Sermão \"Beati Qui Habitant...\" de Santo Tomás de Aquino (1225-1274)

Share Embed


Descrição do Produto

Beati qui habitant: Bem-aventurados os que habitam... Sermão 1 por ocasião da Festa de Todos os Santos

Santo Tomás de Aquino (1225-1274)

(A partir da tradução francesa de R.P. Phillipe Dupont, abbé de Solesmes. Publicada em: http://docteurangelique.free.fr, 2005)

Trad. de Gustavo Cambraia Franco

“Beatriz e Dante no Paraíso”, de Gustave Doré (1832-1883).

Prólogo (Sentido da Festa de Todos os Santos)

Bem-aventurados os que habitam na tua casa, Senhor! (Sl 84 [83]: 5)

Qualquer um que tenha um julgamento correto não ignora que única é a sociedade de Deus, dos anjos e dos homens, a qual faz referência 1 Coríntios 1, 9: Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados à sociedade de seu filho Jesus Cristo Nosso Senhor; e ainda, em 1 Jo 1, 7: Se andamos na luz, como ele mesmo também está na luz, temos comunhão recíproca. Ela é uma sociedade na medida em que todos participam de um mesmo fim, a beatitude, pois Deus é bem-aventurado, e os anjos e os homens adquirem a beatitude. Mas Deus é bem-aventurado por natureza, os anjos e os homens o são por participação. Assim, (está dito em) 1 Timóteo 6, 15: Aquele que o Deus único e bemaventurado mostrará a seu tempo.

Entre aqueles que estão associados em um mesmo fim, a comunhão de obras deve ser de tal forma, que aqueles que não ainda alcançaram o fim e são conduzidos e, também, nós que caminhamos em direção à beatitude, sejamos conduzidos pelas palavras e pelos exemplos; e aqueles que já alcançaram o objetivo ajudem os outros a alcançá-lo.

Celebramos, portanto, a festa dos santos, que gozam já da beatitude, para sermos sustentados por seus sufrágios, edificados por seus exemplos, estimulados por suas recompensas. Mas uma vez que não podemos celebrar a festa de nenhum dos santos cujo nome nos é desconhecido, e porque cometemos muitas negligências nas solenidades que celebramos, a Igreja sabiamente previu celebrar todos os santos em uma única festa comum. Assim, o que não é manifestado especialmente ou que é negligenciado nas

festas particulares é completado dessa maneira. Eis porque festejamos neste momento a cidade dos bem-aventurados, a beatitude.

Primeira parte [O que é a beatitude?]

Deve-se saber isso: embora o desejo de todo homem tende à beatitude, alguns possuem opiniões diversas a esse respeito. Alguns se enganam sobre o lugar da beatitude, outros sobre sua duração, outros sobre sua ocupação ou operação.

Em primeiro lugar, enganam-se aqueles que situam a beatitude neste mundo, bem como nas coisas corporais, nas virtudes ou nas ciências. Isaías 3, 12 os contradiz: Povo meu, aqueles que te dirigem (que dizem bem-aventurado), desencaminham-te, destroem o caminho que deves seguir. Isto é justo, porque tal opinião vai, de início, contra a perfeição da beatitude, pois, segundo o Filósofo, a beatitude é o bem perfeito porque ela é o fim último. Portanto, é necessário que o desejo repouse, o que não seria o caso se restasse, ainda, alguma coisa a desejar após tê-lo obtido. Ora, nesta vida, a perfeição do bem não pode existir nas coisas do mundo, pois, ao se obtê-las, deseja-se ainda a seguir; nem nas virtudes e nem nas ciências, uma vez que todo homem deve sempre progredir nas virtudes e nas ciências, como diz o Salmo 139 (138), 16: Os teus olhos me viram quando eu era imperfeito, etc, e 1 Coríntios 13, 9: Nós conhecemos somente em parte.

