SISTEMA DE MOBILIDADE DO MONDEGO NA ÁREA COMPREENDIDA ENTRE A RUA DIREITA E A AVENIDA AEMINIUM/BAIXINHA DE COIMBRA

June 3, 2017 | Autor: F. C. Santos | Categoria: Arqueologia, Coimbra, Faiança Portuguesa, Arqueologia Urbana
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SISTEMA DE MOBILIDADE DO MONDEGO NA ÁREA COMPREENDIDA ENTRE A RUA DIREITA E A AVENIDA AE MIN IU M / BAIXINHA DE COIMBRA (COIMBRA)

TRABALHOS ARQUEOLÓGICOS

RELATÓRIO FINAL (Dezembro de 2009)

TEXTO BASE

VOL. I / V

Filipe João C. Santos

Sistema  de  Mobilidade  do  Mondego  na  área  compreendida  entre  a  Rua  Direita  e  a  Avenida  Aeminium/Baixinha de Coimbra — Trabalhos Arqueológicos  

 

Relatório Final 

Ficha técnica

Texto:

Filipe Santos

Equipa afecta aos trabalhos:

Filipe Santos, Ana Rita Filipe, Fábio Rocha, Eulália Pinheiro, Carla Alegria (1ªfase), António Felgueiras (2ªfase), Nádia Figueira , António Costa.

Topografia:

António Costa

Desenhos de campo

Filipe Santos, Ana Rita Filipe, Carla Alegria, António Felgueiras, Fábio Rocha, Eulália Pinheiro.

Tintagens:

Filipe Santos e Carla Alegria (1ª fase).

Inventário de materiais:

Fábio Rocha, Eulália Pinheiro, Ana Rita Filipe e Filipe Santos.

Fotografia:

Filipe Santos, Fábio Rocha e Luís Afonso

Grafismo:

Filipe Santos

Dono de Obra:

METRO MONDEGO, S.A.

Entidade Executora:

ARQUEOHOJE, Lda.

Gestão e Coordenação Técnica:

Luís Filipe Coutinho Gomes

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Filipe João C. Santos 

 

RESUMO

O texto que se segue pretende noticiar os trabalhos arqueológicos que decorreram do contrato celebrado entre a Metro Mondego, S.A. e a Arqueohoje Lda, para a prestação de serviços no âmbito do projecto “Sistema de Mobilidade do Mondego”, compreendendo, entre outras acções, uma intervenção arqueológica de diagnóstico – sondagens prévias de diagnóstico – desenvolvida, grosso modo, na Baixa de Coimbra. A totalidade da área contratualizada, abarcando um extenso corredor que se desenvolve desde a Rua Direita até à Avenida Fernão de Magalhães, foi de 1000 m2. Ainda que trabalhos arqueológicos anteriores, realizados em 2005, tivessem já demonstrado o potencial arqueológico de uma das áreas afectas a esta intervenção – BotaAbaixo -, pretendia-se responder a algumas das questões que por eles ficaram em aberto, procurando-se agora exponenciar o conhecimento efectivo sobre vestígios e contextos arqueológicos em parte já observados - há que dizê-lo - e avaliar-se, também, de forma objectiva, o verdadeiro impacte da execução do projecto aludido sobre os mesmos.

Em boa verdade, os nossos trabalhos acabaram por corroborar as interpretações aqueoestratigráficas, ainda que com algumas nuances bem contrastantes, apenas proporcionadas pela enormidade da nossa área intervencionada, observadas dentro da área comungada pela nossa intervenção e a aquela que decorreu no ano de 2005, da responsabilidade da empresa Dryas. Por outro lado, parece-nos evidente, agora, que uma boa parte dos conjuntos edificados na zona do Bota-Abaixo, bem como aqueles escavados a Norte da Rua Direita, se reportam a contextos habitacionais. No entanto, parece-nos óbvio, por outro lado, dado os registos deixados por essa actividade, que a produção de cerâmica em Coimbra, se manteve, não com a pujança de outros tempos, no espaço ocupado pelo antigo Bairro das

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Olarias, pelo menos até princípios do século XX. Um bom testemunho dessa actividade são, sem sombra de dúvida, e a par com todas as estruturas identificadas sobretudo pela intervenção arqueológica de 2005, os tanques de depuração de argilas identificados aquando da abertura da nossa sondagem 1 do Bota-Abaixo. Estas estruturas, pelo que pudemos observar, estabeleceram-se sobre valas de entulhos, pré-existentes, que comportavam, entre outros, material cerâmico relacionado com produções de finais de Oitocentos. A presença desta actividade económica está, não só pelas estruturas que com ela se relacionam nos locais por nós intervencionados, escassas, mas pelas evidências materiais que esta deixou, de facto, da sua longa existência. Diversas bolsas, e valas de aterro, aliadas a claras deposições de entulhos utilizadas nas subidas de cota do chão da cidade, realidade última observada na zona escavada sobranceira à Avenida Fernão de Magalhães, são dessa actividade inegável testemunho. Parece-nos, tendo-se confrontado os elementos do registo arqueológico com a observância de outro tipo de registos, nomeadamente registos cartográficos da cidade de Coimbra efectuados entre no primeiro e no último quartel do século XIX, que o Bairro das Olarias sofreu uma mutação significativa no período que medeia a feitura entre uma e outra planta. Se patente está, no primeiro destes registos, com planta efectuada, supostamente, entre 1810 e 1820, todo um conjunto de representações onde para além das plantas e disposição das oficinas dos oleiros pelo bairro epónimo, nos é dado ainda a conhecer os nomes dos próprios proprietários, evidencia-se uma clara diferença no que é representado na planta dos irmãos Goullard, datada de 1873-1874. Julgamos possível que todo um conjunto de factores, alguns de ordem natural não estarão alheias as cheias do Mondego, cuja incidência em meados do século XIX deixou marcas - , e outros de natureza política e social - grandes projectos camarários motivados pelas políticas de modernização impulsionadas pela Regeneração, destacando-se a marca inquestionável do Fontismo na senda da desejada contemporaneidade – tenham contribuído para uma mudança significativa no panorama económico e social da Coimbra de Oitocentos. A deslocalização de algumas empresas, bem como a criação de novas noutros pontos da cidade, nomeadamente em Sta. Clara, por exemplo, é uma realidade a partir de meados do século XIX. Embora cientes das limitações impostas pela próprio conhecimento de alguns aspectos que gostaríamos de ter deixado claros pela nossa intervenção, nomeadamente questões relacionadas com a fase de construção, utilização e abandono de todos os complexos edificados, tememos que estas questões fiquem, sem grandes elementos seguros de aferição cronológica, sem resposta. É claro a sobreposição de estruturas sobre níveis bem datados com base nos matérias que comportam, mas esta situação não é extensiva a todas as estruturas por nós postas a descoberto. Tendo em conta o exposto no parágrafo anterior, somos levados a equacionar a possibilidade, dada a cota de afectação atingida na maioria dos locais intervencionados – 2, m de profundidade -, que, embora possamos estar perante algumas construções do século Página 3 de 145   

 

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XVIII, acreditamos que a maioria dos complexos edificados, de carácter habitacional, assim julgamos, se reportem já, muito provavelmente, a meados do século XIX, com pervivência de ocupação efectiva, nalguns casos, pelo século XX. Notório é, por outro lado, o achado de material anterior ao século XVIII, correspondendo os elementos em faiança assim datados, a produções características do último quartel desta centúria. Os aranhões, os pratos brasonados, as insígnias de família, as contas e arabescos, mesmo alguma da loiça dita de Brioso a incluímos ainda nesta centúria. Analisaremos estas questões relativas à cultura material um pouco mais adiante, em capítulo próprio. Julgamos que a intervenção arqueológica por nós desenvolvida, e de que a partir deste ponto daremos conta, veio reforçar a importância desta parte da cidade durante, sobretudo, parte da Época Contemporânea. Ainda que não se constituam como os vestígios mais antigos da velha urbe, não deixam, ainda assim, de ser parte integrante da evolução histórica da mesma, merecendo, por todos: historiadores, engenheiros, arquitectos, população em geral…e construtores do Sistema de Mobilidade do Metro Mondego, todo o respeito.

1. INTRODUÇÃO  

O relatório final que se apresenta, tem por base os resultados de trabalhos arqueológicos desenvolvidos pela empresa Arqueohoje na baixa de Coimbra. Os mesmos, foram levados a cabo no âmbito das medidas de minimização decorrentes das acções preparatórias para a inserção, dentro da área específica abrangida, de um dos troços do canal de atravessamento do Sistema de Mobilidade do Metro Ligeiro do Mondego. A área em análise, nalguns pontos sob protecção legal específica, é compreendida entre a Rua Direita, zona do Bota-Abaixo e parte da zona, ainda edificada, localizada imediatamente a oeste da Avenida Fernão de Magalhães e a norte da Rua Azinhaga da Pitorra – esta última, com correspondência às parcelas 39, 40, 41 e 42 do projecto. Iniciados no dia 14 de Outubro1 de 2008, os trabalhos de campo foram desenvolvidos, em termos efectivos, até ao dia 23 de Junho de 2009. Convém no entanto lembrar, antes de mais, que a intervenção acabaria por ser interrompida em Dezembro de 2008, tendo sido retomada apenas a partir do dia 23 de Março de 20092. Aquela que deverá ser entendida como uma segunda fase, dentro da totalidade da nossa intervenção, pautouse pelo alargamento de todas as sondagens abertas inicialmente na zona do Bota Abaixo, bem como pela reformulação, ao nível da sua implantação no terreno, das duas sondagens                                                               1

 Após contacto e autorização por parte do IGESPAR/DAPA.    Neste  interregno  tivemos  oportunidade  de  apresentar  um  relatório  de  progresso,  entretanto  aprovado  pela  tutela,  sobre  os  trabalhos realizados até Dezembro de 2008 (SANTOS, F. 2009).  2

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inicialmente propostas para a área da Rua Direita, tendo-se nesta parte, e por motivos de segurança, aberto apenas uma única sondagem3. Os alargamentos propostos para as sondagens abertas, dentro da primeira fase da nossa intervenção, nas parcelas 39 a 42 foram inviabilizados, até à data, também por questões de segurança, apresentando-se os edifícios em causa em muito mau estado de preservação. Como tal, e como tivemos já anteriormente oportunidade de referir4, o alargamento da área escavada entre as parcelas 40 e 42, necessário à compreensão da realidade arqueológica daquele local, só deverá acontecer, efectivamente, após a demolição dos mesmos.

A intervenção contou, desde o primeiro momento, com o acompanhamento próximo de todas as entidades envolvidas. É de salientar a disponibilidade dos representantes da Metro Mondego no processo – Engº Rui Querido e Dra Sónia Filipe -, bem como dos representantes dos organismos de tutela - IGESPAR e DRCC -, Dr. Nunes Monteiro e Dr. Paulo César, respectivamente. A todos, sem excepção, gostaríamos de agradecer toda a ajuda dispensada, quer na cedência de elementos de análise úteis, quer na resolução de problemas, da mais variada ordem, que foram surgindo ao longo da nossa intervenção.

1.1. OBJECTIVOS  

A intervenção em análise, faz parte de um conjunto de medidas mais vastas que, neste caso concreto, se preocuparam sobretudo em acautelar, ao risco de destruição, elementos arqueológicos/patrimoniais que pudessem vir a ser afectados pelos trabalhos de                                                               3 Veja‐se a este propósito a cartografia em anexo (MM.R.DTA.01.09, sondagem 1).  4 (SANTOS, F. 2009, p.13). 

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inserção do referido canal. Tratou-se, em suma, de dar cumprimento às medidas de minimização de âmbito arqueológico da Declaração de Impacte Ambiental5, com especial destaque para a libertação de algumas condicionantes patrimoniais, tomadas em conta em virtude de trabalhos arqueológicos anteriores, com particular destaque na área cujo edificado se encontra demolido6. Desta feita, procurava-se aferir, com maior rigor e precisão, quer através de escavação arqueológica em profundidade, bem como de sondagens parietais e picagem integral de algumas fachadas - a zona envolvente ao “torreão” [parcelas 8 e 9], o rés-dochão com sala abobadada [parcela 8], a zona de implantação de uma eventual câmara de combustão de uma unidade fabril antiga [parcela 1] e reconhecimento da Runa, com o seu estudo, devida caracterização e avaliação da afectação, nos pontos de intercepção com o canal de atravessamento do Sistema de Mobilidade do Mondego [parcelas 39, 40 e 41].

Embora os objectivos principais da intervenção arqueológica tenham já sido enunciados, não queremos deixar de referir que foi atendido, desde o início da mesma, o interesse histórico de toda esta zona da cidade de Coimbra, principalmente no que                                                               5 Através do processo 06.1/312 (Reg.1585), veiculado pelo Ofº 1297, datado de 2004‐04‐05.  6 Ponto 3, p.3, relativamente às medidas  de  minimização, da DIA. Segundo o mesmo: Deverão realizar‐se os seguintes trabalhos  específicos: Sítio 2 (Bota‐Abaixo): Realização de sondagens arqueológicas prévias.  Página 6 de 145 

 

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concerne ao aspecto relacionado com a importância desta urbe como centro produtor de cerâmica. Algumas das primeiras oficinas artesanais, bem como as unidades fabris posteriores, com produção em larga escala, laboraram, desde Época Moderna até à primeira metade do século XX, na zona da baixa desta cidade. Coimbra constituiu-se, desde cedo, como um dos principais centros de produção de loiça comum e vidrada. Haveria inclusive de baptizar, a dada altura, dada a singularidade das actividades económicas desta parte da cidade, com o nome de “Bairro das Olarias”, a parte da área afecta aos trabalhos arqueológicos em questão, sobretudo naquele local que é hoje conhecido por Bota-Abaixo. A totalidade da área intervencionada, contratualizada entre a empresa Metro Mondego e a Arqueohoje Lda, ascendeu aos 1000 m2, repartidos pelas diferentes zonas mencionadas.

2. ENQUADRAMENTO INSTITUCIONAL  

Os trabalhos em apreço foram autorizados pelo IGESPAR através do processo 2001/1(055), ofício 1544, datado de 30.12.2008, tendo sido renovado pelo ofício 1769, de 03.03.2009, complementado pelo ofício 3812, de 04.06.2009. De igual modo mereceram a sua aprovação por parte da DRCC através do processo DRC/2001/0603/2637/POP/28560 (C.S: 82241), ofício S-2009 (C.S: 602432), 514/09, datado de 13.02.2009.

3. CONSTITUIÇÃO DA EQUIPA TÉCNICA  

Os trabalhos de campo, contaram com a direcção científica de Filipe João C. Santos (arqueólogo dos quadros técnicos permanentes da Arqueohoje, coadjuvado por Ana Rita Filipe (arqueóloga auxiliar, a contrato), Carla Alegria (arqueóloga auxiliar, a contrato), Fábio Rocha (arqueólogo auxiliar, a contrato), Eulália Pinheiro (arqueóloga auxiliar, a contrato) e Nádia Figueira (arqueóloga auxiliar, a contrato). Todos os levantamentos topográficos, bem como o tratamento da distinta cartografia que aqui se apresenta, por sobreposição, ficou a cargo de António Costa (arqueólogo/topógrafo, a contrato). A gestão e coordenação técnica ficou a cargo de Luís Filipe Coutinho Gomes (arqueólogo dos quadros técnicos permanentes da Arqueohoje). Participaram ainda na intervenção, dada a dimensão da área a escavar, um número bastante significativo, embora flutuante, de trabalhadores indiferenciados. Estes operários, angariados através de uma empresa de trabalho temporário, desempenharam sempre as suas funções sob a supervisão do director de escavação, ou, na impossibilidade temporária deste, de outro arqueólogo delegado para o efeito.

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4. METODOLOGIA EMPREGUE  

Previamente ao início dos trabalhos de escavação propriamente ditos, tivemos oportunidade de consultar parte da bibliografia arqueológica disponível para a zona em apreço, assim como obras mais gerais relativas à evolução histórica da cidade de Coimbra. Foi igualmente analisada documentação entretanto produzida em períodos anteriores – nomeadamente os relatórios das intervenções arqueológicas -, por outras duas empresas de arqueologia – Munis e Dryas, em concreto – tendo-se recorrida à mesma, assim julgamos, para uma melhor compreensão de partes da área em análise neste relatório. Recordamos que as intervenções aludidas, desenvolvidas pelas empresas enunciadas, foram levadas a cabo no âmbito do Processo de Avaliação de Impacte Ambiental do Transporte do Metropolitano do Mondego, tendo estas decorrido por parte do espaço físico afecto à nossa intervenção, em particular na zona conhecida por Bota Abaixo. Ainda em fase prévia à escavação arqueológica, partindo da cartografia que nos foi cedida pela Metro Mondego, implantaram-se, sequencialmente, todas as áreas a intervencionar. Primeiro com as marcações de terreno na zona do Bota Abaixo, posteriormente na zona onde o edificado não se encontra ainda demolido – parcelas 39 a 42 – e por fim nas parcelas localizadas sobre o lado este da Rua Direita. Num primeiro momento, a implantação das diferentes sondagens pelas distintas áreas mencionadas, todas afectas à passagem de um dos troços do canal de atravessamento do Metro Ligeiro do Mondego, obedeceu à vontade expressa pelo dono de obra para os locais a intervencionar. Limitámo-nos, pelo que foi exposto, a desenvolver o plano de sondagens arqueológicas, sobre uma malha de quadrículas pré-estabelecidas, estipulado ad initium. As primeiras intervenções arqueológicas efectuadas, na área designada por Bota Abaixo, em 2005, foram assinaladas a vermelho sobre a cartografia do projecto de obra. Foi nesta base que todo o processo de escavação, neste local específico, de desenrolou. Todas as reformulações efectuadas à configuração do plano de sondagens inicialmente proposto pela Metro Mondego, como o caso concreto da sondagem 4 da área do Bota Abaixo – parcelas 10, 12 – ou das sondagens levadas a cabo nas parcelas 39 a 42, bem como todos os alargamentos possíveis das sondagens efectuados a partir do dia 23 de Março de 2009, foram sempre alvo de consulta, e aval positivo por parte do dono de obra. A única excepção, embora sem alterar nada de significativo à programação dos trabalhos ou ao objectivo pretendido com os mesmos, prendeu-se com a marcação da sondagem 1 da parcela 40. Aparentemente, a implantação desta sondagem, naquele ponto específico, por se afastar já do eixo do canal do metro a construir, não faria muito sentido. Os alargamentos da área de escavação, já em 2009, incidiram apenas na zona do Bota Abaixo, dando-se continuidade à intervenção arqueológica em torno de todas as sondagens abertas primitivamente nesta área. Esta situação, como tivemos oportunidade de

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referir (SANTOS, F. 2008, p.12), ficou a dever-se ao número elevado de estruturas arqueológicas identificadas, logo de início, em cada uma das sondagens abertas nesta parte. Em termos metodológicos, a escavação desenvolveu-se, como se depreenderá de algumas das considerações anteriores, pela abertura de diversas sondagens de diagnóstico, estabelecidas de acordo com a cartografia cedida do projecto. Todas as sondagens foram marcadas com o recurso a estação total, com um prévio levantamento topográfico dos terrenos/parcelas afectas ao trabalho de escavação. A escavação propriamente dita fez-se, por meios manuais7, pelo método estratigráfico, de acordo com os preceitos metodológicos, adaptados, defendidos por Edward Harris (Harris, 1997, p.30), processando-se a mesma pela identificação horizontal e decapagem sequencial dos diversos estratos identificados em cada uma das sondagens. Atendeu-se, como se depreende, a um processo controlado onde a escavação se fez de forma inversa aos diversos “depósitos”, de formação natural ou antrópica, identificados. A cada um destes estratos, bem como a cada uma das diversas estruturas identificadas, foi atribuída, com registo em ficha própria, uma unidade estratigráfica [UE]. Desde o início da intervenção, tendo estes acompanhado todo o desenrolar dos trabalhos arqueológicos, foram feitos registos fotográficos, mediante a utilização de máquina fotográfica digital, com resolução mínima de 8 megapixels. A par dos registos fotográficos, foram feitos desenhos em planta e alçado dos depósitos, bem como das estruturas identificadas. Todos os desenhos arqueológicos efectuados foram executados em campo, sobre folha de papel milimétrico A3, à escala 1:20, tendo-se optado pelo desenho, dada a pouca complexidade da estratigrafia observada, de alguns perfis com estação total. Todas as plantas efectuadas foram exaustivamente cotadas, por intermédio de estação total, figurando em qualquer um dos desenhos, perfis estratigráficos incluídos, valores de cota absoluta. Foram, numa fase final, finalmente tintados em programa informático – Illustrator – sem qualquer perda do rigor pretendido. Até Dezembro de 2008, no que deverá ser entendida, como anteriormente referimos, como a primeira fase da nossa intervenção, todo o material compulsado no processo de escavação foi recolhido por amostragem8. Constituindo-se, na sua maioria, os depósitos escavados por grandes níveis de aterro, cujos depósitos não deverão ser, sabemolo agora, anteriores ao século XVII, julgámos completamente desnecessária a recolha exaustiva e sistemática de todo o material relacionado com produções do século XIX/XX. O material mais antigo, com cronologias centradas nos séculos XVII/XVIII, foi recolhido, ou pelo menos assim tentámos, na íntegra.

                                                              7 Utilizaram‐se apenas meios mecânicos na remoção dos níveis de toutvenant da zona do Bota Abaixo, e dos pisos de cimento das  parcelas 39 a 42.  8 Contrariamente ao definido em caderno de encargos – ponto 4.4.2.1.2, p.19 – e também indicado, logo no início dos trabalhos  de campo, pelo promotor (na pessoa da Dra. Sónia Filipe, consultora da Metro Mondego).  

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Tratando-se, na sua maioria, de cerâmicas de produção industrial a larga escala, com estudos científicos publicados, onde se demonstra claramente as quantidades de material produzido, número de fábricas envolvidas, meios humanos e materiais empregues9, pensamos que a recolha total de material apenas contribuiria para a elaboração de estatísticas, válidas é certo, sobre a quantidade de material existente por aterro. Este facto, assumido desde já para a primeira fase da nossa intervenção, não invalidou em campo uma prévia análise do mesmo, tendo este sido recolhido, não de forma aleatória, mas atendendo a características diversas desse mesmo material. Em primeiro lugar, e neste caso concreto referimo-nos apenas ao material cerâmico, foram observados na recolha todos os diversos grupos de materiais cerâmicos e as suas formas, técnicas de fabrico, materiais empregues, matérias-primas usadas e decorações. Deu-se particular destaque nessa amostragem a todo um conjunto de material defeituoso ou em fase intermédia de produção, chacota, chacota com superfície pintada não vidrada, diversos tipos de trempes. O material mais significativo, como algumas das moedas que se encontraram, foi cotado e georeferenciado. Todo o material foi ensacado, etiquetado e embalado em contentores próprios, uniformizados, para o efeito. No saco que acompanha esse mesmo material consta uma etiqueta com a indicação do acrónimo, sondagem, quadrícula/UE respectivas e data de recolha. Nalguma dessas etiquetas poderá constar ainda alguma observação que, na recolha, se achou por bem referir, complementando-se desta forma o registo com mais informação. Todos os fragmentos cerâmicos compulsados, após a conclusão dos trabalhos de campo, foram lavados. Todo o material arqueológico compulsado foi inventariado, tendose efectuado também, por intermédio de dezenas de fotografias, o registo fotográfico de uma amostra bastante significativa do material cerâmico, nalguns casos bastante heterogéneo, que cada unidade estratigráfica, relacionada com os diferentes níveis de aterro aludidos, comportava. A escavação arqueológica nas áreas em apreço não ultrapassou, salvo raras e justificadas excepções, os 2, 00 m de profundidade. Recordamos, a este propósito, que a cota de afectação da futura empreitada, não deverá atingir sequer os 1, 50 m de profundidade. Já em gabinete, para além do trabalho já enunciado, procurámos sobrepor todas as plantas arqueológicas, decorrentes da nossa intervenção, a cartografia antiga da cidade10. Demos particular relevo a uma planta datada do século XVIII, a outras três datadas de inícios, meados, e finais do século XIX, e por último a uma planta datada de 1934. Este trabalho, quanto a nós, viabiliza a interpretação dada a algumas estruturas e a determinados edifícios, nalgumas sobreposições ainda existentes, ou pelo menos em parte, na área em análise.

                                                              9 PAIS, A.Nobre et al 2007, p111.  10  Gostaríamos  de  agradecer  à  Dra.  Sónia  Filipe  (consultora  da  Metro  Mondego),  por nos  ter  facultado,  logo  na  fase  inicial  dos  trabalhos, cópias digitais de toda a cartografia antiga por nós aqui apresentada. 

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No final dos trabalhos, foram ainda feitos registos fotográficos aéreos, utilizandose, para o efeito, uma asa delta a motor. Por fim, não queremos deixar de referir ainda a consulta, por nós, dos relatórios produzidos pelas equipas afectas aos trabalhos de geotecnia efectuados11, também, dentro das áreas afectas á nossa intervenção.

5. RESULTADOS ARQUEOLÓGICOS 5.1. PARCELAS 39, 40 E 42.

Iniciaremos a análise dos resultados arqueológicos dos trabalhos em apreço, pela descrição das sondagens – num total de 4 – repartidas pelas designadas parcelas 39, 40 e 42. Na parcela 41, ainda que fisicamente mais próxima da zona do canal a construir para a passagem do sistema de metro ligeiro, não foi aberta, apesar de aqui se ter removido parte do piso em cimento, por mero engano, qualquer sondagem. Um dos objectivos primordiais da intervenção levada a cabo nesta parte, foi, desde o início, e pela abertura das sondagens 1 da parcela 39, sondagem 2 da parcela 40 e sondagem 1 da parcela 42, a identificação de uma estrutura de saneamento designada, muito provavelmente de forma incorrecta, por “runa”. E dizê-mo-lo porque a dita “runa”, em si, não é uma estrutura, mas sim um curso de água que terá, ao longo do tempo, a ao longo do seu percurso, servido, até determinada altura, como esgoto a céu aberto. Em trabalho recente, publicado em 2008, chama-nos a atenção o Professor Alarcão quando refere que nos inícios do século XII se chamava a este curso de água a torrente dos Banhos Régios12. Muito provavelmente o curso de água nasceria ao cimo do actual Parque de Santa Cruz, sendo que o nome que lhe era dado entre a Praça 8 de Maio e o rio, num ponto próximo de um porto fluvial onde desaguava, pelo menos desde o século XII, seria o de “runa”. Diz ainda o mesmo autor, com base num estudo do Professor Pedro Dias, que foi Frei Brás de Braga (prior do mosteiro de Santa Cruz – 1527-1544) que cobriu parcialmente a “runa”, e isto porque, muito provavelmente por essa altura já não tivesse grande caudal e servisse essencialmente como esgoto a céu aberto (ALARCÃO, J. 2008, p.15).

