SIGNIFICAÇÕES PRODUZIDAS NO BRASIL DOS CONTEÚDOS AUDIOVISUAIS DRAMÁTICOS SUL-COREANOS: ESTUDO DE CASO DOS DRAMAS

July 17, 2017 | Autor: Kamila Monteiro | Categoria: Cibercultura, Estudos Culturais, Hallyu, Kpop, Korean Popular Culture, Hallyu, Doramas
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Descrição do Produto

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS FACULDADE DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL – HABILITAÇÃO JORNALISMO

KAMILA RODRIGUES MONTEIRO

SIGNIFICAÇÕES PRODUZIDAS NO BRASIL DOS CONTEÚDOS AUDIOVISUAIS DRAMÁTICOS SUL-COREANOS: ESTUDO DE CASO DOS DRAMAS

GOIÂNIA 2014 1

KAMILA RODRIGUES MONTEIRO

SIGNIFICAÇÕES PRODUZIDAS NO BRASIL DOS CONTEÚDOS AUDIOVISUAIS DRAMÁTICOS SUL-COREANOS: ESTUDO DE CASO DOS DRAMAS

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), produzido no formato de monografia apresentado à Faculdade de Informação e Comunicação, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal de Goiás. Orientação: Profª Drª Rosana Maria Ribeiro Borges.

Goiânia, dezembro de 2014 2

KAMILA RODRIGUES MONTEIRO

SIGNIFICAÇÕES PRODUZIDAS NO BRASIL DOS CONTEÚDOS AUDIOVISUAIS DRAMÁTICOS SUL-COREANOS: ESTUDO DE CASO DOS DRAMAS Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), produzido no formato de monografia apresentado à Faculdade de Informação e Comunicação, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social, Habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal de Goiás, aprovado em ____ de dezembro de 2014, pela seguinte banca examinadora:

______________________________________________________________________ Prof. Dra. Rosana Maria Ribeiro Borges Universidade Federal de Goiás Orientadora

______________________________________________________________________ Prof. Ms. Maria Flora Ribeiro Costa Medeiros Universidade Federal de Goiás Membro

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RESUMO A onda coreana ganhou forças com o avanço da tecnologia e a expansão da globalização no mundo. Esta pesquisa busca entender como ocorre a construção e a representação da cultura sul-coreana aos olhos dos brasileiros, por meio de conteúdos audiovisuais dramáticos produzidos na Coréia do Sul e acessados no Brasil principalmente via ambiente web. Primeiro debateu-se o contexto histórico da Hallyu, considerando como se deu o seu inicio e a sua consecutiva ampliação, bem como os principais componentes da onda coreana. Em seguida, explicou-se sobre o surgimento dos dramas no país sul-coreano, juntamente com a análise do dorama You are the best Lee Soon Shin, em duas vertentes de temas. Por fim, através da aplicação de um questionário à pessoas que assistem dramas coreanos, com 185 participações, chegou-se ao perfil do dorameiro. Os dados levantados sobre o assunto foram localizados, na sua maioria, na Internet, por meio de site, blogs e fóruns no recolhimento de dados quantitativos. Posteriormente ocorreu a sistematização e análise de dados para o desenvolvimento de gráficos. Além do questionário, foram utilizados o levantamento bibliográfico, a análise de conteúdo e a análise de discurso como métodos de investigação. A base teórica da pesquisa é formada por autores da cibercultura, estudos culturais e comunicação de massa. Palavras chaves: Hallyu; onda coreana; dorama; significações sobre a cultura sul-coreana.

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ABSTRACT The Korean wave has gained strength with the advancement of technology and the expansion of globalization in the world. This research seeks to understand how the construction and representation of South Korean culture by Brazilians through dramatic audiovisual content produced in South Korea and accessed in Brazil occurs mainly via web environment. First discussed is the historical context of hallyu, considering how it has its beginning and its successive expansion, as well as key components of the Korean wave. Then it was explained on the emergence of South Korean dramas in the country, along with analysis of the drama You are the best Lee Soon Shin, two strands of topics. Finally, by applying a questionnaire to people who watch Korean dramas, with 185 shares, was reached at the dorameiro profile. The data collected on the subject were located mostly on the Internet via web site, blogs and forums in the collection of quantitative data. Later came the systematization and analysis to develop graphics. Addition to the questionnaire, the literature survey, content analysis and discourse analysis as research methods were used. The theoretical basis of the research consists of authors of cyberculture studies, cultural studies and mass communication. Keywords: Hallyu; korean wave; dorama; meanings about South Korean culture.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1– PRINCIPAIS ATORES NA CHAMADA DO DRAMA EYES OF DAWN...... 23 FIGURA 2 – PRINCIPAIS ATORES NA CHAMADA DO DRAMA DAEJANGGEUM.. 25 FIGURA 3– GRUPO DE K-POP GIRL GENERATION NO CLIPE RUNDEVILRUN……. 28 FIGURA 4 – CANTORA DE K-POP BOA NO CLIPE THE SHADOW............................... 29 FIGURA 5 – GRUPO DE K-POP 2NE1 NO CLIPE I AM THE BEST.................................. 29 FIGURA 6 – GRUPO DE K-POP EXO NO CLIPE WOLF – VERSÃO COREANA.......... 30 FIGURA 7 – REPORTAGEM DO JORNAL O ESTADÃO DE SÃO PAULO SOBRE O GRUPO SUPER JUNIOR E O SUPER SHOW NO BRASIL................................................ 35 FIGURA 8 – GRUPO CHAMPS DA EMPRESA JS ENTRETENIMENTO...................... 37 FIGURA 9 – PROGRAMA RUNNING MAN, COM PARTICIPAÇÃO ESPECIAL DO ATOR JACKIE CHAN E DO INTEGRANTE DO GRUPO DE K-POP SUPER JUNIOR, SIWON..................................................................................................................................... 39 FIGURA 10 – MINISTRO DA CULTURA CHOE KWANG-SHIK E REPRESENTANTES DO GOVERNO DURANTE REUNIÃO DE INAUGURAÇÃO DO COMITE CONSULTIVO REALIZADO NO SAMCHEONGGAK EM SEUL.................................... 41 FIGURA 11 – ORGANOGRAMA DOS PERSONAGENS.................................................. 52 FIGURA 12 – PASSO A PASSO DA CURVA KEUNJEOL................................................ 63 FIGURA 13 – PROTESTO DOS ANTI-HALLYU EM TÓQUIO NO DIA 19 DE MAIO DE 2013.......................................................................................................................................... 69

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LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – TOP DOS DRAMAS DE TV MAIS BEM CLASSIFICADOS DE TODOS OS TEMPOS NA CORÉIA DO SUL...................................................................................... 24

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LISTA DE MAPAS MAPA 1 – LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA CORÉIA DO SUL................................. 19 MAPA 2 – NÚMERO DE VISUALIZAÇÃO DO K-POP VÍDEOS NO YOUTUBE ATÉ O ANO DE 2011.......................................................................................................................... 31

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LISTA DE GRÁFICOS GRÁFICO 1 – DIVISÃO DOS DORAMEIROS POR REGIÃO DO BRASIL.................... 77 GRAFICO 2 – IDADE DOS DORAMEIROS....................................................................... 77 GRÁFICO 3 – ANO DO PRIMEIRO CONTATO COM OS DRAMAS.............................. 78 GRÁFICO 4 – INFLUÊNCIA DO PRIMEIRO CONTATO................................................. 79 GRÁFICO 5 – DIMINUIÇÃO DO INTERESSE POR PROGRAMAS BRASILEIROS..... 80 GRÁFICO 6 – AUMENTO NO INTERESSE PELA CORÉIA DO SUL............................. 80 GRÁFICO 7 – QUANTIDADE DE DRAMAS VISUALIZADOS....................................... 81 GRÁFICO 8 – INTERESSE EM K-POP............................................................................... 81 GRÁFICO 9 – LOCAIS DE VISUALIZAÇÃO DOS DRAMAS......................................... 82 GRÁFICO 10 – INTERESSE EM OUTROS PRODUTOS SUL-COREANOS................... 83 GRÁFICO 11 – DRAMAS POSSUEM ESTEREÓTIPOS.................................................... 84 GRÁFICO 12 – PRINCIPAIS SITUAÇÕES COM ESTEREÓTIPOS NOS DRAMAS...... 84

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 12 1. UM FENÔMENO DE NOME HALLYU........................................................................ 18 1.1 REDES DE TELEVISÃO SUL-COREANAS E OS DRAMAS........................... 22 1.2 A MÚSICA POP COREANA – K-POP................................................................... 26 1.2.1 A música pop coreana no Brasil................................................................... 32 1.2.2 O surgimento do pop brasileiro – B-pop....................................................... 36 1.3 OS PROGRAMAS DE VARIEDADE SUL-COREANOS.................................... 37 1.4 POLÍTICAS DE GOVERNO................................................................................... 39 2. O DORAMA: YOU’RE THE BEST LEE SOON SHIN.....................……..………..... 43 2.1. A DISPONIBILIZAÇÃO DO DRAMA NA INTERNET...................................... 44 2.2. K-DRAMA YOU’RE THE BEST LEE SOON SHIN………………………….…. 46 2.2.1 O autor: Jung Yoo-Kyung................................................................................ 47 2.2.2. Personagens Principais ................................................................................... 47 2.2.2.1 Família de Lee Soon-shin................................................................... 47 2.2.2.2 Família de Jon-ho............................................................................... 49 2.2.2.3 Família de Park Chan-woo................................................................ 49 2.2.2.4 Outros personagens principais.......................................................... 50 2.2.3

A

História

do

dorama

You’re

the

best

Lee

Soon

shin............................................................................................................................... 52 2.2.4. O consumo de bebidas alcoólicas no dorama You’re the best Lee Soonshin............................................................................................................................... 53 2.2.5. A indústria do corpo no dorama You’re the best Lee Soonshin............................................................................................................................... 56 10

3. OS DORAMAS COMO REPRESENTANTE CULTURAL DA CORÉIA DO SUL...61 3.1. ESTUDOS CULTURAIS........................................................................................ 64 3.2. A CIBERCULTURA............................................................................................... 71 3.3. REPRESENTAÇÃO CULTURAL DOS BRASILEIROS E A CORÉIA DO SUL POR MEIO DOS K-DRAMAS...................................................................................... 75

CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................ 86

REFERÊNCIAS..................................................................................................................... 91

GLOSSÁRIO.......................................................................................................................... 96

APÊNDICE............................................................................................................................. 97

ANEXO................................................................................................................................... 99

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INTRODUÇÃO

Meu nome é Kamila Rodrigues Monteiro. Tenho 21 anos, estou terminando minha graduação em Jornalismo e sou uma grande fã da cultura sul-coreana. Os desenhos animados sempre estiveram presentes na minha infância. O meu primeiro contato com os conteúdos asiáticos ocorreu quando eu tinha treze anos com o anime Naruto, produzido pela Studio Pierrot e TV Tokyo. Durante três anos consecutivos, a minha percepção sobre o Japão se restringia apenas ao anime. Com dezesseis anos e cursando o segundo ano do Ensino Médio, uma amiga, que também gostava de animes, me recomendou um dorama (telenovela japonesa), de nome Hana Yori Dango. O dorama possui duas temporadas, com cerca de 45 minutos cada episódio, e um live-action de duas horas. Depois de assistir ambos rapidamente, logo solicitei de minha amiga mais indicações de doramas. Em pouco mais de quatro meses já havia totalizado cinco doramas assistidos, que possuíam temas diferentes um do outro. A partir desse momento a minha curiosidade sobre o Japão cresceu e se alastrou para outras áreas da cultura nipônica como os costumes, a língua, a comida, a tradição, as roupas, o alfabeto, entre outros. O meu interesse por animes também aumentou com o tempo. Fascinada pela descoberta de outro mundo, a minha principal intenção era aprender o máximo possível e mostrar a cultura japonesa para outras pessoas. Na época, descobri que diversos países asiáticos, como Tailândia e a Coréia do Sul, também produziam doramas. Por curiosidade, pesquisei por alguns nomes na Internet e comecei a acompanhar as produções de outros países. No começo, a minha compreensão não foi fácil, afinal, era outra língua e outra cultura. Tudo era muito diferente do que eu estava acostumada. Entretanto, a minha vontade de compreender a cultura em si possibilitou a ampliação do meu entendimento em um curto período de tempo. Quando eu procurava por mais dados do dorama Skip Beat, que acompanhava online, me deparei com a informação de que os dois principais atores do programa fazem parte de um grupo de pop coreano que se chamava Super Junior. Mais uma vez, movida pela curiosidade, resolvi procurar pelo assunto na Internet. Para minha surpresa, ao digitar o nome do grupo no Youtube encontrei inúmeros videoclipes e gravações de shows. O primeiro MV que assisti foi Bonamana e vários fatores chamaram a minha atenção enquanto visualizava o vídeo. O primeiro foi notar que, apesar de cantar em coreano, durante muitos momentos na música havia a inserção de palavras em Inglês. Depois, me surpreendi com o número de integrantes do grupo. Exatas dez pessoas. 12

O ritmo dançante e a coreografia constante me impulsionaram a buscar mais informações sobre a música pop coreana, que mais tarde descobri ser denominada de k-pop, no caso abreviação para korean pop. Com isso, minhas buscas pelo universo sul-coreano começaram a ganhar mais força. Eu ainda tinha interesse pelo Japão, mas as minhas principais pesquisas e curiosidades sempre eram voltadas, com mais intensidade, para Coréia do Sul. Eu mesma só percebi essa mudança quando pude diferenciar claramente uma cultura da outra. Com as preferências finalmente definidas, todos os assuntos relacionados ao país sul-coreano começaram a chamar ainda mais a minha atenção, independentemente de serem informações de cunho comercial, econômico, esportivo ou cultural. A Coréia do Sul tornou-se um objeto de observação e estudo pra mim. A forma como iniciei esta introdução, de maneira pessoal e em primeira pessoa do singular, sucedeu por dois motivos. Primeiro, porque essa é a mesma maneira com que o pesquisador Henry Jenkin (2006) iniciou a introdução do livro Fans, bloggers and gamersexploring participatory culture, e também a mestranda da Universidade Tuiuti do Paraná, Giovana Santana Carlos, autora da dissertação O(s) fã(s) da cultura pop japonesa e a prática de Scanlation no Brasil (2011). Ambos, fãs de alguma cultura pop, utilizaram maneiras semelhantes para declarar, em suas produções, a forma como se identificam como pesquisadores e fãs. O outro motivo foi para demonstrar como geralmente ocorre o primeiro contato com os produtos de entretenimento asiáticos. Há situações diferentes em que algumas pessoas descobrem sozinhas. Entretanto, na maioria dos depoimentos, sempre há relatos de que o primeiro contato ocorreu por sugestão de um amigo. Com a aproximação da conclusão do meu curso em Comunicação Social Bacharelado em Jornalismo, e a inevitável produção de um Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), não foi necessário muito tempo para me decidir quanto ao tema da monografia. Eu sempre acreditei que o fato de alguém como eu (brasileira, goiana e falante de Português) ter acesso a conteúdos produzidos do outro lado do mundo e ainda ser capaz de compreender e entender o que dizem, não ocorreu simplesmente ao acaso. Como era possível que um fato como esse pudesse ocorrer em um estado do Brasil onde a cultura asiática, como um todo, não é muito divulgada? Goiás não possuiu bairros voltados para cultura asiática como São Paulo, que tem duas colônias, sendo elas o Bairro da Liberdade (voltado para os japoneses) e Bom Retiro (voltado para os coreanos). O estado de Goiás possui apenas uma escola de Língua Japonesa vinculada à Associação Nipo Brasileira de Goiás, (A.N.B.G), na qual são promovidos três eventos durante o ano, sendo eles: Bunkasai, Bon Odori e o Jantar Típico. A verdade é que o meu contato com esses conteúdos, assim como muitos brasileiros, está 13

relacionado com um fenômeno que vem ocorrendo há muitos anos pelo mundo, algo que os sul-coreanos estão desenvolvendo, divulgando e propagando desde a crise financeira asiática: trata-se da Hallyu, também conhecida como Korean Wave, que significa onda coreana em português. Da mesma forma que Carlos (2011) fez, pretendo construir uma sequência de análises. Pode-se dividir o fenômeno da onda em dois momentos, Hallyu 1.0 e 2.0. A primeira teve inicio depois da guerra das Coréias, quando os dois países terminaram os conflitos na miséria. Quando finalmente a Coréia do Sul começou a estabelecer-se financeiramente, eis que acontece a crise asiática. Os empresários e governantes perceberam na indústria do entretenimento a melhor saída da crise. Dessa forma, os grandes empresários começaram a desenvolver planos de comercialização de produtos midiáticos para mercados de outros países, focando primeiramente no continente asiático, e depois em países ocidentais. A indústria fonográfica foi a principal responsável pelo início da hallyu 2.0, principalmente no continente europeu e americano. A escolha dos dramas como objeto de estudo ocorreu no intuito de contribuir para os Estudos de Recepção e de pesquisas relacionadas com análises de conteúdos audiovisuais internacionais. O consumo de produtos como os dramas pela Internet tem aumentado cada dia. Se os fãs desses conteúdos tivessem que esperar por canais, abertos ou fechados, disponibilizarem os programas na televisão, a onda coreana não teria a mesma força que possui hoje no Brasil. Atualmente, além de blogs, sites e fóruns, também há presença da Netflix, que é uma empresa estadunidense responsável por oferecer serviços de TV por Internet. De acordo com o site de serviços da empresa, atualmente existe o registro de 44 milhões de assinaturas em mais de quarenta países. Desde o inicio do ano de 2014, a Netflix começou a oferecer alguns títulos de doramas como serviço, devido a solicitação dos próprios clientes. A iniciativa também surgiu quando a empresa percebeu o aumento na procura por programas de entretenimento da Coréia do Sul na Internet. A cultura sul-coreana começou a se espalhar rapidamente por países como a China, Japão e Tailândia. Um dos fenômenos responsáveis pela ampla distribuição no mundo é a própria globalização. Ao perceber o grande impacto que os produtos de entretenimento obtiveram na China, jornalistas chineses denominaram a rápida e crescente expansão da cultura sul-coreana em seu país como Hallyu. Este é justamente o tema do primeiro capítulo da presente monografia, no qual ocorre a demonstração de como ocorreu o início da Korean Wave, por meio do recorte histórico do país. O Capítulo 1 possui ainda exemplificação das três bases dos produtos que compõem a onda, quais sejam: a música pop (conhecida como k14

pop – korean pop); as novelas ou séries televisivas dramáticas (chamadas de dramas, as coreanas são os k-dramas) e os programas de variedades. Os grupos e shows que estiveram em terras brasileiras nos últimos sete anos, além de apresentar as influências do pop coreano na criação do pop brasileiro também estão presentes neste capítulo. Por último demonstram-se os objetivos das políticas de governo presentes na comercialização da cultura sul-coreana no mundo. No capítulo dois explico sobre o surgimento dos dramas na Coréia do Sul, com um recorte histórico do país. Depois utilizo o site de compartilhamento e distribuição de doramas online Viki como exemplo para descrever sobre os procedimentos realizados para obtenção dos conteúdos asiáticos. É importante ressaltar que os dramas não são disponibilizados automaticamente na Internet. Existe todo um processo de licenciamento para obtenção dos programas e posterior distribuição dos conteúdos na Web rede. Todo o procedimento é executado por pessoas especializadas, mas que também são fãs dos programas. Eu selecionei o dorama You are the best Lee Soo Shin como objeto específico de estudo, no intuito de analisar dois temas embutidos na sociedade sul-coreana. São eles: o consumo de bebidas alcoólicas e a indústria do corpo. A análise de conteúdo ocorre posteriormente à exposição de informações do drama, tais como quem são os personagens principais e um breve resumo da história. O principal ponto da presente pesquisa, que, como dito, objetiva identificar as representações e significações que os brasileiros têm formado da cultura sul-coreana, a partir do contato que estabelecem com os chamados dramas, vem a seguir. O capítulo três tem inicio na exposição da hipótese de que os doramas podem ser considerados como representantes culturais a partir do conceito de Williams (1994), de que os processos comunicativos estão inseridos em um campo cultural mais amplo, e que por isso a cultura não pode ser compreendida sem referência à sociedade, ou às práticas sociais dos indivíduos. Posteriormente, ocorre a revisão da literatura de autores que trabalham com temas relacionados a estudos culturais, como Hall (1999) e cibercultura Britto (2009). No meio acadêmico brasileiro os artigos e dissertações que possuem relação com a cultura pop japonesa ou coreana, são poucos. Existem mais pesquisas sobre o tema na Língua Inglesa. Por conta disso, este trabalho possui diversas referências à autores estrangeiros. A fim de montar o perfil do dorameiro, durante um mês eu apliquei um questionário em um grupo na rede social Facebook. Os participantes da pesquisa são pessoas que estiveram expostas a esses produtos sul-coreanos. O questionário (Apêndice) obteve 250 participações de fãs localizados em diferentes estados do Brasil. Todos responderam a onze 15

questões relacionadas a korean dramas, k-pop e ainda a programas de variedades, definidos por Sousa (2004). A pesquisa foi aplicada e desenvolvida via ambiente Web por conta da Hallyu ter obtido forças na Internet. De acordo com Britto (2009, p. 18) a onda coreana como fenômeno “se manifesta no âmbito do chamado ciberespaço e que é elemento de renovação acelerada da forma de relações de milhões de seres pelo planeta afora”. O trabalho é finalizado com a resposta de várias perguntas intrigantes desenvolvidas durante a produção da pesquisa. Um dos principais questionamentos refere-se à definição de dramas como representantes culturais da Coréia do Sul, pois assim como nas novelas brasileiras, acredita-se que os doramas estejam repletos de estereótipos culturais. Foi possível perceber também que a Internet é a principal fonte que os apreciados da cultura sul-coreana encontram para visualizar os conteúdos, seguida pelos canais fechados na televisão. Compreendi que tal feito só é possível graças à globalização dos conteúdos simbólicos, disseminados em rede. Das leituras e reflexões realizadas, hoje compreendo a globalização como um fenômeno de integração social, econômica, política e cultural de diferentes países do mundo, que, de inúmeras maneiras e por meio de diferentes redes, estabelecem relações de compartilhamento. No que se refere ao objeto do presente estudo, entendo que os principais fatores que levaram à expansão da cultura da Coréia do Sul no mundo foram políticos e sociais. No que se refere ao método, o escolhido para esta pesquisa foi o estudo de caso, uma vez que realizei análise em um programa audiovisual dramático. Para coleta de dados, a pesquisa utilizou instrumentos como análise de conteúdo, aplicação de questionários e observação participante e não participante em sites, blogs, fóruns e outras redes sociais. No recolhimento dos dados qualitativos, realizei o tratamento, a categorização e a sistematização de todas as informações. O trabalho também utilizou de instrumentos de sistematização e análise de dados no desenvolvimento de gráficos. É importante destacar que enquanto fã, as minhas pesquisas eram restringidas à procura por conteúdos culturais para entretenimento e crescimento próprio. Contudo, a partir do momento em que decidi trazer o assunto para a academia, minhas leituras foram alargadas, principalmente por teóricos que discutem a cultura pop, gêneros e formatos televisivos e a cibercultura. Atualmente, com mais de sessenta doramas assistidos, de temáticas diversas, todos pela Internet, acredito na importância de analisar este fenômeno cultural como um todo, assim como penso que este trabalho pode contribuir com futuras pesquisas relacionadas com a onda coreana, dramas, Estudos de Recepção e Coréia do Sul. Carlos (2001) ressalta que nós pesquisadores e fãs da cultura asiática buscamos a todo o momento o entendimento de como pessoas “comuns” unem-se em torno de um objetivo único, que diz respeito à Comunicação, 16

(re)criam uma realidade à parte, por vezes, das usuais formas de produção, circulação e consumo comunicacionais, com principal objetivo de ter acesso a conteúdos pouco disponibilizados nas mídias tradicionais, além de compreender os processos entre a produção e consumo destes produtos por parte dos fãs. Ao final do trabalho encontra-se um glossário com algumas palavras, conceitos e termos do cotidiano dos kpopper e dorameiros para que o leitor possa familiarizar-se com o assunto e situar-se no tema.