Em segundo lugar, (esta opinião) vai contra a pureza da beatitude: se, com efeito, ela é o bem supremo, ela não deve estar misturada com nenhum mal, como o branco perfeito deve ser sem mistura com o negro. Não se pode, portanto, chamar bem-aventurado aquele que sofre alguma miséria, pois não

se pode ser ao mesmo tempo miserável e feliz. E não se encontra nenhuma pessoa nessa vida que não sofra alguma miséria ou aborrecimento em matéria de bens, de amigos ou de sua própria pessoa, os quais impedem seus atos, suas virtudes e seus conhecimentos. Jó 14, 1 fala sobre o homem que está cheio de uma multidão de misérias.

Em terceiro lugar, (esta opinião) vai contra a estabilidade da beatitude, pois a beatitude não satisfaz o desejo se ela não for estável. Com efeito, quanto mais se ama um bem possuído, mais aflito fica-se por medo de perdê-lo. Assim, segundo o Filósofo, não se pode crer que seja feliz o camaleão que muda de cor. Mas é necessário que a beatitude seja imutável, o que não pode existir nessa vida, pois as coisas exteriores e o corpo humano estão submetidos à diversas circunstâncias, de maneira que podemos dizer, por experiência, que nessa vida não há estabilidade. Jó 14, 2: Não permanece jamais num mesmo estado, e Provébios 14, 13: A alegria pode terminar em amargura. Se perguntares ao salmista onde se encontra a verdadeira beatitude, ele responde: Bem-aventurados os que habitam na tua casa, Senhor!

Em relação à duração da beatitude, alguns se enganam dizendo que as almas separadas de seus corpos obtêm a beatitude e, quando após muitos anos elas retornam aos seus corpos e são submetidas às misérias da vida presente, elas cessam de ser bem-aventuradas. Este foi o erro de Platão e de seus seguidores, no qual caiu Orígenes. Àqueles pode ser aplicado o que diz o livro da Sabedoria 2, 22: Eles irão para uma pena eterna, mas os justos para a vida eterna.

Esta opinião é enganadora por três razões: primeiro, porque ela contradiz o desejo natural. Por natureza, com efeito, o desejo de toda coisa é o de

conservar-se no ser e em sua perfeição. Mas deve-se observar que as coisas sem razão não tendem ao universal e que seu desejo não tende à que seja conservada sua perfeição; mas a natureza racional, conhecendo o universal, tende naturalmente a conservar sua perfeição sempre. Assim, seu desejo não será satisfeito e sua beatitude não será verdadeira se a alma não gozar de uma beatitude perpétua, pois as carências do devir ou a presciência do futuro serão ignoradas. O Apóstolo fala desse desejo natural em 2 Coríntios 5, 2: E por isso, também suspiramos no nosso estado atual, por ser revestidos da nossa habitação celeste, por cima da outra.

E ainda, (esta opinião) é contrária à perfeição da graça. Com efeito, todas as coisas, naturalmente preenchidas por sua perfeição, perseveram de maneira imutável. Este é o motivo pelo qual a matéria primeira não permanece jamais sobre a forma do ar, pois uma tal forma não pode preencher toda a capacidade da matéria. O intelecto, por sua vez, repousa de maneira imutável no assentimento dos primeiros princípios, pois por estes ele é inteiramente preenchido por aquilo que pode ser demonstrado, e assim consente de maneira imutável. Ora, a alma bem-aventurada está totalmente preenchida pela beatitude; de outra forma, não se trataria de um bem perfeito. O Salmo 16 (15), 11 diz: Tua face me enche de alegria, etc. E é por isso que ele prossegue: Delícias eternas a tua direita até o fim. E uma vez que a perpetuidade deriva de uma tal plenitude de graça, o Apocalipse (3, 12) diz: Ao que vencer, fá-lo-ei uma coluna no templo do meu Deus, e não sairá jamais dele.

Em terceiro lugar, (esta opinião) opõe-se à equidade da divina justiça, pois o homem se une a Deus pela caridade com o propósito de jamais se separar. Romanos 8, 35: Quem nos separará do amor de Cristo? (Deus) não renderia plenamente justiça à caridade, se (o homem) se separasse por um momento

da (sua) alegria (fruitio). Por isso, João 6, 37 (diz): Aquele que vem a mim, não o lançarei fora. E se se interroga o salmista, ele responde: Eles te louvarão pelos séculos dos séculos (Salmo 84 [83], 5).

