Si Deus pro nobis, quis contra nos: genocídio em Ruanda

June 5, 2017 | Autor: Juliana Costa | Categoria: African Studies, Africa, Rwandan Genocide, Ruanda
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Do latim, "Se Deus é por nós, quem será contra nós?".
Situado entre lagos.
Um filme americano de 1993, baseado na vida de Oskar Schindler, um empresário alemão que salvou a vida de mais de mil refugiados judeus durante o Holocausto, empregando-os em suas fábricas.
"Quando as pessoas me pergunta, caros ouvintes, por que odeio todos os tutsis, eu digo: leia nossa história." [tradução livre]
Do kinyarwanda, aqueles que estão junto ou aqueles que lutam junto.
Uma referência ao hábito dos hutus de cortarem os pés dos tutsis a golpes de facões, com o objetivo de diminuir a diferença de altura.
À guisa de exemplo, o jornalista Philipi Gourevitch, autor do livro Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias, e Alberto da Costa e Silva, autor de A enxada e a lança: a África antes dos portugueses.
É interessante destacar que entre todas as armas que poderiam ser escolhidas, a mais usada era o facão. "O facão é mais natural. O ruandês está acostumado com o facão desde a infância", relata um dos presos entrevistados por Hatzfeld (2005, p. 46).
Disponível em http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-dh/tidhuniversais/dih-conv-genocidio.html, acessado em 15 de agosto de 2013.
Disponível em http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/pdf/ri/n32/n32a04.pdf, acesso em 17 de maio de 2014.
"Organizações políticas estão proibidas de se basear na raça, etnia, tribo, clã, região, sexo, religião ou qualquer outra divisão que possa dar origem a qualquer discriminação" [tradução livre]
"Sob o pretexto de prevenir um outro genocídio, o governo exibe uma intolerância acentuada das formas mais básicas de dissidência" [tradução livre]
"Como muitos ruandeses descobriram, estar em desacordo com o governo ou fazer declarações impopulares podem ser facilmente retratados como ideologia genocida, punível com penas de 10 a 25 anos." [tradução livre]
Disponível em http://www.hrw.org/de/news/2009/04/11/power-horror-rwanda, acesso em 16 de novembro de 2013.
Disponível em http://www.amnistia-internacional.pt/files/RestricoesLiberdadeExpressaoRuanda.pdf, acesso em 18 de maio de 2014.
Disponível em http://focus.rw/wp/2012/06/new-law-on-genocide-ideology-will-eliminate-confusion/ e http://focus.rw/wp/2013/08/clearer-genocide-ideology-law-to-be-more-lenient/, acessados em 20 de maio de 2014.
Quando indivíduos recebem determinadas informações e passam a atuar em conjunto, como uma manada. Esses indivíduos não tomam necessariamente uma decisão consciente, e seguem a maioria. É uma função automática do cérebro, em que um sujeito passivo simplesmente adere a uma decisão coletiva, deixando-se guiar pela emoção.
Do kinyarwanda, recordar.
"Muitas pessoas das Nações Unidas mostraram notável bravura. Mas poderíamos ter feito muito mais. Devíamos ter feito muito mais. Em Ruanda, as tropas foram retiradas quando eram mais necessárias. A vergonha ainda perdura, uma geração após os eventos." [tradução livre]


Si Deus pro nobis, quis contra nos: genocídio em Ruanda
Juliana da Costa Santos

Introdução
"Um genocídio não é uma erva daninha que cresce sobre duas ou três raízes, mas
sobre um nó de raízes que mofaram debaixo da terra sem ninguém perceber"
(CLAUDINE KAYITESI, in HATZFELD, 2005, p. 105)

Em 1994, entre a segunda-feira de 11 de abril e o sábado de 14 de maio, todos os dias da semana, das nove e meia às dezesseis horas, cerca de 50 mil tutsis, originários de uma população de quase 59 mil, foram chacinados com facões por milicianos hutus, em Ruanda, país localizado na África centro-oriental.
Normalmente, quando se ouve falar em assassinatos, torturas e atitudes desumanas, a pergunta dominante na cabeça da grande maioria da população mundial é "e onde está Deus nisso tudo?". Em Ruanda, no ano de 1994, Deus foi momentaneamente esquecido pela maioria dos hutus que tomavam parte nos massacres. Esquecido, por aqueles que se viam em tamanha fartura social e econômica e não conseguiam ver nada mais a que pedir a Deus; ignorado, por aqueles que não se sentiam a vontade o suficiente pensar em Deus enquanto cometiam tamanhos crimes, que preferiam não misturar Deus a tudo aquilo. Por parte dos tutsis, muitos já tinham desistido de pedir misericórdia aos seus assassinos – optando, portanto, a pedi-la a Deus. Em alguns casos, foram encontrados tutsis em pequenos grupos, a espera de sua morte, rezando. Outras situações dizem respeito a tutsis que, já abraçados com a morte, pediam aos génocidaires, como são chamados os assassinos culpados de genocídio, somente a oportunidade de rezar mais uma vez.
Diante da fé inabalada dos tutsis, se é possível recordar do provérbio "Si Deus pro nobis, qui contra nos?" (Vulgate, Romans 8:31), que remete a invencibilidade daqueles que com Deus estão. Um fato interessante a se notar é que, posterior ao genocídio, a religião tornou-se mais estimada. De fato, o povo ruandês sempre foi um povo religioso, mas não de tal maneira como depois dos eventos de 1994.
Agora, quanto mais os matadores se sentem culpados, mais vão à igreja. Da mesma forma, quanto mais os sobreviventes se sentem traumatizados, mais vão à igreja. Culpados e vítimas se acotovelam na primeira fila dos que rezam, como se tivessem esquecido. Antes da guerra, a religião não era popular como agora. Hoje, muita gente se agarra às orações e aos cantos para enfrentar a vida conturbada. (HATZFELD, 2005, p. 165)
Este artigo tem por objetivo tratar do genocídio de Ruanda em seu geral, levantando uma série de questionamentos sobre a temática, tais como a origem da rivalidade entre hutus e tutsis, as consequências da colonização belga no país, a ausência da comunidade internacional perante os acontecimentos, quais os impactos do genocídio na sociedade atual, entre outros.
A pesquisa toma como base o filme estadunidense Hotel Ruanda, de 2004, que relata a história verídica de Paul Rusesabagina, gerente de um hotel em Ruanda na época do genocídio, e seus atos benevolentes a fim de proteger sua família e muitos outros refugiados tutsis.
Neste artigo, a priori, será analisada a geopolítica do país tratado, sua colonização, economia e sociedade. Em seguida, uma leitura do enredo do filme em questão será feita, contextualizando o leitor perante sua trama e utilização no presente trabalho. Após, uma abordagem teórica será realizada, destacando o genocídio em si, seus precedentes e procedentes.
Geopolítica de Ruanda: observações culturais, econômicas e políticas.
"Há uma guerra quando as autoridades querem derrubar outras autoridades para instalar-se no lugar delas.
