SEXUALIDADE DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES A PARTIR DE UM OBJETO EDUCACIONAL EM UM CURSO DE FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA

June 4, 2017 | Autor: V. Fialho Capellini | Categoria: Formação De Professores, Sexualidade, Ensino a Distancia, Deficiências
Share Embed


Descrição do Produto

SEXUALIDADE DE ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA: CONCEPÇÕES DE PROFESSORES A PARTIR DE UM OBJETO EDUCACIONAL EM UM CURSO DE FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO INCLUSIVA Ana Claudia Bortolozzi Maia; Vera Lúcia Messias Fialho Capellini Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”-UNESP; [email protected]; [email protected]

RESUMO Muito professores, por falta de formação, têm dificuldade em lidar com os comportamentos sexuais dos estudantes na escola, sobretudo, quando eles têm deficiências e cursos na modalidade de Ensino a Distancia são uma oportunidade importante de capacitação desses profissionais. O objetivo desta pesquisa, qualitativa-descritiva, foi analisar os relatos dos cursistas professores em um fórum, a partir de uma atividade proposta na Disciplina “Desenvolvimento Humano e Família”, que se referia a um Objeto Educacional/ Jogo. Participaram 111 cursistas de um Curso de Especialização em Educação Especial e Inclusiva que postaram comentários no fórum após a atividade de um jogo educacional/jogo que envolvia situações projetivas, com escolhas de ações que resultavam em um “perfil do professor”. Os resultados apontam que a maioria dos cursistas (84%) obteve o perfil de Professor Atento e Cauteloso e os comentários foram organizados nas seguintes categorias: (1) Ênfase na relação entre as situações fictícias do Jogo e o texto da disciplina com o que ocorre na prática cotidiana da escola; (2) Descrição dos comportamentos sexuais dos seus estudantes com deficiência; (3) Relatos sobre atitudes do professor e/ou escola diante da manifestação da sexualidade dos estudantes com deficiência; (4) Considerações sobre a participação/responsabilidade da família na educação sexual do estudante. Conclui-se que a atividade com o objeto educacional proporcionou a reflexão sobre a educação sexual de pessoas com deficiência, a partir de situações cotidianas vivenciadas na escola. Ressalta-se a importância de formação nesta temática. Palavras-chave: Sexualidade, Deficiências, Inclusão, Formação de Professores, Ensino a Distância.

INTRODUÇÃO A promoção de uma sociedade inclusiva implica na garantia de direitos das pessoas com diferentes deficiências relacionadas à escolarização, ao trabalho e também à sexualidade. O documento “Direitos Sexuais e Reprodutivos na Integralidade da Atenção à Saúde das Pessoas com Deficiência” (2009) deixa claro que é um direito da pessoa com deficiência viver a sexualidade de forma satisfatória. Isso porque se reconhece que a sexualidade é uma dimensão importante da personalidade e uma condição humana. No entanto, apesar de haver uma defesa do exercício pleno da