                                                              11  Não  podemos  deixar  de  agradecer  ao  Engº  Rui  Querido  (Metro  Mondego),  a  cedência  de  cópias,  a  nosso  pedido,  desses  mesmos relatórios.  12 Segundo o mesmo autor, era conhecido por este nome a partir de uns banhos públicos que existiam no séc.XII, e que D.Afonso  Henriques doou a D.Telo para que se instalasse, o arcediago, o mosteiro de Santa Cruz.  Página 12 de 145 

 

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Relatório Final 

As sondagens abertas nesta parte localizam-se, grosso modo, imediatamente a oeste da Avenida Fernão de Magalhães e a Norte da Rua Azinhaga da Pitorra, dentro de um antigo complexo de edifícios que serviram, ao longo do tempo, aos mais diversos ofícios13.

Na análise que fizemos à cartografia antiga disponível, são visíveis apenas pequenas edificações, nesta parte da cidade, essencialmente nas plantas de meados/finais do século XIX, nenhuma delas na área específica em análise14. Como tal, a área edificada nesta zona, sobranceira ao Rio Mondego, seria, por esta altura, extremamente diminuta15. Pensamos, pelo que nos foi dado observar, que, e ainda que com alterações posteriores ao seu nível estrutural, estas construções deverão corresponder a uma fase edificativa em maior escala, iniciada, muito provavelmente, já nos inícios do século XX, com relação directa, à data, com a Rua da Madalena16. A intervenção arqueológica nesta parte demonstrou, efectivamente, que os espaços internos destes edifícios se estabeleceram sobre grandes níveis de aterro, nalguns                                                               13  No  edifício  com  correspondência  à  parcela  39,  ao  que  conseguimos  apurar,  ,terá  funcionado,  até  há  relativamente  pouco  tempo, um armazém. No edifício com correspondência à parcela 4º, foi, em tempos pouco recuados, uma carpintaria; no espaço  designado por parcelas 41 e 42 funcionou uma antiga oficina de automóveis.  14 Veja‐se, a este propósito, a planta da cidade de Coimbra dos irmãos Goullard, datada de 1873/74.  15 Não queremos deixar de salientar, no entanto, que poderão, eventualmente existir estruturas anteriores, cobertas por mantos  de  sedimentos  relacionados  com  as  cheias  periódicas  do  Mondego,  por  um  lado,  ou  submersos  por  grandes  quantidades  de  aterros.  Pensamos  que  um  exemplo  paradigmático,  bem  próximos  deste  local,  mais  a  Norte,  seja,  de  facto,  a  descoberta  das  ruínas  do  antigo  Mosteiro  de  S.Domingos,  a  11  metros  de  profundidade  em  relação  à  cota  actual  da  Avenida  Fernão  de  Magalhães.  16 Esta Rua,  em meados  do século XX, viria a dar lugar a uma  nova artéria  principal do centro da cidade  de Coimbra – Avenida  Fernão de Magalhães. 

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casos compostos, sobretudo, por milhares de fragmentos cerâmicos17 – faianças, chacotas, trempes, etc. Estes elementos, reutilizados, terão concerteza origem nos centros de produção local de cerâmica, tendo claramente servido ao alteamento das cotas de terreno pretendidas nesta parte da cidade. Refira-se, desde já, que cronologicamente a quase totalidade desse material, onde predominam os fragmentos de faiança da denominada “loiça ratinha”, tem correspondência com produções de finais do século XIX.

5.1.1. PARCELA 39 – SONDAGEM 1.  

Implantada no interior de um antigo armazém, designado no projecto de obra por parcela 39, corresponde, em termos genéricos, a um espaço de configuração rectangular, fechado e coberto, com 22 m de comprimento, por 11 m de largura, sensivelmente. A entrada principal deste edifício, a que não pudemos ter acesso, localiza-se na extremidade Sul, voltada à Rua da Azinhaga da Pitorra. Sem acesso directo ao espaço em questão, houve necessidade de se abrir uma passagem, a partir da parcela 40, por parede comum, correspondente à fachada Este do armazém. Este acesso, conseguido mediante rasgo na parede referida, foi por nós acompanhado. No processo, procedeu-se à picagem da argamassa da porção de parede onde se efectuou a abertura, com posteriores registos fotográficos ao tipo de aparelho construtivo18, procedendo-se em seguida à desconstrução de parte do muro para a criação da dita passagem. Nesta acção foi ainda colocado no topo da abertura um lintel, constituído à base de vigas de ferro e cimento, por forma a serem criadas as necessárias medidas de segurança à passagem do pessoal afecto à intervenção arqueológica. A largura da abertura, com pouco mais de 2 m, serviu, também, à passagem de uma pequena bobcat, que removeu o piso em cimento, bem como a sua camada de preparação, relacionados com o piso de utilização/circulação deste armazém. No final dos trabalhos, esta passagem foi de novo utilizada para que os mesmos meios mecânicos voltassem ao local de modo a recobrir, com as terras provenientes da escavação, a sondagem que aqui fora aberta. Designada por sondagem 1 da parcela 39, única aqui aberta, corresponde a um rectângulo de 8 x 6 m de lado, disposto de forma paralela, segundo a implantação precisa dentro da quadriculagem geral, ao corpo do edifício referido. Em concreto, pela sondagem aberta, escavaram-se os quadrados correspondentes às abcissas de P a S e às ordenadas de 79 a 81.

                                                              17 Trata‐se, na sua larga maioria de material defeituoso e inutilizado, no caso particular dos trempes.  18  Foi evidenciado uma construção em alvenaria, rebocada, constituída por elementos em calcário, à face, de dimensões  medianas. A espessura da parede, argamassada, era, neste ponto, de 0, 50 m. 

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Relatório Final 

Após a remoção mecânica dos níveis superficiais – u.e´s [ 100 e 101] -, correspondentes ao piso em cimento deste local e à camada preparatória do mesmo, respectivamente, iniciámos a escavação manual de todos os restantes estratos aqui identificados. Convém salientar que era notória a diferença topográfica deste local – parcela 39 -, com o espaço imediatamente ao lado – parcela 40 -, diferença essa na ordem dos 0, 50 m. A escavação desta sondagem revelou uma sequência, praticamente linear, de níveis de aterro, sobrepondo-se estes a algumas estruturas pré-existentes – “runa” - e articulandose, assim julgamos, com a fase edificativa de outras construções identificadas, estas, comprovadamente, de cronologia mais recente. Logo após a remoção da camada de preparação do piso em cimento – [u.e.100], constituída à base de pequenas pedras calcárias, areia e cascalho, evidenciou-se imediatamente o topo de uma estrutura. Tal como outra que viria posteriormente a ser posta a descoberto, terá servido como base de suporte a pilares, ou constituindo-se elas mesmo por pilares, relacionados com a sustentação dos vigamentos em madeira da cobertura antiga do edifício onde esta sondagem foi aberta. Esta relação que aqui estabelecemos, parece sair reforçada pela centralidade das referidas bases, em relação ao eixo maior definido pelas paredes laterais do edifício e respectivo vértice do telhado, de duas águas, que ainda hoje comporta. Acreditamos que os vigamentos em madeira, bem como as telhas de canudo que, muito provavelmente cobriram esta construção numa fase anterior, tenham sido substituídas, em época que não podemos precisar com rigor, por outra solução. As vigas de madeira foram substituídas por uma estrutura metálica, que, adossada às paredes laterais, contém ainda hoje uma cobertura, mais leve, constituída por placas de amianto. As duas bases a que aludimos anteriormente – [u.e.106 e 107] -, identificadas nas quadrículas S/R9 e Q9, foram construídas em alvenaria, utilizando-se elementos em calcário, muito bem argamassados. A regularidade das suas faces, escalonadas, sendo a base maior que o topo preservado da estrutua, leva-nos a supor uma utilização de cofragem em madeira na sua execução. Encontram-se separadas entre si, tendo em conta as medidas retiradas ao topo destas construções, em 3, 10 m. Apresentam, em planta uma configuração quadrangular, com 0, 70 m de lado ao nível do topo. As bases, pelo que conseguimos apurar em profundidade, junto apenas à primeira base descoberta – [u.e.106] -, apresentam uma largura total, obtida na face Norte da construção referida, de 1, 30 m. É notório um escalonamento, por sobreposição de sucessivos elementos, destas estruturas. À base, mais larga, acrescentaram-se duas partes intermédias, em degrau, diminuindo-se progressivamente a dimensão do corpo da construção até ao topo. O último patamar, com as dimensões da face já referidas, apresenta uma altura máxima preservada de 1, 20 m. A altura preservada maior destas construções, sem que se tenha chegado efectivamente à sua base, colhida junto à primeira das estruturas identificada, é de cerca de 3, 00 m. A segunda base – [u.e.107], pelo que nos foi dado observar em escavação, assenta,

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pelo menos em parte (face Sul), no topo de estrutura mais antiga, como em seguida veremos. Convém aqui recordar, antes de mais, que não nos foi possível, em toda a área afecta à escavação desta sondagem, atingir os 2, 00 m de profundidade – cota de afectação d´obra. Tal facto ficou a dever-se, apenas, a questões de segurança. Alertados, pelo técnico de segurança afecto aos trabalhos, para a perigosidade que os perfis da escavação apresentavam, uma vez que não ofereciam a estabilidade necessária à progressão dos trabalhos em profundidade, interrompemos a escavação em extensão aos 1, 60/80 m de profundidade. Detivemo-nos, nesta cota, numa camada bastante homogénea e muito regular do ponto de vista topográfico, desenvolvendo-se este nível, também, por todo o espaço ocupado da sondagem. Esta camada – [u.e.104] – foi, na altura, interpretada por nós como um eventual piso. Julgamos hoje, após análise de todos os registos, que tal hipótese colocada na altura não será a mais acertada. Muito provavelmente, e à semelhança dos outros estratos escavados, deverá corresponder a uma deposição antrópica, muito regular, constituída por sedimento arenoso de tonalidade amarelada, com escassíssimo material arqueológico associado, com vista à subida, neste ponto, da cota do terreno. Pensamos, pelo que nos foi dado observar, que a construção das bases a que atrás nos reportámos, foi acompanhada da deposição sucessiva de aterros – [u.e´s 102, 104 e 105] -, procurando-se, como atrás referimos, atingir os níveis de circulação/utilização no interior do edifício – armazém - em questão. Segundo julgamos, estas bases, não serão mais que os alicerces, enterrados, de parte da infra-estrutura maior que com eles se relaciona. À medida que as bases iam sendo construídas ia-se, simultaneamente, aterrando o local até ser atingida a altura pretendida. Ainda assim, e uma vez que um dos objectivos principais desta intervenção, pelos motivos enunciados, não foi atingido, o da identificação do cloaca “antiga”, designada já nas fontes históricas por “runa”, acordou-se, entre os diversos intervenientes deste processo, pelo rebaixamento de algumas quadrículas dentro do espaço maior da sondagem. Como tal, resolvemos rebaixar, numa tentativa de se identificar a estrutura referida, as quadrículas Q/R 79 e S80/81. O desenrolar dos trabalhos pela escavação em profundidade destes quadrados revelou-se de extrema importância, tendo ficado comprovado, pela sua identificação, o traçado desta estrutura. Localizado o seu topo, a cerca de 3, 00 m de profundidade, a partir da cota de circulação do edifício em questão, encontrava-se coberta por sedimento de coloração castanha, argiloso – [u.e.105] -, de onde resultou a exumação de material datável do século XIX. Para além de se ter ultrapassado, e muito, a cota de afectação de obra, não nos seria, em todo o caso, possível, mesmo que quiséssemos, avançar com a escavação em profundidade. O espaço, extremamente exíguo, confinado entre as duas bases descritas anteriormente, e a profundidade atingida, que levou ao aparecimento dos níveis freáticos, dificultou, ainda mais, a intervenção. Página 16 de 145 

 

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A escavação em profundidade das outras duas quadrículas – S80/81 – foi interrompida aos 2, 80 m, pelos mesmos motivos de segurança já referidos anteriormente. A projecção topográfica que fizemos, tendo em conta o topo da “runa” referido – identificado nesta sondagem em Q/R79 -, bem como da mesma estrutura, identificada posteriormente na escavação da sondagem 2 da Parcela 40, permitiu concluir que o topo desta construção se encontra, desde a cota limite da nossa intervenção neste ponto, a cerca de 0, 25/30 m de profundidade. Veja-se, a este propósito, a projecção que fizemos do topo da estrutura num dos cortes estratigráficos – nº2 – que fizemos desta sondagem. Ainda que não possamos adiantar muito em relação a esta estrutura, uma vez que praticamente apenas foi posto a descoberto o topo, convexo pelo lado exterior da estrutura, bem argamassado, sabemos que esta era ladeada, também aqui, por um pequeno canal, com parte central de perfil em U, feito a partir de elementos calcários argamassados – [u.e.109]. Sobre este aspecto atente-se, dada a similitude entre os troços identificados noutros pontos da nossa intervenção destas parcelas, às descrições destas estruturas identificadas na sondagem 2 da Parcela 40. Aqui, na sondagem aberta da parcela 39, sabemos que as bases descritas anteriormente lhe atingem o topo, sem a destruírem. Tal como estas bases, outra estrutura maior, em betão armado – [u.e.100a] -, relacionada certamente com o antigo armazém, e localizada imediatamente a Sudoeste da nossa sondagem, se lhe sobrepõe, sem a destruir. É de crer que esta estrutura (“runa”) ainda esteja, ou terá estado, até há relativamente pouco tempo, activa. Procuraremos desenvolver a abordagem a esta construção na análise que fazemos ás estruturas identificadas na escavação da sondagem 2 da Parcela 40, onde foi escavado o maior troço desta cloaca. Refira-se, desde já, que em qualquer um dos pontos onde esta foi interceptada, confirmando-se o traçado representado em cartografia antiga da cidade, apresenta sempre as mesmas características técnico-construtivas.

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5.1.2. PARCELA 40 – SONDAGEM 1.

Aquela que é designada por Parcela 40 no projecto de obra do Sistema de Mobilidade do Mondego (Metro Mondego), corresponde a um amplo espaço coberto, podendo este, numa breve análise, dividir-se em duas distintas partes, estabelecendo-se os pisos de cimento actuais exactamente à mesma cota. Um lado menor, voltado à Avenida Fernão de Magalhães, de configuração rectangular – 12 m de comprimento, por 9 m de largura -, onde se localizavam os escritórios da firma que ali laborou, e outro espaço maior, com entrada larga, de serviço, voltada à Rua da Azinhaga da Pitorra. No espaço maior, de configuração trapezoidal – 28 m de comprimento, por 20 m de largura (no lado maior do trapézio) -, vazio de conteúdo, podem observar-se ainda as antigas instalações sanitárias do pessoal da firma, bem como outros cubículos, em madeira, provavelmente relacionados com locais de arrumos. É de referir ainda que na parede Sul da sala maior ainda perduravam os vestígios de antigos fornos para fabrico de ligante à base de calcário e argila. Embora o ramo principal da firma que aqui laborou fosse à época, tal como hoje, uma vez que ainda pervive, a carpintaria, executava também trabalhos de construção civil, daí a existência no local destes antigos fornos. Estes serviam, obviamente, para a confecção de ligante hidráulico. No processo juntavam-se pedras calcárias e argila, que eram depois reduzidas a pó e calcinadas nos fornos em questão. Procedia-se, após a cozedura, à redução deste material – clínquer – até se transformar em cimento. Com a generalização do cimento tipo Portland, este método, segundo o antigo proprietário, foi abandonado. Voltando, após esta breve nota, à sondagem 1 da Parcela 40, é de referir, em primeiro lugar, que esta foi implantada na parte menor deste espaço, com 6 x 6 m de lado, incidiu, tal como a sondagem 1 da Parcela 39, sobre o traçado projectado para um dos futuros canais de circulação do Sistem de Mobilidade do Mondego. Ocupa, dentro da quadriculagem geral, os quadrados N/O/P-94/95/96. A escavação desta sondagem, se nos é permitido a afirmação, revelou-se extremamente monótona, não tendo sido observada qualquer estrutura arqueológica naquele local. Após a remoção mecânica da porção do piso em cimento relativo à área ocupada pela sondagem, e da respectiva camada de preparação do mesmo, foram escavados uma sucessão de níveis de aterro térreos, comportando, nalguns casos, muitíssimos fragmentos cerâmicos atribuíveis a produções coimbrãs do século XIX. Curiosamente, na preparação do piso de cimento actual, foram utilizados, exclusivamente, milhares de fragmentos de azulejos brancos, obtidos, segundo informações Página 22 de 145 

 

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do antigo proprietário do espaço, numa fábrica de Coimbra. Este facto reveste-se de extrema importância, isto se pensarmos que a mesma solução parece ter sido adoptada, com o mesmo intuito, em épocas anteriores, aproveitando-se para o efeito, não só terra, mas milhares de fragmentos cerâmicos das unidades de produção de cerâmica locais. Imediatamente após a remoção do piso em cimento, e da preparação do mesmo, assistimos, nas camadas de aterro subjacentes, ao que acabámos de expor no parágrafo anterior com o aparecimento, praticamente à superfície (0, 30 m de profundidade) – [u.e.103], de grande quantidade de fragmentos cerâmicos. Deste, destacava-se a faiança dita “ratinha”, chacota, elementos listados e estampilhados e, também em elevado número, trempes. Nalguns casos, o nível de entulho, para além do material cerâmico enunciado, aparece associado a restos alimentares, com inclusão de cinzas e carvões – [u.e.105]. Por outro lado, evidenciou-se, a cerca de 1, 60 m de profundidade, uma grande concentração de blocos de quartzo, localizados na extremidade Sudoeste da sondagem. Estes elementos, interpretados como parte integrante de uma camada de entulho/aterro – [u.e.104], foram desmontados no processo de escavação. Desta forma confirmou-se, imediatamente, a interpretação dada por nós desde o início, afastando-se a hipótese destes se relacionarem com qualquer estrutura arqueológica presente naquele local. Não foi conseguido, em praticamente toda a extensão da sondagem, alcançar a cota de afectação pretendida. Fomos aconselhados, pelo técnico de segurança afecto a este trabalho, a interromper a escavação pelo perigo de derrocada dos cortes deixados no processo. Localizando-se praticamente “ em cima” da Avenida Fernão de Magalhães, assistíamos, aquando da passagem de autocarros ou outros meios de transporte pesados, à trepidação constante do terreno e ao desabamento paulatino das paredes. Como tal, e uma vez que era arriscado continuar-se, sem entivação, com a escavação em profundidade por toda a área, optou-se, em concordância com a Tutela e com representantes da Metro Mondego, escavar-se apenas o espaço correspondente a duas quadrículas. Assim sendo, optou-se, aleatoriamente, pela escavação das quadrículas O/P-96. Com resultados arqueológicos praticamente nulos, exceptuando-se apenas grande quantidade de material arqueológico recolhido, do mesmo período cronológico já referido para as camadas de aterro sobrejacentes – século XIX – ultrapassou-se naquele ponto, uma vez mais, a cota de obra pretendida. Apresenta-se de seguida a planta, apenas com o levantamento topográfico, uma vez que não houve estruturas a registar, e respectivo corte estratigráfico desenhado desta sondagem. Tal como temos vindo a fazer ao longo deste relatório apresentamos também, a seguir a estes elementos, alguns dos registos fotográficos realizados.

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5.1.3. PARCELA 40 – SONDAGEM 2.

Implantada completamente fora do eixo do canal projectado para a futura linha de metro, serviu a abertura daquela que designámos por sondagem 2 da parcela 40, essencialmente, para comprovar o traçado da cloaca antiga, conhecida, como já antes o referimos, por “runa”. A materialização no terreno desta sondagem fez-se no lado maior desta parcela, junto à parede que a delimita, neste ponto, na sua extremidade Norte. De configuração rectangular, foi fixada entre as Abcissas correspondentes aos quadrados U a V, e aos quadrados 87 a 91 das Ordenadas. Deste rectângulo, com 10 x 8 m de lado, não foram escavadas duas quadrículas – X87 e X88, nem tão pouco foi possível, por razões de segurança19, escavar-se uma pequena porção de terra localizada, sensivelmente, ao centro da sondagem (veja-se a este propósito a planta final). Em escavação, observámos uma estratigrafia semelhante àquela registada na abertura das primeiras sondagens nesta zona, nomeadamente com a abertura da sondagem 1 desta mesma parcela, e a sondagem 1 da parcela 39. Assim, imediatamente após a remoção do piso em cimento e dos milhares de fragmentos brancos que lhe serviram de lastro – [u.e´s. 200 e 201] -, foram escavadas, em boa verdade, uma sucessão de camadas de aterro. Esta realidade, para nosso infortúnio, dada a grande dificuldade em serem subtraídos manualmente depósitos desta natureza, verificou-se praticamente até à cota de afectação da obra. A única excepção observada a estes depósitos, de origem antrópica, e que terão servido como regularização topográfica do local até cotas de utilização pretendidas, pretende-se com uma camada identificada na extremidade Sudoeste da sondagem – [u.e.214]. Dada a homogeneidade da mesma, e escassez de material, comparativamente com as unidades estratigráficas (camadas) sobrejacentes, parece-nos plausível a interpretação da mesma com um depósito de origem aluvionar. Tendencialmente argilosa, de tonalidade cinzenta, muito homogénea, poderá, eventualmente, relacionar-se com a u.e. 105 da sondagem 1 da parcela 39 e u.e.113 da sondagem aberta na parcela 42 (sondagem 1). Ainda que no topo desta camada tenha sido encontrado algum material arqueológico, destacando-se uma moeda do reinado de D. Luís, datada de 1883, não a deixamos de relacionar com níveis sedimentares de origem natural, dado o curso próximo do Rio Mondego, podendo-se considerar como intrusivo o achado dos materiais arqueológicos superficiais deste nível. Voltaremos mais à frente, pela sua importância como elemento de datação, ainda que relativa, à moeda de D. Luís. Terá sido neste estrato, provavelmente relacionados com campos de cultivo, à época, que em finais do século XIX, ou inícios do século XX, não podemos precisar com                                                               19

 Este pequeno talhão de terra que não foi escavado, servia de base a um dos pilares que sustentavam o telhado do edifício onde  a sondagem foi realizada. Perto do final da intervenção fomos ainda obrigados, pelo técnico de segurança afecto à obra, a escorar  todos os cortes deixados no processo. Era eminente o risco de derrocada da estrutura de cobertura do edifício. 

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exactidão, se abriram os caboucos das fundações dos edifícios que aqui se construíram. As plantas de Coimbra de inícios do último quartel do século XIX, efectuadas com rigor, não assinalam nenhuma construção neste local, e isto ainda em 1874. Exceptuando-se a unidade .estratigráfica. 214, que como dissemos foi interpretada como um depósito de origem aluvionar, todas as restantes camadas escavadas têm uma origem antrópica com um intuito preciso, a que já nos referimos por mais que uma vez. Comportam, dado ser essa a sua principal característica, uma grande quantidade de material cerâmico, donde se destacam as faianças de baixo custo de produção – loiça ratinha. Os fragmentos deste material, aos milhares, sem receio de o dizer, terão sido conseguidos na enorme quantidade de desperdícios que as fábricas de produção coimbrã de faiança, loiça comum e vidrada, produziam. Esses desperdícios terão sido, não sendo reutilizáveis em novas produções, utilizados em diversos aterros, ainda que com locais específicos a respeitar, em vários pontos da cidade. A facilidade nesta zona na aquisição deste material prende-se, obviamente, com a proximidade aos núcleos de produção industrial aqui instalados – Bairro das olarias. É necessário dizer ainda que os diferentes níveis de aterro identificados, e que tentámos, cirurgicamente, delinear por distintas deposições, terão ocorrido num curto espaço de tempo. O tempo de uma carga e outra, diga-se. Não há diferenças significativas ao nível do material arqueológico, com excepção de um ou outro elemento – como um ou outro fragmento de azulejo mais antigo, por exemplo, mas em associação com material, maioritário, diríamos mesmo quase que exclusivo, de finais de oitocentos – desde a escavação do nível inferior à preparação do piso de cimento – [u.e.215] – e o último nível de aterro, visivelmente antrópico, observado neste local – [u.e.210]20. Para além das camadas de aterro, um conjunto interessante de estruturas pôde ser registado pela intervenção aqui levada a cabo. Refira-se desde já que, para além da identificação da “runa” – [u.e´s 209, 211 e 212], comprovando-se o traçado desenhado dela em cartografia antiga, outras estruturas, se poderão relacionar com ela. Antes de passarmos à descrição e análise das estruturas mais antigas patentes neste local, importa referir que em níveis superficiais foram identificados vestígios de outras estruturas, provavelmente relacionadas com a ocupação do primitivo espaço edificado. Falamos, concretamente, num pequeno troço de “muro”, muito tosco, identificado praticamente à superfície do terreno, muito destruído, e construído em alvenaria com ligante de argila – [u.e.204], e de uma fossa sanitária – [u.e.208], com despejo directo para a “runa” a partir de um canal construído em tijolos21 de “burro”.                                                              

20 Foi dada uma numeração não sequencial às unidades estratigráficas, embora, obviamente, tenham uma relação estratigráfica.  Ou seja, a unidade estratigráfica 115 – [u.e.115] –, pode corresponder, e corresponde nesta sondagem, a um estrato superior em  relação,  por  exemplo,  à  unidade  estratigráfica  214  –  [u.e.214].  Veja‐se,  a  este  propósito  a  numeração  patente  nos  cortes  estratigráficos apresentados e a relação entre as unidades na matriz.  21  As dimensões desses tijolos são: 0,23 x 0,10 x 0,06 m. 