Um genocídio é uma etnia que quer enterrar outra etnia. O genocídio ultrapassa a guerra, porque
a intenção dura para sempre, mesmo se não for coroada de sucesso. É uma intenção final"
(CHRISTINE NYIRANSABIMANA, in HATZFELD, 2005, p. 123)

Localizado no continente africano, a nordeste da curva do Rio Congo e na região dos Grandes Lagos da África centro-oriental, se encontra Ruanda, país que se limita a oeste com a República Democrática do Congo, a leste com a Tanzânia, ao norte com Uganda e ao sul com Burundi. Não obstante sua proximidade para com a linha do Equador, Ruanda possui um clima temperado fresco - variando de 12 a 27 graus Celsius - devido a sua alta elevação, sendo o ponto mais baixo do terreno o rio Rusizi, a 950 metros acima do nível do mar, e o mais alto o monte Karisimbi, a 4.507 metros. Conhecido como "A Terra das Mil Colinas", o país era antigamente ocupado por florestas montanhosas, as quais, devido o desenvolvimento da agricultura e terraceamento, hoje se restringem a três parques de preservação.
Segundo Castro (1979) e confirmado mais atualmente pelo PNUD (Programa das Nações Unidas), Ruanda possui 26.338 km² de área, com uma densidade demográfica média de 407 pessoas por quilometro quadrado. Formada por apenas um grupo étnico e linguístico, os banyarwanda - dividido em três etnias, hutus, tutsis e tua -, sua população chega a 10.718.379 habitantes, a maior parte desta (80,61%) vivendo em área rural. O PIB da região, ainda de acordo com o PNUD, chega a cerca de US$ 540 per capita, tendo tido um crescimento de 8,2% entre 2010 e 2011. A moeda usada em Ruanda é o franco ruandês.
À parte o inglês e o francês, introduzidos pela Bélgica em sua colonização e tomando o lugar do alemão, a principal língua do país é kinyarwanda. Sendo essas três línguas consideradas oficiais, é dito que kinyarwanda é a língua do governo, enquanto o inglês é o principal idioma utilizado no meio educacional. Nas áreas rurais, porém, é comum encontrar o suaíli, a língua franca da África Oriental, que também é amplamente falado e, de acordo com Castro (1979), era antigamente considerada umas das línguas oficiais.
A religião predominante na área é a católica, mas, desde o genocídio, houveram significativas mudanças na demografia religiosa do país, com conversões para as religiões cristãs evangélicas e o islamismo, que crescem gradualmente. A religião tradicional africana, apesar de ser oficialmente representada por apenas 0,1% da população, mantém sua influência (alguns veem o Deus cristão como sinônimo de Imana, o tradicional Deus ruandês).
Desde o genocídio de 1994, a economia de Ruanda vem enfrentando dificuldades. Posto que as pessoas refugiaram-se para outros países, grande parte da mão de obra foi perdida. O turismo ecológico é uma das maiores fontes de renda de Ruanda. Ruanda, além das atrações ecológicas, dispõe de atrações urbanas, como espetáculos de tribos e visitas a lugares históricos. Na capital, Kigali, há um passeio cultural pelo Kigali Memorial, um museu que conta como o país superou o genocídio de 1994. O lucro financeiro gerado pelo setor de turismo é investido em ações e projetos sociais que envolvem educação, habitação e qualidade de vida, teoricamente.
A África é o imenso palco de eternas migrações que com frequência alteram o traçado das fronteiras dos países e das regiões. Ruanda e Burundi são duas raras exceções no continente, vivendo há séculos relativamente voltados para si mesmos. Nenhuma riqueza natural, nenhuma metrópole que tenha atraído a transumância, tampouco nenhum local de peregruinação. Além disso, ao contrário do que ocorreu em todos os países vizinhos, a densidade demográfica das colinas de Ruanda, uma das mais elevadas do mundo, não deixou muito espaço para os imigrantes, suas línguas e tradições próprias - nem na região árida do Bugesera nem no resto do país. (HATZFELD, 2005, p. 103)
Quanto à mão-de-obra, cerca de 90% das pessoas trabalha com atividades agrícolas, sendo a base da economia da população a agricultura de subsistência. A pecuária é dificultada pela exiguidade de água, terra e alimentos, além de fato de existirem muitas epidemias entre os animais. A natureza inclinada dos terrenos também é um fator prejudicial, mas que não impede a população de plantar banana, batatas e mandiocas (produtos que, juntamente com o café e o chá, são importantes no setor agrícola) nas encostas das colinas, muitas vezes criando pequenos terraços.
O governo de Ruanda é uma República, sendo essa uma forma de governo no qual o chefe do Estado, chamado presidente da república, é eleito pelo povo ou seus representantes, tendo a sua chefia uma duração limitada. Sua eleição é feita através do voto livre e secreto, a cada sete anos, tendo o presidente direito de nomear o primeiro-ministro e todos os outros membros do gabinete. O atual presidente é Paul Kagame, que assumiu o cargo em 2000, junto com seu primeiro-ministro Pierra Habumuremyi. Kagame foi reeleito em 2010, tendo direito a mais sete anos de mandato.
Os conflitos armados em Ruanda remetem a sua diversidade étnica, que por sua vez refletem na política colonial européia ao colonizar e descolonizar os países. A colonização do território africano era preponderantemente de exploração e não de povoamento. As necessidades e nível de desenvolvimento das potências colonizadoras (Grã-Bretanha, França, Bélgica e Portugal) determinaram uma reorganização da geografia política africana, voltada para o mercado metropolitano, unindo e separando áreas e economias, sociedades e povos, não respeitando as diferenças culturais entre as diversas etnias e acabando por separar grupos que viviam em concórdia, por muitas vezes colocando-os em um mesmo território com grupos rivais. Esse posicionamento contribuiu bastante com a intensificação dos problemas na África - posterior a sua retirada do continente, os europeus deixaram o território com graves problemas econômicos, sociais e uma série de conflitos separatistas.
Um dos maiores exemplos de desavenças entre diferentes grupos étnicos foi entre hutus e tutsis, que habitavam o território que hoje é ocupado por Ruanda e Burundi, e que viviam em relativa harmonia até o início da colonização alemã na região. Até a Primeira Guerra Mundial, essa região dizia respeito à África Oriental Alemã. Em 1919, após o fracasso dos alemães na guerra, os belgas assumiram o controle do território, construindo uma sociedade de castas.
De início, para tentar entender o conflito hutus e tutsis, é necessário levar em consideração o quão dissemelhante este se apresenta em constraste de como se dá a etnização no continente africano. Na África negra, todos definem sua etnia de forma espontânea, sem constrangimento algum.
A África negra é uma formidável macedônia de etnias assumidas, cuja diversidade só se iguala ao espírito de tolerância que as equilibra. De resto, quando estoura um conflito que parece étnico, o mais frequente é que, na verdade, seja primordialmente regional – norte contra sul, planalto contra litoral -, ou religioso – cristãos contra muçulmanos -, econômico – apropriação de minas -, social – periferias contra o centro da cidade... A etnia não é a fonte da incompreensão e das violências, mas só um modo defensivo de agrupamento. (HATZFELD, 2005, p. 231)
Salientamos assim, como era casual apresentar sua etnia em Ruanda, e como a propaganda antitutsi difundida pelo presidente Habyarimana e outros era algo insólito.