sexualidade de todas as pessoas, ainda são incipientes as ações que promovam esse direito, seja por parte de familiares, profissionais diversos e educadores. A sexualidade engloba uma dimensão erótica individual, e também uma representação social na medida em que organiza socialmente a expressão do desejo como algo inerentemente humano. E, como defende Foucault (1993), é um fenômeno histórico. Como uma condição humana, a sexualidade é expressa ao longo do desenvolvimento e em diversos contextos. A escola é um desses locais em que emergem diversas manifestações da sexualidade nos diferentes estudantes, inclusive aqueles que têm deficiência. A deficiência é um estigma que coloca a pessoa em uma condição de desvantagem social (GOFFMAN, 1988; OMOTE, 1999) e, por isso, ainda há preconceitos e dificuldades em proporcionar uma sociedade que acolha as diferenças, sem colocar à margem aqueles que têm uma deficiência. Assim a sexualidade de pessoas com deficiência no contexto da escola inclusiva ainda é vista como um tabu. É comum que professores não saibam bem o que fazer quando os estudantes – com deficiência ou não – apresentam comportamentos sexuais, seja por dificuldades pessoais ou falta de formação. (MAIA; ARANHA, 2005; MAIA, 2006; MAIA; RIBEIRO, 2009) As crenças e equívocos – chamados “mitos” – que relacionam a sexualidade de pessoas com deficiência a uma situação atípica e infeliz (MAIA; RIBEIRO, 2010) prejudicam o desenvolvimento e vivência do exercício da sexualidade, estigmatizando e reproduzindo a discriminação. Acredita-se que uma das formas de romper com este ciclo de reprodução da discriminação é investir no esclarecimento e na formação de quem é educador. A formação continuada de professores aborda diferentes temáticas e existe em várias modalidades, sendo uma delas a Educação a Distância que, no Brasil, tem se apresentado como boa alternativa de formação para professores e gestores educacionais. Lemes, Maia e Reis-Yamauti (2014) estudaram a inserção do tema da sexualidade em cursos de Educação Sexual na modalidade de EaD no Brasil e levantaram 49 cursos, sendo 13 particulares e 36 gratuitos e públicos, direcionados à formação de educadores. Segundo os autores há mais cursos públicos do que particulares e, em alguns, reproduz-se a sexualidade relacionada à sexologia e não à educação. Os autores também ressaltam a necessidade de investir na elaboração de

cursos que abordem amplamente essa temática e objetivem a formação continuada de professores para atuar em práticas educativas nos contextos das escolas. A EaD é uma forma de educação que utiliza recursos tecnológicos, recursos didáticos e formas de apoio tutorial a fim de possibilitar a aprendizagem autônoma do estudante. As Tecnologias da Informação e da Comunicação proporcionam o processo de ensino-aprendizagem por meio da interação com independência de tempo e espaço, aspecto este que é fundamental quando se trata da formação continuada para professores, pois estes podem adequar sua rotina a uma formação de qualidade que possibilite o aprimoramento de seu fazer pedagógico, uma vez que a carga horária do professor não é distribuída uniformemente (PORTO; NEVES; MACHADO; 2012). Com o propósito de ofertar cursos de qualidade de formação docente, promover uma escola que seja de fato inclusiva e proporcionar o acesso do público da educação especial ao atendimento especializado é que foi organizado e implementado o “Curso de Especialização em Educação Especial”, em seis diferentes áreas: Deficiência Auditiva, Deficiência Física, Deficiência Intelectual, Deficiência Visual, Transtornos Globais do Desenvolvimento e Habilidades ou Superdotação (AH/SD). Esses cursos são ofertados em nível de pós-graduação Lato Sensu, com carga horária total de 686 horas, em decorrência de um convênio estabelecido entre a Secretaria Estadual de Educação (SEE/SP) e a Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp). O objetivo é ofertar formação continuada de professores através de cursos de especialização que tratem de educação inclusiva e tem como coordenadora acadêmica a Profª Drª Elisa Tomoe Moriya Schlünzen e como Coordenador Geral pelo Núcleo de Educação a Distância/UNESP o Profº Drº Klaus Schlünzen. (UNESP, 2014) Cada um desses cursos tem uma grade curricular que apresenta um conjunto de disciplinas que são agrupadas em um tronco comum, que são as mesmas para todos os cursos e outras disciplinas diversas que compõem os cursos especificamente; além das disciplinas de Metodologia, que preparam os cursistas na elaboração de um trabalho de conclusão de curso em formato de artigo. O tronco comum para todas as áreas inclui as seguintes disciplinas: D01: Diversidade e Cultura Inclusiva; D02: Políticas Públicas: Educação Especial e Inclusiva; D03: Gestão Democrática e Projeto Pedagógico; D04: Metodologia da Pesquisa I: Elaboração do Pré-Projeto de Pesquisa; D05: Ética na Profissão Docente;

