatos lavam muito bem e entregam uma camiza e um par de calções por dois bazurucos, e ainda trazem aquellas peças

3 mui bem e engraçadamente dobradas, e pregadas, porque as dobram e pregam quando molhadas, e só depois as deixam enxugar, de sorte que dobras e pregas lhe duram longo tempo, e fica parecendo roupa adamascada e fabricada com aqueles feitios. Usam desta roupa assim como para cama e para vestir como camizas, bacalhaus2, lenços d´assoar e outras cousas. A maior parte da gente muda de roupa todos os dias. Uma excellente camiza não custa mais que uma tanga, ou sete soldos e meio. Destes pannos vem a Goa uma quantidade maravilhosa.» Em resumo, «rabat» foi uma colarinho que muito faz lembrar o de uma camisa actual. Mais tarde foi igualmente uma gravata3, que segundo alguns autores terá surgido por volta de 1670, mas que de facto apareceu um pouco antes, um bom exemplo da qual pode ser observado na miniatura de Samuel Cooper de 16594 ilustrada adiante, insistindo contudo que em 1608 Laval não podia ainda referir-se a gravatas. No entanto, quem consultar sobre este assunto o «VOCABULARIO PORTUGUEZ & LATINO...» (1712-28), aí descobre que o padre Bluteau não duvidava identificar os «bacalhaus», de que Cunha Rivara fala atrás, com balonas5, isto é ainda outra variedade de colarinho de camisa, caracteristicamente virado sobre os ombros, semelhante a um cabeção, afirmando: «Bacalhao. Vulgarmente é o mesmo que balona.»6.

«Rabat» gravata

Sir Robert Henry 1659 Miniatura por Samuel Cooper

2 Bacalháos, pl. de rabat, Ornement de toile que les magistrats et les prêtes portent sous le menton, etc. in J. I. Roquete, DICCIONARIO FONSECA, PORTUGUEZ-FRANCEZ, 1841 ; BACALHÁO, s. m. pl., duas tiras pendentes sobre os peitos dos que vão de capa e volta. in DICCIONARIO MORAES, 1844 3 «...the collar turns into a cravat, rabat, by the 70´s...» in Davenport, THE BOOK OF COSTUME, VOLUME II, p.517 4 Hart, Avril, TIES, p. 16 5 BALÒNA, s. f. ANT, ( Hesp. Valona, do flamengo Wallon que signif. Flamengo), Era o collar da camisa pendendo sobre os hombros, e mais ainda sobre o peito. 6«Rabat» como gola em uso no tempo de Laval, não era o mesmo que «balona» ou «bolona», como nos diz Bluteau, visto este último tipo de gola não ter sido usado senão na terceira década do século XVII, correspondendo ao que se conhece como cabeção, portanto de muito maiores dimensões. Tinham no entanto em comum a característica de serem ambos lisos e não pregueados.

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«Modo de se passearam pela rua os nobres fidalgos, governantes e portugueses notáveis». O nobre cavaleiro usa «manteo e punhos de abanos». Os acompanhantes colarinhos lisos ou «rabats».

Aspecto e trajes dos Portugueses da Índia oriental, civis ou militares, quando saiem à rua. Nesta gravura observa-se um «rabat» na figura central e nas duas que encontram à direita e esquerda da imagem, «manteos de abanos»