Durante o processo de colonização da Bélgica, os tutsis representavam aproximadamente 15% da população de Ruanda. Estes eram predominantemente pastoreiros e apresentavam maior estatura, pele mais clara e nariz mais fino. Já os hutus, que eram maioria com 85% da população, possuiam menor estrutura, pele mais escura e tradição agrícola. A Bélgica implementou um sistema administrativo centralizado num governador-geral e, no caso de Ruanda, o território ficou dividido em 45 chefferies (condizente com a atual divisão em comunas) e 565 sous-chefferies (também condizente a atual divisão), todas chefiadas por uma maioridade tutsi (LUGAN, 1997), apesar destes serem minoria. Segundo Florencio (2011), esse modelo de administração colonial local via como propósito justamente acrescer a superioridade tutsi, beneficiando-os diante da administração colonial e treinamento militar, mormente no sitema educativo, pois este era um monopólio das missões católicas, e a Igreja, que desfrutava de uma enorme influência junto da administração belga, era extremamente adepta ao incentivo da tutsificação. Sobre o reinado tutsi, Hatzfeld (2005, p. 230) argumenta que os tutsis "na verdade, instauraram e mantiveram durante quase oito séculos, até a independência, uma monarquia cuja sofisticação e complexidade permanecem ainda hoje como um enigma para os historiadores e cuja lembrança é incisiva na memória coletiva hutu".
Ruanda, dentre outros países, fazia parte de "um conjunto complexo de pequenos 'reinos' interlacustres" (HERNANDEZ, 2008, p. 419), no qual uma hierarquia de poder verticalizada era implantada. Dessa hierarquia, baseada na autoridade de um soberano que possuía funções centralizadoras, faziam parte os aristocratas, conjuntamente de governadores de províncias que eram diretamente escolhidos pelo "rei", tal qual seus servidores. Nesse conjunto, porém mais particularizado em Ruanda, havia uma política baseada em uma sociedade predominante de castas, na qual a população de trabalhores agrícolas (bahutu) ficava a merce dos chefes políticos ou de clãs que administravam o gado (batutsi), hierarquizados.
Em Ruanda, a estrutura tradicional de dominação tutsi foi confirmada pelos colonialistas alemães e incorporada ao seu esquema de dominação. Com a derrota alemã na Primeira Guerra Mundial, o país passou à condição de protetorado da Bélgica, conferido por mandato da Liga das Nações. O domínio belga, mais incisivo e duro que os alemães, novamente firmou, a exemplo do que fora implementado pelo aparato colonial alemão, uma aliança com a elite tutsi. (SERRANO & WALDMAN, 2010, p. 220-1)
O assunto será mais profundamente discutido em posterior.
Aspectos fílmicos
"Deus nos tinha preservado do genocídio até a queda do avião
do presidente, depois deixou Satanás ganhar o jogo"
(FULGENCE BUNANI, in HATZFELD,2005, p. 161)
Hotel Ruanda (Hotel Rwanda) é uma coprodução norte-americana, sul-africana e britânica adaptada de um roteiro escrito por George Pearson e Keir Pearson e dirigida por Terry George. O filme, de gênero drama e possuindo 121 minutos de duração, foi lançado no ano de 2005, estrelado por Don Cheadle, Nick Nolte e Sophie Okonedo. A obra cinematográfica, que já foi considerada uma versão africana de A Lista de Schindler (Schindler's List), documenta a história real de Paul Rusesabagina em sua tentativa de salvar a vida de sua família e mais outros mil refugiados durante o Genocídio de 1994 em Ruanda, concedendo-lhes abrigo no Hôtel des Mille Collines, do qual era o gerente. Hotel Ruanda explora temas como genocídio, corrupção política e as repercussões da violência.
A película tem em suas primeiras cenas uma declaração vinda da rádio RTLM (Radio Télévision Libre des Mille Collines), uma estação de poder hutu, no qual um representante fala sobre o ódio dos hutus pelos tutsis - "when people ask me, good listeners, why do I hate all the Tutsi, I say: read our history". Ele argumenta que os tutsis colaboraram com os colonos belgas e roubaram suas terras, os açoitaram, e são, sem dúvida, traidores e invasores. Ele diz que os hutus são maioria e, por direito, Ruanda é a terra deles – e eles querem vingança.
Na sequência do filme, somos apresentados a Paul Rusesabagina, um homem simples, de etnia hutu, e ao Hotel Mille Collines, o qual ele gerencia. Estamos em Kigali, no ano de 1994, e levantes causados pelas etnias tutsi e hutu já tinham começado. Numa conversa informal, conhecemos também o Coronel Oliver e o General Bizimungu, que estão discutindo o acordo de paz da ONU (Organização das Nações Unidas), o qual o Coronel Oliver diz que não acha que os Interahamwe, a mais importante das milícias armadas pelos hutus, vão respeitar. Paul acredita que a paz vai prevalecer assim que o acordo for assinado e não haverá guerra. Vemos também um jornalista perguntando a um dos amigos de Paul qual a diferença entre tutsis e hutus, ao qual ele explica que os tutsis são mais altos e elegantes, e que foram os colonos belgas que criaram essa divisão entre as etnias, escolhendo essas pessoas com narizes mais finos e pele mais clara para governar o país. Quando foram embora, porém, sob pressão das Nações Unidas para favorecer a independência de Ruanda, os belgas decidem, através de uma série de processos, reformas e golpes, deixar o poder político para os hutus. Daí então estes resolvem se vingar.
Posteriormente, ao voltar para casa, Paul se depara com casas sendo queimadas, e acaba por encontrar sua família e vizinhos escondidos em sua casa, com medo dos soldados hutus. Aqui, temos a notícia de que o presidente Habiarymana, o qual pertencia a etnia hutu, tinha sido assassinado, mas Paul acredita fielmente que são rumores causados por agitadores. Mais tarde, porém, eles ouvem a RTLM comunicar que quem matou o presidente foram os tutsis, levando-o a acreditar que estariam assinando um acordo de paz, mas derrubando seu avião, ao invés. Ele então dá o sinal para o começo da rebelião: cortem as árvores altas.
A casa de Paul então é revistada, e ele não tem escolha senão levar sua família e vizinhos para o Mille Collines. No caminho, eles vêem fogo, armas e pessoas sendo levadas por toda parte. A cidade foi tomada. Chegando no hotel, a situação não parece boa: há uma confusão entre turistas tentando achar seus passaportes e aconselhando-os a contatar a embaixada. Uma mensagem dos Estados Unidos é escutada na rádio, na qual é falado que eles estão fazendo todo o possível para garantir a segurança de seus cidadãos que se encontram no meio do tumulto.
