Sistemas de assentamentos no Sítio Salvaterra 2, Baixo Rio Itapecuru, Bacabeira – Maranhão

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Sistemas de assentamentos no Sítio Salvaterra 2, Baixo Rio Itapecuru, Bacabeira – Maranhão

Arkley Marques BANDEIRA1 Rafael de Alcântara BRANDI 2 Barbara ROGENS3 Geysa SANTOS4 Bruno LABRADOR5 Saulo Ivan NERY6

Doutor em Arqueologia. Coordenador do PBA de Arqueologia da Refinaria Premium I. email: [email protected] 2 Mestre em Arqueogia. Subcoordenador do PBA de Arqueologia da Refinaria Premium I. [email protected] 3 Mestre em Arqueologia. Pesquisadora do PBA de Arqueologia da Refinaria Premium I. [email protected] 4 Mestre em Arqueologia. Pesquisadora do PBA de Arqueologia da Refinaria Premium I. [email protected] 5 Historiador. Pesquisador do PBA de Arqueologia da Refinaria Premium I. email: [email protected] 6 Geógrafo. Pesquisadora do PBA de Arqueologia da Refinaria Premium I. email: [email protected] 1

TARAIRIÚ – Revista Eletrônica do Laboratório de Arqueologia e Paleontologia da UEPB

SISTEMAS DE ASSENTAMENTOS NO SÍTIO SALVATERRA 2, BAIXO RIO ITAPECURU, BACABEIRA – MARANHÃO

RESUMO Este artigo apresenta a investigação arqueológica realizada no Sítio Salvaterra 2, localizado no município de Bacabeira – MA, situado no baixo curso do rio Itapecuru, cerca de 60 km da capital do Estado, São Luís. As pesquisas nesta região do Maranhão descortinaram importantes descobertas para a arqueologia regional, com a identificação e estudo de assentamentos multicomponenciais, ocupados no Holoceno Inicial por grupos de caçadores-coletores que datam de mais de 9.200 anos Antes do Presente com reocupações por povos agricultores e ceramistas que datam de cerca de 4.000 anos Antes do Presente até o contato com o colonizador europeu, no século XVII. O Sítio Salvaterra 2 foi dos muitos assentamentos investigados na região, localizado na margem norte igarapé Rabo de Porco, afluente do rio Itapecuru. Serão apresentados os procedimentos de escavação, a análise do material lítico e cerâmico e a cronologia para ocupação deste sítio.

PALAVRAS-CHAVE: Salvaterra 2 – Ocupação Lito-cerâmica – Baixo Itapecuru ABSTRACT

KEYWORDS: Salvaterra 2 - Occupation Lito-ceramic - Low Itapecuru.

Campina Grande-PB, Ano IV – Vol.1 - Número 06 – Junho de 2013

This article presents the archaeological research conducted in Site Salvaterra 2, located at Bacabeira city- MA, located on the lower course of the river Itapecuru, about 60 km from the São Luís Research in this region of Maranhão resulted important discoveries for the regional archeology, with the identification and study of multicomponent settlements, occupied the Early Holocene by groups of hunter-gatherers dating back over 9200 years Before Present reoccupations by people with farmers and potters dating back some 4,000 years Before Present to the contact with the European settlers in the seventeenth century. The site Salvaterra 2 was investigated from many settlements in the region, located on the north bank of the creek Rabo de Porco, a tributary of the river Itapecuru. Will present the procedures for excavation, analysis of lithic material and ceramic and the timing for occupancy this site.

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A PESQUISA ARQUEOLÓGICA NO BAIXO ITAPECURU – MA Está construindo no município de Bacabeira, entre as BR 402 e BR 135, a Refinaria Premium I, em região próxima às cidades de Rosário e Santa Rita, no Estado do Maranhão. O Programa Básico Ambiental de Arqueologia (PBA de Arqueologia) foi criado para compatibilizar as fases de obtenção das licenças ambientais para implantação deste empreendimento e a pesquisa arqueológica, conforme a legislação que rege o patrimônio cultural brasileiro. O referido Programa foi composto por quatro Subprogramas, denominados de Prospecção Arqueológica, Resgate Arqueológico, Monitoramento Arqueológico e Educação Patrimonial. Tais atividades foram autorizadas pela Portaria IPHAN nº. 35, publicada no Diário Oficial da União em 23 de dezembro de 2010.

Nesta região, Bandeira (2010, 2011) identificou assentamentos de caçadores-coletores e horticultores-ceramistas, no vale do baixo Itapecuru, que resultou na idade de 9.200 anos Antes do presente para as ocupações humanas mais antigas do Maranhão.

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Figuras 1, 2, 3 e 4 - Inserção geográfica do Sítio Arqueológico Salvaterra 2.

