SILVA, António Manuel S. P.; AFONSO, José A. (2008) – Os Evangélicos – representações de Si e do Outro na literatura protestante

June 14, 2017 | Autor: A. Silva | Categoria: Protestantism, Anglicanism (Anglicanism)
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TEXTO

António Manuel S. P. Silva*; José António Afonso**

Os Evangélicos – representações de Si e do Outro na literatura protestante

«– O senhor é protestante? – Com muita honra, responde o cristão evangélico. – Pois nós, os livres pensadores, consideramos os protestantes como uns sectários fanáticos, uma gente da classe mais pobre, sem ilustração e sem importância. – É exacto – acrescenta um católico romano – e a nossa Santa Madre Igreja os tem declarado hereges e condenados ao inferno. – Pois eu, meus senhores, sou protestante, e dir-lhes-ei porquê...» (Quem são os protestantes? 6.ª edição. Lisboa, 1916)

A resposta pacífica, cordata, com que o protestante do diálogo que serve de epígrafe enfrenta as acusações afrontosas provindas de livres-pensadores e católicos-romanos – grupos que representavam, na prática, o senso comum da maioria religiosa do País e de uma franja de agnósticos que a crescente politização das minorias letradas e o alastramento do sentimento anti-clerical ao longo de Oitocentos havia feito desenvolver – ilustra, de forma singela, o desígnio formativo daqueles cristãos reformados, verdadeiramente evangelizador em sentido amplo, como se verá, e que teve na palavra impressa um dos seus veículos fundamentais, quer pelos públicos a quem se dirigia, quer pelo raio geográfico que permitia abarcar. Afirmar-se protestante, como um brado de liberdade de espírito e de consciência; anunciar, enfrentando riscos por vezes não pequenos, a iluminação interior e o impulso à acção decorrente de uma assumida vivência do Evangelho; participar de um projecto, ainda que utópico, no qual a regeneração moral e religiosa de cada um alastraria, como onda de espuma revivificadora, à regeneração da pátria lusitana, constituíam, a um tempo, dis* Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica (Comunhão Anglicana). ** Departamento de Pedagogia do I. E. P. /Universidade do Minho.

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curso propagandístico e modo de auto-formação e construção de uma identidade própria, original, na qual se cruzavam influências e ideários de procedência exógena com sentimentos e tradições da mais genuína portugalidade.

CONTEXTO HISTÓRICO Recordemos em breve apontamento a cronologia e condições da implantação do protestantismo em Portugal. Note-se que até às primeiras décadas do século XIX, com excepção da conversão de algumas personalidades mais ou menos isoladas, na sua larga maioria fora do País, e do culto próprio das comunidades estrangeiras nas principais cidades, como sucedia com os ingleses ou os alemães, não existiu em terras lusas qualquer expressão religiosa pública de outras correntes cristãs além da católica romana (Barreto 1901; Moreira 1958; Cardoso 1998; Ribeiro e Ribeiro 2001). Foi com o liberalismo político saído de 1820, que enterrou de vez a Inquisição e o index de livros proibidos, ao mesmo tempo que as estruturas económicas, sociais e culturais do País viviam lenta mas irreversível transformação, que se criaram condições para a difusão, mais ou menos tolerada (Silva 1995a; Afonso 2006), de concepções teológicas alternativas, diferentes formas de culto e uma prática cristã distinta aplicada aos indivíduos e às relações sociais, introduzindo nos quadros mentais, como nova representação, a figura do protestante, do evangélico 1. Vários elementos contribuíram para esta novidade. Desde logo o crescente e inusitado aumento da circulação da Bíblia (em língua portuguesa, naturalmente) e outros escritos religiosos que se verificou desde as primeiras décadas do séc. XIX. Para este cenário muito contribuiu a fundação da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (1804) que, a par de outras sociedades missionárias, fez da expansão dos textos sagrados, vertidos nas diferentes línguas nacionais, objectivo primordial, destacando para a Península Ibérica significativo investimento. Um cômputo global quantificou em mais de 1,5 milhões o número de exemplares da Bíblia, completa ou em edições parciais, distribuídos em Portugal pela Sociedade entre 1809 e 1905 2. Um segundo factor preponderante foi a vinda para Portugal, por razões explicitamente religiosas ou outros motivos, de diversos missionários, clérigos ou simples leigos, que além de significativa intervenção assistencial, designadamente nos domínios do ensino público, desenvolveram intensa acção proselitista. Limitamo-nos a referir algumas datas e os principais protagonistas, remetendo o Leitor interessado para a bibliografia indicada no final. (1) Termos usados neste texto, por razões práticas, como equivalentes. (2) Ferreira 1906. Recorde-se que, até então, a leitura dos textos bíblicos, em versão integral, era quase um exclusivo da classe sacerdotal, sendo as versões latinas as mais usadas.

