Síria _ um conflito interno ou mais um desafio estratégico para a comunidade internacional?

July 27, 2017 | Autor: J. Prazeres | Categoria: European Foreign Policy, Siria
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2013/09/24

Síria – um conflito interno ou mais um desafio para a comunidade internacional?1 Jorge Paulo S. M. Prazeres

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Introdução O actual conflito que decorre na Síria desde 2011, para além de se apresentar como um flagelo, quer para os habitantes daquele território, qualquer que seja a sua étnia ou credo, nas suas mais variadas vertentes, quer para o sistema de equilíbrios estratégicos internacionais. O nó do debate encontra-se agora no Conselho de Segurança das Nações Unidas, o qual ainda não encontrou uma modalidade rápida e eficaz para por fim à carnificina. A comunidade internacional ocidental clama pelo fim do regime de Assad, mas a Rússia e a China, como membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas têm inviabilizado uma Resolução que legitimize uma intervenção internacional militar na região a fim de enfraquecer o poder do governo Há várias formas de abordar conceptualmente a situação de guerra que está instalada na Síria. Para uns, o problema central está na segurança humana e na defesa dos direitos humanos de todas as pessoas que são cilindradas pelas consequências dos conflito, quer como baixas fruto da violência dos combates, quer como desalojados e refugiados, afastados das suas propriedades e dos seus meios de subsistência. Para outros, a questão reside na saída do poder por parte de Bashar al-Assad e na ultrapassagem da "red line" em virtude do emprego de armas químicas. Pela sua complexidade e pela envolvência de importante actores regionais, considerando também as fortes posições tomadas pelos Estados membros permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, este tema reveste-se de uma relevância acrescida para todos os Estados que acompanham os acontecimentos na Síria e que, de alguma forma, são ser afectados ou poderão vir a sê-lo no decurso do conflito. Baseado nos comentários, declarações políticas e documentos oficiais postos em circulação pelos Estados e por actores internacionais, bem como pelas notícias e informações veiculadas pela comunicação social internacional, foi possível desenvolver uma colecção de dados passíveis de trazer alguma luz, não a uma adivinhação prospectiva acerca do desfecho provável para o conflito, mas sim para a descrição do cenário actual, de modo a que, a partir dele, se possam construir cenários prospectivos que determinem outras acções político-estratégicas convenientes para uma adequada gestão do conflito. A crise do emprego das armas químicas na Síria veio recentrar a opinião pública e a atenção política-estratégica internacional no arsenal químico sírio e já não no 1

Este artigo não foi elaborado segundo as regras do novo Acordo Ortográfico. Jorge Paulo S. M. Prazeres é Coronel Pára-quedista na situação de Reforma. É doutorando em Relações Internacionais, na área de Estudos de Segurança e Estratégia na FCSH / Universidade Nova de Lisboa. 2

