SETE CONTRA TEBAS: PEQUENO GUIA DE LEITURA

June 1, 2017 | Autor: Christian Werner | Categoria: Classics
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SETE CONTRA TEBAS: PEQUENO GUIA DE LEITURA

Tradução

Os dois principais tradutores de tragédia grega no Brasil hoje são Jaa Torrano, que já traduziu todo o corpus esquiliano e euripidiano (tragédias completas) e tem como próximo projeto traduzir todo Sófocles, e Trajano Vieira, tradutor de vários dramas dos quatro dramaturgos gregos e que segue a proposta de tradução defendida pelos irmãos Campos.
Ésquilo é um autor extremamente difícil de ser traduzido e nenhum dos dois tradutores acima, especialmente Torrano, tem a intenção de facilitar as coisas para o leitor. No caso da tradução de Ésquilo, Torrano é econômico na pontuação e prolífico na criação de neologismos, no que emula o próprio Ésquilo, cujo estilo tornou-o um autor difícil para os gregos das gerações posteriores mas nem por isso menos admirado, como veremos ao ler Rãs. Muitas vezes o sentido da passagem para o leitor da tradução só fica claro ao ser verificado o texto grego, o que, eventualmente, se deve à ambiguidade do próprio texto grego, muitas vezes testemunhada pela história da transmissão textual. Dito de outra forma: talvez tenhamos perdido o sentido preciso da passagem, talvez Ésquilo fosse ambíguo de propósito, talvez o "sentido" não fosse a razão primeira de uma certa dicção.
Tendo em vista que a maioria dos alunos pouco entende o original grego, quando a ansiedade em preencher lacunas de sentido for muito grande em relação à tradução ou mesmo para verificar se entendeu bem certa passagem, sugiro conferir outras traduções, como a de Mota, que tem como mérito principal ser um texto para ser encenado. Também há ótimas traduções recentes em inglês (Sommerstein; Collard).

Algumas informações mitológicas

Cadmeu é povo autóctone de Tebas. O nome soa arcano para um espectador do século V, quando a denominação 'tebano' é comum. 'Cadmeu' significa descendente de seu fundador mítico, Cadmo. Esse matou uma serpente consagrada a Ares no território do que viria a ser Tebas. De seus dentes, ao serem semeados por Cadmo, nasceram, da terra, soldados armados, que lutaram entre si até sobrarem apenas 5, os ascendentes míticos das principais famílias tebanas. Cadmo casou com Harmonia, filha de Ares e Afrodite (também chamada de Cípris) , após apaziguar seu deus antagonista, Ares. Apolo é referido como Febo e Lupino Rei.
Ares é um deus importante na economia de Sete por conta de sua ligação com a história mítica de Tebas e porque no centro do poema está uma ação de/em Ares, uma batalha na qual a maioria dos heróis de um lado (os 'sete') se comporta de forma desmedidamente violenta – ou seja, age como Ares – ao passo que os defensores tendem a se comportar de forma mais prudente, emulando, a princípio, outra deusa guerreira importante no drama (embora menos), Atena e o próprio rei da cidade, Etéocles.
Alguns elementos da geografia de Tebas: além das setes portas das muralhas onde serão postados os heróis defensores da cidade, menciona-se dois rios famosos, Dirce, pequeno rio e fonte, que identifica Tebas, e Ismeno, rio de Tebas que deságua no Dirce. Tebas, historicamente, foi uma pólis inimiga de Atenas nos séculos VI e V.
Sobretudo após a morte de Etéocles, o Hades passa a ocupar a imaginação do coro. Ele é referido, por exemplo, por meio do Aqueronte, um rio no Hades, e o Cocito (691), outro rio no Hades.
Erínia (Erínis, Fúria) é uma divindade ctônica., primitiva, associada à terra e ao sangue. De fato, a Erínia é a personificação (69) da maldição ou Imprecação (69), que é como Torrano traduz Ara, que, em Sete, não se distingue da Erínia de Édipo. A Erínia é associada a polução, loucura e vingança. No imaginário mítico, pode estar ligada a juramento e briga (eris). Muito comum serem associadas à destruição de famílias pois são invocadas quando um familiar é morto, passando a exigir sangue por sangue. Em Homero, costumam corporificar uma maldição de um genitor. Em Sete, são importantes por conta dos crimes cometidos na família dos Labdácidas, da qual fazem parte Laio, Édipo e os irmão Etéocles e Polinices.