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Para a região do Baixo Itapecuru foi realizada pesquisa arqueológica nos sítios Rabo de Porco 1 e Mangueiras, o primeiro à margem esquerda e o segundo à margem direita do igarapé Rabo de Porco, afluente do rio Itapecuru, ambos no município de Bacabeira, situados a 2 km de distância deste rio. O Sítio Rabo de Porco 1 foi considerado a ocupação pré-histórica mais antiga do Estado do Maranhão, com 9.200 anos de idade, sendo caracterizado como um sítio multicomponiencial a céu aberto, em uma área de 950 m2. O material arqueológico depositado, tanto em profundidade, como em superfície sofreu ao longo dos séculos constantes inundações pela dinâmica hídrica sazonal dos rios da região, pelo fato das ocupações humanas terem se assentado nos terraços fluviais do igarapé Rabo de Porco:

A cultura material destas ocupações de caçadores-coletores foi representada pela ocorrência de refugos de lascamento, com grande concentração de estilhas e a presença de instrumentos, a exemplo de lascas corticais, percutores de seixo, raspadores e choppers. A matéria-prima utilizada foi o arenito silicificado, sílex, calcedônia e quartzo, trabalhados em seixos obtidos às margens do rio Itapecuru e cursos menores (BANDEIRA, 2011). No Rabo de Porco 1 o material arqueológico estava situado em camada arenosa mais profunda, depositada e compactada pela dinâmica hídrica dos cursos d’água da região, o que ocasionou baixo índice de preservação de material orgânico, restando apenas carvão (BANDEIRA, 2011).

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A cronologia do sítio Rabo de Porco I foi construída com base em doze datações absolutas, que possibilitaram temporalizar várias camadas arqueológicas, sendo seis datas obtidas pelo Método AMS para carvão e seis datas obtidas pelo Método de Termoluminescência, para cerâmica e sedimento. A cronologia do Rabo de Porco 1 estabeleceu distintos horizontes culturais representados por um Horizonte Lítico Lascado, um Horizonte Lítico Lascado e Cerâmico, um Horizonte Lítico Polido – Cerâmico, um Horizonte Cerâmico e um Horizonte Cerâmico de Contato. O período inicial para a ocupação dessa região foi associado a grupos de caçadores - coletores nômades, representados pelo horizonte lítico lascado, datado de 9.200 anos A. P. e perdurando até cerca de 4.500 A. P. O horizonte lítico lascado foi precisamente datado em 9.200 anos A. P. (Cal BP – Beta Analytic – Amostra 05) e caracterizado por um conjunto com vinte peças em rocha, principalmente lascas, estilhas, raspadores e choppers para corte e raspagem, em nível correspondente a 1,50m e 1,60m de profundidade. Em outra área do Sítio Rabo de Porco I foram evidenciadas estilhas e lascas associadas a carvão, entre 2,10m e 2,20m de profundidade, que resultou na idade de 8.320 anos A.P. (Cal BP – Beta Analytic – Amostra 06). Por fim, um terceiro nível filiado ao horizonte Lítico Lascado foi datado em 8.190 anos A.P. (Cal BP – Beta Analytic – Amostra 04), correspondendo ao nível 1,30m – 1,40m de profundidade. Entre 4.870 anos A.P. (FATEC Amostra 3003) e 4.410 anos A.P. (Cal BP – Beta Analytic – Amostra 03) iniciou-se o Horizonte Lítico Lascado – Cerâmico, correspondendo às camadas 0,90m a 1,00m de profundidade, quando se inicia a ocupação ceramista na região. (BANDEIRA, 2013, p.167).

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O período final para a ocorrência de cultura material associada aos grupos caçadorescoletores pré-ceramistas mais antigos também pôde ser aferido pelas datações obtidas nos níveis correspondentes ao início do horizonte ceramista. No Sítio Rabo de Porco 1 a datação de 4.410 anos Antes do Presente indicou o término da ocupação caçadora-coletora pré-ceramista na região do baixo Itapecuru, com indicação de que esses grupos permaneceram na região a pelo menos 4.790 anos (BANDEIRA, 2011).

Com base nos dados apresentados, ao que tudo indica, populações caçadoras-coletoras estavam plenamente adaptadas ao ambiente ribeirinho, vivendo nessas regiões entre 9.200 anos A.P. até 4.000 anos A.P., quando grupos humanos com características socioculturais distintas desses, entre elas o uso da cerâmica, reocuparam as áreas dos sítios mais antigos, a julgar pelos horizontes cerâmicos observados e datados nos sítios Rabo de Porco 1 e Mangueiras, no baixo Itapecuru. Sobre a filiação cultural do material lítico resgatado do Rabo de Porco 1 a morfologia das peças, matérias-primas, características dos assentamentos e a cronologia do sítio não permitiram a associação desse assentamento às tradições para o Holoceno Inicial disponíveis

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Figura 5 - Localização dos sítios arqueológico na região do baixo rio Itapecuru, com destaque para o Salvaterra 2.