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Submersas por um manto de entulho, encontrámos, praticamente ao nível da cota de afectação de obra, todo um conjunto de estruturas que, tendo em conta aspectos construtivos e relação física e estratigráfica entre elas, deverão ser, julgamos nós, contemporâneas. Destas construções há a destacar, por se ter constituído como o troço escavado em maior extensão, a “runa”. Recordamos que a designação de “runa”, aqui, tal como o referimos no capítulo introdutório desta parte da nossa intervenção, é dada, não ao curso de água em si, mas à própria estrutura que, a dada altura, o encanou. Assim, embora o curso de água seja sempre o mesmo, as estruturas que o encanaram ao longo do tempo podem divergir de acordo com a época e com a zona da cidade por onde o caudal deste passava. A construção que serviu para encanar a “runa” na zona do Bota-Abaixo, ainda assim, e do que nos foi dado observar na altura, é, aparentemente, semelhante à que observámos no interior dos edifícios localizados nas parcelas 39 e 40, voltados à Avenida Fernão de Magalhães. Veja-se a este propósito os registos, sem grandes descrições, efectuados por Mónica Ginga em relação a esta estrutura nessa zona (GINJA, M. 2008. pp.203 e 204). O perfil desenhado, pela mesma autora, desse troço, paralelo ao casario localizado a Sul, denota uma construção em alvenaria, com o tecto da abóbada de berço bem argamassado, formado com recurso a tijolos dispostos em cutelo.. Pelo perfil apresentado, evidencia uma construção com uma largura que varia entre os 1, 05 m – perfil A-B – e os 1, 25 m – perfil D-C -, por 1, 60 m de altura. São várias as referências que se encontram documentadas e publicadas relativas à “runa”, assim julgamos, enquanto curso de água a céu aberto até, pelo menos ao último quartel do século XIX. Veja-se, a título de exemplo, a seguinte transcrição: …umas casas na rua da moeda…que partem com a dita rua e água de runa (isto, em 1425) (LOUREIRO, J. 1960, p.342). Segundo o mesmo autor, e da análise que fez à documentação sobre vistorias camarárias, refere que a I-VII-1720, a câmara de Coimbra vistoriou um poial das casas que havia feito Luís de Sousa Carvalho e, no mesmo dia, uma runa aí existente (op.cit. p.344); a 5-I-1848, A Câmara resolveu representar o governo contra os afloramento do baldio ao fundo de Rua da Moeda, do qual a Câmara estaria na posse há séculos, e pelo qual se fazia a limpeza de runa que ali passa (op.cit. p.345); e ainda, a 26-IV-1860, deu a Câmara de aforamento um pedaço de runa contígua ao largo do padrão, no lado Norte da Rua da Moeda (op.cit. p.346). Depreende-se, pelo que foi referenciado no parágrafo anterior, que a “runa” era, pelo menos em boa parte da baixa de Coimbra, um curso de água a céu aberto. Esta ideia é reforçada pela análise à cartografia antiga da cidade. Logo na planta de Coimbra efectuada por Isidoro Emílio Baptista, datada de 1845, observámos, de olhar atento, esse curso representado, sem o encanamento posterior a que foi sujeito. A “runa”, assim julgamos

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com muita certeza22, é representada com arvoredo a bordejar cada um dos seus lados, no percurso desta até ao Rio Mondego. A representação deste arvoredo, divergente daquele que é representado de forma regular nos campos de cultivo, é perfeitamante credível. Seria minimizador, na prática, do efeito das águas transbordantes sobre os campos agrícolas das imediações, sendo bastante comum as representações do género alusivas a rios e ribeiras, à época. E isto não porque tornariam mais bela a representação do desenhador, mas porque as árvores nas margens de rios e ribeiras, por razões óbvias, sempre existiram e, tratando-se de levantamentos de pormenor – mesmo o de 1845 – são representadas. A criação destes “paredões naturais”, com o recurso a vegetação, sempre foi prática corrente. A mata do Choupal, em Coimbra, é representativa dessa mesma realidade.

Posto isto, voltemos à nossa intervenção arqueológica. A escavação desta sondagem – sondagem 2 da parcela 40 – permitiu identificar o topo da “runa” a cerca de 1, 60 m de profundidade, observando-se, numa extensão de 10 m, e logo após a decapagem superficial do nível de aterro que se sobrepunha, uma orientação Este/Oeste. O ponto de inflexão desta estrutura, perfeitamente observável na cartografia da cidade do século XIX, verificou-se, precisamente, na quadrícula V88. O topo da estrutura, arqueado, denota, também aqui, uma construção em abóbada de berço, bem argamassada, com 1, 80 m de largura. A ladear a abóbada, pelo lado sul, e do que fará parte de uma das paredes laterais desta estrutura, foram observados dois muros. Um menor, com 0, 30 m de largura – [u.e.212a] -, também ele argamassado e constituído                                                               22 Veja‐se a este propósito as projecções deste curso, provavelmente já encanado, nas plantas de Coimbra posteriores a 1845. Na  planta dos irmão Goulard  ‐1873/1874 ‐, o antigo curso de água a céu aberto, parece ter sido assim já representado, confinado a  um curso artificial. Há ainda a planta do antigo bairro das olarias, desenhada, supostamente, (duvidamos que seja uma planta de  inícios de século XIX) entre 1810 e 1820, onde esse mesmo curso é da mesma forma representado.  Página 30 de 145 

 

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por pedras em calcário de média dimensão e pequenos fragmentos de cerâmica de construção, sobrepõe-se, a uma cota ligeiramente mais elevada, a outro muro em alvenaria – [u.e.212]. A parte visível do muro mais largo, também ele construído em alvenaria com elementos de calcário, e também ele muito bem argamassado, apresenta uma largura em torno dos 0, 50 m. Desenvolvendo-se paralelamente ao topo da “runa”, ladeando-o pelo seu lado Sul, foi escavado um pequeno canal – [u.e.209a], com 0, 40 m de largura, totalmente argamassado. O centro desta caleira, com perfil em U, apresenta uma altura total de 0, 25 m. É constituído, nas partes onde a argamassa em falta permitiu esta observação, por elementos em cerâmica de construção, provavelmente relacionados com telhas de canudo. Curiosamente, identificámos no quadrado V90, uma concentração de telhas de meia-cana empilhadas no topo da “runa”. Julgamos que estes elementos serão, eventualmente, excedentes da totalidade destes materiais de construção empregues na feitura dos dois pequenos canais identificados nesta sondagem. A par com o canal – caleira - descrito anteriormente, outra construção do género foi identificada – [u.e.209]. Desenvolvendo-se no sentido Norte/Sul, apresenta afinidades técnico-construtivas com a estrutura analisada no parágrafo anterior. Trata-se, muito provavelmente, de uma estrutura de condução de água – canal, caleira -, com 0, 53 m de largura total, construída, tal como a sua congénere com o recurso a pequenos elementos pétreos em calcário, em associação a pequenos fragmentos de material de construção reutilizados, muito bem argamassados entre si. A parte central deste canal, à semelhança da estrutura similar descrita, apresenta um perfil em U, também com 0, 25 m de altura máxima, constituída à base de elementos de cerâmica, provavelmente relacionados com a utilização de telhas de canudo. A altura máxima desta estrutura, podendo neste caso ser observada, é de 0, 50 m. A extremidade Norte desta estrutura, pelo que observámos, corta os muros delimitadores da parede lateral da “runa”, e, aparentemente, desemboca nesta estrutura no alinhamento do pequeno canal em tijoleira relacionado com a pequena fossa sanitária descrita anteriormente. Parece-nos evidente a relação entre a construção designada por “runa” e estes dois pequenos canais. E, não tendo sido identificada qualquer estrutura de cobertura destas estruturas, podemos pensar que, pelo menos durante um determinado período de tempo, provavelmente até à subida de cota de terreno nesta zona, se encontravam em utilização a céu aberto. Por outro lado, não será de descurar, pelo menos para o troço de canal que se desenvolve no sentido Norte/Sul, se relacionasse, de facto, com um espaço empedrado, também ele a céu aberto, que ali terá existido previamente à construção do complexo de edifícios que serão sempre posteriores a 1874. Acreditamos que só com a profunda remodelação urbanística desta zona da cidade, provavelmente relacionadas com as remodelações profundas desta zona a partir de finais do século XIX, , se terão soterrado, em quase 2, 00 m, estas construções.

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Não podemos deixar de salientar, ainda, que o último estrato escavado – [u.e.214] -, localizado a uma cota inferior em relação às estruturas em análise23, forneceu, para além de escasso material cerâmico de finais do século XIX, uma moeda datada, como vimos ao início, de 1883. Ainda que possa constituir um elemento intrusivo, num estrato que consideramos de origem natural, não será de descurar uma relação entre a data deste numisma e uma fase de construção, ou remodelação, da “runa”, ou das estruturas que lhe ficam estratigraficamente próximas e em relação directa, nomeadamente os canais e o piso empedrado. A ser assim, todo o complexo de edifícios que ali se construiu, ausente, como não nos cansamos de referir nas plantas da cidade de 1873/4, teria de ser posterior a esta data. Estes, pelo exposto, ter-se-ão constituído já nos inícios do século XX. É uma hipótese. No que concerne às demais estruturas identificadas na escavação desta sondagem, é de referir ainda que, na extremidade Este da área escavada, e a ladear um dos canais descritos anteriormente – [u.e.209] – foi identificado parte de um piso empedrado, constituído à base de elementos quartzíticos. Recordamos, antes de terminarmos esta análise, que não foi possível efectuar-se o alargamento preconizado em anterior relatório de progresso elaborado já sobre estes trabalhos (SANTOS, F. 2009, p.13). Este alargamento previa a abertura de uma sondagem entre as denominadas parcelas 40 e 42, incidindo o mesmo, essencialmente, na zona do empedrado identificado. Seria de todo conveniente que, de futuro, este alargamento da área escavada fosse levado a cabo, bem como se desenvolvessem por todas as fachadas da área edificada mais sondagens parietais ou mesmo a picagem integral de todas elas, previamente à destruição destes edifícios. Com o alargamento da escavação nesta zona, e com uma análise mais desenvolvida à arqueologia da arquitectura deste local específico, procurar-se-ia solucionar algumas das questões que ficarão, se estas acções forem descuradas, em aberto. Julgamos, apenas para terminar, que o encanamento da “runa” por nós observado, dadas as evidências arqueológicas, não o fazemos corresponder, de modo algum, às obras efectuadas no século XVI por Frei Brás de Braga, embora, como desde sempre salientámos, não se escavou, em nenhum ponto da intervenção, nenhuma secção da estrutura em profundidade. Seria interessante a comparação entre os distintos troços desta estrutura de saneamento urbano já postos a descoberto na cidade. Contando apenas com os elementos de periodização disponíveis, cerâmicas e algumas moedas, temos muita relutância em atribuir uma contemporaneidade entre Frei Brás e os diferentes troços da mesma estrutura por nós descoberta. Se atendessemos apenas aos aspectos de ordem técnico-construtiva, julgamos que seria perfeitamente aceitável correlacionar quer o aparelho, quer a argamassa empregue na feitura da estrutura com construções do século XVI24. Ainda assim, há a questão da análise                                                               23

 Estrato esse “cortado” pela construção da “runa”. 

24 Observámos, durante o tempo em que participámos na escavação do mosteiro de São Domingos, a poucas dezenas de metros  deste  local,  estruturas  com  aparelho  e  argamassas  idênticas.  Em  todo  o  caso,  é  de  crer  que  tenha  havido  alterações  pouco  significativas do ponto de vista técnico‐construtivo desde a Época Moderna até, praticamente, à actualidade, com a generalização  do cimento, tal como hoje o conhecemos, apenas a partir da década de 40 do século XX.  Página 32 de 145 

 

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cartográfica, a que já fizemos referência e que não podemos descurar, bem como as próprias evidências arqueológicas. Será credível um encanamento do século XVI muito provavelmente junto a área próxima do Mosteiro de Santa Cruz, correndo na baixinha de novo a céu aberto. Coimbra, à semelhança de outros centros urbanos do Portugal de Oitocentos, sendo de destacar também as cidades de Lisboa e Porto, procura renovar-se, beneficiando das políticas progressistas que o Fontismo introduz, a partir dos ecos europeus, em Portugal. Toda a margem direita do Rio Mondego sofre profundas alterações por esta altura, com elevações das cotas de pavimentos25, criação de novas artérias de ligação definitiva entre a Baixa e o “Bairro Alto” da cidade, introdução do ramal de ligação ferroviária à linha do Norte, desenvolvimento das actividades económicas junto à linha ferroviária, ligações viárias ao eixo ferroviário, construção de novas pontes, etc. Nada seria, possível, porém, sem um investimento claro, como se poderá observar a partir de meados do século XIX, na cartografia de pormenor da cidade. Como tal, não podemos deixar de associar a construção de praticamente todo o edificado desta zona por nós intervencionada, correspondente às parcelas de 39 a 42, como parte integrante de um desenvolvimento estratégico da cidade de Coimbra que, iniciado em força a partir de finais do século XIX, se prolonga, ainda, pelas primeiras décadas do século XX. Entre 1900 e 1930, a área urbana da cidade duplicou (FARIA, J.2006, p.16). Parecenos que a construção destes edifícios, claramente de cariz industrial, terão beneficiado, e numa primeira fase, com a construção do caminho de ferro, claramente, tendo estes usufruído posteriormente , ao nível das acessibilidades, com a criação, já em meados do século XX, da Avenida Fernão de Magalhães. Desde a sua origem que terão passado, obviamente, por inúmeras remodelações internas, sem que, no entanto, tenham perdido a configuração geral desde a sua criação. Sabemos, por exemplo, e por observação de uma planta de Coimbra de finais dos anos 70 do século XX – 1978, mais precisamente -, que o espaço onde se materializou a nossa sondagem 2 da parcela 40, era, à data, um espaço a descoberto (TORRES, J.M., 2006, p.137). A escavação da mesma, em 2008, decorreu dentro de um espaço completamente fechado. Isto apenas para salientar que, mesmo em curtos espaços de tempo podem ocorrer grandes transformações, não sendo possível, por vezes, dar conta de todas elas.

                                                              25 Procurava‐se, uma vez mais, resolver, pelo menos em parte, o problema relacionado com as periódicas cheias do Mondego. 

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5.1.4. PARCELA 42 – SONDAGEM 1.

Tal como já referimos anteriormente, esta sondagem foi implantada no espaço onde funcionou uma antiga oficina, que, pelos vestígios ainda patentes no local – donde se destacam os típicos calendários tipo Pirelli ainda a adornar algumas das paredes do edifício terá laborado ali até época recente26. Sobre o lado Norte desta sondagem, era visível, ainda, o fosso – [u.e.100] utilizado pelos funcionários desta oficina nas revisões aos veículos automóveis, nomeadamente às acções relacionadas com as mudanças de óleo a que estes estão sujeitos periodicamente. Acreditamos que uma das paredes desta estrutura negativa recente, corresponda à parede lateral Norte da “runa”, também aqui interceptada. Com uma dimensão de 4 x 4 m de lado, foi implantada, de acordo com a quadriculagem geral da intervenção, dentro do espaço ocupado pelas quadrículas V/W94/95. A escavação desta sondagem, e à semelhança de todas aquelas que nesta parte da intervenção arqueológica tiveram lugar, acabou por revelar uma sequência regular de níveis de aterro. Estes aterros, nalguns casos muito heterogéneos, subjacentes ao piso em cimento da oficina, são constituídos, na sua larga maioria por materiais datáveis do século XIX. Durante a escavação desta sondagem, e depois da remoção, aqui manual27, do piso de utilização da oficina, em cimento- [u.e.101] -, e da preparação do mesmo – [u.e.102], começaram imediatamente a evidenciar-se os diferentes níveis de entulho/aterro patentes naquele local – [u.e´s 103, 104, 105…], com clara correspondência à mesma realidade observável em todas as outras sondagens abertas nesta zona. Após a remoção destes níveis superficiais de entulho, foi observado, a cerca de 1, 18 m de profundidade, um piso – [u.e.111] - constituído por uma argamassa pobre, feita à base de cal e areia. A regularidade topográfica desta superfície28, bem como o seu desenvolvimento por toda a área ocupada por esta sondagem, leva-nos a equacionar a hipótese de estarmos perante um antigo nível de ocupação, correspondente a um espaço anterior à utilização daquele local como oficina. Não sabemos, ao certo, a que espaço poderia estar, esta estrutura, relacionada. No entanto, o material arqueológico que se lhe sobrepunha, bem como aquele encontrado em níveis subjacentes, também eles nitidamente de aterro, apontam para cronologias de finais do século XIX. Não sabemos até que ponto esta superfície, não poderá estar, eventualmente, relacionada com uma cota de circulação da antiga Rua da Madalena. Muito provavelmente,                                                               26 A data mais recente, patente num desses calendários, é 2007.  27 Utilizou‐se, para o efeito, uma marreta de 10 kg.  28 Apesar da sua regularidade, apresentava uma ligeira pendente sobre o lado Sul da sondagem.  Página 38 de 145 

 

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e aquando das obras que dariam, mais tarde, lugar à actual Avenida Fernão de Magalhães, terá havido necessidade, uma vez mais, de se altear, por aterro, determinados pontos para a edificação da nova artéria rodoviária. É uma hipótese possível. Verificámos que a superfície regular deste piso, em argamassa, assentava numa camada de preparação – [u.e.112], que, com cerca de 0, 20 m de espessura, se compunha por terras de tonalidade acastanhada, soltas, onde também figuravam alguns elementos pétreos calcários, bem como algumas faianças (Séc.XIX). Esta camada preparatória desenolvia-se, ao longo de toda a área ocupada pela sondagem, sobre estrutura préexistente – “runa”. Directamente relacionado com este piso, foi ainda posto em evidência um pequeno, rebordo, também argamassado. Este rebordo, como mais tarde verificámos, traduzia-se, efectivamente, num pequeno murete – [u.e.114] -, feito à base de pedras calcárias, irregulares, bem argamassadas. Desenvolvendo-se no sentido Sul/Norte, assentava, directamente, na extremidade Sul, no topo da dita “runa” – u.e´s.[115, 116 e 117] -, também aqui identificada. Este murete, com 0, 40 m de largura, apresentava uma altura máxima, regular, em torno dos 0,55 m. Após a remoção da camada de preparação do piso referido anteriormente, foi identificado, imediatamente, quer o topo da abóbada argamassada da estrutura designada por “runa”, quer um pequeno murete, que ladeava a abóbada, à mesma cota desta, pelo seu lado Sul. À semelhança dos troços da mesma estrutura identificados nas sondagens abertas nas parcelas 39 e 40, também aqui verificámos, embora não nos fosse dado observá-la em toda a sua altura, que esta construção, confinada à extremidade Norte da sondagem, se compunha de um muro maior – [u.e.115] -, mais largo, que certamente corresponderá, como já o dissemos antes, a um dos lados desta construção, e um pequeno murete – [u.e.[116], menos possante, que sobre este assenta, desenvolvendo-se o topo deste último à mesma cota do topo da abóbada da cloaca – [u.e.117]. Muito bem argamassados, parece-nos evidente que o muro mais largo, escavado em profundidade em cerca de 0, 50 m, deverá corresponder a uma das paredes laterais da construção, relacionando-se o pequeno murete, construído sobre este, com a própria abóbada, de berço, desta construção. A largura total observada para o murete que ladeia a “cúpula” da “runa” é de 0, 40 m, por 0, 50 m de altura até atingir o topo do muro maior. Embora as medidas para a totalidade do muro mais possante estejam comprometidas, uma vez que não nos foi possível desmontar parte desta construção, acreditamos, pelo que pudemos observar no terreno, que ultrapasse os 0, 60 m. O topo da “runa” desenvolve, pelo seu lado externo, uma linha convexa, pelo que supomos que se trate de uma cobertura em abóbada de berço. Encontrava-se muito bem

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argamassado, denotando uma argamassa de muito boa qualidade, em tudo semelhante, se nos é dado a analogia, ao cimento actual, inclusivamente na cor (acizentada). A escavação em profundidade desta sondagem, apenas foi possível pelo lado Sul da mesma. A ladear a “runa” por este lado, foi escavado, até se atingir a cota limite de afectação – 2 m de profundidade - um nível de terras castanhas – [u.e.113]-, muito argilosas, onde foram exumadas, na sua totalidade, muito pouco material arqueológico. Deste material destaca-se um número reduzido de faianças, sobressaindo elementos decorativos elaborados já a partir de estampilhas. Ao atingirmos os dois metros de profundidade, vimos a sondagem ficar, pelo menos até á cota de topo do muro largo da “runa”, completamente inundada. Acreditamos que este estrato, ao contrário de todos os outros sobrejacentes, tenha origem natural, relacionado com deposições aluvionares do Mondego. A inundação a que nos reportámos no parágrafo anterior, deverá certamente relacionar-se com níveis freáticos muito superficiais. Relembramos aqui que as sondagens abertas nesta parte se encontram relativamente próximas do Rio Mondego.

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5.2. O “BOTA ABAIXO”  

A intervenção levada a cabo nesta zona, naquela que seria, em boa parte, o coração das antigas olarias de Coimbra, permitiu, de facto, atestar a presença de estruturas correlacionáveis com esta actividade económica até período não muito recuado (primeira metade do século XX). Em boa verdade, o último testemunho destas pequenas unidades industriais laborou até há relativamente pouco tempo no Terreiro da Erva29, a escassas dezenas de metros, a Norte, deste local. Tendo em conta a cota de afectação do projecto de obra – 2 m de profundidade em relação ao topo actual do terreno -, não seria de prever o aparecimento de estratos mais antigos do que aqueles que se poderiam relacionar, directamente, com as épocas Moderna e Contemporânea. A estratificação antrópica observada é, na sua grande generalidade, constituída por inúmeros depósitos de aterro. Estes traduzem-se, essencialmente, ou por claras valas detríticas, bem localizadas e que comportam, entre outro material, a grande parte das cerâmicas recolhidas, ou então por níveis de aterro mais vastos que se sobrepõem, nalguns casos com obliterações propositadas de alguns compartimentos, às estruturas e diferentes espaços identificados. Parece-nos que todo este conjunto de valas abertas para despejo de diverso material, se relacionará, também, com a utilização desta parte da cidade como autêntica zona de “lixeira” industrial, encontrando-se presente nesses diferentes depósitos algum do material “defeituoso” ou inutilizado pelas unidades fabris que os tentaram confeccionar. São poucas, e pouca claras, as relações directas que pudemos construir para determinada fase de utilização, relacionada com determinados espaços e/ou estruturas identificadas. Todos os estratos que se sobrepõem às diferentes estruturas identificadas fazem parte, já, da fase de abandono/inutilização das mesmas, traduzindo-se estas, segundo assim pensamos, como espaços habitacionais e/ou de laboração industrial, que foram obliterados, segundo os dados estratigráficos possíveis, entre finais do século XIX, inícios do século XX. Se por um lado nos deparámos, na sua maioria, com níveis de aterro que condenaram antigas construções e diferentes níveis de ocupação, por outro assistimos também, de forma pontual, à utilização de aterros praticamente estéreis e bem compactados, que foram utilizados dentro da fase edificativa de algumas das estruturas identificadas. Não temos elementos cronológicos seguros, com excepção de algumas construções que utilizam materiais datáveis, ou alguma marca de oleiro num ou noutro tijolo utilizado, para que possamos estabelecer sequências diacrónicas, sob o ponto de vista construtivo, entre elas. Importante terá sido a escavação de parte das fundações da                                                               29  Infelizmente,  quando  tentámos  visitar  as  instalações  da  Sociedade  Cerâmica  Antiga  de  Coimbra,  demos  de  caras  com  uma  porta fechada. Resta‐nos esperar que, dentro dos projectos de reabilitação urbana que deverão ter início em breve na cidade de  Coimbra, se volte a poder abrir a porta de entrada desta Sociedade. Para nós, constitui‐se, tão só, como a memória viva do que foi  uma das actividades económicas mais importantes da cidade de Coimbra, pelo menos até ao século XIX. 

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estrutura denominada por “torreão”, tendo-se observado, pela sua construção, a perfuração de níveis arqueológicos que comportavam materiais datáveis do último quartel do século XVII. Esta construção será, bem como todas as estruturas que com ela se relacionam, sempre posterior a esta centúria. Por outro lado, a confrontação das estruturas arqueológicas por nós postas a descoberto, com os dados observados a partir da análise da cartografia antiga da cidade, e em concreto com a planta do “Bairro da cidade de Coimbra denominado das OLARIAS”, e a planta dos irmãos Goullard, esta última do último quartel do século XIX, revelou-se de extrema importância. Não porque nos fosse possível, no primeiro caso, relacionar directamente as nossas estruturas arqueológicas com as construções representadas nessa planta, embora esse trabalho de sobreposição tenha sido efectuado, mas porque a própria planta constitui um documento fulcral na análise dos diferentes espaços das pequenas unidades industriais ali representadas. Cada uma dessas unidades dispunha, para além do próprio edifício da fábrica em si, espaços a céu aberto – pateos das mesmas - onde, em todas se observa, a presença de tanques para barro e estruturas de captação de água do subsolo – poços (na sua maioria construções circulares, embora se encontrem também presentes plantas de poços rectangulares, em muito menor número). No que toca à sobreposição feita das estruturas arqueológicas, postas em evidência por nós, em relação à planta dos irmãos Goullard, obtivemos dados interessantíssimos, como teremos oportunidade de o demonstrar. Se por um lado é notória a falta de elementos correlacionáveis entre a planta do bairro das olarias, supostamente datada do primeiro quartel do século XIX, e as nossas estruturas, verificámos uma grande afinidade, por outro lado, entre as construções postas a descoberto durante a nossa intervenção e as representações dos Goullard. É por demais evidente, ainda de acordo com a observação da referida planta das olarias – diz-se, numa nota que figura nesse documento, tratar-se da cópia de um desenho antigo (1810 a 1820) -, uma associação entre tanques de barro e poços. Na sua maioria estas estruturas de captação de água encontram-se praticamente adossadas aos reservatórios – tanques – de argila/barro. Em todas as sondagens abertas por nós neste local, e embora tenhamos, de facto, atestado a presença de alguns tanques utilizados no processo de depuração de argila utilizada na confecção de recipientes cerâmicos – não necessariamente em faiança – estão ausentes os poços de captação de água. Por outro lado, todos os poços por nós identificados, parecem sim relacionar-se, não com actividades industriais, mas com a sua utilização em contexto doméstico. Encontram-se em espaços a céu aberto, naquilo que deverão corresponder a pequenos pátios, constituídos por pisos de empedrados, em redor de núcleos habitacionais relativamente bem definidos. Refira-se ainda que os tanques por nós identificados – sondagem 1 -, e a que nos referimos nos parágrafos anteriores, se alicerçaram sobre valas de entulhos que comportam, quase exclusivamente, materiais datáveis de finais do século XIX. É de crer que por esta altura, e ainda que a água fosse essencial a todo o processo de depuração de argilas, esta fosse utilizada já canalizada, por intermédio de condutas construídas para o Página 46 de 145 

 

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efeito, e não através dos tradicionais poços. Posto isto, parece-nos evidente que todas as construções, ou pelo menos a grande maioria delas, por nós identificada, terão pouco que ver com aquelas que figuram na planta supostamente datada de inícios do século XIX. Serão, pelo exposto, construções posteriores, e em que, na maioria dos casos, não se podem relacionar já com unidades de produção industrial de cerâmica, mas sim com núcleos residenciais que se terão estabelecido ali após o encerramento, ou mudança de instalações, das antigas fábricas de cerâmica. Pelo exposto, julgamos sim que a grande maioria das estruturas que figuram na planta do bairro das olarias, se localizem a cotas inferiores do limite da nossa intervenção, ou terão, simplesmente, sido desconstruídas para que pudessem dar lugar a outras construções que já nada terão a ver com as primitivas fábricas de cerâmica representadas na planta datada do primeiro quartel do século XIX. Esta hipótese apenas poderá ser confirmada, ou infirmada, no futuro com intervenções arqueológicas desenvolvidas a cotas superiores a 2 m de profundidade neste local. Não descuramos, ainda assim, a associação de algumas estruturas localizadas já a profundidades próximas da cota de afectação, identificadas quer na sondagem 1, como na sondagem 3, com as construções representadas na planta a que temos aludido. A diferença significativa das cotas de implantação destas estruturas, bem como as próprias técnicas construtivas de algumas delas, perfeitamente contrastantes, como demonstraremos na análise que se fará mais adiante em relação às estruturas patentes nestas sondagens, parece reforçar esta nossa suposição actual. Refutamos por completo a interpretação dada aos vestígios identificados na sondagem 1, na intervenção de 2005, da responsabilidade da empresa Dryas, e a parcela 13 da planta do bairro das olarias. Na legenda da figura 26, apresentada no relatório final dessa intervenção (NEVES, M.J., e tal, 2006, p.56), é mesmo confundido um dos poços da unidade de produção pertença a um tal Manoel de Jesus, e não da família Pessoa, como também é dito, com a localização da chaminé correspondente a esta unidade de produção. Reafirmamos aqui que, dadas as evidências arqueológicas, bem como a sobreposição que fizemos em relação à cartografia antiga desta parte da cidade, que pouco terão a ver as construções por nós postas a descoberto e aquelas que figuram nesses documentos. O que sabemos efectivamente sobre estas ruínas, é que na sua grande maioria subjazem sob níveis de aterro que, como já o referimos, não se terão constituído em fase mais antiga que o século XIX. Embora existam, por outro lado, outros estratos, também eles entendidos como depósitos de aterro, que congregam materiais de produções de faiança enquadráveis nos finais do século XVII – sondagem 3 e 4. Embora nos pareça claro esta evidência nas fotografias de alguns destes elementos já apresentados em relatórios de intervenções anteriores à nossa, neste mesmo local, esta realidade parece ter sido descurada (op cit. p.56 – figura 27). Julgamos que seria importante uma revisão ao material exumado

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por amostragem na intervenção de 200530, numa tentativa, sobretudo, de se reverem algumas das cronologias apontadas para o mesmo. Evidenciaram-se, nalgumas das construções postas por nós a descoberto na zona do Bota-Abaixo, alterações à sua configuração inicial, pequenas remodelações arquitectónicas pontuais e bem evidentes, pelo emparedamento de algumas entradas, por exemplo, ou sobreposição de muros mais recentes a construções anteriores. Não é clara a diacronia destas sequências construtivas. Os muros, regra geral, apresentam afinidades no aparelho, bem como nos ligantes que utilizam, que, por norma, e naqueles que julgamos pertencerem às construções mais antigas, se constituem por uma argamassa de barro de coloração avermelhada. Obviamente que as estruturas mais recentes comportarão outro tipo de argamassas, estado inclusivamente o cimento, tal como hoje o conhecemos, presente nalgumas delas. Sobretudo esta situação observa-se nalguns dos muros da sondagem 4, onde até à sua demolição terá aí funcionado, em parte da área escavada, um restaurante. O revestimento externo que alguns destes muros apresentam poderá ter sido aplicado já em fase muito posterior ao da sua edificação. Ainda assim seria de todo conveniente a análise a algumas argamassas recolhidas de modo a estas poderem constituir elemento de datação relativa para os mesmos. Pelos materiais identificados nos estratos inferiores, com cotas de afectação situadas entre os 1, 80 m e os 2, 00 m a partir do topo do solo actual, é notória a inexistência de elementos cerâmicos, exceptuando um ou outro elemento residual, e cientes de que todo o conjunto deva ser alvo de uma análise mais detalhada, anteriores ao século XVII. Ainda assim, os aspectos cronológicos por nós abordados e que se reportam quase que em exclusivo à datação do material arqueológico, devem ser vistos com alguma reserva. Isto porque mesmo o material mais antigo se reporta, como já o referimos, a níveis de aterro. Apenas para concluirmos, e ainda relativamente à cronologia do material cerâmico, sobretudo aquele que diz respeito aos elementos em faiança, notámos, não só pelas leituras que fizemos, mas pelas conversas saudáveis que tivemos com colegas mais familiarizados com este tipo de material, que falta, ainda, algum caminho a percorrer até se balizarem, convenientemente, as produções de faiança de Coimbra. Lamentamos, muito, que a este propósito não tenhamos dado um maior contributo.

