Several reviews of the book Matos, Patrícia Ferraz de, 2006, \"As Côres do Império: Representações Raciais no Império Colonial Português\", Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais, 287 pp.

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Ler História, n.º 53, Outubro de 2007, p. 260-266.

Revista Actual, Expresso, 27 de Janeiro de 2007.

Público, Domingo, 31 de Dezembro de 2006, P. 16.

Le Monde Diplomatique, Edição Portuguesa, n.º 5, Março, 2007. http://pt.mondediplo.com/spip.php?page=article-print&id_article=246

COLONIALISMO E PÓSCOLONIALISMO por Nuno Dias

As Côres do Império. Representações Raciais no Império Português Patrícia Ferraz de Matos ICS, Lisboa, 2006, 288 pp., € 16,80. A distinção racial perseverou ao longo da história portuguesa como o vértice fundamental da estrutura social colonial. Um espartilhamento que sobreviveu, nas colónias, até ao «fim do império» na condição inequívoca de esteio de um sistema social e de divisão racial do trabalho visceralmente assimétrico. Desresponsabilizador para o colono e ilimitadamente constritivo para o colonizado, o sistema de relações raciais nos territórios coloniais foi, sobretudo porque compelido pelo jogo protagonizado entre a orgânica jurídica que o definia e as pressões internacionais que o controvertiam, simultaneamente perpetuado e desmentido. As Côres do Império é, neste sentido, um interessante trabalho de análise da ideia de raça e sobre a sua relevância no desenvolvimento do projecto colonial português. Um trabalho exaustivo com um pendor mais descritivo do que propriamente analítico ou reflexivo, uma arquitectura provavelmente determinada mais por força do trabalho que neste campo estava ainda por fazer, do que por omissão. A autora concretiza uma recensão notável do material audiovisual e iconográfico, ao qual aduz algum material bibliográfico seleccionado, disponível para o período do Estado Novo. Material fundamental para compreender os meios e os processos de produção convocados na promoção de uma identificação metropolitana relativamente às colónias, e na contextualização da coexistência serena do mito da vocação integradora do «povo português» com a continuidade da prática racista nas colónias. O livro encontra-se dividido em três capítulos. No primeiro é feito um enquadramento histórico e teórico da ideia de raça. A densificação científica da ideia de raça é apresentada como decorrente do processo de alteração da premissa meramente taxonómica para o preenchimento biológico das diferenças materializadas nas tipologias. A ciência é assim produzida sobre as escalas, instrumentos rígidos de mensuração da diversidade física e comportamental, numa lógica de emulação das ciências naturais que acabaram por suprir a componente científica legitimadora da acção colonial a partir do último quartel do século XIX.

O segundo capítulo expõe o encadeamento em que as representações sociais sobre o Outro – o negro subsumido na figura do indígena – se vão desenvolvendo a par com a constituição de uma dita «ciência colonial». A necessidade de investimento na formação de quadros e na produção de conhecimento sobre os territórios, e respectivas populações, representam também um momento decisivo na produção de elementos visuais e discursivos sobre as populações colonizadas. Elementos cuja força performativa vai estar na origem do léxico, institucional e popular, responsável pela generalização dos estereótipos negativos bem como pelas representações de carácter depreciativo sobre os negros. O terceiro capítulo contém uma análise das grandes exposições e dos critérios operacionais de glorificação do império durante a primeira metade do século XX. A exibição e representação dos caracteres colonizados, oscilando entre o primitivo e o exótico, criaram a ponte entre metrópole e colónias num processo de construção identitária consubstanciado numa lógica de autovalorização e de heterodesvalorização. É justamente nesta ideia que este título pode constituir o ponto de partida para uma interpelação a representações e preconceitos presentes na sociedade portuguesa contemporânea: na imagem que insinua da história social enquanto processo, feita de continuidades, onde a construção identitária é produto não apenas da circunstância mas também do lastro histórico que lhe subjaz. quarta-feira 7 de Março de 2007

História, n.º 93, 2007.

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