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conflito bélico que decorre. O problema dos refugiados agudiza-se e as alternativas a al-Assad não são claras. As notícias difundidas pelas agências governamentais e por outros actores da cena internacional levaram a crer que o que se desconhece terá mais impacto do que a informação factual conhecida. Quais as acções espectaculares para captar a atenção da comunidade internacional que ainda estarão para vir são uma incógnita. Enquanto isso o cenário de guerra na Síria configura-se de uma forma ambivalente entre um conflito doméstico e um dramático quebra-cabeças político-estratégico para os principais actores da cena internacional. O que sabemos ao nível do conhecimento público? É opinião geral internacional de que na Síria foram empregues agentes químicos letais contra cidadãos civis durante o conflito que coloca o regime de Assad contra as facções opositoras. Os EUA afirmaram que o uso de armas químicas ultrapassavam a "red line" admitida internacionalmente, apesar da Síria não ter assinado qualquer convenção nesse sentido. Barak Obama, necessita tomar uma atitude pública de alcance global para explicar ao mundo que as "red lines" (Roduren e Sanger, 2013), definidas pelos EUA, são para levar a sério. Porém, a atitude a tomar por Obama foi afirmada como não considerando "boots on the ground", ou seja, tropas no terreno da área de operações. Desta forma, as cautelas americanas quanto a uma intervenção na Síria levaram Barak Obama a considerar imprescindível obter uma autorização política prévia emanada pelo Congresso americano. Numa atitude cautelosa e eventualmente impregnada de lições aprendidas no Iraque e no Afeganistão, os militares americanos deixaram transparecer para a comunicação social que uma intervenção militar americana na Síria poderia trazer repercussões não calculadas e incontroláveis para a comunidade internacional. Até agora ao fim da primeira semana de Setembro de 2013, o Conselho de Segurança das Nações Unidas foi incapaz de emanar uma resolução mandatando uma intervenção militar internacional na Síria, ficando-se pelo envio de monitores e observadores das Nações Unidas para determinar a veracidade do uso de agentes químicos contra populações civis. Na discussão do conflito sírio fala-se bastante no uso de armas químicas e nos aspectos humanitários de tal emprego sobre as populações civis, mas ainda não foi apresentada uma abordagem consistente no que respeita aos problemas do regime sírio ou ao que se espera depois de uma intervenção militar na região. Algumas das consequências apontadas seriam uma escalada sectária, um aumento do fluxo de refugiados para os países vizinhos, um aumento da instabilidade securitária no Líbano e no Iraque, bem como uma radicalização diplomática com o Irão (Dworkin et al, 2013), não obstante uma posição aparentemente moderada do novo Presidente do Irão, Hassan Rouhani. Qual parece ser o objectivo da comunidade internacional? Pelas perguntas que os senadores americanos Levin e McCain colocaram ao General Dempsey, "chairman" do "Joint Chiefs of Staff" americano, parece que o objectivo pretendido é o afastamento de Assad do governo sírio e a construção de uma alternativa política negociada (Levin e McCain, 2013). O conflito na Síria, depois de ter surgido no contexto da Primavera Árabe de 2010, agudizou-se a partir de 2011 e espelha uma profunda divisão político-estratégica na região do Médio Oriente, colocando, por um lado, o Irão, o Iraque e o Hezbollah em apoio do regime de Bashar al-Assad, e por outro lado, a Arábia Saudita, o Qatar e a Turquia em apoio da oposição rebelde. Poderão ainda manifestar-se outros interesses no conflito, nomeadamente por parte dos Curdos, da Jordânia e de Israel (Barnes-Dacey e Levy, 2013). Al-Sabat (2013), com algum humor, fazia uma Página 2 de 11