Sobre a ocupação dos bem-aventurados e de sua operação, os judeus e os muçulmanos se enganam quando dizem que os homens são bem-aventurados quando entregam-se às festas, às bebidas e ao comércio com as mulheres. Isto é reprovado por Mateus 22, 30: Na ressurreição, nem os homens terão mulheres nem as mulheres terão maridos, etc. Esta opinião foi justamente rejeitada. Com efeito, ela é contrária, em primeiro lugar, ao privilégio do homem; pois, se a beatitude consiste no uso do alimento ou nas faculdades sexuais que se encontram também entre os outros animais, a beatitude deveria existir não somente para o homem, mas haveria beatitude para os animais, enquanto que é um privilégio do homem ser, somente ele, capaz da beatitude entre todas as criaturas inferiores, como diz o Salmo 36 (35), 7s: Tu, Senhor, salvas os homens e os animais (isto é, para a saúde do corpo), mas Os filhos dos homens refugiam-se à sombra das tuas asas.

Em segundo lugar, ela vai contra a ordem da natureza, pois a natureza superior não pode se tornar bem-aventurada por causa de uma natureza inferior. Ora, se a beatitude do homem consiste no fato de comer e que o homem se torna bem-aventurado pelo fato de comer, então o homem se tornaria bem-aventurado graças ao alimento que ele comeu. Este (o alimento) seria, então, mais digno do que o homem; mas o homem se situa acima de todas as coisas inferiores. Salmo 8, 7: Sujeitastes todas as coisas debaixo de seus pés.

Em terceiro lugar, ela se opõe ao zelo da virtude. Com efeito, a virtude consiste para o homem em separar-se dos prazeres. Todas as virtudes que se

sobrepõem aos prazeres são nomeadas a partir da oposição a eles, como a abstinência, a temperança, e outras coisas do mesmo gênero. Mas é o contrário para as virtudes que dizem respeito às coisas que exigem maior esforço e são difíceis, como a fortaleza, a magnanimidade, e as coisas desse gênero. Se a beatitude do homem consistisse nos prazeres da carne, a virtude, que é o caminho da beatitude, não se afastaria dos prazeres, como é o caso daqueles de quem fala Filipenses 3, 19: O seu Deus é o ventre! Se tu interrogas o salmista sobre a ocupação e operação dos bem-aventurados, ele te responde: Eles te louvam sem cessar (Salmo 84 [83], 5).

Segunda parte (Como se chega à beatitude?)

Resta ainda ver como chegar a esta beatitude.

Deve-se saber que existem três beatitudes. A primeira é mundana: ela consiste na abundância e no gozo dos bens deste mundo. Salmo 144 (143), 15: Ditoso o povo que goza tais coisas. Esta beatitude consiste, primeiramente, nas honras, nas riquezas, nos prazeres, como se diz em 1 João 2, 16: Tudo o que há no mundo, concupiscência da carne, concupiscência dos olhos e o orgulho da riqueza. Do termo honra se compreende a dignidade e o renome, de maneira que estas três coisas estão incluídas nas cinco em que, segundo Boécio, consiste a felicidade terrestre. Os ambiciosos se esforçam para alcançar a dignidade pelo orgulho e pelo dinheiro, como está escrito em Eclesiastes 10, 19: O dinheiro serve para tudo, e em Provérbios 19, 6: Muitos honram o homem rico. Quanto ao Senhor, ele ensina a alcançar a dignidade pelo caminho contrário, ou seja, pela pobreza e humildade, pois assim está escrito em Lucas 1, 52: Ele derrubou os poderosos de seus tronos, e em Mateus 5, 3: Bem-aventurados os pobres de espírito, etc. O que está

em questão é o “reino”, pois aquele é precioso entre as honrarias. Esta beatitude convém principalmente ao Cristo, pois, enquanto os antigos pais gozavam das riquezas, ele foi o primeiro a anunciar e a ensinar esta beatitude. 2 Cor 8, 9: Vós conheceis a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mateus 19, 21: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que tem, etc.