Sete contra Tebas

Sete contra Tebas foi apresentada em 467 e recebeu o 1º prêmio. Ésquilo já era um artista na sua maturidade. O drama faz parte da seguinte tetralogia: Laio – Édipo – Sete contra Tebas – Esfinge, sendo Esfinge, portanto, o drama satírico e Sete o drama que, provavelmente, dava algum fecho para os problemas levantados nos dramas anteriores.
Sobre o drama satírico: sabemos que Ésquilo compôs dramas satíricos muito elogiados, mas nenhum nos chegou na íntegra. Temos uma quantidade razoável de fragmentos, porém. Sobre o drama satírico será a última aula do semestre apenas.
Sobre a estrutura da trilogia, os três primeiros dramas de uma tetralogia, todos os três tragédias. Sabemos que Ésquilo aperfeiçoou a estrutura, usando para compor dramas costurados entre si, uma prática que já Sófocles abandonou. Chegou-nos apenas uma trilogia, a Oresteia, da qual fazem parte Agamêmnon, Coéforas e Eumênides. Essa trilogia conta o retorno de Agamêmnon a Argos, sua morte pela esposa Clitemnestra em conluio com o amante Egisto (Agamêmnon), o retorno a Argos do filho pós-adolescente de Agamêmnon, Orestes, que, seguindo ordens de Apolo, mata a mãe e o amante após se identificar para a irmã, Electra (Coéforas) e a perseguição de Orestes pelas Erínias da mãe até ser julgado em Atenas e absolvido graças à atuação de Atena (Eumênides). Toda a trilogia é construída como uma sucessão de crimes na família dos Atridas que já começou bem antes de Agamêmnon e só termina por conta da intervenção de Atena: repare que Orestes comete um crime a mando de um deus, Apolo, mas será punido por esse mesmo crime pelas deusas que vingam todo e qualquer crime cometido no interior de uma família. Não sabemos até que ponto essa forma de compor uma trilogia, envolvendo ao mesmo tempo elementos estéticos, morais, teológicos, políticos e narrativos, deu forma a outras trilogias de Ésquilo. No que diz respeito a Sete, não sabemos até que ponto esse drama apresenta um ponto final para a sucessão de crimes que perpassa a família dos Labdácidas.
Eventos do restante da tetralogia que antecedem Sete têm sido reconstruídos, de maneira bastante incerta, sobretudo a partir do 2º estásimo de Sete: Laio recebeu um oráculo que, para Tebas não ser destruída no futuro, ele deveria morrer sem herdeiro. Ele tenta remediar sua transgressão expondo Édipo. Esse foi salvo e cresceu sem saber de sua origem. Laio fala de uma jornada da personagem título, que morre num cruzamento, sem saber que o assassino é seu filho. Fragmento fala de um assassino (Édipo?) que experimenta e cospe sangue, provavelmente tentando escapar de uma polução. Édipo chega em Tebas e salva a cidade da Esfinge (que animal pode ter 2, 3 ou 4 pés?). Torna-se rei da cidade e desposa Jocasta.
Édipo, no drama de mesmo nome, é um ancião e amaldiçoa os filhos por esses não cuidarem bem dele. Em algum momento, descobre o incesto. Os irmãos brigam por conta da sucessão de Édipo e do controle de Tebas: Polinices (o irmão mais velho?) é exilado por Etéocles. No início de Sete, Polinices encontra-se nos portões da cidade com um exército do qual participam os argivos (de Argos, cidade comandada por Adrasto, que deu asilo a Polinices).
Esfinge: o drama satírico. Tentativa dos sátiros de resolverem o enigma da Esfinge, movidos por cobiça.

Estrutura do drama e comentários acerca de algumas passagens

1-77] prólogo
Na orquestra, grupo de cidadãos, velhos e jovens (figurantes). Estátuas de deuses são posicionados em uma elevação na orquestra (~Acrópole, 240).
Exortação de Etéocles aos cidadãos para defenderem Tebas. Batedor (~espião) retorna e menciona 7 grandes líderes. Prece de Etéocles.