                                                              30  O  inventário  deste  material  não  consta  da  documentação  apresentada,  pela  empresa  afecta  à  realização  destes  trabalhos  arqueológicos,  apresentada  à  Metro  Mondego.  Este  mesmo  inventário,  por  nós  pedido  à  Metro  Mondego,  de  maneira  a  que  pudéssemos confrontar o material arqueológico de uma e outra intervenção, nunca nos foi cedido.  Página 48 de 145 

 

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5.2.1 SONDAGEM 1

A sondagem 131 da área designada por Bota-Abaixo, foi implantada na parte mais ocidental deste amplo espaço localizado na Baixa (Baixinha) de Coimbra, entre as ruas João Cabreira e a da Moeda. Aqui, construções recentes, completamente degradadas e incluídas no tecido urbano actual desta cidade, tinham sido demolidas em trabalhos anteriores, trabalhos esses relacionados já com esta empreitada32. Fazemos notar também que junto a esta sondagem, sobre o seu lado Sudoeste, tinha anteriormente sido escavada uma área considerável que, subdividida por três distintas sondagens – sondagem 1, 2 e 4 –, fez parte de uma intervenção científica de diagnóstico, maior, desenvolvida também aqui. Esta, da responsabilidade de outra empresa de arqueologia33. Os dados relevantes obtidos por estas duas prévias intervenções serviram, essencialmente, como ponto de partida para uma melhor apreensão da realidade arqueológica da área em análise. Se por um lado a nossa intervenção corroborou grande parte dos resultados estratigráficos obtidos pelas acções precedentes neste local, alargou, pensamos nós, o conhecimento arqueológico efectivo sobre a área em apreço. Em muito, como já tivemos oportunidade de o referir, contribuiu a sobreposição das estruturas arqueológicas por nós postas a descoberto à cartografia antiga da cidade. Este trabalho, ainda que deva ser visto com alguma reserva, parece-nos que aportou dados importantes à compreensão e datação de algumas das construções soterradas identificadas. Por outro lado, e ainda dentro da análise dessa cartografia, parece-nos óbvia, desde sempre, a partilha de espaços edificados por oposição a outros espaços a céu aberto, áreas de logradouro ou quintais que, até época pouco recuada, caracterizavam esta parte da cidade. Ainda hoje, nas imediações deste local, embora já com escassos exemplos, podemos observar esta realidade. Debrucemo-nos agora sobre a escavação arqueológica propriamente dita e pelos resultados obtidos, em confronto, sempre que se achar necessário, com outros registos analisados. Assim, logo após a remoção mecânica da camada de toutvenant existente por toda área abarcada por esta sondagem – [u.e.100], escavámos, já manualmente, uma camada com cerca de 0, 50 m, que acabaríamos por subdividir em duas unidades estratigráficas distintas, tendo-as relacionado, dadas as suas características, com as demolições das antigas construções que aqui existiram, nomeadamente com a demolição, em época que não podemos precisar, de uma unidade industrial aqui existente. Embora as unidades 101 e 102 apresentassem as mesmas características, com destaque para a presença de inúmeros fragmentos de cerâmica de construção, com uma particular incidência para fragmentos de                                                               31 Com 18 m de comprimento, por 14 m de largura, sem que se tenha escavado, no entanto, os quadrados S8 e S9.  32 Veja‐se a este propósito o relatório de Mónica Ginja, correspondente à fase de registo e acompanhamento arqueológico feito  ao edificado demolido (GINJA, M. 2008).  33 Consulte‐se, para uma análise maior das acções levadas a cabo em trabalhos anteriores nesta zona, o relatório da intervenção  efectuada pela empresa DRYAS arqueologia Lda (NEVES, M. et al 2006.). 

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tijoleiras, apresentava-se porém mais compacta e com uma coloração negra. O contraste cromático desta unidade tem origem na inclusão da mesma de elementos carbonosos, com origem, eventualmente, na destruição de estruturas de combustão relacionadas com a antiga unidade fabril. Ambas serviram, pelo que pudemos observar, como níveis de aterro utilizados na regularização daquele espaço, já no século XX. Os elementos cerâmicos compulsados nestas camadas superficiais correspondem a produções, e referimo-nos apenas à análise possível dos fragmentos de faiança datáveis, dos séculos XIX/XX. A concentração de estruturas identificadas sobre o lado Noroeste da sondagem 1 do Bota-Abaixo, permite-nos inferir, assim como a análise deste espaço nas plantas antigas da cidade, que todas as edificações, por norma, se desenvolvem em torno de espaços a céu aberto. Estes espaços livres de construções em altura, poderão constituir pequenos quintais e/ou logradouros, se acaso se tratarem de zonas em redor de núcleos habitacionais, ou áreas funcionais, de serviço, se porventura corresponderem a pequenos complexos industriais, localizando-se aí, como parece aqui ocorrer, mesmo tratando-se já de construções que datamos de finais do século XIX, os tanques de depuração da matériaprima utilizada no fabrico de cerâmica. É precisamente na zona não edificada, a Sudoeste, que inúmeras pequenas bolsas e valas maiores, estas tendencialmente rectangulares, pejadas de fragmentos cerâmicos, essencialmente, embora nalguns casos seja evidente a utilização da mesma vala para colocação de outro tipo de detritos - mesmo restos alimentares -, foram identificadas, definidas e escavadas. Todas estas distintas unidades estratigráficas deverão estar, concerteza, relacionadas com a utilização daquele espaço como zona de lixeira industrial, comportando estas estruturas negativas um conjunto assinalável de material defeituoso e/ou inutilizado – caso dos trempes, por exemplo. Como sabemos, apenas uma pequena percentagem do material cerâmico produzido chegava à fase final do processo de fabrico, isto em condições de entrar no mercado. No processo, e pela conjugação de diferentes factores, donde não está ausente a tentativa de alguns produtores quererem reduzir o custo de produção em detrimento da qualidade da peça, centenas destes objectos em cerâmica acabariam por se perder. Assim sendo, o que fazer do lixo industrial produzido? Enterrá-lo, tão simples como isso. Muito deste desperdício haveria ainda, como nós mesmos tivemos oportunidade de constatar, de ser utilizado, embora com normas precisas por parte da edilidade sobre estes locais de depósito, como material de aterro. Muitos fragmentos da cerâmica de Coimbra, não só de faiança, ganharam corpo sobre as ínsuas do Mondego, numa tentativa, muitas vezes vã, de por cobro às tropelias do menino da Estrela. Sabendo-se à partida da importância desta zona da cidade, desde pelo menos o século XII, com a localização de um porto fluvial a escassas centenas de metros a Oeste deste local, tendo este servido as comunidades religiosas dos complexos monacais que se foram estabelecendo ao longo do tempo nos terrenos limítrofes da pequena urbe, com destaque inicial para o seu aproveitamento pelo mosteiro de Santa Cruz, acabando por se

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transformar, posteriormente, como ponto comercial ligado ao escoamento dos produtos manufacturados das oficinas de cerâmica de Coimbra, e isto logo no século XVI, era de prever que a intervenção arqueológica neste local se realizasse numa espécie de palimpsesto. A complexidade da leitura do documento revelou-se proporcional à cota de afectação da intervenção arqueológica. Se por um lado os caracteres impressos denotam nalguns casos uma caligrafia mais tardia, encontramos na maioria das camadas e contextos arqueológicos registos “paleográficos” característicos do século XIX. Tendo por base o registo arqueológico e a observação cartográfica disponível das plantas antigas da cidade de Coimbra, pensamos poder dividir as estruturas identificadas essencialmente por dois grandes momentos construtivos, repartidos entre os séculos XIX e XX. A análise da planta elaborada pelos irmãos Goullard, datada de 1873-1874, revelou-se, na ajuda à interpretação das estruturas por nós postas a descoberto, de extrema importância. Apresenta-se, no decorrer deste texto, a planta da sobreposição das nossas estruturas aos elementos cartografados pelo Engenheiro Francisco e Arquitecto Cesar Goullard. Do conjunto do edificado posto a descoberto nesta sondagem, há claramente diferenças entre as técnicas construtivas empregues e os materiais utilizados. Por outro lado, observámos uma nítida sobreposição entre construções, utilizando, as mais recentes, o interface de destruição das construções anteriores. Dada esta sobreposição, e uma vez que neste caso não se procedeu a qualquer desconstrução das estruturas, não se obteve uma planta fiável das mesmas. Este trabalho deverá ser tido em conta em trabalhos futuros. Do que nos foi dado observar, os muros mais antigos – [u.e´s 124, 178, 19, 180 e 181], construídos em alvenaria, com utilização de elementos calcários à face e posteriormente rebocados34, deverão fazer parte de dois distintos edifícios, não totalmente definidos por nós, dado o limite da área intervencionada, mas que julgamos bem assinalados na planta de finais do século XIX. O ligante das pedras de pequenas e médias dimensões, bem como da cerâmica de construção reutilizada, elementos que constituem estas estruturas, é o barro. Atente-se à imagem que se apresenta em seguida e que pretende ilustrar um troço de uma destas estruturas – Qd. N14, lado Noroeste.

                                                              34  Estes  muros  apresentam,  em  média,  uma  largura  em  torno  dos  0,  55  m.  A  altura  máxima  preservada,  sem  que  se  tenha  em  qualquer dos casos atingido a sua base, é de 1,30/50 m. 

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O primeiro desses edifícios, localizado próximo do ângulo Norte da sondagem, deverá corresponder a uma construção tendencialmente trapezoidal, desenvolvendo-se esta no sentido Sudeste/Noroeste. Os limites desta construção a Noroeste, a que fazemos corresponder a unidade estratigráfica 181, não foram totalmente postos a descoberto, encontrando-se a fachada Nordeste sob um muro possante de construção posterior – [u.e182]. Primitivamente, pois julgamos que terão existido obras de ampliação posteriores a 1874, localizando-se os muros dessa ampliação estrutural sob construção posterior, seria um edificio subdividido internamente por dois compartimentos. Embora a fachada Nordeste se encontre camuflada por parede mestra de uma construção que deverá já fazer parte das construções do século XX – [u.e.182] -, demolidas recentemente, julgamos ser possível dar aqui as medidas internas, muito aproximadas, de cada uma destas divisões. O primeiro destes compartimentos, a Sudeste, é ligeiramente menor, apresentando um comprimento máximo de 4, 35 m por 3, 35 m de largura. Paralelamente a este, a segunda divisão deste edifício, a Noroeste, apresenta um comprimento máximo de 4, 42 m por 3, 21 m de largura. Não foi observada qualquer entrada que desse acesso a qualquer um destes compartimentos, em nenhum dos muros por nós observados desta construção. Não se atingiram as bases de nenhum dos seus muros, encontrando-se, em ambas as faces, e até ao limite da cota de intervenção, o reboco de revestimento do esqueleto pétreo. As camadas escavadas no interior dos mesmos deverão corresponder a níveis de aterro/anulação destes espaços. Curiosamente, logo após a remoção da unidade de aterro superficial – [u.e.101] -, foram em ambos os compartimentos escavados dois estratos bem distintos, o primeiro - [u.e.146] – era composto, única e exclusivamente, por areia de rio, resultando daqui a recolha de material enquadrável nos séculos XVII e XVIII. Subjacente a este estrato arenoso, foi escavado um outro nível constituído por uma argila de tonalidade vermelha, muito arenosa – [u.e.147]. Acreditamos que ambos devam, a dada altura ter feito parte da matéria-prima utilizada para a produção de faiança, tendo sido, posteriormente utilizados para aterrar estes compartimentos. Adossada à fachada Nordeste da construção que descrevemos, desenvolve-se um outro corpo que fazemos corresponder a um segundo edifício aqui localizado. Ainda que não nos tenha sido possível delimitá-lo na íntegra, julgamos que, atendendo à sobreposição que fizemos entre as nossas estruturas e a planta dos Goullard, que corresponda a uma construção rectangular, tendo-nos sido possível observar parte da fachada Sudeste – [u.e.124], Nordeste, onde se adossou ao muro do primeiro edifício a ser construído – [u.e.178], e a fachada Noroeste – [u.e.189] -, tendo desta fachada apenas resultado a identificação de um pequeno troço de muro confinado à extremidade da sondagem. A compartimentação interna deste espaço rectangular maior, parece estar atestada, ainda que os seus limites e a relação estratigráfica não tenha sido completamente atestada, isto pela presença de estruturas que se lhe sobrepõem e que não foram desmontadas, por um pequeno troço de muro localizado próximo da base da nossa intervenção – [u.e.191] -, Página 53 de 145   

 

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entre os quadrados M9 e N10. Quer o tipo de aparelho, quer a argamassa que reboca as superfícies da estrutura é similar ao dos restantes muros da construção maior. Por outro lado, não podemos descurar estar na presença de uma construção mais antiga. A ter feito parte do edifício em análise foi, claramente, desconstruído numa fase posterior. Outra compartimentação entre as fachadas Noroeste e Sudeste deste segundo edifício é observável através de um muro – [u.e.188] -, com uma orientação Sul/Norte, localizado nos quadrados M11 E N11. Entre esta estrutura e o espaço que partilha com as unidades estratigráficas 124 e 118, foram escavados alguns estratos correspondentes a níveis de aterro, bastante compactos – [u.e´s , 169, 170 e 171] – com a recolha de abundante material arqueológico (cerâmica comum e vidrada, assim como alguma faiança do século XIX), essencialmente na primeira destas unidades. Entre este muro – [u.e 188] -, que poderá ser posterior ao hipotético segundo edifício em análise35, e os limites da nossa escavação entre os muros do que consideramos o segundo edifício, foram escavados todo um conjunto de camadas de aterro – [u,e.´s 165, 166, 165a, 167…(ver corte estratigráfico 3, neste relatório)], camadas essas relacionadas com a anulação do espaço de utilização primitivo e que terão servido, ao que tudo indica, para o estabelecimento de novas estruturas já no século XX. Uma dessas estruturas, assente na primeira destas camadas de aterro, e que julgamos fazer parte da última unidade industrial que laborou neste espaço, corresponde a um lastro de tijoleiras36 – [u.e.125] -, identificadas por entre os quadrados N8 e N9, e adossadas ao muro de construção antiga e que julgamos ter pertencido à fachada Sudeste do segundo edifício, como já dissemos. Não sabemos ao certo a que construção relacionar esta estrutura, duvidamos que tenha feito parte de um tanque de argila, isto porque se assim fosse, e à semelhança daqueles que acabámos por identificar nesta sondagem, teríamos, de algum modo, identificado parte dos seus contornos, o que não aconteceu. Provavelmente relacionar-se-ão, assim julgamos, com outras estruturas em tijoleira já identificadas na intervenção arqueológica de 2005 (NEVES, M.2006, p.56). Estruturas essas que correspondem, como já o dissemos, a uma unidade industrial que laborava, neste local, assim julgamos, ainda nos inícios do século XX.

                                                              35  Isto  porque  a  sua  extremidade  Sul  assenta  já  sobre  a  interface  de  destruição  da  fachada  Sudeste  do  mesmo,  evidenciando  também aspectos construtivos distintos, pela utilização de abundante argamassa na ligação dos seus constituintes, ao contrário do  ligante em argila dos muros mais antigos.  36 Tijoleiras de 0, 40 x 0, 40 m.  Página 54 de 145 

 

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Construção algo enigmática foi aquela que se identificou em redor do muro que fazemos corresponder à fachada Noroeste do segundo edifício. Trata-se de uma construção em pedra seca, sem qualquer tipo de argamassa, onde se empregaram pedras de calcário, muito bem alinhadas, com uma espessura máxima de 0, 30 m, que se encontra adossada à unidade 189, envolvendo-a. Não sabemos a que fim se destinaria esta construção. A estratigrafia observada neste local indica-nos que se encontra submersa por alguns dos níveis de aterro a que já aludimos anteriormente e que foram observados nesta parte . [u.e´s 165, 166 e 165a] -, desenvolvendo-se entre o topo desta estrutura e o corte deixado na parede onde se implantou a estrutura em tijoleira referida no parágrafo anterior – [u.e. 125] -, uma camada muito compacta, de tonalidade alaranjada – [u.e.167] -, que por sua vez se estabeleceu sobre um nível de areia e seixos de rio – [u.e.172] -, nível este, com cerca de 0, 20 m de espessura, que por sua vez se sobrepõe a uma camada, com apenas alguns centímetros - [u.e.173] – muito compacta e com restos de argamassa cinzenta, que atinge a cota e base desta construção em pedra seca. A partir da cota de base desta estrutura –[u.e.190] -, outros três distintos depósitos - [u.e´s 174, 175 e 176] - de aterro, com escasso material arqueológico, de cronologia recente – faianças do século XIX – foram escavados até se ter atingido a cota de base neste local. Estruturas claramente relacionadas com um contexto industrial, localizadas em área a céu aberto, provavelmente com correspondência à unidade industrial localizada a Sudoeste deste local, na sua larga maioria escavada em 2005, são dois (três?) tanques de depuração de argilas identificados no ângulo formado pelos muros da fachada Sudoeste do edifício 1 e Sudeste do edifício 2, provavelmente correspondentes às fachadas traseiras. de ambas as construções. Um destes tanques, com correspondência à unidade estratigráfica 126b, encontrava-se em bom estado de preservação. Desenvolvendo-se segundo um eixo SE/NO, apresentava um comprimento total de 3 m, por 1, 5 m de largura. As paredes internas encontravam-se revestidas a fina argamassa, constituindo-se o lastro da estrutura por tijoleiras de 0, 34 x 0, 34 m de lado. A altura preservada desta estrutura, com muros em redor extremamente argamassados, construídos com o recurso a alvenaria calcária e algum material de construção reaproveitado, era desde o lastro do tanque em relação aos muros perimetrais, de apenas 0, 22 m . Na sua escavação foram recolhidas amostras de uma argila, de cor vermelha, semelhante, pelo menos na cor, à existente na zona de S.Martinho do Bispo, em Coimbra. Apenas análises laboratoriais efectuadas de futuro, poderão atestar esta possibilidade. Importante seria, também, a comparação de amostras das pastas de diversos tipos de cerâmica, e a argila recolhida destes tanques de depuração. Sobre o lado Sudeste desta construção foram ainda identificadas quatro bases – [u.e´s 128, 128a, 128b, e 128c] – que, no enfiamento do tanque descrito, deverão ter

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constituído o suporte de um pequeno telheiro utilizado, certamente, pelos trabalhadores afectos ao trabalho de depuração das argilas. O segundo tanque, embora restem dúvidas sobre se apenas se trata de uma destas estruturas, escalonada, ou de duas distintas construções com o mesmo fim, encontra-se perpendicular à primeira destas estruturas já descrita, encontrando-se os seus limites são definidos pelo muro sudoeste da primeira destas duas estruturas, pela fachada Sudeste do edifício 2. Do limite Sudeste deste tanque apenas se identificou um elemento em calcário. Daquela que seria a extremidade Sudoeste da totalidade da estrutura apresenta-se definida por um pequeno alinhamento de tijolos de burro. Ao contrário do primeiro tanque descrito, esta estrutura encontrava-se em mau estado de preservação. Ainda assim, foi possível observar-se um escalonamento entre a sua extremidade Sudoeste, e o corpo maior, a uma cota inferior, a Nordeste. A diferença de cotas entre estes dois corpos, sendo que o primeiro se encontrava completamente desprovido do lastro em tijoleiras observado no corpo inferior, era de 0, 11 m. A ideia de poderem ser corpos escalonados, antes talvez de se constituir como um tanque totalmente autónomo, é reforçada por dois pequenos alinhamentos em tijoleira de burro37. Assim, o corpo menor, estabelecido a uma cota superior, apresenta um comprimento de 1, 57 m, por 0, 78 m de largura, aproximando-se o corpo maior, a uma cota inferior, das medidas do primeiro tanque descrito. Assim, este corpo maior, provavelmente da mesma estrutura, com lastro em tijoleiras, à semelhança do que vimos no primeiro caso descrito, apresenta um comprimento de 2, 78 m, por 1, 5 m de largura. Partindo do pressuposto, credível, que ambas as plataformas façam parte da mesma estrutura, teríamos um comprimento total da mesma na ordem dos 3, 90 m. Em ambas as estruturas se recolheram amostras de argila, ainda presente nos tanques, para análise. O que de facto sabemos em relação a estas construções, é que para além de estarem, inequivocamente, relacionadas com uma unidade industrial de produção de cerâmica, não necessariamente de faiança, atente-se – embora uma análise macroscópica ás pastas das faianças de finais de oitocentos indique a utilização de argilas avermelhadas -, é que estas estruturas foram construídas em cima de valas de aterro, com lixo industrial, donde se destacam, essencialmente, materiais enquadráveis nas produções de finais do século XIX. Característicos deste período encontramos a cerâmica dita de “ratinhos”, ou “ratinha”. Como tal, julgamos poder relacionar estas estruturas com uma das últimas unidades industriais de cerâmica que terá perdurado, nesta parte da cidade, pelo menos até inícios do século XX. Não há poços – ou outras estruturas de captação de água - associados a estas estruturas. Outra das estruturas por nós identificada, e que se implanta já sobre valas com materiais datáveis de finais do século XIX, com dois tramos distintos, embora contemporâneos, é uma construção de saneamento, provavelmente utilizada no transporte                                                               37 Alguns destes elementos apresentam a marca de fabrico: P. 

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de água – [u.e´s 108 e 108a]. O troço maior, sinuoso, desenvolve-se com base num eixo Sul Norte por toda a parte da extensão em largura da área por nós escavada, irrompendo, a dada altura, por parte do muro relacionado com a fachada Sudeste do edifício 2 – [u.e. 124]. O outro tramo, perpendicular a este, desenvolve-se pelas quadrículas O8 e O9, juntando-se ao corpo maior desta estrutura nesta última quadrícula. Provavelmente a água necessária durante o processo de depuração das argilas nos tanques era, por esta altura, servida por estas construções. Estas pequenas condutas apresentam um aparelho muito tosco, constituindo-se as paredes laterais á base de pequenas pedras e tijoleiras reaproveitadas, argamassadas, com cobertura de lajes e tijoleiras. O lastro propriamente desta estrutura, por onde a água circulava, obviamente, é constituído à base de telhas de meia-cana. Apresenta uma largura média de 0, 35 m, por 0, 30 m de altura. A construção mais recente identificada por nós durante a abertura desta sondagem, localiza-se na extremidade Norte da mesma, e, como já dissemos, alicerça-se, pelo menos em parte, sobre construção pré-existente, muito provavelmente destruída e aterrada por esta nova construção. Desta construção tardia, que deverá corresponder a edificação construída em pleno século XX, apenas nos chegaram aos alicerces e alguns dos muros que a constituiram e que se desenvolvem por parte de área não escavada localizada entre as nossas sondagens 1 e 2. Associada, de alguma forma, assim julgamos, a esta construção, é um lastro pétreo, muito argamassado identificado no interior do compartimento NO do primeiro dos edifícios do século XIX a que aludimos anteriormente. Quer os elementos pétreos quer a argamassa utilizada, é, em tudo semelhante, àqueles utilizados na nova construção. Constituiria esta estrutura – [u.e. 187] - uma base de apoio á construção do novo edificio? Não sabemos. Certo é que se estabelece sobre os níveis arenosos que obliteraram a sala do edifício mais antigo, e não lhe achamos outra utilidade que não a de uma plataforma, lastro pétreo algo regular, embora pouco espesso, confinado no interior de um espaço útil anterior, junto ao topo da cota do interface de destruição da estrutura mais antiga. Terá servido como base de um corpo em altura projectado do novo edifício para aquele lado? A nova construção, de que as unidades estratigráficas 182 – parede mestra com 0, 85 m de largura e fachada a Sudoeste da mesma -183, 184, 185 e 186 fazem parte, revela um edifício de configuração provavelmente rectangular, subdividido internamente por três distintos compartimentos, com dimensões não apuradas. Nalguns destes espaços exíguos, pelo limite da área da sondagem, não puderam ser totalmente escavados até à cota de afectação de obra. A escavação possível do seu interior revelou tão só níveis de aterro, pejados, nalguns casos de cerâmicas comuns e vidrados de chumbo. Julgamos que este novo edifício, embora com as devidas reservas, corresponda a uma construção representada em cartografia da cidade datada de 1934. Também aqui se apresenta, mais á frente neste relatório, a linha delimitadora da área aberta por nós em escavação e o seu campo correspondente nesta carta.