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Nos finais da década de 1830 desenvolvem-se em Lisboa e na ilha da Madeira, sem relação entre si, movimentos de reforma religiosa de consequências assinaláveis. Na capital, um sacerdote católico espanhol, entretanto admitido na Igreja de Inglaterra e representando uma sociedade missionária daquele país, Vicente Gómez y Tojar, abriu em 1839 uma congregação de rito anglicano, activa até cerca de 1870, atraindo significativo número de crentes (Moreira 1958; Silva 1995a). Um ano antes, em 38, o médico escocês Robert Reid Kalley, ligado à Igreja Livre da Escócia (presbiteriana), desembarca no Funchal, dedicando-se a notável acção filantrópica, através da assistência médica e da instalação e manutenção de escolas de ensino elementar, actividade que pouco tempo depois complementaria com actividades de natureza religiosa, o que esteve na origem de violentas perseguições à família Kalley e às centenas de aderentes que granjeara para a fé protestante, a partir de 1843, culminando com a fuga dos Kalley para o Brasil em 1846 e com o exílio de milhares de madeirenses para o continente americano (Moreira 1958; Guichard 1990; 1992; 1993; Cardoso 1998; Abreu 2001; Fernandes 2004), naquele que foi, sem dúvida, um dos mais expressivos movimentos de adesão popular às ideias protestantes na história do País e, simultaneamente, o mais violento episódio de intolerância e sanha persecutória por motivos religiosos, a fazer lembrar os piores momentos da saga purificadora da Inquisição. Na segunda metade da centúria aumenta, em número de adeptos e visibilidade pública, a presença evangélica em Portugal, destacando-se a instalação em Lisboa de outro ex-sacerdote romano convertido ao anglicanismo, Angel Herreros de Mora, que iniciou cultos episcopais em Lisboa em 1868 (Afonso et al. 2005). Pela mesma época, James (Diogo) Cassels encetava em Vila Nova de Gaia uma notável acção educativa e religiosa, traduzida pela fundação de diversas escolas e capelas. Inicialmente próximo do Metodismo, Cassels colabora com Robert Moreton (chegado ao Porto em 1871, precisamente para instalar a Igreja Metodista em Portugal), filiando-se em 1880 na Igreja Lusitana (Cassels 1906; Aspey 1971; Peixoto 2001). Esta última igreja radica, de forma diversa dos movimentos e da maior parte das personalidades atrás citadas, numa tentativa de reforma religiosa autóctone, liderada por um conjunto de sacerdotes católicos que ao longo da década de 1870 abandonaram a Igreja de Roma, ligando-se alguns deles à comunidade de Herreros de Mora, por discordância de consciência com a postura teológica, pastoral, moral, social e política da hierarquia romana, designadamente na sequência da proclamação do dogma da Imaculada Conceição de Maria (1852), das proposições obscurantistas e historicamente desfasadas do Syllabus Errorum (1864) ou da declaração do Vaticano I acerca da infalibilidade papal em matéria de fé (1870). Beneficiando da influência dos movimentos protestantes emergentes em Portugal e com o apoio muito directo do Cónego Godfrey Pope, o capelão anglicano da comunidade britânica de Lisboa, estes clérigos reuniram-se em 1878 numa igreja nacional, transformada em 1880 na Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica, uma confissão de matriz anglicana que reclamava a restauração do cristianismo católico e apostólico primitivo, anterior à sujeição formal a Roma do nosso primeiro rei, traduzindo-se este intuito numa igreja doutrinalmente católica, até com influências velho-católicas, mas de vivência moral

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e forma de culto muito próximas das comunidades evangélicas que animavam, pela diferença, a prática religiosa de um número crescente de portugueses (Figueiredo 1910; Moreira 1949; Moreira 1995; Santos 1997; Silva 1995a). Assim, e para concluir a súmula, estritamente dirigida à contextualização deste ensaio, desde as últimas duas décadas do século XIX e com progressiva visibilidade durante a Primeira República, estabeleceu-se em Portugal uma significativa minoria religiosa de feição genericamente protestante (lusitanos, metodistas, presbiterianos, baptistas, irmãos, pentecostais, etc.) gerando um público leitor e uma comunidade educativa bem mais amplos que a própria expressão demográfica dos próprios grupos de culto3, graças à «agressividade cultural» dos seus líderes e de uma parte substancial dos convertidos, fortemente empenhados numa acção de fomento da instrução e de missionação evangelística, quer nos principais meios urbanos, quer em zonas periféricas ou mesmo rurais.

OS TEXTOS PROTESTANTES A centralidade da palavra impressa na difusão do pensamento protestante – com os textos bíblicos naturalmente à cabeça mas englobando outros géneros discursivos – sublinhada já por diversos autores4, levou a que a distribuição e a própria edição de livros, folhetos e jornais ganhasse particular acutilância. Podemos tipificar, a título meramente exemplificativo, a diversidade do esforço editorial protestante, nas seguintes categorias: a) A Bíblia, em versão integral ou através de Novos Testamentos (muito populares), bem como de «porções» (evangelhos avulsos, recolhas de textos, etc.) tinha natural primazia na propaganda, doutrinação, liturgia e, em geral, no culto comunitário e na devoção individual dos evangélicos5; b) Textos especificamente litúrgicos e de doutrina formal, como Livros de Orações e Liturgia, Hinários, Catecismos e outros; c) Estudos bíblicos e de edificação, críticos e de controvérsia, questões sociais, história e biografia; d) «Livros de recreio e amena leitura»6, compreendendo novelas populares, contos, historietas de fundo religioso ou moral, teatro e poesia; (3) Segundo um levantamento do início da década de 1930, contabilizavam-se em Portugal cerca de 10.000 protestantes, incluindo-se nesta cifra, além dos membros «comungantes», os alunos das Escolas Dominicais e Escolas de Ensino Elementar (Moreira 1933: 59). (4) V., por exemplo, Ester Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento: «no protestantismo, a leitura e a fé estão interligadas» (Nascimento 2005: 11). (5) Durante a primeira metade do século XIX, salvo excepções pontuais, usaram-se Bíblias em língua portuguesa impressas em Inglaterra. A partir de 1864, começaram também a editar-se em impressores portugueses. Cfr. Santos 2005: 55. (6) Como os designa o Catálogo General de las obras editadas por la Librería Nacional y Extranjera (Madrid/Barcelona, s. d. [c. 1923]).