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Se... Havia, porém, uma outra alternativa, em 1608, para os colarinhos lisos chamados então «rabats», aquela que correspondeu aos manteos de abanos7 do traje muito usado em Goa por nobres portugueses, como pode ser observado acima em gravuras8 que demonstram a coexistência de ambos os tipos a partir do final do século XVI, o que aliás aconteceria também durante o século seguinte. Neste ponto estamos de novo em ligação com o assunto principal, o de identificar os milhares de abanos constantes da Lista de Goa de 1630 e das duas outras listas de data um pouco anterior. Aqui chegada, começei a admitir com razoável probabilidade que aqueles milhares tenham correspondido a manteos de abanos, o que permitia dar-lhes importância comparável à que Laval deu a outras golas, os «rabats», suficiente para as mencionar entre as peças de roupa branca indispensáveis no dia a dia, o que não deve admirar pois as usava como soldado.9 Assim achei natural que tão grandes quantidades dissessem respeito a um produto de elevado interesse comercial. Como a roupa branca de Goa era de grande qualidade e resistência e «custava em Goa tão pouco» tudo leva a crer que assim fosse, por proporcionar uma rentabilidade elevada quando vendida a consumidor final em países europeus. Como prova do apreço em que a roupa branca era tida, veja-se como um passageiro embarcou uma canastra de roupa branca em conjunto com objectos valiosos classificados «miudezas», como contadores e bufetes, na ponte dum navio: « T.º das Roupas E Cedas-Tittº das Caixas e fr dos de Roupas qvão embarcadas nesta nao Nossa Sra de Jesus» 10 f. 36 Embarcou Antão Themudo passag.º dous baldes de porcellanas hum Caixão de gavetas vasio tres f. 36 v Contadores dous com brincos, e hum vasio, dous bofetes, e huã Canastra de Roupa branca na põnte a entregar a si mesmo...» Contudo, acerca do comércio de Roupas, encontrei indicações de que esta actividade iniciou um período de decadência a partir de 1600, como adiante vem referido. Após ter tido importância superior à da pimenta ou da canela, nos primeiros anos da união da coroa de Portugal à de Espanha, pode-se no entanto supor, que apesar de tanta convulsão ocorrida durante o período que se seguiu àquela data, alguma relevância deverá ter mantido, devida à respectiva qualidade e variedade. Sobre o valor das roupas em relação com outros tipos de carga, Rui Godinho dá a seguinte informação: «...Tudo pode variar dependendo do tipo de carga transportada. O principal destaque vai para as roupas, que apesar do menor peso, quando comparadas com outros tipos de carga (como a pimenta ou a canela) apresentam uma valorização no mercado bastante superior. 7 Abano, s.m. acção de abanar, leque ou instrumento para agitar o ar, enxotar as moscas, e outros uzos. Camiza de abanos, collar de abanos, manteos de abanos; tudo uzado antigamente em Portugal, Abano das mãos: o mesmo que punhetes de camisas, Abanos (Ant.): guarnição de muitas dobras á feição de canudo, era uma espécie de volta que os antigos traziam á roda do pescoço. In Diccionario Geral Da Lingoa Portugueza de Algibeira 1818 8 Van Linschoten, J. H. e Purchas, Samuel, EARLY TRAVELS IN INDIA COMPRISING PURCHAS'S PILGRIMAGE, 1864 9 «...Depois que saímos da prisão íamos comer e beber com os soldados, ora aqui, ora ali, a casa dos fidalgos, de sorte que não nos custava nada o sustento, porque estávamos no rol dos soldados. Estive depois em Goa com os portugueses por espaço de dois anos, recebendo paga de soldado...» in «VIAGEM DE FRANCISCO PYRARD DE LAVAL», Vol. II, p. 25, Versão portuguesa correcta e anotada por JOAQUIM HELIODORO DA CUNHA RIVARA

10 PT/AHU/CU/COD1772, «Caderno da nao Jesus feito no anno de 1619»

6 Assim se explica que a carga de três naus de 1586 seja, em termos de peso, muito inferior às duas de 1587 tendo, no entanto, um valor superior, 4 707 700 cruzados em 1586 contra 4 229 490 em 1587. Por estes dados é também possível ver uma quebra após 1600 onde em nove armadas, entre 1601 e 1631, apenas a primeira (de seis navios) ultrapassa os quatro milhões de cruzados (6 382 085) e outra vai além dos três (em 1616 com 3826 645). Novamente, a entrada em cena de holandeses tem consequências significativas, pelo que a mera substituição de umas mercadorias por outras não deve ter alcançado o resultado esperado.»11

«Destes pannos vem a Goa uma quantidade maravilhosa» Porquê grandes quantidades? As camisas, «rabats» e manteos de abanos, obtidos a partir de finos mas resistentes tecidos de algodão, necessitavam ser mudados frequentemente, por se usarem em contacto directo com a pele e portanto eram adquiridos em quantidade, o que explicaria encomendas de tantos milhares de abanos caso fossem manteos de abanos, até por serem utilizados por ambos os sexos, em todas as idades e serem submetidos a frequentes lavagens, já que contribuíam, a par com punhos, também chamados de abanos e que com eles faziam conjunto, com a única nota de frescura em trajes de tecidos muito caros, que sem os terem como proteção, rapidamente sofreriam estragos irreparáveis. Por ser um detalhe curioso, a este respeito lembro a barrela, ou seja a lavagem periódica da roupa branca, que por razões climáticas e de ordem prática, não seria tão frequente na Europa como em Goa e que consistia em aquecer a roupa em grandes panelões para ser lavada, mexida, remexida e de seguida, quando possível, corada ao sol e por fim seca, processo moroso que explica porque raramente era empreendido com frequência superior a mensal. Em continuação esta roupa era engomada, isto é mergulhada em solução de goma, operação delicada que tanto no caso de «rabats», nos quais uma qualquer pequena ruga se evidenciava de forma não tolerável, como no de abanos, era obra para especialista. Por tudo o que se diz atrás, parece também evidente a necessidade de ter à disposição um razoável, mesmo elevado, número de exemplares no dia a dia, que variava naturalmente conforme as possibilidades de cada um, e assim, supor que estes objectos seriam encomendados aos milhares, em longínquas paragens, não parece improvável.