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esboço caricaturado da rede de relações estratégicas existentes no Médio Oriente, levando a crer que a máxima de que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo" pode não ser completamente verificável na região. Os países do Golfo temendo que a onda de contestação popular pudesse por em causa os seus próximos regimes teriam preferido que Assad conduzisse algumas reformas a fim de apaziguar os ânimos. Em vez disso, o poder Sírio, apoiado pelo Irão, optou por uma política de repressão violenta, levando a que países como a Arábia Saudita e o Qatar tenham manifestado um apoio à mudança de regime na Síria. Os sunitas têm apoiado a oposição ao governo sírio e o Irão aparenta temer mais o uma afirmação sunita na região do que propriamente as qualidades do regime de Bashar al-Assad (Barnes-Dacey e Levy, 2013). Existe conjunto de países que se poderão assumir como influenciadores neste processo. A Turquia e a França apresentam laços históricos com a Síria, bem como seus os vizinhos que podem desenvolver acções políticas e estratégicas que não deixarão de condicionar o decurso de todo o processo. O Presidente da República do Líbano General Michel Sleiman, Sua Majestade o Sultão de Omã, Qaboos Bin Said Al-Said , ou até o Presidente da Republica do Senegal, Mack Sall, bem como o ex Primeiro Ministro de Singapura, Lee Kuan Yew, são exemplos de entidades que poderão ser vistas como influenciadores do processo diplomática para a procura de uma solução política com vista à gestão da crise vivida na Síria. Problemático, também, é o facto de a atenção internacional se distanciar um pouco do cerne do conflito sírio entre o regime de Bashar al-Assad e os seus opositores, para se centrar fundamentalmente no caso circunscrito ao uso de armas químicas. Qual o papel dos actores internacionais? França A França foi um dos primeiros países europeus a tomar uma atitude com alguma visibilidade na condenação do uso de armas químicas na Síria, clamando por uma intervenção militar a conduzir por uma coligação liderada pelos EUA (Le Figaro, 2013). Porém, ficou-se pelas declarações e pela gestão interna da atitude devido a três aspectos fundamentais: Os EUA não iniciaram qualquer campanha militar antes de uma aprovação pelo seu Congresso e a França não apresenta capacidade para tomar iniciativas operacionais de forma autónoma e individualizada num teatro de operações como o da Síria, como o fez, por exemplo, no Mali. A União Europeia mostrou-se pouco propensa a uma actuação militar em bloco, preferindo afirmar publicamente a condenação da utilização de armas químicas e declarando a sua disponibilidade para apoiar soluções de cariz político e diplomático. A comunicação social referia que o Presidente Holland não teria o apoio na Assembleia Nacional francesa, nem da maioria dos cidadãos (Ribeiro, 2013) para desencadear uma acção militar ofensiva contra o governo sírio. A França, numa atitude de afirmação política e estratégica dentro da Europa e na comunidade transatlântica, foi ultrapassada pela sua própria incapacidade operacional para conduzir uma atitude militar incisiva. Contudo, não deixou de dar mostras de uma solidariedade inusitada para com os EUA, assumindo a tradicional postura inglesa. Estados Unidos da América O Presidente da Administração americana, Barack Obama encontra-se num dilema crítico: atacar militarmente a Síria, sob o argumento principal de que este Estado ultrapassou de forma inadmissível um linha vermelha ao utilizar armas químicas, as quais se enquadram dentro das armas de destruição massiva. Para tal necessita de se legitimar sob o ponto de vista interno ao pedir autorização ao Congresso americano para o fazer, bem como sob o ponto de vista externo, uma vez que o Página 3 de 11