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Será importante, num futuro desenvolvimento dos trabalhos de arqueologia neste local, que se proceda à desconstrução de algumas destas estruturas por forma a conseguirse uma planta fiável de todas as construções identificadas que, como vimos, não correspondem todas à mesma fase edificativa. Por último, queremos apenas referir, e agora voltando um pouco ao início do ponto da descrição destas estruturas, que ficou demonstrado, arqueologicamente, que muros relacionados com o primeiro dos edifícios descritos, construção essa que, segundo pensamos, está bem patente na planta da cidade de 1873/1874, embora os muros dessa ampliação não estejam ali representados, pelo que julgamos ter sido um alargamento efectuado já posteriormente a 1874, se encontram subjacentes a esta nova construção. Será importantíssimo, voltamos a referi-lo, a desconstrução controlada de algumas destas estruturas por forma a serem esclarecidas algumas dúvidas, e/ou corroboradas algumas das hipóteses que aqui levantámos.

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52.2 SONDAGEM 2

A sondagem 2 da área do Bota-Abaixo, implantada com apenas 2 m de distância para Nordeste em relação à sondagem 1, corresponde a um rectângulo de 14 m de comprimento, por 10 m de largura, abarcando uma área total de 140 m2. A escavação arqueológica desta sondagem, permitiu por em evidência todo um conjunto de estruturas localizadas, na sua maioria, sobre a extremidade Nordeste da sondagem. À semelhança do que pudemos observar em relação às construções identificadas na sondagem 1, também aqui parece existir uma clara disposição destas edificações nas proximidades de áreas de logradouro e/ou quintais. Toda esta zona a céu aberto serviu, também, durante pelo menos a fase final do século XIX, para a colocação, mediante prévia abertura de valas por sedimento pré-existente [u..e.204] -, de muita quantidade de cerâmica inutilizada, naquilo que deve ser entendido como área de despejo, assim julgamos, de “lixo” industrial produzido pelas pequenas unidades industriais presentes nesta parte da cidade.

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Esta prática, comum desde pelo menos os finais do século XVI, sendo que o bairro das olarias era considerado um dos focos de infecção da cidade pelas águas encharcadas que nele ficavam das cheias do Mondego e pelas imundícies que ali se acumulavam como lugar de despejo da cidade (CARVALHO, J.M.,1921, p.33), parece ter vigorado, dadas as evidências arqueológicas, até finais do século XIX, em particular nesta zona precisa em análise. Pretendia-se, com esta medida, sanar, de certo modo, os efeitos nefastos para a população pelas águas estagnadas – foco de infecção e doenças - após as várias e sucessivas cheias a que esta zona esteve sujeita. Pelo aterro destes locais – que as ditas Alagoas se intupissê logo De aReas e entulho (op.cit –vereações, 1587-1588, fls.128 e sgs., p.34) - subtraiam-se as áreas que perduravam alagadas pelas cheias do Mondego, diminuindo-se, com esta acção, os maus cheiros e, principalmente, o risco de infecções e doença a que parte da população que ali residia e/ou trabalhava estava sujeita. Embora não nos tenha sido possível clarificar convenientemente aspectos relacionados com momentos construtivos precisos, nem tão pouco atestar de forma segura momentos de ocupação e/ou abandono para alguns destes espaços, julgamos que estas construções, submersas por níveis de aterro que comportam material enquadrável no século XIX, poderão corresponder a contextos habitacionais cuja origem poderá remontar, ainda que esta hipótese careça de confirmação, ao século XVIII. Por outro lado, dado o limite imposto pela área a escavar, torna-se difícil uma compreensão maior dos contextos, parcelares, em destaque. Parece-nos evidente, ainda assim, uma clara relação entre algumas das construções identificadas na sondagem 1 que deverão, pelo menos em parte, prolongarse nesta sondagem. Importante, também neste caso, foi a confrontação das estruturas arqueológicas aqui localizadas sobre a cartografia antiga da cidade, nomeadamente aquela que existe, com pormenor, de finais do século XIX. Foi com base nessa confrontação de dados, que confirmámos algumas das nossas suposições iniciais em relação a alguns dos espaços observados. Na maioria dos casos, o topo dos muros foram identificados logo após a remoção das camadas de toutvenant – [u.e.200], e de um primeiro nível de aterro – [u.e.201], com correspondência com a unidade estratigráfica 102 da sondagem 1, a cerca de 0, 30/0,50 m de profundidade em relação à cota actual do terreno. De um modo geral, todos apresentam analogias do ponto de vista técnico-contrutivo, traduzindo-se por muros em alvenaria que foram edificados mediante a utilização de elementos calcários, bem argamassados e com faces rebocadas. Característico destas construções, é a utilização nos pavimentos de seixos de rio – quartzitos - que, à semelhança dos elementos calcários dos muros, embora se utilize o calcário também nalguns destes empedrados, seria matéria-prima de baixo custo e fácil acesso. Não só os pátios das casas os utilizavam como as próprias ruas da cidade os passaram a usar de forma generalizada.

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Compreendida entre as quadrículas M19, M20 e O19, O20, foi identificado por nós um corredor, entre muros – [u.e´s 222 e 224, mais precisamente] – que fazemos corresponder a um desses arruamentos. Julgamos ser possível aqui relacionar o piso de seixos, escalonado, com uma cota antiga de circulação do antigo Beco do Amorim. Na projecção que fizemos das nossas estruturas sobre a planta da cidade dos irmãos Goullard, que aqui apresentamos, parece-nos evidente os limites a Sudoeste desta ruela sem saída. Ao Beco abriam-se alguns dos acessos a propriedade privada, sendo possível observar-se ainda, nos limites desta ruela a Oeste, uma entrada em degrau – [u.e.227Qd.O19] -, delimitada por ombreiras aparelhadas e arestas chanfradas, denotando o bisel construção mais antiga. No muro onde esta entrada se abriu, de canto com recorte semicircular e fechando a viela com a parede que se localiza imediatamente no lado oposto – [u.e.224] -, seria, em fase posterior, adossado um novo muro – [u.e.223]. Esta construção, mais recente, corta, pela sua construção, os níveis de aterro que preenchiam os espaços das antigas construções nesta zona. Curiosamente, e apesar da largura deste Beco ter sido encurtada, tendo passado neste ponto de uma largura primitiva de 2, 35 m, para um corredor de apenas 1, 53 m, não se verificou o emparedamento pela construção do novo muro – [u.e.223] -, a antiga passagem. Tal como já o referimos, o piso de empedrado desta viela, pela diferença de cotas observada entre a pequena porção que soçobrou a revolvimentos a cotas inferiores dos elementos que o constituíam na parte Noroeste, e o pequeno patamar, com restos de argamassa, localizado junto à entrada com os elementos chanfrados, desenvolver-se-ia, assim julgamos, não de forma plana, mas escalonada. A referida entrada, com ombreiras chanfradas, dava acesso a um espaço cuidado, onde o piso de circulação era também ele constituído por um empedrado feito à base de quartzitos, observando-se, para além destes elementos e junto à entrada, uma moldura composta de finas lajes calcárias, rematada, em linha dupla sobre o seu lado Noroeste, por seis tijoleiras. Sobre este empedrado seria posteriormente colocado, escapando-nos a intencionalidade, um pequeno murete, construído à base de elementos calcários boleados, com uma única fiada de pedras, sendo observável um alinhamento cuidado e intencional apenas sobre as suas faces voltadas a Sudoeste. Terá constituído esta estrutura a base de assentamento de uma construção em material perecível? Parece-nos, ainda assim, a hipótese mais plausível. Atendendo, também, ao facto da diferença de cota entre a soleira da entrada e o piso do compartimento – empedrado – rondar os 0, 40 m, poderemos estar perante uma solução, desenvolvida a uma cota intermédia, facilitando o acesso ao interior da casa e a saída para o exterior.

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Este espaço, que não sabemos se porventura não terá sido inicialmente um pátio, à semelhança de outros por nós identificados no decorrer da nossa intervenção, poderá, a dada altura, ter-se constituído como uma divisão interna – coberta - da casa. Dessa eventual passagem de zona a céu aberto para espaço coberto, poderia estar também relacionada a construção do muro que interpretámos anteriormente como possível contraforte –[u.e.223] –, elevando-se, por adossamento a esta, a antiga fachada de muro de quintal. Parece-nos, por outro lado, ter sido possível observar uma outra remodelação importante neste espaço, e que poderá, eventualmente, contribuir para a interpretação que anteriormente avançámos. A camada que se encontrava imediatamente sobrejacente a este empedrado – [u.e.220] – parece corresponder, dadas as suas características38, a um nível de aluvião, provavelmente relacionado com uma das cheias periódicas que assolavam outrora esta zona. Sobre este nível, acabaríamos por escavar um outro depósito – [u.e.215] -, com algum material arqueológico - compondo-se este essencialmente de fragmentos de loiça vidrada e algumas faianças dos séculos XVIII e XIX - e que terá servido, assim julgamos como base de preparação a restos de um piso identificado na extremidade Nordeste deste espaço – [u.e.236]. Interpretámo-lo assim, embora pouco desta eventual estrutura se tenha preservado, pela grande diferença observada na sua compacticidade – ainda que se tratasse de uma camada pouco espessa, era bastante compacta – e dada a regularidade do topo da sua superfície. Entre o topo desta camada, que como já dissemos se encontrava confinada à extremidade Nordeste do espaço em apreço, e a soleira da entrada deste compartimento, a diferença de cotas ronda, apenas os 0, 10 m, sendo o “piso” a estrutura que se estabelece a cota inferior. Sobre a extremidade Nordeste da escavação, mais precisamente no espaço correspondente ao quadrado M18, desenvolvia-se um outro compartimento, não totalmente escavado, que, pelas evidências arqueológicas, a ter feito parte do mesmo núcleo habitacional terá sido, assim julgamos, com o compartimento descrito anteriormente, do mesmo espaço habitacional. A estratigrafia aqui observada apresentava grandes diferenças entre o compartimento de piso em seixos de rio, evidenciando-se, logo após a remoção dos níveis superficiais [u.e´s.200 e 2001] – uma colmatação do espaço por sedimento arenoso [u.e.234], comportando este material de cronologia mais antiga – séculos XVII, XVIII. Esta realidade tinha já sido observada pelos níveis que encerraram o compartimento 1 e 2 do edifício 1, que aparentemente se prolonga para esta sondagem, da sondagem 1. Assim, se por um lado assistimos nalguns dos compartimentos a colmatação dos espaços do antigo edificado com níveis de aterro que comportam diferentes camadas de entulho, nalgumas com muito material arqueológico associado, verificamos que, por outro lado, houve, noutros casos, a colmatação de outros com apenas com um nível arenoso, limpo, de onde se recolheu parte do material de cronologia mais antiga, embora se encontrem igualmente presentes fragmentos de faianças de finais do século XIX.                                                               38  Nível  composto,  essencialmente,  por  uma  areia  fina  de  cor  cinzento  escuro,  muito  “lavada”  e  com  escasso  material  arqueológico. 

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Esta situação parece demonstrar, efectivamente, que o encerramento de espaços comuns de um mesmo edifício, assim pensamos, possa ter ocorrido em distintos momentos. O objectivo, esse, parece-nos claro. Estes aterros, ainda que tenham acontecido em fases distintas, serviram, concerteza, para que se encerrasse definitivamente alguma da antiga área edificada. Até determinada cota, de modo a que se pudesse, de novo, construir novos edifícios sobre antigo espaço edificado. No interior do compartimento localizado na extremidade NO desta sondagem, com correspondência ao quadrado M18, foi identificada uma estrutura – [u.e.253] -, adossada às paredes que fecham este espaço a Nordeste e a Sudeste39, constituída à base de tijolos em cauda de andorinha, em associação a embasamento de alvenaria argamassado e rebocado. Escapa-nos, por ora, a funcionalidade desta construção, podendo, ao que parece, estar associada a um banco corrido. Durante os trabalhos arqueológicos nesta zona, tivemos ainda oportunidade de afundar parte desta quadrícula em cerca de 0, 50 m, tendose, junto a esta estrutura, identificado vários fragmentos de tijoleiras em cauda de andorinha, certamente com origem no aluimento desta estrutura, em associação a algum material arqueológico dos séculos XVIII e XIX. Sobre o lado Nordeste daquele que julgamos corresponder ao antigo Beco do Amorim, identificámos um pequeno patamar, formado por elementos em calcário e alguns fragmentos de cerâmica de construção – [u.e.253] -, que faria parte de um antigo acesso, localizado imediatamente defronte, no muro que define o espaço da viela por este lado – [u.e.234] -, entretanto emparedado. Sobre este patamar foi, posteriormente, construído um novo muro de divisão de propriedade – [u.e.251] -, com desenvolvimento para Nordeste e com correspondência a estrutura identificada na sondagem 3, como veremos, tem a particularidade de ter uma pequena caleira40, constituída por lastro de tijoleiras e lajes calcárias, com rebordo em argamassada, a bordejá-la pelo seu lado Nordeste – [u.e.252]. Esta caleira, bem como o muro onde se implanta, tinham já sido observada pela abertura da sondagem 3 da intervenção de 2005 (NEVES, M.J.2006, p.56). Não sabemos até que ponto esta estrutura, ao invés de estrutura de condução de águas, como foi interpretada, não estará antes relacionada com um eventual canteiro, uma vez que termina, a Sudoeste, adossada, a muro primitivo – [u.e.224]. O muro e a caleira/canteiro que comporta, terão sido, cronologicamente, das últimas estruturas a serem construídas nesta parte. Estabelecem-se sobre grandes depósitos de aterro observados na extremidade Norte da sondagem, cobrindo, eles próprios o patamar descrito anteriormente –[u.e.253]. Terá sido, aquando do alteamento deste espaço, que pelos materiais identificados não terá sido anterior à segunda metade do século XIX, que se terão obliterado algumas das antigas passagens presentes no muro – [u.e.224] – que definia a ruela sem saída a NE. Uma dessas passagens ao beco encontrava-se, como já o dissemos, defronte do pequeno                                                               39  Neste  muro  –  [u.e.248]  ‐,  foi  observada  uma  antiga  entrada  emparedada,  cortada  já  pela  construção  do  muro  com  correspondência à unidade estratigráfica 222.   40 Estrutura com 0, 30 m de largura por 0, 10 m de altura (desde o topo do lastro em tijoleira até ao topo do rebordo lateral, em  argamassa.  Página 70 de 145 

 

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patamar, no quadrado O21, a outra, delimitada ainda por uma das ombreiras, e também emparedada, encontra-se na extremidade Nordeste deste muro, com correspondência ao quadrado M20. Sobre a extremidade Sudeste da sondagem, desenvolvia-se um outro muro – [u.e.249] – que, sem qualquer estrutura associada, embora se tenha identificado um troço de muro de construção que já a este se adossou –[u.e.250] -, poderá corresponder, assim julgamos, a mas um muro de divisão de propriedade, delimitando, muito provavelmente, o espaço de quintal/logradouro, do núcleo principal de estruturas identificado na escavação da sondagem 3 do Bota Abaixo. Apresenta, à semelhança de todos os outros, afinidades do ponto de vista técnico-construtivo, correspondendo a uma estrutura com cerca de 0, 5 m de largura, construída em alvenaria calcária, argamassada e com faces rebocadas. Refira-se ainda que na fachada desta estrutura voltada a Este, com correspondência ao quadrado Q22, foi possível observar-se uma primitiva passagem, entretanto emparedade, com cerca de 1, 20 m de largura. Apenas para concluirmos, queremos deixar bem claro que nos parece evidente uma associação entre parte das estruturas identificadas na extremidade Nordeste da sondagem 1, e aquelas que se desenvolvem imediatamente sobre a extremidade Noroeste desta segunda sondagem. Seria, portanto, de todo conveniente, escavar-se a faixa de terras área correspondente ao um corredor de 2, 00 m de largura, por 14 m de comprimento que, localizada entre estas duas sondagens, dificulta, por não ter sido escavada, um melhor entendimento da planta geral das estruturas arqueológicas postas a descoberto e da sua própria relação estratigráfica.

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5.2.3. SONDAGEM 3  

À semelhança de todas as outras sondagens arqueológicas efectuadas neste local, também a sondagem 3 do Bota-Abaixo se materializou sobre o espaço correspondente ao futuro eixo do canal do Sistema de Mobilidade do Mondego. Implantou-se, com uma distância mínima de 2 m, a Noroeste da sondagem 2, abarcando uma área total de 252 m2. Julgamos, como já o havíamos feito para todas as restantes sondagens abordadas até aqui relativas à zona da intervenção arqueológica em apreço – Bota-Abaixo -, ter sido importante a sobreposição das construções postas a descoberto a alguma da cartografia antiga da cidade, nomeadamente aquela que diz respeito ao século XIX. Acreditamos, pelo que dessa sobreposição resultou, que algumas das estruturas arqueológicas postas aqui em destaque, se encontram bem marcadas na planta efectuada pelos irmãos Goullard, em 1873/1874. Não achámos correspondência, por outro lado, com quaisquer estruturas observadas na planta do antigo bairro das olarias que, ao que parece, terá sido efectuada ainda no primeiro quartel de Oitocentos. Para uma maior facilidade expositiva da nossa parte, e de maneira a facilitar a compreensão do leitor em relação à nossa exposição, resolvemos dividir a totalidade da área abarcada por esta sondagem por seis distintos sectores – de 1 a 6. Para além das duas plantas efectuadas, tendo por base o registo, por dois planos, de todas as estruturas identificadas, apresentamos também aqui uma planta esquemática onde figuram, dentro dos limites físicos respectivos, todas as zonas objecto de análise. Neste plano esquemático, bem como nas duas plantas arqueológicas que aqui se apresentam –plano 1 e 2 – é assinalado, a tracejado, as estruturas identificadas pela intervenção de 2005, da responsabilidade da empresa Dryas, correspondendo estas ao conjunto edificado 4 da sondagem 5. Após os primeiros registos fotográficos, e da remoção mecânica da camada de toutvenat que também aqui existia, pôde dar-se início à escavação manual da sondagem em apreço. Essa escavação acabaria, tal como aconteceu com todas as restantes sondagens abertas nesta parte, por decorrer em dois momentos distintos, o primeiro ainda no ano de 2008 e o segundo momento, por alargamento da primitiva área escavada, já no decorrer do ano de 2009. Não será demais referir, nesta pequena introdução aos trabalhos aqui realizados, que um dos objectivos principais da escavação desta sondagem seria, se possível, a caracterização de uma estrutura torriforme, designada por “torreão” - implantada, grosso modo, no quadrado M30 da quadriculagem geral (parcela 9 do projecto) –, tendo a mesma sido preservada aquando da demolição recente, praticamente integral, do edificado ainda existente nesta zona. A estrutura em causa seria anterior, portanto, ao conjunto de

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construções envolventes entretanto demolidas. Sabemos hoje que esta suposição inicial não é verdadeira, como teremos hipótese de demonstrar. O desenrolar dos trabalhos de escavação manual desta sondagem, permitiu-nos atestar a presença de estruturas arqueológicas a pouco mais de 0, 10 m de profundidade, essencialmente pelo aparecimento do topo de alguns muros que, ao que tudo indica, terão feito parte dos antigos edifícios aqui demolidos no decorrer das intervenções arqueológicas anteriores (GINJA, M.2008). A maioria destas construções, sobretudo as que se identificaram sobre o lado Noroeste da área escavada – sectores 1, 2, 3 e 4 -, encontravamse submersas por níveis de entulho que comportavam material diverso, de cronologia recente. Contrastando com a “superficialidade” da maioria das estruturas referidas no parágrafo anterior, foram outras identificadas na extremidade Este – sector 5 - que denotam, pela cota onde se implantam, a praticamente 2 m de profundidade, bem como pelas técnicas construtivas utilizadas uma antiguidade em relação às primeiras. Embora não seja fácil destrinçar, dada a profusão de construções identificadas dentro dos limites impostos pela área a escavar, a que contextos claros se reportam as mesmas, parece-nos perfeitamente possível a relação, pelo menos de grande parte das ruínas que se encontram a níveis superficiais, com contextos habitacionais. Neste conjunto, assistimos à presença de empedrados em associação, em mais que um caso, a estruturas de captação de água do subsolo – poços. Julgamos estar, por isso mesmo, na presença de áreas a céu aberto, com correspondência, eventualmente, com as traseiras de diversas habitações que, ao que julgamos, teriam as entradas principais voltadas à Rua João Cabreira. Ao nível da construção, os muros do casario localizado na extremidade Noroeste da sondagem, apresentam características comuns, tratando-se de construções que apresentam em média 0, 55 m de largura, feitos com o recurso a alvenaria irregular, onde se empregam elementos calcários bem argamassados. Todas as paredes deste complexo se encontram, sem excepção, rebocadas. É óbvia, por outro lado, e atente-se a este propósito as plantas que aqui apresentamos, a relação entre estruturas identificadas em sondagens distintas que, embora sem relação física actual entre elas pelo processo de escavação em si, facilmente se podem associar. Julgamos que é notória a correspondência entre um muro de divisão de propriedade identificado nesta sondagem – [u.e.347 – sector 1], com estrutura anteriormente identificada aquando da escavação da sondagem 2 – [u.e. 251 desta sondagem]. Esta hipótese, perfeitamente plausível, leva-nos a equacionar a possibilidade de ter existido um acesso primitivo, posteriormente emparedado, a uma destas propriedades, pelo Beco do Amorim. Esse acesso, partindo do Beco do Amorim, seria, muito possivelmente feito entre muros, pertença de distintos proprietários. Das estruturas identificadas no designado Sector 1, localizado na extremidade Oeste da zona intervencionada nesta sondagem, pouco podemos adiantar dado o limite da área aberta neste local. Destas, imediatamente descobertas após a remoção da camada de Página 79 de 145   

 

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entulhos superficial – [u.e.300] – há a destacar dois troços de muro –[u.e´s. 360 e 359], o primeiro, com uma orientação Sudoeste/Nordeste, encontrava-se adossado a Nordeste ao muro que divide, assim julgamos, duas distintas propriedades, e um segundo muro, identificado nos limites Oeste da sondagem, com uma orientação Noroeste/Sudeste. Ambas as estruturas são construídas com o recurso a pedras calcárias bem argamassadas.

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Em articulação com estas duas estruturas, bem como com um terceiro muro – [u.e.358] - que separa já este conjunto das construções relacionadas com o Sector 2, identificou-se uma porção do que julgamos poder tratar-se de um piso – [u.e.361], constituído à base de seixos de rio. Apenas o desenvolvimento da intervenção arqueológica para Oeste poderia esclarecer com maior rigor as estruturas aqui postas em evidência. Sobre o lado Nordeste deste primeiro núcleo de estruturas, desenvolve-se todo um outro conjunto de construções – Sector 2 -, podendo observar-se, nalguns casos, uma relação directa, como já o referimos anteriormente, com algumas das edificações que tinham já sido observadas durante a abertura da sondagem 2. Uma dessas construções – [u.e.347] -, com prolongamento pela sondagem 2, desenvolvia-se paralelamente a outro muro identificado no quadrado M24 da sondagem 3 – [u.e.358a], podendo-se conjecturar sobre a presença de um pequeno corredor de circulação, desenvolvido em parte entre muros partilhados por distintos proprietários, que viria desembocar na sua extremidade Nordeste a uma área de pátio, com piso de empedrado – [u.e.312] -, onde também se identificou um poço41 – [u.e.345]. O pátio a que nos referimos anteriormente, com piso de circulação, em torno de um poço, empedrado, compreende os espaços ocupados dos quadrados L, M e N, 25 e26. Trata-se com toda a certeza de um espaço a céu aberto, de planta subrectangular42, ocupando uma área total - confinada entre os muros com correspondência unidades estratigráficas 347 a SE, 358 a SO, 357 a NO e 305 a NE – de 23 m2. Um acesso a este espaço, aberto no muro que o define a Nordeste – [u.e.305] – haveria de ser, em época que não podemos precisar, emparedado. Sobre o lado Noroeste deste espaço identificámos uma outra zona com piso empedrado – [u.e.313] -, constituída a uma cota ligeiramente mais elevada e apenas separada desta, embora comunicantes, pelo muro com correspondência à unidade estratigráfica 357. A passagem que faz a comunicação entre estas duas áreas, com muita probabilidade daquela que se encontra junto à extremidade Noroeste da área escavada corresponder a um saguão - “ponte” entre a rua e o coração da casa -, encontra-se bem marcada pela interrupção do muro que os divide no ângulo Norte da área mais interior. A colocação de dois blocos em calcário, nesse mesmo ângulo, que acreditamos tenha ocorrido em fase posterior, não fechou por completo o acesso, mas provavelmente terá reduzido, propositadamente, a largura da abertura inicial. É de referir ainda que pequenas porções destas áreas calcetadas encontram-se completamente desprovidas de elementos pétreos. Confinantes com muros, podemos supor que se poderão tratar de pequenos canteiros onde se poderia, eventualmente, plantar                                                               41  Estrutura  de  planta  circular,  construída  por  intermédio  de  elementos  calcários  bem  argamassados,  apresentando  a  face  da  estrutura algum reboco preservado, com um diâmetro máximo de 1, 80 m. O diâmetro da abertura de boca é de 0,94 m.  42 Com 5, 29 m de comprimento por 4, 35 m de largura. 