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e) Livros e periódicos para crianças7, livros de escola e impressos avulsos como desenhos, cromos, gravuras, postais ilustrados, etc. f) Imprensa periódica, ilustrada por dezenas de publicações semanais, quinzenais8, etc. Esta proposta, que poderá ser afinada em função, por exemplo, dos catálogos das casas editoras protestantes, admitia diversos formatos gráficos em quase todos os géneros. Para além de livros de maior ou menor dimensão e volume de páginas, de capa brochada ou encadernados, tinham larguíssima expansão os folhetos ou «tratados» (do termo inglês tracts), publicações de pequeno formato, que não ultrapassavam em regra os 15 cm de altura e as 8 ou 16 páginas, vendidas pelos editores ao cento ou ao milheiro por preço módico e que se destinavam a distribuição gratuita dentro e sobretudo fora das comunidades protestantes, sendo o principal recurso em campanhas de evangelização de rua ou em missões no meio rural, levadas a cabo, muitas vezes, pelos colportores9. Toda esta densa literatura protestante, afirmava-se e sustentava diferentes espaços de uso e difusão que iam (do interior para o exterior das comunidades) desde os templos (funcionando o culto doméstico ou familiar como espaço alternativo ou complementar), passando pela Escola Dominical10, Uniões Cristãs da Mocidade, grupos escotistas e outros, até dispositivos de maior interface com o «mundo exterior» como sucedia com as escolas diárias, onde quer a Bíblia, quer os hinários e por certo muitos folhetos e outros impressos eram utilizados como recurso pedagógico (Figuras 1 e 2). Se as primeiras edições destas publicações eram provenientes de prelos estrangeiros, pela natural dificuldade e falta de meios para a sua produção local, rapidamente se procuraram soluções para autonomizar este campo da actividade evangélica. Exemplo maior deste esforço é o projecto da Livraria Evangélica. Iniciou a sua actividade pelas décadas de 1850 ou 1860 e encerrou em 1935. Até 1913 funcionou como agência da Religious Tract Society11, que nessa data se desvinculou da Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, que se tinha estabelecido em Portugal em 1864, pelo que, além da sua actividade editorial, também difundia Bíblias, Testamentos e Porções. A partir de 1913, a Livraria Evangélica, financiada pela Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira (SBBE), passou exclusivamente a editar livros, enquanto que a Sociedade Bíblica estava encarregada de fazer circular os textos bíblicos. Calcula-se que em 1935, ano em que a SBBE deixou de (7) Cfr., a este propósito, Afonso e Silva, no prelo. (8) V. Silva 1995b; 2005. (9) Os colportores (do fr. colporteur) eram vendedores ambulantes e distribuidores de bíblias e outras publicações religiosas, actividade a que se dedicavam por espírito de evangelização, e não por razões económicas. (Tavares 2005). (10) As Escolas Dominicais, adaptadas do modelo britânico (Sunday school) constituíam, em Portugal, uma classe semanal, para crianças, jovens e não raro adultos, que facultava instrução bíblica, religiosa e moral. Eram um dos dispositivos formativos clássicos em qualquer comunidade evangélica. (11) Sociedade missionária fundada em Inglaterra em 1799 com o propósito de produzir literatura para crianças e jovens de inspiração religiosa e teor moral edificante.

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financiar o trabalho no nosso País, por mudança da estratégia de missionação, circulavam em Portugal cerca de 200.000 exemplares de livros e tratados. A Livraria Evangélica foi paulatinamente disseminando uma prática de colecção, com base na classificação temática das suas edições. Da divisão um pouco amorfa dos 40 títulos editados até 1878, que se repartiam em folhetos evangélicos de apologética e controvérsia, novelas históricas e «ilustrações de grandes factos da alma», passou-se para um catálogo em que pontificavam temas históricos, biografias, polémica, apologética, narrativa e poesia (para adultos e infanto-juvenil), argumentos, testemunhos e autobiografias, temas educativos, escolas dominicais, escotismo e questões teológicas. Privilegiavam-se as traduções de autores de sucesso ou de referência nos meios evangélicos ingleses, franceses, espanhóis e brasileiros. Refira-se também que alguns títulos surgiram primeiramente sob a forma de folhetim ou caderneta na imprensa protestante portuguesa. Merece destaque o grande número de edições e a elevada tiragem de muitos destes livros e folhetos, o que se devia por certo à estratégia de propaganda que serviam e ao esforço intenso dos líderes e das comunidades protestantes nesse sentido. Com frequência, as tiragens atingiam vários milhares, como sucedeu por exemplo com o opúsculo anónimo O menino da matta e o seu cão piloto (edições de c. 1878, 1912 e 1914 que totalizaram 5.000 exemplares) ou com as novelas de Eduardo Moreira, porventura não das mais populares, pelo seu estilo cuidado e até erudito, tendo atingido 6.000 cópias as duas edições (1917 e 1925) de Joaninha, a torturada e 8.000 unidades as tiragens (1912, 1917 e 1925) de Duas revoluções. De outras novelas e folhetos, apenas há menção ao número de edições, sendo praticamente certo que em nenhuma das tiragens saíram dos prelos menos de um milhar de cópias: o clássico O rapaz do realejo, de O. F. Walton, teve pelo menos seis edições; e Uma aventura na Rússia, de Mary E. Ropes, ia na 7.ª edição em 1933; enquanto os folhetos Deus ama-te e É preciso que isto mude atingiram respectivamente, pelo menos, a 9.ª edição (1916) e a 11.ª edição (1913). A AMOSTRA ANALISADA Para além das obras da Livraria Evangélica, cuja relevância foi já salientada, a nossa análise contemplou também, pontualmente, outras iniciativas editoriais. A selecção concentrou-se na novela e no conto, decorrendo da triagem que se efectuou após uma recensão de cerca de 250 títulos localizados em bibliotecas de diversas comunidades protestantes12. Em linhas gerais, recorremos a livros, pequenas brochuras e sobretudo aos folhetos ou tratados. A amostragem poderá constituir uma amostragem significativa do repertório editorial protestante de entre cerca de 1870 e as duas primeiras décadas do séc. XX, reflectindo por certo a diversidade de autores e formatos. Os 61 títulos utilizados de forma mais (12) Utilizámos, fundamentalmente, a Biblioteca da Paróquia de S. João Evangelista, Vila Nova de Gaia (Igreja Lusitana) e, de forma mais pontual, as bibliotecas das paróquias lusitanas do Bom Pastor (V. N. Gaia) e do Redentor (Porto), bem como a biblioteca da Igreja Metodista do Mirante, Porto.