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Conselho de Segurança das Nações Unidas não tinha prescrito qualquer mandato para tal acção. Firmado em 14 de Setembro de 2013, o acordo entre os EUA e a Rússia não foi mais do uma declaração de princípio de que estes dois Estados não iriam vetar uma Resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas que tipificasse os procedimentos, de acordo com a Convenção para as Armas Químicas (CWC), com vista ao controlo e posterior destruição do arsenal químico sírio. É importante também referir que neste acordo entre os EUA e a Federação Russa o prazo estipulado de uma semana para que o governo sírio forneça uma lista de todo o inventário e localização do armamento químico de que dispõe (US Department of State, 2013). Alguns analistas internacionais consideram que o prazo apresentado não é exequível e que poderá vir a ser um dos primeiros aspectos de incumprimento. O próprio acordo antevê que os prazos para a destruição do armamento são ambiciosos, sendo tal adjectivo uma espécie de eufemismo para a palavra "curtos". Ao governo sírio foi-lhe atribuído o estatuto de entidade primariamente responsável pelo sucesso deste projecto, não considerando qualquer posição tomada ou a tomar por parte da oposição ao regime de al-Assad. Israel Desde Abril de 2013 que a comunicação social internacional vinha repostando que países como Israel, a França ou o Reino Unido já teriam alertado os EUA e a NATO de que na Síria estavam a ser usados agentes químicos, alegadamente pelas forças governamentais. Isto ultrapassava claramente a "red line" anunciada por Obama, o que justificaria uma resposta militar dura e incisiva, se bem que sem tropas no terreno, por parte da comunidade internacional (Roduren e Sanger, 2013). A inércia para a intervenção clamada foi sempre justificada por falta de provas conclusivas em relação a tais acusações. Aparentemente, Israel encontra-se entre duas perspectivas distintas. Se por um lado poderá beneficiar do enfraquecimento estratégico dos seus adversários locais tradicionais (Barnes-Dacey e Levy, 2013) por estarem prioritariamente envolvidos no conflito sírio, por outro lado, poderá temer um alastramento da instabilidade e da insegurança por via do fluxo de refugiados, das influências jihadistas nos territórios sob seu controlo, bem como por via da transferência de armamentos para o Hezbollah e dada a proximidade geográfica com a área de conflito. NATO A NATO fez eco da posição internacional ao condenar o uso de armas químicas e tomou uma posição cautelosa apoiando-se na legitimidade das Nações Unidas para esclarecer a verdade. Todavia, já em 21 de Agosto de 2013, não deixava de denotar alguma convicção afirmativa, atribuindo ao regime sírio a autoria do emprego de tais armas (Rasmussen, 2013a), muito antes da apresentação de conclusões dos relatórios elaborados pelos inspectores da ONU que se deslocaram ao terreno afectado. A Aliança Atlântica apoiava declarativamente o acordo entre os EUA e a Rússia para o processo de controlo e destruição do arsenal químico sírio, contudo, dava também a entender que acreditava que a solução política para a crise na Síria passaria pelo fim da carnificina com que a comunidade internacional se tem deparado (Rasmussen, 2013b). Tomando como referência as declarações de Ban-Ki-Moon de 16 de Setembro de 2013 quanto à evidência do emprego de armas químicas na Síria, o Conselho NATO-Rússia sublinhou o facto deste uso ter sido declarado como uma grave violação das regras do Direito Internacional, pelo que a comunidade internacional terá que pedir responsabilidades aos prevaricadores (NATO, 2013). Aludindo ao Página 4 de 11

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Capítulo VII da Carta das Nações Unidas3, a NATO, com a anuência tácita da Rússia, não parece descartar a possibilidade da condução posterior de uma ação punitiva na Síria, sendo porém muito pouco provável uma campanha com tropa no terreno, considerando os dados iniciais do problema. Reino Unido A comunicação social inglesa dava nota da não autorização parlamentar para uma intervenção militar do Reino Unido na Síria e classificava a derrota de David Cameron na Câmara dos Comuns como humilhante para este Primeiro Ministro (Gant, 2013). Tal facto deixou o Reino Unido isolado aos olhos daqueles que defendiam uma acção ofensiva, mesmo que sem tropas no terreno, com David Cameron à mercê da gestão de questões internas de liderança política. Este "volte face" na política externa britânica levantou algumas questões nomeadamente em relação ao alinhamento tradicional do Reino Unido com os EUA e no que concerne ao seu peso e papel no xadrez estratégico internacional (BBC, 2013a). Alegadamente, a experiência da intervenção no Iraque sem um claro mandato das Nações Unidas ainda seria uma referência muita viva em termos de consequências e lições aprendidas. Assim, os britânicos pareceram preferir, não uma corrida para a guerra, mas sim um trabalho coordenado com a comunidade internacional e legitimado pelas Nações Unidas. Depois da negativa parlamentar em relação à participação militar do Reino Unido na crise da Síria ficou a ideia de que tudo seria uma questão de tempo oportuno e que, face à prova de evidência de uso de agentes químicos e à perspectiva de um claro mandato por parte das Nações Unidas, a posição britânica poderia ser repensada (BBC, 2013b). Apesar do reconhecido valor da proposta apresentada pelo Secretário de Estado americano John Kerry e pelo Ministro dos Negócios Estrangeiros russo Serguei Lavrov, no Reino Unido o cepticismo de algum forma mantém-se, receando-se que a proposta se transforme numa manobra para se ganhar tempo. Por outro lado, se o plano de controlo e destruição do arsenal químico sírio vier a ser posto em execução será sempre necessário responder às perguntas de "o quê", "onde", "quando", "quem" e "como". O mesmo será perguntar que armas deverão ser retiradas da Síria, para onde, respeitando que calendário e sob a supervisão de quem. Considerando-se o estado de guerra civil no território sírio, faltará também esclarecer em que condições e como tudo se fará (BBC; 2013b). Por último, a comunicação social não deixa de alimentar um ambiente cínico ao levantar a questão acerca da exportação do Reino Unido para a Síria de compostos químicos reconhecidamente utilizáveis no fabrico de agentes químicos letais, tais como o Fluoreto de Sódio e o Fluoreto de Potássio (BBC; 2013b). Rússia A Russia tem apoiado o regime de Assad e tem vetado no Conselho de Segurança das Nações Unidas qualquer intervenção armada externa. Tem também considerado que uma intervenção militar americana na Síria é uma agressão e um atentado contra a segurança internacional. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavov, tomou um passo importante para arrefecer a situação conflitual ao propor uma nova modalidade de controlo das armas químicas sírias. Porém, a situação ganhou outros contornos e não foi por isso que se tornou menos complexa (Perkovich, 2013). Os comentadores políticos têm especulado acerca do facto de a Russia parecer pretender afirmar-se como um actor internacional, igual em poder aos EUA e superior em diplomacia (Stratfor, 2013). 3

