SILVA, F. P. M. . Uma nova geração em crise.

July 17, 2017 | Autor: F. Prado (Economi... | Categoria: Economia
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Uma nova geração em crise Por Filipe Prado Macedo da Silva Tem muita gente por ai, sobretudo na mídia, que vive reclamando da educação brasileira, como se esta fosse a pior do mundo. Reclamam que não existe estrutura física adequada, que as condições de manutenção são precárias, que os professores são desqualificados, que a merenda é de péssima qualidade, que não existe segurança, entre outros. Às vezes, fica parecendo que a educação brasileira é completamente caótica, e de que vivemos em uma “África-Americana”. Mas, será que é isso que nós, a população, pensamos? Parece um paradoxo, mas nem sempre, o que a “mídia vive propagandeando”, é o que a população realmente pensa […], e isso ficou muito claro em uma pesquisa da CNI-IBOPE, sobre os retratos da educação na sociedade brasileira. A realidade diverge estranhamente das notícias, e as opiniões nem sempre são “editadas” por completo. É claro que não estamos aqui para “omitir” a difícil realidade educacional de um país continental. Em alguns lugares, sobretudo no Norte e Nordeste, a realidade da educação continua muito precária. A escola quase não existe […] faltam professores […] a merenda é “superfaturada” […] e muitas vezes, os estudantes precisam percorrer 30 km para estudar. Mas, na última década, essa “dura realidade tem se tornado a exceção, e não a regra”. Em tais lugares, a “precariedade” está ligada a problemas políticos locais, e não fundamentalmente a falta de recursos financeiros. Arrisco dizer que a educação brasileira melhorou muito, em vários sentidos, e precisamos dar valor a tal evolução (parando de criticar tudo e todos). É preciso observar essa nova etapa em que a educação se encontra […], dando mais prestígio aos profissionais que estão na “vanguarda” das transformações. Em muitas regiões, a educação já está praticamente universalizada, com quase 90% dos jovens e adolescentes nas escolas. É claro que existem inúmeros problemas a serem resolvidos – como a qualidade do ensino e a “praticidade” dos conteúdos programáticos – mas, temos também que reconhecer que a educação (principalmente, a pública) está muito melhor! O problema é que a mídia (muitas vezes elitista) e uma pequena parte da população ficam comparando erroneamente a educação pública com a educação privada. É claro que nessa “ótica” a educação pública sempre será muito pior que a educação privada. Não podemos comparar as escolas públicas, com os “shoppings” da educação privada. Neste contexto, a discussão fica vazia, pois os “critérios” de avaliação (no geral) são baseados em “valores” culturais e econômicos diferentes, que muitas vezes refletem apenas um lado da moeda social. Afinal, quem disse que toda escola tem que ter ar-condicionado? Quem disse que o livro didático não pode ser compartilhado? Quem disse que os professores precisam ser mais qualificados do que didáticos? Quem disse que a escola precisa ter granito e cadeiras acolchoadas? Essas são perguntas que mostram que qualquer comparação do ensino privado com o público é ridícula […] até porque as mensalidades do ensino privado são “astronômicas” – atendendo a uma pequena parcela da população brasileira (da classe média alta para cima). Assim, é preciso ficar atento ao que realmente é importante para que a educação se viabilize, e em alguns Estados, essas condições mínimas já são praticamente universais (como em São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, entre outros). Outro detalhe importante, é que a crise de audiência e desempenho no ensino básico e médio, segundo a população das regiões já estruturadas educacionalmente, não se deve a má qualidade do ensino, ou falta de infraestrutura, ou falta de foco do conteúdo programático, mas deve-se essencialmente a “irresponsabilidade” dos alunos e

dos seus pais. Ou seja, não basta apenas ter professor, escola, infraestrutura, livros didáticos, etc. – é necessário também que os alunos (e seus pais) tenham a consciência participativa, de que a educação é uma construção multisocial, e que eles são os principais “atores” sociais na condução e no sucesso da educação. Na pesquisa da CNIIBOPE, 82% responderam que a participação dos pais é importante, e 37% culparam os alunos pelo seu mau desempenho na escola. Ou seja, a população já tem a consciência de que não basta apenas ter a escola e o financiamento público, mas é preciso que os alunos estejam interessados em tal aprendizado (e investimento). Infelizmente, não só o ensino básico, mas o médio e o superior, vivem a mercê de uma nova geração em crise […] não mais uma crise financeira aguda, como nas décadas de 1980 e 1990, […] mas em uma crise social, familiar, de identidade, de responsabilidade e valores, etc. […] Os valores atribuídos ao conhecimento perderam importância, estudar não é visto como prazer, mas como labor, e ser “estudioso” não é virtude, mas é uma “doença”. Portanto, precisamos migrar nossas críticas da esfera pública para a esfera individual, e perceber que a crise atual na educação não é mais resultado da omissão do poder público, mas fruto da omissão de uma nova geração desinteressada pelo conhecimento, pelo saber e pela teoria. Nisso tudo, o mais difícil é descobrir qual modernidade transformou para pior a mente da juventude. Fonte dos Dados: CNI-IBOPE.

 

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