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directa (v. Anexo I) dividem-se em obras de autores portugueses, latinos e anglo-saxónicos, sobretudo ingleses, compreendendo 34 livros e 27 folhetos, estes na sua maioria sem qualquer indicação de autor. Entre os Autores portugueses avulta o nome de Eduardo Moreira13, em cuja vastíssima obra se encontram duas novelas de marcada originalidade e qualidade literária (Duas revoluções, em 1912 – Fig. 6 – e Joaninha a torturada, em 1917) e o curioso texto alegórico Viagem surpreendente (1925), de algum modo glosando O Peregrino de Bunyan. Da jornalista Helena de Aragão compulsámos o romance Ruínas (1925) e um livro de contos (Caminhos da vida, 1929), enquanto do dramaturgo Augusto de Lacerda recolhemos o extenso romance, publicado originalmente em folhetins, como era comum à época, O Rabbi da Galiléa (1904). O Rev. André B. Cassels, como os anteriores ligado à Igreja Lusitana, assinou uma pequena novela histórica (Cristina e o Inquisidor, 1926) e Padre António (1929), uma novela de costumes, de fundo rural (Fig. 5). De Diamantina Eunice da Conceição, uma autora metodista que assinou numerosos contos e histórias edificantes no Raio de Sol, Portugal Evangélico e outros periódicos, localizámos, em edições autónomas, quatro pequenas brochuras da década de 1920, visando essencialmente o público infanto-juvenil. Entre os autores estrangeiros podemos enumerar o presbítero anglicano espanhol Emílio Martinez, que assinou duas novelas muito populares, traduzidas para Português como Josepha e a Virgem (1897) e Julião e a Bíblia, e o francês Adolphe Monod, autor de Lucília ou A Leitura da Bíblia, publicado em Portugal desde 1883 (Fig. 4). Mas era de Inglaterra – país de naturalidade de muitos dos missionários estabelecidos no nosso País – que chegavam os principais sucessos editoriais, subscritos por autores muito conhecidos na literatura religiosa daquele país, como é o caso de Amy Le Feuvre14, de que se traduziram, entre outras novelas, Os Filhos Pródigos (2.ª ed., 1917) e A «Boa Nova» (3.ª ed., 1923) e Hesba Stretton15, cuja obra de 1867 A primeira oração de Jéssica (Fig. 3) foi editada em Portugal em 1878, seguindo-se obras como Uma vida espinhosa (6.ª ed., 1917) e O Pateo dos Anjos (4.ª ed., s. d.). Outra obra bem recebida era a da americana O. F. Walton16 O rapaz do realejo (1880), que veio a lume em Portugal apenas seis anos após a edição original. (13) Eduardo Henriques Moreira (1886-1980) foi um conhecido pastor evangélico, ligado a várias denominações, tendo dirigido a Aliança Evangélica Portuguesa entre 1927 e 1947. Desenvolveu importante acção política, exercendo durante anos como Vereador e Vice-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa. Escritor prolixo e de grande erudição, deixou diversas obras de referência, designadamente sobre história do protestantismo em Portugal, e milhares de colaborações (crónicas, ensaios, poesias, estudos bíblicos, etc.) em inúmeras publicações periódicas. Cfr. Viana 1999. (14) Amy Le Feuvre (m. 1929) – Conhecida autora evangélica inglesa. Publicou mais de 50 novelas entre 1894 e 1917, a maior parte na Religious Tract Society. Eric’s Good News (1894) e Probable Sons (1895) são os seus primeiros trabalhos. (15) Hesba Stretton, pseud. de Sarah Smith (1832-1911) – Autora de ficção religiosa. Jessica´s first prayer (1867), Little Meg’s Children (1868) e Thorny Path são algumas das suas obras mais populares. (16) O. F. Walton (1849-1939) – Autora de novelas religiosas, publicadas pela Religious Tract Society. Christie’s old organ, or Home Sweet Home (1874) é uma das suas obras mais conhecidas.

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Um dos grandes clássicos da literatura inglesa, o Pilgrim’s Progress, de John Bunyan, teve grande aceitação em Portugal, onde terá circulado desde pelo menos cerca de 1868 com o título de Viagem do Cristão (Aspey 1971: 86), contando desde então com numerosas re-edições17.

A ECONOMIA NARRATIVA Não pretendemos ensaiar uma análise técnica literária destas obras, destacar os seus traços porventura mais criativos ou inovadores ou sequer avaliar o lugar destes contos e novelas no contexto da produção ficcional da época – questões que aliás não nos sentimos habilitados a tratar – mas tão só alcançar, através da leitura paralela destes textos, uma visão de conjunto que nos permitisse identificar os temas dominantes, as estratégias narrativas, as constantes ou variações ao longo do tempo e da geografia de criação destas histórias, tendo em conta que pudemos confrontar um conjunto de textos de autores portugueses com uma amostra razoavelmente representativa das novelas protestantes em circulação na Inglaterra vitoriana. As narrativas analisadas podem caracterizar-se pelo constante declinar de uma matriz realista bastante marcada pela presença de um referente cristão que é explorado até aos limites do verosímil. Estes contornos são os indutores de toda a construção do discurso novelístico, tanto na literatura inglesa – potencialmente marcada por um forte cunho metodista que se patenteia no tom puritano e na defesa de um protestantismo popular, onde a tónica do individualismo evangélico assume incontornável centralidade – como na literatura portuguesa, ainda que nesta se potenciem as especificidades do contexto, emergindo também as características individuais do Autor, frequentemente um obreiro implicado nas tarefas quotidianas, organizativas e de missionação, bem como na reflexão sobre as circunstâncias teóricas e práticas da disseminação do protestantismo num país católico. Estes tópicos surgem também na literatura espanhola e francesa que compulsámos, podendo reflectir a identidade das primeiras gerações de protestantes que nas realidades latinas encetaram a via da diferença religiosa. No contexto português, a acuidade da problemática surge da simultaneidade da emergência do fenómeno acatólico com as mudanças sociais e políticas que a partir de 1820 se aceleraram inusitadamente. Quanto a Espanha, nota-se que a literatura protestante reflecte bastante o despoletar da designada segunda Reforma, enquanto para a França o que se patenteia é a finissecular clivagem entre as duas Franças, como é ilustrado com mestria em Lucília ou A Leitura da Bíblia, onde o recurso ao género epistolar evidencia as duas tradições religiosas distintas quanto à interpretação da Bíblia. 17) A que utilizámos, datada de 1944, é a 15.ª, mas Eduardo Moreira regista, mais de dez anos antes, que as sucessivas edições tinham totalizado 42.000 exemplares da primeira parte do Pilgrim’s Progress e 13.000 cópias da segunda parte, se bem que com a ressalva de parte significativa das tiragens se destinarem ao Brasil (Moreira 1933: 36).