1] Etéocles se apresenta como bom líder. Observe a metáfora da nau e de seu piloto, que introduz uma das principais constelações metafóricas do drama. A nau, a cidade, cujo rei, Etéocles, é seu piloto, enfrenta tempestade, etc.
4-8] quando a cidade está bem, a causa é um deus; mal, Etéocles – que Zeus proteja Tebas.
Etéocles confiante que os homens defenderão a cidade, que sempre teve sucesso na guerra.
16-19] ligação entre a terra e seus habitantes é um topos em uma exortação à defesa em uma cidade ameaçada. Referência a crianças e mãe, porém, é perturbadora na boca de um fruto de incesto; talvez por isso mesmo Etéocles insista na origem comum de todos os cadmeus (Torrance 28). O tema que liga 'mãe' e 'solo' retornará.
31-5] saída dos cidadãos.
39] entra o batedor, que narra o que viu.
43-8] Sacrifício + juramento dos líderes inimigos. O juramento de pilhar a cidade ou morrer indica uma atmosfera de violência excessiva, já que apenas Polinices tem motivos para se vingar da cidade (Torrance 30).
49-] Lamúria sem lágrimas dos 7. Sorteio das portas de Tebas, cada uma para um dos 7. O ataque é iminente.
55-56] os argivos tiram a sorte para saber em que portão ficar. Tema do sorteio vincula-se à origem da briga entre Polinices e Etéocles (Swift 2015).
62-4] metáfora da nau + tempestade. Confiança na capacidade de Etéocles.
68] saída do batedor.
69] Prece de Etéocles: Zeus, Terra e Deuses tutelares + Ara/Erínia do pai.
75] A derrota é representada como escravidão, fim da liberdade.
77] Etéocles sai (providências para a batalha).

78-180] párodo
Coro de moças tebanas. Expressam temor e rezam aos deuses, cujas estátuas abraçam.
Metro: versos dócmios (bllbl) [b: breve; l: longa. Esse metro parece ter sido uma das poucas contribuições métrico-musicais originais de Atenas ao desenvolvimento inicial da tragédia]. Metro associado a uma tensão exacerbada.

104-5] Ares como deus de Tebas. É o principal deus neste drama.
Coro retoma o topos da escravidão.
Amplifica a representação do ataque cuja descrição foi iniciada pelo batedor.
116] Ajuda de Zeus.
127] Atena: deusa a quem se solicita auxílio de forma mais enfática? Relação intertextual com o canto VI da Ilíada? Compare rhusipolis a erupiptolis, Il. VI. 305: aquele, hápax trágico, este em Homero só em Il. VI (2x para Atena nos hinos homéricos).
131] Posêidon.
Na sequência: Ares, Afrodite (Harmonia, esposa de Cadmo, é filha de Afrodite), Apolo, Ártemis, Hera.
151-80] dois pares estróficos.
157] Apolo.
174-81] do ut des: deuses devem proteger Tebas por conta dos sacrifícios que receberam.

181-286] 1º episódio
Crítica de Etéocles ao coro, que concorda em fazer uma prece mais auspiciosa.
187] Etéocles critica o gênero feminino, ruim quando domina e quando teme. Seu temor leva os cidadãos à covardia.
196] Proclama seu poder (arkhê).
200] O lugar da mulher é dentro de casa.

203-44: coro canta em três pares estróficos em dócmios.
203] 'Caro filho de Édipo': primeira menção da filiação de Etéocles no drama. A identidade de Etéocles não é apenas a de rei de Tebas; sua linhagem maldita é um problema (para a cidade).
208-10] Etéocles insiste na sua identidade de líder (metáfora da nau): não há como o capitão deixar a popa (essa é a posição que Etéocles ocupa desde o início (2).
225] Confiança de Etéocles no logos ('razão'), ao passo que as mulheres insistem no poder dos deuses.
237-] Etéocles pede comedimento na invocação aos deuses.
245-63] esticomitia (coro – Etéocles).
269] Pede um alarido benévolo sagrado (peã).
279] Preces sem lágrimas.
[saída de Etéocles]

287-368] 1º estásimo
Nova demonstração de medo do coro em relação à destruição da cidade.
287-, estrofe 1]
304-, antístrofe 1]
321-, estrofe 2] imagina a destruição da cidade.
333-, antístrofe 2] o miasma que é Ares para a cidade.
345-, estrofe 3] saque.
357, antístrofe 3] consequências do saque (colheita destruída; cativas).