Os «manteos» do 18.º vice-rei da Índia, Dom Martim Afonso de Castro Dom Martim Afonso de Castro tomou posse como vice-rei da Índia em Abril de 1605 e no ano seguinte teve que acudir ao cerco holandês de Malaca, falecendo por doença nessa cidade a três de Junho de 1607, com 47 anos de idade. Durante a sua ausência de Goa ficou no governo o Arcebispo D. Fr. Aleixo de Meneses, que governaria por via de sucessão até à chegada do próximo vice-rei. Em 1608, ano da chegada a Goa de Laval, dá-se o caso do Arcebispo continuar ainda em funções devido a também ter morrido na viagem para a Índia, D. João Pereira Forjaz, que o vinha substituir. Lê-se no «Jnuentario da fazenda de Dom Martim Afonço que esta no ceo», feito seis dias após a sua morte, o seguinte: «...tresllado de roupa bramqua item oitenta he noue camizas de Ollamda he pano de Purtugall item vinte he hum llansooes de Purtugall item sesemta he dous callsõis branquos de Purtugall 11 Godinho, Rui Landeiro, A Carreira da Índia Aspectos e Problemas da Torna-Viagem (1550-1649), p. 190

7 item quorenta e dous trauseiros dezeseis allmofadinhas item hums callsõis de pano branco item vinte he quatro llemsos item noue carapuças item douze toucadores item hum pemtiador... item cinco pares de meas de linho... item trinta manteos com sete pares de punhos item manteos de beuer vinte he seis com seus punhos... dezoito toalhas de de meza, vinte he sete tiramtes quatorze duzias he quatro gardanapos nouos vimte digo trimta he quoatro toalhas daugoa as mãos mais oito de meza mais vimte oito toalhas de seruiso duas toalhas de copa em quantidade... ...item esta roupa bramqua toda que deixou ho senhor vizo rej por verba de seu testamento que se dese toda a Hamtonio de Vilhegas...» 12 Neste traslado observa-se que o vice-rei tinha em Malaca à data de seu falecimento «esta roupa bramqua toda», como seria natural de uma pessoa da sua condição.

Trajado com manteo e punhos de abanos

Entre os dois tipos de manteos de D. Martim Afonso de Castro um corresponderia certamente a manteos de abanos, visto ser o mais utilizado pelos nobres portugueses em Goa. «...item trinta manteos com sete pares de punhos item manteos de beuer vinte he seis com seus punhos...» 12 Arquivo Municipal de Cascais, Arquivo dos Marqueses de Cascais, Cx.2,Doc.5 in «Revista das Artes Decorativas»

8 Em relação com estes últimos vinte e seis conjuntos de manteos e punhos de «bever» ou beber13, talvez e só talvez, «bever», por ser sinónimo de embeber ou enfiar dentro de, esteja ligado com a forma de colocar estes manteos, cuja parte inferior era introduzida por dentro do gibão, assemelhando-os aos «rabats» e punhos que usaria no exercício de funções militares, sendo que os outros manteos, os de abanos seriam os apropriados no desempenhando do cargo de vicerei, tal como a gravura mostra.