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CAPÍTULO 1 UM FENÔMENO DE NOME HALLYU

Quando algum brasileiro é questionado sobre o que é k-pop, geralmente a primeira pessoa que vem a cabeça é o Psy. A possível resposta se deve, provavelmente, por conta do recorde de visualizações que o artista tem no Youtube com o clipe Gangnam Style, ou com o recente videoclipe Hangover, gravado com o artista estadunidense, Snoop Dogg, visualizado 132 milhões de vezes na Internet. Entretanto, os seguidores de música pop coreana sabem que o estouro do k-pop iria acontecer a qualquer momento. Era apenas uma questão de tempo. Ao direcionar o olhar para o clipe em questão e observar os outros componentes que o acompanham, é possível perceber que este vídeo faz parte de um fenômeno cultural asiático que está atingindo diversos países da Europa, África e América. Essa é a chamada “onda” coreana (ou Hallyu em língua coreana). Essa onda não inclui apenas música, mas também filmes e TV dramas. Especialmente na Ásia a demanda por produtos culturais cresceu de determinada forma que começou a criar rivalidade com produtos e programas da cultura japonesa e americana. O sucesso e os números de PSY apenas comprovam que a onda coreana está expandindo e ganhando cada vez mais reconhecimento mundial. Quando se digita as palavras “onda coreana” ou “Hallyu” na ferramenta do site de busca do Google é possível encontrar diversos blogs, sites e reportagens que tratam sobre o assunto. Porém, não foi possível encontrar livros ou teóricos, até a publicação desta monografia, que discutissem o tema. No campo de pesquisa, principalmente acadêmica, já é possível encontrar alguns títulos de artigos e dissertações que possuem os produtos de entretenimentos da Coréia do Sul como objeto de estudo. Contudo, a quantidade de publicações ainda é pequena. É interessante observar que, ao escrever a mesma palavra, mas agora em Inglês (no caso Korean wave), nas buscas do Google, o número de resultados encontrados é menor, isso na categoria de blogs, sites e reportagens. Entretanto, na área de pesquisa, a busca demonstra que há trabalhos acadêmicos produzidos e divulgados na rede sobre o assunto, o que evidência o interesse de estudantes universitários, prováveis futuros cientistas, em observar este fenômeno com atenção e maior interesse.

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Mas, afinal, o que é a Hallyu e quão grande é essa indústria cultural? Fatores políticos e econômicos influenciaram na criação e expansão da onda? Por que ela teve início e como tudo começou? Para responder essas e outras questões é necessário fazer um regaste histórico da Coréia do Sul. Oficialmente conhecida como República da Coréia do Sul, o país constituiu a frase “Coréia Dinâmica” como lema nacional, que incorpora a modernidade e a tradição de uma nação que renasceu das cinzas após conflitos, guerras e crises econômicas. De acordo com o Serviço Coreano de Informações no Exterior (2006), atualmente a população da Coréia do Sul aproxima-se de 50 milhões de habitantes. O país é cercado ao Norte pela Coréia do Norte, ao Leste pelo Mar do Japão, ao Sudeste e ao Sul pelo Estreito da Coréia e, ao Oeste pelo Mar Amarelo, conforme pode ser observado no mapa que se segue: Mapa 1 – Localização Geográfica da Coréia do Sul

Fonte: Ezilon (2009)

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Ainda de acordo com Serviço Coreano de Informações no Exterior (2006), depois da Guerra Fria o país sul-coreano aliou-se às nações do Ocidente que lutavam pela democracia. O país buscou estruturar-se no ramo político e fortalecer as bases econômicas, visando futuros investimentos nos mercados internos e externos. Cerca de dois anos depois teve início a Guerra das Coréia (1950-1953), que levou os dois países a miséria. No livro Fatos da Coréia, lançado pelo Serviço Coreano de Informações no Exterior, é possível compreender como essa batalha envolveu diversos países do mundo e separou as famílias coreanas: A Guerra da Coréia foi uma consequência de conflitos ideológicos internos e foi vista por muitos como guerra de representação entre blocos Ocidental e Comunista. A Guerra da Coréia transformou-se numa guerra internacional de larga escala que envolveu 16 países membros da ONU e também a China e a União Soviética, do bloco comunista. A luta terminou por meio de um armistício, que criou uma linha de trégua de 155 milhas, dividindo a Península Coreana. (SERVIÇO, 2006 p. 51)

Apesar do fim da guerra em 1953, os conflitos entre Norte e Sul continuaram acontecendo durante muitos anos. A Coréia do Sul tentava unificar as penínsulas por meio da derrota do comunismo, enquanto a Coréia do Norte montou uma estratégia de “fortaleza revolucionária”, que visava a transformação do Sul em uma sociedade comunista. A desconfiança e hostilidade entre os dois países ainda perdura hoje, porém, as políticas de paz e prosperidade, implantadas pelo governo sul-coreano desde 1991, têm demonstrado resultados satisfatórios: Em 2005, terceiro ano da Política para a Paz e Prosperidade, houve resultados tangíveis nas relações inter-coreanas. Apenas nesse ano, um total de 88.341 coreanos, do Norte e do Sul, viajaram às regiões do outro, o que ultrapassou um total de visitas entre as Coreias (85.400) que ocorreram nos últimos 15 anos. Esse aumento no fluxo de pessoas é significativo pois ele prepara o caminho para que Norte e Sul formem uma só comunidade de reconciliação e cooperação por meio de abrandamento do sentimento de hostilidade decorrente de um maior entendimento mútuo. (SERVIÇO, 2006 p. 55)

Conforme relata os registros à época pós Guerra-Fria, a Coréia do Sul, devastada com as batalhas, se vê na necessidade de recuperar-se econômica. Em 1962 o governo sul-coreano começa a adotar uma política de desenvolvimento, que seria baseada em exportação de produtos nacionais para o mercado mundial. O principal objetivo era o fortalecimento das relações internacionais. No ano de 1970 o país sul-coreano ainda concentrava-se em projetar ações que pudessem unificar e gerar independência na península (SERVIÇO, 2006). Nas décadas de 1980 e 1990, ocorreu o processo de redemocratização no país, que até então era guiado por um regime militar. Os soldados coreanos, que serviam no Vietnã, voltam 20

para Coréia do Sul trazendo consigo diversas influências musicais como o rock dos Estados Unidos e o enka do Japão, além de vários ritmos de outros países. Com flexibilização das leis coreanas e o livre acesso aos programas estrangeiros, esperava-se que os coreanos absorvessem a cultura americana e a japonesa como sua. Entretanto, “no início dos anos 90 as músicas nacionais coreanas tomaram os rádios, doramas se enraizaram na programação televisiva e filmes coreanos não foram sufocados por Hollywood” (OTAKISMO, 2012). Choe (2012) relata que desde a década de 1950, as organizações industriais eram controladas por grupos empresariais de grande porte, que detinham o controle da maior parte das indústrias de diversos setores econômicos. Esses grupos são conhecidos como chaebols. A definição que o jornal online Folha de S. Paulo apresenta sobre esses grupos é de “conglomerados controlados por famílias, cuja hegemonia em grande parte da economia vem levando a Coréia do Sul a descrever seu país como a República do Chaebol” (CHOE, 2012). Ainda segundo o artigo do jornal, entre os grupos mais conhecidos no Brasil estão empresas como a Samsung, Hyundai e LG. A respeito do assunto, o Serviço Coreano de Informações no Exterior (2006) continua os registros relatando agora sobre a estabilidade da economia. Entretanto, eis que acontece a crise financeira asiática de 1998, atingindo todos os países do continente. A partir de 1998, o governo sul-coreano começou a adotar medidas, que tinham por objetivo reformar o setor financeiro, junto com o mercado de trabalho, além de reestruturar o setor público. Com a atenção sempre voltada para produção que possuíssem objetos tangíveis, como carro e televisão, a crise no país forçou os empresários a investirem em outras áreas do capitalismo, como por exemplo, a indústria entretenimento. Um dos principais objetivos dos empresários sul-coreanos, com foco na nova indústria, era investir em produtos culturais que pudessem resultar em futuros investimentos nos mercados nacionais da Coréia do Sul. No artigo de Otakismo (2012), contém a informação de que diferente do Japão, o país sul coreano possuía, na época, um público interno muito pequeno. O governo japonês disponibilizava maiores quantias em dinheiro para o próprio mercado, dessa forma fortalecendo a indústria interna. Enquanto isso, os empresários sul-coreanos financiaram o ainda não denominado fenômeno Hallyu, na intenção de reerguer a economia com a comercialização de produtos culturais nacionais nos mercados internacionais. A Coréia do Sul promoveu a expansão da cultura coreana em outros países em dois momentos. Ainda citando o artigo Otakismo (2012), o autor divide o fenômeno em duas etapas: Hallyu 1.0 e Hallyu 2.0. Na primeira, os pioneiros da expansão sul-coreana no 21

continente oriental foram os dramas sul-coreanos, também conhecidos por doramas. Mais adiante será explicado sobre o surgimento dos dramas e como ocorre a distribuição desses programas no Brasil. Por enquanto, pretende-se explicar neste Capitulo o que são dramas, visando ampliar a compreensão a respeito do assunto abordado. Em uma rápida pesquisa na Internet é possível encontrar várias definições de dramas/doramas. O site de pesquisa Wikipédia define dorama como: Série de televisão oriental seja ela J-Drama (drama japonês); K-Drama (drama coreano); TW-Drama (drama taiwanês); C-Drama (drama chinês) e até mesmo os Live-Action (filmes com pessoas reais quando um mangá ou anime faz sucesso). (DORAMA, 2014).

No site de compartilhamento de vídeos Youtube também existem diversas pessoas que disponibilizam seus vídeos e explicam o significado de doramas. Entre os canais há um que cujo nome é weareGDproductions, no qual um casal de amigos procura divulgar o k-pop, que também faz parte da onda coreana, em todo o Brasil. Em um dos vídeos publicados, os apresentadores explicam o que são esses produtos. De acordo com Dorama (2013) doramas “são pequenas novelas, tipo mini-séries, que normalmente duram até 20 episódios e contam diversas histórias das mais inusitadas as mais dramáticas e clichês”. Os dramas coreanos desempenham um importante papel no fenômeno Hallyu. Assim como as novelas brasileiras, os doramas também possuem diversas categorias. Os mais populares são os dramas históricos (ou épicos), comédia românticas, drama, ficção e policial. A duração do drama depende de quantos episódios estão programados a serem disponibilizados na televisão. Os doramas podem durar entre três a cinco meses no mínimo. Segundo Serviço (2006) as principais emissoras coreanas que produzem dramas são: Munhwa Broadcasting Corporation (MBC), Korean Broadcasting System (KBS) e a Seoul Broadcasting System (SBS).

1.1 REDES DE TELEVISÃO SUL-COREANAS E OS DRAMAS

A década de 1990 trouxe uma oportunidade de crescimento para as redes de difusão televisiva. Otakismo (2012) descreve que em 1990, a KBS e MBC começaram a perceber a concorrência que se iniciava com o surgimento de novas redes. Entre as emissoras emergentes, surgiu a SBS, que desencadeou uma forte concorrência entre as antigas redes para os telespectadores. Com isso a KBS e MBC tiveram que investir mais dinheiro e 22

patrocínio na confecção e realização de dramas para acompanhar a ampla concorrência. O dorama Eyes of dawn foi um novo marco em produções audiovisuais dramáticos. A emissora MBC investiu cerca de 200 mil dólares na produção do programa. Figura 1 – Principais atores na chamada do drama Eyes of dawn

Fonte: Eyes (2014).

Por meio da pesquisa realizada por Tuk (2012) nota-se que o drama Eyes of dawn conseguiu ser um sucesso na Coréia do Sul atraindo a atenção do público. Em 1992, a mesma emissora lançou o dorama Jealousy. A trilha sonora do dorama conquistou altos níveis de pontuação nos gráficos inspirou a indústria televisiva a pensar seriamente sobre a comercialização de conteúdos audiovisuais. Em 1996 a televisão a cabo estreou na Coréia do Sul. Como a ampla concorrência intensificada a qualidade dos dramas obteve uma melhora de execução e produção. Em 1996 a SBS colocou no ar o primeiro drama político Sandglass, que retrata a vida de três coreanos durante o regime autoritário de 1980. O dorama foi um grande sucesso com classificações de 64,5% de audiência Conforme demonstra o Quadro 1, disposto a seguir, os produtos audiovisuais dramáticos sul-coreanos foram bem-sucedidas na Coréia do Sul. Hoje em dia considera-se mais difícil que dramas obtenham altas audiências, em virtude da 23

disponibilização dos conteúdos na Internet. O drama First Love, produzido pela emissora KBS2, é analisado como o drama sul-coreano com melhor colocação entre audiência. Cerca de 65,8% dos coreanos estavam assistindo televisão na noite da transmissão do dorama. Quadro 1 – Top dos dramas de TV mais bem classificados de todos os tempos na Coréia do Sul 1

Drama First Love What is Love Sandglass Heo Joon Sunny Place of Youth You and I The Son and the Daughter Taejo Wang Geon Eyes of Dawn Daejungeum

Rating 65.8% 64.9% 64.5% 63.7% 62.7% 62.4% 61.1% 60.2% 58.4% 57.8%

Network KBS2 MBC SBS MBC KBS2 MBC MBC KBS1 MBC MBC

Year 1997 1992 1995 2000 1995 1998 1993 2001 1992 2004

Fonte: Tuk (2012).

Até o ano de 2004 a estação de TV MBC foi considerada como a emissora que mais conseguir obter maiores rating de audiência, no quesito produção de drama. Segundo Otakismo (2012) os doramas conquistaram, não só a Ásia, como também a Arábia Saudita, Rússia, Nigéria, Colômbia, Israel, Bósnia, Turquia e EUA. De acordo com site chuvadenanquim a “novela DaeJungGeum atingiu 86% de audiência nacional, chegando a 90% na capital Teerã”. Entre as cinquenta maiores produções de TV no gênero dramático da Coréia do Sul, 25 doramas foram produzidos pela emissora MBC. Figura 2 – Principais atores na chamada do drama Daejanggeum

1

A classificação foi baseada no índice mais alto para um único episódio dessa temporada. 24

Fonte: Daejungeum (2014)

A imagem anterior é composta pelo elenco principal do drama histórico, produzido pela emissora MBC, Daejungeum. O dorama faz parte da categoria sageuks (dramas de época) e possui um total de 54 episódios com cerca de uma hora cada. A história, que se passa no período da Dinastia Joseon2, gira entorno da vida de Jang-Geum. Uma cozinheira órfão que se torna o primeiro médico do sexo feminino do rei. Naquela época as mulheres não possuíam nenhuma influência ou poder, por isso a jovem aprendiz decide aprender todos os segredos da culinária coreana, no intuito de curar as diversas doenças que o rei tinha. A história é baseada na vida de Jang-Geum3. Com o passar do tempo o valor da produção dos dramas aumentou consideravelmente. De acordo com Sung (2010) no ano 2000, uma estação de televisão de Taiwan, Gala TV, pagou cerca de mil dólares em um episódio de drama produzido na Coréia do Sul. Em comparação, na mesma época, uma emissora Japonesa pagou em entorno de doze mil dólares na transmissão de um drama no país japonês. Os países asiáticos vizinhos começaram a voltar 2

A dinastia Joseon teve inicio em 1932 com o General Yi Seong-gye. Os primeiro ministradores de Joseon, no intuito de combater a dominante influência budista do período Goryeo, apoiaram o Confucionismo como a filosofia oficial orientadora do reino. Foi durante a dinastia Joseon, no reinado de Sejong o Grande (1418-1450), que houve a criação do alfabeto coreano, o Hangeul. Na época era conhecido por Hunminjeongeum, ou “sistema fonético adequado para educar o povo” (SERVIÇO, 2006, p. 40). 3 Jang-Geum foi o primeiro médico real feminino da Dinastia Joseon (AYANE, 2011).

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uma atenção maior para a Coréia do Sul e para os seus produtos, tanto os de entretenimento, quanto os culturais, tais como os hábitos alimentares, a culinária, a língua e a história. Com isso pode-se dizer que a Hallyu 1.0, que teve início com a crise asiática e a extensão da globalização, expandiu-se ao perceber a necessidade de ampliação dos produtos internos nos mercados internacionais. A ação conjunta de empresários e governantes proporcionou que o país sul-coreano aproveita-se a abertura dos países ocidentais e “surfa-se” na primeira onda. Desse modo o crescimento provocado pela indústria cultura serviu como complemento da economia do país.

1.2 A MÚSICA POP COREANA – K-POP

Outra vertente extremamente importante na Hallyu é a música coreana, especificamente a vertente do pop, mais conhecida como Korean pop: o k-pop. O estilo musical, que inclui diversos sons como eletro, hip-hop, pop, música eletrônica e R&B, representa, atualmente, as principais boys e girls bands produzidas na Coréia do Sul. Segundo Otakismo (2012) o termo k-pop começou a ser amplamente utilizado no exterior, a partir de 2003, com auxílio do marketing assertivo das agências e do financiamento e proteção do governo nacional. Com isso, os empresários começaram a gravar e disponibilizar os discos dos grupos mais famosos em outras línguas como chinês e japonês. Na primeira onda, Hallyu 1.0, os pioneiros foram os doramas, com pouca atenção voltada para a música. Agora na Hallyu 2.0 a ordem é invertida. Uma das principais incentivadoras da mudança na comercialização dos produtos culturais sul-coreanos foi a democratização da Internet e a implantação de redes sociais e de sites de compartilhamento como o Orkut e o Youtube. A principal função da Internet foi proporcionar o partilhamento de um alto volume de informações de modo instantâneo e gratuito, além de promover a oportunidade de que diversos públicos pudessem, a partir de agora, escolher e escutar o que agradasse mais. Por conta da dominação das grandes mídias tradicionais, como a televisão, o rádio e os jornais impressos, os empresários e o governo dos países capitalistas detinham absoluto poder de decidir o que o público deveria consumir. Otakismo (2012) levanta a questão de que no inicio, a indústria de entretenimento sul-coreana não possuía forças para divulgar e enfrentar os estúdios e gravadoras americanas, inglesas e japonesas já consolidadas no mercado. O

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poder aquisitivo e controle acionário dos grupos midiáticos precisavam de produtos culturais que movimentassem altos volumes de dinheiro. Nesse sentido, a indústria de entretenimento da Coréia do Sul passou a distribuir, divulgar e comercializar seus produtos na Internet, possibilitando que as pessoas pudessem compartilhar um volume maior de informações e conteúdos de forma legítima e sem pretensões comerciais (OTAKISMO, 2012). A partir desse momento, o usuário passou a ter a opção de escolher o que deseja ver. O aumento no número de compartilhamento de conteúdos ocorreu graça à nova geração de pessoas que começaram a seguir, pesquisar, procurar por informações que envolvessem os grupos ou os ídolos sul-coreanos. Os fãs desenvolvem um importante papel na Hallyu. A principal divulgação e distribuição dos conteúdos audiovisuais dramáticos e de variedades são realizadas por fãs, que compram os programas e colocam legendas de acordo com o país em que vivem. Todo o processo desenvolvido por essas pessoas será descrito de forma mais detalhada no próximo capítulo deste trabalho, pois, neste momento, pretende-se restringir apenas a definição do termo para situar a discussão. De acordo com Carlos (apud HILLS, 2002, p. ix), fã é: [...] alguém que é obcecado por uma estrela, celebridade, filme, programa de TV, banda particular; alguém que sabe produzir uma enorme quantidade de informação sobre o objeto do fandom, e pode citar suas frases favoritas, letras, capítulos e versos. Fãs são frequentemente bem articulados. Fãs interpretam textos midiáticos numa variedade de formas interessantes e talvez inesperadas. (Tradução nossa)4.

Internacionalmente a música pop coreana refere-se aos ídolos, sendo eles artistas com várias atribuições e talentos. Existem algumas publicações acadêmicas que trabalham com o tema como é o caso do artigo de Monique Alves, da Universidade Federal do Ceará de Fortaleza. O trabalho de Alves (2014) visa “analisar as influências da internet na divulgação mundial da música pop sul-coreana, conhecida como K-pop” e como as amplas divulgações desses produtos podem está ligado com a pirataria. O artigo ainda segue discutindo até que ponto a Internet funciona como via de beneficio para o k-pop.

