Silêncio e Afeto - Cenas da Música Experimental na Transição do Milênio

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Anais do SEFiM, Porto Alegre, V.02 - n.2, 2016.

Silêncio e Escuta Afetiva – Cenas da Música Experimental na Transição do Milênio Silence and Affective Listening - Scenes of the Experimental Music in the Transition of the Millennium Palavras-Chave: Silêncio; Música experimental; Escuta afetiva. Keywords: Silence; Experimental music; Affective listening.

Carlos Arthur Avezum Pereira Universidade de São Paulo [email protected] O artigo aborda as poéticas do silêncio de cenas da música experimental surgidas durante a transição do milênio - mais especificamente no período compreendido entre a década de 1990 até aproximadamente a atualidade -, utilizando uma perspectiva estética fundamentada através de uma‘filosofia da imanência’. Observa-se que nesse período ocorreu uma tendência para o silêncio na música experimental em diferentes países - provavelmente facilitada pelo surgimento da internet - que foi observada principalmente nas cenas do Wandelweiser e Berlin Reductionism na Alemanha, no Onkyô no Japão e, de forma mais descentralizada geograficamente, no Microsound (BLAZANOVIC, 2012; GRUNDY, 2014). Essa volta ao silêncio, no entanto, possui algumas características diversas (além de outras similares) do silêncio de 4’33”, a famosa peça silenciosa de John Cage – conhecido como o criador da música experimental - composta em 1952. Em 4’33”, o compositor ‘intenciona a não-intenção’ por meio um alto grau de indeterminação da partitura que orientava o performer apenas para manter-se em silêncio, deslocando consequentemente a responsabilidade da realização da obra para o ouvinte através do seu ato de escuta. Assim, 4’33” questiona a possibilidade da continuação de se fazer música após delegar a atividade musical para a escuta estética da vida. Por outro lado, de acordo com Peter Bürger (1993, p. 103), “[...] a arte se encontra desde há algum tempo numa fase pós-vanguardista. Esta caracteriza-se pela restauração da categoria de obra e pela aplicação com fins artísticos dos processos que a vanguarda concebeu com intenção antiartística”. Resolvidas essas questões, de que maneira determinadas cenas da música experimental surgidas nos anos de transição do último milênio compreendem o silêncio em suas criações? Partindo da leitura por Susan Buck-Morss (1992) do famoso ensaio A Obra de Arte na Era de sua Reprodutibilidade Técnica de Walter Benjamin, em que a autora comenta sobre o uso da arte e da tecnologia no restabelecimento do aparelho sensorial do corpo para a autopreservação humana, é possível encontrar alguns pontos de partida para essa nova compreensão da música silenciosa. No presente texto, argumenta-se que ao provocar o deslocamento da imersão contemplativa no objeto artístico para a imersão no ato perceptivo, a música dessas cenas intenciona no ouvinte uma “escuta afetiva”, ou seja, uma escuta reificada que,

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de acordo com Jing Wang (2012), antes que seja significada pela mente, é realizada com o corpo. Concebendo esse silêncio como o ruído-de-fundo que é constantemente presente e portanto escapa à percepção, é possível compreender a intenção dessas recentes cenas musicais quanto a uma escuta afetiva que consiste no habitar um “plano de imanência” que consiste apenas de movimentos, fluxos e intensidades (DELEUZE e GUATTARI, 1995). Referências BLAZANOVIC, Marta. Echtzeitmusik: the social and discursive context of contemporary music scene. 200 f. Tese (Doutorado em Filosofia) - Philosophischen Fäkultat Iii, Humboldt-universität Zu Berlin, Berlin, 2012. BUCK-MORSS, Susan. “Aesthetics and Anaesthetics: Walter Benjamin’s Essay Artwork Reconsidered”. October, v. 62, n. 1, p. 3-41, out. 1992. BÜRGER, Peter. Teoria da Vanguarda. Trad. Ernesto Sampaio. Lisboa: Suhrkamp Verlag, 1993. DELEUZE, Guilles; GUATTARI, Félix. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. São Paulo: Editora 34, 1995. (Coleção Trans). Trad. Aurélio Guerra Neto; Celia Pinto Costa. GRUNDY, David. Listening at the limits: Environmental Sound in Onkyô and Wandelweiser. 2014. Surround, issue 2, april 2014. Disponível em: . Acessado em: 06 jun. 2014. WANG, Jing. Making and Unmaking Freedom: Sound, Affect and Beijing. 243 f. Tese (Doutorado em Artes Interdisciplinares) - College Of Fine Arts Of Ohio University, Athens, 2012.

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