SILVA, António Manuel S. P. (2015) – Revisitando Cristelo (Albergaria-a-Velha), Talabriga e um Amigo que partiu.

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Albergue – História e Património do Concelho de Albergaria-a-Velha – n.º 2

REVISITANDO CRISTELO (ALBERGARIA-A-VELHA), TALABRIGA E UM AMIGO QUE PARTIU António Manuel S. P. Silva * “Não quero ser iconoclasta, mas entendo que o tempo da criação e manutenção dos mitos passou, entendo a Arqueologia como uma verdadeira ciência que conforme cria e ajuda a aparecer novas ideias, também desmaterializa as ideias feitas sem base científica” J. L. Inês Vaz, Lusitanos no tempo de Viriato Ao João Inês, um lusitano em busca das suas (nossas) raízes Em texto publicado no número anterior desta revista evocámos a visita de Leite de Vasconcelos a Albergaria-a-Velha em 1911 para reconhecimento de alguns monumentos megalíticos do concelho (Silva 2014). A deslocação do director e fundador do actual Museu Nacional de Arqueologia, feita a convite de Patrício Theodoro Álvares Ferreira (18461932), notável autarca e homem de cultura, deu origem à publicação de uma curta notícia n’O Archeologo Portuguez que constitui certamente o texto fundador da investigação arqueológica sobre Albergaria-a-Velha (Vasconcelos 1912). Todavia, seria preciso ainda esperar toda uma geração para que o interesse dos arqueólogos por esta região tivesse resultados práticos e os vestígios do passado começassem a regressar à luz do dia. Entre os anos de 1981 e 1983, a pequena aldeia de Cristelo, no extremo poente da freguesia da Branca e do território municipal, viu chegar um conjunto de professores e estudantes que ali instalaram acampamento e durante três temporadas estivais puseram a descoberto restos de muros, lajeados, canalizações e apreciável quantidade de fragmentos de cerâmica de construção, louça doméstica e de armazenamento e outros objectos de época romana. Estas foram as primeiras escavações arqueológicas feitas em Albergaria-a-Velha. Dirigiu-as um jovem professor que então se iniciava na carreira de arqueólogo, João Luís da Inês Vaz, que inesperadamente nos deixou a 23 de Junho de 2015. O sítio arqueológico de Cristelo Terá sido Alberto Souto1, em finais de 1941, o primeiro a reconhecer o interesse arqueológico do sítio de Cristelo, quando por aquelas bandas averiguava a hipotética * Arqueólogo. Centro de Arqueologia de Arouca. CITCEM/Universidade do Porto. Bolseiro de Doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia na Universidade de Santiago de Compostela. 1 Alberto Souto (1888-1961), formado em Direito, foi um notável jornalista, escritor e investigador da região de Aveiro. Deputado às Constituintes (1911-1915), foi também Administrador do Concelho de Estarreja, presidente do Senado Municipal de Aveiro, director do Museu Regional de Aveiro (1925-1958) e presidente da 1 39

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localização de Talabriga (Souto 1942). Numa visita feita em companhia de sua filha e algumas personalidades locais, a 16 de Dezembro, Souto foi surpreendido, desde logo, pelo “imponente aspecto topográfico” e “posição admirável” do local, que descreve com uma graça literária que merece transcrição: “Cristelo é hoje um pequeno lugarejo sem estrada, sem escola, sem correio, sem loja e sem taberna, pousado no planalto de um promontório amplo, de encostas abruptas, alto de umas dezenas de metros, cercado por duas ravinas profundas onde correm duas ribeiras afluentes do Antuã, todo envolvido num frondoso carvalhal, belamente disposto para revigorar a sugestão do arcaísmo e significado do expressivo topónimo” (Souto 1942: 42).

Fig. 1 – Vista aérea de Cristelo na actualidade, tomada sensivelmente de Sul. O desenvolvimento de novas construções no lugar sem avaliação arqueológica prévia pode destruir vestígios arqueológicos importantes (Imagem GoogleEarth, Set.º 2015)

Atento e experiente, rapidamente o arqueólogo reconheceu nos moroiços e terras agricultadas restos de tegula, tijolaria e olaria de tipo romano, para além de algumas mós conservadas pelos aldeões. Percorrendo o longo e largo promontório – expressão que Souto reforça – com habitantes locais, registou testemunhos sobre o perímetro de uma cerca muralhada que coroaria o cabeço numa extensão de cerca de 800 metros por 100 a 200 de largura, para além da memória de terem aparecido “quartos e salas, fornos e coisas várias”, entretanto recobertos pela mancha agricultada e pelas casas da aldeia (Idem: 42-3). Mês e meio depois Alberto Souto regressou a Cristelo, dessa vez acompanhado pelo Câmara Municipal de Aveiro entre 1957 e 1961. Dedicou-se particularmente à história, arqueologia, etnografia e geologia, sendo um Autor incontornável para o estudo da região do Vouga.