D06: Desenvolvimento Humano e Família; D08: Metodologia da Pesquisa II: Elaboração do Projeto de Pesquisa; D15: Metodologia da Pesquisa III: Elaboração da Monografia de Conclusão de Curso (UNESP, 2014). O objetivo desta pesquisa foi analisar os argumentos e comentários dos cursistas professores em um fórum, a partir de uma atividade proposta na Disciplina “Desenvolvimento Humano e Família”, que se referia a um Objeto Educacional/Jogo. METODOLOGIA Este estudo caracteriza-se como uma pesquisa qualitativa-descritiva (SPATA, 2005) e obteve parecer favorável de um Comitê de Ética em Pesquisa, sob o número 632.386/2014. Participantes Os participantes foram professores, de ambos os gêneros, cursistas do Curso de Especialização em Educação Especial na área de Deficiência Auditiva que conta com 4 turmas com 29 cursistas cada, totalizando 116 cursistas. O total de cursistas que realizaram a atividade foi de 111, sendo esta a amostra desta pesquisa. Procedimentos de coleta e de análise de dados A coleta de dados ocorreu a partir de uma atividade especifica da disciplina “Desenvolvimento Humano e Família” do curso de formação de professores “Especialização em Educação Especial na área de deficiência visual”, na modalidade Ead. Segundo Maia; Rodrigues; Melquiori e Capellini (2014), esta disciplina tinha por objetivo “conhecer e refletir sobre o desenvolvimento humano na infância e adolescência e como o/a educador/a deve compreender e lidar com a manifestação da sexualidade dos/as estudantes na escola” (MAIA; RODRIGUES; MELQUIORI; CAPELLINI, 2014, P. 151). Com 30 horas de duração, a disciplina foi dividida em 3 semanas: ‐ 1ª semana - Tema de Desenvolvimento Humano: havia um texto relacionado às fases da infância e adolescência e uma atividade de questionário auto-corrigível; ‐ 2ª semana - Tema da Sexualidade Humana: havia um texto relacionado à sexualidade e deficiência e um jogo/objeto educacional;

‐ 3ª semana - Tema da Família: havia um texto relacionado ao tema da relação escola-família e uma atividade de relato de uma experiência favorável de participação da família na escola. (MAIA; RODRIGUES; MELQUIORI; CAPELLINI; 2014, p. 151)

A análise se deu sobre a atividade 2 - Objeto Educacional: Desafios e ações de professores na escola. Nesta atividade o cursista devia realizar a leitura do texto sexualidade e educação sexual, jogar o objeto educacional Desafios e Ações de professores na Escola e postar o resultado no fórum de discussão. Segundo Maia; Rodrigues; Melquiori e Capellini (2014) no objeto educacional havia oito situações escolares cotidianas relacionadas ao desenvolvimento humano, sendo que quatro se tratavam especificamente da sexualidade. Eram apresentadas situações e o cursista escolhia uma entre quatro opções de ações e, quando uma ação era escolhida, aparecia a descrição das consequências de tal ação. Ao final, as escolhas do cursista levam a um perfil do tipo de professor. Os tipos de perfil de professor possíveis estão dispostos no quadro 1 (MAIA; RODRIGUES; MELQUIORI; CAPELLINI, 2014) Descrições do Perfil no Jogo “Desafios e Ações de professores/as na Escola” PERFIL PERFIL A PROFESSOR/A INSEGURO/A