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para o Brasil, devendo tratar-se de grupos caçadores-coletores até então desconhecidos da literatura arqueológica já consagrada. O Sítio Rabo de Porco 1 também apresentou para o período cerâmico quatro fases: horizonte Lítico Lascado – Cerâmico, Horizonte Lítico Polido – Cerâmico, Horizonte Cerâmico e Horizonte Cerâmico de Contato: Foram obtidas nove datações absolutas para o período cerâmico, sendo três feitas em carvão pelo método de AMS, realizadas no Beta Analytic - EUA e seis feitas em cerâmica pelo método de Termoluminescência, realizadas na FATEC – SP. O Horizonte Lítico Lascado – Cerâmico foi estabelecido inicialmente, entre 4.870 anos A. P. (FATEC amostra 3003) e 4.410 anos A. P. (CAL BP BETA amostra 03), sendo associado ao nível 0,90 m a 1,00 m de profundidade, com material arqueológico representado por refugos de atividades de lascamento, associado a grande quantidade de fragmentos cerâmicos. Esse período se estendeu até 1.850 anos A. P (FATEC amostra 3002), com datação intermediária de uma fogueira em 3.430 anos A.P (FATEC amostra 3006), situada entre o nível 0,40m a 0,50m de profundidade. O Horizonte Lítico Polido – Cerâmico inicia-se em torno do ano 720 (FATEC amostra 3001), portanto século VIII e se estendeu até o ano de 1410 (CAL BP BETA amostra 01), portanto século XV. Esse período associou-se a manufatura e uso de machados polidos, mão-de-pilão, almofarizes, raladores e trituradores em rochas granitoides, além de grande concentração de fragmentos cerâmicos. Essa ocupação é associada a um modo de vida agricultor, correspondendo ao nível 0,40m a 0,20m de profundidade. O último período de ocupação pré-histórica corresponde ao Horizonte Cerâmico de Contato, caracterizado por cerâmicas da Tradição Policroma e filiadas a outros grupos não classificados pelas tradições ceramistas existentes para arqueologia brasileira. A temporalidade desse período inicia-se a partir do século XVII, quando das primeiras entradas dos colonizadores pelo rio Itapecuru, a partir da Ilha de São Luís e Baía de São José chegam à região e se estendeu até o ano 153 (CAL BP BETA amostra 2), entre o século XIX e XX, correspondendo ao nível 0,20m a superfície do sítio. (BANDEIRA, 2013, p.191).

Outro assentamento ceramista investigado no baixo rio Itapecuru foi o Sítio Mangueiras, direita do igarapé Rabo de Porco. Ele foi caracterizado como multicomponiencial a céu aberto, em uma área de 1.500 m 2, com material arqueológico depositado na superfície e em profundidade, em área de antigo pomar de mangueiras e outras árvores frutíferas, protegido das inundações do igarapé Rabo de Porco. O sítio encontrava-se na área mais alta da região, no topo do terraço fluvial do referido igarapé. Foram executadas escavações em distintos setores do sítio, totalizando uma cobertura de 800 m de área. Em áreas de mangueiras e pomares foram encontrados vestígios do período histórico e em regiões próximas aos cursos d’água foram identificados bolsões de lascamento, bem como áreas com grande concentração cerâmica (BANDEIRA, 2011). Nos setores de maior densidade de material foram realizadas escavações em superfícies amplas para averiguação da espacialidade do sítio e deposição dos vestígios arqueológicos em profundidade.

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que dista 2.200 m ao sul do Sítio Rabo de Porco 1, na mesma bacia do Itapecuru, margem