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eminente arqueólogo Vergílio Correia2, que confirmou as observações de Dezembro e encareceu a amplitude e potencial arqueológico do sítio (Ibidem). Poucos anos volvidos, também o general João de Almeida, no seu Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, inventariou a “Fortaleza de Cristelo”, seguindo de perto a caracterização feita por Alberto Souto, com a variante de sugerir, com escassa fundamentação, que o sítio pudesse ter servido mais como acampamento militar que propriamente como povoação antiga (Almeida 1946: 43). Desde então, o sítio arqueológico continuaria a ser mencionado por diversos Autores, especialmente acerca da sua possível relação com o oppidum de Talabriga citado nas fontes antigas mas também com notícias de diversos achados ocasionais, como sucedeu com Dulce Alves Souto que registou a ocorrência de telha e cerâmica romana, para além de “uma placa de xisto perfurada” (Souto 1958: 259). Coube à Associação para o Estudo e Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro (ADERAV)3 a iniciativa da realização dos primeiros trabalhos arqueológicos em Cristelo, no que foi, aliás uma das primeiras actividades daquela associação. Para o efeito conseguiu um apoio financeiro do FAOJ4, congregou um conjunto de professores e estudantes locais e convidou para dirigir os trabalhos João Luís Inês Vaz, à data também um jovem professor do ensino secundário que poucos anos antes se licenciara em História/Arqueologia pela Universidade de Coimbra. Inês Vaz tinha já, desde os seus tempos de estudante, significativa experiência de arqueologia romana, pois havia participado nas escavações de Collipo (Leiria) e Conimbriga, sob a direcção do Prof. Jorge de Alarcão e também nos primeiros trabalhos de Bracara Augusta, então orientados por Francisco Alves. Deste modo, em Agosto de 1980 foi instalado um acampamento junto à povoação de Cristelo e reunida uma equipa de perto de duas dezenas de jovens do ensino secundário e superior para levar a cabo as escavações, que duraram duas semanas. A organização e responsabilidade do campo ficaram a cargo de Amaro Neves (então presidente da ADERAV), Fernando J. Loureiro, Américo Barata e Esmeralda Figueira, todos docentes do ensino secundário e ainda de Artur Jorge Almeida, então a iniciar os seus estudos superiores (Vaz 1982a: nota 3; 1983: nota 10)5. Durante esta campanha foram abertas duas áreas, designadas convencionalmente como sectores A e B. A sua localização é algo imprecisa a partir das informações publicadas, mas aparentemente o sector A situou-se uns 150 ou 200 metros a Norte das Vergílio Correia (1888-1944), jornalista, arqueólogo e notável historiador de arte, foi professor na Universidade de Coimbra, director do Museu Machado de Castro e dirigia então as escavações em Conímbriga. Fundada em Aveiro a 3 de Maio de 1979, a ADERAV tem por fins, segundo os estatutos, “a inventariação, salvaguarda, defesa, valorização e estudo do património natural e cultural da região de Aveiro nos seus aspectos monumental, urbanístico, natural, histórico, arqueológico, etnográfico, artístico, e ecológico”. Cfr. www.aderav.com. 4 O Fundo de Apoio aos Organismos Juvenis (FAOJ), antecessor do Instituto Português da Juventude (agora Instituto Português do Desporto e Juventude, IP) foi um organismo do Ministério da Educação criado em 6 de Fevereiro de 1976 para apoio às iniciativas juvenis no domínio da ocupação dos tempos livres. Entre muitas outras acções prestou significativo apoio a campos de trabalho arqueológico e outras iniciativas ligadas à arqueologia. 5 Cfr. pequenas notícias em “Noticiário-Intervenção”, Boletim da Associação de Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, ano 1, nº 3 (Out-Nov. 1980), Aveiro, p. 31-2. 2 3

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últimas casas do lugar; enquanto o sector B terá sido implantado mais a Sul, no lado esquerdo de um caminho que sai do lugar para Noroeste e a pouca distância do povo (Loureiro 1983: fig. 21)6. Em toda a área escavada, cerca de 80 m2 no sector A e aparentemente 64 m2 na zona B, a possança estratigráfica era escassa, variando entre os 15 e os 30 cm. apenas, circunstância que, a par das sondagens terem incidido em terrenos agricultados, terá contribuído para a má preservação das construções (Vaz 1981-82: 26-7), parecendo registar-se também uma significativa reutilização da pedra e tijoleiras das ruínas para a construção do povoado actual (Vaz 1982a: 14; 1983: 5).