PERFIL B PROFESSOR/A EXAGERADO/A

PERFIL C PROFESSOR/A CAUTELOSO/A; ATENTO/A

Reflexões “Você pode ser considerado/a um/a professor/a inseguro/a, com pouca experiência diante de situações inesperadas. Precisa estudar e conhecer mais sobre as questões teóricas para se sentir mais confiante para lidar com as situações e dilemas que ocorrem no cotidiano escolar. Geralmente, não “faz nada” tentando resolver o problema ou ganhar tempo, não encarando de fato que é preciso tomar uma atitude. É importante você perceber que você pode sim reagir, tomar providências e lidar com a situação! Se tiver receio, peça ajuda, mas nunca se omita porque as coisas tendem a se repetir e você pode perder o controle e dificultar depois ainda mais as coisas”. “Você pode ser considerado/a um/a professor/a muito exagerado/a! Que torna, às vezes, o problema maior do que ele é. Ao invés de tentar resolver as coisas com calma, pensar primeiro antes de agir, acaba tendo atitudes impulsivas que atingem a todos na escola: envolver outros/as professores/as, direção ou familiares pode expor ainda mais seus alunos/as e a si mesmo. Contar com ajuda de colegas e a parceria com a família é muito importante, mas essa colaboração deve ser planejada e não impulsiva, caso contrário você pode também se desgastar e não ajudar a resolver as coisas”. “Você é um/a professor/a consciente e atento/a. Parece agir de modo cauteloso e prudente diante da diversidade de comportamentos e desempenhos dos/as alunos/as. Tenta conversar com os/as alunos/as, explicando as coisas e procurando entender os seus comportamentos. Procura resolver as situações com calma, priorizando o dialogo antes de julgar e repreender agindo, sobretudo, com bom senso diante dos imprevistos”.

PERIL D PROFESSOR/A AUTORITÁRIO/A

“Você pode estar exagerando tentando resolver os problemas de modo autoritário. O/A professor/a deve ter o controle da situação com autoridade, mas não autoritarismo. Controlar os/as alunos/as com ameaça e punição pode resolver momentaneamente a situação. Mas, a longo prazo, isso pode gerar mais indisciplina e violência. Talvez você também se sinta ameaçado/a e pressionado/a pelas condições do trabalho, pelo cansaço, pela pressão e acaba reproduzindo essa situação. Já pensou nisso?”

Fonte: Maia; Rodrigues; Melquiori; Capellini, 2014. Ainda segundo com Maia; Rodrigues; Melquiori e Capellini, (2014), ao final do jogo aparecia a mensagem:

ATENÇÃO: “Você chegou a um ‘perfil’... isso não quer dizer que este perfil faz de você o ‘melhor’ ou ‘pior’ professor! Nem que você tenha esse perfil sempre e isso nunca mude! O perfil apontado é apenas uma dica para você refletir sobre Como tem agido diante dos estudantes nas suas atividades na escola, percebendo as situações possíveis de serem enfrentadas na escola, as Possíveis ações que podemos (ou não) ter e alguns desdobramentos decorrentes de cada uma dessas ações. Agora é com você refletir sobre tudo isso!” (MAIA; RODRIGUES; MELQUIORI; CAPELLINI, 2014, p. 155)

Após a leitura do texto e realização do jogo, o cursista deveria participar do fórum de discussão específico. O cursista deveria postar uma mensagem compartilhando qual o resultado encontrado no jogo, ou seja, o perfil de professor encontrado na primeira vez que jogou, e também mensagens compartilhando experiências vivenciadas parecidas com as expostas no jogo, além de mensagens interativas entre os cursistas e tutores. Para a análise dos dados, descreveu-se todos os relatos dos cursistas professores no fórum em um arquivo do Word. Além disso, foram contabilizados os tipos de perfis que os professores cursistas obtiveram como resultado. A análise quantitativa envolveu frequência simples e porcentagem. A análise qualitativa ocorreu por meio da análise de conteúdo proposta por Bardin (1977), separando em categorias de análise e priorizando mensagens que exemplificavam as situações parecidas com as expostas pelo objeto educacional que os professores já vivenciaram em sua prática, culminando em trocas de informações sobre vivências cotidianas profissionais entre os cursistas, mediados pelos tutores. As mensagens escolhidas servem como exemplos das reflexões geradas pelo objeto educacional, caracterizando assim a parte quantitativa da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise dos dados aponta que 84% dos cursistas tiveram como resultado do objeto educacional o perfil de “Professor Atento e Cauteloso”, e 16% não indicaram qual o perfil que o objeto educacional forneceu. A prevalência do perfil “Atento e Cauteloso” pode indicar que a maioria dos professores acredita assumir uma postura crítica e reflexiva diante de situações que envolvem os estudantes público-alvo da Educação Especial, especialmente sobre sexualidade. Muitas variáveis podem ter interferido nesses resultados: o fato de serem participantes de um curso de formação e então terem interesse em aprofundar conhecimentos na educação inclusiva, o fato da própria disciplina defender a sexualidade de pessoas com deficiência e isso influenciar atitudes positivas sobre a expressão sexual dos estudantes e, claro, o fato de que no jogo as ações direcionavam a condutas por demais inadequadas sugerindo as que seriam mais adequadas. O fato de haver cursistas que não indicaram o resultado do perfil no fórum sugere que eles não se sentiram à vontade para declarar publicamente qual o perfil que obtiveram, justamente por ser divergente da maioria dos colegas. Embora os dados indiquem a prevalência de um perfil, é preciso lembrar que o objetivo do objeto educacional era proporcionar o exercício da reflexão por parte do professor sobre as suas possíveis ações e não o resultado do perfil em si (MAIA, RODRIGUES; MELQUIORI; CAPELLINI, 2014). No que se refere à análise dos comentários nos fóruns, obtivemos as seguintes categorias:

(1) Ênfase na relação entre as situações fictícias do Jogo e o texto da disciplina com o que ocorre na pratica cotidiana da escola Os professores, a partir das situações apresentadas no Objeto educacional/Jogo, comentaram que tais acontecimentos tinham relação com a prática cotidiana na escola. Os relatos, portanto, expressavam a percepção de que tais temas e ocorrências do jogo eram coerentes com a realidade e destacaram o potencial projetivo do jogo, tal como ressaltou Maia; Rodrigues; Melquiori e Capellini, (2014). Os relatos exemplificam essa categoria:

Gostei do jogo, pois me ensinou como lidar com situações desse tipo. Desde já agradeço a atenção Achei muito interessante o objeto educacional, pois me deparei com situações que passei em sala de aula. Já passei por uma situação complicada no inicio da minha docência Esse assunto sexualidade é bem complicado, é um tabu ainda hoje. Eu gostei muito do texto, porque me "abriu" bem a mente sobre esse assunto. No ano passado na escola onde eu estava passamos por uma situação complicada. O texto foi ótimo, deveríamos ter mais informações sobre esse assunto.

(2) Descrição dos comportamentos sexuais dos seus estudantes com deficiência A partir da reflexão das situações apresentadas, os professores comentaram sobre os comportamentos sexuais de seus alunos com deficiência, sejam estes com deficiência intelectual, autismo, surdez, etc. tais como exibicionismo, masturbação, etc. Os comportamentos citados fazem parte do desenvolvimento humano e são expressões da sexualidade das pessoas com deficiência, tal como encontra-se na literatura (MAIA, 2006, SCHWIER, K.M.; HINGSBURGER, D., 2007). Exemplos: Eu tive um aluno com altismo (sic) grave, onde ele também manipulava em sala de aula sua genitália) (...) aconteceu foi uma situação em que na escola onde trabalho apareceu um aluno homossexual que se trajava como mulher como era surdo ficou aos meus cuidados. (...) masturbação em sala de aula regular por um aluno com deficiência intelectual certa vez, dava aula em uma sala de Ed. Infantil e uma garotinha todos os dias colocava as duas mãos no meio de suas pernas e fazia movimentos com o corpo. Percebi que ela adotava essa postura todas as vezes que se sentia pressionada pelos colegas, ou não conseguia realizar alguma atividade, ou seja, situações de ansiedade. Entendi logo que era um tipo de masturbação, mas que ela mesma não tinha consciência do que se passava, apenas gerava prazer, o que a acalmava nos momentos nevrálgicos

Uma aluna com deficiência mental leve era sempre incentivada pelos colegas a mostrar as partes genitais. Para isso eles formavam uma roda no fundo da sala, cercavam a aluna e ela ficava expondo os órgãos genitais.. Tinha um menino no 3 ano do EM que tinha Sindrome de Asperger e outras coisas também. E chegou uma época que toda aula depois do intervalo ele ficava pegando nas partes íntimas dele.