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Para estabelecimento do contexto espaçotemporal do Sítio Mangueiras foram obtidas quatro datações para distintas camadas dos sítios, correspondendo, grosso modo, ao que se considerou como horizontes culturais: A cronologia do Sítio Mangueiras foi construída com base em quatro datações absolutas obtidas pelo Método AMS, que possibilitaram temporalizar várias camadas arqueológicas, bem como estabelecer distintos horizontes culturais representados por um Horizonte Lítico Lascado e Cerâmico, um Horizonte Lítico Polido – Cerâmico, um Horizonte Cerâmico e um Horizonte Cerâmico de Contato. O período Horizonte Lítico Lascado – Cerâmico foi estabelecido inicialmente, entre 4.490 anos A. P. (CAL BP BETA amostra 306452) e 4.340 anos A. P. (CAL BP BETA amostra 306453), sendo associado entre os níveis 0,90m a 1,20m de profundidade, onde foi encontrado refugo de atividades de lascamento, associado a grande quantidade de fragmentos cerâmicos. Esse período se estendeu até 3.730 anos A. P. (CAL BP BETA amostra 306451), correspondendo ao nível 0,80 m a 0,90m. Após esse período iniciou-se o Horizonte Lítico Polido – Cerâmico que se estendeu até 1.350 anos A.P. (CAL BP BETA amostra 306451), correspondendo ao nível 0,30m – 0,40m, caracterizado pela presença de machados polidos, mão-de-pilão, almofarizes, raladores e trituradores em rochas granitoides, além de grande concentração de fragmentos cerâmicos. Esse momento foi associado a um modo de vida agricultor. O último período de ocupação pré-histórica correspondeu ao Horizonte Cerâmico de Contato, caracterizado por apresentar cerâmicas da Tradição Policroma e de outros grupos não filiados as tradições ceramistas existentes na arqueologia brasileira. Não foi realizada datação para o material desse Horizonte no Sítio Mangueiras, pelo fato do sítio se encontrar bastante bioturbado. Contudo, a julgar pelos dados do Sítio Rabo de Porco 1, a temporalidade para o período Cerâmico de Contato iniciou-se a partir do século XVII, quando das primeiras entradas dos colonizadores pelo rio Itapecuru, a partir da Ilha de São Luís e Baía de São José chegaram à região, se estendendo até o século XIX. (BANDEIRA, 2013, p. 195).

INSERÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SALVATERRA 2 NA PAISAGEM

baixo vale do rio Itapecuru, em Bacabeira – MA. Ele se situa à margem norte do igarapé Rabo de Porco. Sua poligonal se estende por uma área de 24 ha, englobando duas pequenas colinas com topos aplainados e vertentes suaves, as quais se estendem até a planície fluvial. A UTM no ponto central do sítio é SAD 69 23M 0581744/9671400. O igarapé Rabo de Porco é caracterizado por um fluxo de água perene com alta sinuosidade. Seus aspectos morfológicos estão intimamente associados aos períodos de cheia, quando se intensificam os processos de erosão de suas barrancas e o acúmulo de sedimentos nas planícies, moldando lentamente a paisagem no entorno do sítio. Os corpos hídricos encontrados no Salvaterra 2 se concentram em sua porção sul, onde existem duas nascentes que compõem afluentes diretos do referido igarapé. O relevo da região é suavemente ondulado, com variação altimétrica relativamente baixa. A altitude do sítio varia entre 10 e 20 m acima do nível do mar, sendo o ponto mais alto o

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O Sítio Arqueológico Salvaterra 2 integra o complexo de sítios descobertos na região do

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topo de uma colina localizada na porção norte do sítio. Os terrenos localizados a oeste e leste se caracterizam como áreas planas com leve declive, descendo em direção sul. Existem diferentes tipos de sedimento na região, os quais estão relacionados ao relevo: sedimentos arenosos nos locais mais altos e sedimentos argilosos nas baixadas. O material arqueológico evidenciado durante a pesquisa ocorreu, geralmente, associado ao sedimento arenoso.

Figura 6 - Implantação do sítio na paisagem

A cobertura vegetal do sítio é bastante heterogênea. Constitui-se, predominantemente, por matas secundárias descontínuas e em processo de regeneração, apresentando distintos portes. Existem também áreas de roça recentemente abandonadas e áreas de vegetação porte, com copas mais fechadas, enquanto em outros, gramíneas, arbustos e árvores de pequeno porte dominam a paisagem. Na vegetação de maior porte, em áreas manejadas ou em matas secundárias com processo de regeneração mais avançado, estão presentes palmáceas como o anajá, o babaçu, o buriti e a juçara, além de árvores frutíferas como o bacuri, o ingá, a mangueira e o pequi. Algumas destas palmáceas são dependentes de água, comportando-se como indicadoras de regiões alagadiças em diferentes períodos do ano. As áreas com vegetação arbustiva, caracterizadas como capoeiras, estão relacionadas à atividades antrópicas. São decorrentes da prática de coivara (queima da vegetação para a limpeza e preparo do terreno para o plantio), de locais de antigas moradias, ou ainda, da derrubada de mata para a produção de carvão, onde se construíam estruturas denominadas

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manejada. Em alguns setores do sítio ocorreram concentrações de árvores de médio e grande

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localmente como caieiras (um corte raso no terreno, de até 10m² onde a lenha é queimada e transforma em carvão para uso próprio e comercialização).

Figura 7 - Delimitação do sítio arqueológico Salvaterra 2, com indicação dos poços-teste positivos e negativos

amplas áreas do sítio, sugeriu a ocorrência de constantes queimadas. Com isso foi possível vislumbrar que a área ocupada pelo sítio tenha sido quase totalmente utilizada para a implantação de roças, cujo plantio se dava por meio de um rodízio temporal e espacial de diferentes culturas, a fim de um melhor aproveitamento do solo.