Figura 3 – Reprise de [Girl Generation no clipe Rundevilrun] Grupo de k-pop da empresa SM Entertainment (2014) 4

O texto original diz: “somebody who is obsessed with a particular star, celebrity, film, TV programme, band; somebody who can produce reams of information on their object of fandom, and can quote their favoured lines or lyrics, chapter and verse. Fans are often highly articulated. Fans interpret media texts in a variety of interesting and perhaps unexpected ways. And fans participate in communal activities – they are not ‘socially atomized’ or isolated viewers/readers” (CARLOS, apud HILLS, 2002, p. ix). 27

Fonte: Arquivo pessoal

Em 1990, a sociedade coreana estava experimentando um rápido desenvolvimento econômico. Otakismo (2012) descreve que a indústria do entretenimento desenvolveu um crescimento acelerado. A indústria fonográfica tornou-se ainda mais atraente para as grandes empresas da Coréia do Sul, que não perderam tempo em explorar o mercado. Os novos canais da televisão coreana começaram a utilizar músicas, clipes musicais, transmissão de shows para preencher a programação. Por conta disso os cantores e cantoras de k-pop começaram a participar frequentemente de programas televisivos. Em determinados momentos os artistas aparecem como apresentadores, desempenhando trabalhos ao vivo ou gravado. As maiores empresas de entretenimento sul-coreanos, conhecidas como as três irmãs, ao perceberem o potencial dos artistas na televisão passaram a utilizar a TV ainda mais como meio de divulgação e propagação dos grupos. São elas: SM Entertainment, YG Entertainment e JYP Entertainment. Segundo Tuk (2012) quando o grupo BigBang (da empresa YG Entertainment) fez seu comeback, a apresentação do concerto foi transmitida em todos os canais de TV coreana, devido a alta popularidade do grupo, composto por cinco integrantes. Uma das músicas mais conhecidas e famosas da boy band é Fantastic Baby. As letras, a melodia, o ritmo dançante, os figurinos estilizados, a aparência, a habilidade de dançar e a beleza física são alguns dos elementos importantes que compõem parte vital da música pop sul-coreano. Os clipes, que geralmente variam entre três a seis minutos, contam com alta produção e filmagem cinematográfica. Os artistas do k-pop podem 28

ser lançados no mercado como solistas, exemplo da cantora Kwon BoA, mais conhecida apenas como BoA, ou em grupos, que variam de quatro pessoas (2NE1) até, ou mais de onze (EXO) na mesma equipe. As três figuras que se seguem expressam tal contexto:

Figura4: Cantora de k-pop BoA no clipe The Shadow

Fonte: BoA (2012)

Figura 5: Grupo de k-pop 2NE1 no clipe I am the Best

29

Fonte: 2ne1 (2011)

Figura 6: Grupo de k-pop EXO no clipe Wolf Korean ver

Fonte: Exo (2013)

Alves (2014) descreve um pouco mais sobre como os grupos de k-pop são compostos. As músicas e clipes americanos influenciaram, e ainda influenciam na realização dos MVs coreanos. A divisão de vozes, os figurinos e as danças são itens estudados com extremo zelo e cuidado, visando uma produção artística que mantenha e prenda a atenção do público. Alves (2014, p. 6) ainda explica que as empresas costumam executar rigorosos treinamentos com seus trainees, no intuito de que a performance do grupo seja perfeita: O mercado de música pop neste país é bem estruturado e conta com dezenas de artistas que estreiam todos os anos. Os grupos, quase sempre, são inteiramente femininos ou masculinos. Também existem cantores solo. A alternância de vocais entre os membros é constante, um pouco diferente dos padrões ocidentais. A maioria das bandas conta com um membro exclusivo para fazer raps, que às vezes são mais lentos do que os grupos de rap americanos. Outra característica peculiar, é que as coreografias bem elaboradas ocupam lugar de destaque durante as apresentações. Elas ajudam a captar a atenção de quem assiste. Os artistas no palco precisam ter fôlego para cantar e dançar. É por isso que, antes de entrarem no mercado, eles passam por treinamentos rigorosos nas agências de entretenimento, que podem durar até quatro anos. Quando fazem audiência para entrar em uma dessas agências, os coreanos, aos 14 anos ou menos, começam como trainees. Com o tempo, se conseguirem se destacar e chamar a atenção dos agentes, eles são colocados em grupos. Como existem essas filtragens, a carreira é competitiva. É comum os artistas que já fizeram sua estreia, aos 20 anos, já terem graduação em música, artes e afins. 30

Em julho de 2012, a agência YG Entertainment divulgou um vídeo com trainees de 12 anos de idade, gerando polêmica entre os k-popper5s do Ocidente.

O pop coreano é o estilo mais popular de música na Coréia do Sul. Conforme indica o mapa a seguir, as músicas internacionais estadunidenses e japonesas consistem em apenas 20% do mercado. Com isso, o país sul-coreano consegue tornar-se um dos poucos países do mundo que dependem e consomem mais produtos de entretenimento nacional do que mundial. Esse fato está inteiramente ligado com as políticas de governo, que desde o inicio visavam o fortalecimento da cultura nacional. Mapa 2 – Número de visualizações do k-pop vídeos no Youtube até o ano de 2011

Fonte: Tuk (2012)

O mapa anterior mostra como o k-pop espalhou-se pelo mundo. Em todos os países a música pop coreana já foi visualizada milhões de vezes. De acordo com a pesquisa realizada por TUK (2012) até 2011 os vídeos de k-pop no Youtube foram vistos 2,3 bilhões de vezes em mais de 235 países. Dependendo do grupo, em lugares como Estados Unidos, Japão, Tailândia, e Vietnã, as músicas pop sul-coreanas recebem mais visualizações do que na Coréia do Sul. Segundo TUK (2012), em termos de visualizações o Japão recebe o primeiro lugar, com 423 milhões, seguido por Estados Unidos com 240 milhões e pela Tailândia com 224 milhões. O Brasil se encontra na pesquisa totalizando 21 mil visualizações, que é maior do 5

Fãs de k-pop 31

que Chile (13 mil), mas menor que o Peru (25 mil). Com isso, nota-se que a popularidade do k-pop é o maior na Ásia Oriental e no Sudeste da Ásia. Essas regiões são responsáveis por 69% do total do k-pop vistos no YouTube. É interessante ressaltar que a falta de pontos de visualização na China pode ser explicada pela política restritiva que o governo chinês tem no site de compartilhamento de vídeos. Diversos grupos de k-pop já ganharam prêmios no mercado americano, inclusive em competições contra cantores consagrados. Em 2013 o site de compartilhamento de vídeo Youtube promoveu o primeiro Youtube Music Awards 2013. O grupo Girl Generation, foi indicado na categoria “Vídeo do Ano”, juntamente com outros artistas como Demi Lovato, Nicki Minaj, Lady Gaga, Miley Cyrus, PSY, Selena Gomez e outros. No canal do Girls' Generation (2012) é possível visualizar o grupo levando o prêmio de primeiro lugar com o MV I Got A Boy. Outro grupo sul-coreano que está ganhando a atenção nos Estados Unidos é o Akdong Musician6, também conhecidos como AKMU, que, em 2014, foram acrescentados na lista dos artistas mais poderosos com menos de 21 anos da Billboard7. De acordo com site de notícias sul-coreano Sarangingayo, o primeiro álbum da dupla chegou ao “vigésimo lugar na lista de álbuns mais vendidos entre os novatos e em nono na lista de álbuns internacionais, ambas listas da própria Billbord” (SARANGINGAYO, 2014). Outros artistas sul-coreanos já estiveram presentes nesta seleção, como por exemplo: a cantora Lee Hi em 2013, a cantora Hyuna em 2011 e o grupo Wonder Girls em 2010.

1.2.1 A música pop coreana no Brasil O k-pop tem adquirido admiradores por todo o mundo, inclusive no Brasil. Esses apreciadores acompanham, por meio da Internet, todos os passos e notícias relacionadas com seus grupos ou artistas preferidos, independente de distância ou fuso horário. É relevante notar como a música de um país distante pode alcançar e conquistar pessoas, que estão em espaços e tempos diferentes. Stuart Hall (2006, p. 74) levanta essa questão quando discute sobre as mudanças promovidas pela globalização: “À medida que as culturas nacionais 6

Grupo de K-pop composto pelos irmãos Lee Chan-hyuk e Lee Soo-hyun da empresa YG Entertainment. Tornaram-se conhecidos nacionalmente depois de vencerem a segunda edição do reality show musical K-pop Star em 2012, transmitido pelo canal SBS. Em 7 de abril de 2012 foi lançado o primeiro álbum online da dupla que resultou e mais de três milhões de downloads. (AKDONG, 2014). 7 Billboard é uma revista semanal norte-americana especializada sobre a indústria musical. O ranking mais conhecido, o Hot 100, mostra os 100 singles mais vendidos e tocados nas rádios e é frequentemente usado nos Estados Unidos como principal forma de medir popularidade dos artistas. (CAMARGO, 2012). 32

tornam-se mais expostas a influências externas, é difícil conservar as identidades culturais intactas ou impedir que elas se tornem enfraquecidas através do bombardeamento e da infiltração cultural”. Uma das provas de que este fenômeno movimenta muitas pessoas em todo o Brasil são as programações de shows que ocorreram e ainda vão ocorrer no país. Segundo Maciel (2013) um dos primeiros cantores coreanos a pisarem em solo brasileiro foi Tony Ahn, ex-integrante do grupo H.O.T8 e a cantora Byul, em agosto de 2011. Os dois participaram do Fresh Festival, que tinha como principal objetivo disseminar a cultura musical coreana no Brasil. Ainda em 2011, agora no mês de setembro, o grupo de k-pop MBLAQ9 fez sua aparição no Brasil no evento K-pop Cover Dance Festival10, que ocorreu em São Paulo, como um dos jurados da competição. Na ocasião os membros do grupo relataram que não esperavam encontrar muitas pessoas que conhecessem o trabalho desenvolvido pela equipe, entretanto mais de seis mil pessoas compareceram ao local do evento. Em entrevista a um site brasileiro de notícias coreanas o grupo ainda relata que a onda coreana está crescendo no Brasil e que outros cantores da Coréia do Sul planejam visitar os brasileiros: Nós somos os primeiros ídolos coreanos a visitar o Brasil. Desde o momento que saimos do avião,recebemos uma inundação de amor. Os patrocinadores do concerto não achavam que tanta gente iria comparecer, então eles alugaram um pequeno salão. Entretanto, mais de 6 mil fãs foram ao local, e alguns tiveram de esperar do lado de fora. Existe uma forte onda coreana soprando no Brasil. Nossos fãs brasileiros poderiam cantar junto todas as músicas de k-pop. Seria ótimo se outros cantores, e não somente nós, visitassem o Brasil. Nós temos certeza de que eles irão reunir uma reação positiva.” (TRIIKA, 2011).

Em dezembro de 2011, foi anunciado o primeiro grande show de música coreana no Brasil. Desta vez, dois grupos e uma cantora solo seriam os responsáveis por animar a noite dos brasileiros em São Paulo. São ele os grupos B2ST11, 4MINUTE12 e a cantora G.NA.13 Em 8

Popular boyband coreana da década de 90, foram formados pela SM Entertainment em 1996 e dissolvidos em 2001...H.O.T virou sucesso na música da Coréia. Composto por cinco adolescentes (na época de sua estreia), daí o nome “High-five Of Teenagers” (sigla H.O.T.). (HOT, 2014). 9 MBLAQ, que significa Music Boys Live in Absolute Quality, em português, (Garotos Musicais ao Vivo em Qualidade Absoluta) é um quinteto sul-coreano criado pelo artista Jung Ji-Hoon, mais conhecido como Rain, sob a gravadora J.Tune Entertainment, também conhecida como J.Tune Camp. (MBLAQ, 2014). 10 O KPOPPOP Cover Dance Festival é um concurso cover mundial, para participar basta se inscrever no site. A primeira fase é online, então os grupos são escolhidos pelos vídeos que enviarem. Após isso, os grupos escolhidos irão participar da etapa regional. Nesta etapa os grupos irão ser avaliados por famosos coreógrafos, músicos, diretores de comerciais, etc. Os que passarem da fase regional irão para a final do concurso, que será na Coréia. (TRIIKA,2014). 11 B2ST ou Beast é um grupo sul coreano formando por seis integrantes. O grupo debutou em 2009 pela emprensa Cube Entertainment. (B2ST, 2014). 12 4MINUTE é um grupo de k-pop formado por cinco garotas. Debutaram em 2009 com álbum Hot Issue pela empresa Cube Entertainment (4MINUTE, 2014). 33

entrevista ao jornal online G1 de São Paulo, a cantora G.NA afirmou que o resultado positivo que o k-pop está ganhando deve-se à nova era do entretenimento e às músicas chicletes que a Coréia produz. A cantora ainda afirmou que fazer uma apresentação em um país distante como o Brasil é um sonho para muitos artistas coreanos:

Hoje em dia representamos o papel dos Estados Unidos dentro do pop. As pessoas estão cada vez mais treinando nossas letras e aprendendo a cantá-las. “A melodia e o ritmo ficam na cabeça das pessoas. Quando os fãs começam a traduzir as letras, eles percebem que tem algo de mais profundo ali”. É o sonho de qualquer artista ter contato com diferentes culturas ao redor do mundo, trocar olhares e conhecer os fãs. Por ser a primeira vez aqui, a expectativa é muito grande. Queremos sentir o público brasileiro. Eu amo esses fãs (SEIXLACK, 2011).

Em janeiro de 2012 dois integrantes do grupo ZE:A14 vieram ao Brasil para participar do programa Star Date. Na ocasião, os dois jovens teriam “encontros” com duas fãs brasileiras, escolhidas em um concurso. Em setembro do mesmo Junsu Xiah, do grupo JYJ15, fez um tour pela América do Sul e marcou presença no Brasil. Em fevereiro de 2013, especificamente na época do carnaval, o cantor PSY fez uma participação especial no trio elétrico da cantora Claudia Leite em Salvador na Bahia (MACIEL, 2013). Para comemorar os cinquenta anos da imigração coreana no Brasil, o Ministério da Cultura, Esporte e Turismo da Coréia do Sul promoveu no dia 24 e fevereiro de 2013 o 2K13 Feel Korea. No evento estiveram presentes a cantora Ailee16, o cantor HyunJoong, líder do grupo SS50117, e a dupla BaeChiGi.18 O evento ainda contou com diversos worksop de danças e aulas de maquiagem. No mês de abril de 2013, um dos maiores e mais famoso grupo de k-pop apresentou-se em São Paulo pela primeira vez. O grupo Super Junior19 realizou a sua quinta turnê, Super Show 5, nos países sul-americanos inclusive no Brasil. Em menos de três dias mais de sete mil

13

Gina Choi, mais conhecida como G.NA, é uma cantora sul-coreana-canadense debutou em 2010 pela empresa Cube Entertainment. (G.NA, 2014). 14 ZE:A, também conhecido como Children of Empire é um grupo sul-coreano composta por nove garotos. O grupo debutou em 2010 pela empresa Star Empire Entertainment (ZE:A, 2014). 15 Conhecidos também por DBSK e TVQX. O grupo era empresariado pela SM Entertainment, entretanto problemas judiciais provocaram a desvinculação de alguns integrantes com a empresa (DBSK, 2014). 16 Amy Lee, mais conhecida como Ailee, é uma cantora sul-coreana que entreiou em 2012 pela empresa YMC Entertainment (AILEE, 2014). 17 SS501 é uma boyband sul-coreana formada em 2005 pela gravadora DSP Entertainment. O grupo é formado por cinco garotos (SS501, 2014). 18 Dupla japonesa de Hip Hop. 19 Super Junior é uma boyband sul-corena formada em 2005 pela empresa SM Entertainment. O grupo é formado por 13 garotos, sendo que dois deles participam apenas do sub grupo chinês , o Super Junior M (SUPER JUNIOR, 2014). 34

ingressos foram vendidos na Internet. A notícia de que o grupo iria se apresentar no Brasil foi destaque em vários jornais no país, conforme pode ser observado na figura a seguir.

Figura 7: Reportagem do jornal O Estadão de São Paulo sobre o grupo Super Junior e o Super Show 5.

Fonte: Asian pop (2013)

Em 2014 ocorreu o primeiro festival de música coreana no Brasil, o Music Bank World Tour. De acordo com Shin (2014) o evento, que ocorreu na arena HSBC em São Paulo, reuniu cerca de 10 mil fãs de k-pop de todo o país. O festival, que foi um especial da Copa do Mundo 2014, contou com a apresentação dos grupos M.I.B20, MBLAQ, INFINITE21, CNblue22, SHINee23, e a cantora Ailee. Shin (2014) pontua que todos os fãs saíram satisfeitos do festival: A qualidade do show, das apresentações e principalmente surpresas como Garota de Ipanema e Aquarela do Brasil fizeram com que ás três horas de show certamente fiquem na memória de todos.” A autora ainda completou seu texto dizendo que o festival “Music Bank in Brazil também mostrou ao k-pop que o Brasil que mais.

20

M.I.B é um quarteto de hip-hop sul-coreano da empresa Jungle Entertainmen .(M.I.B, 2014). INFINITE é um grupo sul-coreano de sete integrantes produzido pela Woollim Entertainment (INFINITE, 2014). 22 CNBlue é uma banda de rock sul-coreana, composta por quatro rapazes e possuem contrato com várias gravadores, inclusive americanas (CNBLUE, 2014). 23 SHINee é um grupo sul-coreano, composto por cinco rapazes da empresa SM Entertainment(SHINEE, 2014) 35 21

No mês de setembro ocorreu duas apresentações de grupos sul-coreanos. A primeira foi do grupo Wa$$up24 no dia 13 e a outra do grupo NU’EST25, no dia 27, ambos em São Paulo. O grupo NU’EST, que esteve no país no final do ano de 2013, fez questão de acrescentar o Brasil no itinerário da viagem. De acordo com Imenes (2014), os eventos promovidos pelo grupo deram a oportunidade de que trezentos fãs pudessem conhecer os integrantes de perto. A autora diz ainda que os ingressos, que permitiam a aproximação dos fãs com o grupo, esgotaram-se três minutos depois do inicio das vendas.

1.2.2 O Surgimento do pop brasilero – B-Pop Com influências da música pop sul-coreana o Brasil também resolveu investir no pop com a criação, desenvolvimento e a formação de um grupo brasileiro. Segundo Zendron (2014) CHAMPS é o nome do primeiro grupo de b-pop brasileiro. O grupo é composto por cinco garotos, que possuem a idade entre 18 e 22 anos. Os rapazes são de diversos estados do país e foram escolhidos por meio de audições realizadas pela empresa JS Entretenimento. É possível notar muitas semelhanças entre o grupo CHAMPS e os grupos da Coréia do Sul, principalmente no quesito roupas e na mistura de idiomas no refrão da música. Ao serem selecionados pela empresa, os cinco jovens passaram pela mesma situação que os traines coreanos, ou seja, deixaram suas casas e cidades e foram morar juntos.

Figura 8: Grupo CHAMPS da empresa JS Entretenimento

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Wha$$up é um grupo sul-coreano composto por sete garotas e que pertencem a empresa JW8 Entertainment(WHASSUP, 2014). 25 NU'EST (New Established Style and Tempo) é uma boy band sul-coreana formada pela empresa Pledis Entertainment e é composta por cinco rapazes (NU’EST, 2014) . 36

Fonte: Champs (2014)

A rotina intensa inclui aulas de canto, teatro e dança de segunda a sábado dás 8h às 22h30. De acordo com Zendron (2014) o responsável pela empresa, Alex JS Lee, relata que uma das principais dificuldades enfrentadas pelos rapazes e pelos donos da JS Entretenimento foi que os membros do grupo tiveram que deixar emprego, faculdade e a família, mas que tudo estava ocorrendo dessa forma no intuito de “mostrar o melhor trabalho e ter sucesso” (ZENBRON, 2014). Em entrevista ao portal de notícias UOL, um dos integrantes do grupo afirmou que a empresa investe muito dinheiro nos componentes da equipe visando que os garotos cheguem ao nível dos sul-coreanos. Segundo Zendron (2014), o grupo passou dois meses em Seul e tiveram aulas “com o coreografo do hit Gangnam Style, Jun Sun Lee. Foi também em Seul que eles gravaram o clipe do primeiro single Dynamite, que contabiliza ainda modestas 150 mil visualizações no Youtube”.

1.3 OS PROGRAMAS DE VARIEDADE SUL-COREANOS

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Nos últimos anos os ídolos do k-pop estão aparecendo frequentemente nos programas de variedade da Coréia do Sul. O site Wikipédia (2014) define esse tipo de conteúdo como sendo “programa de televisão ou de rádio que engloba vários tipos de programas em um só. Eles diferem dos programas de auditório por não possuírem plateia, mesmo tendo algumas semelhanças entre eles” (PROGRAMA, 2014). Sousa (2004) também classifica o gênero como um estilo de programa pós-modernos na TV, que promove a guerra pela atenção da audiência. Os programas de variedade da Coréia do Sul possuem algumas semelhanças, em sua composição, com os programas brasileiros. Desta forma a categoria de entretenimento pode ser classificar da mesma maneira. Dentro do gênero de variedade dos programas sul-coreanos podem-se identificar outros formatos do entretenimento como, por exemplo, o talk show. De acordo com Sousa (2004, p. 137-139) este gênero

[...] permite frequentemente a utilização do formato de auditório e os quadros permitem a apresentação de shows musicais.” O autor ainda ressalta na variedade é possível ser produzido no formato de humor, que é constantemente utilizado nos programas de variedade sul-coreanos.

Outro formato muito utilizado nesses programas é o game show. Segundo Sousa (2004) nesse tipo de programa é comum a existência de uma “mecânica dos jogos”, “regras de fácil compreensão”, “interatividade com o telespectador” ou participante ao vivo, que não precisa ser necessariamente no formato de auditório. Os competidores, geralmente convidados famosos, disputam diversos tipos de brincadeiras e gincanas entre si. O autor ainda cita que o formato de quiz show também pode aparecer nesses programas, envolvendo perguntas e respostas. Entre muitos programas de variedades sul-coreanos no formato de game famoso na Coréia do Sul é o Running Man26, que consiste em um game show composto pela presença de sete MCs27 e convidados especiais, que podem ser atores, atletas, cantores e comediantes. O objetivo do programa é completar as missões e tentar vencer a corrida, que a cada episódio ocorre em um local diferente. Muitos artistas do entretenimento já participaram de Running Man, muitas vez na intenção de promover o lançamento de álbuns musicais ou mesmo de algum drama em que estão atualmente.

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Running Man foi ao pela primeira vez no dia 11 de julho de 2010 e até a publicação deste trabalho se encontra no 214° episódio. A produção faz parte da programação da emissora SBS (RUNNINNG, 2014). 27 Diferente dos brasileiros, na Coréia do Sul MC significa Mestres da comédia. 38

Figura 9: Programa Running Man, com participação especial do ator Jackie Chan e do integrantes do grupo de k-pop Super Junior, Siwon.

Fonte: Arquivo pessoal.

Em alguns casos ocorre o inverso. No intuito de aumentar a popularidade e a audiência, os programas de variedades convidam os artistas mais famosos do momento para participar da transmissão. Muitas vezes os cantores são contratatos por determinados tempo em alguma emissora para trabalharem como MC ou mesmo convidados especiais. Os k-pop stars não são apenas cantores, eles são animadores. Aparecer em programas de TV faz com que uma cantora popular faça seu álbum subir nas vendas. Muitos ídolos também passam de cantor a ator devido à exposição nos programas de variedade. Por isso, os artistas sul-coreanos são considerados como completos, pois dominam as áreas artísticas como canto, dança e interpretação. Pode-se perceber que a televisão sul-coreana e a indústria do entretenimento estão conectadas. Ambas tendem a trabalhar juntas no intuito de atrair mais telespectadores e fãs.

