Singularidade Tecnológica e a Terceira Revolução Industrial

October 2, 2017 | Autor: C. Gonçalves | Categoria: Futurism, Singularity, Technological singularity, Technological Futurism
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15/12/2014

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Singularidade Tecnológica e a Terceira Revolução Industrial Carlos Pedro Gonçalves Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa

[email protected] 14 - 12 -2014 Resumo A cada semana surgem notícias de avanços na produção de conhecimento tecnológico, evidenciando um ritmo e dinâmicas de mudança tecnológica que indiciam uma revolução tecnológica em aceleração com potencial de impacto alargado. As inovações e transformações tecnológicas presentes não se inserem num regime de continuidade linear mas numa dinâmica acelerada exponencial transformativa, e em muitos casos disruptora, com efeitos estruturais no modo como as sociedades humanas se organizam e com impacto nas esferas económica, financeira, social, cultural, política, militar e de segurança. A trajectória de inovação e desenvolvimento tecnológico exponencial está a conduzir a uma terceira revolução industrial que é alimentada pela sinergização de quatro pilares fundamentais: nanotecnologia, biotecnologia, tecnologias de informação e comunicação e as áreas da inteligência artificial, vida artificial e robótica. O progresso tecnocientífico acelerado, subjacente à terceira revolução industrial, conduziu às chamadas tecnologias exponenciais, cuja expansão está a ser fortemente alimentada pela produção de conhecimento científico e tecnológico nestes quatro pilares acima referidos. As tecnologias exponenciais correspondem a tecnologias em mudança acelerada, com capacidade para alterarem radicalmente a organização do sistema humano, nas dimensões económica, financeira, política, social, cultural e até biológica, podendo vir a conduzir a condições favoráveis à ocorrência de uma singularidade tecnológica. As condições de aproximação de uma singularidade e as implicações quer para a gestão, quer para as políticas públicas são analisadas no presente artigo. Palavras-Chave: Singularidade, Gestão, Terceira Revolução Industrial.

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1. A Terceira Revolução Industrial e as Tecnologias Exponenciais A cada semana surgem notícias de avanços na produção de conhecimento tecnológico, evidenciando um ritmo e dinâmicas de mudança tecnológica que indiciam uma revolução tecnológica em aceleração com potencial de impacto alargado. As inovações e transformações tecnológicas presentes não se inserem num regime de continuidade linear mas numa dinâmica acelerada exponencial transformativa, e em muitos casos disruptora, com efeitos estruturais no modo como as sociedades humanas se organizam e com impacto nas esferas económica, financeira, social, cultural, política, militar e de segurança. Aquela que pode ser considerada, presentemente, uma terceira revolução industrial tem raiz na segunda metade do século XX, na revolução das TIC, expansão da computação, na cibernética e na tecnociência, na ciência dos sistemas e nas ciências da complexidade. A Terceira Revolução Industrial corresponde a uma alteração estrutural em curso com impacto alargado no tecido empresarial, processos e formas de organização económica, assim como ao nível da vias de financiamento e da estrutura do sistema financeiro. São quatro os pilares tecnológicos cujo progresso e sinergização interdisciplinar tem alimentado a Terceira Revolução Industrial: Nanotecnologia; Biotecnologia; Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs); Inteligência Artificial, Vida Artificial e Robótica. As transformações industriais decorrentes destes quatro pilares estão a alterar radicalmente a estrutura das indústrias tradicionais e não se situam exclusivamente nas chamadas empresas produtoras de tecnologia, trata-se de transformações que afectam transversalmente todas as indústrias e sectores de actividade, desde o chamado Sector Primário aos Sectores Secundário e Terciário. A tendência exponencial de inovação, decorrente dos esforços de investigação e desenvolvimento tecnológico, implica, por um lado, um efeito de feedback positivo ao nível da produção de conhecimento científico e tecnológico e, por outro lado, uma redução dos custos com ganhos de eficiência e efeitos quer quantitativos quer qualitativos na produção e integração da tecnologia com consequências na estrutura das indústrias, nos modelos de negócio, na organização das empresas e nos processos e modelos de gestão. A criação exponencial de conhecimento tecnocientífico conduziu a um progresso tecnológico exponencial, visível em diferentes estatísticas. Como exemplo, nos três gráficos seguintes apresenta-se os seguintes dados: https://sites.google.com/site/terceirarevolucaoindustrial/singularidade­tecnologica?tmpl=%2Fsystem%2Fapp%2Ftemplates%2Fprint%2F&showPrintDial…

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Citações em nanotecnociência (nanotech science) (anos 1990 a 2002); Patentes relacionadas com nanotecnologia (anos 1990 a 2002); Eficiência computacional (anos 1900 a 1998).