Conjunto de colarinho de senhora (de embeber) e punhos engomados. Nunca foram lavados, conservando ainda no interior a numeração de origem, Cerca de trezentos anos depois (1900-1910)

Avril Hart, que muito sabia sobre traje, escreveu, entre outros, um livro sobre gravatas14, em parte baseado na colecção do Museu Victoria & Albert, onde foi «Assistant Curator of the Department of Textiles and Dress», onde disse, em termos muito esclarecedores: «From the end of the sixteenth century the word «band» was loosely aplied to any neckwear that was not a ruff. It could indicate a plain attached shirt collar or a detached band that draped over the doublet collar. This latter was known as a falling band and usually was a separate collar that fitted around the neck inside the doublet collar». Portanto, para Hart, a palavra «band», que quer dizer «rabat», tanto em inglês como em francês, foi aplicada, em sentido lato, a todas as golas que não fossem «ruffs», ou seja abanos, e «falling band» era normalmente uma gola separada, que ajustava em torno do pescoço por dentro da gola do gibão ou seja «bevendo» ou embebendo na gola do mesmo. Quanto a mim faz assim sentido que os «rabats» do tempo de Laval e que se viu não poderem identificar-se com «bacalhaus», tivessem sido chamados, no início do século XVII, «manteos de bever». Se assim foi, sabendo que nessa mesma altura os manteos de abanos constituíam a alternativa para aquele tipo de adereço usada quando «passearam pela rua os nobres fidalgos, governantes e portugueses notáveis», então os «trinta manteos com sete pares de punhos» já referidos podem ter sido como estes últimos. 13 «Bever, v.t. Arc. Beber: e se tirou augua e deu de bever aos camelos» in GRANDE ENCICLOPEDIA PORTUGUESA BRASILEIRA

14 Hart, Avril, «TIES», p.12, V& A Publications, 1998

9 A este respeito, em Inglaterra os «falling bands» ou «rabats» eram geralmente de fino algodão ou linho branco e por vezes rodeados de renda. A versão que se lhes conhece com maior largura lembra um cabeção caído sobre os ombros e ficou para a posteridade em numerosos retratos do grande pintor flamengo Van Dick, pelo que é frequentemente referida como gola «à Van Dick». Entre nós é chamada balona ou bolona e em castelhano «valona». Quanto a abanos, em inglês «ruffs», deram naquele país também pelos nomes de «picadil», «pickadil» ou «picadilly» por na rua de Londres desse nome ter vivido um alfaiate que se especializou no fabrico destas golas, acasteladas como nuvens. Em França os abanos denominaram-se «fraises», o que tinha a ver com o acto de plissar em «fraise», ou seja frisar. Estas «fraises» eram acessórios de traje masculino e feminino e primitivamente de modestas dimensões mas foram aumentando de tamanho e volume, passando a ser formadas por várias camadas sobrepostas, enrijecidas com goma, até atingirem dimensões inconcebíveis, chegando a produzir a impressão da cabeça estar seccionada do corpo.

Abano ou «fraise»

«Fraise à la confusion»

10 Não houve então outro remédio senão voltar a diminuí-los progressivamente, visto dificultarem até o acto de levar uma colher à boca. Durante um breve período a eliminação da goma resultou nas que foram chamadas «fraise à la confusion», mas os abanos continuariam contudo a conviver na Europa com o «rabat», durante um ainda longo período que acabaria, duma maneira não geral, cerca de 1635. Com efeito, por exemplo nos Países Baixos o seu uso prolongar-se-ia mais algum tempo do que em França e mesmo do que na Inglaterra, o que, como de costume, mostra que a moda não dava nem dá saltos rápidos, nem mesmo quando alterada ou condenada por sucessivas e pretensamenta austeras Leis Sumptuárias que foram então impostas em muitos países.