1.4 POLÍTICAS DE GOVERNO

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Com a indústria do entretenimento em alta, sustentar a Hallyu tornou-se um ponto crítico para o governo do país. Em 2012, o Ministério do Turismo, Cultura e Esportes da Coréia do Sul desenvolveu um comitê consultivo que teria como objetivo procurar e desenvolver maneira de sustentar a onda coreana. O comitê também teria o papel de conciliar e promover a cultura tradicional do país. Durante a reunião inaugural do comitê, que ocorreu em Samcheonggak, em Seul, o ministro da cultura, Choe Kwang-shik, afirmou que o governo deve aproveitar que as atenções estão voltadas para Coréia do Sul e para promover a expansão de outros bens culturais do país como comida e moda:

Se K-drama e K-pop abriram a porta para que nos introduzir a cultura do povo coreano em todo o mundo, precisamos agora desenvolver idéias concretas sobre como promover coerentemente hallyu, para que possamos apresentar outros bens culturais como Pororo28, alimentos, artes tradicionais, moda, turismo e outros no futuro (CHO, 2012).29

De acordo com Cho (2012), o governo sul-coreano anunciou em janeiro de 2012 planos que visam promover mais a cultura tradicional coreana, além de inaugurar o K-culture Task Force que vai coordenar a execução dos planos do comitê. Ainda segundo o ministro da cultura sul-coreano está preparando-se para organizar um orçamento de 230 bilhões de won para 2014 e 2015 como investimento na cultura do país, por meio das cooperações entre outras organizações do governo30.

Figura 10: Ministro da Cultura Choe Kwang-shik e representantes do governo durante reunião de inaugural do Comitê Consultivo realizada no Samcheonggak em Seul.

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Pororo o pequeno pinguim é um desenho animado sul-coreano, produzido pela Iconix Entertainment e pela SK Broadband. (PORORO, 2014) 29 Texto original:: “If K-drama and K-pop have opened the door for us to introduce Korean culture around the world, now we need to develop concrete ideas on how to consistently promote hallyu so that we can present other cultural assets like Pororo, food, traditional arts, fashion, tourism and others in the future,” Culture Minister Choe Kwang-shik said during the inaugural meeting of the advisory committee held at Samcheonggak in Seoul” (CHO, 2012). 30 Texto original: “In January, it announced plans to further promote Korean traditional culture and also inaugurated the K-Culture Promotion Taskforce which will coordinate the implementation of the plans. It said it will spend 33.5 billion won this year toward the goal and prepare a budget of 230 billion won for 2014 and 2015 in cooperation with other governmental organizations” (CHO, 2012). 40

Fonte: The Korea Herald (2012)

Desta forma percebe-se que, para os governantes e empresários a Hallyu é uma ferramenta para gerar mais dinheiro, visando beneficiar a economia coreana. De acordo com Otakismo (2012) diversas empresas como Hyundai e Samsung, ao perceberem o impacto da onda coreana no mercado começaram a utilizar de seus elementos para vender seus produtos no exterior para obter lucro. Depois de usar o ator Ahn Jae Wook em um comercial no Vietnã, a companhia LG aumentou as vendas de televisão no país. No intuito de aumentar ainda mais a popularidade da onda coreana no Vietnã, a firma disponibilizou dramas coreanos gratuitamente para os vietnamitas e ainda proporcionou opções de dublagem pela TVstations. A empresa Samsung Electronics, também da Coréia do Sul utilizou da mesma campanha de marketing, com o mesmo ator, desta vez na China. O governo sul-coreano também tem utilizado a Hallyu no turismo do país. Os dramas estão despertado um interesse cada vez maior nos estrangeiros. Sung (2010) observa-se uma conexão entre a onda coreana e a busca pela identidade nacional. De acordo com o autor, que trabalha a identidade do povo tailandês, os habitantes da Tailândia veem nos drama produzidos na Coréia do Sul a reprodução da cultura coreana e, por meio dos conteúdos veiculados em Taiwan, adquirem uma sensação de proximidade das culturas, principalmente no quesito de valores da família e o respeito aos idosos, que são muito semelhantes aos costumes dos taiwaneses.

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Segundo Otakismo (2012) o governo, em conjunto com os empresários sul-coreanos, soube aproveitar a expansão da onda coreana e investir na indústria do entretenimento. A partir dessa junção o país foi capaz de sair da crise econômica e se estabelecer financeiramente. Atualmente, mesmo que as empresas da Coréia do Sul fixem mais atenção nas conjunturas comerciais, econômicos e política da Hallyu, os aspectos relacionados com a cultural do país também estão espalhando-se pelo mundo. Em diversos casos, assim como descrito no caso da empresa LG e Samsung, os principais percussores do diálogo e do relacionamento comercial entre o mercado nacional e o internacional foram os conteúdos de entretenimento. Um exemplo seria a utilização de artistas de drama e k-pop para promover a Coréia do Sul nas propagandas nacionais. Dessa forma, as empresas vêem a indústria cultural e a cultura em si como uma mercadoria simbólica de muito valor, algo que deve ser desenvolvido para gerar lucro. Infelizmente, em alguns casos, empresários e governantes tendem a ignorar o significado cultural que as pessoas, principalmente nos países ocidentais, atribuem aos dramas, filmes e as músicas coreanas. Com tais reflexões, é possível compreender um pouco melhor a Coréia do Sul e a Hallyu. Entretanto, o tema ainda gerar muitas dúvidas e provoca diversas inquietações. Mas até que ponto a comercialização desenfreada dos produtos sul-coreanos pela Internet é benéfica para as empresas? Será que as pessoas estão realmente preparadas para essa explosão de conteúdos? Afinal, os dramas podem ser considerados como representantes da cultura sulcoreana ou estão repletos de estereótipos, que no final formar a imagem de uma sociedade que não existe?

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CAPÍTULO 2 O DORAMA: YOU’RE THE BEST LEE SOON SHIN Antes de serem exibidos nas telas da televisão e na Internet, a apresentação dos dramas ocorria por meio de representação teatral. O drama coreano tem suas origens em rituais religiosos pré-históricos. A apresentação possuía elementos de dança e música. Segundo Serviço (2006) com o passar do tempo os conceitos de cada representação teatral variava e ganhava novos formatos de acordo com o período histórico do país:

Um bom exemplo dessa forma teatral clássica é a dança de máscaras chamada sandaenori ou talchum, uma combinação de dança, canção e narrativa, pontuada de sátira e humor. Com pequenas variações, de uma região a outra, quanto ao estilo diálogo e às vestimentas, ela desfrutou de extraordinária popularidade entre a gente do campo, até o inicio do Século XX. As Pansori, longas canções narrativas baseadas em fábulas populares e as kkokdugaksinoreum (peças com marionetes), apresentadas por artistas vagabundos, também atraíam grandes audiências. Os rituais xamânicos conhecidos como gut consistiam outra forma de teatro religioso que agradava ao povo (SERVIÇO, 2006, p. 176).

Segundo Serviço (2006) em 1902 ocorreu a primeira apresentação do singeuk (novo drama), que ficou conhecida por atribuir mais opções de movimentos para o sandaenori e o talchum. Com a criação do primeiro teatro em Seul, inaugurado em 1908, o drama moderno começou a desenvolver raízes, principalmente quando estudantes de teatro retornaram dos estudos no Japão. Os estudantes encenavam o drama sinpa, que possuí “um conceito que se contrapunha ao drama gupa (velha onda), com a denominação de kabuki, do Japão.” (SERVIÇO, 2006, p.177,). Conforme Serviço (2006) descreve, diferente do sandaenori, o estilo de dramas sinpa retratava temas relacionados com política e serviço militar, pois a apresentação variava entre temas policiais, novelas e tragédias.

Apesar da novidade, o sinpa não passou de uma

apresentação passageira. Entretanto, o estilo contribuiu na preparação do caminho para outro drama, nomeado de drama moderno. Em 1922 um grupo de artistas interpretou o estilo em todo o país mais de 87 vezes. Até a década de 1930 o drama moderno permaneceu popular. Porém, decaiu nos anos de 1940 e 1950. Com a expansão do cinema e o surgimento da televisão o estilo afundou ainda mais. Serviço (2006) relata ainda que o cinema ganhou atenção e admiração rapidamente dos sul-coreanos. Um dos nomes mais conceituados na área é o diretor Park Chan-wook, vencedor do Grande Júri do Festival de Cannes de 2004, como seu filme “Old Boys”. Park também foi vencedor do prêmio de melhor diretor do Festival Internacional do Filme de 43

Bangkok com o mesmo filme. No intuito de conservar o estilo, a tradição e as apresentações, a “Fundação Coreana para as Artes e a Cultura promove o festival anual de teatro, com o fim de fomentar as apresentações teatrais locais.” (SERVIÇO, 2006, p. 177). Atualmente as séries sul-coreanas sofreram diversas alterações. Passaram da atuação e representação executada nos palcos e nas ruas de Seul para a televisão e posteriormente para o ambiente Web. A limitação da língua e do espaço não permite que uma pesquisa mais aprofundada sobre a quantidade exata de programas disponíveis na Internet seja realizada. A única afirmação que pode ser feita é que diariamente diversos sites, fóruns, blogs e fansubs, adquirem consentimentos e parcerias com empresas e emissoras de televisão sul-coreanas, visando a aquisição dos programas para posterior repasse aos fãs. A seguir, o trabalho descreverá os passos que são desenvolvidos e seguidos quando um site deseja adquirir programas e conteúdos da Coréia do Sul.

2.1 A DISPONIBILIZAÇÃO DO DRAMA NA INTERNET O Viki31 é um site mundial de televisão. O principal meio, pelo qual o site é movido, são os serviços prestados pelos próprios fãs, que trabalham diretamente com criação de legendas. De acordo com Fritz-Krockow (2012) existem conteúdos no portal com mais de 150 idiomas disponibilizados para o público de todo o mundo. Para exemplificar a seguir será descrito como ocorre o processo de obtenção de programas e conteúdos do país sul-coreano por parte do site Viki. Normalmente as discussões começam um mês ou mais antes da data de exibição do show (ou dorama), entretanto já houve discussões que duraram mais de um ano. Pode ser que leve tempo porque há muitos detalhes a negociar, incluindo em quais países ou regiões o show será transmitido, quando, por quanto tempo e em quais plataformas de mídia o conteúdo permanecerá no ar, para não mencionar o envolvimento de ter os fãs legendando o conteúdo. É um ato de equilíbrio muito difícil de ter, especialmente quando os proprietários da empresa nunca venderam antes ou quando as empresa já possuem parceiros de mídia tradicionais que veem a distribuição digital como uma ameaça, mesmo sabendo que estamos juntos. (FRIRTIZ-KROCKOW, 2012).

Ainda segundo Fritz-Krockow (2012) o processo, que envolve negociação de contratos é desenvolvido exclusivamente por seis pessoas que trabalham no Viki. Os envolvidos estão espalhados em lugares como Seul, Tóquio, Cingapura, Xangai e São Paulo.

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http://www.viki.com 44

A equipe fixa da Viki possui trinta membros de dezoito países diferentes, todos admiradores de muitas culturas e programas produzidos na Coréia do Sul e em outros locais. No intuito de permanecerem atentos à nova disponibilização de conteúdos, muitos fãs criam canais, que funcionam como centro de informação para os apreciados dos programas. Porém, como a disponibilização dos conteúdos ocorre na forma de negociação e parcerias, em alguns momentos ocorre o choque de conflitos entre interesses econômicos e pessoais durante o processo. Fritz-Krockow (2012) relata que muitos proprietários de conteúdos não concordam com determinadas formas de divulgação ou veiculação de seus shows e dramas na Internet por acreditarem que serão prejudicados. Caso o site receba algum pedido, por parte dos empresários, como o fechamento de determinado canal ou o bloqueio de links dos vídeos disponibilizado, o pedido precisa ser acatar: “Nós respeitamos os desejos dos proprietários dos conteúdos, de acordo com a nossa política que segue o Digital Millennium Copyright Act - DMCA.” (FRIRTIZ-KROCKOW, 2012). Fritz-Krockow (2012) ainda complementa dizendo que os proprietários de programas sul-coreanos não tinham ideia da quantidade de fãs que existem em países ocidentais apenas aguardando o trabalho dos profissionais da Viki. Muitos empresários ao perceberem o possível mercado no Brasil optam por abrir as portas do mundo de entretenimento por meio da efetivação das parcerias: Milhões de fãs em todo o mundo esperam pacientemente para esses shows para estar disponível em sua língua. Eles nos ouviram, viram o trabalho incrível da comunidade Viki, e já vi programas de sucesso ultrapassar a audiência da TV em mais de 50 idiomas, chegando a 200 países, gerando uma receita de aditivos significativos no processo.” (FRIRTIZ-KROCKOW, 2012).

É interessante notar como as noções de espaço perdem importância diante do movimento criado, desenvolvido e mantido pelos fãs. O desejo de obter informações sobre conteúdos e programas, de acordo com o gosto pessoal, proporciona que pessoas de costumes, línguas e nacionalidades diferentes possam se unir, com o objetivo de adquirir os programas, além desenvolver uma interação entre vários admiradores do mesmo assunto. Nessa interação, muitas palavras e termos podem ser codificado somente por fãs, possibilitando a criação de um mundo próprio. Thompson (2001), que já trabalha com o conceito de fãs, explica o envolvimento do fã com as mídias e com os outros apreciadores:

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O mundo do fã pode ser dependente dos produtos da mídia disponível, mas este produtos são assumidos, transformados e incorporados num universo simbólico estruturado e habitado somente por fãs. Mas a participação no mundo do fã frequentemente assume formas menos elaboradas. Cartas intercambiadas entre fãs são cheias de palavras codificadas e conhecimento esotérico que ajudam a tornar o mundo do fã algo especial: um mundo separado dos outros que, embora possam ver os mesmo programas, ouvir as mesmas músicas ou ler os mesmo livros, não organizam suas vidas em torno destas atividades [...] (THOMPSON, 2001, p. 194,).

Com isso, pode-se concluir que existem pessoas que dedicam um tempo considerável de seu dia a dia para trabalhar na disponibilização de conteúdos para os fãs, no intuito de propagar e divulgar ainda mais os programas audiovisuais sul-coreanos. Esses grupos se organizam e elaboram estratégias de disponibilização e legenda dos conteúdos, sendo que o site citado anteriormente conta com a colaboração dos próprios fãs para legendar os programas e divulgar em redes sociais e outros portais da Web. A seguir, a presente exposição focará no objeto particular de estudo escolhido, com informações sobre o dorama, o autor, a descrição dos personagens, um breve resumo da história e análise de dois temas selecionados, que estão presentes no dia a dia da sociedade sul-coreana.

2.2 K-DRAMA YOU’RE THE BEST LEE SOON SHIN

Exibida pela emissora de TV KBS de 9 de março a 25 de agosto de 2013, o dorama You’re the best Lee Soon-shin ia ao ar aos sábados e aos domingos. Para a presente análise, foi realizado o download dos cinquenta episódios do drama na Internet, cujo conteúdo foi posteriormente decupado. Cada capítulo tem duração, em média, de uma hora. O título do dorama, que traduzido do inglês significa Você é a melhor Lee Soon-shin, refere-se ao nome da personagem principal, que foi inspirado no comandante naval da Dinastia Joseon, Yin Sunsin32, que possui a mesma pronúncia. Por isso, sempre que a protagonista diz seu nome ocorre espanto ou risada por parte das pessoas. Considerou-se selecionar assuntos e narrativas especificas relacionadas ao dia a dia da sociedade sul-coreana, que estiveram presentes ao longo de todo o dorama. Para delinear o horizonte social em que o drama foi veiculado, serão exibidas referências de informações

32

Yi Sun-sin foi um comandante naval coreano, conhecido por suas vitórias contra a marinha japonesa durante a guerra Imjin da dinastia Joseon. Ele também é conhecido pelo inovador criar os barcos-tartarugas. Existe uma estátua do comandando na capital e seu barco no centro de Seul (COREIA, 2014). 46

sobre a Coréia do Sul. Primeiramente, serão apresentadas informações sobre o autor do drama Jung Yoo-kyung, uma sinopse da história e a lista com os principais personagens da história.

2.2.1 O autor: Jung Yoo-Kyung Infelizmente, apesar do imenso acervo disponibilizado na Internet sobre vários assuntos, não foi possível encontrar informações suficientes sobre o autor do drama, tais como cidade natal, ano em que nasceu e a trajetória do escritor até o presente momento. Os dados encontrados restringem-se à atual profissão e os nomes dos doramas que escreveu. Jung Yoo-Kyung foi autor dos seguintes dramas da MBC: Scent of an Apple (1996), Yesterday (1997), Forever Your (1998), Should My Tears Show (1999), Secret (2000), I love Hyun Jung (2002) e What Stars Did You Come From (2006) e pela emissora KBS2 Salut D’Amour (1994), In-Soon is Pretty (2007), Please Marry Me (2010) e o mais recente trabalho You’re The Best Lee Soon Shin (2013) (JUNG, 2014). O autor trabalhou com o diretor Yoo Sung-shik, os produtores Mo Wan-il, Bae Kyugsoo e Astory e com o compositor Kang Dong-yoon. Todos os nomes são conhecidos do meio dramático sul-coreano.

2.2.2 Personagens principais Serão apresentados aqui os principais personagens do drama e os mais ligados à representação da história. A definição se dará da seguinte forma: nome do personagem, nome do ator, papel no dorama e informações relevantes para o entendimento da história. Os personagens serão divididos por famílias ou ambiente de trabalho. No final do texto há um pequeno organograma, que apesar de estar em coreano será utilizado apenas para que ocorra uma melhor visualização das relações entre os personagens.

2.2.2.1 Família da Lee Soon-shin

A família de Soon-shin é formada por sete pessoas, sendo: a mãe, o pai, as duas irmãs mais velhas, a avó e a sobrinha. No começo do dorama ocorre a retratação da vida de cada um dos personagens da família Lee, que moram todos na mesma casa. Os familiares de Soon-shin 47

nunca acreditaram que a mesma tivesse potencial para o trabalho, porém quando o patriarca da casa morre, a garota buscará formas de ajudar a família a sobreviver.

a) Lee Soon-shin (IU): filha mais nova entre três mulheres. A menos sucedida, mais atrapalhada e sem talento da família. Depois de enfrentar muitos problemas Soon-shin consegue associar-se a uma agência de entretenimento para tornar-se atriz. Soon-shin começa a ter aulas de teatro com Song Mi-Ryung, que posteriormente descobre na verdade ser sua mãe biológica. Soon-shin era apaixonada por Chan-woo, mas depois descobre que realmente gostava do presidente da empresa de entretenimento Jon-ho. b) Kim Jung-ae (Ko Du-shim): mãe adotiva de Soon-shin e de sangue das irmãs Hye-shin e Yoo-shin. Jung-ae sempre apoiou a filha mais nova e tentava de todas as formas possíveis ajudá-la com os problemas que se envolvia. Quando Soon-shin começa a ter aulas de teatro com Mi-Ryung, sua mãe para de apoia-la, pois seu marido teve um caso com a atriz. c) Lee Chang-hoon (Jeong Dong-hwan): pai adotivo de Soon-shin, marido de Jungae e filho de Mak-rye. Chang-hoon era apaixonado pela atriz Mi-Ryung, que após dar a luz entrega a filha para que Chan-hoon leve-a para um orfanato. Entretanto Chanhoon mostra a criança a sua mulher e diz que a encontrou abandonada na rua. O casal decide cria-lá. Chan-hoon se envolve em um acidente com Mi-Ryung e acaba morrendo nos primeiros capítulos. Mi-Ryung sobrevive mas foge do local sem prestar ajuda. d) Sim Mak-Rye (Kim Yong-rim): avó paterna de Soon-shin. Mak Rye é uma senhora moralista e tradicional, que mora com a nora, as três netas e a bisneta. e) Lee Hye-shin (Son Tae-young): irmã mais velha de Soon-shin. Hye-shin é conhecida por ser a filha exemplar da família, pois sempre foi a mais elegante, inteligente e bonita. Hye-shin se casa com um homem de negócios e vai constituir sua família em Hong Kong. Entretanto a vida de casada se torna mais difícil do que Hyeshin imaginava. Depois de sete anos, a irmã mais velha retorna para casa dos pais com uma filha e problemas familiares. f) Lee Yoo-shin (Yoo In-na): irmã do meio de Soon-shin. Yoo-shin é uma executiva em marketing de uma importante empresa. Yoo-shin é a mais eloquente e esperta da três irmãs e em muitas situações entra em conflito com Soon-shin.Yoo-shin se casa com Chan-woo e vai morar na casa dos sogros e da cunhada. A família de Chan-woo e 48

Yoo-shin sempre se conheceram, mas o casamento dos dois provoca conflitos e problemas entre os parentes. g) Han Woo-joo (Kim Hwan-hee): filha de Hye-shin. Woo-joo é uma menina de sete anos que não entende bem a atual situação dos pais divorciados.

2.2.2.2 Família de Jon-ho

Quando Jon-ho decidiu abandonar a faculdade de Medicina e se tornar artista seu pai foi contrário a decisão. Desde então, a convivência entre pai e filho é limitada à pouco diálogo dentro e fora de casa. A irmã mais nova de Jon-ho seguiu os mesmos passos do irmão, abandonando a faculdade para tentar a carreira artística. Entretanto o patriarca da família Shin fará de tudo para impedir que sua filha se torne atriz.

a) Shin Jon-ho (Cho Jung-Seok): ex-cantor, que resolve não seguir os caminhos do pai na medicina. Ao invés disso resolve criar uma agência de entretenimento, a Gabi Entertainment reconhecida nacionalmente, do qual é o presidente. A atriz Mi-Ryung trabalha em sua empresa. Em determinado momento do drama Jon-ho e Soon-shin se envolvem em um relacionamento amoroso, onde passam por diversos problemas para ficarem juntos. b) Shin Dong-hyuk (Kim Kap-soo): pai de Shin Jon-ho, com quem não tem um bom relacionamento, e Shin Yi-jung. Dong-hyuk possui uma empresa de dermatologia em Seul, onde trabalho com Chan-woo, e é casado com Yoo Soo-jung, mas sempre foi apaixonado pela atriz Mi-Ryung. c) Yoo Soo-jung (Lee Eung-kyung): mãe de Jo-ho, Yi-jung, mulher de Dong-hyuk e amiga de Mi-Ryung. d) Shin Yi-jung (Bae Geu-rin): irmã mais nova de Jon-ho e filha de Dong-hyuk e Soo-jung. Yi-jung começa a pegar aulas de teatro com Mi-Ryung junto com Soonshin, entretanto é forçada a desistir da ideia. Yi-jung se apaixona por Chan-woo quando o vê no trabalho de seu pai, mas o rapaz não demonstrar os mesmos sentimentos.