Fig. 1 - Citações em Nanotecnociência Fonte: http://singularity.com/charts/page83.html

Fig. 2 - Patentes Relacionadas com Nanotecnologia Fonte: http://singularity.com/charts/page84.html

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Fig.3 - Eficiência Computacional (Cálculos por Segundo por $1000) Fonte: http://singularity.com/charts/page70.html

Os gráficos acima permitem ilustrar exemplos de evidências de crescimento exponencial do conhecimento tecnocientífico durante o século XX, mais exemplos podem ser encontrados no website http://singularity.com/charts/, suportando o argumento deste perfil de crescimento. O progresso tecnocientífico acelerado conduziu às chamadas tecnologias exponenciais, cuja expansão está a ser fortemente alimentada pela produção de conhecimento científico e tecnológico nos quatro pilares acima referidos. As tecnologias exponenciais correspondem a tecnologias em mudança acelerada, com capacidade para alterarem radicalmente a organização do sistema humano, nas dimensões económica, financeira, política, social, cultural e até biológica, podendo vir a conduzir a condições favoráveis à ocorrência de uma singularidade tecnológica, ponto que se passa a analisar. 2. A Singularidade Tecnológica e a Gestão Reflectindo acerca do progresso tecnológico acelerado, os matemáticos John von Neumann e Stanislaw Ulam consideraram as implicações deste progresso sobre as sociedades humanas. Ulam, em 1958, num artigo sobre a vida de von Neumann, que havia falecido em 1957, refere uma conversa com von Neumann em torno desta reflexão. Nessa conversa, os dois matemáticos consideraram a possibilidade de que o progresso tecnológico acelerado pudesse conduzir a uma singularidade na história da espécie humana, para além da qual as sociedades humanas, tal como as conhecemos, não poderiam continuar do mesmo modo, pois as teorias, modelos, estruturas e soluções não mais se aplicariam, ter-se-ia de encontrar soluções para um mundo totalmente diferente, radicalmente transformado pela produção e uso da tecnologia. A singularidade tecnológica, considerada por von Neumann e Ulam, corresponde a https://sites.google.com/site/terceirarevolucaoindustrial/singularidade­tecnologica?tmpl=%2Fsystem%2Fapp%2Ftemplates%2Fprint%2F&showPrintDial…