De regresso a Portugal: a palavra abano aplicada sucessivamente a colarinhos, manteos ou collares desde 1572 até meados do século XVII Começo pela interessante e mais recuada forma «avano» transcrevendo um documento onde se encontra, em 1572 a primeira menção a avanos em ligação com colarinhos que conheço, como acontece a seguir: «A dom Duarte´de Castelbranco do conselho do snor Rey seu neto na caxinha uão oito gerniçoes de avanos. B. seis de trocal como ora aqui se se Custumão e dous de trancinhas quesão os deradeiros quese mandarão fazer pequeninos enão sepasapor diante ate saber os de que sua A se contenta vai hum dos de trocal chanzinho e per Si agernição que haviade levar começada apegar por que se Costuma fazer asi pera se pegar nos colarinhos daolanda e se for necesario dequa amostra de como se peguão mandarse há.»15. Já interpretei a citação anterior desta forma: « A dom Duarte de Castelbranco do conselho do snor Rey seu neto na caixinha vão oito guarnições de avanos. A saber seis de trocal (troçal) como ora aqui costumam e dois de trancinhas que são os derradeiros que se mandaram fazer pequeninos e não se passa por diante até saber os de que sua alteza se contenta vai um de trocal (troçal) chãozinho (chanzinho) e per si a guarnição que havia de levar começada a pegar por que se costuma fazer assim para se pegar nos colarinhos de Olanda e se for necessário de que a amostra de como se pegam mandar-se há».16 Nesta missiva da rainha D. Catarina, fica bem claro que eram enviados numa caixinha oito guarnições de avanos dizendo-se que seis eram de troçal, (fio tripartido torcido) e duas de trancinhas, (cordão entrançado). Preocupa-se esta Senhora com estas guarnições, mencionando as trancinhas, que pelos vistos eram a última moda no reino e por isso Dom Duarte de Castelbranco é «avisado» que as não queria divulgadas até saber quais seriam mais do agrado de sua Alteza, alguém que muito estimava, sua sobrinha e nora, D. Joana, mãe do neto, El-Rei D. Sebastião. Uma das guarnições de troçal «chanzinha », isto é singela, sem lavores, ía mesmo começada a «pegar», como era costume nos «colarinhos de Olanda17». Por a rainha felizmente mencionar colarinhos, a tarefa de perceber que estes avanos eram uma forma de golas fica facilitada. Toma-se mesmo conhecimento do nascer de uma novidade na guarnição daqueles, as trancinhas, alteração que faria muito sucesso e terá continuado a enfeitar colarinhos pelo menos até meados do século XVII, como se verá mais adiante.

15 BA-49-X-1 16 Pedroso, Maria Luísa. Brisas de Leques, pp. 245-248.

17 «HOLLÀNDA, s. m. Olanda, lençaria fina e preciosa fabricada en Hollanda» in DICCIONARIO MORAES, 1844

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Recuando vinte anos... Falta neste ponto tentar explicar porque é que a rainha chamava «avanos» a colarinhos. Penso que a razão para isso resulta do plissado nos colarinhos ter surgido quase em simultâneo com os leques, objectos de abanar desdobráveis, nos reinos da Península Ibérica. Veja-se o exemplar, aberto e plissado, num retrato de 1551, do colarinho de Maria d'Austria18, obra de Antonio Moro, que é descrito por Carmen Bernis como uma «Gorguera alta» com uma pequena «lechuguilla», considerando-o portanto um precursor do colarinho de abanos. «Lechuguilla» não me parece a designação mais adequada neste caso, por corresponder na realidade a uma versão mais tardia e volumosa, a recordar uma pequena alface. Em minha opinião utilizar o termo «avanillo» teria sido menos sugestivo, mas mais correcto.

Colarinho plissado de D. Maria de Áustria 1551

18 Bernis. Carmen, LA MODA EN ESPAÑA DE FELIPE II, p.89 in «Alonso Sánchez Coello y EL RETRATO EM LA CORTE DE FELIPE II, MUSEO DEL PRADO», 1990

12 Noutra célebre pintura, desta vez de D. Catarina, também obra do mesmo grande retratista, em 1552 espreita um colarinho plissado, ainda de dimensões muito modestas, quase oculto pela gola da ríquissima «ropa»19 de veludo preto. Esta «ropa», por seu lado, era uma vestimenta que terá talvez origem portuguesa, muitas vezes confundida com outra, denominada «marlota».

Pormenor do retrato da rainha de Portugal, D. Catarina de Áustria Antonio Moro -1552

Este colarinho aberto de D. Catarina é plissado, no entanto, em algumas secções, apresenta uma certa descontinuidade que parece devida à riqueza de lavores de agulha que apresenta, que não permitiriam maior regularidade. Como denominaria a rainha, que tanto se interessava por estes assuntos, este seu colarinho e a guarnição que o rodeia? Não tenho ainda elementos para responder se D. Catarina lhe chamaria já, naquela data, colarinho de avanos, como iria fazer aos que se usavam em 1572 no documento atrás referido. Os dois mais antigos colarinhos plissados que consegui encontrar em retratos desta época, estão em retratos do Arquiduque Fernando do Tirol, datado de 1548 (Seisenegger-Viena Kunsthistorisches Museum) e do Imperador Maximiliano II (Antonio Moro,1550 - Madrid-Museu do Prado). Fernando e Maximiliano II eram sobrinhos da rainha D. Catarina e do Imperador Carlos V.

19 «A ropa consistia numa espécie de casaco comprido, que se ajustava e abotoava acima da linha da cintura e a marlota, que se lhe assemelha em muitos aspectos, difere essencialmente no comprimento que não ultrapassa os três quartos, significando que termina um pouco acima dos joelhos» in Boucher, François, HISTOIRE DU COSTUME EN OCCIDENT DE L´ANTIQUITÉ A NOS JOURS, p. 227.

