SIM VICENTE CECIM Tao Dialogo com homens livros

June 1, 2017 | Autor: Vicente Franz Cecim | Categoria: Taoism (Philosophy), Taoism
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SIM VICENTE CECIM

Tao: Diálogo com homens-livros O homem sábio conhece o mundo sem sair de casa TAO TE KING/Lao Tzu Esta Sim aponta em várias direções e, sem sair desta página, se lança através delas para o mundo. E convida você a vir nessa viagem. Aceita o convite? Não basta comprar um livro e escrever nele o seu nome, decretando assim sua propriedade, para que ele se torne seu. Além disso, lendo, ao longo da minha vida, fui fazendo uma descoberta que foi para mim uma Alegria, esta: - Um livro não é meramente o objetivo livro que é – ele é, sobretudo, e ainda, mesmo séculos depois, a pessoa que o escreveu – pessoa que está menos presente nele quando se trata de um ensaio analítico sobre alguma coisa, mais presente quando se trata de uma ficção, em princípio mais ainda quando se trata de filosofia e muito mais quando se trará de poesia - ou ficções de autores como Kafka, Beckett. Havendo feito esta descoberta, passei a dialogar com os autores de livros que leio como com as pessoas com quem convivo. Eles me falam das suas páginas impressas e eu falo a eles nas coisas que escrevo nas margens das suas páginas que vou lendo. E hoje em dia escrevo não tanto mas quase tanto nas páginas dos livros que leio quanto nas páginas em branco dos livros visíveis que eu mesmo escrevo – só dos visíveis, porque não escrevo uma palavra do livro que é não-livro, porque não o escrevo, e é puramente imaginário e de escrito só existe o seu título: Viagem a Andara oO livro invisível. Muitas vezes, em vez de convidar amigos, como se diz: de carne e osso, para passear por aí e conversarmos, vou até minhas estantes e convido: - Vamos conversar? Tu, Plotino, e tu, Emile Dickinson, e tu Amos Tutuola, e tu, Shakespeare, não queres também ir? E assim formamos um grupo animado e vamos para algum lugar – bem discretamente, para não sermos incomodados, e espalhados em uma mesa, embaixo de uma árvore, onde, não importa - e iniciamos os nossos diálogos. E é assim que, tempos depois, reabrindo um desses amigos-impressos, reencontro com eles - recordo nossas conversas, o dia e o lugar onde aconteceram. E, também, me reencontro comigo nessas anotações e nas coisas que então disse a eles. Assim se dando mais uma vez agora, quando reencontrei Os Mestres do Tao, de Henry Normand, com as anotações que fiz nas suas páginas e a conversa que tive algum dia com três antigos companheiros de diálogos – sob a forma de homens-livros, e bem vivos: Lao Tzu, autor do Tao Te King, Chuang Tzu, cujo livro leva seu próprio nome, o Chuang Tzu, e Lié Tzu, cujas obras são também chamadas Lié Tzu livro I, livro II, livro III e outros mais. Claro que eles falavam comigo em chinês, linguagem de imagens que adivinho mas não falo, e você deve se perguntar como eu podia saber o que diziam? Bem, para alguma coisa devem servir os tradutores. Mas ainda ficará uma dúvida – pois se eu conversei com eles, evidentemente em

português, como eles pudessem me entender, sendo chineses? Ora, é mais simples de explicar ainda: na dimensão onde já estejam, profundos sábios iniciados como Lao, Chuang e Lié já não precisam das línguas humanas, do Ocidente ou do Oriente – lêem sem os olhos, ouvem sem os ouvidos. E foi para os seus não-olhos e seus não-ouvidos que eu falei. final, eles penetraram na essência do Tao. E sabe o que é o Tao? Segundo Nan Sen, um outro de seus mestres -‘ O Grande Tao não tem forma/É imóvel como o Vazio/Não viaja através da vida e da morte/Dentro, ele não tem passado, presente, futuro.’

Conversa com homens-livros Vejamos um pouco desse nosso diálogo: Parece que eu levantei primeiro uma questão, porque está anotado por mim na primeira página do livro isto: - As coisas des-unidas estão se buscando na multiplicidade até que se encontrem na unidade. Ao que Chuang Tzu respondeu: ‘Todos os seres saem do motor sutil e a ele retornam.’ E Lié Tzu acrescentou: ‘Esse é o começo da transformação das formas.’ Havendo começado nossa conversa tão bem assim, tendendo a concordarmos, dei um passo mais ousado, e escrevi na segunda página do livro: - Cada momento encerra, na multiplicidade, um núcleo de colisões, ou de harmonias. Entre a harmonia do que Foi e a unidade do que Será. E Lié Tzu disse: ‘O puro e leve ascende e se torna o Céu. O Inquieto e pesado desce e se torna a Terra. Os sopros intermediários, ao se misturarem harmoniosamente, produziriam o homem. Assim, Céu e Terra contêm os germes, os dez mil seres nasceram através de mutações.' Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa – isto é: anotar na margem do livro qualquer outra coisa, ele prosseguiu: ‘Essa ‘mutação’ muda e se tona um. Esse um muda e se torna sete. Do sete, se transforma em nove. Com nove, é suspensa a evolução. Ele muda de novo, voltando a se tornar um. Esse um é o começo da transformação das formas.’ Esse ir e vir de números, se subtraindo e se somando, eu entendi assim, pois escrevi na página: - Equilibrando os desequilíbrios. Desequilibrando os equilíbrios. Foi quando Lao Tzu até então calado entrou na conversa, e disse: 'Ainda que, na roda, trinta raios tendam para um ponto, é o vazio do meio que faz andar o carro. A argila é usada para modelar os vasos, mas é do vazio interno que depende o seu uso. Não existe quarto em que não haja porta e janela, porque é o vazio que permite a habitação. O ser tem capacidades que o não-ser utiliza.' E Chuang Tzu acrescentou: 'Ninguém viveu mais que uma criança morta.' E nossa conversa prosseguindo e muito mais nos tendo dito uns aos outros, devo ter escolhido

para encerrar o encontro esta frase, que a resumisse, pois a achei anotada na margem da última página do livro: - Trazer o Tao a Terra, onde já está. Tiramos desta Sim uma lição? Se você já conversa com homens-livros como eu, uma delas já tirou. E tenha boas conversas com eles. Mas há outra por aqui. A do Homem Sábio de Lao Tzu: que se pode conhece o mundo sem sair de casa. Pois – O que a gente procura nos acha – revelação fulgurante que a Vida um dia me fez pessoalmente. Como isso é possível? Entendi assim: embora estejamos em determinado momento do tempo e em determinado ponto do espaço, já estamos todos & tudo no Ser imóvel que tudo é e contém, e, nele, com e como ele, sem sairmos do lugar em que estamos já estamos em todos os tempos e em todas as partes. Mas essa foi uma outra conversa. A que um dia tive, só eu e ele, com o pré-socrático Parmênides de Eléia, em outro livro - que o trouxe até mim da Grécia Antiga. E através do qual, escrevendo em suas páginas, fui ao encontro dele.

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