Figuras 8 e 9 - Implantação do sítio na paisagem e igarapé rabo de porco

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Ademais, a presença de fragmentos e manchas de carvão em superfície, ocupando

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O sítio Salvaterra 2 também se destacou por abrigar a maioria das habitações relacionadas à antiga vila do Salvaterra. Praticamente todas possuíam quintais onde se encontraram pés de café, pés de urucum, goiabeiras, laranjeiras, limoeiros e outras árvores frutíferas. Também possuíam trilhas que as ligavam a outras residências e a casa de farinha. Utilizada de forma comunal, a casa de farinha abrigava duas fornalhas para a produção de farinha de mandioca, um dos produtos de maior importância econômica da comunidade.

ESCAVAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO SALVATERRA 2 Pelo fato do Sítio Arqueológico Salvaterra 2 se tratar de um assentamento multicomponencial, com cultura material associada aos períodos histórico e pré-histórico, resultado das sucessivas ocupações humanas nesta região, optou-se pela delimitação das áreas para intervenção, de acordo com o potencial arqueológico. Para tanto, foi aplicada uma malha para realização de poços-teste, tendo em vista a delimitação de setores com ocorrências arqueológicas em superfície e subsuperfície. Foram executados 295 (duzentos e noventa e cinco) poços-teste, sendo 77 (setenta e sete) positivos em uma malha de espaçamento entre as intervenções de 25 x 25 metros. Além disso, procedeu-se com a identificação e mapeamento das ruínas das casas abandonadas pelos antigos moradores do Salvaterra. Estas estruturas foram denominadas de 5 metros, entre si. Foram detectados, ainda, 9 (nove) conjuntos residenciais e 82 (oitenta e duas) áreas com concentração de material arqueológico. A partir desses dados, foi possível delimitar 4 (quatro) lócus para abertura de 9 (nove) unidades de escavação, totalizando 53m³ de área escavada, onde foi possível coletar uma quantidade significativa cultura material produzida por distintos grupos humanos que habitaram esta região, em tempos pré-históricos, históricos e recentes. As atividades de resgate desenvolvidas nos lócus delimitados na fase de identificação, mapeamento e refinamento das áreas com material arqueológico são descritas a seguir: Lócus 1 - correspondeu a abertura de 3 (três) unidades de escavação, totalizando 39,9m³ escavados e coletas de superfície que resultaram em um acervo de 11.200 (onze mil e duzentos) fragmentos de naturezas diversas, o que correspondeu à mais de 90% de todo o material resgatado no Salvaterra 2.

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conjuntos residenciais. Nestes setores os poços-teste foram efetuados com uma distância de 5 x

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Figura 10 – Distribuição dos vestígios históricos e pré-históricos no Sítio Salvaterra 2.

Lócus 2 – foram realizadas 3 (três) unidades de escavação, além de coletas de superfície, totalizando um acervo de 502 (quinhentos e dois) fragmentos. quarenta e nove) fragmentos resgatados. Lócus 4 – foi realizada 1 (uma) unidade de escavação, que resultou na coleta de 107 (cento e sete ) fragmentos de natureza diversa. Além das atividades nos Lócus foi possível identificar as ruínas e estruturas das edificações associadas à ocupação histórica recente, que foram denominadas de conjuntos residenciais. No total observaram-se 14 (catorze) estruturas parcialmente demolidas, sendo que 2 (duas) delas não eram utilizadas como residência, (casa de farinha e uma área coletiva para convívio social) totalizando 9 (nove) conjuntos residenciais, definidos segundo a proximidade e uso das estruturas encontradas. A distribuição vertical do material arqueológico nas áreas de escavação apontou que entre os níveis 3 (20 – 30 cm) e 4 (30 – 40 cm) houve uma gradativa diminuição do material

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Lócus 3 – foram realizadas 2 (duas) unidades de escavação, totalizando 249 (duzentos e

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histórico do século XX, portanto, recentes e um considerável aumento no vestígios históricos dos séculos XVIII e XIX.

Figura 11 - Distribuição dos vestígios históricos e pré-históricos no Lócus 1.

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Figura 12 - Croqui das estruturas residenciais e pomares.

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A partir do nível 5 (40 – 50 cm) até o nível 13 (120 – 130 cm) não foram mais detectados materiais históricos, havendo a predominância de vestígios pré-históricos, com destaque para cerâmicas de manufatura roletada com antiplástico mineral e queima oxidante na maioria das peças, havendo também a presença de alguns fragmentos com queima redutora, e líticos polidos e lascados, com predominância de estilhas e microlascas de sílex. As maiores concentrações de materiais, tanto líticos como cerâmicos, ocorreu entre os níveis 6 (50 – 60 cm) e 8 (70 – 80 cm). O nível 9 (80 – 90 cm) apresentou uma diminuição na frequência do material arqueológico, com uma queda acentuada no nível 10 (90 – 100 cm), até alcançar o nível arqueologicamente estéril, entre os níveis 13 (120 – 130 cm) e 14 (130 – 140 cm). A distribuição espacial dos vestígios indicou uma concentração de material pré-histórico nas quadrículas A1, A2, A3, A4 e B1; ao passo que o material histórico esteve concentrado nas quadrículas C3, C4, D3 e D4.