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Colarinho plissado do Arquiduque Fernando do Tirol 1548

Contudo, D. Joana de Portugal, mãe de D. Sebastião, foi retratada por Cristóbal de Morales, no mesmo ano de 1552, mostrando um colarinho que em Espanha se denominaria «avanillo», talvez por analogia com a palavra portuguesa original «avano», que se encontra vinte anos mais tarde na carta de D. Catarina, a propósito de novidades em guarnições. Estes colarinhos foram usados por ambos os sexos, como bem prova a memória que deles temos nos retratos do filho de D. Joana, El-Rei D. Sebastião, no reinado do qual eram ainda modestamente dimensionados e por isso não são referidos em Leis Pragmáticas, ao contrário do que sucederia durante a dinastia Filipina, em que atingiriam o auge na ostentação.

D. Joana de Portugal c.1552

D. Sebastião com colarinho de abanos 1565

14 Em face de tudo o que referi até agora regresso à hipótese dos colarinhos plissados, que surgiram por volta de 1550, terem sido baptizados de «avanos» por fazerem recordar a folha do ainda nóvel objecto de abanar desdobrável, o leque proveniente da longínqua China ou do Japão, como hoje se lhe chama mas que então ainda compartilhava designação com o muito antigo abano de cabo e painel fixo. Carmen Berniz, como se viu, assim pensa. Por meu lado, sabendo que um leque, possivelmente chinês ou japonês, pode ter sido pela primeira vez, pintado nas mãos da jovem filha de D. João III e de D. Catarina, D. Maria, que casou em 1543 com o então príncipe D. Filipe de Espanha, futuro Filipe I de Portugal, e faleceu dois anos depois, não me custa partilhar aquela opinião, ressalvando no entanto que esta princesa apresenta no retrato uma camisa de gola subida ainda somente com um pequeníssimo folho. Quiçá em Espanha a ligação desta gola à folha dum leque tenha surgido por razão de semelhança ou apenas como mera adaptação da palavra portuguesa original, avano, usada em 1572, como atrás se viu, pela a rainha D. Catarina. Naquela época os colarinhos de avanos eram usados por ambos os sexos, como bem prova a memória que delas temos nos conhecidos retratos do rei D. Sebastião.

Pormenor do retrato de D. Maria de Portugal

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Abanos ou «abanillos» Durante a dinastia Filipina, dou apenas dois exemplos de Leis Pragmáticas, mais próximas das datas das Listas de Carga em que vieram de Goa grandes quantidades de abanos, uma do reinado de D. Filipe II e outra de D. Filipe III de Castela, que apesar de frequentes se revelaram manifestamente incapazes de conter um luxo considerado exagerado, se bem que algumas vezes não tenha havido verdadeira intenção de o fazer. Numa de Dezembro de 1593 e noutra de três de Janeiro de 1611, encontram-se referências a «abanillos», a saber: «…Que las mujeres puedã traer jubones de telillas y guarnecerlos com vna trencilla, o molinillo de oro o plata fobre las costuras y a la redonda de los abanillos, y puedã quajarfe de molinillos o trencillas de oro o plata los jubones de rafo dellas...» e «...21 Yten, que las mugeres puedan traer jubones de tela de oro, y plata, com folo vna trenzilla por las cofturas, y en los abanillos...» Vê-se do anterior que a guarnição de «avanos de trancinhas», que fora introduzida por D. Catarina em Castela no ano de 1572, fora tão apreciada que tantos anos mais tarde continuava a ser empregue para guarnecer gibões ou «jubones», além de ainda enfeitar os «abanillos» ou seja os abanos em toda a volta.

Aproximando-nos outra vez de 1630

Filipe IV de Espanha, III de Portugal com golilha

Filipe «juró su reino», ao qual Portugal estava associado em 1621, vestido de branco segundo o costume tradicional mas viria a ter uma predileção especial pelo negro no trajar. Foi no seu reinado que a família real substituíu os abanos, então frequentemente referidos como «lechuguillas» (as tais golas frisadas, lembrando alfaces), por «golillas». A «golilla» era uma gola lisa, engomada, que diferia do «rabat» na particularidade de se elevar por detrás, decorada por vezes com trabalhos de agulha que muito a encareciam, apesar de aparentar mais simplicidade em comparação com a «lechuguilla». É muito citado a este respeito o autor Sempere20 ao colocar com precisão a criação das «gollilas» em Janeiro de 1623, seguindo-se de imediato o abandono das «lechuguillas», relatando a este respeito uma comprida estória, 20 «...Las golillas tuvieron su principio en Enero de 1623, reformados que fueran los cuellos encañonados...» in Sempere y Guarinos Juan, Historia del luxo y de las leys suntuarias, Madrid, 1788

16 daquelas que por interessantes que sejam pouca relação têm com a realidade dos factos e às quais se aplica frequentemente: «Se non è vero, è ben trovato».