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A necessidade de configurar dispositivos que servissem o propósito essencial de divulgação da mensagem bíblica encontrou na literatura um momento perene e significante, uma vez que permitiu aos autores e pregadores evangélicos reunir um corpus singular de personagens e de paisagens, articuladas em enredos narrativos atraentes para um público diversificado, na idade como na formação cultural, e sobretudo capazes de veicular um discurso marcante no plano moral e religioso. Esta expressividade literária, aqui circunscrita ao romance e à novela, traduziu-se, entre outros aspectos, por uma assinalável economia de escrita e por um modo quase estereotipado da construção da narrativa e de identificação das personagens, mesmo nos romances de cariz histórico. É uma escrita formada na leitura do Evangelho e que adquire uma eficaz simplicidade com o objectivo de promover a descrição da intimidade da consciência. É também uma literatura que promove um particular sentido da História concretizado, a escalas distintas, por uma atitude moral com reflexos nas acções mais humildes do quotidiano. A este respeito, a ênfase no puritanismo (a recusa da frivolidade e da imoralidade), nas virtudes do trabalho e na apologia da liberdade como fundadora do individualismo, marcam um destino que assenta, entre outros elementos, numa definição da boa literatura, a qual podendo mesmo ser de lazer nunca olvidava a vida piedosa, como, por exemplo, acontecia em Charles Dickens, representante do designado «romantismo idealista» (Baubérot e Mathieu 2002; Calame et al. 1995). A análise, necessariamente geral, da estrutura narrativa demonstra que, frequentemente, a par de um acontecimento irruptor do enredo (drama pessoal, crise de consciência ou outro), há um tópico religioso que desencadeia um discurso paralelo à própria narrativa, que pode ser a devoção à Virgem, o culto aos santos, o significado da Bíblia, a infalibilidade papal, a confissão auricular, o celibato do clero, a questão das Bíblias «falsas» ou outros. Aliás, as constantes de matriz religiosa transversalizam a construção literária, reflectidas de forma sistemática na omnipresença da Bíblia, em diversos registos (leitura, memorização ou estudo aplicado)18 e na oração como elemento fundamental de conversão e da vida cristã. Na prática, estas categorias resumem o essencial da ideologia protestante: a salvação obtida através da fé, da graça evocada por meio da oração e das Escrituras. A regeneração individual é, então, conotada com uma mudança radical: «Não é o exterior, mas sim o interior; não é a ordem social, mas sim o homem; não é a posição, nem a família, mas sim o coração. A regeneração do homem por meio do Evangelho é a única base possível da regeneração social, a única fonte de felicidade para os indivíduos, a família e a sociedade19». (18) A recorrente citação de trechos bíblicos n’O Jovem Lutador, é um dos aspectos que Eduardo Moreira particularmente elogia no respectivo prefácio: «bastas citações apropriadas que trazem constantemente à memória do crente a sua amável companheira – a Bíblia – e ao simples curioso revelam o poder multímodo de aplicação na vida, desse livro maravilhoso onde se baseia a nossa fé» (Moreira 1924: vi). (19) É preciso que isto mude. 11.ª ed., 1913, p. 5-7.

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Nesta perspectiva, que assume também uma dimensão comunitária (reiterada, por exemplo, pela frequente reprodução dos hinos religiosos na trama novelística), é essencialmente enfatizada a relação individual com Deus, recusando-se, a este respeito, qualquer intermediação sacerdotal, e sublinhando-se a livre interpretação das Escrituras por parte de qualquer crente.

O TEMPO E O ESPAÇO, CATEGORIAS DA NARRATIVA O corpus que serve de base ao nosso inquérito revela alguma singularidade quanto ao tempo e ao espaço onde as narrativas se desenvolvem, ao mesmo tempo que destaca as particularidades dos ambientes e das personagens envolvidas nos enredos. Nos universos ficcionais inventariados observa-se que o espaço onde a acção decorre ou não é identificado, ou é efectivamente descrito, quer de forma difusa, quer de maneira mais precisa. Quando o enquadramento espacial não constitui um elemento destacado, ou quando é esboçado em traços muito genéricos, relaciona-se, de um modo geral, com temas que evidenciam uma trama histórica, pelo que o algures se reveste de múltiplas significações. Quando o referente narrativo se situa, por exemplo, na expansão ou na afirmação do cristianismo, como em Anais de um antigo castelo ou n’A aurora do Evangelho na Britania, apresentam-se espaços não identificados mas em si mesmos imbuídos de uma qualidade alegórica muito própria: «Era há mais de mil e setecentos anos, naquelas remotas idades em que se viam grosseiras cabanas de colmo, nos sítios em que ora se erguem sumptuosas cidades inglesas e em que densos e cerrados matagais ocupavam os terrenos onde hoje ondeiam formosas searas, abundantes de douradas espigas».

Em outras situações de espaço difuso mas explícito, enunciam-se estórias marcadamente influenciadas por metáforas bíblicas, nas quais o recurso aos cenários da Escritura, que não requerem detalhes particulares, é suficiente para evocar o carácter simbólico, universal e atemporal da mensagem transmitida. Por fim, como acontece com frequência nos micro-relatos dos folhetos, onde a conclusão moral implica uma lição com actualidade sociológica, o espaço é um dado implícito mas de reduzida expressão na estratégia comunicacional, como se verifica por exemplo na novela Entre Roma e Cristo. Quando esta categoria do discurso narrativo é facultada com pormenor (como no Padre António passado entre Barcelos e Vila Nova de Gaia), a descrição realista do espaço destina-se a valorizar a dimensão do vivido enquanto modo de credibilizar a própria narrativa, aproximando-a por consequência do leitor. Mesmo que a intemporalidade da mensagem esteja presente, o que se pretende com essa geografia precisa é tornar mais real a intrínseca veracidade do contexto narrativo.