Com relação ao processo de formação do Sítio Arqueológico Salvaterra 2, a leitura dos perfis indicaram a existência de 2 (duas) camadas arqueológicas, sendo a primeira delimitada entre a superfície e o nível 4 (30 – 40 cm), associada a materiais arqueológicos oriundos do século XVIII, XIX e XX, portanto, remanescentes dos processos de ocupação colonial na região até as ocupações humanas mais tardias nesta região. Ao passo que a segunda camada arqueológica esteve associada às ocupações préhistórica, que apresentou maior concentração de material arqueológico entre todas as quadrículas das Unidades.

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Figuras 13 e 14 - Croqui da unidade de escavação 1 e escavação entre 40 a 50 cm de profundidade.

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A partir do nível 40 - 50 cm percebeu-se uma diferenciação do material arqueológico em relação aos níveis anteriores. O material histórico não mais foi detectado e o material lítico começou a ocorrer. As cerâmicas coletadas a partir deste nível estratigráfico apresentaram-se majoritariamente com manufatura roletada, queima heterogênea, antiplástico grosseiro (em sua maioria de origem mineral), estando bastante fragmentadas e friáveis. Estas características apontaram para uma origem pré-colonial do material cerâmico. Já em relação ao material lítico, foram observados três tipos principais de matérias-primas: sílex, granitóides e quartzito, evidenciadas em lascas, micro lascas e estilhas. Apesar de terem sido coletados materiais arqueológicos até o nível 120 - 130 cm, a maior concentração ocorreu, entre os níveis 40 - 50 cm e 70 - 80 cm de profundidade. A partir deste nível, a concentração diminui significativamente, tanto de cerâmica quanto de lítico. Na porção central do sítio Salvaterra 2 foi coletada a maior quantidade de vestígios arqueológicos em subsuperfície. O panorama preliminar estabelecido quanto à materialidade desta porção do sítio indicou a presença de uma ocupação pré-colonial

ANÁLISE DOS VESTÍGIOS CERÂMICOS Para fins deste artigo será apresentada a análise do material cerâmico coletado na Unidade de Escavação 01, que perfez cerca de 11% dos 6.417 fragmentos cerâmicos coletados

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Figura 15 - Perfil Sul – Unidade de Escavação 1.

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no sítio Salvaterra 2, conforme o quadro que se segue. SETOR Unidade de Escavação 1 Analisada 649

Não analisada 3631

Total 4280

Quadro 1 - Frequência do material analisado por esta pesquisa

Neste processo foi criada uma ficha de análise tipológica para identificação e classificação os atributos da cerâmica baseada nos manuais do Programa Nacional de Pesquisas Arqueológicas (PRONAPA); em especial, Terminologia arqueológica brasileira para a cerâmica (CHMYZ, 1976) e o livro A cerâmica Guarani (LA SALVIA & BROCHADO, 1984). Na Unidade 1 foram coletados 4.280 fragmentos cerâmicos e analisados 649, correspondendo a 15 % do total do sítio arqueológico. Com relação ao processo de manufatura, a análise tipológica da cerâmica demonstrou a existência de 3 (três) técnicas de fabricação da cerâmica no sítio:  Técnica de sobreposição de roletes ou roletado, correspondeu a 63% da amostra, com aumento na frequência a partir do nível 5, quando foi iniciado o horizonte pré-histórico;  Técnica do torneado, com o uso de um torno para montagem dos artefatos cerâmicos, que correspondeu a 19% da amostra, com ocorrência entre os níveis 1 a 4, e relativa  Técnica de modelagem dos artefatos cerâmicos, que correspondeu a 18% da amostra, com aumento na frequência a partir do nível 7 em diante, associado aos apliques e apêndices da cerâmica pré-histórica. Sobre a queima, foram observados 5 (cinco) tipos, como se seguem:  Queima oxidante, perfazendo 78% da amostra, com maior frequência no nível 8, associada à ocupação pré-histórica;  Queima redutora, perfazendo 13% da amostra, com maior frequência no nível 7. Nota-se que o nível 7 apresentou a maior quantidade de fragmentos com queima redutora.  Queima redutora interna e oxidante externamente, perfazendo 4% da amostra;  Queima com núcleo redutor e extremidades oxidantes, perfazendo 4% da amostra;  Queima redutora externamente e oxidante interna, perfazendo 1% da amostra. Com relação ao antiplástico a análise observou a predominância do mineral, perfazendo 88% da amostra, com maior frequência no nível 8; seguida de cacos moídos ou triturados,