Quanto a Portugal verifica-se que, desde 1572, os avanos como golas, mudada a respectiva grafia para abanos, atravessaram toda a dinastia Filipina e ainda se usavam no reinado de D. João IV, o primeiro da dinastia de Bragança, nada tendo a ver com leques apesar da denominação e as guarnições que lhes eram próprias, como no caso das trancinhas, passaram a escrever-se transinhas por aquela altura.

Abanos na Universidade de Coimbra A palavra abanos ainda aparece em 1653 dizendo respeito a golas nos estatutos da Universidade de Coimbra. Apesar do uso destas golas ter sido praticamente abandonado nalguns países da Europa por volta de 1635, ainda seria apreciado em Portugal por estudantes, apesar de proibido nos Estatutos daquela Universidade, em que uma grande parte dos mestres e alunos eram clérigos e por essa razão os abanos continuaram a aparecer durante mais algum tempo no traje talar.

17 «...Lib. III. Tit.III. Das Connfiffoes, &.c... ...1- Os Estudantes andarão honestamente vestidos sem seda alguã: mas poderão trazer os chapeos, & barretes forrados, & colares dos manteos, & guarnicoes de sotainas por dentro. E nas camisas não trarão abanos, senão collares chãos sem feitio de rendas, nem, bicos, nem tranfinhas, ne(~) de outras Semelhantes fob pena de dous mil reis, pagos de cadea, a metade para a Cõfraria & a outra para quem o acufar... ...3- Não trarão capas de capello cerrado, & trarão manteos de collar, ou de cappellos abertos. Pore(~), os criados de Eftudantes poderão ir ouuir ás Efcolas cõ pelotes, & ferragoulos, & chapeos, e collares e abanos nas camisas, chãos que não paffem de dous dedos. E os Eftudantes pobres poderão trazer o mefmo trajo: tirando os collares das camisas de abanos...»21

Conclusão, por enquanto, possível Em face do anteriormente exposto, a hipótese dos milhares de abanos já tão discutidos terem sido golas de finíssimo e resistente algodão, constituídas por tiras deste tecido, destinadas a serem engomadas em plissado ou encanudado, parece-me tão provável como a alternativa que apresentei na primeira parte deste trabalho, a de serem igualmente abanos, mas objectos de abanar, em ambos os casos originados na Índia. Talvez um dia um simples pormenor, olhado com a devida atenção, possa esclarecer este assunto em definitivo, como no caso que se segue relacionado com outras peças de roupa, designadas da mesma forma abanos. Excluo portanto a hipótese de terem sido leques da China ou do Japão 21 Estatutos da Universidade de Coimbra, Confirmados por el rey noso Snor Dom IOÃO 04 em o anno de 1653, Impressos por mandado e ordé de Manoel de SALDANHA do Confelho de Sua Majestade Reitor da mesma Uniuersidade e Bifpo eleito de Vifeo, p.139