Fig. 2 – Um aspecto dos primeiros trabalhos arqueológicos em Cristelo, campanha de 1980 (Foto: Artur Jorge Almeida)

Ainda assim, na sondagem 2 do sector A foram identificadas diversas estruturas, nomeadamente os restos de um muro feito com pedras de xisto e granito, estas últimas alheias à geologia local, como oportunamente notou Inês Vaz (1981-82: 27), um sulco cavado na rocha paralelamente a esse muro que parecia desembocar numa espécie de pia igualmente talhada no afloramento natural e restos de um piso feito em argamassa de barro com pequenas pedras e fragmentos de cerâmica, similar à técnica romana do opus signinum, sob o qual viriam a detectar-se duas pequenas cavidades rectangulares, encontrando-se a rocha intencionalmente nivelada noutros pontos (Vaz 1981-82: 26-28; 1982a: 2-4; 1983: 46 Cumpre esclarecer que nos baseamos apenas nas informações publicadas, não nos tendo sido possível procurar os relatórios originais das intervenções, que presumivelmente se conservarão no arquivo central da arqueologia portuguesa, na Direcção Geral do Património Cultural, Lisboa. No que respeita à implantação e dimensão das sondagens, os dados publicados são imprecisos (Vaz 1983: 5; Loureiro 1983: fig. 21).

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5). Na sondagem 4, um pouco mais a Sul, observou-se igualmente o nivelamento intencional da rocha natural, bem como a presença de uma cavidade coberta por uma laje e um outro sulco talhado na rocha, em parte colmatado também por uma pequena cunha em pedra. Nos restantes quadrados não se localizaram quaisquer estruturas arqueológicas. Como o responsável pelos trabalhos reconheceu, o avançado estado de destruição destes elementos arquitectónicos e negativos de quaisquer actividades ou construções, a par de um espólio móvel escasso e incaracterístico, não permitiram identificar a funcionalidade desta área, aventando-se que poderia estar ligada a uma lagareta ou qualquer outro dispositivo de carácter oficinal (Vaz 1981-82: 28; 1983: 4). No sector B foram aparentemente escavadas quatro quadrículas de 4x4 metros, registando-se desde logo uma quantidade mais apreciável de fragmentos de cerâmica e outros objectos. Nos quadrados B1 e B2 identificaram-se restos de lajeados, de função indefinida, “constituídos por lajes de xisto negro, perfeitamente assentes no terreno” (Vaz 1981-82: 29), aparecendo também numa das sondagens evidência de um outro muro, muito destruído e uma estrutura demarcada por algumas “pedras colocadas ao alto, em cutelo”, de planta aparentemente ovalada e preenchida por uma terra “mais solta e com uma coloração diferente da terra circundante” (Idem, ibid.), vestígios que Inês Vaz interpretou como uma possível sepultura de inumação (Ibid.), acrescentando em trabalhos posteriores que a base da suposta sepultura estaria “coberta de cerâmica”, relacionando mesmo com a área sepulcral quer o lajeado contíguo, quer um objecto supostamente idoliforme recolhido no mesmo contexto (Vaz 1982a: 8-9; 1982b: 34; 1983: 4-5).

Fig. 3 – Pormenor de um dos lajeados em xisto aparecidos na primeira campanha de escavações em Cristelo (Foto: Artur Jorge Almeida)