369-719] 2º episódio

A cena dos escudos (ou Redepaare). Sete pares de discursos: o batedor descreve os 7 inimigos e seus escudos; Etéocles responde interpretando a imagem dos escudos e envia um guerreiro contra cada um dos 7. Pequeno comentário do coro a cada par; no sétimo, tenta dissuadir Etéocles de enfrentar Polinices.
Tendo em vista os tempos verbais, Etéocles já definiu os combatentes nos portões 2, 3 e 4 (Torrance 17 – seguindo Wilamowitz e Sommerstein).

[retorno de Etéocles e do batedor]
369-74] coro a Etéocles como 'filho de Édipo': ao não acentuar sua função de rei, indica que não confia na sua capacidade de salvar a cidade (Torrance 29).
377-] Portas (Portão) Prétides
Tideu: víbora; cavalo.
387-] escudo: firmamento; lua no meio
397-] Etéocles: noite é a morte na qual deve cair Tideu.
Filho de Ástaco: aiskhunê; odeia palavras sobranceiras.
412-] menção dos Spartoi, os guerreiros que nasceram da serpente de Ares – 5 foram poupados pelo próprio deus. Ares decide de forma arbitrária o resultado de uma batalha.

422-] Portas Electras.
Capaneu: gigante; pilhará Tebas mesmo Zeus não querendo.
432-] escudo: homem nu porta-fogo ('queimarei a cidade').
437-] Etéocles: C. desonra os deuses. Será atingido por raio (dikê).
Polífon.

457-] Portas Novas.
458-59: terceira vez que o batedor menciona o sorteio, aqui, de forma enfática. Swift 2015 vincula isso à força do destino que coloca Polinices no 7º : ligação com a inevitabilidade do encontro entre os dois irmãos.
Etéoclo: os cavalos de seu carro estão ávidos.
465-] escudo: hoplita sobe escada de torre que quer queimar.
472-] Etéocles:
Megareu: filho de Creonte.
481-] critíca a arrogância do invasor; será punido por Zeus Nemetôr.

486-] Portas de Atena Onca.
Hipomédon: comporta-se com um possuído (~bacante) por Ares.
489-] escudo: Tífon atacando.
501-] Etéocles: no escudo de Hipérbio, Zeus, que nunca foi derrotado.
Hipérbio, filho de Énops.
521-] Amplifica o que disse Etéocles: Tífon é odiado pelos deuses.

526-] Portas de Bóreas (Norte): perto da tumba de Anfíon.
Partenopeu: meteco em Argos. Muito jovem.
538-] escudo: esfinge sobre um cadmeu.
550-] Etéocles: quem leva o monstro odiado será derrotado.
Actor, irmão do anterior.
563-] coro confia que os deuses vão destruir os anosioi (ímpios).

568-] Portas Homoloides.
Adivinho Anfiarau. Criticou Tideu por ser sanguinário e Polinices, a esse por atacar sua própria cidade e sua família.
Escudo: sem signo; quer ser, não parecer bravo. Ao contrário dos outros, venera os deuses.
597-] Etéocles: não importa, está associado a vis. Se Zeus quiser, morrerá.
602-] Imagem naval e política: um só homem justo, ao se juntar a um grupo (genos) de vis, também perece com eles quando agem deuses / justiça (cf. Odisseia). 617-] Como é um bom adivinho, já sabe se vai perecer. (Na verdade, os dois genê vão perecer, os Labdácidas e os 'sete'.)
Lástenes: ancião em espírito, embora jovem.