O Capítulo VII da Carta das Nações Unidas refere-se à "acção com respeito às ameaças à paz, quebras de paz e actos de agressão". Página 5 de 11

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Uma outra visão internacionalmente propalada é que a proposta russa para controlo e destruição do armamento químico sírio se constitui como uma mais valia para uma solução política e diplomática para o conflito sírio, em que todos os intervenientes ganhariam, numa relação "win-win" (Akulov, 2013). Contudo, o artigo de Akulov não deixa de recordar outras facetas de cariz menos optimista. De entre todos os aspectos a considerar fica no ar a recordação de que o mundo já não está centrado o espaço transatlântico e que existem outro actores individuais e colectivos, como é o caso da Organização de Cooperação de Xangai (SCO). Estes actores permanecem atentos ao processo e que têm uma palavra a dizer, ostentando um peso político local e regional considerável, se comparado com a União Europeia. Apesar de uma procura concertada de soluções para a crise Síria, Sergei Lavrov continua a manter alguma pressão sobre a comunidade internacional insinuando suspeições sobre a origem dos ataques químicos e sugerindo que não foram consideradas todas as fontes de notícias. Síria A Síria admite sujeitar o seu arsenal químico ao controlo internacional, mais propriamente ao da Rússia, e considerar uma possível destruição posterior desse armamento, se isso contribuir para a solução do conflito internacional em que os EUA são protagonistas (Dyer, Clover, Blitz, 2103). Esta modalidade aparece, para os analistas políticos como uma manobre de bastidores, uma vez que esta passagem de responsabilidade no controlo será muito difícil de realizar face ao processo violento de guerra civil que a Síria vive (Gernstein, 2013). Como factor positivo realça-se o facto de o governo sírio ter aceitado aderir à CWC e aceitar as orientações emanadas pela Organization for Prohibition of Chemical Weapons (OPCW). Em todo este processo, o conflito que opõe o regime sírio aos seus opositores parece ter sido arredado para segundo plano, ganhando as armas químicas foros de protagonista. Se tal situação colocou o regime de Bashar al-Assad sob o escrutínio mais apertado da comunidade internacional, fortalecendo a posição das milícias opositoras. Por outro lado, retirou à oposição alguma visibilidade, deixando margem de dúvida acerca dos autores das atrocidades cometidas envolvendo armas químicas. Turquia A Turquia mostrou-se desiludida com a NATO e com a política americana. Reconheceu que tem um problema político e estratégico junto às suas fronteiras, pois o conflito e a crescente afluência de refugiados já fez espirrar consequências para dentro do seu território (Dombey, Spiegel, 2013). Apelou a uma intervenção americana militar firme e afirmou descontentamento com a forma como a administração americana demonstrou fraqueza na tomada de iniciativa e como procurou legitimar internamente a sua relação no que concerne ao uso de agentes químicos na Síria (Dombey, Spiegel, 2013). A Turquia, por seu lado, constatou que dificilmente poderá tomar qualquer iniciativa autónoma e que dificilmente poderia integrar forças colocadas no Mediterrâneo para bombardear a Síria (Dombey, Spiegel, 2013). União Europeia A União Europeia têm-se mostrado incapaz de tomar qualquer iniciativa credível na gestão da crise Síria, estando à mercê das políticas externas individualizadas dos seus Estados membros. As posições divergentes do Reino Unido e da França neste projecto são a materialização desta incapacidade para a assumpção de uma política comum e forte. Por outro lado, a União Europeia assume-se como doador potente

