SIM VICENTE CECIM A pessoa Pessoa

May 31, 2017 | Autor: Vicente Franz Cecim | Categoria: Fernando Pessoa
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SIM VICENTE CECIM

À pessoa Pessoa

Eu não sei o que é que os outros pensarão lendo isto Mas acho que isto deve estar bem Porque o penso sem pensamentos Porque o digo como as minhas palavras o dizem. FERNANDO PESSOA

Porque a Palavra dele ecoa longamente e a minha é breve, e eu vou sair de férias por ainda que breve tempo e, assim, não teremos a Sim por esse breve tempo, devoto esta a Fernando Pessoas e seus poemas.

Que eles elevem quem os ler bem acima destes tempos, como identificá-los? – rastejantes? - de corrupções políticas nacionais e violências individuais e internacionais. E por que passar a palavra à pessoa, ou às pessoas Pessoa e não a outra? Por tantos motivos, que sua Literatura é mais do que suficiente para demonstrar por si só, e mais alguns outros. Por exemplo, pela Força que Pessoa transmitiu e continua transmitindo com uma de suas frases mais célebres: - “Tudo vale a pena se a vida não é pequena.” E, assim, se eu fico longe e mudo por algum tempo, sem sequer transmitir a alguma sincera ainda que relativa energia que me motiva a escrever esta página, já há cerca de três anos, deixo com você que lê a Sim o clamor e a potência contida na disposição de ânimo que Pessoa recomenda: - Viva grande, se amplie – porque a verdade é que nem o Céu é o limite de si mesmo. E, afinal, não sei se você já parou para se dar conta, esta nossa Terra existe no Céu – e você, sobre ela, onde mais poderia estar senão também nele e em suas ilimitadas possibilidades? Estou sendo otimista, demais? Não segundo o que o próprio Pessoa uma vez me disse – pessoalmente, em Lisboa, no Mosteiro dos Jerônimos, onde fui conversar com ele. Oh, mas como isso foi possível, você estará se perguntando. Pois foi possível, sim: tendo ido a Portugal lançar o livro visível de Andara que se chama K O escuro da semente, em 2005 – aliás, o livro, enfim, sai agora em setembro também aqui no Brasil – pedi ao editor português que me levasse até o túmulo de Pessoa. Eu tinha uma única pergunta a fazer a ele. E fiz, sem palavras, com o puro sentimento silencioso de quem necessita urgentemente de uma resposta: - Tem sentido? Certamente eu me referia a isso que chamamos – Vida. E em vertiginosa velocidade veio a resposta imediata, em coro também silencioso, das várias pessoas em que ele, Pessoa, se multiplicou: - Sim! Juntei as duas coisas e fiz um sumo que tem me nutrido para o Alto, quando as coisas se inclinam ao meu redor. E, olhando as Estrelas, me recuso a andar de rastros. E que ficou assim: - Tudo vale à pena se a vida não é pequena. Sim! Mas a minha palavra curta já vai ficando mais longa do que vale a pena. Fiquem com a longa Palavra de Pessoa, que, essencialmente, é a que vale a pena.

Pessoa: Poemas Álvaro de Campos

Ah, Onde Estou Ah, onde estou onde passo, ou onde não estou nem passo, A banalidade devorante das caras de toda a gente! Ah, a angústia insuportável de gente! O cansaço inconvertível de ver e ouvir! (Murmúrio outrora de regatos próprios, de arvoredo meu.)

Queria vomitar o que vi, só da náusea de o ter visto, Estômago da alma alvorotado de eu ser... Fernando Pessoa

AH! Querem uma Luz Melhor Ah! Querer uma luz melhor que a do Sol! Querem prados mais verdes do que estes! Querem flores mais belas do que estas que vejo! A mim este Sol, estes prados, estas flores contentam-me. Mas, se acaso me descontentam, O que quero é um sol mais sol que o Sol, O que quero é prados mais prados que estes prados, O que quero é flores mais estas flores que estas flores Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira! Fernando Pessoa

Aconteceu-me do Alto do Infinito Aconteceu-me do alto do infinito Esta vida. Através de nevoeiros, Do meu próprio ermo ser fumos primeiros, Vim ganhando, e través estranhos ritos De sombra e luz ocasional, e gritos Vagos ao longe, e assomos passageiros De saudade incógnita, luzeiros De divino, este ser fosco e proscrito... Caiu chuva em passados que fui eu. Houve planícies de céu baixo e neve Nalguma cousa de alma do que é meu. Narrei-me à sombra e não me achei sentido. Hoje sei-me o deserto onde Deus teve Outrora a sua capital de olvido... Fernando Pessoa

A Criança que Pensa em Fadas

A criança que pensa em fadas e acredita nas fadas Age como um deus doente, mas como um deus. Porque embora afirme que existe o que não existe Sabe como é que as cousas existem, que é existindo, Sabe que existir existe e não se explica, Sabe que não há razão nenhuma para nada existir, Sabe que ser é estar em algum ponto Só não sabe que o pensamento não é um ponto qualquer.

Fernando Pessoa

A Aranha A aranha do meu destino Faz teias de eu não pensar. Não soube o que era em menino, Sou adulto sem o achar. É que a teia, de espalhada Apanhou-me o querer ir... Sou uma vida baloiçada Na consciência de existir. A aranha da minha sorte Faz teia de muro a muro... Sou presa do meu suporte.

Alberto Caeiro

XLIV - Acordo de Noite Acordo de noite subitamente, E o meu relógio ocupa a noite toda. Não sinto a Natureza lá fora. O meu quarto é uma cousa escura com paredes vagamente brancas. Lá fora há um sossego como se nada existisse. Só o relógio prossegue o seu ruído. E esta pequena cousa de engrenagens que está em cima da minha mesa Abafa toda a existência da terra e do céu... Quase que me perco a pensar o que isto significa, Mas estaco, e sinto-me sorrir na noite com os cantos da boca, Porque a única cousa que o meu relógio simboliza ou significa Enchendo com a sua pequenez a noite enorme É a curiosa sensação de encher a noite enorme Com a sua pequenez...

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