631-]
Polinices: quer entoar o canto báquico da conquista. Ou morrer ou banir o irmão com o exílio, que foi o que esse fez com ele.
642-] Escudo: Dikê conduz um jovem guerreiro. Polinices também parece colocar a pólis acima de sua linhagem.
651-52] batedor parte indicando ser Etéocles que deve decidir como melhor ser o capitão da pólis.
653-] Etéocles pela primeira se refere como membro da linhagem maldita de Édipo; percebe que vai se cumprir a praga, Arai, paterna. Nem aqui nem na sequência Etéocles hesita em enfrentar o irmão.
658-] Começando pelo nome, Dikê nunca se aproximou de Polinices. Muito menos agora que maltrata a terra paterna.
Pede que suas armas sejam trazidas.
Sobretudo a partir desta passagem, é explorada uma oposição entre a linhagem de Édipo e sua casa e a cidade de Tebas: aquela é prejudicial para esta. Etéocles deixa de ser, em primeiro lugar, o bom governante de Tebas. A clivagem entre Tebas e sua dinastia real – os dois não poderiam coexistir – não foi aceita por Laio (748-49) e punição veio na sequência de três gerações.

677-] coro em trímetros; tenta demovê-lo. Irmãos combatendo seria miasma.
681] 'morte recíproca': que não há outra alternativa a não ser a morte dos dois irmãos, isso é enfatizado aqui e na sequência pelo uso de termos formados com auto-.
683-5] Etéocles não quer vergonha.
686-711] coro e Etéocles. Coro: dois pares de estrofes em dócmios.
Coro percebe atê em Etéocles, uma maligna paixão (kakos erôs). Ódio de Apolo pela linhagem de Laio.
690-1] a imagem indica que Etéocles escolhe defender Tebas e rejeitar sua linhagem; admitindo ser capitão também da nau da pólis, escolhe a nau de sua linhagem e a levará à destruição (Torrance 33).
692-] Desejo (himeros) move Etéocles para o coro, que indica haver outra forma de Etéocles resolver o problema (enviar outro cadmeu).
695-] Etéocles menciona a Ara de Édipo: as palavras delas mostram que a morte de Etéocles é inevitável.
712-] curta esticomitia: coro pede que Etéocles ouça as mulheres. Aproxima-se de Il. VI (Andrômaca a Heitor) ao dizer claramente para Etéocles que não vá à 7ª porta.
717] Etéocles define-se como hoplita.
719] Etéocles considera matar o próprio irmão como um male dado por deus – desses não se deve fugir.

720-91] 2º estásimo [sigo de perto Gagné 2013, 352-]
Canto sobre as três gerações de Labdácidas e a praga de Édipo contra os filhos.
Gagné 353-] divide o estásimo em três movimentos. Começa pelo fim da história da família, vai para o início (Laio) e volta para o fim. 355] A ênfase do canto são as consequências da falta ancestral para a cidade inteira: só a expulsão da família inteira garantirá a sobrevivência. A maldição está chegando ao fim; a pergunta é se destruirá a cidade inteira. 356] O desejo de Laio de ter um herdeiro levou à autodestruição dos herdeiros/herança na dupla morte final. 361] "The second stasimon serves as the armature that brings together all three moments [sc. da trilogia] in one vision".

720, 1ª estr.] Erínia; eris.
727, 1ª antis., 727-30] o estrangeiro cita é o ferro, metal da espada que vai matar os irmãos, o resultado da divisão. Gagné 356] Destruída a herança por um estrangeiro, que lhes condena a ter como seu quinhão somente o pedaço de terra que lhes servirá de túmulo.
734, 2ª estr.] quem fará o funeral dos dois? Novas dores se unem a velhas. A casa se autodestrói.

