Síntese: Limites éticos da comunicação pública in Linguagem e Comunicação , de Joana Vieira Santos

June 15, 2017 | Autor: Inês Baptista | Categoria: Comunicação, Jornalismo
Share Embed


Descrição do Produto

Síntese crítica do texto: Limites éticos da comunicação pública in Linguagem e Comunicação, de Joana Vieira Santos

Docente Dr.ª Ana Teresa Peixinho Discente Inês Sofia Pedro Baptista Curso 1º ciclo de Jornalismo e Comunicação Disciplina Discurso e Comunicação

O texto que se segue tem como objectivo a síntese do capítulo “Limites Éticos Da Comunicação Pública” (pg 232), da obra Linguagem e Comunicação de Joana Vieira Santos. Pretende-se interpretar e aprofundar os temas abordados pela autora, com base no livro de Robert Huber - Influencing through argument, de forma a inferir sobre a manipulação na comunicação pública. O primeiro ponto deste capítulo, “Manipulação da audiência” parte do reconhecido nas páginas antecedentes - a argumentação em contexto público não é simples de classificar em termos de objetividade. A autora explicita as diversas formas de manipular através do discurso e em como certos tipos de persuasão não são éticos, apesar de eficazes e por consequência bastante utilizados. Estas formas de persuadir ou de argumentar tornam-se então “erros de lógica” (SANTOS, pg 232) - falácias que não podem ser classificadas como argumentos. Os argumentos falaciosos que toma como exemplo são ad hominem, reductio ad absurdum,o simulado uso da estrutura causa-efeito e do falso senso-comum, todos estes argumentos podem ser utilizados de forma a manipular uma audiência. Em suma, as ferramentas manipuladoras ao dispor do orador são inúmeras - um argumento só é passível de ser julgado como ético ou não-ético se houver conhecimento das intenções dos oradores, o que é muito subjectivo. No subcapítulo seguinte aborda-se a forma de argumentação de apelo ao sentimento, o pathos de Aristóteles, muito utilizado no discurso jurídico, político e de propaganda, invoca bastante a publicidade. Deste modo obtém-se a simpatia do público através da sensibilização – joga-se com mensagens implícitas e dá-se resposta a ambições préexistentes, mesmo que inconscientes. Ignoram-se formas de persuasão quase-lógicas e empíricas - é em suma a argumentação por motivação, tem como objectivo sensibilizar a audiência para tomar determinada acção. Este tipo de argumentação cria, na audiência, a sensação de proximidade com o orador, que tem como consequência o público relacionar-se com o seu discurso, utiliza também o sistema causa-efeito de que falámos anteriormente, dando resposta a um problema comum entre o mesmo. Na terceira parte do texto, a autora discorre sobre o poder que existe num orador credível aos olhos do público, que combina os valores inerentes ao seu discurso, e a sua autoridade (ou a aparência de autoridade); estas noções são o fundamento de mais um conceito de Aristóteles: o ethos. Estas concepções remetem, em suma, para a argumentação com base na personalidade e credibilidade do orador - na sua autoridade Inês Sofia Pedro Baptista | Síntese crítica | Discurso e Comunicação

2

científica, que se encontra subentendida na linguagem, apresentação, e até pose de quem se dirige ao público. Este tipo de argumentação é caracterizado por não existir uma necessidade de desenvolver raciocínio lógico, e é aí que se encontra o seu ponto forte – o público aceita de forma incondicional o que lhe é dito. Por último expõe-se a utilização do poder como argumento, comum a todas as estratégias já referidas. Consiste, em resumo, na crença por parte da audiência de que o orador tem acesso a informação privilegiada, e uma posição superior à mesma. Depende do estatuto, da capacidade de recompensar, ou punir, do orador, e do seu acesso a determinados privilégios, salienta-se também que estes factores variam conforme o contexto. Conclui-se ao sobressair o papel da comunicação pública na política dificilmente esta teria o poder e influência actuais sem a existência da Retórica, cuja mão anda bem dada à da democracia desde o século IV a.C.. A primeira observação a fazer alusivo ao texto e seus tópicos é a da não-existência de qualquer menção do logos - este é o terceiro conceito da Retórica de Aristóteles e também, segundo ele, o mais importante. Integra as três formas de argumentação defendidas pelo mesmo, o ethos, o pathos e o logos. Este último incide no conteúdo da mensagem, na selecção dos argumentos e na estruturação clara dos mesmos, de forma a estes não serem passíveis de ser refutados. O logos apela à razão. É a forma mais legítima de argumentação, recorre apenas a factos – é objectiva e racional. Por consequência é de admirar Joana Vieira Santos não se ter referido a esta forma de argumentação durante todo o capítulo, de salientar que o poderia ter feito no último subcapítulo “Comunicação pública e democracia”, quando se refere à relação entre a Retórica, a política e a democracia ateniense. Saliente-se no entanto que a autora pretende expor a falsa argumentação, e o conceito a que nos referimos não encaixa nessa definição; deveria porém aludir ao mesmo, de forma ao leitor ter conhecimento que existem formas legítimas de argumentar. Com a leitura de Influencing through Argument é de fácil apreensão de que poderia ser adicionado a este capítulo uma outra forma de manipulação através da argumentação – o “Estilo”. Segundo Robert Huber, este conceito consiste em provocar os sentidos durante o discurso, aproximar a audiência do orador, procurar organizar a exposição de forma clara e apelar à autoridade, em suma, a junção do ethos, pathos e logos. Por esta razão crê-se que a autora tenha preferido ignorar este conceito. Inês Sofia Pedro Baptista | Síntese crítica | Discurso e Comunicação

3

Este é um texto de fácil compreensão e bem elaborado, à excepção das duas observações anteriores (justificáveis em pleno). A autora é clara e sucinta, apesar de que talvez devesse discorrer um pouco mais sobre a origem destes conceitos e ideias que aborda no capítulo. Recorre à utilização de exemplos, que clarificam e ajudam à compreensão da retórica, e ao seu uso nos dias de hoje. Consegue-se compreender a força do poder argumentativo, a sua importância no dia-a-dia e a importância de desenvolver espírito crítico e perspicácia, de forma a evitar a manipulação de opinião.

Bibliografia HUBER, R. (2005) Influencing Through Argument. Nova Iorque: Idebate Press. SANTOS, J. V. (2011) Linguagem e Comunicação. Coimbra: Edições Almedina

Inês Sofia Pedro Baptista | Síntese crítica | Discurso e Comunicação

4

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.