SIM IV VICENTE CECIM Diálogo com a Natureza série Diálogos:Com

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SIM IV VICENTE CECIM série Diálogos:Com

Diálogo com a Natureza

E a fome real é só a sombra da grande fome em nós De ANDARA Primeiro, é preciso esclarecer que a Fábula que será contada aqui é um fragmento de um livro de Andara. E sugerir que ela seja lida como uma reflexão sobre Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, em que os homens mais uma vez se reuniram para decidir, ou simular decidir, o destino da Terra – mas se o mundo dos homens vai esperar por suas decisões, a Natureza, não. Esperaremos até que a Terra, devastada, como no poema de Eliot, fique novamente Silenciosa como o Paraíso após o Rumor das sombras humanas, para nos contar outra vez fábulas libertadoras? Eu, não. Uso o meu Direito de Sonhar de olhos

abertos uma denúncia verbal – diz-se disso: Literatura – dos nossos crimes contra a Vida. Na fábula a seguir dois momentos são essenciais para reflexões: um deles é quando Azael das mãos negras cega Iziel das mãos brancas, o outro é a Visão da árvore morta/viva, morta- viva pela qual eles passam.

De Silencioso como o Paraíso/Vicente Franz Cecim

Este é o começo de uma fábula que avançará por entre grandes fendas e períodos de silêncio como só se ouve na ausência humana, a floresta às vezes contorcida, contorcida o silêncio às vezes rompido não por essas vozes tão baixas essas vozes, murmuradas: e sim por gritos que vêm de longe na noite, ou é bem perto É mesmo em nós As mãos de Iziel muito branca se movem As mãos escuras de Azel estão quietas Foi na véspera. Olhavam a floresta em volta deles e não viam nada: as coisas, todas elas na noite intimamente. Haviam olhado o céu, e Iziel então disse: - Grave bem aquelas estrelas, Azael, apontava, porque amanhã nós vamos segui-las, mesmo sob a luz do sol A constelação. Ela estava ali, por cima deles. E onde mais: dentro deles? E podia? Todo aquele fogo dentro daqueles homenzinhos? Talvez em Iziel houvesse Que já dizia, esse Iziel, e Azael olhava o céu, Vê como as estrelas formam um caminho que parece ir lá em cima como umas pedras na água, nessa água à noite para os nossos olhos, mas, seguindo-as, vê como voltam ao mesmo lugar, este, de onde não partimos, de onde não partiremos nunca? Mesmo que amanhã acordando bem cedo e saindo daqui Azael apenas grunhiu, mais animal que Iziel ouviu isso De manhãzinha, indo Mas já a voz de Azel então vindo, diz: - Foi porque ele me olhou com aqueles olhos que fiz aquilo, tirar os olhos dele - Foi porque me olhou com toda aquela inocência que fiz aquilo, mal partimos, na manhã, tirar os olhos que ele tinha Então terá sido isso o que aconteceu? Iziel cego por

Azael mal haviam saído da manhã, mal havíamos começado a contar a história de Iziel e sua busca do sabor que se diz a luz do sol põe em tudo nesta terra E se não houvesse sido assim? Se, vindo a luz, nEla fossem? A tentada alegria Então digamos que aí vão Iziel e Azael, um na frente e o outro atrás, como palavras uma após as outras, como quando se conta uma história, as palavras ainda tentando nos dizer alguma coisa, indo Seguirão também, elas, uma constelação invisível debaixo do sol, como seguissem Iziel e Azael E andaram, e andaram, e andaram E viram uma árvore inteiramente seca, seus galhos, coisa morta. Da madeira na perna de Iziel veio um gemidozinho. A memória. Seguiram E tendo andado mais, vejam como é Andara, foi inteiramente diferente o que viram: uma outra árvore, esta, viva, e tão belo aquilo De cegar um homem, mas Iziel ainda tinha os seus olhos até aí aparecendo assim, aquilo era então enfim a estonteante? A que nos nutre em um sonho, o sabor, a vida, toda ela ali se revelando para eles? O que Iziel buscava? A árvore Àrvores? Uma outra loucura, diferente da humana Suas cores - O encanto, o encanto, estaria murmurando a madeira em Iziel E de repente, viram: uns frutos que se mexiam nessa árvore, umas folhas aladas. E eram aves, muitas, os frutos, essas folhas pousadas naquela árvore. E logo elas voaram para longe, as aves, fugindo desses homens que chegavam, que vinham, Iziel e Azael. E agora isto que está acontecendo, o que é? Pois tendo voado as aves para longe, deixando a árvore, o que aparecia diante deles naquele lugar era novamente a árvore morta, a que haviam visto antes e ficara para trás E depois, às vezes voltando passado o espanto de verem Iziel e Azael, de novo pousando na árvore, e a árvore já era outra vez para os olhos dele a árvore Árvore. Toda aquela árvore breve alucinante retornando. Bela como uma outra loucura diferente da humana. Iziel e Azael então entendiam: aquela era sim ainda a primeira árvore, a que haviam visto antes, a morta. Havia uma só árvore, a mesma. Uma só

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