SÉRIE TEMPORAL DA COINFECÇÃO LEISHMANIA/HIV EM ALAGOAS: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS, CLÍNICOS E LABORATORIAIS

May 28, 2017 | Autor: Karla Lima | Categoria: Epidemiology, Infectious disease epidemiology, HIV/AIDS
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SÉRIE TEMPORAL DA COINFECÇÃO LEISHMANIA/HIV EM ALAGOAS: ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS, CLÍNICOS E LABORATORIAIS Karla Mychelle Cezario de Lima1

RESUMO Objetivo: Realizar série histórica de casos de coinfecção leishmaniose tegumentar (LT)/ HIV e leishmaniose visceral (LV)/HIV do estado de Alagoas, no período de 2002 a 2012. Metodologia: estudo descritivo, agregado, de abordagem quantitativa, transversal, que buscou casos de coinfecção Leishmania/ HIV registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em Alagoas. As variáveis contemplaram aspectos epidemiológicos, clínicos e laboratoriais. Resultados: dos 484 casos registrados de LT nenhum foi diagnosticado como coinfecção HIV; de 212 casos de LV no período, houve registro de 8 casos de coinfecção HIV. Destes, 62,5% eram do sexo masculino, a média de idade foi de 33,3 anos e os sintomas mais prevalentes foram febre, emagrecimento e palidez. Conclusão: o perfil dos pacientes é similar ao identificado em outros estudos. É imprescindível capacitar os municípios para detecção precoce dos casos de coinfecção e para fornecimento de testagem para HIV a todos os suspeitos de leishmaniose. Descritores: leishmaniose; HIV; coinfecção.

ABSTRACT Objective: historical series of cases of coinfection with cutaneous leishmaniasis (CL) / HIV and visceral leishmaniasis (VL) / HIV in the state of Alagoas, in the period 2002-2012. Methodology: A descriptive study, aggregate, quantitative, cross-sectional, which sought cases of coinfection Leishmania / HIV recorded in the Information System for Notifiable Diseases (Sinan) in Alagoas. The variables contemplated epidemiological, clinical and laboratory aspects. Results: of the 484 registered cases of LT none was diagnosed as HIV coinfection; of 212 cases of VL in the period, were recorded 8 cases of HIV coinfection. Of these, 62.5% were male, the mean age was 33.3 years and the most prevalent symptoms were fever, weight loss and pallor. Conclusion: the profile of patients is similar to that identified in other studies. It is essential to empower municipalities to early detection of cases of coinfection and providing HIV testing to all suspected leishmaniasis. Descrtiptors: leishmaniasis; HIV; coinfection

1

Enfermeira residente em Infectologia pela Programa de Residência em Enfermagem da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas. E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

Define-se coinfecção leishmania-vírus da imunodeficiência humana (HIV) como a “presença de leishmaniose tegumentar ou visceral e infecção concomitante pelo HIV, independentemente do indivíduo ter sido definido como caso de Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS)”. Esta coinfecção é considerada doença emergente de alta gravidade em várias regiões do mundo. Aumento expressivo do número de casos de coinfecção tem sido observado desde o início da década de 1990 e há projeções de seu crescimento contínuo, devido à superposição geográfica das duas infecções (1). O primeiro caso de leishmaniose associada com HIV foi relatado em 1985, e o número de casos notificados no sul da Europa, posteriormente, aumentou rapidamente. Desde aquela época, 35 países têm relatado casos de coinfecção. Após a introdução da terapia antirretroviral (TARV) para o HIV, o número de casos de coinfecção Leishmania-HIV relatada em países endêmicos da Europa caiu drasticamente. No entanto, por causa do aumento de sobreposição das duas doenças, o problema da coinfecção espalhou-se para os países que são maiores focos do mundo da leishmaniose (2) (3). A pandemia do HIV/ Aids tem modificado a história natural da leishmaniose. Em pessoas infectadas com HIV, a leishmaniose acelera o início da Aids por imunossupressão cumulativa e pelo estímulo da replicação do vírus (4). Ambas as doenças exercem um efeito prejudicial sinergístico sobre a resposta imunitária celular, porque eles têm como alvo células imunológicas semelhantes. No Brasil, em 2008, dos 3.852 casos de leishmaniose visceral (LV), 136 apresentaram coinfecção LV-HIV. Desses, 73,5% (100/136) no gênero masculino e 76,5% (104/136) na faixa etária de 20 a 49 anos. As manifestações clínicas desses pacientes não diferem das observadas nos pacientes com LV sem coinfecção por HIV

(5)

. No tocante à leishmaniose

tegumentar (LT), do total de registros desta endemia em 2008, 1,3% (267/19.992) eram HIV positivo. A prevalência da leishmaniose associada com HIV/Aids tem aumentado no Brasil (6). O diagnóstico da coinfecção com HIV tem implicações na abordagem da leishmaniose em relação ao diagnóstico, à indicação terapêutica e ao monitoramento de efeitos adversos, à resposta terapêutica e à ocorrência de recidivas. Portanto, recomenda-se oferecer a sorologia para HIV para todos os pacientes com LTA, independentemente da idade (7). O estado de Alagoas, em 2009, registrou 77 casos de Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), com um coeficiente de detecção de 2,4 casos por 100.000 habitantes. No que refere à LV, em 2009, registrou 30 casos com uma incidência de 1,0 caso por 100.000

habitantes

(8)

. No que concerne ao HIV-Aids, de 1980 a 2012, foram notificados em Alagoas

4579 casos de AIDS, sendo que somente em 2009 foram notificados 360 casos, com uma taxa de incidência de 11,4/ 100.000 habitantes para o mesmo ano (9). Não obstante, apesar da relevância epidemiológica dos dados supracitados para o estado e, por conseguinte, do potencial existente para a associação das infecções por Leishmania e HIV, não foram observados registros de dados da existência de coinfecção leishmaniose/HIV. Considerando os padrões epidemiológicos das leishmanioses e do HIV, e de sua progressiva sobreposição e grau de letalidade, a pergunta de pesquisa desse estudo é: quais as características epidemiológicas, clínicas e laboratoriais de portadores de coinfecção Leishmania/ HIV em Alagoas, registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)?