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diminuição no nível 5, associada ao período histórico;

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com 10% e frequência nos níveis 6, 7, 8 e 9, sendo também observados carvão e fibra vegetal, totalizando o restante da amostra. Sobre os tratamentos de superfície observados no conjunto cerâmico a predominância foi a técnica do alisamento, representada em 84% do universo analisado; ao passo que os fragmentos pigmentados (engobo, banho, pintura) perfizeram 6% do material, seguido do polimento presente em 1% do universo. Em 9% não foi possível identificar o tratamento de superfície devido à tafonomia das peças. Acerca dos aspectos tafonômicos que incidiram nas características pós-deposicionais do acervo cerâmico, 84% dos fragmentos cerâmicos apresentaram espessura inferior a 1 cm, devido a intensa lixiviação do sedimento arenoso que formam a base do sítio arqueológico. A síntese da análise cerâmica possibilitou perceber algumas características recorrentes, que resultaram na identificação dos seguintes conjuntos cerâmicos: Conjunto 1 – cerâmicas com espessura inferior a 1 cm, com técnica de manufatura roletada, antiplástico mineral, queima oxidante e tratamento de superfície alisado, com o pico de frequência ocorrendo no nível 8 e fragmentos com espessura superior a 1 cm ocorrendo nos níveis 6 e 9, associada ao período pré-histórico. Conjunto 2 - cerâmicas com a técnica de manufatura torneada, antiplástico mineral, queima oxidante, tratamentos de superfície alisado e polido e espessuras inferiores a 1 cm, associadas ao período histórico. Conjunto 3 - cerâmicas com técnicas de manufaturas roletada e modelada, antiplástico mineral, associada a ao período pré-histórico. Os três conjuntos identificados resultaram da ocupação deste sítio por distintos grupos que produziram cerâmicas e habitaram a região por um longo período de tempo, a julgar pela ocorrência deste vestígio em todos os horizontes culturais observados, tanto histórico, como préhistórico.

Figuras 16 e 17 - Material cerâmico.

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queima oxidante, com tratamento de superfície alisado e pintado e espessuras inferiores a 1 cm,

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ANÁLISE DOS VESTÍGIOS LÍTICOS O material lítico do Sítio Arqueológico Salvaterra 2 resultou em uma coleção de 5.979 peças, das quais 2.751 foram selecionadas para análise, correspondendo a 46% do universo observado. Semelhantemente ao ocorrido no estudo da cerâmica, optou-se por analisar o material coletado na Unidade de Escavação 1, devido às características quantitativas e qualitativas, uma vez que as quadrículas A1, A2, B1, B2 e C2 apresentaram a maior quantidade de peças, em um bom contexto de preservação dos horizontes arqueológicos. A metodologia adotada para a análise do material lítico centrou-se em uma perspectiva tecnológica, procurando sempre que possível, identificar os componentes da cadeia operatória e as escolhas tecnológicas dos ocupantes deste sítio arqueológico. A análise centrou-se na observação de cada peça individualmente, identificando aspectos relacionados com a tecnologia, morfologia, alterações e dimensões. A análise da indústria lítica do Sítio Salvaterra 2 demonstrou um descompasso entre as classes tecnológicas selecionadas, com o grosso da amostra sendo representada por detritos de lascamentos, principalmente, estilhas e outros fragmentos de lascamento. Em relação à matéria-prima, entre os níveis 50 e 90 cm a rocha predominante foi o sílex, que foi trabalhado para obtenção de lascas que apresentaram mais de seis lados; lascas com morfologia laminar e quadrangular. com percutor macio, ao passo que a indústria não apresentou elementos que indicassem técnicas mais elaboradas, a exemplo da debitagem, uma vez que não foram encontradas lascas maiores que 2 cm com predominância da ausência do córtex.

Figura 18 – Material lítico

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Com relação à técnica de lascamento, observou-se a predominância da percussão direta

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Os artefatos mais observados neste sítio foram as lascas, com 343 unidades, bem como a presença de 5 (cinco) instrumentos, sendo 4 (quatro) lascados e 1(um) polido.

