Sistemas Submarinos de Distribuição de Energia: Aspectos Geológico-Geotécnicos e Técnicas de Proteção dos Cabos

July 27, 2017 | Autor: Roberta Boszczowski | Categoria: Marine Engineering, Submarine Cable
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Sistemas Submarinos de Distribuição de Energia: Aspectos Geológico-Geotécnicos e Técnicas de Proteção dos Cabos Roberta Bomfim Boszczowski e Elisangela do Prado Oliveira Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento - LACTEC, Curitiba, PR Alessander C. Morales Kormann Universidade Federal do Paraná, Curitiba, PR Valdir Cerqueira Petersen Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro, Niterói, RJ RESUMO: Este trabalho descreve parte de uma pesquisa sobre cabos submarinos de distribuição de energia. O estudo envolve os aspectos geológico-geotécnicos intervenientes na segurança de uma linha, incluindo o desenvolvimento de ferramentas de investigação do leito marinho para a obtenção de parâmetros de projeto. Também são descritas as principais causas de rupturas dos cabos de sistemas submersos, apresentando-se uma revisão bibliográfica de técnicas de proteção. Dentre as causas de ruptura, as âncoras de embarcações trazem os maiores riscos à integridade de cabos submarinos. É dada ênfase aos métodos de determinação da profundidade ótima de enterramento de cabos submersos, os quais são aplicados em um estudo de caso - o sistema Angra dos Reis – Ilha Grande, da CERJ. PALAVRAS-CHAVES: Cabos Submarinos, Geotecnia Marinha, Sistemas de Proteção. 1

INTRODUÇÃO

A rápida e crescente ocupação dos espaços territoriais remotos vêm exigindo a ampliação das linhas elétricas existentes e a construção de novas conexões submersas, para distribuição de energia em ilhas e regiões limítrofes a mares, rios e lagos. Assim, torna-se necessário buscar inovações nas técnicas de estudo, projeto e construção desses sistemas. Da mesma forma, é preciso aperfeiçoar os métodos de avaliação das condições de degradação das linhas submarinas e submersas já existentes, buscando a qualidade e a redução dos custos de sua manutenção. Apesar do uso de cabos submarinos ser uma prática relativamente corrente, dificuldades associadas ao projeto, execução e operação desses sistemas não deixam de se fazer presentes. Um dos grandes desafios é a garantia da integridade estrutural dos cabos, que pode ser prejudicada pelo fato do ambiente marinho se constituir em um meio instável e agressivo. Durante muito tempo, os cabos submarinos foram simplesmente lançados no leito oceânico, sem uma adequada consideração dos aspectos

geológico-geotécnicos envolvidos. Para o projeto de assentamento de linhas submarinas de transmissão de energia elétrica, de acordo com o U.S. Army Corps of Engineers (2003), faz-se necessária a completa caracterização do leito marinho. Embora uma parte essencial do processo de planejamento de redes submersas seja o entendimento da geologia do leito marinho e dos problemas geotécnicos associados (Allan, 1998), no Brasil ainda não existem regulamentações específicas sobre o assunto. A prática de se lançar cabos submarinos no leito marinho sem qualquer estudo prévio do solo ou sistemas de proteção torna-os vulneráveis a agentes externos, como por exemplo, âncoras de navios ─ que arrastam e rompem os cabos ─, rochas aflorantes ou fundos móveis ─ que representam situações de erosão, recobrimento, exposição e deslocamento da rede. De modo a se estabelecer um sistema de proteção, é necessário o estudo das características físicas do ambiente onde estão instalados os cabos submersos. O presente