Os jornalistas arrumam incríveis imagens do massacre, todos chocados com tamanha violência e atrocidades. Eles planejam colocar no noticiário da noite. Paul afirma que exibir as imagens é a única maneira de ter uma chance de o mundo intervir, ao que o jornalista opina dizendo que mesmo que as pessoas vejam as imagens, elas dirão que a situação é execrável e continuarão a comer seu jantar.
Quando finalmente soldados chegam, são só para resgatar os turistas. O Coronel Oliver diz a Paul que o Ocidente, todas as superpotências, pensam que eles são lixos, que não valem nada, que nenhum dos soldados vai parar a matança. Só os brancos serão evacuados, e os africanos abandonados, pois a ONU permitiu aos soldados e representantes dos Estados Unidos e do Reino Unido no Conselho de Segurança a retirada de Ruanda dos agentes da ONU encarregados de manter a paz.
Depois que todos os ocidentais vão embora, o hotel é invadido pelo exército hutu. Paul entra em contato com a Sabena, a empresa a qual o hotel pertence, e os conta que os rebeldes invadiram o hotel e estão prestes a matá-los. Paul diz que a única maneira de parar o exército é contatando os franceses, pois são eles que abastecem os rebeldes hutus. O presidente da empresa, Tillens, então, consegue falar com o presidente da França e fazer com que o exército deixe o hotel em paz. Ele comunica a Paul que também pediu que os franceses e os belgas voltassem e resgatassem quem sobrou, mas ele tem certeza que isso não vai acontecer, por estes serem covardes e acharem que Ruanda não vale um só voto para nenhum deles. É oficial: nenhum resgate virá, nenhuma força de intervenção.
Uma das cenas mais fortes do filme é quando Paul se depara com centenas de corpos de cadáveres estirados nas estradas e, pela primeira vez desde que a guerra começou, é como se a realidade lhe batesse, e ele desaba a chorar.
Quando o genocídio atinge a marca de 500 mil mortos, o Coronel Oliver volta, com boas notícias: foi conseguido vistos de saída para algumas das famílias refugiadas. A família de Paul é selecionada, mas ele toma a difícil decisão de ficar e continuar ajudando aqueles que não puderam ir embora.
Acontece que a saída das famílias do hotel foi relatada a rádio de poder hutu, e os caminhões que os transportavam foram saqueados e invadidos. Uma matança começa mas, com sorte, eles conseguem fugir e voltar ao hotel, que nesse momento já está em situação precária - a polícia foi mandada embora, e não sobrou ninguém para protegê-los.
No meio do caos, rebeldes tutsis tomaram metade da cidade e propuseram um acordo que os generais hutus estão dispostos a aceitar: eles libertarão seus prisioneiros hutus em troca dos hutus liberarem os seus prisioneiros tutsis. Depois de mais alguns sustos, os soldados da ONU, junto com rebeldes tutsis, chegam para levar os refugiados embora, a um lugar seguro.
Finalmente, os caminhões que carregavam os refugiados chegam ao campo tutsi, depois da linha de batalha. Lá, eles encontram ônibus a espera, pronto para levá-los à Tanzânia.
O filme, uma coprodução entre United Artists e a Lions Gate Films, recebeu três indicações ao Oscar (melhor ator, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro original), uma indicação ao BAFTA (British Academy of Film and Television Arts) como melhor roteiro original e ganhou o "Prêmio do Público" no festival de Toronto, Canadá. No total, ganhou 14 prêmios e foi indicado 37 vezes.
Também merece destaque a informação de que Paul Rusesabagina foi consultado durante o processo de escrita do filme. E ainda que, apesar de o Coronel Oliver ser um personagem fictício, ele representa os militares canadenses no comando das forças de paz da UNAMIR (Nações Unidas da Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda), que tentaram proteger vidas mesmo com a falta de tropas.
Abordagem teórica e temática: o genocídio
"Esse massacre, não falávamos dele antes, porque era um assunto dos intimidadores que se preparava longe dos ouvidos. Não falávamos dele durante, pois havia coisa melhor a fazer; e agora dizem-nos que é preciso contar tudo. Contar o quê, se fomos os últimos a ter de falar? Contar o que vimos? Por que nós, se todo mundo viu da mesma forma? Por que não perguntar aos nossos compatriotas que contemplam seus bananais, de boca aberta, tranquilamente? Contar em detalhes o que fizemos? Para que serve, senão para sermos ainda mais castigados? Contar o porquê? Para quê, se nunca soubemos o que se tramava às escondidas?
O mais surpreendente é que antes ninguém pensou em nos explicar corretamente o porquê de nossas matanças,
e daqui para frente ninguém vai fazê-lo. A não ser para contabilizar os nossos anos de prisão"
(FULGENCE BUNANI, in HATZFELD, p. 254-5)
Devido à grande dificuldade em reconstruir a história de Ruanda em razão da escassez de elementos arqueológicos, dados linguísticos e tradições orais, a origem e o desenvolvimento do país não são exatas, mas vários pesquisadores e estudiosos propõem que a organização social de Ruanda tem como base um mito, que seria responsável pela fundação do sistema hierarquico e suas relações de desigualdades e assimetria que envolvem os três grupos etnoculturais (tutsi, hutu e tua). Os mitos, contados por sucessivas gerações, relatavam que os tutsis teriam origem celeste, sendo, desse modo, seres superiores pertencentes a uma civilização superior. Não cabia aos hutus e tuas protestarem, já que esses deveriam aceitar sua condição de servil passiva e espontaneamente.
Quanto à origem dos mitos, existem observações, já que não há nenhuma prova concreta de como eles chegaram à região dos "pequenos 'reinos' interlacustres" (HERNANDEZ, 2008, p. 422). Estudiosos do islamismo e do cristianismo argumentam que o mito de origem de Ruanda é o mito de Cam, presente em ambas tradições. Hernandez (2008) também explica que o mito de Cam já foi usado como justificativa de punição e escravidão em outros lugares da África, como, por exemplo, no Sudão e outros países do sul, bem como era presente na metade do século XIX na África Ocidental e Central.