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uma singularidade civilizacional, decorrente da transformação tecnológica. Kurzweil (2001) refere-se a esta noção de singularidade como uma mudança tão rápida e profunda que conduz a uma ruptura na tecitura da história humana. A singularidade é da ordem do acontecimento: inesperada, com regras próprias, que surge espontaneamente, que não pode ser controlada. Não podemos antecipar a sua natureza ou dinâmica, nem o que implicará em termos de risco, não sabemos o que trará de positivo ou de negativo. Em termos de avaliação sistémica, podemos, contudo, afirmar que a potência de ocorrência de uma singularidade tecnológica tende a aumentar quando, em cenários de avanço tecnológico exponencial, lidamos com tecnologias que afectam níveis existenciais: da vida (Biotecnologia), da matéria (Nanotecnologia), da cognição (Inteligência Artificial, Vida Artificial, Robótica e Neurotecnologia), e do nosso interface comunicacional com os outros (TICs). A perda da capacidade previsional acerca da inovação e dos impactos tecnológicos sobre o sistema humano são factores centrais de incerteza que, juntamente com o nível exponencial de expansão tecnológica, podem conduzir a condições de base favoráveis à ocorrência de uma singularidade civilizacional decorrente da criação e aplicação do conhecimento tecnocientífico. Diferentes autores têm apresentado diferentes perspectivas acerca da singularidade. O matemático Vernor Vinge (1993), recuperando Ulam (1958), introduziu aquela que foi uma das linhas centrais de pensamento acerca da singularidade, no contexto da comunidade tecnocientífica ligada à Inteligência Artificial. Vinge (1993) considerou que, face à aceleração do progresso tecnológico ocorrida durante o século XX, poderemos estar a aproximar-nos do limiar de uma mudança comparável ao surgimento da vida humana na terra. A perspectiva introduzida por Vinge em torno da singularidade situa-a no pilar da cognição, nomeadamente, ao nível da expansão da inteligência. Em Vinge (1993), são identificadas quatro possíveis fontes da singularidade tecnológica: Computadores que "despertam" e que expandem aceleradamente a sua capacidade cognitiva superando os seres humanos em reflexividade; Grandes redes de computadores e os seus utilizadores formam um sistema que supera em termos cognitivos as partes; Interfaces entre humanos e computadores tornam-se tão íntimos que conduzem a uma expansão rápida da inteligência para além do nível cognitivo presente; A biotecnologia conduz a uma expansão do intelecto humano. As quatro possíveis fontes identificadas por Vinge correspondem, assim, respectivamente a: Uma Inteligência Artificial que "desperta" e que expande exponencialmente em capacidade, superando os seres humanos em termos de cognição; https://sites.google.com/site/terceirarevolucaoindustrial/singularidade­tecnologica?tmpl=%2Fsystem%2Fapp%2Ftemplates%2Fprint%2F&showPrintDial…

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Um "despertar" das redes informáticas e respectivos utilizadores (uma versão desta alternativa que tem sido considerada é a possibilidade de que a Internet se torne senciente); Uma expansão cognitiva devido à integração crescente entre seres humanos e tecnologia; uma alteração genética da espécie humana. Enquanto von Neumann e Ulam utilizam o termo singularidade, referindo-se ao progresso tecnológico em geral, Vinge situa a singularidade no eixo da cognição. Vinge, na sua análise, ecoa, a perspectiva de I.J. Good, introduzida na década de 1960 acerca de uma "explosão de inteligência" em que as máquinas desenhariam outras máquinas sem a intervenção humana (Vinge, 1993; Kurzweil, 2001) Kurzweil (2001), por seu turno, aborda a singularidade sob diferentes perspectivas. Para Kurzweil a singularidade poderá ocorrer na fase quase vertical de crescimento tecnológico que ocorre quando a taxa de crescimento é tão extrema que a tecnologia parece estar a expandir-se a uma velocidade "quase infinita", embora na realidade não haja ruptura na forma de um salto, isto é, trata-se de uma aceleração crescente mas numa continuidade histórica de desenvolvimento tecnológico em aceleração. Contudo, quando se considera o ritmo de crescimento e desenvolvimento tecnológico tem de se considerar simultaneamente o padrão de crescimento e aquilo que a tecnologia "permite fazer", isto é: as possibilidades de uso e as consequências civilizacionais que efectivamente implica. As disrupções do status quo, a um nível muito acelerado de crescimento tecnológico, são amplificadas com inevitáveis rupturas, num certo sentido, pode-se falar de uma dispersão amplificada de "cisnes negros" associada a uma mudança societal que pode ser tão rápida que deixamos de poder definir teorias estáveis, deixamos de ter um ponto de apoio para a construção de paradigmas. Neste sentido, fala-se de um progresso tecnológico que escapa ao controlo do próprio sistema que o engendra e alimenta (Kurzweil, 2001). Em termos económicos, financeiros e políticos as instituições podem falhar, necessitando quase de assumir uma resposta caso a caso. No contexto da gestão, quer privada, quer pública, a agilidade torna-se um dos factores estratégicos e a gestão na criticalidade torna-se dominante, em particular quando deixam de existir pontos de suporte à construção de teoria antecipadora. Com uma aceleração quase vertical do crescimento e desenvolvimento tecnológico, a criação de linhas de negócio, impossíveis até então, podem começar a surgir, sendo impossível impor barreiras que travem uma explosão exponencial, próxima da viral, de novos negócios que põem em causa indústrias inteiras. Um exemplo presente, ainda assim afastado do nível de mudança capitalista próxima de uma singularidade tecnológica, no sentido assumido por Kurzweil, é o crowdfunding. Há alguns anos, o crowdfunding constituía uma alternativa residual, mas o seu crescimento exponencial tornou-o rapidamente uma ameaça para a banca tradicional, sendo que a banca de investimento norte-americana já pressionou a Securities and Exchange Comission (SEC) no sentido de introduzir alguma regulação do crowdfunding subindo as barreiras à entrada. https://sites.google.com/site/terceirarevolucaoindustrial/singularidade­tecnologica?tmpl=%2Fsystem%2Fapp%2Ftemplates%2Fprint%2F&showPrintDial…