trabalho descreve a aplicação da pesquisa a uma área modelo ─ o sistema pioneiro de cabos submarinos Angra dos Reis – Ilha Grande, da CERJ ─, que consiste em uma linha de distribuição de energia entre o continente e uma ilha oceânica, em funcionamento já há mais de duas décadas. É apresentada a caracterização geológica-geotécnica da região, as principais causas de rupturas de cabos submarinos e as metodologias de proteção ao sistema. 2 RUPTURA DE CABOS SUBMARINOS A caracterização geológico-geotécnica é de extrema importância para a definição dos riscos de danos a cabos submersos. Na seleção do traçado, deve-se procurar antecipar problemas associados a deslizamentos de taludes, vulcões submarinos, afloramentos rochosos, fundos móveis, bancos sedimentares submersos, falhas e fraturas geológicas. Essas feições trazem sérios riscos de fadiga e de deslocamentos indesejáveis em estruturas submarinas de um modo geral, tais como oleodutos, gasodutos e cabos de distribuição e transmissão de energia elétrica. A erosão provocada pela interação entre o leito marinho, correntes e ação de ondas também pode causar danos a tubulações e cabos submarinos. Uma vez que a erosão ocorre, o cabo é submetido a derivas e deformações, com o risco de ruptura estrutural. Os aspectos geotécnicos usualmente considerados na seleção de uma rota de instalação de cabos possuem limitações, nem sempre permitindo a identificação de perigos potenciais naturais, tais como deslizamentos de taludes submarinos, áreas de rochas expostas, transporte de sedimentos ou vulcões submarinos. Tais fontes de risco podem romper o cabo diretamente ─ por tração ou cisalhamento ─ ou indiretamente ─ devido à remoção da proteção do cabo (blindagem), ou ainda expondo o sistema que inicialmente estava enterrado. Existe pouca informação quanto a deslizamentos de taludes submarinos. A maioria das análises de escorregamentos marinhos é efetuada através da observação da estrutura preservada do escorregamento, onde é possível

estabelecer as condições sob as quais aconteceu a ruptura e a influência do fenômeno no ambiente marinho. Dados existentes na literatura mostram que muitas áreas próximas à quebra da plataforma e no talude continental são instáveis, e sofreram deslizamentos em um passado recente. Alguns desses escorregamentos têm provocado a ruptura de cabos submarinos (Esteves, 1996). O transporte de sedimentos influi diretamente na profundidade de enterramento dos cabos, pois pode levar à exposição do sistema e sujeitá-lo a um risco maior de danos. Nos casos de combinação de mobilidade do leito marinho com a presença de rochas expostas, a blindagem pode não ser suficiente para proteger o cabo do atrito com a superfície rochosa. Embora ocorrências naturais causem danos aos cabos, a maioria dos acidentes é provocada pela atividade humana. As principais fontes de problemas em cabos submarinos provêm de fontes externas, como atividades de pesca e âncoras de navios. Dados de sistemas em operação no Oceano Atlântico e no Mar do Caribe, entre 1956 e 1996, mostram que menos de 9 % dos problemas são causados por agentes naturais (Shapiro et al, 1997). Em águas profundas, a confiabilidade dos sistemas é afetada principalmente por falhas intrínsecas dos cabos, enquanto que em profundidades abaixo de 1000 m os problemas decorrem dos fatores externos (Williams, 1997). A necessidade de intervenções para reparos em águas profundas é pequena ─ menos de 20 % do total de ocorrências. As âncoras de embarcações são a maior causa de danos a sistemas submersos, devido à profundidade de penetração no solo marinho e aos esforços introduzidos nos cabos (Shapiro et al, 1997). Revisões estatísticas de acidentes indicam que a maior parte das rupturas acontece em águas com menos de 200 m de profundidade. Além disso, 70 % dos acidentes com âncoras ocorrem em profundidades inferiores a 50 m, e 20 % se dão em profundidades que não excedem 10 m (Allan e Comrie, 2001). O comprimento das correntes metálicas empregadas em navios normalmente impede a ancoragem em águas profundas ─ a profundidade máxima varia entre 100 e 150 m.

Esses dados mostram que problemas associados a âncoras provêm de embarcações de pequeno porte em águas relativamente rasas. Ou seja, ao se avaliar o risco de dano das âncoras, deve-se ter em mente a profundidade do leito marinho. Deve ser ressaltado também que o risco de uma âncora atingir um cabo não está relacionado apenas à sua penetração, mas também à distância ao longo da qual se dá a perturbação do leito oceânico, que depende da resistência do solo encontrado. 3 PROTECAO DE CABOS SUBMARINOS O modo mais econômico de instalação de cabos submersos consiste no seu assentamento sobre o leito marinho. Porém, a presença ao longo do traçado de áreas de pesca, proximidade a portos, rotas de navios e ancoradouros tende a potencializar a ocorrência de acidentes. Os cabos situados em áreas de risco são normalmente protegidos por uma blindagem, a qual é constituída por camadas de “tranças” metálicas. As mesmas podem ter uma posição angular alta ou baixa, para aumentar a resistência longitudinal ou a resistência à abrasão. Porém, por razões de manuseio dos cabos, é difícil aumentar significativamente a sua rigidez flexural. Outra desvantagem da blindagem é o custo. A adição de cada camada de blindagem resulta em uma passagem adicional pela linha de produção industrial, o que encarece o processo (Allan, 1998). A utilização de geossintéticos pode facilitar a instalação e a manutenção, fornecendo uma proteção mecânica adicional, por exemplo, quanto ao “enroscamento” com âncoras. Também é conferida ao sistema uma maior estabilidade, uma vez que o deslocamento dos cabos devido à ação de ondas e marés é restringido. Podem ser encontrados no mercado vários produtos oferecidos por empresas da área (e.g. Aquática Construções e Comércio, 2003; Macaferri, 2003 e CRP Group, 2003). Como desvantagem tem-se, também, o custo desses materiais. O enterramento de cabos tem sido considerado a forma mais segura de proteção aos sistemas submersos. Essa técnica de proteção foi adotada inicialmente no final dos