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As histórias desenvolvem-se muitas vezes em ambientes urbanos periféricos e desfavorecidos – os slooms das grandes cidades – em casas degradadas, ou em lugares de precarização e subalternização, como prisões, quartéis, teatros, tabernas, e mesmo em cemitérios. Alguns episódios desenrolam-se durante viagens nas carruagens de comboios, ilustrando a novidade desse meio de transporte e sugerindo a potencialidade de tal espaço como oportunidade de missionação. Há ainda referências a profissões e ambientes de trabalho, descriminando-se, por exemplo, os estivadores, a construção civil, uma refinaria, casas comerciais ou estaleiros. No essencial, evidenciam-se maioritariamente ambientes descritos como «lúgubres e sórdidos», «sombrias ruas de um bairro afastado», «parte ocupada pela turba de obreiros», «um dos bairros mais pobres da cidade», «águas-furtadas», «hospedaria de ínfima classe» e «lúgubre barraca», expressões retiradas de André e o seu fato, A primeira oração de Jessica, O Páteo dos Anjos, O rapaz do realejo e A vida atrás dos bastidores. Mas também há referências a jardins públicos (Uma vida espinhosa), bem como a espaços rurais imaginados, como em Os Filhos Pródigos, O velho tamanqueiro e O menino da matta, ou até a estâncias balneares, como por exemplo a praia de A Boa Nova. De forma relativamente discreta mas recorrente, surge a referência ao local de culto protestante, mencionado como igreja, capela ou salão e naturalmente sem qualquer marca de identificação confessional. Curiosamente, as escolas diárias e as escolas dominicais, dispositivos educativos essenciais na implantação do ideário protestante, estão quase por completo omissas, mesmo na literatura nacional. Talvez possa entender-se esta omissão, no primeiro caso, pela intenção assumida de não associar directamente a oferta de ensino – que não sendo naturalmente laico se pretendia humanista, plural e sobretudo não confessional – ao esforço de evangelização; e no que se refere à Sunday school, talvez por esta ser vista mais como um dispositivo interno de inculturação religiosa do que um espaço vocacionado para o recrutamento de novos crentes. O tempo constitui uma categoria no geral pouco especificada, se bem que seja tendencialmente contemporâneo dos leitores. É sobretudo o tempo do escritor – mesmo quando o fundo da novela é histórico na sua configuração – que é um tempo comum que pretende garantir a perenidade da narrativa, enquanto mecanismo de garantia da universalidade da produção literária. Este recorrente acronismo, bem como a intencional encenação de uma espacialidade neutra e ubíqua, terão justificado, a par da essencialidade da mensagem, a regular reedição de muitos destes livros e folhetos, num modelo trans-geracional e trans-epocal, como também transcontinental e trans-cultural, já que as fronteiras entre países não foram barreiras para a difusão desta literatura20. Desta temporalidade intencionalmente difusa afastam-se, por razões compreensíveis a novela histórica e a biografia, mas também em alguma da criação portuguesa é evidente (20) Vejam-se as sucessivas edições que alguns títulos tiveram em Portugal, como se disse, ou também, à guisa de ilustração, a obra de que G. H. Rule foi tradutor, André Dun. Cfr. Vilar 2004: 126-7, 183-6.

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uma certa saturação cronológica, por necessidade narrativa, que aproxima a estória da história dos actores reais, como acontece no Padre António (a acção decorre em 1870) e em Duas Revoluções (a acção concentra-se no 5 de Outubro de 1910).

A CONSTRUÇÃO DAS PERSONAE Pelo seu carácter comprometido, não raro mesmo apologético, as personagens, mais que servir a acção ficcional, convertem-se muitas vezes em personae sociais, e o próprio Autor não raro extravasa o papel de narrador, mesmo participante e omnisciente, para corporizar a sua própria persona na trama dramática, exacerbando as funções emotiva e apelativa do discurso literário. As personagens das novelas e dos contos que utilizámos são na maioria dos casos trabalhadores, artesãos, vendedores ambulantes, pastores (ou padres), colportores, ocasionalmente pequenos burgueses, e muito raramente a média ou alta burguesia, patenteada ainda assim, por exemplo, nas personagens centrais de A Boa Nova e Os Filhos Pródigos. É em particular nos ambientes urbanos ou periféricos às cidades (recorrentes, por exemplo, na ficção inglesa) que se oferece a representação de uma cartografia demográfica onde pontificam as classes populares. Por vezes, ocorrem tipos sociais – «os esquálidos habitantes», como são designados n’O Pátio dos Anjos – associados a imagens de perigosidade (vadiagem, pobreza potenciadora da criminalidade) e degenerescência moral (tentações, «doenças da alma» e «manifestações mentais que duvidam de Deus»). Neste contexto, o «mau trabalhador» – entendido como aquele que descura a prestação de trabalho a que se obrigou por preguiça física ou conduta inadequada – é naturalmente uma contingência que urge combater e trazer ao bom caminho. Com frequência, os protagonistas são actores nas margens da sociedade, desprotegidos social e simbolicamente, como crianças, órfãos, viúvas, presos, actores de circo ou teatro, e os já referidos trabalhadores, estes constantemente relacionados com situações de precarização. São personagens atravessadas por uma intensa inquietação pessoal e angustiadas por dilemas morais, de onde decorre a procura de um sentido existencial que, em última instância, se declina como a permanente busca de Deus. São também, em numerosos casos, personalidades extremadas que lutam por um bálsamo espiritual que se traduz na conversão (a religião é uma questão individual), que passa pela auto-formação resultante da descoberta da Bíblia, e que pode ter expressão numa adesão activa à Igreja («nobre edifício»), manifestada fundamentalmente pela solidariedade evangélica (visita a asilos, prisões, bairros pobres, ajuda aos marginalizados), ou seja, o espírito de missão. As personagens, na sua discursividade, são assim como que uma metáfora constante da palavra e acção de Deus – cujo símbolo por excelência são as crianças no seu protagonismo narrativo – que deve encontrar expressão na conversão, que se experiencia diferentemente em cada uma das obras, apesar de constantemente se tratar da glosa do mesmo tema. A conversão é narrada como um processo relativamente rápido, nem sempre isento de