Os homens deste mundo frequentemente obtêm a riqueza por meio de querelas, de combates, ou ainda, de disputas em processos. Tiago 4, 2 (diz): Vós litigais, fazeis guerra. Mas Deus ensina um caminho contrário, o da doçura que não se irrita e nem irrita. E isto não deve surpreender, pois está dito em Provérbios 3, 34: O Reino será dado aos humildes. Eis porque (o Senhor) disse em Mateus 5, 4: Bem-aventurados os humildes. Esta beatitude convém aos mártires, que não se irritam contra os perseguidores, mas antes rezam por eles. 1 Cor 4, 12: Somos amaldiçoados, e bendizemos. Assim, é sobre eles que está escrito: Não se ouve murmúrio nem reclamação na sua boca (Hino do comum de vários mártires).

Os homens se esforçam para alcançar o prazer de várias formas, como diz Jó 21, 22: Cantam ao som do tímpano e da lira e alegram-se ao som da harpa. Mas o Senhor ensina um caminho oposto, isto é, o das lágrimas: Bemaventurado os que choram, etc. (Mateus 5, 5). Isso está dito no livro de Tobias 2, 16: Tudo se converteu em lamentação e em dor, etc. Esta beatitude convém aos confessores, que viveram nessa vida entre muitos gemidos e lágrimas, segundo a passagem de Lamentações 1, 22: Numerosos são nossos gemidos.

A segunda beatitude é política: ela consiste em governar-se bem em suas ações graças à virtude da prudência, e ela é melhor na medida em que não governa apenas a si mesmo, mas também a cidade e o reino. Eis porque esta

beatitude convém sobretudo aos reis e príncipes. Está dito em Jó 29, 11: O ouvido que me escuta me faz bem-aventurado. Mas é necessário saber a diferença entre um rei e um tirano, pois o rei busca por seu governo o bem de seu povo, e seu propósito não se afasta de sua sabedoria. Provérbios 8, 15 diz: É por mim que governam os reis. O tirano, ao contrário, intenta afastase da ordem da sabedoria divina, pois ele busca antes realizar seus desejos a fim de fazer o que quer, e tem a intenção de consegui-lo por sua rapacidade, despojando injustamente os outros. Assim está escrito em Provérbios 28, 15: Como um leão que ruge e um urso faminto, assim é o príncipe ímpio sobre um povo pobre. Mas o Senhor ensina, ao contrário, a justiça quando ele diz: Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça (Mateus 5, 6). Assim também está dito no livro dos Provérbios 13, 25: O justo come e fica saciado. Esta beatitude convém aos antigos pais que tiveram grande desejo da perfeita justiça de Cristo. Isaías 64, 1: Oxalá romperás o céu e descerás de lá. O tirano, ainda, busca a impunidade pelos males que pratica, e se esforça por obtê-la pela crueldade, de maneira que seja tão temido que nenhuma pessoa se oponha a ele. Diz acerca dele o Salmo 79 (78), 2: Eles entregaram os cadáveres de seus servidores como pasto para as aves do céu. Mas o Senhor ensina o caminho inverso, o da misericórdia: Bem-aventurados os misericordiosos, etc. (Mateus 5, 7). Mateus 6, 15: Se vós não perdoardes aos homens seus pecados, etc. Esta beatitude convém aos anjos, que são misericordiosos para conosco impassivelmente e nos socorrem em nossas misérias. Isaías 33, 7: Os anjos de paz chorarão amargamente.

A terceira beatitude é contemplativa: ela pertence àqueles que desejam conhecer a verdade, sobretudo a verdade divina. Eclesiástico 14, 22: Bemaventurado o homem que permanece constante na sabedoria. Os filósofos se esforçaram por obter esta beatitude de duas formas, as quais possuem dois objetivos, ou seja, conhecer a verdade e adquirir a autoridade. Esforçaram-

se para conhecer a verdade pela prática do estudo. Mas Deus ensina um caminho mais rápido, o da pureza do coração: Bem-aventurados os puros de coração (Mateus 5, 8), e Sabedoria 1, 4: Na alma maligna não entrará a sabedoria. Esta beatitude convém sobretudo às virgens que guardaram intactas a pureza de seu espírito e de seu corpo.