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algumas plantas e/ou árvores de fruto, diminuindo-se, desde modo, a inospidez das áreas a céu aberto. Sobre o lado Nordeste destes dois distintos espaços empedrados escavou-se o interior de um compartimento que, pelas evidências arqueológicas, deverá ter comportado um piso inferior – cave. Nas paredes internas do mesmo, definidos pelos muros com correspondência às unidades estratigráficas 305 a Sudoeste, 305a a Sudeste e 303 a Nordeste, foram observados todo um conjunto de orifícios que deverão ter feito parte do piso, ao nível do rés-do-chão, em madeira. A escavação do seu interior apenas evidenciou, após a remoção das camadas de entulho superficiais, um enchimento homogéneo, de características arenosas tendo-se neste estrato – [u.e.307] – recuperado algum material arqueológico de cronologia diversa, donde sobressaem materiais enquadráveis em produções do século XIX, associado a alguma cerâmica de construção, fragmentos de argamassa e alguns quartzitos. Acreditamos que o encerramento propositado, assim julgamos, deste compartimento inferior, esteja, de algum modo, associado a pequenas remodelações por nós observadas ao edificado localizado nesta parte. O emparedamento da passagem observada no muro que o definia a Sudoeste, bem como o alteamento, como veremos, de alguns dos pisos de circulação, que ao que tudo indica terão ocorrido em finais do século XIX, poderão relacionar-se, eventualmente, com o encerramento definitivo desta divisão. Por outro lado, tratando-se de uma cave, estaria sujeita aos efeitos nefastos das inundações do Mondego pelo que, talvez se tenha optado por resolver definitivamente o problema subtraindo-se ao conjunto dos espaços deste espaço habitacional, a cave da habitação. Por outro lado, parece-nos por demais evidente, que o encerramento da passagem observada no referido muro, deu lugar à criação de um conjunto de edifícios completamente distintos. É provável que os espaços empedrados que atrás referimos, se relacionem com uma habitação cujo corpo principal possa desenvolver-se junto aos limites da Rua João Cabreira, sendo estes espaços de calçada, onde se localiza um poço, as partes traseiras, e a céu aberto, dessa casa. Pelo encerramento da referida passagem não há, pelo que pudemos constatar, qualquer comunicação entre o segundo conjunto de estruturas descrito – Sector 2 -, o compartimento com cave e as áreas de empedrado que se desenvolvem a Nordeste deste, provavelmente já relacionadas com uma terceira habitação. Dentro das estruturas que julgamos poder relacionar com um terceiro espaço habitacional- Sector 3 - encontram-se, para além do compartimento com cave que incluímos neste conjunto, outras duas calçadas. O primeiro destes pisos [u.e.302], identificado a pouco mais de 0, 10 m de profundidade, ladeava o compartimento com cave a Nordeste. Era constituído à base de pequenas pedras calcárias, desenvolvendo-se até ao muro que fechava este espaço a Sudeste – [u.e.340]. A segunda calçada, composta por seixos de rio, desenvolvia-se à mesma cota da anterior, no seu enfiamento para Sudeste. Entre estes dois pisos encontrava-se um muro – [u.e.340] – que fazia a separação entre o que seria uma dependência coberta da casa, a que se associa o primeiro dos

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empedrados descritos, e uma zona de pátio, a céu aberto, com muito provável relação com um espaço localizado nas traseiras desta habitação. Nesse muro encontrava-se bem marcada a passagem entre os dois espaços empedrados, definindo-se pela interrupção do prolongamento dessa estrutura a Nordeste, e por soleira composta por duas fiadas de tijoleiras. O acesso a que nos reportámos é visível num dos registos fotográficos efectuados por Mónica Ginja, aquando dos trabalhos de registo prévio do edificado antes da sua demolição (GINJA.M., 2008, fig.227). Nessa foto é possível ainda observar-se que esta entrada era ladeada, sobre o lado esquerdo da mesma, por uma pequena janela. A análise deste registo fotográfico veio corroborar a hipótese que tínhamos inicialmente avançado. Dada a pouca profundidade alcançada em escavação nesta zona, uma vez que estes pisos se situavam a menos de 0, 20 m de profundidade, a decisão, discutida em reunião de obra com todas as partes envolvidas, foi pela sua desconstrução, procurando escavar, tanto quanto possível, em profundidade aquele local. A remoção deste primeiro piso de circulação – empedrado -, haveria de dar lugar, após a remoção das suas camadas de preparação – [u.e.350] – à identificação de um novo empedrado, bem conservado sobre a extremidade Noroeste da sondagem e muito destruído no segundo dos dois espaços entre muros, mais a Sudeste43. Na camada de preparação – [u.e.350] - do piso constituído por pequenas pedras calcárias – [u.e.302] – foi recolhida uma moeda cunhada em 1882. Ou seja, a remodelação ao nível dos pavimentos, terá ocorrido logo em finais do século XIX, pelo menos. A remoção do piso empedrado na zona que confinava já com a fachada Nordeste do “torreão”, comprovou a existência de uma outra calçada, em muito mau estado de preservação. Desta feita, demos por terminada a escavação ao nível do segundo empedrado – [u.e.357] – identificado na área a Noroeste, constituído na sua maioria por elementos em quartzito e calcário, evidenciando-se uma linha de corredor, formada por elementos subrectangulares de maiores dimensões, mas optámos por aprofundar em escavação a zona a Sudeste, onde, como referimos, o empedrado primitivo – [u.e.353] - se encontrava em muito mau estado. Dessa acção, correspondendo a escavação levada a cabo em profundidade a uma pequena faixa de terra escavada, com 1, 80 m de largura, implantada junto à fachada Nordeste da estrutura designada por “torreão”44, e entre os muros que definiam este espaço a Noroeste – [u.e.340] – e a Sudeste – [u.e.336] -, haveria de ficar atestado o corte de estratos, pela construção da estrutura torriforme – [u.e.300b] –, com materiais enquadráveis, essencialmente, nos séculos XVIII, podendo alguns recuar até ao último quartel do século XVII. Referimo-nos, em concreto a materiais identificados numa camada de terras castanhas escuras, muito plásticas e com abundante material arqueológico,                                                               43 Veja‐se a planta correspondente ao Plano 2 desta sondagem.  44 Com correspondência aos quadrados M30/31 e N30/31, da quadriculagem geral. 

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constituído, essencialmente, por fragmentos de faianças do século XVII e XVIII. Esta unidade, foi observada, na área escavada em profundidade, em torno desta estrutura. Pelo exposto, ficou demonstrado estratigraficamente, que quer os níveis correspondentes ao estabelecimento do piso mais antigo, quer os alicerces da estrutura do “torreão”, se implantaram e cortaram, respectivamente, este depósito – [u.e.355]. No entanto, parece-nos que os estratos que comportam material mais antigo, tendo este sido logo identificado, ainda que em menor número, na camada relacionada com a destruição do primitivo piso da área Sudeste – [u.e.351] – deverão corresponder a depósitos de aterro, cronologicamente mais antigos que todos aqueles que por nós foram observados, que, na sua larga maioria, serão já do século XIX. Assim, pensamos que ficou efectivamente comprovada, que a construção da estrutura dita “torreão”, bem como os muros que com ela se relacionam, nunca poderá ser anterior ao século XVIII, pelo menos. Tendo levantado, desde a sua identificação, alguma surpresa, dada a própria configuração do edifício, bem como dos elementos que apresenta, nomeadamente as aberturas da fachada Nordeste, somos levados a equacionar a hipótese desta ter sido construída como estrutura de captação de água do subsolo a partir do interior do edifício onde esta “torre” se implantava, principalmente. Seria, concerteza, uma obra notável de engenho hidráulico e arquitectura civil. Senão vejamos, como se explica a estrutura negativa, de configuração circular, no corpo da torre45? Não constituiria porventura esta o próprio poço de captação de água do subsolo? Deixaria, pela sua utilização, de ser necessário a ida à rua para obtenção do elemento precioso às lides domésticas e diárias dos habitantes daquela casa. Por outro lado, a utilização desta estrutura pelo exterior, na zona de pátio a descoberto, parece também estar atestada, daí se possam talvez explicar as janelas criadas na fachada mencionada, sendo também, ainda visíveis, alguns fragmentos de antigas canalizações. Por último, e se analisarmos bem as plantas que apresentamos, onde nos parece evidente que cada parte de casinha escavada tinha o seu poço, tendo nós a sorte de identificarmos com clareza pelo menos dois, associados ao casario da parte escavada a Noroeste, onde está o poço da casinha da torre? Ora, nem mais, o poço, segundo assim julgamos, é a própria torre, ou pelo menos boa parte dela.

                                                              45  Esta  parte  interna  do  corpo  do  torreão  foi  escavada  até  onde  os  braços  e  mãos  com  utensílio  próprio,  alcançaram.  Da  sua  escavação apenas se recuperou lixo, recente.  Página 84 de 145 

 

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Na base da escavação da pequena faixa de terras escavada em profundidade junto à fachada Nordeste do “torreão”, identificou-se, a cerca de 1, 60 m de profundidade, sob a unidade estratigráfica 355, aquilo que interpretámos como um eventual piso constituído por vários elementos de tijoleira em cauda de andorinha –[u.e.356] – dispostos de forma perfeitamente regular. Não nos foi possível atestar a relação destes elementos e os alicerces do “torreão” uma vez que esta estrutura ocupava, tão só, uma pequena área de cerca de 1 m2, na zona central da faixa de terras escavadas. Sabemos apenas que os alicerces da estrutura torriforme se prolongam para além do topo desta estrutura em tijoleira. Das estruturas identificadas no espaço que fazemos corresponder ao Sector 4, localizadas na extremidade Norte da sondagem, por se encontrarem muito próximas dos limites da área escavada desta sondagem, muito pouco nos é possível analisar. Sabemos, no entanto, que os dois distintos espaços que com elas se relacionam não têm, dentro da área por nós intervencionada, qualquer ligação com as estruturas observadas a Sudoeste. Julgamos, há semelhança das construções observadas no designado Sector 3, que também estes dois espaços possam fazer parte de uma nova unidade habitacional. No espaço mais a Norte, foram observadas algumas remodelações ao piso de circulação. Este piso, foi, numa primeira fase, constituído apenas por elementos pétreos –empedrado -, muito provavelmente relacionado com uma divisão interna de uma habitação localizada imediatamente a Nordeste daquela que fizemos corresponder com as estruturas identificadas no Sector 3. Uma remodelação a este piso primitivo, composto de pequenos seixos de rio – quartzitos – revelou-se pela sobreposição a estes elementos de uma camada fina de argamassa de areia e cal. As cotas de utilização deste espaço relacionam-se com os empedrados primitivos do Sector 3, dispondo-se, com valores de cota absoluta entre os 18, 25 e os 18, 27 m. Sobre o lado Sudeste deste primeiro compartimento, julgamos ter localizado mais um espaço a céu aberto, tendo-se aqui identificado mais um poço – [358]. Ainda que não nos tenha sido possível avançar nesta zona com a escavação em profundidade, dada a exiguidade do espaço a intervencionar, julgamos que esta estrutura se encontra, à semelhança de outras do género por nós já aqui referidas, numa zona de pátio, com provável correspondência às traseiras de uma nova habitação aqui localizada. A separação deste pátio, com o espaço vizinho similar, a Sudoeste, era feito por intermédio de um muro bastante fruste, construído com elementos calcários irregulares ligados por argila – [u.e.359]. Pelo exposto, julgamos possível que todas as estruturas até aqui analisadas, possam ter feito parte de distintas unidades de habitação que apresentam claras analogias entre elas, não só ao nível das técnicas construtivas envolvidas e materiais empregues, com a própria comunhão dos elementos estruturais mais importantes – paredes mestras -, mas da própria disposição dos seus compartimentos. Tal como já o referimos, somos levados a equacionar a hipótese de estarmos perante, apenas, parte destas habitações, nomeadamente Página 86 de 145 

 

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os espaços que se localizariam nas traseiras das mesmas, podendo as entradas principais, o outro lado da casa, encontrar-se voltadas à Rua João Cabreira. Por outro lado, pensamos que é evidente a partilha entre espaço edificado com áreas de quintal, ou zonas de logradouro, separadas entre si por autênticos muros de divisão de propriedade, nalguns casos com dezenas de metros de extensão. No que toca à cronologia destas construções pouco podemos aferir, isto porque a única parte escavada em profundidade, dentro deste conjunto de estruturas, foi uma pequena parcela de terra confinante com a fachada Nordeste do “torreão”, tendo-se aqui comprovado, sem que se tenha atingido sequer a base dos alicerces da mesma, que esta construção corta depósitos com materiais – faianças, na sua maioria – enquadráveis exclusivamente nos séculos XVII e XVIII. Refira-se, que esses materiais se encontravam em níveis selados pela construção do primitivo piso identificado no pátio da casa que fizemos corresponder ao Sector 3. Não há, em todo esse material analisado, correspondência com produções posteriores ao século XVIII. Podemos pensar, por outro lado, que esses depósitos sejam apenas aterros que comportam material de cronologia mais recuada. Noutros locais desta intervenção, em níveis de aterro arenosos, constituídos literalmente por areia, fomos encontrar igualmente material de cronologia antiga -comparativamente com o grosso da amostra -, precisamente dos séculos XVII e XVIII, embora neste caso aparecessem em associação, também, a materiais do século XIX. Em todo o caso, mesmo que esse material mais recente não estivesse associado ao mais antigo, acabaríamos por saber, no final, que esses depósitos arenosos se estabeleceram sobre níveis que comportavam materiais mais recentes. Podemos, também aqui, estar perante uma situação análoga. Por outro lado, não devemos descurar a análise das estruturas com base na observação dos elementos cartográficos da cidade de Coimbra, sobretudo aquelas que dizem respeito ao século XIX. Parece-nos por demais evidente uma nítida semelhança entre estruturas postas por nós a descoberto e algumas das representações da planta de 1873/1874 dos irmãos Goullard. Não encontramos nenhuma analogia, como já tivemos oportunidade de referir, com a planta do bairro das olarias datada, supostamente, dos inícios desse mesmo século. Logo, e posto isto, parece-nos aceitável, ainda que alguns dados da escavação o pareçam contradizer, que grande parte das estruturas postas a descoberto por nós nesta intervenção, tenham sido construídas no período que medeia a feitura de uma e outra planta. O Sector 5 que aqui abordaremos a partir deste ponto encontra-se delimitado à extremidade Este desta sondagem. É fisicamente delimitado pelo muro que fecha, a Sudeste – [u.e.336] - o casario relacionado com as construções analisadas nos Sectores 3 e 4, bem como por outro muro, claramente de divisão de propriedade, que se desenvolve, com uma orientação SE/NO, sobre o lado Sudoeste deste sector – [u.e.341]. Neste sector podemos relacionar as estruturas aqui presentes com duas fases edificativas distintas que, ao que tudo indica, não serão anteriores ao século XIX. Ainda Página 87 de 145   

 

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que com diferenças altimétricas significativas entre elas, todas, sem excepção, cortam, pela sua implantação bolsas de materiais, ou valas de entulhos, com material enquadrável naquela centúria. Na quadrícula Q29 identificou-se, a pouco mais de 0, 50 m de profundidade, o topo de uma construção circular que relacionámos com uma antigo poço – [u.e.349] -, de planta original circular46 e face bem rebocada. Verificámos, que em fase posterior esta estrutura foi selada, tendo-se, provavelmente logo a seguir, construído o muro que a esta se sobrepõe – [u.e.341] – bem como uma nova estrutura de captação de água, desta feita de planta rectangular47 – [u.e.342], sobre a fachada Nordeste deste muro, ocupando este novo poço parte do espaço ocupado pela primitiva estrutura de captação de água. A cerca de 1, 20 m de profundidade, no espaço correspondente às quadrículas P 31 e P32, subjacente a grandes depósitos de entulho recente foi identificado um muro, com cerca de 0, 40 m de largura, construído à base de elementos calcários disformes, ligados entre si por argila de cor avermelhada – [u.e.325]. Sobre o lado Sudeste desta estrutura foram observados dois alinhamentos constituídos à base de tijoleiras, podendo, assim julgamos, tratar-se de um pequeno tanque. Somos levados a equacionar, se estas duas estruturas não poderão estar relacionadas com vestígios de uma unidade de produção cerâmica presente neste local. A escavação em profundidade nesta zona, até à cota de afectação da obra, apenas evidenciou, por níveis de aterro, material do século XIX. Por último, no Sector 6 não foram identificadas quaisquer estruturas arqueológicas. Nesta zona, que, grosso modo, corresponde a toda a extremidade Sul da nossa sondagem, evidenciaram-se sim grandes valas de aterro de planta e secção rectangulares que comportavam imenso entulho, nalguns casos entulhos muito recentes – século XX. Esta zona não edificada, confinada entre a parte do casario voltado à Rua João Cabreira e aquele que, do lado oposto, confina com a Rua da Moeda, poderá, em parte, ter-se constituído, até época recente, como zona de despejos Nalgumas dessas valas, e até à cota de afectação de obra, a 2, 00 m de profundidade, era comum o achado de tijolos e telhas de fabrico recente. Se algumas estruturas arqueológicas aqui existiram, terão sido completamente destruídas pela colocação destes aterros recentes. Em todo o caso, não se evidenciou, pela escavação desta zona, qualquer indício da sua existência.

                                                              46 Originalmente, dado os limites preservados desta estrutura primitiva, teria um diâmetro de 1, 5 m.  47 Com 2, 00 m de comprimento por 1, 80 m de largura.  Página 88 de 145 

 

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5.2.4 SONDAGEM 4

A última das sondagens abertas na zona designada por Bota-Abaixo – sondagem 4 -, foi implantada imediatamente a Nordeste da sondagem 3, separada desta apenas por um corredor de 2, 00 m, com correspondência, dentro da quadriculagem geral, ao quadrado 33 das Ordenadas. A totalidade da área decapada nesta sondagem ascendeu, ao final da intervenção, a 124 m2. A decapagem do nível de aterro superficial – [u.e.400] -, que comportava material de cronologia diversa, embora se destacassem elementos enquadráveis já no século XX, pôs de imediato em evidência toda uma série de estruturas que, ao que julgamos, se poderão, na sua larga maioria, relacionar com contextos habitacionais enquadráveis, na sua maioria no século XIX. Fazemos notar, ainda assim, que alguns dos pisos identificados à superfície, nomeadamente um piso em mosaico, composto por elementos de tonalidade alaranjada, com 0, 38 x 0, 38 m de lado, se relacionava, ao que parece, com o piso de utilização de um antigo estabelecimento comercial – restaurante – que ali existiu até época pouco recuada. Das estruturas arqueológicas postas em evidência sobressaem, para além dos muros constituídos por blocos calcários irregulares, bem argamassados e com as faces rebocadas, todo um conjunto de empedrados que se desenvolviam no interior de alguns dos compartimentos postos a descoberto. Algumas destas estruturas poderão corresponder, assim julgamos, a algumas das representações, à semelhança de outras por nós identificadas nas sondagens que descrevemos anteriormente nesta zona, patentes na planta da cidade de Coimbra datada de 1873-74, pelos irmãos Goullard. Veja-se a este propósito a figura que em seguida se apresenta.

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É-nos extremamente difícil tecer grandes considerações sobre as diversas estruturas postas a descoberto com a agravante, por estas se prolongarem para os limites da área intervencionada, da planta das mesmas não se encontrar totalmente definida. Sabemos, ainda assim, que dada a quantidade de construções identificadas, que esta zona, mais próxima da Rua Direita, terá sido intensamente ocupada sendo notória a sobreposição entre pisos de circulação/utilização evidenciados nalguns compartimentos. O primeiro plano que apresentamos, logo após a remoção do piso de ladrilhos do antigo restaurante e da sua camada de preparação – [u.e´s. 407 e 408, respectivamente] -, pôs em destaque toda uma série de compartimentos de configuração rectangular. Embora não nos tenha sido possível atestar com segurança momentos precisos para a fase de edificação da maioria destas estruturas, acreditamos que a sua utilização tenha pervivido ainda durante o século XX. Dentro do espaço correspondente ao que deverão ser as paredes mestras de algum do casario aqui existente, foram postas em evidência algumas construções de

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espessura menor que deverão relacionar-se com compartimentações internas constituídas por tabiques – [u.e.417 – Sector 1]. Para além das estruturas que fazemos corresponder a contextos habitacionais, há a destacar o aparecimento de uma conduta – [u.e.461] -, localizada na extremidade Este da zona escavada. Aparentemente parece localizar-se numa zona de passagem estreita, entre casario, confinada entre muros com correspondência às unidades estratigráficas 443 e 442. Trata-se de uma estrutura em alvenaria, com utilização de elementos calcários bem argamassados. As paredes laterais desta construção de transporte de água apresentam uma largura de 0, 46 m, por 0, 58 m de altura. O lastro do canal é constituído por pequenas lajes calcárias e alguns elementos quartzíticos. Na cobertura – políptica - foram utilizadas, preferencialmente, lajes de configuração subrectangular em calcário, muitas das quais fracturadas. Sabemos que esta estrutura, com uma orientação Sul/Norte, é anterior à construção do pequeno troço de muro – [u.e443] -, de apenas 0, 34 m de largura que se desenvolve no mesmo sentido, ocupando o espaço das quadrículasQ e R40, uma vez que se lhe sobrepõe. No entanto, como se poderá observar pelo perfil que apresentamos desta estrutura, poderá ser contemporânea, ou posterior, ao muro que se desenvolve paralelamente a este sobre o lado oposto da conduta –[u.e.442]. No nível de enchimento do canal interno desta conduta48 –[u.e.434] -, composto exclusivamente por sedimento argiloso de tonalidade acizentada, foram recolhidos escassos fragmentos cerâmicos, destacando-se alguns fragmentos de faiança de finais do século XIX.

                                                              48 Com 0, 44 m de largura, por 0, 58 m de altura. 

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Filipe João C. Santos 

 

Tal como já referimos, dentro do espaço ocupado por esta sondagem não nos foi possível levar a escavação arqueológica até à cota de afectação de obra. Esta acção só poderá ser efectuada mediante o alargamento da área intervencionada bem como do desmonte de grande parte das estruturas arqueológicas postas aqui a descoberto. Ainda assim, optou-se, tal como se fez na sondagem 3 desta zona, bem como na sondagem aberta na àrea desiganada por Rua Direita, por se desmontar algumas estruturas, essencialmente empedrados superficiais, de modo a ser possível escavar-se em profundidade pontos específicos desta sondagem. Ao que tudo indica, essas zonas concretas, bem delimitadas entre muros, poderão corresponder a distintos compartimentos dentro do diferente casario que aqui terá existido até á relativamente pouco tempo. De modo a nossa exposição ser tornada mais compreensível ao leitor, optámos, à semelhança daquilo que fizemos para a descrição dos elementos da sondagem 3 desta zona, por denunciar em planta esquemática quais as áreas sujeitas a escavação arqueológica em profundidade. A planta esquemática desses pontos específicos é em seguida apresentada, fazendo-se a descrição da realidade arqueológica observada a partir das zonas sombreadas, designadas por Sector 1, 2 e 3, nessa mesma planta. A estratigrafia observada é relacionada, sempre que se justifique, entre os diferentes Sectores.

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Relatório Final 

O Sector 1 corresponde a um compartimento de configuração rectangular, bem delimitado entre muros, localizado sensivelmente na parte central da área escavada, com correspondência, grosso modo, à zona ocupada entre os quadrados P36 e P39. Apresenta um comprimento máximo de 6, 6 m, por 3 m de largura. Nesta zona, imediatamente após a remoção do piso ladrilhado e da sua camada de preparação, relacionados com um antigo estabelecimento comercial aqui existente – restaurante -, foram identificadas duas distintas zonas de pisos empedrados, uma confinada à extremidade Este - [u.e.409] –, constituída por pequenas pedras boleadas de calcário, e outra localizada no ângulo Oeste, correspondendo a um pequeno espaço empedrado de 2, 00 m de comprimento por 1, 00 m de largura, sensivelmente, constituído à base de quartzitos e pequenas lajes em calcário. Sobre este último empedrado fora deposto em época posterior, um pequeno murete49 – [u.e.410] -, com cerca de 0, 30 m de espessura, confinado à fachada Noroeste deste compartimento, no quadrado P36. Verificou-se o prolongamento do primeiro destes empedrados por um pequeno espaço exíguo existente na extremidade Sudeste deste compartimento – Qd. Q39 -, por onde se acedia através de passagem marcada pela interrupção dos muros de divisão com correspondência às unidades estratigráficas 439 e 442. Dado o reduzido tamanho deste compartimento poderemos supor que se tratava, tão só, de um pequeno local de arrumos, ou despensa da casa que servia. Sensivelmente à mesma cota destes empedrados identificados naquele que designamos por Sector 1, outra piso, constituído por pequenas lajes calcárias na sua extremidade Sudoeste – [u.e.404a] e por quartzitos na extremidade oposta – [u.e.404], foi posto a descoberto no pequeno compartimento que designamos por Sector 2. O único acesso claramente observado a este compartimento – [u.e 436a] -, localiza-se no muro que o fecha a Noroeste, precisamente, no quadrado O37. Este acesso, emparedado, subjacente ao piso de ladrilhos ali existente, deveria corresponder ao nível de circulação anterior à colocação deste piso contemporâneo, ou seja, ao nível dos primeiros empedrados identificados logo após a sua remoção. O que designamos por sector 2, não é mais que um pequeno compartimento de configuração rectangular, com 3, 58 m de comprimento por 1, 75 m de largura, localizado sobre o lado Sudeste do Sector 1. Sensivelmente à mesma cota do primeiro piso de empedrados localizado no compartimento anteriormente descrito – Sector 1 -, também aqui se identificou um piso similar. Este dividia-se, à mesma cota, por duas zonas distintas, comportando diferentes matérias-primas. Sobre o lado Nordeste deste compartimento foi escavado parte do mesmo piso composto exclusivamente de elementos quartzíticos – [u.e404] -, no lado oposto, com uma interrupção significativa de elementos pétreos a meio do compartimento, encontrava-se uma pequena faixa de calçada, do que julgamos tratar-se, pelas cotas da estrutura, do mesmo piso, composta de apenas pequenas lajes calcárias – [u.e.404a].                                                               49 Constituído à base de elementos calcários –lajes argamassadas ‐, com 1, 16 m de comprimento, por 0, 60 m de largura. 

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Filipe João C. Santos 

 

Na camada de preparação deste primeiro nível de piso empedrado – [u.e.405] -, composto por sedimento castanho escuro , bastante solto, foi identificada, a par de alguns materiais de finais da centúria de Oitocentos, uma moeda de 10 réis, datada de 1884. Julgamos que quer o primeiro nível de calçada identificado no Sector 1, bem como o empedrado que se desenvolvia praticamente ao mesmo nível pelo compartimento designado por nós por Sector 2, deverão ter sido dispostos nos finais do século XIX. Em ambos os sectores aludidos, e imediatamente após a remoção das camadas de preparação dos empedrados enunciados – [u.e´s 415 e 404, Sector 1 e 2, respectivamente] -, outro nível de circulação/utilização foi identificado. Há semelhança dos pisos descritos anteriormente, também aqui se assistiu, com uma diferença de cotas na ordem dos 0, 30 m, à colocação regular de lajes de calcário que terão constitído, ainda no século XIX, o piso destes dois compartimentos. No compartimento maior (Sector 2), a par com o novo piso identificado – [u.e.416] – foram identificados os alicerces do que deverá ter sido uma compartimentação interna deste compartimento por tabiques. Este embasamento - [u.e.417] -, constituído à base de argamassa e alguns materiais de construção, encontrava-se deposto sobre toda uma série de bases planas, em calcário, praticamente equidistantes. Sobre a extremidade Este do compartimento, na parte interna do tramo SO/NE, de um destes embasamentos, definiuse uma pequena área, muito regular de calçada – [u.e.416] – composta por pequenas lajes em calcário. Entre os embasamentos da parede em tabique, assim julgamos, e uma das paredes “mestras” deste compartimento – [u.e.437], a Noroeste, julgamos possível ter existido um corredor que daria acesso a algumas das dependências da casa. Este possível corredor, com 4, 83 m de comprimento por 0, 75 m de largura, desembocava, a Sudoeste, numa pequena divisão, com vestígios de piso empedrado, com uma área útil de sensivelmente 6 m2, repartida por um espaço de 2, 91 m de comprimento, por 2, 08 m de largura. O ângulo Este deste Sector 1, neste nível à cota absoluta de 18.35 m, com parte do local com calçada confinada ao ângulo com o mesmo ponto cardeal – [u.e.416] -, deve ter-se constituído, nesta fase, como um segundo compartimento - com 5 m de comprimento por 2, 08 m de largura - deste espaço maior, também compartimentado entre as paredes de tabique. Tal como no Sector 1, também no pequeno compartimento que fazemos corresponder ao Sector 2, outro empedrado – [u.e.406] – foi posto a descoberto. Em ambos os casos estabelecem-se, praticamente, à mesma cota. Esta situação leva-nos a equacionar a hipótese de ambos os espaços terem feito parte de um mesmo núcleo habitacional, com remodelações em simultâneo ao nível dos pisos de circulação entre diferentes dependências da casa.