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dúvidas e hesitações, mas que se realiza ordinariamente pela regeneração moral e de costumes, de onde resulta uma primeira representação social do protestante traduzida em diversas dimensões: honestidade, verdade, temperança, amigo dos animais e da natureza e activo filantropicamente, como, por exemplo, acontece em Não se pode acabar com a alma e O Velho Tamanqueiro. O evangélico é configurado como um indivíduo libertado pelo conhecimento da Escritura e da Ciência; moralmente exemplar, tolerante, com capacidade de perdão, não estigmatizante e empenhado na harmonização e coesão sociais. Em Duas Revoluções (1912) o protestante é mesmo a alegoria do homem novo que corporiza a regeneração moral do cidadão, num quadro político e social de grandes expectativas como era então o republicano. O registo em que são apresentados quer os católicos, quer os indiferentes ao tema religioso é ordinariamente de clara não-anatemização. Aliás, o quanto esta literatura constitui um discurso não-confessional e tolerante evidencia-se quando no entrecho narrativo surgem personagens conotadas como católicas, que são apresentadas, salvo em casos caricaturais, como pessoas de boa fé e índole, enganadas e iludidas por uma religião eivada de superstições e de dogmas, como se pode inferir através de André Dunn e em A obra de um folheto. Não há, por isso, qualquer tentativa de diabolizar o católico, mas, pelo contrário, de o fazer aderir ao que defendiam como verdadeira religião, aquela onde «os cristãos trazem Cristo no coração», e que, além do mais, estava em consonância com o espírito moderno e se identificava com o Progresso. Como se diz em Julião e a Bíblia: «Acabamos de escutar as palavras de quem tendo militado sob as bandeiras do erro, abriu os olhos à luz, e hoje acode pressuroso a refugiar-se em Cristo. Fez uma confissão de todos os seus actos assim como da sua fé, pelo que nós devemos recebê-lo. O Senhor não desprezou nenhum dos que iam ter com Ele, o Senhor não desprezou o ex-padre romano, nós, portanto, não devemos despreza-lo, mas sim amá-lo.»

O padre católico é nuns casos apresentado como um personagem taciturno, pouco esclarecido e profundamente desconhecedor das Escrituras (batido até numa disputa teológica pelo vidraceiro Julião em Josepha e a Virgem); e noutros como alguém espiritualmente inquieto e receptivo à descoberta de novos valores. O paradigma maior desta agitação é o Padre António, retratado por André Cassels, que, esclarecido pela leitura da Bíblia, abandona uma vocação pouco consistente preferindo assumir-se como cristão evangélico genuíno a sacerdote escravo dos dogmas. Todavia, a ficção latina não deixou de reflectir, ainda que sem grande ênfase, a marginalização e as perseguições a que esses primeiros protestantes foram sujeitos por parte de uma maioria sociológica hegemónica. N’O Jovem Lutador, de um autor madeirense, reproduz-se uma quadra com que na Ilha se penalizavam os protestantes desde os tempos das perseguições ao Pastor Kalley e seus seguidores: «Meu pai tem um galo/cortou-lhe a crista/mais quero ser galo/que ser calvinista». (Chaves 1924: 4).

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Em Josepha e a Virgem, o pastor anglicano Emílio Martinez, regista, pela boca de uma personagem, as crenças dos habitantes dos bairros pobres de Madrid, onde se admitia que os protestantes matavam as crianças, preferindo os meninos «mais gordos e mais tenrinhos», «para tirar-lhes a gordura, e com ela faze[re]m bruxedos nas suas sinagogas». O tradutor da obra acrescenta em nota que em Portugal os protestantes também sofriam, à época, de calúnias análogas, acrescentando a convicção popular de que: «para ser protestante era necessário escarrar no crucifixo e dar-lhe um tiro; ser sangrado, e, com o próprio sangue escrever o seu nome no livro da sinagoga, e, só calcando aos pés uma estampa representando Cristo, é que [se] era admitido na nefanda seita dos maçónicos». (Martinez 1897: 33-4). Esta última citação evidencia bem o preconceito religioso popular contra os protestantes, que aliás representa preconceito cultural mais abrangente, associando diversas minorias – protestantes, judeus e maçons – no mesmo anátema. Apoiando a caracterização das personagens, a ilustração gráfica das obras, se bem que pouco abundante, atentos os processos tipográficos da época, não terá deixado de contribuir, seguramente, pela força evocativa da imagem, para a capacidade de atracção destes livrinhos, designadamente junto do público juvenil. Não estando por agora nos nossos propósitos qualquer apreciação artística ou iconográfica, não queremos contudo deixar de anotar este aspecto. As novelas inglesas traziam, ordinariamente, as gravuras originais, mas a produção nacional buscou junto de artistas locais o toque de arte com que enriquecer e tornar mais sugestiva a mensagem transmitida. A este respeito, a literatura protestante logrou captar a colaboração de importantes aguarelistas e ilustradores, destacando-se os nomes de Roque Gameiro (1864-1935) e de Alfredo Morais (1872-1971), que ilustraram obras como Duas revoluções (1912), Joaninha, a torturada (1917) ou O Jovem Lutador (1924), as primeiras da autoria de Eduardo Moreira, que também assina o prefácio da terceira, podendo por isso ter constituído o contacto, por razões de amizade ou outras, para a colaboração daqueles artistas, muito disputados pelas editoras do tempo (Figuras 7 e 8).

CONCLUSÃO Os aspectos que inventariámos traduzem-se na primazia do indivíduo e na narrativização do seu mundo experiencial, querendo-se, através deste acto de comunicação, provocar não só a transmissão de um ideal, mas também uma recepção que implicasse uma resposta. É, portanto, um processo constante de interacção entre diferentes modos de vida tendente a sedimentar uma identidade – mesmo tendo em atenção os limites entre a subjectividade e a possibilidade de socialização – que as tramas novelísticas, carregadas de intenso realismo e com um tom didáctico relativamente ingénuo, podem deixar antever. Por vezes, as ficções centram-se em espaços imaginários que condensam ambientes reais na sua normalidade, convenções, modelos, costumes e relações sociais. As personagens são gente comum capaz de criar um impacto dramático. Os relatos entram no âmago