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O espólio, isto é, os restos de artefactos recolhidos nesta primeira campanha, não terá sido muito abundante, sobretudo no sector A, registando-se, além de numerosos fragmentos de material de construção (tegula e imbrex, no sistema habitual romano de cobertura dos telhados, e também tijoleiras), cerâmica doméstica de diferentes tipos, fragmentos de dolia (vasos de armazenamento), dois pequenos fragmentos de lucernas e, pelo menos, uma asa e dois fundos de ânforas, para além de um peso de rede com dupla perfuração e restos de um peso de tear, igualmente em argila. Os achados líticos reduzem-se a dois polidores, em xisto e granito, e ao referido idoliforme, uma peça em granito interpretada como um “ídolo” posteriormente reaproveitado como polidor; por fim, a única ocorrência metálica refere-se aos restos do que parecia ser um alfinete de bronze, muito deteriorado. Todo este material, que por alto contabilizamos em cerca de cinco ou seis dezenas de objectos encontra-se descrito, fotografado ou desenhado na segunda parte da publicação do relatório da campanha (Vaz 1982a). Além dos materiais recolhidos nas sondagens, Inês Vaz menciona ainda outros objectos, recolhidos e conservados por elementos da população local e que na altura lhe foram confiados para estudo, como tijoleiras, uma placa de xisto com decoração reticulada e em especial uma moeda romana, em bronze, aparentemente datada de Tibério (Vaz 1982a: 13-14). Da segunda campanha, realizada entre 12 e 31 de Julho de 1982, escassas notícias foram publicadas, para além de algumas indicações gerais num trabalho de síntese (Vaz 1983) e duas notas informativas igualmente sucintas (Vaz 1982b; 1985)7. Registou-se que nesta campanha, que incidiu nos mesmos sectores que a primeira (Vaz 1982b: 34), “continuaram a não aparecer estruturas”, se bem que a cerâmica exumada tenha sido “muito mais abundante e muito mais elucidativa que a aparecida na 1ª campanha” (Vaz 1983: 5-6; 1982b: 34-5). A propósito deste espólio, mencionam-se, além da cerâmica de construção, um conjunto de cerâmicas domésticas de produção local ou regional com um “tipo de formas (…) anterior à chegada dos hábitos romanos” e, entre os grupos de louças importadas, fragmentos de terra sigillata, nomeadamente “um fragmento com um grafito no bojo e duas taças reconstituiveis”, referindo-se finalmente um peso de tear em xisto com marca de fabricante em grafito (Idem: 6), materiais infelizmente não ilustrados, se bem que em nota de rodapé na mesma página (infelizmente com o texto gralhado) se aluda a um estudo sobre estas cerâmicas que estaria já no prelo, publicação que aliás não chegou a ver a luz do dia. Da terceira campanha de trabalhos arqueológicos, que terá tido lugar no ano de 1983, segundo base de dados oficial8, ignoramos quaisquer resultados ou achados. Entre os finais de década de 1980 e começos da seguinte, nós próprios visitámos a estação por duas vezes, registando a ocorrência de material cerâmico de construção romano mas não podendo já observar as áreas escavadas, certamente aterradas para cultivo dos campos. Mais recentemente, Nélia Oliveira, na monografia Auranca e a Vila da Branca ilustrou três dormentes de mós manuais circulares, a mesma moeda romana referida já por Inês Vaz e menciona ainda memórias locais de outros achados de difícil interpretação, feitos sobretudo durante obras para a construção das casas do lugar, nomeadamente a

7 Veja-se também notícia em “Noticiário-Intervenção”, Boletim da Associação de Defesa do Património Natural e Cultural da Região de Aveiro, ano 3, nº 7 (Jun-Dez. 1982), Aveiro, p. 30. 8 Cfr. http://arqueologia.patrimoniocultural.pt/?sid=trabalhos.resultados&subsid=123022&vs=53929.

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descoberta, em 1966, de “duas grandes pedras de xisto com as inscrições M.P.”, entretanto desaparecidas (Oliveira 1997: 34-6). Que balanço, necessariamente provisório, poderemos fazer das informações que resultaram destas intervenções arqueológicas e outros achados em Cristelo? Deixando de lado por ora a questão seminal da possibilidade de identificação do sítio arqueológico com a mítica Talabriga, como podemos caracterizar este sítio arqueológico? Inês Vaz, cujas publicações transmitem claramente um certo desânimo pela dificuldade em encontrar ruínas ou outras estruturas conservadas e mesmo em caracterizar suficientemente a natureza das detectadas (o que certamente terá levado à interrupção dos trabalhos em 1983), conclui o relatório da primeira campanha reconhecendo que a intervenção foi inconclusiva quanto à eventualidade de ali ter sido o assento do ópido talabrigense, ficando como certeza que “houve uma grande influência romana no local e o povoado ocupava uma extensa área ainda não totalmente definida” (Vaz 1982a: 14). Após a campanha de 1982, que terá proporcionado mais e melhor espólio, como se viu, mas não estruturas significativas, o director das escavações manifestou-se convicto de que o local teve ocupação “muito antes da chegada dos romanos” e de que, por outro lado, “Talabriga ficará muito próxima, senão mesmo ali” (Vaz 1983: 7). Em breve síntese posterior, João Inês Vaz clarificou melhor a sua posição: o povoamento romano foi ali antecedido pela “presença do homem anteriormente àquela data mas sem uma determinação exacta da época”, considerando que a extensão da ocupação romana “se estendia para lá do que é hoje a povoação (…) e tratar-se-ia certamente de um povoado importante”, com uma ocupação particular durante os séculos I e II da nossa era, em função da datação dos principais objectos encontrados (Vaz 1985; 1982b). A ocupação pré-romana de Cristelo, desde logo sugerida pelo topónimo, com toda a probabilidade diminutivo de Crastello, como diminuitivo de crasto
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