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Julgamos, dada a regularidade dos empedrados e das linhas de interface destas estruturas, que as áreas dentro destes compartimentos onde estes pisos não se desenvolvem, e onde não há evidências claras de interfaces de destruição, poderiam ter sido em madeira – soalho -, preenchendo esta matéria-prima, entretanto desaparecida, o resto do piso do compartimento. É uma hipótese que julgamos perfeitamente possível. O segundo nível de calçada no Sector 2 – [u.e.406] – encontrava-se em muito bom estado de preservação, compondo-se, exclusivamente, de pequenas lajes calcárias. Ainda assim, era notória a falta dos elementos que o compunham no ângulo Sul deste pequeno compartimento. Poderia ali ter-se localizado uma lareira? Não sabemos, nem tão pouco se identificaram quaisquer indícios de tal estrutura. À cota deste segundo nível de empedrado50 identificado neste pequeno compartimento, foi observada um fundo de porcelana, na parede que fecha este espaço a Sudeste. Este elemento cerâmico reaproveitado nesta construção – [u.e.441] – trata-se de fragmento de uma antiga peça da fábrica da Vista Alegre que, pela marca que ostenta no fragmento de fundo em pé anelar (V.A.), é datado de entre as décadas de 30 e as décadas de 50 do século XIX [SIMAS, F.; ISIDRO, S. 1996, nº908). Após a desmontagem das estruturas que poderão corresponder, dadas as evidências arqueoestratigráficas, a níveis de meados de século XIX, e porque ainda não se tinha atingido a cota de afectação de obra pretendida, progredimos com a escavação em profundidade pelos sectores até aqui abordados. As camadas que relacionamos com as camadas preparatórias do segundo nível de empedrados presentes nos Sectores 1 e 2, e que descrevemos anteriormente – [ u.e´s. 422, 413], comportam material dos séculos XIX, em associação a material datável dos séculos XVIII e XVII. Embora se tenham recolhido algumas moedas destes estratos, não são, dado o mau estado de conservação que apresentam, legíveis. A partir do topo dos estratos localizados com valores absolutos entre os 18, 00 m, com correspondência ao topo das unidades estratigráficas que considerámos como níveis de aterro subjacentes às camadas de preparação do segundo nível de empedrados observados pelos denominados Sector 1 e 2 [u.e´s 429, 425 e 426], verificando-se a esta cota a mesma realidade pelo Sector 3, sem estruturas, iniciou-se a recolha de material mais antigo, muito do qual provavelmente com origem em produções do último quartel do século XVII.

                                                              50 Corresponde, topografica. e estratigraficamente, com o topo da conduta – [u.e.261] a que já aludimos.  Página 100 de 145 

 

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Uma destas unidades, com cerca de 0, 30 m de espessura, que fizemos corresponder na altura a um eventual nível de abandono – [u.e.430], embora se possa tratar simplesmente de um outro nível de aterro ali localizado, estendia-se sobre um piso constituído por areia e cal que ocupava toda a extensão do denominado Sector 1. Sobre esse piso [u.e.431], foram edificados dois muros construídos em alvenaria composta por blocos calcários irregulares, ligando-se os elementos por argila – [u.e. 431a e u.e.431b]. As faces destas estruturas denunciavam a existência, mal preservada, de reboco. Transversais ao compartimento maior que designámos por Sector 1, apresentavam-se truncados a Noroeste. Adossavam, na extremidade oposta, ao muro que fecha este compartimento maior a Sudeste – [u.e.439]. No ângulo Este do muro maior – [u.e.431b] – foi observada uma mancha de cinzas, de contorno circular, que, pela sua localização, poderá ter pertencido a uma lareira presente naquele local. Após a escavação do piso – [u.e.341] - associado aos dois troços de muro aludidos, foi escavado a sua preparação, constituída por sedimento arenoso de cor amarelada, algo compactado, misturado com pequenas pedras calcárias e alguma argamassa – [432] – estéril do ponto de vista arqueológico. Esta preparação, que pelas cotas tiradas no terreno, rondava os 0, 30 m de espessura, sobrepunha-se, neste Sector 1, a uma outro piso, muito mal preservado, constituído por algumas lajes calcárias dispostas de forma dispersa ao nível da cota de afectação de obra. Este empedrado apresentava-se melhor preservado no quadrado P37. Associado a este nível de ocupação, com materiais recolhidos enquadráveis nos séculos XVII e XVIII, foi identificada uma estrutura de configuração subrectangular, construída em alvenaria, com elementos calcários argamassados, localizada no ângulo Sul deste Sector. Apresentava um enchimento de pedras e alguns fragmentos de argamassa. Não sabemos a que fins de destinaria esta construção, nem o seu enchimento nos proporcionou dados que nos permitissem levantar alguma hipótese para a mesma. Após a remoção do segundo nível de empedrado identificado no Sector 2, apenas foram evidenciados níveis de enchimento daquele espaço – [ u.e´s. 413, 425, 426] – tendose recolhido material arqueológico nas duas últimas destas unidades , com valores de cota entre os 18. 00 m e 17.10 m (base de escavação) enquadráveis no último quartel do século XVII, bem como do século XVIII. O Sector 3 corresponde a uma faixa de terras localizada sobre a extremidade Sudeste desta sondagem, confinante com o corte estratigráfico deixado no decorrer da escavação nesta zona.

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Tendo-nos sido possível escavar em profundidade apenas nos quadros R36 e R35, por questões de segurança, resultou essa intervenção na observação de uma sequência estratigráfica constituída por cinco distintos níveis de aterro, sendo que o material recolhido, mesmo no nível arenoso – [u.e.401] - imediatamente subjacente à camada de entulhos superficial – [ u.e.400] – comporta elementos enquadráveis nos séculos XVII, XVIII em associação a elementos claramente de finais do século XIX. Custa-nos entender o porquê da associação deste conjunto de material e da sua cronologia díspar. O que realmente sabemos é que estes níveis essencialmente arenosos, de onde se exumou material mais antigo, se encontram presentes em toda a área escavada do Bota- Abaixo, podendo, eventualmente relacionar-se com deposições aluvionares relacionadas com as grandes cheias de meados dos século XIX. Não sabemos. O que parece claro, também, é que sobre estes níveis arenosos, tendem a estabelecer-se novas construções, como também aqui parece ser o caso. Neste sector, sobe o nível arenoso que fazemos corresponder a unidade 401, foram edificadas as bases de novo edifico, bases essas compostas de uma amálgama de elementos calcários muito bem argamassados – [u.e´s.444, 445 e 445a]. Situação idêntica, com paralelos ao nível da construção do embasamento e da sua disposição estratigráfica, tinha já sido observada aquando da escavação da sondagem 1 desta zona, com, se bem se recordam, com as unidades relacionadas com a edificação de um edifício, com correspondência às unidades estrtigráficas 182, 183…187], que se sobrepôs a estruturas pré-existentes. Os níveis de aterro aqui observados comportam, para além de variado material cerâmico, também alguns elementos pétreos – em calcário – bastante interessantes. Associado ao nível de aterro com correspondência à unidade estratigráfica número 402 foi observada em corte, e deixada in situ, uma pia em calcário. Proveniente do mesmo estrato recolhemos o que parece tratar-se de um almofariz com canal de escoamento. Provavelmente as duas peças aludidas, apresentando-se em seguida uma fotografia deste segundo elemento, funcionariam, não sabemos bem como nem com que finalidade, em conjunto. São elementos que saltam à vista do restante material arqueológico pela estranheza que causam ao conjunto do material recolhido.

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Relatório Final 

Não descuramos a possibilidade destas peças em calcário serem provenientes de algum complexo religioso que existiria nas imediações. Em escavações recentes levadas a cabo no Mosteiro de São Domingos, por exemplo, elementos similares foram exumados. Pelo exposto, julgamos que embora a maioria das estruturas superficiais tenha estado em utilização, até ao século XX, não descuramos a possibilidade de termos escavado, em níveis inferiores, estratos que se relacionem já com uma ocupação efectiva deste local dentro do século XVIII. Estes dados, terão de ser confirmados com maior acuidade quer através do alargamento da área intervencionada, bem como pela escavação em profundidade da mesma, tendo-se, para isso, que se desconstruir grande parte das estruturas presentes nesta sondagem.

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Relatório Final 

   

5.3. A RUA DIREITA.  

5.3.1. PARCELA 17 – SONDAGEM 1  

Embora na área localizada imediatamente a Este da Rua Direita estivessem inicialmente previstas a abertura de duas sondagens arqueológicas, localizadas, grosso modo, entre as denominadas parcelas 17, 18 e 19 do projecto de obra, apenas nos foi possível a escavação de uma delas. Circunscrita a intervenção a um pequeno espaço a céu aberto, resultante da demolição do antigo edificado naquela zona, fomos encontrar, ao início dos trabalhos, a presença de inúmeros escombros resultantes ainda dessa demolição. Acentuava-se esta realidade na extremidade Este deste espaço, local onde se previa a abertura da sondagem 2. Como tal, vimos invalidada, por motivos de segurança, a abertura da segunda sondagem prevista para aquele local, ainda que se tenha iniciado a escavação manual da mesma. Curiosamente, esta sondagem 2, a dada altura, com reformulações posteriores à sua configuração inicial - houve necessidade de se deixar passagem para que maquinaria das sondagens geotécnicas pudesse entrar no local -, apresentava um recorte triangular. Fomos, em resumo, aconselhados a rever a estratégia de intervenção pela perigosidade crescente que o avançar dos trabalhos de escavação em profundidade aqui representavam, argumentando o técnico de segurança envolvido, com o risco real de soterramento do pessoal envolvido nos trabalhos. Higiene e segurança no trabalho, acima de tudo! Revista a estratégia de intervenção para este local, optou-se, com a conivência de todos os intervenientes no processo, pelo alargamento da área em torno da sondagem 1. Esta, inicialmente um rectângulo com 6 x 4 m de lado, foi concluída com uma configuração - não triangular - cruciforme, pelo alargamento de duas quadrículas em três dos lados do rectângulo inicial51. Localizada junto à Rua Direita, em cima da rua praticamente, seria de prever que, se identificassem as estruturas relacionadas com o casario “antigo” que, ao longo desta artéria, se desenvolve em banda. Ainda que limitados, pela escassa área intervencionada, a um conhecimento mais lato sobre as estruturas postas a descoberto, julgamos que as ruínas que se identificaram pelo processo de escavação neste local compreendem, acima de tudo, parte de um pequeno núcleo habitacional, perpendicular à Rua Direita, donde sobressaem os muros das antigas                                                               51 

Veja‐se, a  este propósito a  planta das  estruturas arqueológica e a implantação desta sondagem na cartografia do projecto  de  obra. A área abarcada em escavação por esta sondagem é de 48 m2. 

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Filipe João C. Santos 

 

construções, bem como alguns dos empedrados que lhes terão servido de chão no piso térreo, à cota da rua. Não podemos deixar de referir, desde já, que uma atribuição cronológica precisa para esta construções se encontra comprometida pela falta de elementos seguros de datação. Sem recolha de materiais datáveis de eventuais níveis de ocupação e abandono, todo o conjunto de elementos compulsados constitui elemento de atribuição cronológica pouco segura, recolhido em níveis de aterro que se sobrepõem, na sua larga maioria, às estruturas identificadas. Um dos dados mais relevantes é mesmo a escassez de material arqueológico52, comparativamente às restantes zonas intervencionadas. Nesta zona, mais do que os elementos cerâmicos, obviamente em maior número, ainda assim, é de registar um conjunto significativo de moedas, registando-se um número apreciável de elementos dos séculos XVIII e XIX53. Uma moeda de D-Luís, datada de 1883, recolhida á superfície do terreno foi, pela pequena perfuração que apresenta, usada como pendente. O material cerâmico é, pelo que dissemos, quase residual, e remete para cronologias, daquele que é de facto possível datar, para periodizações similares ao dos numismas encontrados, ou seja, correspondem a produções dos séculos XVIII e XIX. Ao que o material arqueológico nos diz, acrescentam pouco as estruturas arqueológicas. Todas as edificações identificadas, se excluirmos a caixa de água em tijoleira localizada à superfície do terreno – [u.e.101a, Qd. 047] – correspondem a muros em alvenaria, bem argamassados e rebocados, e a empedrados confinados a espaços entre esses mesmos muros. Antes de continuarmos análise aos resultados desta sondagem, queremos começar por referir que todos os muros por nós identificados, assentam em vala de fundação, ligeiramente escavada em substrato argiloso, de cor ferruginosa. Localizado topograficamente, desde o topo do terreno, a cerca de 1, 80/2, 00 m de profundidade, fizemos correspondê-lo, dentro do preenchimento das fichas de unidade estratigráfica desta parte, com o topo do nível geológico de base. Adiante! Do que observámos, tendo em conta as estruturas analisadas no terreno54, e um olhar atento sobre a planta arqueológica das mesmas, julgamos estar, essencialmente, perante um pequeno espaço, eventualmente de carácter habitacional, de configuração rectangular, bem definido entre três muros. Um desses muros – [u.e.106] – define o espaço em análise na extremidade Nordeste. Trata-se da estrutura mais possante aqui identificada, com 0, 82 m de largura, desenvolvendo-se no sentido Sudoeste/Noroeste, encaixada entre outros dois muros55 – [u.e´s 108 e 105] – que acabam por definir, embora estes se desenvolvam para Nordeste, segundo o eixo Sudoeste/Nordeste, o espaço em análise.                                                               52

 Todo o material foi recolhido, atente‐se! Não se fez recolha por amostragem.  53 Veja‐se a este propósito o inventário numismático que se apresenta.  54 Estruturas subjacentes a um piso identificado e registado praticamente à superfície, e que acabámos por levantar – [u.e.101].  Constituído por elementos, esparsos, em quartzo e arenito. Trata‐se, de uma estrutura em utilização, ao que apurámos, ainda no  século XX.  55 Muros em alvenaria, argamassados e rebocados. Ambos com uma largura em torno dos 0, 50 m.  Página 110 de 145 

 

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Relatório Final 

Dentro deste espaço encontramos ainda uma outra parede, também em alvenaria, bem argamassada e rebocada – [u.e.110] -, que se desenvolve, de forma perfeitamente irregular, entre os muros delimitadores deste espaço a Sudeste e Noroeste – [u.e´s 105 e 108, como vimos]. Esta construção, que terá subdividido uma área primitiva maior, adossa, na extremidade Nordeste ao primeiro dos muros aludido – [u.e.106]. No ângulo Norte definido pelas unidades estratigráficas 108 e 106, encontramos um patamar – [u.e.107], construído em alvenaria e também argamassado, rebocado na fase Sudeste, ao qual se acede por intermédio de dois degraus que nele adossam, construídos no mesmo tipo de aparelho – [u.e.111]. Acreditamos que esta estrutura – patamar – com os pequenos degraus associados, fariam parte de uma estrutura de acesso, desde o piso térreo a um primeiro andar. A Escadaria, muito provavelmente em madeira, e a ter existido, assentaria, como se depreenderá no patamar pétreo e daria acesso a um primeiro andar deste edifício. O patamar – [u.e.107] – apresenta um comprimento total de 3, 55 m, por 1, 11 m de altura. A altura máxima desta estrutura, desde o topo do empedrado, é de 0, 80 m. Os dois pequenos degraus, apresentam uma diferença de cerca de 0, 20 m entre si, bem como em relação ao topo do patamar. A largura maior desta estrutura de acesso, junto à base, é de 0, 70 m. Em torno deste patamar, e respectivo degrau de acesso, também delimitados pelos muros com correspondência às unidades estratigráficas 106, 108 e 110, identificámos um empedrado, constituído essencialmente por quartzitos e alguma cerâmica de construção reaproveitada. Estes pisos, por analogia a estruturas por nós identificadas também na área de escavação do Bota-Abaixo, parecem localizar-se, primordialmente, em zonas a céu aberto. Não seria aqui, pelas evidências arquitectónicas, o caso. No entanto, podemos por a hipótese de nos encontramos perante um pequeno átrio interno, estabelecido possivelmente à cota da época da Rua Direita, e que, desde a entrada da provável habitação, voltada à mesma rua, servia de “corredor” comunicante entre o acesso aos diferentes compartimentos da habitação, localizados, caso assim fosse, no(s) andar(es) superior(es) da mesma. A progressão da escavação nesta sondagem obrigou, tendo ficado decidido na última reunião de obra realizada no local, à desconstrução deste piso. Não foram identificadas, até à cota de afectação de obra, sob este piso, outras estruturas. Na extremidade sudeste desta área, definida pelos muros com correspondência ás unidades estratigráficas 105 e 110, delimitou-se um espaço sem qualquer estrutura arqueológica associada. Estaria esta zona relacionada com uma loja56 da habitação? Poderia corresponder um pequeno logradouro da mesma? Sem certezas, ficam aqui as hipóteses por nós levantadas.

                                                              56 Loja no sentido de espaço próprio á guarda de animais. 

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Sem relação directa com o espaço e as construções atrás descritas, foram postas a descoberto, pela intervenção levada a cabo nesta sondagem, outras estruturas. Destas importa destacar um outro empedrado – [u.e.116], também constuído à base de elementos quartzíticos e localizado entre muros. Em concreto, apresenta uma largura máxima de 0, 86 m, definida entre os muros constituídos pelas unidades estratigráficas 105 e 11757, na extremidade Sudeste da área escavada. Achamos plausível que possamos estar perante uma pequena viela, existente entre edifícios, comunicante, dentro da malha urbana de Oitocentos (provavelmente), com a Rua Direita. A diferença de cota deste empedrado, confinado entre muros, e aquele identificado no espaço de um eventual edifício de habitação, é de cerca de 1, 00 m. De referir ainda a existência de um outro empedrado – [u.e.133], embora sobre esta estrutura praticamente nada podemos acrescentar, na extremidade Noroeste da área intervencionada, correspondendo ao local de implantação da quadrícula M48. Desenvolvese, praticamente, à mesma cota do piso descrito anteriormente, e, pelo que observámos, encontra-se adossado ao muro com correspondência à unidade estratigráfica 108. Por último, é de referir ainda o que julgamos tratar-se de um outro troço de muro, também ele argamassado e construído em alvenaria, com o recurso a elementos de calcário, utilizando porém, também, alguns fragmentos de cerâmica de construção. Com correspondência dada por nós à unidade estratigráfica 132, pode, eventualmente relacionarse com uma estrutura de uma outra unidade habitacional que se desenvolve a Nordeste daquela que descrevemos inicialmente, não sabemos. Para finalizar, queremos apenas reforçar a ideia que a área intervencionada, nesta parte pelo menos, se revelou diminuta para que uma melhor compreensão de todas as estruturas identificadas fosse possível.

                                                              57  Trata‐se  de  um  muro  pouco  possante  –  talvez  o  melhor  fosse  chamar‐lhe  murete  ‐,  muito  argamassado  e  construído  com  o  recurso a elementos toscos em calcário, com apenas 0, 30 m de largura.  Página 112 de 145 

 

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6 .O MATERIAL ARQUEOLÓGICO.  

Grande parte do material arqueológico compulsado é constituído por elementos cerâmicos que, na sua larga maioria, se encontram balizados entre os finais do Século XVII e os finais do século XIX (claramente maioritários). Dada a importância que a produção de cerâmica em Coimbra adquiriu desde o século XVI, seria de esperar que grande parte deste material tenha aqui, nos centros produtores desta cidade, a sua origem. No entanto, no conjunto de fragmentos cerâmicos recolhidos, encontra-se também atestada a presença de peças relacionadas com outros centros de produção nacionais. Estas, pelas marcas de fabrico identificadas, remetem para produções de Sacavém e Ílhavo, por exemplo. Neste último caso as peças relacionam-se com objectos utilitários em porcelana, produzidos pela fábrica da Vista Alegre. Peças de fabrico inglês encontram-se também presentes no conjunto da amostra. A recolha deste material, em claros contextos de aterro, não nos permite, logo à partida, enquadramentos crono-estratigráficos seguros, nem tão pouco estabelecer uma relação entre os diversos elementos compulsados e os seus centros de produção, localizados, até determinado momento, naquele que foi designado por Bairro das Olarias, na Baixa desta cidade. Os fragmentos cerâmicos observados correspondem, como seria de esperar, a diferentes grupos. Encontram-se presentes elementos em cerâmica comum - de pastas vermelha e preta -. , vidrados de chumbo; faianças e porcelana - minoritários, (com alguns exemplares claramente de fabrico chinês) embora com grande expressão, na totalidade do conjunto recolhido. Foram ainda observados, fragmentos de azulejos, enquadráveis nos séculos XVI – hispano-árabes -, século XVIII – com motivos vegetalistas a azul claro – e século XIX. Grande parte dos fragmentos cerâmicos recolhidos em valas de entulho na zona do Bota-Abaixo e nas camadas de aterro observadas nas parcelas escavadas junto à Avenida Fernão de Magalhães – parcelas 39 a 42 -, deverão ter a sua origem na grande percentagem de peças que não chegaram, nas oficinas que as confeccionavam, ao fim da produção. São elementos defeituosos, deformados, com escorrimentos de pintura, mal cozidos, “colados” aquando da cozedura. A estes há que adicionar uma quantidade significativa de trempes, e fragmentos de chacota. Embora nestes aterros outros fragmentos cerâmicos tenham sido utilizados, a faiança é maioritária. As faianças, neste contexto preciso são sobretudo compostas por fragmentos de “loiça Ratinha”, onde a par de fragmentos de faiança polícroma com motivos pintados a pincél, se encontra também atestada a decoração por motivos elaborados por esponjado e a estampilha. Os fragmentos cerâmicos analisados reportam-se a um conjunto diversificado de formas, encontrando-se presentes os pratos, de diferentes tamanhos, as tigelas – quase

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sempre listadas -, travessas...etc. Estes objectos, logo a partir da segunda metade do século XIX, eram produzidos anualmente aos milhares nas “fábricas” de loiça de Coimbra (PAIS, A. 2007, p.111). Dentro do processo de fabrico, por inúmeros motivos, uma boa parte destas peças ficava inutilizada, vendo-se impedido o produtor de a colocar no mercado. Este autêntico lixo industrial, era posteriormente depositado em zonas próprias definidas pela autarquia para o efeito, podendo, como se comprovou na escavação das parcelas aludidas, a sua utilização como elemento para aterro. Do grupo constituído pelos vidrados de chumbo, onde existe também uma grande variedade de formas, queremos destacar aqui, pela sua quantidade, sendo que muitos destes elementos foram recolhidos inteiros, as jarras de bico trilobado - de diferentes tamanhos - e os pequenos púcaros de uma só asa. Julgamos que estas peças terão sido muito utilizadas pelos donos de tascas e tabernas de todo o país no decorrer do século XIX. Obviamente que o seu comércio também se destinaria a uma população mais vasta. Não sabemos até que ponto não poderão estes materiais estar relacionados com uma fábrica de loiça vermelha instalada, a partir do século XIX, tendo substituído uma de tecidos que ali tinha existido, na Rua João Cabreira. A designação Rua da Fábrica, para a actual Rua João Cabreira nunca existiu, mas era assim que os populares a designavam nos inícios do século XIX, chegando mesmo a constar esta designação toponímica popular nalguma da cartografia da época. Do material mais antigo recolhido gostaríamos de fazer referência a um fragmento de tinteiro em faiança, com paralelos em peças datadas de meados do século XVIII (op.cit, p.62). Outro grupo, de que ainda não demos aqui conta, é formado por um conjunto de pequenas figuras em barro, moldadas, com cerca de 0, 10 m de altura, onde, para além de figurações humanas, foram recolhidos elementos zoomórficos - galo. Não sabemos ao certo a que fins se destinariam estes elementos. Aparecem em associação a material enquadrável no século XIX e julgamos que poderão, eventualmente, tratar-se de brinquedos que seriam, antes da sua comercialização, ainda pintados. Apresentam orifícios de suspensão, na sua generalidade, junto à ligação dos braços com o corpo. Dos elementos em faiança do século XVII, embora numa percentagem ínfima do conjunto total de fragmentos cerâmicos recolhidos, aparecem-nos exemplares com decorações típicas, tais como brasões – os sempre designados por Brasão dos Silva -, os motivos com contas e arabescos, as figurações vegetalistas - onde também aparecem, nalguns casos animais muito estilizados (clara influência da porcelana chinesa) , as rendas, e outros fragmentos de peças com legendas alusivas a complexos religiosos (loiça conventual) – S.C. (Santa Clara/Cruz?); S.I e/ou S.F. (Santa Isabel, ou S.Francisco?). Nos milhares de fragmentos cerâmicos recolhidos no decurso da nossa intervenção haverá, a quem se queira dedicar a um estudo aprofundado deste material, muita matéria de análise. Dado o escasso tempo disponível entre a conclusão dos trabalhos

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de campo e a apresentação do relatório final, apenas pudemos dar a conhecer, de forma extremamente sumária, parte do conjunto mais significativa do mesmo58. Nas imagens que se apresentam de seguida, alusivas a alguns dos fragmentos cerâmicos recolhidos na nossa intervenção, optou-se por mostrar, em grande medida, parte do conjunto do material mais antigo, em detrimento do material mais recente. As fotografias pretendem apenas traduzir a diversidade do material cerâmico compulsado, procurando-se também com estes registos reforçar as periodizações apontadas para o mesmo.