2.2.2.3 Família de Park Chan-woo

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A família de Chan-woo e Soon-shin são conhecidos um do outro e moram no mesmo bairro. Soon-shin era apaixonada por Chan-woo, porém o rapaz sempre gostou de Yoo-shin, dessa forma considerando Soon-shin como uma irmã mais nova. Apesar das duas mães serem melhores amigas Gil-ja nunca gostou de Yoo-shin. Por conseqüência, quando descobre que seu filho resolveu se casar com a filha do meio da família Lee, Gil-ja decidi fazer de tudo para impedir que o casamento ocorra.

a) Park Chan-woo (Ko Joo Won): Vizinho da família de Soon-shin e médico na empresa de dermatologia do pai de Jon-ho. Chan-woo sempre foi apaixonado por Yoo-shin. Depois de passarem a noite juntos, Chan-woo pede Yoo-shin em namoro. Apesar de recusar de imediato os dois acabam se casando e morando juntos na casa dos pais dele. b) Jan Gil-ja (Kim Dong-joo): melhor amiga e vizinha da mãe adotiva de Soon-shin e mãe de Chan-woo e Chan-mi. Gil-ja mantêm um pequeno restaurante de frango frito no setor onde mora, junto com seu marido Bok-man. Apesar de ser amiga de Jung-ae, Gil-ja sempre teve inveja da situação financeira e estável da família da amiga. Quando seu filho Chan-woo começa a namorar Yoo-shin, Gil-ja não aprova o relacionamento, pois seu sonho era que seu filho se casasse com uma mulher rica e elegante. c) Park Bok-man (Song Min-Hyung): melhor amigo do pai adotivo de Soon-shin, marido de Gil-ja e pai de Chan-woo. Bok-man sempre soube que Soon-shin era filha da atriz Mi-Ryung, mas nunca disse nada para ninguém. d) Park Chan-mi (Ga Won): amiga de Soon-shin, filha de Bok-man e Gil-ja e irmã de Chan-woo. Quando Soon-shin se torna atriz Chan-mi vai trabalhar como estilista pra ela.

2.2.2.4 Outros personagens principais Mi-Ryung é uma das atrizes mais reconhecida da Coréia do Sul. Sempre com os melhores papéis de doramas a atriz esbanja simpatia e admiração, inclusive da jovem atriz Yeon-A. Porém Mi-Ryung possui um passado escuro, que consiste em gravidez indesejada e abandono de criança. O gerente artístico, Il-do, fará de tudo para proteger sua cliente de paparazzis que desejam acabar com a carreira de Mi-Ryung.

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a) Song Mi-Ryung (Lee Mi-sook): atriz, assinou contrato com a empresa do presidente Jon-ho. Descobre ser a verdadeira mãe de Soon-shin. Possuí muitos segredos do passado que tentar esquecer. Foi salva de ser atropelada por Chan-hoon. Mi-Ryung não prestou assistência nenhuma para Chan-hoon, que acabou morrendo. b) Choi Yeon-A (Kim Yun Seo): atriz e ex-namorada do presidente da agência de entretenimento Jun-ho. Quando Yeon-A debutou como atriz ela terminou o relacionamento que tinha com Jun-ho, que na época era apenas cantor. O entrosamento do casal resurge a partir de uma aposta, sugerida por Yeon-A. Quando Soon-shin se torna atriz Yeon-A a vê como sua rival e faz de tudo para atrapalhar sua vida. Yeon-A possuí um relacionamento de filha com a atriz Mi-Ryung c) Hwang Il-do (Yun Da-hun): gerente artístico de Mi-Ryung, responsável por todas as atividades pessoais e profissionais da atriz. Il-do conhece todos os segredos de MiRyung, inclusive que ela tem uma filha. d) Kim Yong-hoon (Lee Ji-hoon): amigo de Jon-ho e Yeon-A. Yoong é gerente de uma loja de café, onde Soon-shin trabalha antes de se tornar artista. e) Seo Jin-Wook (Jung Woo): ex-presidiário e posteriormente torna-se dono de uma padaria do bairro. Jin-wook se apaixona pela irmã mais velha de Soon-shin, Hye-shin, entretanto os dois enfrentam diversos problemas, principalmente com a família de Hye-shin.

A seguir é apresentado um pequeno organograma, que apesar de estar em coreano será utilizado para que ocorra uma melhor visualização das relações entre os personagens do dorama. Figura – 11 ORGANOGRAMA DOS PERSONAGENS

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Fonte: Imageshack (2014)

2.2.3 História do dorama You’re the best Lee Soon-shin Como dito, You are the best Lee Soon-shin, também conhecida como Lee Soon-shin is the best, foi um drama produzido pela emissora de televisão KBS2, entre nove de março e 25 de agosto de 2013, e era transmitido aos sábados e domingos no horário das 19h55min. O dorama foi escrito por Jung Yoo-kyung, dirigida por Yoon Sung-shik e produzida por Mo Wan-il e Bae Kyung-soo. A área de cinematografia foi realizada por Kim Jang-soo. A história gira em torno da vida e dificuldades enfrentadas por Lee Soon-shin e a família, que começam a ocorrer depois da morte de seu pai. Certo dia, depois de ser despedida de mais um emprego Soon-shin se encontra com um vigarista, que indentifica-se como o presidente de uma agência de talentos. Depois de muita conversa a moça resolve assinar contrato com a empresa, entretanto o representante da agência na verdade é um vigarista que coloca Soon-shin e a família em dívida. Para conseguir sanar a dívida Soon-shin começa a trabalhar em uma loja de café, gerenciada por Yong-hoon. A loja é uma extensão da agência de talentos Gabi Entertainment, 52

que está sob comando do ex-cantor e atual presidente Jon-ho. Para conseguir a atenção da exnamorada, a atriz Yeon-ah, o presidente da agência, Jon-ho, faz uma aposta com Yeon-ah de transformar uma pessoa sem qualquer talento em uma grande estrela. Jon-ho conhece Soonshin na loja de café e decide torna-lá uma atriz de sucesso. Porém, depois de ser engana pelo farsante de uma empresa falsa, Soon-shin não aceita a propósta de primeira, apenas depois de muita insistência por parte e Jon-ho. Quando finalmente aceita a proposta e começa a receber aulas de teatro, Soon-shin descobre que ela é adotada e que sua verdadeira mãe é a famosa atriz Mi-Ryung, com quem seu pai teve um caso. A narrativa de todo o dorama gira entorno do conflito descrito anteriormente, quando ao descobrir a verdade, Soon-shin encontra-se no dilema de viver com a verdadeira mãe e se tornar uma atriz ou continar a morar com mãe adotiva, a avó e as irmãs e desistir da idea de se tornar uma atriz, porque sua família adotiva não aprova que Soon-shin tenha convivência com a verdadeira mãe nem com o meio artistico. A intriga entre as famílias aumentam quando descobrem que talvez o patriarca da família seja o verdadeiro de Soon-shin, junto com MiRyung. 2.2.4 O consumo de bebidas alcoólicas no dorama You’re the best Lee Soon-shin

Existem muitos temas que podem ser discutidos no drama. Porém, a presente pesquisa restringiu as análises para dois assuntos específicos: o consumo de bebidas alcoólicas e a indústria do corpo. Para tal análise, foi utilizada a decupagem de partes selecionadas do dorama, bem como o envolvimento do assunto com produções jornalísticas , como reportagens e pesquisas. O primeiro tema de análise escolhido refere-se ao consumo de bebidas alcoólicas. Segundo Sul (2014) os sul-coreanos assumem o primeiro lugar no consumo de álcool no mundo. A pesquisa foi divulgada no Daily Mail e foi realizada com pessoas de maioridade suficiente para beber. De acordo com os dados desta pesquisa, os coreanos bebem em média 13,7 copos de álcool por semana, mais que o dobro do segundo colocado. A principal bebida ingerida é o soju, que consiste em um destilado feito de arroz. Ainda conforme a pesquisa realizada, a marca Jinro Soju, que vendeu cerca de 65 milhões de caixas em 2014, pretende atingir em 2017 a venda de 146 milhões de caixas. No intuito de aumentar a divulgação, a empresa contratou o rapper sul-coreano PSY como garoto propaganda da marca. A indústria criou um vídeo, onde o cantor ensina treze 53

maneiras de virar um shot da bebida. Ainda segundo a pesquisa, Sul (2014) o Brasil também faz parte do rank, aparecendo na nona posição com 3,6 copos por semana. A maior parte dos sul-coreanos costuma beber com patrões, colegas de trabalho, amigos ou membros dos mais variados grupos. Está atitude pode ser tida como parte da cultura social da Coréia do Sul, uma vez que diversas pessoas que já estiveram no país compartilham da mesma noção. Coutinho (2013) afirma que: Os coreanos bebem bastante e isso meio que parte da cultura deles. Você tem que beber com eles. Se alguém bem mais velho que você, alguém superior a você na hierarquia deles, alguém que está em um ano mais avançado na universidade que tenha mais moral te oferece uma bebida, você tem que respeitar. Se eles mandarem você beber, você tem que beber. Mas o que você pode fazer se você não quer beber, ou se você não quer beber muito, pra respeitar a cultura é simbolizar que está brindando [...].

Beber socialmente é a forma mais normal, entre os sul-coreanos, de confraternização e convívio. Muitas circunstâncias são marcadas pelo consumo exagerado de álcool, dos quais se desta as festas pós-exame de admissão na universidade, promoções e demissões no trabalho, término de relacionamento, entre outros. As situações citadas são frequentemente retratadas nos dramas, sempre acompanhada de comida ou simplesmente com várias garrafas, preferencialmente as verdes, representadas pelo soju. O drama You are the best Lee Soon-shin tem início com várias senhoras ao redor de uma mesa comendo e, principalmente, bebendo. Pela imagem é possível notar que ainda está claro. As conversas são intercaladas entre dizeres sobre a vida de cada uma e vários goles de alguma bebida. Ainda no primeiro capítulo encontra-se outra cena referente ao consumo de álcool: quando Soon-shin está voltando da entrevista de emprego, junto com seu vizinho Chan-woo, e encontra sua irmã Yoo-shin dentro do restaurante de sua vizinha bêbada com outro rapaz. Pelas roupas de Yoo-shin, ela saiu do trabalho e foi beber. A irmã de Soon-shin fica bêbada ao ponto precisar ser carregada pelo vizinho Chan-woo para casa. Outra cena sobre consumo de bebidas alcoólicas é encontrada no episódio sete. A irmã do meio de Soon-shin, Yoo-shin tinha acabado de discutir com a irmã mais nova e agora está em uma barraca de rua, muito comum nos centros de Seul, bebendo sozinha. Em determinado momento o vizinho Chan-woo aparece andando ao lado da barraca e, ao notar a presença de Yoo-shin no local, vai até ela. O trecho a seguir, referente à conversa entre Yoo-shin e Chanwoo. A decupagem foi inserida no intuito de demonstrar os tipos de diálogos que ocorrem quando os sul-coreanos bebem:

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- Você disse que muitas pessoas bebem com você. Por que está sozinha? – pergunta Chan-woo ao lado da mesa. - Eles vão está aqui logo. - É isso! Então, eu vou ficar até os seus amigos chegarem – Chan-woo pega uma cadeira e senta em frente Yoo-shin. – Ajumman, traga polvo. - Quem te pediu pra pedir isso? -Você não gosta de polvo? Como você pode beber de estômago vazio? -Esqueça. Faça o que você quiser. Pare de fingir que se preocupa comigo. -Aguente, Lee Yoo-shin. -Esqueça. Vá confortar a sua favorita, Soon-shin. -Eu não gosto da Soon-shin. Eu... Não é que eu não goste dela. Mas por que você está falando dela? Pare de fazer as coisas difíceis pra ela.Também é difícil pra ela. - O que você sabe? – pergunta Yoo-shin nervosa com Chan-woo – Desde quando Soon-shin veio morar conosco você sabe como eu tenho vivido? - O que você está... - Meus pais só se importam com Soon-shin. “Pequena”, sempre dizendo “Nossa pobre pequena”. Eu estou sempre atrás dela. Eu estou sempre desistindo por ela. - É porque você já é muito capaz. - Você está dizendo a mesma coisa que a minha mãe. Minha mãe está trabalhando para ajudar a quitar a dívida de Soon-shin. Meu pai deixou um bolo para Soon-shin antes de morrer. “Você é a melhor, minha filha”, ele escreveu isso no bolo. - Não significa que é só para Soon-shin. Isso era para vocês três. - Você é meu pai? Você não saberia. Todos estão me culpando. Olhe da minha pespectiva. Eu nem mesmo vi o meu pai antes dele morrer. Você entende esse tipo de sentimento? [Nesse momento Yoo-shin começa a chorar chamando a atenção de todos do bar. Depois alguns minutos, os dois ainda estão no bar, agora ambos bêbados. O Diálogo continua]. -Yoo-shin, vamos! Nós dois estamos bêbados. - Onde estamos indo? Eu não vou para casa hoje. Vamos ter mais uma rodada. Só mais uma. Ao tentar tirar a garrafa das mãos de Yoo-shin, a moça cai no chão e bate com a testa na mesa. Chan-woo ajuda a se levantar. Ao perceber que ela não consegue andar sozinha Chan-woo decide carregá-la nas costas. Dez minutos depois, ao retornar a cena para Yoo-shin, percebe-se que agora a moça está dormindo em uma cama de motel. Ao se virar no intuito de brigar com a irmã mais nova por prender o lençol, Yoo-shin vê Chan-woo ao seu lado, sem camisa e debaixo do mesmo cobertor que ela. “-Eu sou mesmo louca. Sério!” – Yoo-shin começa a dizer para si mesma enquanto observar a atual situação em que está.

A cena seguinte mostra Yoo-shin saindo as pressas do motel, descabelada e com os sapatos nas mãos, tentando lembra o que aconteceu na outra noite para que ela estivesse em um hotel com Chan-woo. A cena também é acompanhada por uma música animada, dando ar de humor para a parte especifica. Durante o dorama ocorrem várias situações semelhantes com outros personagens da trama. É interessante registrar que está cena é bastante comum em outros dramas, principalmente sendo seguida pela pessoa bêbada tendo que ser carregada nas costas por alguém. Geralmente a heroína da história bebe e o mocinho, depois de encontrá-la, a carrega para casa dela. Essa situação é muito comum em doramas. Cenas como essa e outras mais, que fazem refêrencia a relacionamentos entre casais, provocam nos dorameiros o sentimento de querer viver um romance de drama. 55

A Coréia do Sul é tida como um dos países que mais consomem bebidas alcoólicas. Consequentemente, esta comprovação demonstra que os sul-coreanos têm mais predisposição em desenvolver doenças decorrentes do álcool. De acordo com Bernardo (2013) o excesso no consumo de bebidas alcoólicas pode provocar doenças em todo o corpo e não apenas a hepatite e a cirrose, como a maioria acredita. Apesar dos problemas de saúde, pode-se concluir, por meio da observação dos dramas, vídeos, reportagens e blogs de pessoas que estiveram no país, que o ato de beber na Coréia do Sul tornou-se uma das diversas maneiras de desenvolver e reforçar os vínculos de amizade, solidariedade e organização entre os sulcoreanos. 2.2.5 A indústria do corpo no dorama You’re the best Lee Soon-shin A Coréia do Sul vive uma cultura em que o homem é julgado por sua situação financeira, e as mulheres por sua beleza. Devida à essas pressões culturais, a sociedade coreana é hoje movida à beleza, onde pessoas são julgadas mais por sua aparência do que por seu caráter. (YEO, 2013)

A citação anterior é da fotografa sul-coreana Ji Yeo sobre a série Beauty Room Recovery, que consiste na sessão realizada com pacientes que acabaram de passar por alguma cirurgia plástica. O principal objetivo do projeto foi mostrar as dificuldades enfrentadas por mulheres para conseguir atingir o corpo e o rosto dos sonhos. O bairro Gangnam é um dos mais famosos de Seul, principalmente depois do sucesso de PSY com Gangnam Style. De acordo com Prado (2013) ao se caminhar pelo bairro é impossível não notar a quantidade de anúncios de clínicas de cirurgias plásticas no bairro, que ficou conhecido como cinturão da beleza. “A busca pelo corpo e, principalmente, pelo rosto perfeito é uma obsessão nacional”. (PRADO, 2013) Prado (2013) afirma que as mulheres sul-coreanas não querem apenas apagar as marcas de expressão e envelhecimentos, mas sim mudar seus traços orientais, como arredondar os olhos e afinar o queixo. De acordo com Astuto (2013) os dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica de 2010 revelaram que a Coréia do Sul é um dos países com a maior taxa per capital do mundo no que se refere a cirurgias plásticas. Tarantino (2014) explica que os processos cirúrgicos mais procurados pelos asiáticos, tanto homens como mulheres, são: as intervenções na pálpebra, que significa na remoção do excesso de pele e gordura da região dos olhos, dando a impressão de serem maiores; o aumento do dorso nasal, com a utilização de matérias como silicone e polietileno poroso; a 56

correção da mandíbula projetada para fora, que consiste na fratura do osso da articulação para reduzir o comprimento inferior e empurrá-lo para trás e, por último, a cirurgia conhecida como pés de cinderela, que são pequenas retiradas de gordura do local, diminuição ou correção dos dedos. O resultado do processo é surpreendente. As pessoas submetidas às operações adquirem uma aparência completamente diferente da original. No (Anexo) contém uma reportagem da revista Istoé sobre o assunto, que apresenta fotos do antes e depois de algumas pacientes. O aumento no número de pessoas que adquirem um novo rosto proporcionou benefícios para os solicitantes, entre eles o bem estar. Todavia, surgiram malefícios com as operações. Entre eles, ocorreu a situação dos clientes serem barrados nos aeroportos internacionais, porque a foto do passaporte não condizia com o rosto do portador. A solução encontrada pelos médicos sul-coreanos do hospital Dental ID – Eye, Nose & Petit Surgery Center foi fornecer aos seus pacientes um documento de comprovação de identidade. Neste documento estaria presente o número do passaporte, nome do hospital, a data em que a pessoa foi operada e a duração de visita em que o estrangeiro permaneceria na Coréia. Apesar da emissão do atestado a “principal recomendação dos médicos é que os clientes tirem outro passaporte assim que possível” (TARANTINO, 2014). Prado (2013) diz que na lista da Sociedade Internacional de Cirurgias Plásticas Estéticas a Coréia do Sul está em sétimo lugar, totalizando 258.350 mil procedimentos em 2011. Enquanto isso, o Brasil ocupa o segundo lugar da lista, com 905.124 mil procedimentos. Isso ocorre porque os focos das cirurgias são localizados em partes diferentes. As brasileiras geralmente modificam o corpo, enquanto os sul-coreanos optam por mudar o rosto. Ainda segundo Prado (2013) existe um estigma contra as pessoas que não conseguem ou não querem alcançar o corpo e o rosto ideal. Geralmente os que lutam contra a maré são tidos como preguiçosos, fracos e ainda correm o perigo de serem excluídos do circulo social. Para os sul-coreanos a ideia da plástica é tida como um investimento a longo prazo, além de ser considerado como sacrifício necessário. As operações citadas anteriormente costumam ser o padrão de beleza estabelecido pelas celebridades sul-coreanas, que são tidas como modelo a serem seguidos. Entretanto, apesar de muitos artistas entrarem no bisturi das clínicas, dificilmente algum deles assumirá publicamente que realizou uma cirurgia plástica. Acredita-se que o principal objetivo é provocar nos fãs a ilusão de que a beleza dos ídolos é absolutamente natural. Dessa forma, a 57

única maneira de conseguir obter sucesso, beleza e tudo que o ídolo possui, é recorrer à cirurgia plástica. Entre os diversos motivos que levam alguém a fazer cirurgia plástica na Coréia do Sul está a oportunidade de conseguir vantagem na hora de obter um emprego. O Japão e Coréia do Sul são “os únicos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que permite que empregadores exijam fotos em currículos.” (PRADO, 2013). No dorama You are the Best Lee Soon-shin há duas cenas especificas que retratam bem as situações citadas e descritas anteriormente. A primeira ocorre no inicio do drama. Soon-shin participa de uma entrevista de emprego, junto com outras duas concorrentes. Depois que os examinadores terminam de conversar com as candidatas Soon-shin permanece na expectativa de ser a próxima a responder. Porém, os consultores apenas agradecem a participação das concorrentes e pede que se retirem da sala. Soon-shin questiona o porquê não ter sido entrevistada por ninguém. Os contratantes examinam a ficha dela, obsevam o seu rosto, e as roupas que está usando e concluem dizendo que ela não se encaixa no perfil da empresa. A segunda cena ocorre no episódio oito, logo após Soon-shin assinar o contrato com Jon-ho. O presidente da agência de entretenimento realizou uma reunião com todos os chefes de departamento da empresa, no intuito de criar o conceito e a imagem de estréia de Lee Soon-shin como atriz na indústria do entretenimento. Todavia, os funcionários mostram-se pouco entusiasmados com o lançamento da moça por acreditarem que a mesma não possui os atributos necessários para se tornar uma artista, conforme pode-se verificar no diálogo que se segue:

- Então, vamos começar a proposta de conceito de Lee Soon Shin. Como vocês podem ver pela aparência dela, é difícil para ela ser uma Song Hye Gyo ou Kim Tae Hee33. – o secretário do presidente deu início as primeiras impressões de Lee Soonshin. – Além disso, ela tem 1,62m e pesa 50kg. Embora ela pareça magra, há muitas coisas escondidas. Ela também é baixa e seus peitos são um pouco... enfim. Claro, é difícil conseguir uma aparência de Jeon Ji Hyeon ou Shim Mi Na. - Para qual universidade ela foi? – pergunta um dos chefes de departamento. - Para uma certa Universidade Han Baek. Chamar atenção pela educação como Kim Tae Hee ou Han Um Ran é um pouco difícil. - Então qual a conclusão? – pergunta o presidente Jon-ho - Esse tipo de aparência especial é a primeira na nossa empresa, então eu acho que precisamos focar em desenvolver sua atuação. – responde o secretário. - Isso é uma análise? É isso o que especialistas deveriam dizer? – o presidente Jonho mostra-se insatisfeito com a exposição das informações de Soon-shin.