anos 70 e início dos anos 80. Os benefícios do enterramento são exemplificados no trabalho de Shapiro et al. (1997), que mostra a diminuição de uma média de 3,7 rupturas por 1000 km, entre 1959 e 1979, para 0,44 ruptura por 1000 km, depois de 1985. Essa solução pode trazer benefícios diretos tanto a cabos já existentes como a novos sistemas. O estudo teórico da profundidade de penetração de âncoras – principal agente causador do rompimento de cabos – ainda é incipiente no meio acadêmico. É comum na indústria de cabos a especificação de uma profundidade constante de enterramento para os mesmos, sem considerar a resistência dos solos do leito marinho e um projeto específico de proteção (Allan, 1998). Um estudo aprofundado do problema é bastante complexo, requerendo o trabalho conjunto de diferentes áreas, tais como mecânica dos solos, física, hidráulica e mecânica. O uso de modelos reduzidos para alguns tipos particulares de âncoras é citado na literatura, mas a grande maioria dos pesquisadores trabalha com relações empíricas ou ensaios de campo para a determinação da profundidade de penetração. Dados publicados por Nakamura et al. (1991), apresentados na Tabela 1, revelam que a profundidade de penetração de âncoras em solos lamosos é o dobro da verificada em solos arenosos. Embora a profundidade de penetração de âncoras de navios com mais de 50.000 toneladas seja superior a 2 m em areias, os autores recomendam que tal valor seja adotado como limite para o enterramento de cabos submarinos, porque a probabilidade de ocorrência de navios de maior porte é pequena. Ao atingir o solo oceânico, uma âncora descreve uma trajetória em que a penetração aumenta gradativamente com a distância de arraste. Utilizando-se relações matemáticas, é possível prever a profundidade que a âncora alcançará, sob um determinado esforço resultante. Teoricamente, enquanto a âncora puder continuar penetrando, a profundidade será limitada pela força resultante, a qual depende de fatores como o porte do navio e condições ambientais. Considerando a relação entre o peso da embarcação e o peso da âncora (Nakamura et al, 1991), a Figura 1 resume diversas proposições

da literatura para a penetração de âncoras em solos marinhos. Como pode ser observado, para solos rijos, areias e pedregulhos não há diferenças significativas entre os trabalhos dos diversos autores. Para esses solos e âncoras de grandes embarcações, a profundidade de penetração está entre 1,5 e 2,5 m. No entanto, deve-se notar que diferentes tipos de âncoras apresentam profundidades de penetração distintas (Tabela 1, Nakamura et al, 1991). Tabela 1 - Dados de penetração de âncoras (Nakamura et al., 1991). Peso do Navio (ton) 1.000 5.000 15.000 50.000 100.000

6

Cabeça da Âncora (m) 1,0 1,6 2,0 2,4 2,6

Profundidade de Penetração da Âncora (m) Lama Areia Pedregulho ~ 1,0 ~ 2,0 ~ 3,0 ~ 4,0 ~ 5,0

~ 0,5 ~ 1,0 ~ 1,5 ~ 2,0 ~ 2,5

~ 0,5 ~ 0,8 ~ 1,0 ~ 1,2 ~ 1,4

Lamas - Nakamura et al., 1991 Areias - Nakamura et al., 1991 Pedregulhos - Nakamura et al., 1991 Argilas Rijas - Allan e Conrie, 2001 Solos Firmes - Stockless - NCEL Solos Firmes - Danforth - NCEL