CRONOLOGIA No Sítio Arqueológico Salvaterra 2 foram coletadas amostras de carvões e cerâmica para realização de datações pelas técnicas de AMS e Termoluminescência, em laboratórios do Brasil e EUA. Até o fechamento deste artigo apenas a datação em AMS, realizada no laboratório Beta Analytic, em Miami, havia sido finalizada. Para todas as unidades escavadas no Sítio Salvaterra 2 o carvão esteve restrito a pequenas concentrações, na maioria das vezes, resultado de bioturbações ou da queima natural de madeira. Um dos poucos setores do sítio que apresentou um contexto seguro para ser datado foi uma estrutura de combustão evidenciada da Unidade de Escavação 4, formada por pequenos blocos de rocha e com cerâmica no interior, situada na Quadrícula E5 e profundidade: 70 – 80 cm (NP 26144). O resultado para a amostra de carvão associada à fogueira (código 341007 Beta Analytic) apontou para a uma idade Cal AD 240 a 390 e Cal BP 1710 a 1560 anos. O nível datado apresentou sedimento com textura areno-siltosa, coloração 10 YR 3/2, baixas umidade e compactação, incidência média de carvão e bioturbação nas quadrículas A1 e O espólio de material arqueológico evidenciado no nível contabilizou 237 peças, sendo 113 (cento e treze) cerâmicas e 124 (cento e vinte e quatro) líticos, tratando-se, portanto, de um horizonte lito-cerâmico.

Figuras 19 e 20 - Fogueira evidenciada na Unidade de Escavação 1 com carvão datado do seu interior.

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B1.

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A maior concentração de material ocorreu na estrutura de fogueira, onde foi observada a maior concentração de carvão de todo o sítio, motivo que levou a datação desta camada. Apesar dos níveis subsequentes terem apresentado material arqueológico até 1,40 m de profundidade, a inexistência de carvão associados a contextos seguros para datação impossibilitou a obtenção de datas para os primeiros níveis de ocupação do sítio. No entanto, o material cerâmico coletado contribuirá para a construção cronológica da ocupação lito-cerâmico do Salvaterra 2, tendo em vista que este material esteve presente por mais 70 cm abaixo da estrutura de combustão. De todo o modo, à existência desta data possibilitou inferir que o horizonte lito-cerâmico nesta região já estava bem estabelecido em torno de 1.800 anos atrás, principalmente se associarmos estas datas com as cronologias dos Sítios Arqueológicos Rabo de Porco 1 e Mangueiras, apresentados suscintamente neste artigo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa arqueológica no Sítio Salvaterra 2 possibilitou construir conhecimento inédito sobre os processos de ocupação humana no vale do baixo Itapecuru, resultando na identificação de distintos horizontes culturais, materializados nos vestígios arqueológicos. Especificamente, sobre o Salvaterra 2, foram identificados dois sistemas de assentamentos, com modos de vida e temporalidades distintas, remetendo-se aos períodos ocupações históricas associadas ao último momento de ocupação do sítio. A datação disponível para o Salvaterra 2 atestou que em torno de 1.710 anos Antes do Presente grupos de horticultores ceramistas já estavam plenamente assentados às margens do igarapé Rabo de Porco, tributário do rio Itapecuru. Remeteram a este período conjuntos artefatuais cerâmicos e líticos lascados e polidos. Estes grupos permaneceram ocupando a região até o período de contato com o colonizador português, algo em torno de 1620, quando os primeiros colonos implantaram fazendas e engenhos nesta região. A partir deste período a cultura material do sítio tornou-se totalmente distinta da anterior, sendo observados objetos industrializados, a exemplo de louças portuguesas e inglesas, vidrarias, metais e materiais construtivos, oriundos dos séculos XVIII, XIX e XX. Estes artefatos

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históricos e pré-históricos, com ocupações lito-cerâmicas associadas ao primeiro momento e

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indicaram um modo de vida agropastoril, centrado na propriedade familiar dos colonos até um período bem recente, quando a comunidade do Salvaterra foi transferida para outro local. Em síntese, a pesquisa arqueológica no Sítio Salvaterra 2 permitiu caracterizar este assentamento como multicomponencial, com dois horizontes de ocupação distintos nesta porção do Estado do Maranhão.

REFERÊNCIAS BANDEIRA, A. M. 1º Relatório de prospecção arqueológica – 1ª etapa – poligonal da Refinaria Premium I. Setores Área 6, Área do Canteiro Avançado da Petrobrás, Área 13- Empréstimo, Área de Bota Fora e Área do Canteiro do Consórcio para Terraplanagem. PBA de Arqueologia da Refinaria Premium I. Bacabeira – MA, 2010. ______. 1º Relatório final de resgate arqueológico dos Sítios Rabo de Porco I e Mangueiras. PBA de Arqueologia Refinaria Premium I. Bacabeira – MA, 2011. ______. Ocupações humanas pré-coloniais na Ilha de São Luís – MA: inserção dos sítios arqueológicos na paisagem, cronologia e cultura material cerâmica. 2013. Tese (Doutorado). Museu de Arqueologia e Etnologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013. CHMYZ, I. Terminologia arqueológica brasileira para a cerâmica. 2 ed. ano 1, n. 1, Paranaguá: Museu de Arqueologia e Artes Populares, UFPR, 1976. LA SALVIA, F.; BROCHADO, J. P. Cerâmica Guarani. 2 ed. Porto Alegre: Posenato Arte e Cultura, 1989.

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