(3) Relatos sobre atitudes do professor e/ou escola diante da manifestação da sexualidade dos estudantes com deficiência Os professores relatam as diferentes atitudes diante dos comportamentos sexuais dos seus alunos que variavam entre medo e receio de como agir até conversas e orientações, dados semelhantes aos de Maia e Aranha (2005). Em muitos depoimentos fica claro o despreparo dos professores, as atitudes de improviso e a concepção de que tais comportamentos têm a ver com a deficiência, tal como argumenta ocorrer frequentemente Amor Pan (2003), Maia (2006), Maia e Aranha (2005). Ex: (...) quando ela [cuidadora] percebia isso, levava ele para fora da sala e ele ia ao banheiro, enquanto eu continuava dando aula e comentava com a sala o tipo de deficiência que ele tinha e como tínhamos que agir com ele com quando acontecia isso e que nós não poderíamos fazer isso em público. Os alunos o trataram muito bem e com respeito [ESTUDANTE SURDO HOMOSSEXUAL],na hora de usar o banheiro a diretora ofereceu um banheiro que havia na escola exclusivamente para ele, para evita problemas futuros. (...) explicamos aos alunos todos sobre o comportamento adequado em espaços públicos e privados, e o que é e não é permitido nesses espaços. Fui buscar auxílio e encontrei uma matéria da revista Nova Escola que explicava as razões para tais atitudes e como proceder. Todas as vezes que a garota então começava o processo eu me aproximava e perguntava se necessitava de ajuda, ela sempre explicava o que se passava e assim, tratando a causa e não a consequência ela foi percebendo que podia contar com a professora para resolver os problemas que enfrentava (bullyng dos colegas, dificuldades de aprendizagem, etc) e não precisava mais buscar nos "movimentos" uma fuga. Quando me deparei com essa situação, a principio fiquei chocada e confusa, mas depois conversei com a sala, mostrando a necessidade de agirem como seres decentes, respeitando a deficiência da aluna e, além

disso, se resguardando de possíveis penalidades...fiquei pouco tempo com a sala, mas tentei dar o melhor de mim frente a situação apresentada. O pior é que os outros alunos da sala tiravam sarro ele ficava bravo e virava uma bagunça, nenhum professor ou professora queria conversar com ele sobre o assunto, um dia ele disse pra mim que estava grávido, não sabia o que falar. Não sabemos o que falar, todos tem medo de falar algo "errado" é uma situação difícil (4) Considerações sobre a participação/responsabilidade da família na educação sexual do estudante Em alguns casos, a responsabilidade pelos comportamentos dos estudantes e a educação em sexualidade foi remetida à família, mesmo quando as ocorrências foram na escola. Pode-se dizer que, embora a parceria com a família em todas as ações escolares seja importante, neste caso, nos parece mais uma postura de não assumir a educação sexual como responsabilidade da escola, tal como prevê os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1997). Exemplos Após o ocorrido solicitamos à família que mandasse o aluno para a escola com uma roupa que dificultasse o acesso. O aluno estava sempre com calça de moletom ou agasalho esportivo. Sugerimos calça jeans e cinto. As manifestações diminuíram bastante (...) essa dificuldade não é só da escola..a família não aceita que seu filho é inteiro, e que só possui uma deficiência...lidar com o lado da sexualidade, ao meu ver, é o mais difícil. Quando a nossa aluna, com DA, mostrou a conversa que um rapaz estava tendo com ela no face, a mãe deu uma surra na menina. Quem conseguiu acalmar a mãe foi a especialista da Sala de Recursos, juntamente com a coordenadora. Presenciei e foi uma conversa muito difícil. Fica aí mais um desafio para a escola!! Então chamamos a mãe dele, porque ele passa com um psicólogo e ela disse que ia pedir para ele falar com o menino sobre isso, não sei o que deu, pois pouco tempo depois as aulas acabaram (...) também envolve a família, não sabemos como a família quer se converse sobre esse assunto. Pode-se considerar a partir da análise as mensagens trocadas entre os cursistas que o objetivo do objeto educacional foi atingido com sucesso, pois suscitou uma série