5

PENETRAÇÃO (m)

Peso da Âncora (ton) 1,0 2,8 4,8 8,2 12,4

4

3

2

1

0

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

PESO DA ÂNCORA (t)

Figura 1 - Dados de penetração de âncoras. Em 1997, durante o SubOptic’97, dois conceitos foram formulados com respeito à proteção de cabos submarinos via enterramento: a “linha de ameaça” e o “índice de proteção por enterramento”. A “linha de ameaça” descreve a profundidade na qual ameaças potenciais podem penetrar no solo marinho. A profundidade será diferente para cada rota de cabo, dependendo das atividades pesqueiras, ancoragens e dragagem, assim como as condições do leito e profundidade da lâmina d’água. Para estar completamente protegido, o cabo deve ser enterrado a uma profundidade

maior que a “linha de ameaça” (Allan e Comrie, 2001). O conceito de “linha de ameaça” foi consolidado com estudos de rupturas de cabos de telecomunicações. Esses trabalhos conduziram a um melhor entendimento do potencial de risco e a especificações mais rigorosas para o enterramento dos cabos. A Tabela 2 mostra um sumário das profundidades nominais requeridas para se enterrar diversos cabos abaixo da “linha de ameaça” (Hoshina e Featherstone, 2001). Essa tabela deve ser encarada como um resumo genérico; ameaças locais podem requerer profundidades significativamente distintas. Tabela 2 – Profundidades nominais requeridas para enterramento de cabos abaixo da “linha de ameaça” para diferentes ameaças e tipos de solos (inclui um fator de segurança de 33%) (Hoshina e Featherstone, 2001). Ameaça / Tipo de Solo

argila >72 kPa, rocha

lama, silte, argila 2-18 kPa

< 0,4 m

areia, pedregulho, argila 1872 kPa 0,5 m

Traineira de placas, traineiras de feixes, dragas Dragas hidráulicas Redes de pesca, âncoras Âncoras de navios acima de 10.000 t Âncoras de navios acima de 100.000 t

< 0,4 m

0,6 m

N/A

N/A

2,0 m

> 2,0 m

< 1,5 m

2,1 m

7,3 m

< 2,2 m

2,9 m

9,2 m

> 0,5 m

O “índice de proteção por enterramento” (Burial Protection Index - BPI) fornece um gráfico que relaciona o nível de proteção obtido com a profundidade de enterramento para diferentes materiais de fundo (Mole et al, 1997). O conceito baseia-se no fato de que solos mais resistentes conferem uma proteção maior do que a de terrenos fofos ou moles, para um cabo enterrado na mesma profundidade. O parâmetro BPI foi convencionado como sendo o valor unitário suficiente para proteger um cabo contra dragagem e as mais comuns atividades de pesca, em uma argila de resistência não drenada igual a 40 kPa e profundidade de enterramento do cabo de 1 m. Para outros valores de resistência não drenada e

níveis de segurança, a profundidade de enterramento é extrapolada. Essa estimativa permite um aumento da profundidade de enterramento com a redução da resistência do solo do leito marinho. Foi adotada a profundidade mínima de 0,6 m para o enterramento dos cabos, e 60 kPa como resistência não drenada máxima. As profundidades ótimas de enterramento para cabos em solos argilosos para BPI=1 são apresentadas na Figura 2.

PROFUNDIDADE DE ENTERRAMENTO (m)

RESISTÊNCIA NÃO DRENADA (kPa) 0

0

20

40

60

80

100

Allan e Comrie, 2001 Mole et al., 1997

-1

-2

-3

Figura 2 - Profundidade recomendada para BPI=1 para argilas. Para se obter a profundidade ótima de enterramento em areias é usada uma correlação expressa em termos de sua densidade relativa (Dr %). Uma curva para o nível de proteção de BPI igual a 1 é apresentada na Figura 3. Deve ser ressaltado que não é considerada a mobilidade da areia devido à ação de ondas e correntes.

