SIM V VICENTE CECIM Schopenhauer e os animais série Dialogos:Com

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SIM VICENTE CECIM série diálogos:com

Schopenhauer e os animais

Schopenhauer, por Ludwig Sigismund Ruhl,1815

Os animais têm certa expressão de inocência que nos alegra quando os vemos ARTHUR SCHOPENHAUER

Ele foi posto sob suspeita como o mais pessimista dos homens. Mas é - exatamente ele – o homem em quem eu mais confio. Tudo começa com a frase com abre seu luminoso livro O Mundo como Vontade e Representação/Die Welt als Wille und Varstellung: - O mundo é minha representação. Assim ele nos apresentou a ela, Vida, como a manifestação de uma Vontade em si desconhecida de nós. Da qual somos apenas manifestação. E o que dela sabemos não passa da representação que dEla fazemos. E isso inclui os homens, com sua consciência reflexiva. Animais, com sua consciência instintiva. E, como sua imediata manifestação em estado puro - vegetais e minerais. Da perspectiva oriental – a Vida é Maya: o Véu de Ilusões através do qual ela se manifesta. E Schopenhauer - que não mentia - não ocultou que concordava com os Vedas indianos. Um escândalo filosófico em uma época na qual Hegel – em quem Schopenhauer não confiava e, mais, desprezava como um mistificador - afirmava, vaidosamente, não haver saber filosófico no Oriente, apenas Religião. Sempre sem simular autossuficiência, Schopenhauer – que como homem era um cristal translúcido - também revelou que sua obra continha outras duas contribuições, estas ocidentais: Platão e Kant. Do primeiro, as Ideias. Do segundo, a Filosofia Transcendental. Para Platão, este mundo que vemos e vivemos nasce das ideias de mundo préexistentes ao mundo: a ideia de cavalo dá origem ao cavalo, à forma cavalo que pasta diante de mim, e assim também é com o homem, a montanha, a água, o fogo, o ar. E as estrelas. Ao se desfazerem essas formas – o que os homens chamam morte de alguma coisa – isso não desfaz as ideias, que continuam existindo e gerando mais cavalos, homens, montanhas. A diferença entre suas ideias e o Véu de Maya seria que na passagem da ideia de cavalo à forma cavalo, o cavalo se enche de presença no mundo, ganha realidade – enquanto para os Vedas essas formas, mesmo visíveis e tangíveis, continuam vazias de realidade. Porque as coisas que em si mesmas não têm sua origem não têm realidade em si – confirmaria Nagarjuna, no Budismo. Através de Kant e sua Filosofia Transcendental, Schopenhauer atualizou contemporaneamente esses saberes mais antigos. Kant deu um golpe semimortal nos meios pelos quais a Filosofia vinha sendo empregada para decifrar e, enfim, dominar o mundo ao seu redor. Pôs a nu as limitações dos conhecimentos humanos. Disse que os filósofos “transformavam seus critérios de pensamentos em propriedades das coisas em si mesmas” e desferiu o golpe: “Não chamo de Transcendente o conhecimento que cuida dos objetos, mas o que cuida do nosso modo de conhecer os objetos.” Reconhecendo as contribuições dos Vedas, Platão, Kant – mas com a plena autonomia de suas próprias observações e compreensão da Vida, Schopenhauer concebeu a mais original Visão Cósmica da Vida. Viremos pelo avesso a suspeita de pessimista que se tornou estigma universal contra ele e veremos a verdade: ela é uma invenção do Medo dos homens de se verem desabrigados em um mundo no qual não

sabem como chegaram, não sabem para onde estão indo e nem sabem o que fazem aqui. Devêssemos acrescentar, generosamente: ainda? O amor de Schopenhauer pela inocência animal é o contraponto de sua aversão pelo que há de maléfico no homem.

Senilia Arthur Schopenhauer No mundo existe apenas um ser mentiroso: o homem. Todos os outros são verdadeiros e sinceros, na medida em que se mostra abertamente como o que são e se manifestam tal como sentem. Uma expressão emblemática ou alegórica dessa diferença fundamental está no fato de que todos os animais andam pelo mundo em seu aspecto natural, o que muito contribui para suscitar aquela impressão tão agradável que se tem ao vê-los e que sempre faz meu coração desabrochar, principalmente quando se trata de animais livres – enquanto o homem, com suas vestimentas, se transformou em um personagem grotesco, em um monstro que, só de ser visto, causa aversão, efeito que é favorecido por sua cor branca, que não lhe é natural, e por todas as consequências repugnantes de uma alimentação à base de carne e contrária à natureza, das bebidas alcoólicas, do tabaco, das libertinagens e das doenças. O homem está ali como uma mácula na natureza! – Os gregos, que se davam conta disso, restringiam ao máximo suas vestimentas.

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