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para a reconstrução do país e para o processo de desmantelamento do arsenal químico sírio (Ashton, 2013). Nações Unidas Dos comentários de Ban-Ki-Moon (2013), apoiados na informação vertida no relatório dos inspectores da ONU sobre o uso de armas químicas ocorrido em Damasco, na área de Ghouta, em 21 de Agosto de 2013, retira-se que foi oficialmente confirmado o uso de gás de nervos Sarin, o qual terá sido disseminado através de foguetes superfície-superfície (UN Secretary General, 2013). O Secretário Geral da ONU classificou este acto como uma grave violação do Protocolo 1925 e de outras regras comuns do Direito Internacional, pelo que os seus autores deverão ser acusados de crimes contra a humanidade, conduzidos à presença da justiça e julgados (Ban-Ki-Moon, 2013). Por último, ficou implícito que no conflito da Síria tão maus são uns como outros, dadas as atrocidades e a aniquilação indiscriminada de cidadãos através de acções conduzidas quer pelas forças governamentais, quer pelas milícias opositoras. A comunicação social reportou que o Conselho de Segurança das Nações Unidas reuniu para análise do relatório produzido pelos inspectores que se deslocaram ao terreno sírio. Enquanto o grupo constituído pelo Reino Unido - França e EUA parecem favoráveis à consideração do Artigo VII da Carta das Nações Unidas no caso da Síria não cumprir os acordos propostos para o desmantelamento do arsenal químico, a Rússia aparenta defender soluções longe de uma intervenção militar, preferindo que a alusão ao Capítulo VII seja retirado de uma próxima resolução da NU sobre este conflito (Parsifalseven, 2013). Espera-se um trabalho árduo ao nível das Nações Unidas para se preparar um texto de Resolução, tão livre de ambiguidades semânticas quanto possível para evitar que surjam interpretações diferentes que conduzam a incumprimentos e à perspectiva de sanções não aceites por todos os actores envolvidos. O que não sabemos? De toda a análise efectuada, digerindo as notícias e as informações credíveis de que se dispõe acerca do conflito na Síria, constata-se que o que sabemos é incomensuravelmente inferior ao que se desconhece. Como referia Nassim Taleb (2011), explorando os conceitos de "Cisne Negro" e de "altamente improvável", o desconhecido será aquilo que marcará o rumo dos próximos acontecimentos, quer por parte da comunidade internacional, quer por parte das entidades em confronto no terreno. Não sabemos, com a apresentação de uma proposta para o controlo do arsenal químico sírio, com origem na diplomacia russa e americana, se existe uma real intenção e capacidade de operacionalizar todos os aspectos propostos. Não sabemos também se Washington renunciou a um ataque militar à Síria por uma questão de fraqueza política e necessidade de reforçar a sua legitimidade, se por uma questão operacional de procura de melhor janela de oportunidade. Desconhece-se qual seria a posição da China num conflito internacional aberto centrado no teatro de operações da Síria. Outras questões se poderiam colocar, tais como: Qual a capacidade de resposta militar, estratégica e política da Síria face a um ataque ao seu território? Que resultados práticos poderá ter uma intervenção militar internacional? Como se poderia aplicar neste caso particular as teorias de gestão civil de crises defendida pela União Europeia? Será que se começaria pelo estabelecimento de eleições democráticas no país?