4 ESTUDO DE CASO: SISTEMA SUBMARINO DE DISTRIBUICAO DE ENERGIA ELETRICA ANGRA DOS REIS – ILHA GRANDE O sistema de cabos submarinos objeto do presente estudo liga a costa costa do estado do Rio de Janeiro à Ilha Grande (Figura 4). Os cabos estendem-se da Ponta do Gambelo (23° 3,25’S – 44°10,57’W), no continente, até a Ponta do Funil (23° 5,5’S – 44° 12,55’W), na Ilha Grande. O comprimento da linha é da ordem de 5,5 km. Cerca de 50 % de sua extensão está localizada em áreas com profundidades superiores a 20 m. Para esse sistema, estudos recentes permitiram determinar os riscos potenciais associados à ruptura dos cabos, através de análise da geologia local, caracterização do fundo marinho, e modelagem numérica de sedimentos e escoamento da região (LACTEC/CERJ, 2003). A Baía de Ilha Grande apresenta uma configuração geomorfológica bastante peculiar. Cargueiros e grandes petroleiros, com peso acima de 20.000 toneladas e calados da ordem de 20 metros, tem acesso à Baía, inclusive com grande aproximação da costa (Belo, 2001). Esses fatores aumentam o risco de arrastamento dos cabos por âncoras. O assentamento de cabos em afloramentos rochosos representa uma ameaça para o sistema, uma vez que o cabo pode se romper por atrito com a superfície áspera. Esse risco cresce com o aumento da movimentação do cabo sob corpos rochosos.

PROFUNDIDADE DE ENTERRAMENTO (m)

DENSIDADE RELATIVA DA AREIA (%) 0 0

20

40

60

80

Allan e Comrie, 2001

100

SACO DO CÉU

ILHA GRANDE

SIÃO FORTE

PRAIA DA FEITICEIRA SACO DA FREGUESIA PONTA DO FUNIL

ILHA JAPARIZ

-1

CABO SUBMARINO

PONTA DO GAMBELO CONTINENTE

-2

-3

Figura 3 – Profundidade recomendada para BPI=1 para areias.

ANGRA DOS REIS

Figura 4 – Área em estudo – Canal Central da Ilha Grande. A área do sistema Angra dos Reis – Ilha Grande foi pesquisada com técnicas de

batimetria, sonografia e magnetometria, para localização dos cabos e identificação da natureza dos solos (Subsea, 2003). A Figura 5 ilustra uma das imagens sonográficas obtidas. Também foram coletadas amostras de solos ao longo do traçado do cabo para caracterização em laboratório.

Cabo Elétr.

Lama Areia Rocha

Figura 5 – Exemplo de imagem sonográfica do leito marinho. A Baía da Ilha Grande é constituída de diferentes fácies granulométricas, tais como: a) areias grossas e médias na face leste da baía e na plataforma interna; b) areias muito finas a finas na face oeste da baía e amplamente distribuídas na plataforma interna próxima e c) lamas em regiões de mais baixa energia, no canal central e em enseadas abrigadas, como a Baía de Angra dos Reis (Mahiques, 1987 e Dias et al, 1990). No interior da baía de Ilha Grande, a oeste do canal central, a fração grossa em sua maior parte é constituída de partículas subangulares de quartzo, associadas a micas e minerais pesados (Belo, 2001). Há ainda fragmentos de bioclastos retrabalhados em ambiente de mais alta energia, concentrados a uma profundidade de 20 m (Corrêa et al, 1997). A região nordeste da área central da baía apresenta pequena concentração de carbonato de cálcio, com teores inferiores a 10 %. No restante da área, os teores de CaCO3 situam-se entre 10 e 25 %. Somente nas proximidades da Ponta da Espia as porcentagens de CaCO3 ultrapassam 90%. No âmbito do presente estudo, para a caracterização geotécnica de linhas de cabos submarinos, foi adaptado um penetrômetro

dinâmico – o Dynamic Cone Penetrometer (DCP) –, tendo-se em vista a necessidade de uso submerso. Inicialmente, procedeu-se a testes em laboratório, simulando condições de campo. Para tanto, foram coletadas três amostras da área onde estão assentados os cabos submarinos do sistema Angra dos Reis – Ilha Grande. Os ensaios foram realizados em um tambor de 50 cm de diâmetro e 90 cm de altura, preenchido com material saturado em diferentes condições de compacidade. Em uma segunda etapa, testes foram realizados no mar, na região da Ilha dos Currais (litoral do Paraná), tendo-se coletado também amostras do solo deste local. A Figura 6 ilustra o equipamento desenvolvido, o qual é operado manualmente por mergulhadores. O número de golpes de um peso necessário para cravar 55 cm do conjunto de hastes é registrado. A resistência à penetração medida em campo pode ser correlacionada com parâmetros úteis ao projeto geológico-geotécnico de uma linha submersa. O equipamento em questão – utilizado em caráter experimental – mostrou-se econômico e de fácil manuseio, não requerendo a contratação de equipe especializada para sua operação (LACTEC/CERJ, 2002).