Essas pesquisas baseadas em fontes primárias explicam a presença do referido mito em Ruanda, onde se acreditava que os tutsis eram descendentes diretos de Sem e, por isso, superiores; já os hutus e os tuas, por serem "filhos" do amaldiçoado Cam, eram inferiores. Esse mito criador de hierarquias foi reforçado por preconceitos ou mesmo por discriminação racial. Os tutsis eram etipóides, com estatura alta, nariz estreito e rosto fino. Já os hutus eram considerados inferiores dada sua origem banto, isto é, atarracados, de face redonda, com características físicas claramente negróides. Por fim, os tuas eram pigmeus e, por isso, mais desprezados ainda. (HERNANDEZ, 2008, p. 422)
Existem diversas versões do tal mito, não obstante todas elas argumentam que os tutsis e hutus seriam procedentes de Caim e Abel. De acordo com Gourevitch (2000, p. 57): "Na célebre história, o irmão mais velho, Caim, era um lavrador, e Abel, o caçula, um pastor. Eles fizeram oferendas a Deus – Caim orfetou parte de sua colheita, Abel seu rebanho. A oferta de Abel recebeu a consideração divina. A de Caim, não. Então Caim matou Abel". E ainda:
[...] Eles tinham significado, e embora não haja um consenso sobre que palavra designa melhor esse significado – "classes", "castas" e "posições" são as favoritas -, a origem dessa distinção é indiscutível: os hutus eram lavradores e os tutsis eram pastores e pecuaristas. Essa era a desigualdade de origem: o gado é um bem mais valioso que a produção agrícola, e embora alguns hutus possuíssem vacas e alguns tutsis cultivassem o solo, a palavra tutsi tornou-se sinônimo de elite política e econômica. (GOUREVITCH, 2000, p. 58)
A segunda interpretação refere-se a um personagem lendário, Gianga, e foi inicialmente abordada pelo historiador especialista em África Jan Vansina, e citada por Alberto da Costa e Silva em um de seus livros como historiador e africanólogo. Costa e Silva explica:
[...] herói mítico, Gianga, que teria sido fundador de numerosos estados. Grande caçador, grande ferreiro e grande condutor de bois, ele esculpiu os tambores reais, acendeu pela primeira vez os fogos sagrados, e doou à sua gente o ubuiru, o código esotérico da realeza. Gianga personificaria um estirado percurso histórico, durante o qual os tutsis passaram de hóspedes ou clientes dos bantos a parceiros privilegiados, num sistema de compromisso de poderes e de integração de culturas. (SILVA, 1992, p. 391-2)
Por fim, Hernandez (2008, p. 422) observa que "a tradição persistiu, ou seja, os tutsis, os hutus e os tuas mantiveram fidelidade constante à ordem social estabelecida, aceitando o mito (qualquer um deles) como verdade inquestionável". E, quanto ao paradoxo que era a sociedade de Ruanda, diz:
Constituía-se uma sociedade de castas, ao mesmo tempo que apresentava um sentimento de unidade nacional. Os fatores de coesão social como a fé, a língua e a lei valiam para os tutsis, hutus e tuas. Quando, em 1890, os alemães tornaram-se colonizadores de Ruanda, mantiveram todas as justificações míticas, sobretudo a que hierarquizava as três castas, reforçando, sobremaneira, as ideias de dominação e de submissão, enquadrando-as no âmbito dos propósitos da burocracia colonial. (HERNANDEZ, 2008, p. 424)
Em 1955, as mudanças ocorridas tanto no cargo de vice-governador tanto na direção da igreja, incluindo a nomeação de um novo vigário, resultam em mudança, pois nem o novo vice-governador tampouco o novo vigário eram favoráveis à causa hutu. E é neste contexto político-ideológico que, em 1957, surge um documento chamado Manifeste des Bahutu, relatando a exploração histórica dos tutsis sobre hutus e a situação de desigualdade social existente entre os dois grupos étnicos. O documento, encaminhado à administração colonial belga, buscava a alteração da situação, e visava realizar mudanças democráticas.
À parte os protestos da elite tutsi, que clamavam sua natural e histórica superioridade, o Manifesto acarretou uma grande reação do Conselho do País, e a divisão étnica Hutu-Tutsi passou a ser pública e oficialmente assumida. De acordo com Florencio (2011), em razão dos protestos tutsis, o movimento hutu cresceu rapidamente, dando origem a dois partidos políticos a favor dos hutus, o PARMEHUTU (Parti du Mouvement de l'Emancipation Hutu) e a APROSOMA (Association pour la Promotion Sociale de la Masse). Em contra ponto, a elite tutsi cria a UNAR (Union Nationale Ruandaise), que, embora multiétnico, é vigorosamente dominado pela aristocracia tutsi. Desse modo, a nova aliança entre os hutus, a Igreja Católica e a administração belga foi fomentada, enquanto as mesmas tornavam-se inimigas dos tutsis e sua causa.
Através de uma série de processos, incluindo várias reformas, o assassinato do rei Mutara Charles III e a fuga do último monarca do clã Nyiginya, o rei Kigeri V, para Uganda, os hutus ganharam mais poder e, em 1959, se revoltaram com a condição em que estavam, chegando a aprisionar militares tutsis e cortar os seus pés a golpes de facão, com o objetivo de diminuir a diferença de estatura (e, simbolicamente, as diferenças sociais). Em 1º de julho de 1962, Ruanda adquiriu seu status de República e, no ano seguinte, a Bélgica reconheceu sua independência e retirou suas tropas do país. Nesse momento iniciou-se a perseguição aos tutsis, em 1963, e tutsis exilados no Burundi voltaram para Ruanda organizados em exército. Contudo, foram massacrados pelos hutus. Outros massacres aconteceram até que, em 1973, através de um golpe de estado, o coronel Juvénal Habyarimana, de etnia hutu, assumiu a presidência do país. Com isso, a minoria tutsi ficou à mercê dos hutus, sendo obrigada a asilar-se em Uganda, a fim de organizar uma nova tomada de poder. Os conflitos cessaram durante 20 anos.
Na década de 1990, houve eclosão de conflitos em vários pontos do continente africano, sendo um dos casos mais alarmantes Ruanda (DIALLO, 2011). Em abril de 1994, os presidentes hutus de Ruanda e Burundi foram vítimas de um atentado que derrubou o avião onde viajavam juntos, retornando de uma conferência na Tanzânia. A morte desses líderes desencadeou a volta dos massacres.
Em Kigali, capital de Ruanda, os massacres começaram logo na noite de 6 de abril de 1994, poucas horas depois do presidente Habyarimana ser assassinado. Mesmo antes da morte do presidente, se sabia que a matança iria acontecer - via-se hutus treinando nas milícias, e era anunciado na rádio, nos jornais, comentado pelas pessoas. "Desde 1992, todos os programas dos partidos hutus propunham matanças de tutsis. Eram meticulosos e fundamentados. Eram lidos nos comícios, calorosamente aplaudidos pela plateia. Eram repetidos no rádio [...]. Todo mundo podia conhecê-los e entendê-los, principalmente os brancos e os tutsis" (HATZFELD, 2005, p. 197). Um dos assassinos condenados, entrevistado pelo jornalista francês Jean Hatzfeld para seu livro Uma temporada de facões, relata:
No dia 10 de abril, o burgomestre, de traje plissado, e todas as autoridades nos convocaram para uma reunião. Passaram-nos um sermão, ameaçaram de antemão aqueles que fizessem um serviço porco; e as matanças começaram sem um método elaborado. As únicas regras eram perseverar até o fim, manter um ritmo satisfatório, não poupar ninguém e pilhar o que se encontrasse. Era impossível se atrapalhar. (2005, p. 26)
Os primeiros a morrer foram aqueles que se opunham à ideologia do Poder Hutu, aqueles que eram denunciados como cúmplices dos tutsis. "O seu nível e sua fortuna não podiam salvá-lo da morte se você deixasse escapar uma bondade com os tutsis diante de olhares desconhecidos" (HATZFELT, 2005, p. 89). Os assassinos trabalhavam durante o dia todo e, à noite, festejavam. De manhã, acordando cedo, seguiam para ouvir as instruções do dia e comiam alimentos nutritivos para ter força. Eram orientados na maneira como matar, nas técnicas, se essas não sabiam. As crianças, por sua vez, que já escutavam os xingamentos e maldades ditas perante os tutsis desde pequenas, eram postas para olhar – algumas participavam dos atos, mas a maioria estava lá apenas para observar e aprender.
