SILVA, G.V. Qual o futuro para os catraieiros de Oiapoque. Jornal do Dia. 30-31 de outubro de 2015. Seção A2 (Opinião).

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SILVA, G.V. Qual o futuro para os catraieiros de Oiapoque? Jornal do Dia. 30-31 de outubro de 2015. Seção A2 (opinião). Com as recentes informações veiculadas nos noticiários brasileiros e franceses sobre a provável inauguração da ponte binacional sobre o rio Oiapoque para 2016, 20 anos após a assinatura de acordo “guarda-chuva” para ações de cooperação transfronteiriça entre França e Brasil, torna-se próxima uma mudança substancial de ritmos e comportamentos dos mais de 300 catraieiros de Oiapoque. Historicamente, a circulação fluvial por meio de pequenas embarcações com motor de polpa (catraias, Foto abaixo) fez parte do cotidiano de quem mora às margens do rio Oiapoque, sendo para muitos a principal fonte de renda há pelo menos 25 anos. A partir de 2003, quando a ligação rodoviária entre Caiena e Saint-Georges-del’Oyapock se concretizou, o fluxo de turistas europeus em direção ao Oiapoque aumentou em razão de pelo menos dois motivos complementares: as oportunidades para compras e diversão, diurna e noturna, que a cidade propiciara; e o peso da moeda francesa, o Euro, em relação a moeda brasileira, o Real. Com esse impulso, o trabalho de profissionais das catraias, os catraieiros,

também ganhou relevância. Àquela época e ainda hoje, mesmo que de maneira mais tênue, as dificuldades de percurso entre Oiapoque e Macapá foram outras motivadoras da permanência dos turistas europeus em Oiapoque, situação que irá mudar com a circulação de pessoas pela ponte binacional, combinada com a pavimentação dos 100km restantes da BR 156 no sentido norte. Essa mudança estrutural fornecerá a possibilidade do turista europeu sair de Caiena e chegar em Macapá em pelo menos 9horas de viagem e de lá viajar de avião para outras cidades brasileiras. Com a circulação por meio da ponte binacional aventada para outubro próximo (daqui a 01 ano precisamente), os catraieiros se veem em uma situação sensível e complexa, pois preveem a redução substancial de passageiros europeus por meio de suas catraias e, o que é pior, não visualizam um horizonte favorável para suas adaptações a outras atividades – sendo o turismo e suas variações (ecoturismo, turismo de pesca, turismo de trilha, etc.) uma alternativa muito bem avaliada por estes profissionais, já que assim continuariam utilizando suas catraias e o rio Oiapoque, que conhecem

muito bem, como meio para geração de renda. O problema é que a inércia do poder público na melhoria da qualidade urbana de Oiapoque (saneamento básico, pavimentação das ruas, melhoria e até valorização do patrimônio históricocultural da cidade, diversificação das atividades recreativas, construção de espaços públicos para sociabilidades, entre outros) associada à dificuldade de acesso dos catraieiros a cursos técnicos no ramo do turismo, até mesmo porque a maioria desses trabalhadores só possui o fundamental incompleto, constatado em pesquisa que fizemos com financiamento do Observatoire HommesMilieux/Oyapock (OHM/Oyapock), agem na contramão de alternativas neste tipo de atividade. O trabalho no setor comercial, principal ramo de atividade em Oiapoque,

é o que se apresenta aos catraieiros como um dos caminhos concretos em termos de futuro profissional, embora também sem muitas garantias, já que é um setor saturado e a abertura da ponte binacional em área distante do núcleo urbano da cidade também trará consequências negativas ao comércio local historicamente estabelecido, ainda mais quando a BR 156 estiver totalmente pavimentada entre Macapá e Oiapoque. Neste caso, se mudanças profundas no tecido arquitetônico e urbanístico desta cidade não ocorrerem, valorizando-a, não serão somente os catraieiros a se preocuparem com o futuro em termos de geração de renda. Gutemberg de Vilhena Silva. (UNIFAP/OBFRON, pós-doutorando Univérsité Sorbonne Nouvelle). Texto com financiamento do Observatoire HommesMilieux/Oyapock (OHM/Oyapock).

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