Mas os filósofos quiseram adquirir a autoridade por meio de disputas e controvérsias. No entanto, como diz 1 Cor 11, 16: Se alguém quiser contestar, não temos este costume. Por isso, ensina o Senhor que se alcança a autoridade divina por meio da paz, de maneira que um homem seja considerado como autoridade pelos outros, segundo o que está dito no Êxodo 7, 1: Eu te constituo deus (chefe) do Faraó. Por isso também está dito: Bemaventurados os pacíficos (Mateus 5, 9). Esta beatitude convém sobretudo aos Apóstolos, dos quais está dito em 2 Cor 5, 19: Encarregou-nos a nós da palavra de reconciliação. Quanto aquilo que está dito: Bem-aventurados os que sofrem perseguição, etc. (Mateus 5, 10), não se trata de uma outra beatitude, mas ela reforça as precedentes, pois não se pode estar firme na pobreza, na humildade e nas demais coisas, se na perseguição a pessoa se dispersa. É por isso que todas as recompensas precedentes são devidas a esta beatitude, e se retorna ao começo: Pois deles é o Reino dos Céus (Mateus 5, 3; 5, 10). Deve-se compreender da mesma maneira: pois eles possuirão a terra (Mateus 5, 4), e da mesma forma para o resto.

A beatitude dos santos tem alguma coisa de todas (as beatitudes) anteriores, segundo o que possuem delas aquilo que nelas se encontra de louvável. Da beatitude mundana, eles possuem a rica habitação: Bem-aventurados os que habitam na tua casa (Salmo 84 [83], 5). Esta é a casa da glória de que fala o Salmo 27 (26), 4: Eu peço uma coisa ao Senhor, esta solicito: que eu habite na casa do Senhor todos os dias da minha vida. Nesta casa, obtém-se tudo o

que se deseja. Salmo 65 (64), 5: Seremos saciados de bens na tua casa. Apocalipse 5, 10: E fizestes deles, para o nosso Deus, um reino e sacerdotes, e reinam sobre a terra. Lá se encontram as riquezas que trazem saciedade. Salmo 26 (25), 8: A glória e as riquezas estão na tua casa. Lá se encontram as delícias que renovam inteiramente o homem. Salmo 36 (35), 9: Saciamse com abundância da tua casa. Da beatitude política os santos possuem a perpetuidade, pois os dirigentes da cidade devem se esforçam para preservar sempre o bem da cidade, como está dito: Pelos séculos dos séculos. Esta perpetuidade provém de três realidades: primeiro, da partilha dos bens: saciar-me-ei da tua glória. Depois, da rejeição do desgosto, pois ainda que saciado, ter-se-á sempre fome. Aqueles que me comem terão ainda fome (Eclesiastico 24, 29). Enfim, da imunidade de toda sorte de mal e de misérias. Apocalipse 7, 16: Eles jamais sofrerão de fome ou de sede. Da beatitude contemplativa, os santos possuem uma certa familiaridade com as coisas de Deus, pois a beatitude contemplativa consiste sobretudo na contemplação. Por esse motivo está dito: Eles te louvarão (Salmo 84 [83], 5). Com efeito, eles verão a Deus sem intermediário e claramente: Nós vemos agora como em um espelho, mas depois veremos claramente (1 Cor 13, 12), e eles o amarão sem cessar como filhos, pois, segundo os gregos, “filho” deriva do amor.1 1 João 3, 1: O amor de Deus nos foi dado para que sejamos chamados filhos de Deus, e nós o somos, e como bons filhos, eles o louvam. Isaías 35, 10: Eles terão gozo e alegria, etc. O salmo não fala senão desse louvor, pelo qual todo o resto se compreende, pois aquele que é louvado é conhecido e amado. É por isso que disse Agostinho (Cidade de Deus, XX): Esta função, este amor, este ato (de louvor) é por nós todos como a vida da eternidade.

Há aqui, sem dúvida, um jogo de palavras entre filius (filho em latin) e φιλία (filia, amor em grego). 1

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.