A cultura ruandesa era uma cultura de medo. Os tutsis tinham sido psicologicamente preparados para a morte, e muitos não chegavam a lutar pela sua vida, deixando-se matar. Essa prontidão para morrer mostra como o genocídio já estava sendo preparado há muito tempo.
Indubitavelmente, as maiores figuras consideradas culpadas pelo genocídio foram os líderes revolucionários, os homens de negócio. Por Ruanda ser um Estado conformista, a população – especialmente a classe mais baixa, como os camponeses, que constatavam pessoas de um patamar socioeconômico mais elevado se comportando de tal maneira – obedece a ordens muito facilmente. Mesmo que os líderes não tenham matado com suas próprias mãos, estes deram ordens ao povo, que mataram múltiplas vezes mais.
Matar é muito desestimulante, até mesmo um animal, se você tem de tomar pessoalmente a decisão de fazê-lo. Mas se tem de obedecer às ordens das autoridades, se foi adequadamente sensibilizado, se for impelido e arrastado, se vir que a matança será total e sem consequências nefastas no futuro você se sente tranquilo e sossegado. Vai em frente sem mais nenhum acanhamento. (HATZFELD, 2005, p. 58)
A despeito do que a comunidade internacional pode dizer, a violência física entre as etnias tutsis e hutus começou em 1959, com o espancamento e suposta morte de Dominique Mbonyumutua, um ativista político hutu, sendo seus agressores ativistas políticos tutsis. Após esse caso, tem-se relato de bandos hutus que atacaram autoridades tutsis, dando início a "Revolução Social" (GOUREVITCH, 2000, p. 72). Foi exatamente essa revolução popular que levou os líderes hutus ao poder na independência, em 1962. Segundo Hatzfeld (2005, p. 64), "essa revolta camponesa hutu derrubou a aristocracia tutsi e aboliu as servidões, que a população hutu, majoritária, não suportava mais". Desde então, o tutsi passou a ser visto pela administração populista como uma figura conspiradora, pérfida. Com Juvénal Habyarimana, o regime anti-tutsi foi reforçado, em 1973, isolando os tutsis, acusados de comportamentos sub-reptícios, confiscando seus bens, deslocando a população e aplicando leis de exclusão, tais como cotas escolares e leis de proibição ao casamento misto. Com isso, elucubrações históricas, diatribes, programas e músicas anti-tutsi começaram a ser feitos, pregando sua destruição, e alguns assassinatos e matanças não calculados passaram sem punição (HATZFELD, 2005, p. 65).
Ainda no governo de Habyarimana, quando havia assassinatos tutsis, ocasionalmente era realizada a prisão dos responsáveis, mas estes eram logo soltos em seguida. Não havia nenhum julgamento, nem processos por causa dos massacres. Algumas vezes, devido a inquietude estrangeira, o governo delineava os massacres como atitudes espontâneas, atos populares de raiva ou autoproteção. Os ruandeses, porém, sabiam que não se tratava disso. Às vezes, as autoridades locais aproveitavam-se dos massacres para tomar terras e posses dos tutsis assassinados.
De acordo com Hatzfeld (2005, p. 78) - e com base em alguns historiadores do Holocausto -, regularmente, para um genocídio ser efetuado, são necessárias quatro fases. "Primeiro, a da humilhação e da decadência; depois, a designação e a marcação [...]; em seguida, a deportação e a concentração; enfim, a eliminação total". Em Ruanda, o genocídio pulou duas fases, a da marcação e da concentração, que foram tomadas por desnecessárias justamente por Ruanda ser um país de imenso vilarejo, onde todos se conhecem, todos possuem uma relação de vizinhança. Não era necessário, portanto, que os assassinos reconhecessem as vítimas como tutsis, pois estes já as conheciam, sabiam a que etnia pertenciam por serem vizinhos e conhecidos de longa data – não era, na maioria das vezes, necessário checar quem era ou não tutsi.
Em 1933, o governo belga empreendeu um censo, tendo como objetivo apresentar o grupo étnico de todos os cidadãos em suas carteiras de identidade, nas fichas de contratação e qualquer outro documento oficial, rotulando os ruandeses como hutu, tutsi e tua. "As carteiras de identidade tornaram virtualmente impossível aos hutus se transformar em tutsi, e permitiram que os belgas aperfeiçoassem a administração de um sistema de segregação enraizado no mito da superioridade tutsi" (GOUREVITCH, 2000, p. 69). Algumas vezes, esses documentos vieram a ser úteis aos milicianos e militares do genocídio, em ocasiões de procura em cidades desconhecidas e fronteiras. Porém, em sua grande maioria, esses documentos não foram precisos, justamente pelas mortes terem se concentrado mais nos campos e vilarejos.
As mulheres foram significativamente postas de lado durante o genocídio: em segundo plano e guiadas pelos maridos, ficavam em casa, esperando o homem voltar da matança, ou saiam para saquear, contanto que voltassem a tempo de providenciar uma refeição pronta para quando o marido voltasse cansado, à noite. Em sua maioria, permaneciam caladas quanto ao genocídio. Não davam opinião, não participavam diretamente de nada. Poucas criticavam os maridos pelo que estavam fazendo – elas sabiam que, ao fazer isso, poderiam prejudicar o marido e sua família. "Na família ruandesa, é o homem o primeiro responsável pelas coisas boas e ruins, aos olhos das autoridades e dos vizinhos" (HATZFELD, 2005, p. 124), logo, se uma mulher escondia algum conhecido tutsi e era flagrada, a culpa caia sobre seu marido, que era condenado a cortar esses conhecidos publicamente.
Quanto às mulheres tutsis casadas com homens hutus, essas poderiam ser poupadas dependendo de como seu marido se comportaria nas matanças – se matasse sem hesitação e de maneira branda, ela não corria riscos, mas se hesitasse ou mostrasse qualquer afabilidade para com os tutsis, a mulher era então morta.
Após um tempo depois do começo, alguns génocidaires, começaram a se cansar da mesmice que eram seus dias. Consequentemente, como forma de procurar "se divertir", começaram a torturar os tutsis, no lugar de matá-los de forma direta e rápida. "As torturas eram atividades suplementares, depois de decisões individuais ou de pequenas reuniões. Eram pura distração, como uma recreação no meio de uma longa labuta. Mas as ordens eram apenas para matar, só" (HATZFELD, 2005, p. 148). Houve, porém, torturas voluntárias e não voluntárias – alguns tutsis acabavam sofrendo por causa de falhas técnicas na hora do decepamento, e eram deixados à mercê de si próprios, feridos e abandonados, por causa do desleixo dos atacantes.