de mensagens sobre as diversas experiências que eles tiveram e puderam compartilhar as formas de resolução encontradas. CONCLUSÃO Toda a disciplina mostrou-se importante na formação dos professores. A atividade avaliada proporcionou a reflexão sobre situações que envolvessem sexualidade e deficiência no contexto escolar. A partir do objeto educacional os cursistas professores puderam refletir sobre a sua prática docente e suas possíveis reações frente às situações consideradas tabus. A existência de um fórum de discussão foi relevante, pois possibilitou a troca de experiências, reforçando a ideia de uma prática docente colaborativa e inclusiva. Ressalta-se a importância de abordar essa temática na formação de professores. REFERÊNCIAS AMOR PAN, José Ramón. Afetividade e sexualidade na pessoa portadora de deficiência mental. São Paulo: Loyola, 2003. BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977. BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Direitos sexuais e reprodutivos na integralidade da atenção à saúde de pessoas com deficiência. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. FOUCAULT, M. História da sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1993. GOFFMAN, E. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1988. LEMES, S. S.; MAIA, A. C. B. e REIS-YAMAUTI, V. L.. Educação Sexual na modalidade EAD: um estudo exploratório in III Congresso Internacional de Sexualidade e Educação Sexual. Livro de Resumos do III Congresso Internacional Sexualidade e Educação Sexual, Lisboa, 2014. MAIA, A. C. B. Educação Sexual para pessoas com deficiência intelectual: princípios para propostas de intervenção. In: Maria Amélia; Enicéia Gonçaslves Mendes (Org.). A ESCOLA E O PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL. 1ed. São Carlos: Marquezine & Manzini ABPEE, 2014, v. 1, p.. 57-66.

MAIA, A. C. B. Sexualidade e Deficiências. São Paulo: Editora Unesp, 2006. MAIA, A. C. B. ; ARANHA, M. S. F. Relatos de professores sobre manifestações sexuais de alunos com deficiência no contexto escolar. Interação (Curitiba), Curitiba, PR, 2005, v. 9, n.1, p. 103-116. MAIA, A. C. B. & RIBEIRO, P.R.M. Desfazendo mitos para minimizar o preconceito sobre a sexualidade de pessoas com deficiências. Revista Brasileira de Educação Especial, 2010, 16(2), p. 169-176. MAIA, A. C. B. ; RIBEIRO, P. R. M. Educação inclusiva e sexualidade: a compreensão de professores sobre comportamentos sexuais de alunos com deficiência.. In: GOMES, Ines; MAIA, Rui Leandro (Eds.).. (Org.). Special Education: From Theory to Practice.. Porto, Portugal: University Fernando Pessoa Editions, 2009, v. 1, p. 329340. MAIA, A. C. B. ; RODRIGUES, O. M. P. R. ; MELQUIORI, L. E. ; CAPELLINI, V. L. M. F. . Educação para a sexualidade na formação de professores na modalidade de Ensino a Distância: a utilização de um objeto educacional. Exedra, v. Supl, 2014, p. 147-158. OMOTE, S. Deficiência: da diferença ao desvio. In: MANZINI, J. E.; BRANCATTI, P. R. Educação especial e estigma: corporeidade, sexualidade e expressão artística. Marília: Unesp, 1999. p.3-21. PORTO, A. S.; NEVES, M. F.; MACHADO, M. J. Educação a Distância na formação de professores: ranços e avanços in 18º Congresso Internacional de Educação a Distância, 2012, Brasília. Anais do congresso. Brasília: Associação Brasileira de Educação a Distância, 2012. p. 1-10. SPATA, A. Métodos de pesquisa: ciências do comportamento e diversidade humana. Rio de Janeiro: LTC, 2005. SCHWIER, K. M.; HINGSBURGER, D. Sexuality - your sons and daughters with intellectual disabilities. Baltimore, Maryland: Paul H. Brookes Publishing Co, 2007. UNESP. Manual do Cursista: Educação Especial na área de Altas Habilidades/Superdotação. Núcleo de Educação à Distância (Nead) Rede São Paulo de Formação Docente, 2014.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.