Figura 6 – Penetrômetro dinâmico adaptado para uso submerso - testes na Ilha dos Currais – PR.

Aplicando-se os conceitos de “índice de proteção por enterramento” (Allan e Comrie, 2001) e “linha de ameaça” (Hoshina e Featherstone, 2001) para os solos da área dos cabos submarinos de Angra dos Reis – Ilha Grande foram sugeridas as profundidades de enterramento resumidas na Tabela 3. Os dados de penetração de âncoras foram obtidos da literatura. Tabela 3 – Profundidades de Enterramento. Método / Referência Índice de Proteção por Enterramento – BPI (Allan e Comrie, 2001) Linha de Ameaça (Hoshina e Featherstone, 2001) Dados de profundidade de penetração de âncoras

Características BPI = 1, areias BPI = 2, areias Redes de pesca, âncoras em areia Navios >100.000 t, areia Navios >100.000 t, areia, terrenos firmes

Profundidade de Enterramento P. do Funil 1,5 m P. do Gambelo 0,8 m P. do Funil 3,0 m P. do Gambelo 1,6 m 2m 2,9 m 1,5 a 2,5 m

Foi recomendado evitar a passagem de cabos sob as rochas aflorantes, através da sua remoção, se possível, ou alterando-se a trajetória do cabo. Deve-se notar que, se essas soluções não forem viáveis, o grampeamento do cabo no fundo rochoso é um meio de proteção contra a abrasão devido à movimentação do cabo. A fixação do cabo no leito marinho pode ser realizada através de chumbadores, rip rap ou geossintéticos (LACTEC/CERJ, 2003). No entanto, cuidados adicionais devem ser tomados, pois embora fixo no leito marinho, o cabo continua exposto. 5 CONCLUSÕES A revisão dos fatores geológicos e geotécnicos intervenientes no projeto de um sistema de cabos submersos evidencia a importância de um adequado estudo do leito marinho. Foram apresentadas as principais causas de rupturas de cabos submarinos, técnicas de proteção aplicadas a esses sistemas e os riscos potenciais de um sistema em estudo, a travessia Angra dos Reis – Ilha Grande. Os métodos de proteção mais difundidos contra agentes externos consistem no aumento

da blindagem do cabo, para suportar cargas de tensão e abrasão, ou o seu enterramento. O uso de blindagem e enterramento apresenta diferentes benefícios e riscos, e não existe uma relação direta entre os mesmos. O benefício do enterramento advém da possibilidade de sua execução em profundidade superior à alcançada por âncoras, por exemplo, o que evita a exposição do cabo. A simples blindagem não agrega essa vantagem, pois não se impede o contato com a ameaça, embora se aumente a chance de sobrevida da rede. Os fatores de confiabilidade do tipo de proteção também são distintos. A confiabilidade da proteção por blindagem – executada em fábrica sob condições controladas – é maior. No caso da proteção por enterramento, são necessários estudos específicos. O trabalho aqui desenvolvido mostrou que, no caso de investigações para cabos submarinos, ainda há espaço para um simples penetrômetro, especialmente durante a fase exploratória de uma investigação. A possibilidade do aproveitamento de correlações existentes para o DCP pode permitir que parâmetros geotécnicos úteis sejam obtidos de uma forma prática, com vistas ao projeto do traçado de sistemas de cabos submarinos. Para a linha Angra dos Reis – Ilha Grande, profundidades de enterramento foram sugeridas aplicando-se os conceitos de “índice de proteção por enterramento” e “linha de ameaça”. AGRADECIMENTOS Os autores gostariam de registrar que o presente trabalho foi desenvolvido em conjunto com a Companhia de Eletricidade do Rio de Janeiro – CERJ, agradecendo o apoio recebido. REFERÊNCIAS Allan, P.G. (1998) Geotechnical aspects of submarine cables, IBC Conference on Subsea Geotechnics, Aberdeen, Novembro. Allan, P.G. e Comrie R. (2001) The selection of appropriate burial tools and burial depths,

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