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das experiências comuns, revelando atitudes morais dilemáticas e sugerindo, através de metáforas, os reais perigos da sociedade (industrialização, urbanização, exploração, pobreza, emigração) que deveriam ser combatidos por uma evangelização cristã em que a dignidade pessoal se correlaciona com um código ético onde a temperança, os direitos humanos e o imperativo de Deus são os pilares dos valores morais e políticos capazes de contrariar qualquer ameaça de perturbação que dilacere o equilíbrio natural. Secularizar o cristianismo puritano assemelha-se a uma missionarização operada na relação entre o mundo social realista e o universo romântico e apaixonante de uma consciência liberta e autónoma, que se inscreve num processo genealógico em que a partilha com os outros de uma utopia comum é crucial para se enaltecer uma ética de vida. Não obstante, há que reconhecer que a novelística evangélica analisada indicia um certo conformismo, pela consciente ausência de crítica à ordem socio-económica estabelecida, e até mesmo pela censura de sinais de conflitualidade social. Por outro lado, esta literatura não conseguiu iludir – pese embora a originalidade de alguma da produção portuguesa – um conjunto de representações estereotipadas, particularmente notória nas personagens femininas ou das classes populares. Ainda, pode-se concluir que a ênfase no registo de conversão pessoal, verdadeiro eixo motor da trama novelística e que constitui, sem dúvida, uma herança do individualismo protestante anglo-saxónico, não deixou espaço para qualquer perspectiva de implicação social colectiva de ruptura com a normatividade. Na tradição protestante, quer a de raízes históricas mais ortodoxas, quer nas correntes mais populares de fundo puritano ou pietista, é clara a distinção entre o governo dos homens e a missão eminentemente religiosa dos crentes, sobretudo daqueles com funções de liderança e formação. O envolvimento em questões políticas era muito pouco apreciado, quando não mesmo um quase tabu em certas comunidades, interdito não só fundado em questões de princípio moral e teológico, mas até aconselhado pela prudência, tendo em consideração as restrições e constrangimentos sociais, legais e políticos que os cristãos evangélicos tiveram de afrontar durante pelo menos o primeiro século da sua implantação em terras lusas. Não surpreenda por isso que esta literatura religiosa (e falamos agora sobretudo da produção ibérica) intencionalmente se afaste da polémica política e praticamente não deixe espaço nas suas páginas para qualquer reflexo da luta de classes. Aliás, a criação literária foi neste contexto um mero instrumento, conquanto que poderoso, a servir uma missão essencial. E a centralidade da mensagem salvífica que constituía o fim último do discurso narrativa subalternizou quer os temas sociais e políticos da actualidade (que provocariam desnecessário ruído no processo comunicacional, desviando a atenção do tópico nuclear e reduzindo a universalidade da aceitação da oferta narrativa), quer os próprios aspectos formais e estéticos. O propósito do escritor cristão, mais que o da arte pela arte ou o da agitação social contra qualquer ordem estabelecida, cingia-se à proposta humilde – e por isso muitas vezes anónima – de «um capítulo de evangelização posto em arte, ou o romance da crença, ou

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uma novela gentil onde quase não surge a tragédia da obcecação humana, e onde a semente da Bendita Verdade Cristã encontra terreno que a recebe e logo a deixa germinar», na expressão de Eduardo Moreira (1924: vi). São raras as excepções e pontuais os Autores que se deixam resvalar para o campo da discussão política (Silva 1998), fazendo-o ainda assim mais para o público selecto da crónica de imprensa ou da conferência que na novelística generalista. E quando tal sucedeu, as questões tinham ordinariamente um fundo religioso ou um imperativo cívico, verificando-se mesmo entre os Autores assumidamente republicanos uma notável contenção nos escritos produzidos já sob a aurora promissora do novo regime, do que é exemplo maior Duas Revoluções do mesmo Eduardo Moreira. Pelo que fica dito, vemos como a literatura protestante portuguesa deste período patenteia de forma clara um discurso ficcional de legitimação, que se traduziu numa narrativa de hetero-conversão com uma marca indelevelmente autobiográfica e de memória vivida do estabelecimento do protestantismo. Neste sentido, o filme escrito que chegou até nós constitui sem dúvida uma interessante fonte histórica e sociológica para a compreensão das comunidades minoritárias acatólicas, que representaram desafiante novidade e proposta alternativa no processo longo de implantação da modernidade em Portugal.

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Folhetos da Livraria Evangélica Com ou sem indicação de Autor. Listados por ordem cronológica das edições consultadas André e o seu fato (1890), 44 p. Entre Roma e Christo (1900), Lisboa: Livrarias Evangélicas, 86 p. A pequena Dot (1900), 48 p. A ultima formatura (2.ª ed. 1906), 8 p. O velho tamanqueiro (1908), 14 p. Uttley, P. E. (1912), A revivificação em Sicar. 3.ª ed., Lisboa: Liv. Evangélica, 1912, 10 p. O menino da matta e o seu cão piloto (1912). «Bibliotheca Protestante». Porto: Typ. Mendonça, 27 p. Não se lhe pede que compre! (3.ª ed. 1913), 10 p. Bett, Maria (1914), Verdadeira amizade. Lisboa: Liv. Evangélica, 8 p. Hagen, Dyson (1914), Uma impressionante quadra. Lisboa: Liv. Evangélica, 10 p. Whitlaw, Maurício (1914), Estás orando. Lisboa: Liv. Evangélica, 8 p. Larga-te Pedro!... (4.ª ed. 1914), 8 p. Da janella do paço (4.ª ed. 1914), 8 p.

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Crenças, religiões e poderes: dos indivíduos às sociabilidades

O desertor (3.ª ed. 1914), 8 p. Ninguém sabe o que poderá vir a suceder no futuro (3.ª ed. 1914), 8 p. Aviso aos imprevidentes (3.ª ed. 1914), 8 p. Uma porta aberta (3.ª ed. 1914), 8 p. A obra de um folheto (2.ª ed. 1914), 12 p. J. S. F. (1916), A idolatria e a embriaguez. 7.ª ed. Lisboa: Liv. Evangélica, 10 p. Kendrew, Maria E. (1916), Não se pode acabar com a alma. 3.ª ed. Lisboa: Liv. Evangélica, 8 p. O soldado que morreu para salvar outro (3.ª ed. 1916), 8 p. Se o Senhor viesse esta noite! (6.ª ed. 1916), 8 p. Perdidos!... Por causa de uma bagatella (7.ª ed. 1916), 8 p. Em procura da ovelha. Uma história que contem muitas lições (2.ª ed. 1916), 8 p. O valor de uma vida (6.ª ed. 1916), 8 p. O sapateiro philosopho (1916), 20 p. Pede-se um piloto (4.ª ed. 1919), 8 p.

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