OBJETIVOS 

Geral  Realizar série histórica de casos de coinfecção leishmaniose tegumentar/ HIV e leishmaniose visceral/HIV do estado de Alagoas registrados no SINAN, no período de 2002 a 2012.



Específicos  Descrever o perfil clínico e epidemiológico dos indivíduos notificados pelo SINAN, portadores de coinfecção Leishmania-HIV;  Determinar a distribuição geográfica dos casos de coinfecção Leihsmania-HIV em Alagoas;  Definir a letalidade de casos de coinfecção Leishmania-HIV na população notificada como portadora das duas formas clínicas de leishmaniose.

MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo, agregado, de abordagem quantitativa, longitudinal. O local de pesquisa é o estado de Alagoas, cuja capital é Maceió e que, em 2010, contava com uma população de 3.120.494 habitantes. Possui 102 municípios, correspondendo a uma área geográfica de 27.778,506 km², dividida em três regiões: sertão, agreste e leste alagoano (10).

Buscou-se na Secretaria do Estado de Saúde de Alagoas (SESAU-AL) dados concernentes à coinfecção por LT-HIV e LV-HIV no período de 2002 a 2012, através das notificações realizadas ao SINAN no dado período. Após validação do corpo técnico da SESAU-AL acerca dos dados, constatou-se que não haviam notificações de coinfecção Leishmania-HIV no período anterior a 2007, uma vez que as fichas de notificação para leishmanioses não continham a variável ‘coinfecção HIV’ anteriormente a esta data. Não obstante, os dados sobre portadores de infecção Leishmania-HIV foram obtidos a partir da respectiva data. As variáveis estudadas foram: idade, sexo, raça/ cor, escolaridade, município de residência, ocupação, manifestações clínicas, coinfecção HIV, diagnóstico parasitológico, diagnóstico imunológico, tipo de entrada, droga inicial administrada, classificação final, critério de confirmação e evolução do caso. A amostragem foi censitária. Como critérios de inclusão estabeleceu-se pacientes confirmados para LV ou LT soropositivos para HIV e exclusão aqueles que foram registrados como negativo, ignorado ou estavam em branco para coinfecção HIV. Os dados foram tabulados com auxílio do Microsoft Office Excel®, versão 2007. Para tratamento dos dados utilizou-se o software Bioestat®, versão 5.0. Foram utilizados gráficos e tabelas para realizar a análise descritiva dos dados, as variáveis contínuas foram analisadas através da média, mediana e desvio-padrão (DP). Os indicadores estudados foram a proporção de casos confirmados com coinfecção Leishmania-HIV e a taxa de letalidade.

ASPECTOS ÉTICOS

Os dados foram obtidos de fonte secundária, sem a identificação nominal dos pacientes, razão pela qual o estudo não necessita ser submetido a um Comitê de Ética em Pesquisa.

RESULTADOS

De 2007 a 2012 foram notificados 484 casos de Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA), contudo não foram registrado casos de coinfecção LTA/ HIV no mesmo período. Do total de notificações para LTA, 24% tinha a variável ‘coinfecção HIV’como negativa e 76% como ignorados/ em branco. Já para a leishmaniose visceral (LV) foram notificados 212 casos

sendo registrado durante o período 8 casos de coinfecção LV/ HIV. O gráfico 1 demonstra a distribuição dos casos de LV/ HIV. Gráfico 1 – Casos notificados de leishmaniose visceral segundo coinfecção HIV e ano de notificação, 2007 a 2012, Alagoas. 90

80 70 60 Total

50

Ign*/ branco

40

Não

30

Sim

20 10 0 2007

2008

2009

2010

2011

2012

*Ignorado Fonte: Sistema de Informação de Agravos de Notificação / Secretaria Estadual de Saúde de Alagoas (SESAU-AL), 2013

Quanto ao município de notificação, todos os casos de coinfecção LV/ HIV foram

notificados na capital Maceió. Não obstante, os municípios de residência dos portadores da coinfecção estão situados na região agreste e litorânea do estado (figura 1). Dos casos notificados 62,5% (5/8) foram considerados casos autóctones e 37,5% (3/8) foram registrados como ‘indeterminado’. Fonte: SINAN/SESAU-AL, 2013

Os pacientes coinfectados LV-HIV eram predominantemente do sexo masculino, representando 62,5% dos casos. A média de idade foi de 33,3 anos (mediana de 34 anos e DP de 2,3 anos), com as faixas etárias predominantes dos 30 aos 39 anos de idade (50%) e 40 a 49 anos (38%). Todos os pacientes coinfectados foram registrados na cor parda. No tocante à escolaridade, 37,5% dos pacientes possuíam da 1ª a 4ª série do ensino fundamental, seja incompleto ou completo; e 25% dos casos tinham escolaridade da 5ª a 8ª série do ensino fundamental, completos ou incompletos, ou eram analfabetos (Tabela 1). Quanto à ocupação, os coinfectados LV/HIV foram caracterizados como: trabalhador volante da agricultura (01), pescador profissional (02), servente de obras (01), empregado doméstico nos serviços gerais (01), frentista (01) (11). Tabela 1 – Características demográficas de portadores de coinfecção LV-HIV, 2007 a 2012,Alagoas Características demográficos Sexo Masculino Feminino M:F Idade
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