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Até que ponto é possível cumprir no tempo os acordos estabelecidos entre a Rússia e os EUA na resolução diplomática para a crise Síria? Não obstante os aspectos positivos, há questões incontornáveis que se colocam, considerando que para haver controlo do armamento em causa terá que haver pessoal especializado no terreno, num ambiente de permanente conflito e de hostilidade entre as partes em confronto. Para além do mais, coloca-se o problema ao nível das infra-estruturas e tecnologia disponível para a consecução do projecto de desmantelamento do arsenal químico, já sem contar com a segurança do pessoal envolvido neste processo. Que tipo de regime será possível perspectivar para uma Síria pósBashar al-Assad? Qual o desfecho, em termos da construção do texto de uma possível resolução do Conselho de Segurança das Nações Unidas, que reflicta um real comprometimento das partes envolvidas para uma solução efectiva quanto ao controlo e destruição do arsenal químico sírio. Quais são, ao certo, as vantagens de uma intervenção internacional militar na Síria, tendo em conta a perspectiva desejada de uma mudança de regime político naquele país, sobretudo pelo facto de nenhum dos interlocutores no terreno ser suficientemente credível para vir a assumir o poder numa hipotética fase pós Bashr al-Assad. Que acção espectacular as partes em conflito poderão desencadear para recentrar a atenção e os apoios materiais proporcionados pela comunidade internacional no conflito bélico no terreno, e não na discussão política acerca do uso de agentes de nervos como armas de destruição massiva. Alguns analistas, tais como Ralf Zielenka (2013), levantam dúvidas acerca do papel das agências internacionais de informação política e estratégica. Segundo o autor, ou as agências sabiam, e quem de direito deveria estar informado acerca dos ataques químicos e dos seus contornos, ou então trata-se de incompetência pura que se materializou num elevado número de mortos. Será que os Estados envolvidos na procura de soluções não fazem, ou não fizeram, parte integrante do problema? Conclusões Como conclusões aponta-se o facto de, em relação ao grave conflito aberto que se vive na Síria, o que se desconhece apresenta uma importância relevante sobre aquilo que se sabe. Poder-se-á apenas construir e desenvolver alguns cenários plausíveis e, como base neles, prospectivar algumas modalidades de acção para se chegar a um final desejado. Enquanto a comunidade internacional e as suas entidades representantes se reúnem nos fora específicos, e enquanto o público vai consumindo o produto mediático, o número de refugiados e desalojados vai aumentando e no terreno continuam a esgrimir-se avanços e recuos tácticos. A complexidade do actual cenário na Síria é de tal forma relevante que uma intervenção militar para apoiar o derrube do governo de Bashar al-Assad, mesmo que sem tropas no terreno, não será tomada de ânimo leve. A força dos apoiantes desta modalidade equilibra-se com a daqueles que apenas aceitam o que for legitimado pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. O que não se sabe poderá assumir contornos de relevante importância para o desenrolar do conflito na Síria, criando dificuldades ao estabelecimento de cenários prospectivos e à preparação de modalidades de acção oportunas, por parte da comunidade internacional, para mitigar as consequências devastadoras dos confrontos no terreno e das lutas regionais pelo poder. Se para uns o conflito se pode resumir a uma guerra civil interna, com repercussões locais, abrangendo os pólos de poder mais próximos, para outros

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