                                                              58 Uma boa parte deste material foi, aquando do inventário global do mesmo, fotografado. 

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7 . PARECER TÉCNICO/MEDIDAS DE MINIZAÇÃO

Pensamos, pelo que tivemos oportunidade de expor ao longo deste documento, que a importância científica, mais que patrimonial, dos vestígios postos a descoberto é inegável. Embora não se constituam como elementos patrimoniais de extrema relevância, não tendo ficado sequer atestada, de forma segura, tendo em conta a cota da intervenção arqueológica – 2, 00 m de profundidade -, a relação das estruturas arqueológicas postas a descoberto com as antigas unidades de produção de cerâmica do velho Bairro das Olarias, julgamos que estes merecem, e devem, ainda assim, ser alvo de um registo exaustivo. A zona mais problemática em termos de impacte do projecto de execução do Sistema de Mobilidade do Metro Mondego, dada a profusão de estruturas quase à superfície, corresponde à totalidade da zona designada por Bota-Abaixo, e da sua ligação à Rua Direita. Muito menos problemática nos parece a área em torno da Avenida Fernão de Magalhães onde assistimos à deposição clara de aterros, embora comportando os mesmos muito material arqueológico – essencialmente lixos industriais de finais do século XIX – para a subida do nível do terreno. Aterros esses que devem corresponder a empreitadas particulares e camarárias de finais do século XIX, ou mesmo já dos inícios do século XX. Como tal, e após o exposto, preconizamos as seguintes medidas de minimização para as distintas áreas onde interviemos, todas afectas ao Sistema de Mobilidade do Metro Mondego: - Deve ser claro, pelo projecto de execução do Sistema de Mobilidade do Metro Mondego, quais as áreas que serão objecto de revolvimentos do subsolo e que ainda não foram alvo de intervenção arqueológica e registo. Preconizamos, como tal, que se realizem trabalhos arqueológicos específicos, em todas as áreas que se inserem no traçado estabilizado do canal do futuro Metro Mondego até à profundidade a que vão ser afectadas, nas zonas do Bota-Abaixo e na sua ligação à Rua Direita”. Apenas desta forma se poderão compreender, convenientemente, as plantas das estruturas arqueológicas identificadas, e a sua relação estratigráfica. - A escavação arqueológica na área aludida, deverá ter em conta, ainda, não só a construção futura do canal, mas também todas as outras empreitadas que impliquem revolvimentos do subsolo e que ocorrerão nas partes laterais do mesmo. Embora conscientes que a empresa Metro Mondego seja apenas responsável pelo canal em si, onde circularão as composições do futuro Metro de superfície, e não pelas obras que decorrerão nas suas imediações, julgamos que podem, e devem, ficar já acauteladas medidas de minimização para as mesmas. Estas, deverão ser cumpridas pelos responsáveis pela execução das referidas obras, sugerindo-se que lhes seja dado conhecimento das medidas de minimização preconizadas sempre que surja algum projecto específico para a área em apreço.”

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- Deverá ser elaborada, na cartografia do projecto, pela Metro Mondego, zonas de impacte das obras futuras a que aludimos. Nessa base, devem ser revistas as zonas de intervenção arqueológica futura, havendo sempre necessidade de se proceder a escavação arqueológica dentro das cotas de afectação associadas a cada uma das empreitadas. A cota de intervenção poderá variar, assim julgamos, de acordo com as distintas obras a realizar. - As futuras intervenções arqueológicas (figura de trabalho arqueológico específico, localização, metodologias e profundidades) quanto a nós, devem ficar dependentes da perfeita estabilização do projecto no traçado em causa, tanto na sua implantação topográfica como ao nível das profundidades atingidas por forma a salvaguardar-se a intervenção arqueológica apenas nas áreas claramente afectas ao projecto. Estas acções deverão ser efectuadas em fase de empreitada de execução do projecto, imediatamente antes das obras propriamente ditas, mas já com estaleiro em funcionamento.” - Apenas após a totalidade da área entre o Bota-Abaixo e a Rua Direita ter sido convenientemente intervencionada - tendo em conta, como já referimos, a estabilização definitiva do projecto - por escavação e registo arqueológico, acautelando-se ao risco de destruição elementos significativos para a história da Cidade de Coimbra, independentemente da sua importância patrimonial – sempre relativa –, poderá eventualmente, se assim se achar necessário, proceder-se à desconstrução, de forma perfeitamente controlada, e com registos próprios, das estruturas arqueológicas postas a descoberto até à cota de afectação da obra. Deverão ser, como se depreende, desmontados manualmente alguns muros, bem como alguns empedrados identificados (e até há data por desmontar), permitindo a progressão da escavação arqueológica nesses pontos em profundidade até ser atingida a cota pretendida pelo projecto do Sistema de Mobilidade do Metro Mondego. - Todas as acções futuras de escavação arqueológica na zona entre o Bota-Abaixo e a Rua Direita, devem ser precedidas pela remoção das terras provenientes da abertura das sondagens arqueológicas levadas a cabo entre 2008 e 2009, da responsabilidade da empresa Arqueohoje. Não há, como tivemos anteriormente oportunidade de referir em relatório de progresso sobre estes mesmos trabalhos, espaço no local para novos depósitos de terras. A remoção destas terras, bem como o seu transporte e deposição noutro local, a definir, deverá ser acompanhada por um elemento afecto à intervenção arqueológica. O local de vazadouro deste material deverá ser cartografado e georeferenciado, sendo aconselhável o mesmo local de depósito para todas as terras resultantes da escavação arqueológica. Do local de depósito de terras sobrantes será dado conhecimento ao Igespar, I. P., bem como à DRCC.” Não é viável, para uma visão de conjunto das estruturas e contextos exumados, o encerramento das sondagens sem que se proceda, primeiramente, a trabalhos arqueológicos complementares na área em apreço. - Deverá ser encontrado um local de depósito definitivo para a totalidade do material arqueológico, já lavado e inventariado, compulsado na intervenção arqueológica Página 127 de 145   

 

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desenvolvida pela Arqueohoje para a empresa Metro Mondego entre os anos de 2008 e 2009. Sugerimos que o mesmo seja depositado nas instalações da extensão do IGESPAR de Pombal. Caso esta extensão não tenha, por falta de espaço, capacidade para o acolher, deverá encontrar-se, entre todos os intervenientes, uma solução para o depósito definitivo do mesmo. Ao todo, são mais de 130 contentores, que, neste momento se encontram depositados, provisoriamente e sob a responsabilidade da empresa Arqueohoje, na designada parcela 40 do projecto de obra. - Todas as sondagens abertas na zona do Bota-Abaixo, bem como aquela que se abriu na área que designámos por Rua Direita, se encontram por encerrar, apenas cobertas, integralmente, por manta geotêxtil. Sugerimos que as mesmas se mantenham assim até se proceder aos alargamentos totais, por escavação arqueológica, a definir, naquela zona. Após apenas a conclusão desses alargamentos, sem se perder a visão de conjunto sobre a totalidade das estruturas, deverá proceder-se, caso assim se justifique, ao seu encerramento. - Recomendamos, tal como já o havíamos feito no passado, a escavação arqueológica, após as demolições do edificado naquela zona, que unirá a sondagem 2 da parcela 40, com a sondagem 1 da parcela 42, na zona confinante com a Avenida Fernão de Magalhães. Apenas deste modo nos será possível observar, convenientemente, os vestígios arqueológicos patentes naquele local e não totalmente esclarecidos. - Qualquer demolição, dentro das parcelas que ainda não tenham sido demolidas, deverá, também, ser alvo de acompanhamento arqueológico. - Por último, e quanto ao tratamento do material arqueológico compulsado no decorrer da nossa intervenção, julgamos apenas necessária a limpeza e tratamento em laboratório do conjunto de moedas exumadas na escavação. O resto do material arqueológico não levanta, quanto a nós, qualquer tipo de problemas de conservação. Deverá constituir o espólio cerâmico, assim julgamos, um fundo de reserva para futuras investigações acerca, sobretudo, da produção de faiança de Coimbra, com enfoque nas produções centradas em finais do século XVII e os finais do Século XIX. - Toda a programação futura de trabalhos arqueológicos para os locais em apreço deverá ter o prévio aval das instituições tutelares – IGESPAR e DRCC.

Coimbra, Dezembro de 2009 O arqueólogo responsável

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8. BIBLIOGRAFIA   ALARCÃO, J. de.(1996) – “A evolução urbanística de Coimbra. Das origens a 1940” - Actas do I colóquio de Geografia de Coimbra, nº especial de “cadernos de geografia”. ALARCÃO, J. de.(2008) – Coimbra. A montagem do cenário urbano – Imprensa da Universidade de Coimbra. Coimbra. ALVES, F.; RODRIGUES, P.; GARCIA, C.; ALELUIA, M. (1998) – “A cerâmica dos destroços do navio dos meados do século XV – Ria de Aveiro A e da zona Ria de Aveiro B. Aproximação tipológica preliminar – Actas das 2.as Jornadas de Cerâmica Medieval e Pós-Medieval. Tondela. BARREIRA, P.; DORDIO, P.; TEIXEIRA, R. (1998) - “200 anos de cerâmica na Casa do Infante: do século XVI a meados do século XVIII. - Actas das 2.as Jornadas de Cerâmica Medieval e Pós-Medieval. Tondela. CALADO, R. S., (1992) – Faiança Portuguesa – Lisboa: Correios de Portugal. CASTRO, A. S. C.; SEBASTIAN, L. (2002) – “Mosteiro de São João de Tarouca: 700 anos de história da cerâmica” - Estudos/Património 3. IPPAR, Lisboa. CASTRO, A. S. C.; SEBASTIAN, L. (2003) – “A componente do desenho cerâmico na intervenção arqueológica no Mosteiro de Tarouca – Revista Portuguesas de Arqueologia. Vol.6, número 2. CASTRO, A. S. C.; FONSECA, J.; SEBASTIAN, L.(2004) – “A componente de conservação cerâmica na intervenção arqueológica no Mosteiro de S.João de Tarouca: 1998-2002” - Revista Portuguesas de Arqueologia. Vol.7, número 1. CARVALHO, J. M. T. de (1921) – Cerâmica Coimbrã no séc. XVI. – Coimbra. CÔRTE-REAL, A.; SANTOS. P. C.; MOURÃO, T.; MACEDO, F. P.,(2002) – “ “Intervenção no Mosteiro de Santa Clara-a-Velha de Coimbra” – Estudos/Património 3. IPPAR, Lisboa. DIOGO, A. M. D.; TRINDADE, L.,(1998) – “Cerâmicas da Época do Terramoto de 1755 Provenientes de Lisboa” - Actas das 2.as Jornadas de Cerâmica Medieval e Pós-Medieval. Tondela. FARIA, J. S., (2006) – “Evolução do Espaço Físico de Coimbra” – Catálogo da exposição Evolução DO Espaço Físico de Coimbra. Câmara Municipal de Coimbra. Coimbra. FIGUEIREDO, A.C.B (1996) - Coimbra antiga e moderna - Ed. Fac-similada do original (1886), Almedina, Coimbra. GINJA, M. (2008) – Projecto de Inserção do Metro Ligeiro do Mondego. Relatório Final da 1ª e 2ª Fases de Intervenção. HARRIS, E. (1989) - Principles of Archaeological Stratigraphy - Academic press limited, London. LOUREIRO, J. P. (1960) – Toponímia de Coimbra – Coimbra, Câmara Municipal de Coimbra, Tomo I. NEVES, M.J.; BASÍLIO, L.; NUNES, S.A (2005) - Intervenção de arqueologia preventiva, - Prospecção Arqueológica Prévia – Sondagens Arqueológicas do Metro ligeiro do.Mondego (Sta. Cruz, Coimbra) - Relatório Final.

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MACEDO, M. C., (2006) – “Coimbra na segunda metade do século XIX, a materialização dos avanços técnicos dos inícios da modernidade” - Catálogo da exposição Evolução DO Espaço Físico de Coimbra. Câmara Municipal de Coimbra. Coimbra. NOGUEIRA, I.; MAGALHÃES, R. R. (2008) – Coimbra: das origens a finais da Idade Média – Câmara Municipal de Coimbra, Departamento de Cultura, Gabinete de Arqueologia, Arte e História. Coimbra. ROQUE, J. L., (1990) – “Coimbra de meados do século XIX a inícios do século XX. Imagens de Sociabilidade Urbana” – Revista de História das Ideias, Vol. 12. Coimbra. ROSKAMS, S. (2002) – Teoría y Práctica de la Excación – Crítica, S.L., Barcelona. ROSSA, W.,(2006) – “O Espaço de Coimbra, da instalação da urbanidade ao fim do antigo regime” Catálogo da exposição Evolução DO Espaço Físico de Coimbra. Câmara Municipal de Coimbra. Coimbra. MENDES, J. M., (1981) – “Para a História da Indústria em Santa Clara” – Munda, nº2. MENDES, J. M., (1984) – “Coimbra no Primeiro Quartel do Século XX” – BIBLOS- vol.IX. SANTOS, A. P. F.; GAMBINI, L. I. (2008) – Mosteiro de Santa Clara de Coimbra. Do convento à ruína, da ruína à contemporaneidade – IGESPAR. Ediliber – Editora de Publicações, Lda. SIMAS, F.; ISIDRO, S. (1996) – Dicionário de Marcas de Faiança e Porcelana Portuguesas – ESTAR editora. PAIS, A. N.; PACHECO, A.; COROADO, J.; (2007) - Cerâmica de Coimbra, do século XVI – XX - Edições Inapa. QUARESMA, V.S. (1988) – A REGENERAÇÃO, Economia e Sociedade – Lisboa, Publicações D.Quixote. SANDÃO, A., (1983) – Faiança Portuguesa, séculos XVIII-XIX – Lisboa, Livraria Civilização, vols I e II.

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                  ANEXO I – SOBREPOSIÇÃO DA ÁREA ESCAVADA A CARTOGRAFIA ANTIGA   

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              ANEXO II – LEGENDAGEM DAS FOTOGRAFIAS                               

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  II.1 – PARCELA 39, SONDAGEM 1.    1 – Pormenor do aparelho do muro de separação entre a parcela 40 e parcela 39. 2 - Colocação de viga em cimento – lintél - como medida de segurança após a abertura da passagem entre as parcelas 39 e 40. 3 – Vista geral sobre o espaço ocupado pela parcela 39. 4 – Manilha em grés – [u.e.103] -, observada logo após a remoção das camadas de terra superficiais. 5 – Pormenor dos trabalhos de escavação arqueológica. 6 – Vista geral sobre a área ocupada pela sondagem, ao nível da unidade estratigráfica 104, interpretada como hipotético piso de areia e cal. 7 – Rebaixamento da zona intervencionada, pela escavação dos quadrados S80 e S81. 8 – Pormenor após o rebaixamento dos quadrados Q79 e P79. 9 – Pormenor de uma das bases – [u.e.106] – de suporte ao telhado antigo do edifício. 10 – Pormenor das duas bases identificadas na zona do rebaixamento dos quadrados Q79 e P79. 11 – Vista geral sobre a sondagem após o rebaixamento dos quatro quadrados. 12 – Pormenor do topo da “runa”, visualizando-se a sobreposição a esta estrutura por um dos pilares – [u.e.107].

II.2 – PARCELA 40, SONDAGEM 1.  1 – Vista geral sobre a sondagem, após remoção do piso em cimento e camadas preparatórias. 2 – Pormenor do material cerâmico identificado logo após a escavação dos níveis superficiais. Material enquadrável nos finais do século XIX. 3 – Trabalhos de limpeza para registo fotográfico. 4 – Vista geral sobre a sondagem. 5 – Pormenor da concentração de blocos pétreos – [u.e.104] –na extremidade SO da sondagem. Entulhos.

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6 – Registo fotográfico após o rebaixamento dos quadrados O e P 96, até à cota de afectação de obra. 7 – Vista geral sobre a sondagem após a conclusão dos trabalhos de escavação.

II.2.1 – PARCELA 40, SONDAGEM 2.    1 – Pormenor da fachada actual dos edifícios onde se localizam as parcelas 39 a 42. 2 – Pormenor do espaço onde se implantou a sondagem 2 da parcela 4. Início dos trabalhos de escavação. 3 – Pormenor de estrutura sanitária de época Contemporânea – [u.e.208], com descarga directa para a “runa”. 4 – Pormenor do troço da “runa” na extremidade E da área escavada. 5 – Pormenor sobre a mesma estrutura – “runa”. 6 – Escavação arqueológica com luz artificial, durante o inverno de 2008. 7 – Pormenor do empedrado identificado nesta sondagem – [u.e213] -, e do canal (de rega?), associado a esta estrutura – [u.e.209]. 8 – Pormenor das camadas de aterro sobre as estruturas aludidas anteriormente. 9 – Pormenor da “runa”. 10 – Pormenor da estrutura de saneamento –[u.e.208]. 11 – Pilha de telhas de meia-cana identificadas sobre o topo da “runa”, no quadrado V90. 12 – Pormenor do segundo troço de canal (de rega?) identificado a ladear a “runa” – [u.e.209a]. 13 – Corte N.NO/S.SE, pormenor. 14 – Outro pormenor da mesma sequência estratigráfica. 15 – Trabalhos de levantamento topográfico. 16 – Encerramento da sondagem após a colocação de manta geotêxtil sobre as estruturas arqueológicas.

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Filipe João C. Santos 

 

    II.3 – PARCELA 42, SONDAGEM 1.    1 – Início dos trabalhos arqueológicos, remoção do piso de cimento do local da antiga oficina mecânica. 2 – Pormenor do tipo de registos efectuados no decurso da escavação – [u.e.108]. 3 – Unidades estratigráficas 111 – piso e 114 – rebordo em alvenaria associado ao piso de argamassa. 4 – Mesmo pormenor sobre as unidades 111 e 114, vista de Norte. 5 – Pormenor do corte Sul/Norte. 6 – Pormenor do corte Este/Oeste. 7 – Identificação do topo da “runa” nesta sondagem. 8 – Estruturas relacionadas com a “ runa” – [u.e´s: 115, 116 e 117]. 9 – Sondagem após a escavação arqueológica 10 – Mesmo pormenor. 11 – Desenho arqueológico das estruturas. 12 – Pormenor da “runa” e do rebordo de alvenaria e argamassa que a ela se sobrepunha – [u.e. 114]. 13 – Pormenor da sondagem após os trabalhos de escavação arqueológica. 14 – O mesmo pormenor. 15 – Cobertura das estruturas arqueológicas com manta geotêxtil. 16 – Após a total cobertura das mesmas com geotêxtil.

II.4 – BOTA‐ABAIXO, SONDAGEM 1.    1 – Início dos trabalhos arqueológicos. 2 – Pormor da escavação das unidades estratigráficas 108 e 108 a. 3 – Aspecto geral das mesmas após limpeza para registo.

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Relatório Final 

4 – Pormenor da unidade estratigráfica 114, vala de entulho com material de época Contemporânea, séculos XVIII e XIX. 5 – Fase final da escavação da estrutura negativa relacionada com a unidade estratigráfica 114. 6 – Pormenor da vala – [u.e.114] – em corte, sobreposição de um dos tanques de depuração de argilas [tanque 2 –[ u.e. 126 b]. 7 – Pormenor das unidades estratigráficas 115 e 116, valas de entulho com material de época Contemporânea. 8 – Vista geral sobre a extremidade Sudeste da sondagem, 1ª fase dos trabalhos arqueológicos. 9 – Pormenor da unidade estratigráfica 118, vala de entulhos com material de época Contemporânea. 10 – Corte NE/SO, pormenor. Trabalhos da 1ª fase. 11 – Pormenor dos trabalhos de escavação arqueológica. 12 – Pormenor das valas com material dos séculos XVIII e XIX, unidades 143, 136, 141, 146, 138, 137 … 13 – Pormenor da unidade estratigráfica 147, composta por sedimento arenoso que comportava material datável dos séculos XVII, XVIII e XIX. 14 – Pormenor do mesmo compartimento após a remoção da camada arenosa – [u.e.147] . Nível de argila subjacente a esta – [u.e.164]. 15 – Pormenor da unidade 145, vala que comportava, essencialmente, fragmentos de material de construção. 16 – Mesma unidade após a sua escavação. 17 – Pormenor da unidade 163, vala preenchida exclusivamente por areia. 18 – Mesmo pormenor, vista de Norte. 19 – Pormenor do tanque de depuração de argilas, tanque 1. 20 – Pormenor das estruturas arqueológicas identificadas na extremidade Oeste da sondagem. 21 – Aspecto geral sobre as estruturas arqueológicas. 22 – Destaque para o tanque de depuração de argilas – [u.e.126]. 23 – Pormenor das unidades estratigráficas 186, 185, 184 e 183. Sobreposição dos muros que com ela se relacionam a construção anterior. 24 – Vista de pormenor do aparelho construtivo relacionado com as unidades estratigráficas 180 e 179.

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Filipe João C. Santos 

  25 – Vista geral sobre a extremidade Norte da sondagem. 26 – Pormenor de conduta de época Contemporânea - unidade estratigráfica 108. 27 – Vista geral sobre as estruturas identificadas sobre o lado Nordeste da sondagem. Em primeiro plano identificam-se as bases de um possível telheiro associado aos tanques de argila. Unidades 128, 128 a, 128 b e 128 c. 28 – Pormenor dos compartimentos delimitados pelas unidades estratigráficas 179 e 180. 29 – Pormenor do interior de um desses compartimentos sobre o lado Sudeste. 30 – Vista geral das estruturas arqueológicas. 31 – Estruturas arqueológicas identificadas no ângulo Oeste da sondagem – [u.e´s: 180, 190 e 191]. 32 - Mesmo pormenor. 33 – Pormenor das estruturas identificadas no quadrado M12, pormenor da unidade estratigráfica 188. 34 – Tanque de depuração de argilas. 35 – Tanque 2 – [u.e.126 b]. 36 – Parte da área escavada nesta sondagem e câmara de combustão da antiga unidade fabril aqui existente.

II.5 – BOTA‐ABAIXO, SONDAGEM 2.    1 – Pormenor das estruturas identificadas, praticamente à superfície, na extremidade Norte da área escavada na 1ª fase. 2 – Identificação de duas estruturas negativas – valas de entulho – [u.e´s: 206 e 207]. 3 – Pormenor da fase final de escavação da unidade 206. 4 – Unidades estratigráficas 206 e 207, após a sua escavação. 5 – “língua de argila”, deixada em positivo – [u.e.208]. 6 – Pormenor dos trabalhos de escavação arqueológica. 7 – Bolsas de entulhos, localizada a cerca de 2, 00 m de profunidade, comportando material do século XIX – [ u-e´s: 211, 212 a, 213 e 214]. 8 – Pormenor sobre as mesmas bolsas. 9 – Bolsas aludidas após a sua escavação.

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Relatório Final 

10- Pormenor do corte estratigráfico 1. 11 – Pormenor do corte estratigráfico 2. 12 – Pormenor do corte estratigráfico 3. 13 - Pormenor das estruturas arqueológicas em O20, [u.e.´s: 227 e 230]. 14 - Pormenor das estruturas arqueológicas em O18 [u.e.´s: 228 E 229]. 15 – Vista geral sobre as estruturas arqueológicas. 16 – Pormenor da entrada emparedada no muro relacionado com a unidade estratigráfica 248. 17 – Pormenor de ombreira com chanfro, localizada em O19, relação estratigráfica com a unidade 222. 18 – Mesmo pormenor sobre o elemento arquitectónico aludido. 19 – Pormenor das estruturas identificadas após o rebaixamento dos quadrados M18/19 –[ u.e. 253]. 20 – Pormenor do derrube relacionado com a unidade estratigráfica 253, composto por grande quantidade de tijolos de cauda de andorinha. 21 – Vista geral sobre as estruturas arqueológicas do ângulo Norte da sondagem. 22 – Pormenor do empedrado coincidente com local onde se identificou uma entrada emparedada – [u.e.253].

II.6 – BOTA‐ABAIXO, SONDAGEM 3.    1 – Pormenor dos trabalhos de escavação. 2 – Poço – unidade estratigráfica 342- após derrocada. 3 – Pormenor da limpeza do primeiro nível de empedrado – [u.e.302] – sector 3. 4 – Pormenor dos empedrados identificados no sector 2 e 3 – [u.e.´s: 337 e 302]. 5 – Empedrado – [u.e.312] e poço – [u.e 345], sector 2, primeira fase dos trabalhos arqueológicos. 6 – Vista de conjunto sobre as estruturas do sector 2. Segunda fase dos trabalhos arqueológicos. 7 - Sectores 2 e 3, vista de Oeste. 8 – Pormenor do segundo nível de empedrado, muito destruído, identificado em M38 – [u.e.357 a] – sector 3. Página 141 de 145   

 

Filipe João C. Santos 

  9 – Vista parcial sobre o sector 4, unidades estratigráficas 359 – muro de divisão entre casario, e poço ali localizado –[u.e.358]. 10 – Vista geral sobre o “torreão” e segundo nível de empedrado – sector 3 –[u.e.357]. 11 – Pormenor da estrutura torriforme, fachada NE, após a picagem do reboco que revestia a alvenaria – sector 3. 12 – Pormenos da escavação em profundidade levada a cabo junto à fachada NE do “torreão “ – quadrados M e N30. 13 – Vista geral sobre os sectores 2 e 3, vista de Oeste. 14 – Estruturas arqueológicas identificadas no designado sector 2, vista de conjunto. 15 – Sector 3, empedrado – [u.e.357]. 16 – Vista geral sobre as estruturas sobranceiras ao lado NE do “torreão”, sector 3, e parte das estruturas do sector 4. 17 – Sector 4, em primeiro plano, e pormeno da unidade estratigráfica 356 – lastro de tijoleleiras em cauda de andorinha (sector 3). 18 – Pormenor do segundo nível de calçada localizada junto à fachada NE do “torreão”, sector 3 e estruturas postas a descoberto – poço [u.e.358] – no designado sector 4.

II.7 – BOTA‐ABAIXO, SONDAGEM 4. 

1 – Estruturas postas a descoberto após as decapagens iniciais. 2 – Estruturas arqueológicas sobre a extremidade Nordeste da sondagem. 3- Vista geral após a decapagem inicial. 4 – Vista de Oeste sobre as estruturas arqueológicas.

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Relatório Final 

5 – Vista gera sobre as estruturas arqueológicas após a desmontagem do primeiro nível de empedrado – [u.e.409]. 6 – Pormenor do segundo nível de empedrado identificado no quadrado P39 – [u.e.416]. 7 – Vista geral sobre as estruturas após a desmontagem das unidades 416, 422 e 406. 8 – Pormenor do segundo nível de calçada localizado em Q38/37 –[u.e.406]. 9 – Pormenor das bases correspondentes à unidade estratigráfica 417 – parede em tabique. 10 – O mesmo pormenor, vista de Oeste. 11 – Pormenor dos muros e piso identificados após a remoção do segundo nível de empedrado – [u.e´s: 431 (piso), 431 a e 421 b (muros). 12 – Mesmo pormenor. 13 – Estruturas identificadas à superfície nos quadrados M/N-34 e 35. 14 – Vista geral. 15 – Pormenor da conduta – [u.e261] – identificada entre os muros relacionados com as unidades estratigráficas 443 (a Este) e 442 (a Oeste). 16 – Plano final da intervenção à cota de afectação da obra. Pormenor do piso relacionado com a unidade estratigráfica 433.

II.8 – RUA DIREITA, SONDAGEM 1.    1 – Vista geral sobre as estruturas após a conclusão dos trabalhos arqueológicos. 2 – Mesmo pormenor. 3 – Quadrado N48 – [u.e.107].

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Filipe João C. Santos 

  4 – Vista geral sobre as estruturas da extremidade NO. 5 – Quadrado M48 – [u.e.133]. 6 – Quadrado P47 – [u.e.110]. 7 – Quadrado O48 – [u.e. 114]. 8 – Quadrado N48 – [u.e.s. 110, 111 e 114]. 9 – Quadrado N50 – [u.e. 132]. 10 – Quadrado O50 – [u.e´s: 105 e 106]. 11 – Quadrado P49 – [u.e´s: 105, 116 e 117]. 12 – Vista sobre as estruturas arqueológicas localizadas em P47. 13 – Quadrado M48 – [u.e´s: 133, 108 e 107]. 14 – Quadrado M49 – [u.e.106]. 15 – Quadrado O49 – [u.e.123]. 16 – Vista geral do local de escavação da sondagem 1 da Rua Direita.

     

   

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