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Alquicés e haíques Abanas, abanes ou abanos Encontrei em diversas fontes referências a peças de roupa usadas pelos árabes que se chamaram abanas, abanes ou abanos, dados como sendo o mesmo que haíques22. Sei hoje que, em boa verdade, eram apenas uma variedade de alquicés23. Senão veja-se: «Mandámos ora tomar a conta a Nuno de Freytas, fidalgo da nossa casa, de todo o que recebeo e despendeo des os 15 dias do mes de fevereiro do anno de 98, até fym de setembro do anno de 500, que esteve por nosso feytorem a cidade de Çafy; pella ( qual) se mostrou ele receber as cousas seguintes, a saber: 854 alambés de mazona, contando 200 delles com buracos; e 10 alcatifas de cores; 365 alquices tascontes de lacar; 119 meos tascontes; 1200 alquices cardoes de lacar; 1096 alquices cardões comus; 822 alquices hayques; 6461 alquices habanes; 3232 aljaravias;...6 peças de alquices que outros que se chamam, rejoanes;... e de todo deu bõoa conta...per bem da qual damos por quite e livre deste dia pera sempre ao dito Nuno de Freytas... Dada em Lixboa, a 15 de dezembro, Joham de Barros a fez, anno de 1501.- Chancellaria de D. Manuel, liv. 17.º,fl.105. Liv. Das Ilhas, fl. 67...»24 Perante este documento detalhado, conclui que «hayques» e «habanes», eram duas das muitas variedades de alquicés. Num só documento tem-se a oportunidade de encontrar alquicés de vários tipos: tascontes de lacar, meos tascontes, cardoes de lacar, cardoes comus, hayques, habanes, e ainda seis peças de alquicés que se chamavam rejoanes. Curiosamente o tipo mencionado em maior quantidade, 6461, é o «habanes», talvez por ser o mais popular. Passados poucos anos, em 1508, já era suficientemente reconhecível para aparecer apenas como abanos. «Por mamdado de El Rey meu senhor e padre, que samta glloria ajaa, foi tomado comta a Gomçalo Fomsequa,fydallguo de nosa casa, do tempo que esteve por capytam e feytor no castello de ArguiI, que foram tres annos, cinco meses, os quaes se comecaram em 26 dias de março do anno de 505, que entrou no dito careguo. Até 28 de agosto do anno de 508 que em seu loguar entrou Francisco de Allmada...3227 peças de abanos, 1138 peças dalerazias; 225 peças de albornozes,...»25 Exactamente estas anteriores grandes quantidades de abanos foram, até mesmo por mais que um autor, entendidas como abanos de abanar do Norte de África, o que obviamente não eram. Este exemplo serve bem para enfatizar o cuidado com que fui desvendando o termo abano, que penso ter provado poder abranger não só objectos de abanar como também golas, punhos e até uma das muitas variedades de alquicés26.

22 «Abana, Abane - o mesmo que haíque» in Revista de Portugal, Língua, vol. IV, p. 258 23Alquicé ou alquicer, s.m. (Arab.alquecai, do verbo caça, cobrir, vestir) ant. capa com que os mouros costumam cobrir-se, ordinariamente de lã, e de côr branca:-pequeno enxergão mourisco 24 CARTAS DE QUITAÇÃO DEL REI D. MANUEL 496 in ARCHIVO HISTORICO PORTUGUES, VOL IV, p. 477 25 CARTAS DE QUITAÇÃO DEL REI REI D. MANUEL, VOL VIII, p. 409 26 «Carta de Mair Levi a D. Manuel de 14-XI-1514, pag. 653 e Carta de Nuno Gato a D. Manuel de 4-XI-1514, pp. 655-656» in Sources Inédites; «...e se achou em poder de Mayre de Hyinda, yrmão de Ysaque Benzamero, perto de dois mill abanes...» in Revista de Portugal, Língua, vol. IV, p. 258

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Mas... Se nem todos os abanos foram leques, também nem todos os leques foram abanos: Abanos e leques numa carga de Goa para o reino «...f. 16 O P.e Procurador do Conv.to da M.e de Deos, huma troux.ª com meya peça de lenços pintados da Costa, outra de d.os azuis de Dio hum guingão pintado da Costa, huma Caix.ª com outo abanos, huma Lâmina de S.José huma caixa com nove fulas da China, tudo de mimo a José Nunes Nobre f. 26 Frey José Capristano hum Caix.te com Sinco cates de Chá Seis cates de pimenta, hum aratel de caxundé, doze leques, huma peça de de lenços azuis de Dio, duas peças de lenços da Costa, huma de 6, e outra de oito, huã linha de Dio, huã Canga, e hum aratel de lacar de mimo a quem aviza por sua Carta...»27 Como lamento e em jeito de nota final, muito me custa que no país considerado o introdutor e até difusor do leque na Europa a única fabricação que lhe sobra dum objecto de abanar seja a daquele com que se espevitam brasas, que apesar de tão tosco, se pode gabar da subida honra de ter sido classificado em 1910, por Rhead, como o abano português, considerando-o como de «extreme antiquity by European time scales».

FIM

27 AHU-CU-COD.1243, CARGA DAS NAUS DA ÍNDIA PARA O REINO, «CADERNO (cópia) da carga da nau Nossa Senhora da Caridade e São Francisco de Paula que faz viagem de Goa para o Reino, na monção de Fevereiro de 1772»

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