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Todos os nomes citados pelo secretário do presidente da empresa no diálogo são de atrizes sul-coreanas reconhecidas. 58

Neste momento o celular de Jon-ho toca e ele perceber ser uma ligação da exnamorada Yeon-A. Depois de conversar por pouco minutos com ela, Jon-ho retorna a reunião da empresa. - Presidente é melhor desistir do contrato. – diz o chefe de departamento Woo assim que Jon-ho entra senta-se na mesa. - Presidente, eu tenho a mesma opinião. Cirurgia plástica e aula de atuação, mesmo se fizermos nosso melhor parece impossível. – o chefe de departamento abre na rela de seu computador uma foto de Soon-shin e começar fazer algumas montagens – De qualquer forma, mesmo cirurgia plástica, dar a ela olhos maiores e um nariz mais comprido, dobrar o queixo, ajustar os lábios, levará pelo menos um ano para esperar o inchaço desaparecer. Presidente mude isso para um projeto a longo prazo. - Você está criando um monstro da cirurgia plástica? – pergunta o presidente furioso – Vá e olhe lá fora. Está cheio de monstros de cirurgias plásticas. Como você só pode ter esse tipo de ideia? Além disso, você não pode mudar isso para um projeto a longo prazo. É um projeto de seis meses. -Presidente... - Por que? Por que Chefe de Departamento Woo? Você já se esqueceu? Quando a nossa empresa debutou KOP34 pela primeira vez. Ninguém disse que seria um sucesso. Eles só duraram três meses, mas eles se apresentaram no Tokyo Dome. Em um pequeno período de tempo eles tiveram até mesmo uma turnê mundial. Não há nada impossível nesse mundo. Mesmo se é impossível, nós temos que fazer isso funcionar. Esse é o trabalho de um produtor. Vocês sabem que não há tal coisa como caminho fácil! Mesmo assim, eu tenho que fazer funcionar a todo custo.

A cena da reunião termina e os funcionários são dispensados. O presidente da agência vai ao restaurante, onde Soon-shin está e entrega a ela um cardápio com a dieta que ela deve seguir a partir daquele dia. Jon-ho também passa um horário de exercício que também deverá ser executados todos os dias por Soon-shin. Para ter certeza de que ela estava se exercitando, era necessário que a moça enviasse todos os dias uma foto da academia para o presidente. Dessa forma, Jon-ho concluiu que não seria necessário que Soon-shin fizesse nenhum tipo de cirurgia, mas ela definitivamente deveria emagrecer. Por último, apenas como complemento de análise, a ex-namorada de Jon-ho terminou o relacionamento com ele assim que ela atingiu sucesso como atriz. Enquanto Yeon-A trilhava o caminho do sucesso, Jon-ho ainda ensaiava constantemente na empresa esforçandose para lançar seu primeiro CD. Anos mais tarde, ao se reencontrarem, Yeon-A descobre que Jon-ho agora é presidente e dono de uma bem sucedida agência de entretenimento e que entre os artistas agenciados por ele está a celebridade Mi-Ryung, a quem admira muito. Com isso o interesse por Jon-ho começa a surgir novamente e Yeon-A faz de tudo para reconquistar o amor de Jon-ho. Os capítulos que representam a cena descrita anteriormente reforçam ainda mais a frase da fotografa escrita no começo deste tópico, sobre o homem ser julgado pela condição financeira. A partir do momento que Yeon-A percebeu que Jon-ho estava bem

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Nome fictício de uma de boyband. 59

financeiramente e que ainda possuía sentimentos por ela, a atriz não perdeu a oportunidade de deixar-se envolver em um relacionamento com o presidente novamente. Sobre o diálogo anterior, dois fatores devem ser citados. Primeiro que a fala do presidente da agência de entretenimento desaprovando a ideia de realizar cirurgia plástica em artista pode ser entendida como uma crítica a todo o sistema da constante busca pela mudança no corpo. Entretanto, no mesmo episódio temos o presidente Jon-ho entregando uma dieta e horários na academia para Soon-shin. Ou seja, apesar da pequena crítica no dorama sobre as operações clínicas, a protagonista ainda sim deveria mudar o seu corpo para adequar-se aos padrões de beleza exigidos de um ídolo sul-coreano. Como está foi uma situação retratada no drama, com ênfase na parte que refere-se às modificações do corpo, conclui-se que o fato citado pode ser tido como algo recorrente entre os habitantes da Coréia do Sul.

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CAPÍTULO 3 OS DORAMAS COMO REPRESENTANTES CULTURAIS DA CORÉIA DO SUL

Os principais tópicos, que este trabalho se propôs a discutir, refere-se à condição de dramas/doramas como representantes culturais da Coréia do Sul. A dúvida surgiu a partir da observação e comparação dos dramas como conteúdos audiovisuais veiculados nas emissoras de televisão sul-coreanas, assim como ocorre com as novelas brasileiras veiculadas nas tevês do Brasil. Entende-se que os produtos audiovisuais brasileiros proporcionam determinada criação de imagem do país, que pode ser favorável ou não. A televisão, a publicidade e o marketing são os principais responsáveis por organizar a construção de sentidos, imaginário e identidade de determinada cultura por meio da mídia. As representações ocorrem nos comerciais de empresas, produtos e serviços, além de também serem reproduzidas em programas de variedade e séries televisivas. Os doramas, como já definido no Capítulo 1, enquadram-se na mesma categoria de entretenimento das novelas brasileiras. Muitos autores da área publicitária trabalham com o termo de representação. Segundo Mosconvici (2001) a representação social substitui os mitos em nossa sociedade e cria uma difusão de conhecimentos executados por cientistas, artistas e especialistas comunicacionais da mídia e do marketing. Outro autor que complementa a mesma ideia é o britânico Raymond Williams (1994), responsável por pesquisas na área de estudos culturais. De acordo com ele, todos os processos comunicativos estão inseridos em um campo cultural mais amplo, por isso a cultura não pode ser compreendida sem referência à sociedade, ou às práticas sociais dos indivíduos. A partir desta constatação, é possível afirmar que os doramas podem ser considerados como representantes da cultura sul-coreana em virtude da alta veiculação de produtos audiovisuais nos meios de comunicação internacional, além da constante referência à vida dos coreanos em sociedade. Entretanto, é possível que os programas audiovisuais da Coréia do Sul, assim como as novelas brasileiras, possuam estereótipos em sua composição. Compreende-se que os estereótipos são generalizações promovidas pelas pessoas sobre comportamentos ou características de alguém ou de lugar. Geralmente, o termo é criado a partir de um conceito infundado sobre algo, quando as pessoas se baseiam em opiniões alheias e as tornam como verdadeiras. O conceito foi desenvolvido pelo escritor 61

estadunidense Walter Lippmann, em 1922. Em alguns casos ocorre a confusão entre estereótipo e preconceito, já que ambos trabalham com uma ideia preconcebida sobre determinado assunto, muitas vezes incutida no subconsciente da sociedade (SIGNIFICADO, 2014). Nos países da Ásia, a ação de curvar-se pode ser vista como um exemplo de estereótipo. Geralmente, por falta de conhecimento, muitos ocidentais não entendem o significado por trás do ato de se curvar diante de alguém. Existem diferentes maneiras e situações nas quais essa ação ocorre. Em determinados momento é possível verificar esse movimento sendo realizada de forma desrespeitosa e com ironia em programas humorísticos brasileiros, que tenham o tema voltado para os asiáticos. Compreender as maneiras culturais que compõem um país pode proporcionar a quebra de barreiras e preconceitos entre os povos. As curvaturas são movimentos sempre presentes nos doramas e que constituem significado de respeito para com as pessoas mais velhas ou superiores hierarquicamente. O site de notícias coreanas Sarangingayo explica para seus leitores como e quando deve-se realizar o ato de curvar-se na Coréia do Sul.

Quando você está se encontrando com alguém de maneira informal, isto é, com amigos ou conhecidos em situações usuais do dia a dia, o mais indicado é uma pequena curvatura, em torno de 15°. Essa simples reverência é usada para dizer “Olá”, “Obrigado” e “Até logo”. Para situações mais importantes e formais (como reuniões de trabalho e eventos sociais), ou para pessoas mais importantes (como seu chefe, um ministro e idosos), quanto mais curvada for sua reverência, maior respeito é mostrado, sendo ela entre 30° e 90°. O tempo que você permanece curvado também é levado em conta: maior o tempo, maior o respeito. As mãos devem ficar ao lado de seu corpo, ou em sua frente, nunca para trás. Agora, a reverência de maior importância é a chamada keunjeol (큰절 – “grande reverência”), sendo usada para as mais formais ocasiões e para mostrar o maior tipo de respeito. Os coreanos normalmente fazem a keunjeol para os familiares mais velhos durante o feriado de Ano Novo Lunar (설날 – seollal) e o Festival da Colheita (추석 – Chuseok). Ela também é utilizada durante uma cerimônia tradicional de respeito aos antepassados, chamada jesa (제사). Quando um homem vai pedir a mão de uma mulher em casamento, ele normalmente também faz a keunjeol para a família da noiva. Por fim, lembrem-se que para fazer uma boa reverência nunca fique olhando para a pessoa, encarando-a, olhe para o chão quando o fizer ou a intenção de respeito estará comprometida. (SARANGINGAYO, 2014).

Figura 12 – Passo a passo da curva keunjeol

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Fonte: Sarangingayo (2014)

Um estereótipo bastante comum dos ocidentais é o fato de considerar que japoneses, coreanos e chineses são iguais, tanto fisicamente como culturalmente. Os países localizam-se em espaços diferentes e possuem formações culturais completamente distintas entre si. Como prova pode ser citada as vestimentas tradicionais, a língua e a culinária. Sushi (2014) explica algumas diferenças entre os dois povos como a roupa tradicional das mulheres. As japonesas utilizam o Quimono, enquanto as coreanas usam o Hanbok. O alfabeto o coreano é chamado de Hangeul (한글), enquanto o japonês possui três variações entre Hirangana, Katana e Kanji (漢字). Em termos de comparação, seria como dizer que bolivianos, brasileiros e argentinos têm a mesma cultura, falam a mesma língua e possuem os mesmos costumes. Williams (1994) destaca que as forças produtivas da cultura estão longe de fazerem uma reprodução automática e independente, pois fazem parte de um sistema representação de significados e valores desenvolvidos a partir das práticas em sociedade. Os empresários da mídia apenas aproveitaram da produção em massa da indústria cultural para reproduzir a cultura sul-coreana, por meio dos dramas, em escalas maiores, visando chamar a atenção da audiência. Androvandi (apud KELLNER, 2001, p. 9) explica as produções culturais a partir dessa lógica: A cultura da mídia é industrial, organiza-se com base no modelo de produção de massa e é produzida para a massa de acordo com tipos (gêneros), segundo fórmulas, códigos e seus produtos são mercadorias que tentam atrair o lucro privado produzido por empresas gigantescas que estão interessadas na acumulação de capital. A cultura 63

da mídia almeja grande audiência; por isso, deve ser eco de assuntos e preocupações atuais [...].

A partir da pesquisa foi constatado que, apesar de muitos conteúdos possuírem estereótipos, ainda sim segundo estudos de Williams (1994), os dramas podem ser considerados como representantes culturais. O desmembrar de conceitos de definições sobre os estudos culturais, que será realizado a seguir, foi elaborado na intenção de fortalecer as principais ideias de representação cultural, valores, produção de sentido e significados.

3.1 ESTUDOS CULTURAIS

Neste capítulo foi utilizada a metodologia de revisão da literatura para estabelecer uma das principais bases teóricas do trabalho. Os estudos culturais fazem parte da linha que estuda a Comunicação como parte da cultura e as questões relacionadas com a identidade, as produções de sentidos e de significados. Neste trabalho, pretende-se citar e exemplificar a ideia dos principais autores da área no intuito de fortalecer a justificativa de representação cultural presente nos dramas. Raymond Williams (1994) foi um dos fundadores da concepção de estudos culturais. O autor dedica boa parte de seu livro Marxismo e Literatura na reflexão deste termo: A complexidade do conceito de “cultura” é, portanto, notável. Tornou-se um nome de processo “íntimo”, especializado em suas supostas agências de “vida intelectual” e “nas artes”. Tornou-se também um nome de processo geral, especializado em suas supostas configurações de “modos de vida totais”. Teve um papel crucial em definições de “artes” e “humanidades”, a partir do primeiro sentido. Desempenhou papel igualmente importante nas definições das “Ciências Humanas” e “Ciências Sociais”, no segundo sentido. Cada tendência se inclina a negar o uso do conceito à outra, apesar de muitas tentativas de reconciliação (WILLIAMS, 1979, p. 23,).

De acordo com a análise de Androvandi (2010) Williams desenvolveu uma teoria materialista da cultura, que se apoiou na tradição marxista de crítica cultura. A autora ainda relata que “a questão central era a interligação entre cultura e vida social. Dessa forma, as forças produtivas da cultura estão longe de ser uma espécie de instância autônoma, mas um sistema vivido de significados e valores” (ANDROVANDI, 2010, p. 32). Anda segundo a autora, Williams argumentava que os estudos culturais proporcionam um viés de resistência contra a ideia da Teoria Hipodérmica, onde a audiência faz parte de uma massa passível e controlada pela mídia.

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Muitas culturas, principalmente as orientais, sofrem para manter valores e tradições do país por conta da constante presença de tecnologias e da influência de outras culturas. O autor Stuart Hall (1999) analisa como fica, na Modernidade, a construção da identidade nacional afetada pelo processo de globalização mundial. Para ele, a nação não pode ser vista somente como uma entidade política, mas também como “um modo de construir sentidos que influencia e organiza tanto ações quanto a concepção que temos de nós mesmo”. (HALL, 1999, p. 50). Para construir o senso de pertencimento e identidade nacional, Hall (1999) trabalha com cinco estratégias. A primeira é narrativa de nação, baseada em histórias, literaturas nacionais, na mídia e na cultura popular do lugar. A segunda é a ênfase dada nas origens e nas tradições, além da invenção de tradição como a terceira. A quarta é a criação de um mito funcional que gira em torno das origens da nação. E por último seria a ideia de um povo puro, imaculado e original. De acordo com o autor “o discurso da cultura nacional não é, assim, tão moderno como aparenta ser. Ele constrói identidades que são colocadas, de modo, ambíguo, entre o passado e o futuro” (HALL, 1999, p. 56,). Além da construção do senso de pertencimento, o autor ainda trabalha com três conceitos que constituem a cultura nacional como “comunidade imaginada”. São eles: as memórias do passado, o desejo por viver em conjunto, a perpetuação da herança. Nos dramas é possível perceber a presença dos três conceitos. Como exemplo pode ser citado o caso de Coutinho. Larissa Coutinho é estudante universitária que participou do programa Ciências Sem Fronteiras, no qual teve a oportunidade de estudar na Coréia do Sul durante um ano. A aluna criou um canal no Youtube em que conta a experiência do intercâmbio e diversas curiosidades do país. Em um de seus vídeos, a universitária compartilhou que algo muito comum entre os sul-coreanos é o medo de ficar sozinho. De acordo com Coutinho existe uma pressão da sociedade coreana para que as pessoas se casem, constituam família e aumentem a população. Segundo Coutinho (2014), “se um rapaz ou uma moça tem mais ou menos 30 anos e ainda não se casou é considerado um absurdo”. Por conta da pressão, algo muito comum entre os relacionamentos coreanos é o miting, que são encontros em grupo (geralmente três moças e três rapazes), organizado entre amigos em comum para conhecer alguém. O famoso encontro as cegas também é bastante comum entre os coreanos, principalmente filhos de chaebols que ainda não são casados. Algo também observado por Coutinho (2014) na cultura coreana está relacionado com o contato físico entre pessoas do sexo oposto. A Coréia do Sul ainda é um país considerado conservador, com tradições fortes, principalmente no que se refere aos relacionamentos 65

afetivos. Por isso, é muito comum observar amigos do mesmo sexo tendo mais contato físico entre eles do que com o sexo oposto. É importante ressaltar que isso não significa que a maioria dos relacionamentos na Coréia emergem de uniões homossexuais, mas sim, que são resultado de uma cultura de pouco contato. Coutinho (2014) explica mais sobre o assunto: Amigos do sexo oposto não tem muito contato físico com o outro (abraço, beijos no rosto). Por isso que é possível ver muitos meninos abraçados com meninos e meninas abraçadas com meninas porque é como eles estão acostumados a demonstrar carinho [...] Esse contato não significa que eles sejam gays, mas sim porque é algo da cultura, algo como demonstrar carinho e contato físico com pessoas do mesmo sexto sem preconceito.

Ambos os exemplos citado anteriormente são manifestados em dramas coreanos. É muito comum que os pais, principalmente de famílias com poder aquisitivo maior, marquem encontro às cegas para seus filhos, pois, como membro da família, ele tem o dever de se casar e ter um herdeiro. A questão do contato com sexo oposto também é retratada nos doramas, inclusive entre casais. Obviamente, existem exceções, mas o drama não deixa de mostrar algo da realidade social. Coutinho (2014) concorda com esta afirmação dizendo que “o drama pode exagerar um pouco, mas não deixa de se basear numa verdade. A sociedade coreana ainda é muito conservadora, então essa cultura ainda é muito forte”. Ainda na busca pelo entendimento de identidade nacional, Hall (1999) trabalha com a concepção de Anthony McGrew sobre globalização. De acordo com o autor: A “globalização” se refere àqueles processos, atuantes numa escala global, que atravessam fronteiras nacionais, integrando e conectando comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em realidade e em experiência, mais interconectado. (HALL, 1999, p. 67. Grifos do autor,).

As mudanças na compreensão de identidade nacional por conta da globalização promovem diversas discussões devido ao envolvimento com o processo de representatividade. Alguns teóricos tendem a considerar a identidade cultural nacional como algo que está sendo desconstruído pela globalização. Por esse motivo foi que ocorreu a criação do comitê consultivo do Ministério do Turismo, Cultura e Esporte da Coréia do Sul, já citado no Capítulo 1, que possui entre os seus objetivos promover a cultura tradicional coreana. Hall (1999) demonstra como ocorre os movimentos da globalização diante deste cenário: Quanto mais a vida social se tira mediada pelo mercado global de estilos, lugares e imagens, pelas viagens internacionais, pelas imagens da mídia e pelos sistemas de comunicação globalmente interligados, mais as identidades se tornam desvinculadas – desalojadas – de tempos, lugares, histórias e tradições específicos e parecem 66

“flutuar livremente”. Somos confrontados por uma gama de diferentes identidades (cada qual nos fazendo apelos a diferentes partes de nós), dentre as quais parece possível fazer uma escolha (HALL, 1999, p.75).

O principal termo que pode englobar a cultura e a representação da Coréia do Sul como um todo seria a Hallyu. Não há teorias que comprovem o sucesso da onda coreana nem o porquê da força. Existem teorias e perspectivas nacionalistas, pós-colonialistas, neoliberais, entre outras defendidas em simpósios pelo país. Otakismo (2012) retratada em seu texto alguns argumentos da onda como resultado do colonialismo cultural. Entre os argumentos existem aqueles que dizem que o pop coreano “seria apenas uma cópia sem identidade das culturas estrangeiras, que jamais conseguirá sair da sombra dos EUA e da Europa Ocidental” (OTAKISMO, 2012). O autor ainda ressalta “que não haveria futuro para a Hallyu sem se desvincular de uma tradição cultural que não é coreana, esta que aos poucos estaria sendo morta pela cultura pop” (OTAKISMO, 2012). Entretanto, nota-se no texto que esse tipo de concepção é fatalista. O autor critica o exemplo dado por representantes coreanos de que o financiamento da Hallyu, realizado desta maneira, poderia fracassar e ainda levar a cultura nacional do país junto. Hall (1999) explica que existe a tendência de que as pessoas passem a viver em outras nações e atribuam características da cultura local de onde estão como uma troca. De acordo com o autor, essas pessoas são resultado da “diáspora criadas pós –coloniais”, que impulsiona a ocorrência de transporte de uma realidade cultural para outra. Hall (1999) ainda relaciona seus estudos sobre referente a culturas hibridas e o envolvimento com a Modernidade. Com os avanços tecnológicos e dos processos de globalização decorrente no mundo, o possível resultado seria a homogeneização das culturas. Entretanto, o que pode ser observado são as ações de alguns países trabalhando com estratégias que visam o fortalecimento da cultura local e do nacionalismo nos cidadãos. Essa ação funciona contrariando a ideia da globalização e, por consequência, descentraliza a imagem de que a cultura do ocidente é global. Hall (1999, p. 97) reflete sobre o assunto da seguinte maneira: Entretanto, a globalização não parece estar produzindo nem o triunfo do “global”, nem a persistência, em sua velha forma nacionalista, do “local”. Os deslocamentos ou os desvios da globalização mostram-se, afinal, mais variados e contraditórios do que sugerem seus protagonistas ou seus oponentes. Entretanto, isto também sugere que, embora alimentada, sob muitos aspectos, pelo Ocidente, a globalização pode acabar sendo parte daquele lento e desigual, mas continuado, descentramento do Ocidente.

Nessa lógica nacionalista pode ser citado um movimento que está ocorrendo no Japão, a anti-hallyu. O país japonês sempre foi considerado um dos principais mercados dos 67

produtos culturais sul-coreanos. Entretanto, a situação mudou quando o ator japonês Takaoka Sasuke foi demitido pela agência na qual trabalhava por criticar no Twitter a predominância de propaganda de origem coreana transmitidos pela Fuji TV. No dia 22 de agosto de 2011, mais de seis mil ativistas japoneses reuniram-se na frente da emissora de TV contra programação coreana exibida. Diversas teorias começaram a circular na Internet sobre a relação da Fuji TV com as agências coreanas. Entre elas está a teoria de que a TV é acionista de grupos ligados ao k-pop e teria interesse na fabricação do seu sucesso. Muitos críticos condenam a postura dos japoneses e denominam essa atitude como fanatismo nacionalista. Em entrevista ao jornal online The Korea Times, um cidadão japonês revela que o movimento anti-hallyu ganhou força quando os japoneses conservadores começaram a perceber que a fama, que a onda coreana ganhou em um curto período de tempo:

Em tempos de queda da economia, os japoneses têm se consolado com a crença de que o Japão ainda é superior a quaisquer outros países asiáticos em termos de conteúdo da cultura e das actividades conexas, mas o forte aumento de k-pop e dos dramas coreanos no Japão quebrou essa crença. Acho que a auto-confiança quebrada desempenhou um papel crucial em que levou o sentimento anti-hallyu. (PARK, 2014).

