SIM 99 Do Ideal e do Real (I) Vicente Cecim

July 15, 2017 | Autor: Vicente Franz Cecim | Categoria: Filosofia Del Lenguaje, Filosofía, Filosofia
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BELÉM, DOMINGO, 31 DEMAIO DE 2015

OLIBERAL

MAGAZINE  11

sim

Do Ideal e do Real

O mundo é minha representação. – Esta proposição é uma verdade para todo ser vivo e pensante embora só no homem chegue a se transformar em conhecimento abstrato e refletido. SCHOPENHAUER

E

eis que de repente ingressamos no mundo virtual, sem sequer sabermos ainda o que é o mundo real. Antes, perdidos e confusos na realidade vivida – com nossas ancestrais diferenças coletivas e individuais, nossas desconcertantes coleções de divergências mutuas acumuladas por séculos e séculos – agora acessamos a realidade simulada igualmente pesados de transtornos, trazendo na bagagem todos os antigos extraviamentos da espécie. O que mudou? Que tal refletirmos um pouco sobre a nossa situação anterior, quando nossa única alternativa era abrir uma janela real e olhar para um mundo real lá fora – sem a opção de, como agora, abrir uma janela virtual e olhar para um mundo virtual dentro de uma tela de computador? Mas nunca foi bem assim. A verdade é que nosso mundo anterior não era, de fato, tão

linear. Nós ingressamos neste mundo virtual após já havermos dividido nosso anterior mundo vivido em real & ideal. Você sabe, idealizar a vida: Abrir a mesma janela prosaica de todos os dias, mas, às vezes, não para olhar o real lá fora e sim para projetar no mundo uma concepção ideal qualquer - como a ideal imagem feliz de uma Terra onde os homens convivam em harmonia com a Natureza. Talvez consigamos entender melhor o que significa saltar atualmente do mundo real para o mundo virtual, se soubéssemos mais sobre como já saltávamos do mundo real para o mundo ideal antigamente. Assunto da Filosofia através das eras, do Ocidente ao Oriente. No qual, aqui, nos introduzirá e pelas próximas Sins conduzirá Arthur Schopenhauer, o translúcido autor de O Mundo como Vontade e Representação/Die Welt als Wille und Vorstellung.

VICENTE CECIM

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Schopenhauer: Esboço de uma história da doutrina do ideal e do real (Descartes/Plotino/Kant) Descartes é corretamente considerado o pai da filosofia moderna, principalmente porque auxiliou a faculdade da razão a ficar sobre seus próprios pés ensinando aos homens como usar seus cérebros onde até então se recorria à Bíblia ou Aristóteles. Mas é o pai em um sentido especial e estreito, pois foi o primeiro a trazer à nossa consciência o problema sobre o qual a maior parte do filosofar se voltou desde então, a saber, aquele do ideal e do real. Essa é a questão relativa àquilo que em nosso conhecimento é objetivo e o que é subjetivo, e, portanto, àquilo que será atribuído por nós a coisas diferentes de nós e ao que será atribuído a nós próprios. Assim, em nossas cabeças, imagens não surgem arbitrariamente, como se viessem de dentro, tampouco surgem da associação de ideias - consequentemente, surgem de uma causa exterior. Mas tais imagens são tudo que conhecemos imediataElementos mente, que nos é dado. Então que relação podem ter com coisas que existem imagens que nos são dadas de modo totalmente distinto nos fornecem quaisquer infore independente de nós, e que, mações a respeito de sua natude alguma forma, tornam-se reza? Em consequência desse a causa dessas imagens? Es- problema, o principal esforço tamos nós certos de que tais dos filósofos pelos últimos coisas existem e, neste caso, as séculos tem sido delinear de

modo claro o ideal - em outras palavras, o que pertence ao nosso conhecimento e somente - e o real - isto é, aquilo que existe independentemente de nosso conhecimento - e, deste modo, determinar a relação

existente entre ambas as partes. Nem os filósofos da Antiguidade nem os escolásticos parecem ter tomado consciência desse problema filosófico fundamental, apesar de encontrarmos traços deste na forma de idealismo e até na doutrina da idealidade do tempo, em Plotino, e mesmo nas Enéadas, onde nos diz que o espírito fez o mundo emergindo da eternidade para o tempo. Diz, por exemplo: Pois para este universo não há outro lugar senão a mente. E também: Mas não devemos aceitar o tempo fora da mente, e também não devemos aceitar a eternidade do Além fora do Ser - isto é: o mundo de Ideia - aqui de fato está expressa a idealidade do tempo de Kant. E mais adiante: Esta vida produz o tempo, o que também significa que o tempo surgiu simultaneamente com este universo - pois a mente o produziu simultaneamente com este universo. Ainda assim, o problema, reconhecido e exposto claramente, continua a ser um tema característico da filosofia moderna, após a reflexão necessária ter despertado inicialmente em Descartes.

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