SILVA, F. P. M. . A complexa vida do homo economicus.

July 17, 2017 | Autor: F. Prado (Economi... | Categoria: Economia
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A complexa vida do homo economicus Por Filipe Prado Macedo da Silva Há muitos anos não somos mais aquela simplória, rude e despretensiosa criatura chamada homo sapiens. A ciência nos classificava como a “[…] espécie de cérebro altamente desenvolvido e com inúmeras capacidades de raciocínio […]”. Isso permitia ao homo sapiens manipular o ambiente a sua volta, despertando assim um genuíno interesse pelos fenômenos naturais, como por exemplo, filosofia, artes, ciências, astrologia, mitologia e religião. A vida do homo sapiens se resumia a poucos objetivos diários – todos relacionados à sua sobrevivência. À medida que a espécie progredia e, sobretudo, crescia em número, alguns membros (da espécie) iam aperfeiçoando a ambição, o poder e a cobiça. Diante disso, a raça humana passou a acumular nas páginas da sua história milhares de revoluções e guerras – tudo isso fruto da crueldade racional do poder. Nesse contexto, o poder e a dominação foram dando lugar ao despotismo. Isso resultou no claro surgimento da propriedade privada e na sua legitimação – chamada “governo”. Para completar o homo sapiens foi obrigado a conviver com a mais perversa de todas as criações humanas: a escravidão. A raça humana virou mercadoria. Ninguém escapou, nem mesmo os mentores da escravidão. Enquanto uns eram escravos do trabalho, outros eram escravos da ilusória riqueza material. Daí em diante, o mundo se transformou numa grandiosa conspiração. A ideia de dominação transformou o homo sapiens em homo politicus. Esse período perdurou até o século XIX, e foi marcado por inúmeras conquistas territoriais. Com o advento da industrialização, o foco de interesse mudou, e as conquistas territoriais perderam seu valor. Agora, o interesse era conquistar mercados consumidores – ou seja, desejos e sonhos. Nesse momento, surge o homo economicus. Com o acirramento do capitalismo, o dinheiro passou a ser o bem mais valioso da sociedade e o objeto de cobiça dos grandes produtores (ou “dominadores” do sistema de produção). Vale qualquer coisa, para lucrar mais. É dessa necessidade (de usurpar tudo que temos, ou melhor, lucrar) que surge o marketing. Que na prática, nada mais é, do que uma “seita”, que ganhou força após a Grande Depressão (1929), com a ideia do “evangelho do consumo” (referência aos livros da Bíblia que falam sobre Jesus). É esse marketing que nos transformou no homo economicus. O homem econômico não é uma ficção. Olhe para você! Sua vida é extremamente complexa. Você depende de um monte de “quinquilharia”, que há 50 anos nenhum humano saudável precisava. Hoje, você deve ter uns 950 desejos, dos quais 250 são necessidades reais (é difícil avaliar o que de fato é essencial, principalmente ao saber que em 1956 um homem necessitava de apenas 16 itens para ter uma vida digna e satisfatória). Há um século a arte de vender importunava o homem com uns 200 artigos. Hoje, sei lá! Talvez o marketing (a arte conspiradora de vender) nos importune com uns 80.000 itens ou mais. Acha que é ilusão? Entre em um grande shopping center. Veja se você consegue contar quantos produtos são vendidos lá! Aposto que você vai desistir! Além disso, procure contar quantos itens você utiliza todos os dias para ir ao trabalho. Você vai se surpreender! De fato, em pleno século XXI, somos o que temos, e não o que fazemos, ou o que sabemos. Somos escravos (cegos e obstinados) do consumo. O pior é que achamos isso muito legal. Como pode? Olhe para as pessoas em volta! Foram possuídas pelo feliz espírito de “ganhar-gastar-ganhar”. Não importa o que tem – se é útil ou inútil – o que importa é a consumação do ato: comprar. Essa irracionalidade transformou o homem num objeto. Arrisco escrever, que a ciência nos classifica (hoje) como a “espécie que tem, ou melhor, que deve possuir muitos bens”. Essa lógica conduziu o

homo economicus ao “super consumo”. A vida ficou complexa, e assim também as relações de produção. A ideia (agora) é ser altamente produtivo, para (na teoria) ganhar mais, e assim elevar o padrão de consumo. Esse círculo vicioso domina nossa vida. Dificilmente, nos libertaremos desses grilhões. O mundo foi arquitetado (nos mínimos detalhes) para reproduzir essa escravidão por (pelo menos) 1.000 anos. O problema, segundo John Maynard Keynes, é tentar combinar três questões: a) eficiência econômica, b) justiça social e c) liberdade individual. Você pode fazer a sua escolha. Qual questão prefere dar prioridade? Se lembre apenas que não é múltipla escolha, e que o mundo já escolheu uma opção: eficiência econômica. O resto é utopia! Lembrete: Não se esqueça que você é apenas uma peça da engrenagem chamada capitalismo. Se você quebrar, desistir ou fugir, será substituído. O que significa, na prática, que você viverá a margem do sistema econômico.

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