Ainda de acordo com a reportagem, os japoneses executaram manifestações pelas ruas movimentadas, principalmente por ruas que tenham lojas com produtos coreanos e restaurantes com comidas típicas da Coréia do Sul. Durante os protestos os japoneses gritavam palavras de ódio e erguiam placas com mensagens ofensivas como “Matem a Coréia!”. Segundo a reportagem a frequência das manifestações aumentou nos últimos meses. Figura 13 – Protesto dos anti-hallyu em Tóquio no dia 19 de maio de 2013

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Fonte: Korea Times (2014)

Entre as principais criticas, que os japoneses fazem está a transmissão, por parte da mídia, a ideia da fabricação de uma febre, ou um fenômeno como a Hallyu, que desvaloriza a cultura nacional do Japão e direciona o capital adquirido no país para outro lugar. A atual crise e os conflitos que envolvem coreanos e japoneses ganhou proporções políticas, fortalecidas pelo atual primeiro ministro japonês Shinzo Abe. Segundo o professor Jo YangHyeon, entrevistado pelo jornal The Korea Times, existem tipos de forças políticas que instigam no público (japonês) o sentimento anti-coreano. Dessa forma, pode-se concluir que o sentimento nacionalista do Japão movimenta-se contrariamente à globalização, fortalecendo a cultura local, conforme explicado por Hall (1999). Pode-se observar também que, em outros países, ocorre um movimento diferente do optado pelo Japão, que envolve a combinação de culturas, donde se origina a classificação desses como nações fomentadoras de “híbridos culturais”, processo que, segundo Britto (2009, p. 83), é conhecido como hibridização. Com o acirramento da concorrência internacional, vai se desestruturando a produção cultural de caráter local e nacional e vai se expandindo uma Indústria Cultural internacional com traços de homogenização, mas que busca contemplar elementos específicos de cada país.

De acordo com Britto (2009), citando Canclini (2003), as indústrias culturais são muito mais do que instrumentos de moldar imaginários. Para a economia essa indústria 69

funciona como máquina rentável de dinheiro, em especial a área do entretenimento e da comunicação. Canclini (apud BRITTO, 2009) entende a cultura como forma de reprodução e reelaboração simbólica das relações sociais para compreensão, reprodução ou transformação do sistema social, ou seja, a cultura diz respeito a todas as práticas e instituições dedicadas à administração, renovação e reestruturação do sentido. A cultura globalizada atinge todas as pessoas que convivem em sociedade, entretanto, age de diferentes maneiras entre as classes, setores sociais, regiões ou países. Segundo Canclini (2003, p. 60), “somente alguns setores produzem, vendem e consomem bens e mensagens globalizadas”. Em sua pesquisa, o autor afirma que as mídias possuem grande importância nos fluxos migratórios de informação e cultura da seguinte forma: Os estudos culturais sobre globalização sugerem, então, três conclusões. A primeira é que a globalização capitalista não pode ser justificada como ordem social única nem como único modo de pensar. A segunda é que a complexidade de interações num modo globalizado não permite identificar como chave apenas uma das oposições entre hegemonia e subalternidade nem como ator decisivo para modificar o rumo histórico das contradições (nem o proletariado, nem as minorias, nem os países coloniais ou pós-coloniais). A terceira é que a formação completa e ambígua das contradições tampouco permite explica-las apenas como antagonismos. (CANCLINI, 2003, p. 17).

Ao voltar aos estudos culturais, relacionado-os com o “híbrido cultural”, para a cultura Hallyu é possível notar que as músicas pop coreanas conseguem competir com a estadunidense e com a japonesa. Como exemplo Jung (2009) compara as duas versões da música Eat you up da sul-coreana BoA. A cantora lançou dois clipes, um na versão coreana e outro nos Estados Unidos da América, ambos com letra em inglês. No vídeo lançado na Coréia do Sul, BoA usar roupas casuais e está rodeada por dançarinos de rua. Em determinados momentos o clipe não parece ter conexão com a letra da música. Já na versão lançada no país dos estadunidenses a cantora aparece usando um vestido curto em couro, batom vermelho e saltos-altos tentando seduzir um homem. A empresa SM Entertainment modificou a composição do videoclipe no intuito de torná-la mais adequada para o mercado dos Estados Unidos. Segundo Jung (2009) o que se vê aqui é um exemplo da cultura tentando adequar-se ao mercado internacional, transformando seus conteúdos para agradar o público.

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3.2 A CIBERCULTURA

Antes de falar especificamente sobre Cibercultura é necessário fazer um resgate histórico sobre o surgimento da Internet. Tudo começou com a formação da Advanced Research Projects Agency (ARPA) em 1969. Essa agência foi formada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos para realizar pesquisas com o objetivo de alcançar superioridade tecnológica em relação à União Soviética (BRITTO, 2009, p. 131). No intuito de desenvolver pesquisas relacionadas com computação interativa, os estadunidense criaram o programa ARPANET, que possuía como objetivo compartilhar informações militares. O projeto foi desenvolvido por Paul Baran na Rand Corporation e por Donald Davies no Bristish National Physical Laboratory. Os dois cientistas utilizaram uma inovadora tecnologia de transmissão que poderia sobreviver a ataques: O projeto de Baran de uma rede de comunicação descentralizada, flexível, foi uma proposta que a Ran Corporation fez ao Departamento de Defesa para a construção de um sistema militar de comunicação capaz de sobreviver a um ataque nuclear, embora nunca tenha sido o objetivo por trás do desenvolvimento da ARPANET (CASTELLS apud BRITTO, 2009, p.14).

De acordo com Britto (2009), citando Castells (2003) após algumas transferências de servidores em 1990 muitos provedores montaram suas próprias redes, estabelecendo portas de comunicação. Depois disso a Internet desenvolveu-se rapidamente com o crescente aumento tecnológico, proporcionando a criação de uma grande rede global de computadores. Segundo site de noticias G1, baseado em uma pesquisa realizada pelo IBGE, mais de 50% da população brasileira tem acesso a Internet. A reportagem indica ainda que o Brasil ganhou “2,5 milhões de internautas (2,9%) entre 2012 e 2013, totalizando aproximadamente 86,7 milhões de usuários de Internet com 10 anos ou mais” (MAIS, 2014). Entretanto, a desigualdade de distribuição das conexões no mundo evita que o impacto das redes seja generalizado. Por conta disso, pode-se afirmar que a Internet tem uma expansão rápida, mas que ocorre em diferentes níveis pelo mundo. Britto (2009) diz que outra característica desenvolvida com a rede de computadores e a Web foi a possibilidade da digitalização do simbólico, pois a Internet permitiu o acesso a vasta produção simbólica humana, além do acervo ao conhecimento externo de outros países e culturas. Esta rede funciona como depositário das infinitas manifestações artísticas e intelectuais, que envolve produções não só da atualidade, mas de tudo que já foi produzido pelo homem. 71

Não se pode deixar de registrar o caráter democratizador que as redes possibilitaram, principalmente na escolha do que ver. Britto (2009) explica que, por mais que a Internet não seja uma mídia dirigida, ainda sim pode tornar-se ambiente de produção de fenômenos. A Hallyu é um bom exemplo dessa afirmação:

Claro que, pelas características de não ser uma mídia dirigida, como é o caso das mídias de massa, esta infinidade de produção pode também se perder sem público. Porém, temos conhecimentos de verdadeiros fenômenos produzidos a partir da circulação da net. (BRITTO, 2009, p. 135).

Um autor que trabalha com noções de ciberespaço e que será utilizado neste trabalho, sendo também citado por Britto (2009), é Pierre Lévy. De acordo com Lévy (2001) o ciberespaço seria como uma dimensão de possibilidades que iria conectar diversas qualidades subjetivas nas consciências coletivas e depois em um cérebro universal. Seria “uma espécie de objetividade ou de simulação da consciência humana global que afeta realmente essa consciência, exatamente como fizeram o fogo, a linguagem, a técnica, a religião, a arte e a escrita”. (BRITTO, apud LÉVY, 2001). Lévy (2001) discorre ainda sobre o ciberespaço como local de comunicação e de trocas entre receptor e emissor, favorecendo o diálogo e a interação. Um exemplo que pode ser citado são os diversos chats; salas de bate-papo; redes sociais de relacionamentos como Facebook, Twitter e tantos outros programas. É muito comum que os artistas de k-pop participem de redes sociais para manter contato com os fãs, principalmente de países diferentes. Por isso, alguns ídolos aprendem outras línguas e publicam informações sobre o dia a dia e as atividades artísticas. Britto (2009, p. 17) define cibercultura da seguinte forma: São relações intensas das dimensões preexistentes com a nova dimensão que representa o ciberespaço, que são gerativas da cultura contemporânea, através de trocas em que não podemos afirmar determinações ou hierarquias a priori. Porém, a observação empírica nos remete para uma visão de que ainda o ciberespaço é visto mais como canal de manifestação de significados de outras dimensões de outras dimensões do social do que lócus de sua produção, em que pese esta ser uma possibilidade e uma potencialidade dele.

O autor ainda ressalta que a cibercultura não seria apenas uma cultura especificamente produzida em termos de ciberespaço, mas sim de sistemas culturais contemporâneas, que encontram no ciberespaço lugar para manifestação. Assim, é necessário que ocorra a digitalização dos processos, promovendo desta forma conexão e interatividade entre culturas. Essa nova maneira de integração desenvolve novos valores e práticas sociais. Lemos (2004, p. 72

13) também propõe uma perspectiva em que a cibercultura possibilite novas formas de convivência. Com o ciberespaço, as pessoas podem formar coletivos mesmo vivendo em cidades e culturas bem diferentes. Criam-se assim territorialidades simbólicas. Nesse sentido, as comunidades formadas a partir das redes telemáticas mostram como as novas tecnologias podem atuar [...] como máquinas de comunhão, de compartilhamento de ideias e de sentimentos, de formação comunitária.

A criação do computador e da Internet propiciaram mudanças no âmbito do trabalho, do estudo, do lazer e das relações pessoais, da mesma maneira que intensificou as trocas culturais, promovidas também pela Indústria Cultural, por meio das mídias. O ciberespaço possibilitou que as relações do cotidiano fossem alterados proporcionando também o relacionar-se sem que aja presença física. Dessa forma a cibercultura contribuiu no desenvolvimento de inúmeras trocas simbólicas e de representações na forma de hibridismo a partir de aberturas culturais. Com a cultura sendo produzida especificamente no ciberespaço ainda sim é possível perceber como está é carregada por mediações e significados que possuem contextos nas práticas de seus produtores. Quando se fala de mediações é porque ocorre a referência à forma com que pessoas e grupos comunicam entre si para desenvolver maneiras de que os elementos de seu interesse também circulem pela rede e ocorre a constituição de significações, por meio da relação entre pessoas e mídias. As fronteiras também perdem importância quando se trata de ciberespaço, pois é aberto e incentiva o contato com outras culturas. Porém, deve-se ressaltar que a abertura proporcionada pela Internet não significa que ocorrerá o processo de hibridização automaticamente. Segundo Britto (2009), baseado nas ideias de Canclini, um mesmo processo pode ocorrer de formas diferentes de acordo com a realidade de cada lugar, além de considerar as configurações especificas de determinado local porque são essas especificações que darão a base do real.

Portanto, as generalizações são importantes, mas para entendimento profundo da realidade social, é preciso entender como um mesmo processo ocorre e se manifesta de maneira bem diferenciada dentro de cada realidade. A Indústria Cultura, por exemplo, apesar de traços gerais, tem elementos específicos na sua constituição em cada nação latino-americana e muita distinção com a dos países europeus ou da América do Norte. Assim, a abertura para as trocas culturais não pode ser vista como um processo que desconsidere as configurações específicas, pois elas é que nos dão noção mais precisa do real (BRITTO, 2009, p. 18).

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Lúcia Santaella (2003) trabalha com a hipótese de que a cultura de massas surge uma cultura das mídias que é intermediária entre a primeira e a cibercultura, ligado-a ao estágio mais recente dos processos comunicacionais. A cultura das mídias aparece com lógicas diferentes a partir dos anos 1980, quando se intensificam as misturas entre meios e as linguagens, resultando em multiplicadores de mídias. A partir disso, o consumidor tem a opção de escolha, pois “essas tecnologias, equipamentos e as linguagens criadas para circularem neles têm como principal característica propiciar a escolha e consumo individualizados, em oposição ao consumo massivo” (SANTAELLA, 2003, p. 26). Ainda segundo a autora são justamente esses processos comunicacionais que vão constituir uma cultura midiática: Nos arrancam da inércia da recepção de mensagens impostas de fora e nos treinam para a busca da informação e do entretenimento que desejamos encontrar. Por isso mesmo, foram esses meios e os processos de recepção que eles engendram que prepararam a sensibilidade dos usuários para a chegada dos meios digitais cuja marca principal está na busca dispersa, alinear, fragmentada, mas certamente uma busca individualizada da mensagem e da informação (SANTAELLA, 2003, p.2627,).

Muitos fãs mobilizam-se para formar um fandom. A partir do momento que é criado ocorre a movimentos e organizações locais, nacionais e mundiais no intuito de manter este grupo. Isso não é algo visível apenas na cibercultura, mas nela as possibilidades aumentam exponencialmente, e fãs reúnem-se em iniciativas de escalas globais, de uma forma muito mais rápida e volumosa, conforme já explicado por Thompson (2001). Se na cultura de massa existe pouca decisão e participação da parte do público, no que se refere a produção, Santaella (2003) descreve a cultura das mídias como uma cultura do disponível, enquanto que a cibercultura seria a cultura do acesso. Com isso, a partir da observação de tais conceitos, conclui-se que a cultura Hallyu, os dramas, bem como a constante veiculação de conteúdos sul-coreanos nas mídias e na Internet, são produtores de sentidos e significados carregados de valores simbólicos, que podem sim ser considerados com representação cultural da Coréia do Sul. Essa definição apenas ocorreu por conta da manifestação da cultura sul-coreana no ciberespaço e em diversas redes de compartilhamento e relacionamento das redes, proporcionando a divulgação de costumes, tradições e relacionados com traços de configurações da cultura social contemporânea. A exposição de produtos da indústria fonográfica e audiovisual na Internet possibilitou a propagação da cibercultura sul-coreana, primeiros entre os países asiáticos, depois para o mundo. 74

3.3 REPRESENTAÇÃO CULTURAL DOS BRASILEIROS E A CORÉIA DO SUL POR MEIO DOS K-DRAMAS

O local escolhido para executar o processo metodológico, assim como o instrumento de coleta de dados, foi a Internet. Os ambientes online na sua maioria eram públicos, sendo divididos entre sites, fórum e fansubs. Um dos principais objetivos do trabalho era analisar se os dramas podem ser considerados como representantes culturais. Outro objetivo da pesquisa foi refletir sobre os possíveis caminhos percorridos pelos fãs para terem acesso a conteúdos produzidos na Coréia do Sul, entender questões relacionadas ao consumo destes produtos e finalmente delimitar o perfil dos dorameiros, no caso fãs de dorama. Por conta deste contexto, o método escolhido para o estudo foi a netnografia, por meio de observação participante e aplicação de questionário online. Quem popularizou o termo “netnografia” com seus estudos sobre fandoms foi Robert Kozinets. Segundo o autor, a netnografia procura desfazer as diferenças ente a etnografia em relação tanto a coleta de dados, como também a ética de pesquisa. De certa forma esse estudo no mundo online permite que a pesquisa seja realizada de forma mais sutil, pois a observação é feita em sites, blogs, fóruns e rede sociais, não havendo necessidade de intervenções. Jenkins (1992) trabalha com termos de fãs e explica sobre a importância e os riscos que podem ocorrer quando um fã escolhe como objeto de estudo algo do qual aprecia muito e não se afasta totalmente do componente. Porém, também ressalta os benefícios que essa aproximação pode proporcionar. De acordo os estudos do autor, “Escrever como fã sobre cultura de fã impõe certos riscos potenciais para crítica acadêmica, mas também facilita certo entendimento e formas de acessos impossíveis através de outros posicionamentos” (JENKINS, 1992, p. 6). O primeiro passo da pesquisa foi procurar pelo assunto no site da rede social Facebook. Entre os dias 29 e trinta de agosto de 2014 foram encontrados cerca de cem locais entre comunidades, páginas, perfis, e grupos sobre dramas em quatro idiomas, sendo eles: Inglês, Espanhol, Tailandês e Português. Contudo, é inegável admitir que devam existir outros mais. Entre os locais em Português, na época foi contabilizado 25, sendo na sua maioria páginas e comunidades. Esses espaços são criados, administrados e atualizados por fãs com notícias, curiosidades, fotos e informações pessoais dos atores e atrizes que protagonizam os dramas. A partir da averiguação de que em cada página há mais de cem pessoas, a pesquisa se propôs a delimitar o perfil dos dorameiros, além de compreender como ocorre o processo de 75

identificação e representação cultural dos fãs por meio dos conteúdos audiovisuais dramáticos sul-coreanos. Para isso foi desenvolvido um questionário (Apêndice 1), com onze perguntas, que posteriormente foi disponibilizado em um grupo no Facebook, desenvolvido pela autora do trabalho. A divulgação da pesquisa concentrou-se especificamente em sete locais, sendo que cinco deles eram grupos e dois eram páginas. São eles: Somos viciados em doramas, Kpopequi, Doramas Brasil, Brasil and Asia always conect e Running Man Brasil como grupos e Frases de dramas e filmes asiáticos, KD-kdrama e filmes coreanos como página. Todos esses grupos e páginas citados estão disponibilizados no Facebook. Para atrair a atenção do público alvo e conseguir que o mesmo respondesse ao questionário, foi criado um texto que continha as informações da autora da pesquisa, a explicação sobre a temática do trabalho e o link do grupo que continha o questionário. No final foi contabilizadas a presença de 225 pessoas Dessas, 82,22%, ou seja, 185 pessoas, responderam ao questionário. A maioria dos participantes mostrou-se entusiasmado em participar da pesquisa, principalmente por conta do tema ser de interesse deles. Com o retorno de mais de 82%, acredita-se que houve pouca resistência. Na verdade, muitos contribuíram com ideias, sugestões e correções durante o processo de pesquisa na Internet. Depois de dezoito dias o grupo foi fechado para recolhimento de dados, não sendo mais possível responder ao questionário. Muitos participantes escreveram no grupo palavras de incentivo como “boa sorte” e “fighting35” na conclusão do trabalho, além de demonstrarem interesse em ler o trabalho final. Quanto às questões éticas, as informações quando retiradas da Web correspondem à ambientes abertos, portanto público. Os dados a seguir correspondem às respostas de 185 pessoas, dos quais 178 eram mulheres e sete homens. É possível ver a distribuição dos dorameiros por regiões brasileiras, sendo a maioria localizada no Sudeste, num total de 89 pessoas. Dos restantes, cinquenta estavam no Nordeste, dezoito no Centro-Oeste, 24 no Sul e apenas quatro no Norte. Gráfico 1 – Divisão dos dorameiros por Região do Brasil

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Expressão coreana utilizada para desejar ‘boa sorte’ ou ‘força’ para alguém 76

Fonte: Elaborado pela autora.

Quanto à faixa etária (Gráfico 2), os participantes mais novos possuem idade entre treze e quatorze anos, enquanto o número exato entre os mais velhos varia entre trinta e quarenta anos. A maioria possui entre dezesseis e vinte anos, totalizando 72 pessoas. As idades mais recorrentes em seguinte foram: menos de quinze anos (dezoito pessoas), entre 21 e 25 (61 pessoas) e acima de 26 anos (36 pessoas): Gráfico 2 – Idade dos Dorameiros Divisão dos dorameiros por Região do Brasil

Fonte: Elaborado pela autora.

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Sobre o ano em que os participantes tiveram o primeiro contato com os dramas (Gráfico 3) é possível notar as diferenças nas datas. A maioria teve inicio recentemente, entre 2012 e 2014 (104 pessoas). O número provavelmente é derivado do aumento de fansubs e sites, proporcionado pelo desenvolvimento das tecnologias e da globalização, conforme discutido no Capítulo 3. Entretanto, mesmo com poucos locais disponibilizando dramas, houve pessoas que assistiam doramas entre 2005 e 2007 (oito pessoas). Percebeu-se que entre 2008 e 2012, ocorreu um crescimento de 21% de um ano para outro. Esse número é triplicado quando comparados com 2005 e 2014. Gráfico 3 – Ano do Primeiro Contato com os Dramas

Fonte: Elaborado pela autora.

No que se refere ao principal meio pelo qual os participantes obtiveram informações sobre os dramas (gráfico 4) a opção mais votada foi Animes (75 pessoas). Isso quer dizer que as pessoas se interessavam pelos cantores das músicas, que tocavam ao fundo do anime, dessa forma ao procurarem por informações da música, descobriam o k-pop. As outras opções foram: por influência de amigos (58 pessoas), por meio da música pop oriental (29 pessoas) e através de pesquisas realizadas por conta própria da cultura asiática, (vinte pessoas), especificamente a sul-coreana. Gráfico 4 – Influência do Primeiro Contato

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Fonte: Elaborado pela autora.

No questionário perguntou-se para os participantes se depois terem contato mais constante com os produtos audiovisuais sul-coreanos, o interesse deles por programas brasileiros diminuiu (Gráfico 5). Cerca de 150 pessoas responderam que sim, que o interesse por programas de entretenimento do Brasil diminuiu. Trinta pessoas marcaram a opção mais ou menos, ou seja, a atenção que dão ao conteúdo de ambos os países é o mesmo. Apenas uma pessoa respondeu que o interesse não diminuiu e sim que continuou o mesmo. Seguindo a mesma linha perguntou se após certo tempo de convívio com os conteúdos se o interesse pelo país sul-coreano aumentou (Gráfico 6). 176 pessoas optaram pelo sim, enquanto nove responderam mais ou menos. Não houve nenhuma resposta na opção ‘não’. Gráfico 5 – Diminuição do Interesse por Programas Brasileiros

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Fonte: Elaborado pela autora. Gráfico 6 – Aumento do Interesse pela Coréia do Sul

Fonte: Elaborado pela autora.

Outra questão do questionário referia-se à quantidade de dramas assistidos, envolvendo os vários estilos de doramas de diferentes países como J-drama, K-drama e Tdrama. No gráfico seguinte (Gráfico 7) é possível perceber que a maioria dos participantes do questionário já assistiu mais de 25 dramas, no total de 117 pessoas. Apenas onze pessoas assistiram entre 20 e 25 doramas, e 35 visualizaram entre 15 e 20 dramas. Somente 22 pessoas tiveram contato com menos de 15 doramas. Gráfico 7 – Quantidade de Dramas Visualizados 80

Fonte: Elaborado pela autora.

No intuito de visualizar o envolvimento dos dramas com o k-pop foi questionados aos participantes sobre o interesse deles com a música pop coreana (Gráfico 8). A maioria respondeu que gosta “muito” de escutar o k-pop (146 pessoas). As outras opções foram divididas entre o “ás vezes” (75 pessoas) e o “de vez em quando” (oito pessoas). Somente quatro pessoas disseram não gostar de ouvir k-pop. As respostas dessa pergunta, especificamente, apenas comprovam o quão envolvido os dois produtos de entretenimento já citados estão. Pode-se dizer que um atrai atenção para o outro. Gráfico 8 – Interesse em K-pop

Fonte: Elaborado pela autora.