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Mais casos como os do crowdfunding, com um crescimento rápido, podem começar a surgir à medida que o crescimento tecnológico se torna "quase vertical" na sua trajectória exponencial. O ciclo económico com as dinâmicas de expansão e de crise pode ser radicalmente alterado. Podemos antecipar, caso as previsões de Kurzweil estejam certas e o ritmo de crescimento tecnológico não abrande mas acelere ainda mais, que a dinâmica de criação destruidora (noção introduzida por Schumpeter) caracterizará uma instabilidade económica e financeira crescentes, com uma necessidade de redefinição radical da gestão enquanto área disciplinar. Em termos empresariais, a deterioração do horizonte de previsibilidade estratégica, face a uma dinâmica de expansão tecnológica quase vertical fará multiplicar a necessidade de planos de contingência e de respostas ágeis a situações inesperadas por parte das organizações. A investigação no contexto da gestão tenderá a produzir conceitos, modelos e técnicas mais sofisticadas, baseados no movimento estratégico, na monitoragem permanente do sistema humano (incluindo da web), impondo a necessidade de uma expansão da capacidade de processamento dos sistemas informáticos, das telecomunicações e da Inteligência Artificial ligada ao tratamento de grandes quantidades de dados. Presentemente, a área, no seio da Inteligência Artificial, do chamado "deep learning" (aprendizagem profunda) e a investigação na neurociência e neurotecnologia tenderão a produzir soluções de monitoragem da web e de planeamento estratégico e táctico cada vez mais sofisticadas, exigindo quer das empresas, quer dos governos e administração pública, o desenvolvimento de sistemas informáticos de apoio à gestão com um grau de sofisticação capaz de acompanhar a trajectória transformativa tecnológica. Enquanto estas tendências podem ser já percebidas face aos desenvolvimentos recentes, ainda assim estamos longe de saber o que implicará uma singularidade tecnológica para o sistema humano. Fica em aberto a necessidade de reflectir acerca das transformações em curso e de reunir diferentes perspectivas cruzando múltiplas áreas disciplinares. Bibliografia Gonçalves, Carlos (2005), "Uma Teoria da Empresa Ágil Criadora de Conhecimento. Contributos", Tese de Doutoramento, ISCTE­IUL. Gonçalves, Carlos (2006), "Criação de Conhecimento e Agilidade, Novos Desafios Competitivos", Revista Economia Global e Gestão, Vol. XI, No.1, pp. 125­139. Gonçalves, Carlos P. (2010), "Contributos para os fundamentos categoriais da matemática do risco", Tese de Doutoramento, ISCTE­IUL, ISCTELinkTeseCPG. Gonçalves, Carlos P. (2012), "Risk Governance ­ A Framework for Risk Science­Based https://sites.google.com/site/terceirarevolucaoindustrial/singularidade­tecnologica?tmpl=%2Fsystem%2Fapp%2Ftemplates%2Fprint%2F&showPrintDial…

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Decision Support Systems", Gonçalves, C.P., 2012, http://papers.ssrn.com/sol3/papers.cfm? abstract_id=2085482. Kurzweil, Ray (2001), "The Law of Accelerating Returns" http://www.kurzweilai.net/the­law­of­ accelerating­returns. Kurzweil, Ray (2005), "The Singularity is Near", Viking, EUA. Vinge,  Vernor  (1993),  “The  Coming  Technological  Singularity:  How  to  Survive  in  the  Post­ Human Era”, https://www­rohan.sdsu.edu/faculty/vinge/misc/singularity.html.

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