742, 2ª antis.] Foi cumprido o oráculo recebido por Laio, que o transgrediu, perdendo a chance de 'salvar a cidade' (última expressão da stanza), uma expressão que ecoa forte a ideologia democrática ateniense de colocar-se a pólis acima de tudo.
Retorno no tempo marcado pela primeira palavra, palaigenê ('antiga originária'), que adjetiva 'transgressão', por sua vez, também adjetivada por 'logo punida' (no tempo de 3 gerações!): Gagné 352] a espera da punição é manifestação da temporalidade especial dos deuses.
750, 3ª estr.] Édipo (incesto; consequências da falta de Laio).
758, 3ª antis.] Nau da cidade ameaçada por ondas. O perigo maior na onda três vezes maior liga-se à terceira geração (ou seja, à vida) que causa o fim da família. A popa é onde está o piloto (vincula-se à morte dos últimos herdeiros da família de reis). Gagné 354] a onda tripla é a família real que vai destruir a cidade governada pela família real. Só há uma pequena muralha (torre) para proteger a cidade.
766, 4ª estr.] o poder da falta ancestral, ara. A riqueza precisa ser jogada para fora da nau: porosidade entre dentro e fora iniciada na stanza anterior (Gagné): o perigo está dentro e fora, os reis. Gagné 354] transformação da nau do estado: navio mercante ameaçado pela sua própria riqueza (qual seja, a da, ou a própria dinastia regente). A herança precisa ser jogada fora (falta ancestral); para salvar a cidade de Tebas, o próprio Etéocles precisa perecer.

772, 4ª antis.] (A partir daqui, ênfase no parricídio e na maldição contra os filhos).
Por que Édipo foi tão admirado por deuses e homens quando livrou Tebas da Esfinge?
778, 5ª estr.] Édipo cegou-se ao descobrir que casara com a mãe.
785, 5ª antis.] praga de Ésquilo contra os filhos. Os filhos sorteariam a propriedade entre eles por meio de uma mão que porta o ferro. A última palavra do canto é Erínia.

792-821] 3º episódio
Relato do mensageiro: todos os inimigos morreram, mas Etéocles também.
795-96] a nau da cidade sobreviveu.
800-2] o vitorioso na 7ª porta foi Apolo (relação com Laio)
803-10] esticomitia.
816-17] o que coube (//sorteio) aos irmãos foi a morte.

822-74] 3º estásimo
Coro lamenta a maldição e as mortes dos irmãos {e anuncia a chegada de Antígona e Ismena}.
Os trechos entre chaves são considerados espúrios pela maioria dos comentadores. Gagné nota que, por mais que se defenda que a introdução da passagem de Antígona se deva ao paradigma instaurado pela tragédia homônima de Sófocles, causando uma longa interpolação promovida por autores em reapresentações de Ésquilo no final do século V ou no século IV – não é improvável, segundo Gagné, que, nesse caso, possa se ter perdido algumas falas finais da tragédia. Nesse caso, ao se desconsiderar o episódio envolvendo Antígona, é melhor não optar por um final apaziguador no qual o coro percebe Tebas como salva graças ao fim da linhagem de Laio/Édipo.

822-31] coro: prelúdio em anapestos (bblbbl). Coro não sabe se festeja (os deuses) ou se pranteia os líderes mortos.
832-39] ara // compôs um melos para o túmulo.
840-47] a palavra de Édipo / Laio / Apolo.
848-60] pensam, lamentando-a, na linhagem de Laio que está no barco pelo Aquerôn, do qual não há volta.

861-74] Interpolação?
Antígona e Ismena entram. Outro canto (// Erínia, Hades):

875-1004] lamento antifônico
Coro dividido em duas metades lamenta os irmãos.
907] (e 914) na morte, o lote dos dois irmãos é comum, igual (fim da briga). Ares também é responsável pela morte dos irmãos.
917] goos (lamento) do palácio.
923-, 3ª antis.] Jocasta
934-, 4ª est.] irmãos no fim // ferro, Ares.
947-, 4ª antis.] o oxus nomos de Arai. Atê.
961-] Esticomitia lírica (?). Coro dividido em dois mimetiza a morte dos dois irmãos.
996-97] versos suspeitos

{1005-78] êxodo
Mensageiro anuncia a proibição de se enterrar Polinices, rejeitada por Antígona. Coro lamenta o destino da casa de Édipo.
1005-25] mensageiro
1026-53] Antígona

BIBLIOGRAFIA SUPLEMENTAR (os outros textos estão na bibliografia do curso)

GAGNÉ, R. Ancestral fault in Ancient Greece. Cambridge: Cambridge University Press, 2013.
SWIFT, L. Stesichorus on stage. In: FINGLASS, P. J.; KELLY, A. (org.) Stesichorus in context. Cambridge: Cambridge University Press, 2015.


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