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Uma das questões do trabalho gira em torno de descobrir quais são os principais locais na Web que os dorameiros usam para visualizar os dramas (Gráfico 9). A maioria dos participantes escolheu a opção dos fansubs (130 pessoas) pela facilidade em baixar os conteúdos além da constante atualização dos episódios. O restante dividiu-se entre site (51 pessoas), por meio da Netflix pela televisão ou internet por assinatura (cinco) e por último blog especializado (uma pessoa). A última opção provavelmente não atingiu muitos votos porque a maioria dos blogs divulgam os dramas e os locais que estão produzidos legendas, por meio de links. Raramente algum site resolve legendar determinado programa por conta própria, mas é possível que existam outros. Gráfico 9 – Locais de Visualização dos Dramas

Fonte: Elaborado pela autora.

Perguntou-se também aos participantes se eles assistem a outros programas audiovisuais sul-coreanos ou restringem a atenção apenas aos dramas. Todos responderam ter contato com pelo menos mais um produto além dos doramas (Gráfico 10). A opção que recebeu mais votos foi a categoria filmes (114 pessoas), sendo seguindo por programas de variedade (48 pessoas) e depois por programas musicais (23 pessoas). Os filmes da Coréia do Sul estão ganhando espaço e admiração até nos cinemas brasileiros. De acordo com Donna (2013) dois filmes sul-coreanos estrearam nas telonas dos gaúchos no ano de 2013, sendo eles: Hahaha36 de Hong Sang-soo, vencedor da mostra Um Certo Olhar, que ocorreu paralela 36

Comédia dramática sobre os encontros e desencontros de dois jovens amigos na Seul atual. Fonte: Revista Donna (2013). 82

ao Festival de Cannes de 2010 e Pietá37 de Kim Ki-duk, ganhador do Leão de Ouro de melhor filme do Festival de Veneza de 2012. Gráfico 10 – Interesse em outros produtos sul-coreanos

Fonte: Elaborado pela autora.

Para finalizar o questionário, perguntou-se aos participantes se eles acreditam que os dramas possuem estereótipos e em quais situações do dia a dia ocorrem com mais frequência (Gráfico 11). A maioria respondeu que sim (174 pessoas), os doramas contêm estereótipos, enquanto oito pessoas disseram que apenas em alguns momentos os estereótipos aparecem (seis pessoas). Somente uma pessoa marcou a opção “não”, indicando que esses conteúdos não possuem nenhum tipo de estereótipo. Entre as situações decorrentes da sociedade (Gráfico 12), a escolha mais votada foi no relacionamento entre casal (171 pessoas), sendo seguido pelas opções: convívio familiar (sete pessoas) relacionamentos entre amigos (uma pessoa) e convívio do trabalho (uma pessoa). Gráfico 11 – Dramas possuem estereótipos

37

Drama social que aborda a violência nos centros urbanos de maneira absolutamente crua. Fonte: Revista Donna (2013). 83

Fonte: Elaborado pela autora

Gráfico 12 – Principais situações com Estereótipos nos Dramas

Fonte: Elaborado pela autora.

Com base em todos os dados fornecidos pelos participantes do questionário, é possível afirmar que o perfil dos dorameiros é constituído em geral da seguinte forma: quem assiste drama são mulheres, com idade entre 16 e 20 anos, que começaram as atividades de dorameiros entre os anos de 2012 e 2014. Essas pessoas gostam de ouvir k-pop, e após o convívio constante com os doramas, passaram a ter pouco ou nenhum interesse em programas brasileiros. 84

Percebeu-se também que a maioria dos participantes possui o desejo de conhecer algum país asiático e que, apesar de serem admiradoras da cultura e dos programas, os fãs reconhecem que os conteúdos audiovisuais sul-coreanos, no caso especificamente os doramas, contenham estereótipos, principalmente no que se refere a retratação dos relacionamentos entre os casais. Ainda foi constatado que os dorameiros não restringem a atenção apenas à doramas, mas fazem questão de procurar por outros conteúdos audiovisuais sul-coreanos como filmes e programas de variedade, sendo o fansub o principal local escolhido, pelos participantes do questionário, para visualizar ou realizar o download dos produtos audiovisuais sul-coreanos em ambiente Web. Ante ao exposto, conclui-se ainda que a maioria dos dorameiros estão localizados na região Sudeste do Brasil, principalmente nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, que são as cidades onde geralmente ocorrem os shows de k-pop, conforme descrito no Capítulo 1. Percebeu- se também que a maioria dos fãs de drama teve contato com os doramas a partir da influência de animes e não por amigos, como foi o caso da autora deste trabalho, que além de ter sido influenciada por outras pessoas ainda vive em um estado onde a divulgação de conteúdos sul-coreanos é quase nula.

85

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Hallyu começou no continente asiático e espalhou-se rapidamente por todo o mundo. Os fãs do fenômeno são expostos as três principais vertentes da onda coreana, são elas: drama, k-pop e os programas de variedade. Esta pesquisa buscou entender como ocorre a exposição da cultura coreana nos programas dramáticos audiovisuais sul-coreanos e até onde estes conteúdos podem ser considerados como representantes culturais do país asiático. O objetivo foi realizar um estudo que visou entender como ocorre a construção e a representação da cultura sul-coreana aos olhos dos brasileiros, por meio de conteúdos audiovisuais dramáticos produzidos na Coréia do Sul e acessados no Brasil principalmente via ambiente Web. Atualmente, o fenômeno da globalização ultrapassa a economia, abrangendo também os

conteúdos

simbólicos

e

produtos

midiáticos,

principalmente

em

virtude

do

desenvolvimento da tecnologia e do crescente número de redes e mídias sociais que rompem a barreira de tempo e espaço, proporcionando a interligação de conteúdos, culturas e pessoas de diferentes lugares. Graças à Internet, os produtos audiovisuais de diversas partes do mundo contam com mais de um meio de distribuição que possibilita a circulação e a reprodução de diversos conteúdos em todos os continentes. No primeiro capítulo ocorreu a exposição e o contexto geral da Hallyu como a expansão da onda coreana e o envolvimento de países ocidentais na comercialização dos produtos sul-coreanos. A cultura sul-coreana começou a se espalhar primeiro no próprio continente em países como a China, Japão e Tailândia. Ao perceber o grande impacto que os produtos de entretenimento obtiveram em seu país, jornalistas chineses denominaram essa rápida e crescente expansão de Hallyu, que significa “onda” em coreano. As emissoras da Coréia do Sul passaram a competir entre si pela atenção da audiência. Há muitos anos a Coréia do Sul está exportando grandes quantidades de produtos de entretenimentos para ocidente. Em 2012 um artista sul-coreano conquistou a simpatia e o sucesso dos ocidentais. Trata-se de um rapper de nome Park Jae-sang, mais conhecido como Psy, que compôs uma música que veio a tornar-se, na época, um hit de sucesso. Segundo um artigo publicado no jornal online Público de Portugal, o clipe Gangnam Style atingiu a marca de 823 milhões de visualizações, tornando-se o vídeo mais visto no Youtube em 2012. A

86

música de Psy atingiu sucesso internacional rapidamente e, consequentemente, colocou a Coréia do Sul em evidência. A indústria de entretenimento sul-coreana já visando o aumento e expansão de seus produtos iniciou a disponibilização de dramas e músicas com títulos em inglês no intuito de facilitar a busca por seus conteúdos nas sociedades ocidentais. O Brasil também começou a importar os produtos sul-coreanos em forma de dramas televisivos e shows de artistas nativos do país. A procura, principalmente pela música do país, obteve um crescimento de tal forma, que os produtores do festival de música coreana pop, Music Bank World Tour, decidiram realizar a edição de 2014 no Brasil. O programa sempre é transmitido ao vivo para a Coréia do Sul e para mais 114 países. Ainda no primeiro capítulo ocorreu a exposição de informações relacionadas com a música pop-coreana, bem como o surgimento do primeiro grupo de pop brasileiro. Os empresários, em conjunto com o governo sul-coreano, desenvolveram a comercialização da cultura por meio da indústria cultural. Notou-se que, infelizmente em alguns casos, empresários e governantes tendem a ignorar o significado cultural que as pessoas, principalmente nos países ocidentais, atribuem aos dramas, filmes e as músicas coreanas. No Capítulo dois entendeu-se como ocorreu o surgimento dos dramas na Coréia do Sul. Antes de serem exibidos nas telas da televisão e na Internet, a apresentação dos doramas ocorria por meio de representação teatral. O drama coreano tem suas origens em rituais religiosos pré-históricos. A apresentação possuía elementos de dança e música. Com o passar do tempo os conceitos de cada representação teatral começaram a variar e a ganhar novos formatos de acordo com o período histórico em que o país estava. Nesse capítulo, também buscou-se compreender o processo de aquisição dos dramas, que é feito por meio de parcerias com empresários e proprietários de conteúdos. O site Viki, utilizado como exemplo neste trabalho, é considerado como um dos principais precursores dos doramas no Brasil, contando com o apoio de uma equipe especializada, além de colaboração e contribuição dos próprios fãs. Conclui-se que a partir do momento que determinadas atitudes, valores e significados, representados frequentemente nos dramas, são comprovados no dia-a-dia social dos sulcoreanos, este conteúdo pode ser considerado como representação cultural do país. A análise dos exemplos citados no segundo capítulo ocorreu por meio da observação de outros produtos midiáticos da Coréia do Sul como jornais, revistas, sites de notícias sul-coreanos e outros programas audiovisuais que retratam o país coreano como tema principal. 87

Visando a maior compreensão da representação no produto final, o trabalho selecionou o drama You are the best Lee Soon Shin para analisar dois temas presentes no dorama e na sociedade sul-coreana. Foram eles: O consumo de bebidas alcoólicas e a indústria do corpo. Para tal análise foi utilizada a decupação de partes selecionadas do dorama, bem como a análise da linha narrativa e argumentativa do drama, além do envolvimento do assunto com produções jornalísticas sobre o assunto, como reportagens e pesquisas. O método escolhido para esta pesquisa foi o estudo de caso, uma vez que foi realizada a análises em um produto selecionado, o drama You are the best Lee Soon Shin, onde foram colocadas informações sobre o escritor, personagens principais e um breve resumo da história. Os dados foram colocando no intuito de contextualizar o leitor sobre a forma como geralmente os dramas são produzidos e compostos. A primeira análise consistiu no tema de consumo de bebidas alcoólicas. Beber socialmente é considerado como melhor forma, entre os sul-coreanos, de confraternização e convívio. Sendo assim, por meio da pesquisa e analise dos fatos descritos, pode-se concluir que a população coreana possui o forte hábito, no que se refere ao consumo de bebida alcoólica, ao ponto deste fazer parte da cultura nacional do país. O álcool está presente em diversas situações do dia a dia dos cidadãos da Coréia do Sul, entretanto é retratado em alguns momentos nos dramas com certo exagero, apesar de ainda sim ser baseado em uma verdade. A segunda análise envolveu o tema relacionado com a indústria do corpo. De acordo com Prado (2013) a Sociedade Internacional de Cirurgias Plásticas Estéticas a Coréia do Sul está em sétimo lugar, totalizando 258.350 mil procedimentos em 2011. Enquanto isso o Brasil ocupa o segundo lugar da lista, com 905.124 mil procedimentos. Isto ocorre porque os focos das cirurgias são localizados em partes diferentes. As operações citadas anteriormente costumam ser o padrão de beleza estabelecido pelas celebridades sul-coreanas, que são tidas como modelo a serem seguidos. Com isso percebe-se que os ídolos possuem o objetivo de provocar nos fãs a ilusão de que a beleza deles é absolutamente natural. Dessa forma, a única maneira de conseguir obter sucesso, beleza e tudo que o ídolo possui é recorrer à cirurgia plástica. Para os sul-coreanos a ideia da plástica é tida como um investimento a longo prazo, além de ser considerado como sacrifício necessário. Por fim, no último capítulo, tem-se a revisão da literatura que serve como base para a pergunta problema do trabalho. A partir das analises executadas, leituras e aplicação de questionário, conclui-se que os dramas podem ser considerados como representantes de cultura, além de produtores de significados, segundo definições estabelecidas de estudos 88

culturais, proporcionados por autores como Hall (1999) e Canclini (2003), além de contribuições no estudo de cibercultura de autores com Santaella (2003) e Britto (2009). Por meio da aplicação de questionários, entrevistas e análises de conteúdo foi possível analisar se os programas audiovisuais produzidos pelos sul-coreanos podem ou não ser considerados como representantes culturais daquela região ou dos seus movimentos identificadores. Com base em todos os dados fornecidos por meio do questionário, de forma geral, quem assiste dorama é mulher, com idade entre 16 e 20 anos, que tive contato com os dramas entre os anos de 2012 e 2014. A maioria localiza-se na região Sudeste do Brasil, principalmente em cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, e os fãs possuem contato com outros tipos de conteúdos de entretenimento sul-coreanos, como programa de variedade e kpop. Com o constante envolvimento com os produtos coreanos, os dorameiros tendem a desenvolver mais interesse pela cultura da Coréia do Sul e menos interesse em programas brasileiros. Os fãs reconhecem que os dramas possuem estereótipos e acreditam que o estejam presentes, principalmente na retratação dos relacionamentos entre casais coreanos. Percebeuse ainda que, apesar dos dramas retratarem em diversos momentos uma sociedade “sem defeitos”, a observação do dorama permitiu concluir que os sul-coreanos enfrentam muitos problemas sociais, como doenças relacionadas ao excesso de bebidas alcoólicas e a constante modificação do corpo. Ainda foi constatado que os dorameiros não restringem a atenção apenas à doramas, mas fazem questão de procurar por outros conteúdos audiovisuais sul-coreanos, como filmes e programas de variedade, sendo o fansub o principal local escolhido, pelos participantes do questionário, para visualizar ou realizar o download dos produtos audiovisuais sul-coreanos em ambiente Web. Percebeu- se também que a maioria dos dorameiros teve contato com os dramas a partir da influência de animes e não por amigos, como foi o caso da autora deste trabalho, que além de ter sido influenciada por outras pessoas ainda vive em um estado onde a divulgação de conteúdos sul-coreanos é quase nula. Apesar da fraca ou quase inexistência de autores brasileiros, que trabalhem o assunto, foi possível, por meio da Internet, encontrar grande variedade de blogs, sites e fansub em Português, que disponibilizam os dramas, junto com informações relacionadas a Coréia do Sul. Não foi possível obter o número exato de quantos dramas estão atualmente disponibilizados online e para download, entretanto, todos os dias surgem mais grupos e mais sites disponibilizando os programas para os fãs. 89

Conclui-se que a Internet é a principal fonte que os apreciados da cultura sul-coreana encontram para visualizar os conteúdos, seguida pelos canais fechados na televisão. Compreende-se que tal feito só é possível graças à globalização dos conteúdos simbólicos, disseminados em rede. Desta forma a globalização funciona como um fenômeno de integração social, econômica, política e cultural de diferentes países do mundo, que, de inúmeras maneiras e por meio de diferentes redes, estabelecem relações de compartilhamento. Assim, a confirmação de que os dramas são representantes culturais da Coréia do Sul possibilitou que os brasileiros compreendessem melhor a cultura do país em questão, por meio da observação dos programas produzidos lá e veiculados aqui. Desta forma, os brasileiros são preenchidos pelo sentimento de proximidade com a cultura nacional sulcoreana, mesmo que estejam localizados em espaços e tempos diferentes.

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GLOSSÁRIO Bonamana – Nome do clipe do grupo Super Junior Boy band e Girl band- termo utilizado em inglês para designar bandas masculinas e femininas. Comeback: Retorno de um grupo depois de algum tempo.Geralmente ocorre diversas apresentações com divulgação de vídeo clipe álbum de música. Dorama (ou drama): palavra genérica para telenovela no Japão, porém utilizada pelo fandom ocidental para telenovelas asiáticas. As telenovelas japonesas, chinesas e da Coreia do Sul são especificadas, respectivamente, como: J-drama (Japanese-drama), C-drama (Chinese-drama) e K-drama (Korean-drama). Dorameiros – Nome dado aos fãs de doramas/dramas. Fandom: refere-se ao grupo de fãs, como um coletivo. Girl Generation – Grupo de k-pop sul-coreano. Google – site de busca. Korean pop – Pop coreano; também conhecido como k-pop. Korean wave – onda coreana, também conhecida como hallyu. Kpopper – Fã de Korean pop/ k-pop. Psy – rapper sul-coreano, famoso pelo hit Gangnam Style, Gentleman e recente Hangover, com o cantor estadunidense Snoop Dogg. Netflix – Empresa estadunidense que oferece serviço de televisão e internet com filmes e series de todo o mundo. Super Junior – grupo de k-pop sul-coreano. SM Entertainment, YG Entertainment e JYP Entertainment: Principais empresas de entretenimento da Coréia do Sul. Skip Beat – Dorama de Taiwan. Youtube – Site de compartilhamento de vídeos.

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APÊNDICE Questionário sobre doramas 1) Em que ano você teve o primeiro contato com os dramas? aEntre 2005 e 2007 bEntre 2008 e 2010 cEntre 2010 e 2012 dEntre 2012 e 2014 2) Qual sua idade? aMenos de 15 b16 a 20 c21 a 25 dAcima de 26 3) Quantos dramas você já assistiu entre: K-dramas, C-dramas, J-dramas, T-dramas? aMenos de 15 b15 a 20 c20 a 25 dMais de 25 4) Por onde você assiste/baixa os dramas? aSite bFansub cBlog dTelevisão e internet por assinatura (Netflix) 5) Como você teve o primeiro contato com os dramas? a- Indicação de amigos b- Influência dos animes c- Influência da música pop oriental d- Influência da cultura asiática 6) Você escuta música pop oriental? aSim (muito) bSim (ás vezes) cSim (de vez em quando) dNão (não gosto) 7) Além dos dramas e doramas, quais outros programas audiovisuais asiáticos você assiste? aFilmes bProgramas de variedade cProgramas musicais dOutros 8) Depois de ter contato com os produtos audiovisuais asiáticos seu interesse com os programas brasileiros diminuiu? 97

abc-

Sim Mais ou menos Não

9) Após o convívio frequente com os dramas sua curiosidade sobre os países asiáticos aumentou? aSim bMais ou menos cNão 10) abc-

Você acredita que os dramas possuem estereótipos Sim Mais ou menos Não

11) Na sua opinião em quais situações do dia a dia os estereótipos estão mais presentes nos dramas? aNos relacionamentos (entre casal) bNos relacionamentos (entre amigos) cNo convívio familiar dNo convívio do trabalho 12) abcde-

Em qual região do Brasil você vive? Sul Sudeste Norte Nordeste Centro-oeste

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ANEXO

Reportagem da revista ISTOÉ ISTOÉ - Independente ISTOÉ Medicina & Bem-estar Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/360841_PLASTICA+RADICAL

Medicina & Bem-estar | N° Edição: 2319 | 03.Mai.14 - 00:30 | Atualizado em 05.Nov.14 - 01:38 Plástica radical Hospitais da Coreia do Sul começam a fornecer documentos de identidade a pacientes submetidos a cirurgias estéticas para ganhar traços ocidentais Mônica Tarantino ([email protected])

Dispostos a submeter o próprio rosto a uma transformação radical, jovens asiáticos estão viajando para Seul, na Coreia do Sul, onde o número de clínicas de cirurgia plástica é impressionante. Apenas no Distrito de Gangnam, bairro chique da capital coreana, são mais de 500. A região ficou conhecida como cinturão da beleza. A maioria das garotas e rapazes, alguns com 20 anos incompletos, procura uma intervenção que abrande os traços orientais, o que é conseguido com uma associação de cirurgia da pálpebra, aumento do nariz, lifting e cirurgias de redução de mandíbula. O resultado, em grande parte dos casos, é uma espécie de metamorfose que deixa a pessoa irreconhecível.

PADRÃO 99

Uma das críticas dos médicos ocidentais é a de que a cirurgia acaba deixando as aparências muito parecidas. O formato do rosto torna-se oval e os olhos ficam maiores e arredondados Por isso mesmo, um dos efeitos colaterais desses procedimentos ousados são as dificuldades enfrentadas por clientes estrangeiros para voltar ao País de origem. Na imigração chinesa, por exemplo, muita gente começou a ser barrada porque o portador do passaporte não apresentava mais nenhuma semelhança com a foto colada no documento. A solução encontrada pelos plásticos coreanos foi ainda mais inusitada: centros como o Hospital Dental ID – Eye, Nose & Petit Surgery Center agora fornecem aos clientes um documento de comprovação da identidade. O atestado reúne o número do passaporte, o nome do hospital, quando a pessoa foi operada e a duração da visita à Coreia do Sul. E a recomendação aos recém-operados é para que tirem outro passaporte assim que possível.

Apesar da perícia dos plásticos coreanos, o desfecho dessas mudanças drásticas de imagem nem sempre é bom. O cirurgião plástico gaúcho Marco Faria-Corrêa, desde 2005 radicado em Cingapura, na Ásia, diz que a dificuldade de se reconhecer pode levar a uma crise psiquiátrica. “Vi casos em que a mandíbula ficou torta e conheci uma mulher que precisou ser internada porque gritava incessantemente ao perceber que não se identificava com o novo rosto”, disse Faria-Corrêa à ISTOÉ. Outro aspecto que impressiona o especialista é que o resultado deixa as meninas com aparência semelhante.

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O fenômeno cultural da cirurgia coreana está fazendo os especialistas se perguntarem como definir o limite para as intervenções na face. “Nos Estados Unidos, nós não realizamos procedimentos tão dramáticos que possam mudar tanto a aparência. Nunca encontrei esse tipo de pedido em 24 anos de cirurgia plástica”, observa o cirurgião plástico Renato Saltz, radicado em Salt Lake City e ex-presidente da American Society of Aesthetic Plastic Surgery.

DIFERENÇA As alterações são tão intensas que os pacientes começaram a ter problemas para provar quem eram No dia a dia, ele diz que pediria uma avaliação psicológica de alguém que busca uma mudança tão intensa. Saltz lembra que os cirurgiões asiáticos trabalham com conceitos diferentes. “Na América, o alvo de uma cirurgia estética é passar quase despercebida.” Para José Carlos Ronche, de São Paulo, os limites devem ser combinados entre o médico e a paciente para não produzir faces bizarras. “A busca deve ser da beleza com harmonia. Quem procura uma cirurgia plástica não quer ficar diferente, quer ficar igual às pessoas consideradas belas, se possível”, diz.

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