Muitos líderes se absteriam de proteger os tutsis, escolhendo o caminho mais fácil, entregando-se à desumanidade. Com medo de morrer, líderes, padres e pessoas comuns, hutus, escolheram apenas sentar de braços cruzados, sem fazer nada. Paul Rusesabagina, ao qual o filme Hotel Ruanda presta homenagem, foi, entre muitos que poderiam ter feito alguma coisa, um dos únicos a agir contra os atos do Poder Hutu. Ao tentar proteger alguns tutsis, Paul corria imenso risco. Em uma das conversas tidas com Paul Rusesabagina para seu livro, Gostaríamos de informá-lo de que amanhã seremos mortos com nossas famílias, o jornalista Philip Gourevitch relatou que Paul, no Hôtel des Milles Collines, possuia um telefone e, com esse, tentou chamar a atenção internacional para a situação de seus hóspedes. Ao relembrar desses acontecimentos, Paul comenta que "a [Igreja da] Sagrada Família também tinha uma linha telefônica, e [...] nunca a usou" (2000, p. 159). Além disso, mais tarde, quando o autor reflete sobre por que outras pessoas não atuaram como Paul, o mesmo observa: "É um mistério. Todo mundo poderia ter feito isso".
Em dezembro de 1946, logo após o Holocausto, o genocídio foi declarado, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, um crime perante o direito internacional. Em dezembro de 1948, a Assembleia ainda foi mais longe, adotando a Resolução 260A(III), a Convenção para a Prevenção e Repressão do Crime de Genocídio, a qual ditava que ações cometidas com a intenção de destruir, no todo ou em parte, um grupo nacional, ético, racial ou religioso deveriam ser prevenidas e punidas. O artigo 1º da Convenção diz que "as Partes Contratantes confirmam que o genocídio, seja cometido em tempo de paz ou em tempo de guerra, é um crime do direito dos povos, que desde já se comprometem a prevenir e a punir". Como bem se sabe, essa promessa não foi cumprida, pois, assim que os atos genocidas começaram a tomar parte de Ruanda, as forças internacionais marcaram partida.
"Os brancos não querem ver aquilo em que não conseguem acreditar, e não conseguiam acreditar num genocídio porque se trata de uma matança que deixa todo mundo pasmo, tanto a uns como aos outros." Então, foram embora. (HATZFELD, 2005, p. 105)
Em 21 de abril de 1994, o comandante da UNAMIR (Missão de Assistência das Nações Unidas para Ruanda), o general-de-divisão Dallaire, anunciou que, com uma carta branca para combater o Poder Hutu e cinco mil soldados bem equipados, ele poderia rapidamente suspender o genocídio. Todavia, no mesmo dia, o Conselho de Segurança da ONU validou uma resolução que reduzia o contingente da UNAMIR em 90%, "ordenando a total retirada, com exceção de 270 tropas cujas ordens lhes permitiam pouco mais do que se agachar atrás de seus sacos de areia e observar" (GOUREVITCH, 2000, p. 177). O abandono de Ruanda pelas forças da ONU tinha sido a maior vitória diplomática do Poder Hutu até então: "tinham se desvencilhado das últimas pessoas que podiam atrapalhá-los, se posso dizer assim" (HATZFELD, 2005, p. 104).
A posteriori, sobre a atuação da comunidade internacional perante o genocídio:
No que diz respeito aos interesses políticos, militares e econômicos das potências mundiais, [Ruanda] tem tanta importância quanto Marte. Na verdade, Marte é provavelmente mais importante do ponto de vista estratégico. Mas Ruanda, ao contrário de Marte, é povoada por seres humanos, e quando Ruanda sofreu um genocídio, as potências mundiais abandonaram-na à própria sorte. (GOUREVITCH, 2000, p. 176)
No início de junho de 1994, o que estava a acontecer em Ruanda já era considerado genocídio há tempos. Porém, algumas entidades internacionais, como o chefe da Comissão de Direitos Humanos da ONU e o governo do presidente Bill Clinton, nos Estados Unidos, continuavam por optar não utilizar a palavra genocídio. À guisa de exemplo, a formulação oficial aprovada pela Casa Branca era "atos de genocídio podem ter ocorrido" (GOUREVITCH, 2000, p. 179). Christine Shelley, uma porta-voz do Departamento de Estado, uma vez foi perguntada sobre a não utilização da palavra genocídio pela imprensa. Ela disse que "há obrigações que aparecem em conexão com o uso do termo".
Quanto a França, esta continuava em comunicação com Kigali, mas adotava a posição oficial do governo genocida:
De que, longe de ser um assunto político, os massacres dos tutsis eram o resultado da fúria popular que se seguiu ao assassinato de Habyarimana; de que a "população" havia "se levantado unida" para se defender; de que o governo e o exército queriam apenas restaurar a ordem; de que a matança era uma extensão da guerra com a FPR [Frente Patriótica de Ruanda]; de que a FPR começara a guerra e era o maior agressor – em resumo, de que os ruandeses estavam simplesmente matando-se uns aos outros como estavam acostumados a fazer, por arcaicas razões tribais, desde tempos imemoriais. (GOUREVITCH, 2000, p. 182)
Entretanto, em 22 de junho de 1994 o Conselho de Segurança, desejando se livrar da vergonha trazida ao negar reforços a Ruanda, endossou uma expedição francesa, dando-lhe um mandato de dois meses e permissão para usar as forças de agressão que foram sistematicamente negadas à UNAMIR. De tal forma, no dia seguinte, entrava em ação a Opération Turquoise, que se deslocava de Goma para o noroeste de Ruanda.
A França assegurou ao Conselho de Segurança que seu objetivo em Ruanda "naturalmente exclui qualquer interferência na evolução da correlação de forças militares entre as partes envolvidas no conflito" (GOUREVITCH, 2000, p. 185). Sendo que, uma semana depois de sua chegada, as tropas francesas ocupavam aproximadamente um quarto do país, e sua "ação humanitária" foi reinterpretada, declarando agora que sua intenção era transformar o território conquistado em uma área protegida. Essa área, porém, acabou por proteger aqueles que haviam perpetrado os massacres, não aqueles vítimas do mesmo. A FPR, então, lançou uma ofensiva capaz de limitar a operação, e, em 2 e 4 de julho, respectivamente, conquistou Butare e Kigali, anulando os planos do Poder Hutu para aquele dia, que envolviam a erradicação total dos tutsis da capital. "A Operátion Turquoise acabou ganhando crédito pelo resgate de pelo menos 10 mil tutsis no oeste de Ruanda, mas outros milhares continuavam a ser mortos na zona ocupada pelos franceses" (GOUREVITCH, 2000, p. 186).
Durante o verão de 1994, a FPR, um exército rebelde liderado por tutsis que haviam fugido de perseguições anteriores, avançou país adentro, chegando a Butare e Kigali e eclipsando o genocídio. Impulsionados pelo medo que a FPR tratasse o Poder Hutu como esse havia tratado os tutsis, cerca de dois milhões de hutus fugiram para o exílio, sob ordens de seus líderes – os mesmos que os exortaram a massacrar. Convém esclarecer que, a fortiori, a FPR matou, sim, vários hutus – "os 50 mil corpos que podem ser encontrados no lago Vitória, e que ameaçam o lago de poluição, vêm de massacres que só a FPR pode ter cometido", diz o locutor da RTLM (GOUREVITCH, 2000, p. 190).
Apesar de um discurso oficial que condena o divisionismo e argumenta que "já não há hutus nem tutsis, apenas ruandeses", o genocídio que dividiu o Ruanda em vítimas e genocidas continua a determinar a forma como se faz política no país. Ulteriormente ao genocídio de 1994, Ruanda visou adotar políticas severamente intolerantes a qualquer tipo de desigualdade que pudesse gerar algum embate social e político. À feição de exemplo, a atual Constituição da República de Ruanda, empregada por um referendo nacional em 2003 e revista por diversas vezes até 2010, substitui a constituição de transição que estava em vigor desde 1994. A atual constituição designa um sistema multi-partidário de governo, com políticas baseadas na democracia e na escolha dos representantes através de eleições, como dantes citado. A constituição também prescreve condições sobre a forma como os partidos políticos podem operar. O artigo 54, por exemplo, afirma que "political organizations are prohibited from basing themselves on race, ethnic group, tribe, clan, region, sex, religion or any other division which may give rise to discrimination." Também foram aprovadas diversas leis criminalizando a ideologia genocida e todas as suas manifestações para erradicar o étnico, regional e qualquer outra forma de divisões. "Under the guise of preventing another genocide, the government displays a marked intolerance of the most basic forms of dissent". Tais leis são extremamente amplas e, "as many Rwandans have discovered, disagreeing with the government or making unpopular statements can easily be portrayed as genocide ideology, punishable by sentences of 10 to 25 years",. A Anistia Internacional também é crítica, alegando que as leis de ideologia de genocídio vêm sido usadas como uma maneira de impor o silêncio, encobrindo as críticas às decisões do governo, limitando a oposição política e silenciando os ativistas dos direitos humanos e os jornalistas.
Considerando a amplitude que o conceito "ideologia do genocídio" pode representar, a Anistia Internacional argumenta que, em Ruanda, até mesmo aqueles de conhecimento especializado da lei, como advogados e juízes, não conseguem definir precisamente o conceito empregado, notando que a lei do genocídio é, em si, abstrata e ampla.
Em julho de 2013, foi aprovado um projeto de lei sobre a ideologia de genocídio e ofensas relacionadas, o qual visava explanar mais o que exatamente se julga por "ideologia de genocídio". A nova lei também apresenta uma redução da penalidade, visto que, anteriormente, podia-se chegar a vinte e cinco anos ou até mesmo prisão perpétua, e agora se varia de cinco a nove anos, além de multas entre 100 mil e um milhão de francos. Outro elemento novo no projeto de lei é que, para serem delatadas, as ofensas precisam ter sido cometidas em espaço público. Na lei de 2008, era permitido prestar queixa mesmo que as acusações tivessem sido ditas em privado, o que, por vezes, levava a falsas denúncias. A lei também define os diferentes atos que constituem a ideologia de genocídio, incluindo incitamento à prática de genocídio, negação do genocídio contra os tutsis, banalização do genocídio ou justificação do mesmo, esconder ou destruir evidências de genocídio ou de outros crimes contra a humanidade e roubo ou destruição de restos mortais de vítimas e sobreviventes do genocídio.
Conclusão: resultados e discussões
"O medo continua presente, palpável a todo instante, sem que saiba
quantas gerações sofrerão até que ele se esfume"
(HATZFELD, 2005, p. 207)

A partir do acompanhamento do filme Hotel Ruanda, é possível ter uma interpretação mais visual dos acontecimentos que tomaram lugar em Ruanda, no ano de 1994. A temática do genocídio, por ser extremamente ampla, pode ser sempre debatida e percebida de diversas formas, criando no telespectador e leitor uma visão crítica individual sobre os acontecimentos, capacitando-o para interatuar como transformador crítico-social.
De forma geral, as observações obtidas a partir dessa pesquisa nos levam a diversas reflexões, tais como o porquê da comunidade internacional, em uma época tão recentemente envolvida com o Holocausto, não ter feito nada para deter o estado em que se encontrava Ruanda. São reflexões que nos induzem a perceber que, para muitos, determinados países e suas respectivas populações chegam a ser, de fato, mais importantes que outros.
Leva-se também a reflexão do efeito manada, o qual entrou em vigor em Ruanda quando hutus começaram a matar, vendo que seus vizinhos e líderes faziam o mesmo. Entramos, então, em um debate moral e étnico, a respeito das matanças, dos direitos humanos, da humanização de cada um – por que mais pessoas não agiram como Paul Rusesabagina, ajudando os refugiados? Por que a maioria dos tutsis simplesmente desistiu de lutar, aceitando a morte de forma tão submissa? São perguntas a serem discutidas, mas aparentemente sem respostas.
Até hoje, as questões referentes ao genocídio continuam em aberto. As negociações de perdão, por exemplo, juntamente com a condenação dos génocidaires são temas dos quais não se pode achar uma solução que agrade a todos.
Em meados de dezembro de 1996, Ruanda havia, finalmente, começado a realizar julgamentos relacionados ao genocídio. Vale a pena ressaltar que nunca antes no mundo alguém havia sido levado ao tributal pelo extraordinário crime de genocídio. Nos julgamentos, raramente existia um advogado de defesa, e a duração dos mesmos não era mais do que um dia. A preponderância das penas eram sentenças de morte ou prisão perpétua, mas vez ou outra as sentenças eram absorvidas e os presos conseguiam liberação mais cedo que o esperado, partindo então para campos de reeducação. A maioria também eram tribunais de primeira instância.
Vinte anos depois do genocídio, Ruanda exibe estatísticas surpreendentes: redução da pobreza de 56,7%, em 2006, para 44,9%, em 2011, e crescimento econômico de 8% ao ano, segundo o PNUD. Além disso, de acordo com o relatório Doing Business de 2014 da IFC (International Finance Corporation), o país aparece em 32º dos 189 países com mais facilidade para fazer negócio e em 9º no ranking de melhores nações para se abrir uma empresa. A reconstrução do país teve como base as doações de um mundo envergonhado pela falta de atitude perante o Estado ruandês em sua época crítica.
De acordo com o PNUD, Ruanda possui oito objetivos a serem alcançados para 2015: erradicar a fome e a pobreza extrema, alcançar o ensino primário universal, promover a igualdade entre os sexos e a autonomia das mulheres, reduzir a mortalidade infantil, aprimorar a saúde materna, combater a HIV, a malária e outras doenças, garantir sustentabilidade ambiental e desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento.
No dia 07 de abril de 2014, Ruanda realizou o Kwibuka 20, evento anual que relembra o Genocídio de 1994. Em 2014, a solenidade contou com a presença do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon. Ki-moon expressou seus pêsames pelos falecidos, mas principalmente pelo silêncio da comunidade internacional: "Many United Nations personnel and others showed remarkable bravery. But we could have done much more. We should have done much more. In Rwanda, troops were withdrawn when they were most needed. The shame still clings, a generation after the events."
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