Situação e Perspetivas Socioprofissionais dos Jovens do Interior do Concelho de Loulé

May 28, 2017 | Autor: F. Machado | Categoria: Sociology of Youth
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Situação social e perspectivas profissionais dos jovens do interior do Concelho de Loulé

RELATÓRIO FINAL

Fernando Luís Machado Rita Cheta

Centro de Investigação e Estudos de Sociologia Lisboa, Novembro de 1998

ÍNDICE Agradecimentos Introdução: objectivos e contextualização do estudo; metodologia Situação e relações familiares Situação e trajectos escolares e de formação profissional Transição para o mercado de trabalho e situação profissional Vida associativa: pluralidade de protagonismos Relação com o meio local: fixação ou abandono? Conclusão: síntese dos resultados e sugestões de intervenção Bibliografia

Agradecimentos Muitas pessoas e instituições contribuíram de formas variadas para a realização deste estudo e queremos deixar-lhes aqui expresso o nosso agradecimento. Em primeiro lugar, os técnicos e animadores da IN LOCO, especialmente os sediados no Centro Brito de Carvalho, em Salir, que estiveram sempre disponíveis para facultar documentação pertinente para o estudo, estabelecer contactos com potenciais entrevistados, apoiar em termos logísticos a realização do trabalho de campo. Mais do que isso, alguns dos animadores foram autênticos informantes privilegiados, que facilitaram aos responsáveis por este trabalho os primeiros passos na abordagem ao terreno. Agradecimento também aos presidentes das Juntas de Freguesias de Alte, Ameixial, Benafim, Querença, Salir e Tôr, que se dispuseram, apesar do seu tempo muito limitado, a prestar informações valiosas sobre as respectivas áreas de intervenção e nos ajudaram, com a manifestação das suas experiências e opiniões, a compreender alguns contornos do tema em causa. Agradecimento ainda ao Dr. Jacinto Colaço, Presidente da EB 123 de Salir, ao Eng. Aníbal Coelho, Director da Escola Profissional Cândido Guerreiro em Alte e aos seus professores, especialmente à Dra. Teresa Cabrita, ao Sr. Vítor Rodrigues, Director do Centro de Emprego de Loulé, e ao Sr. Diamantino Urbano da Associação Social e Cultural da Tôr, pelos seus testemunhos de pessoas com conhecimento e/ou actividades quotidianas nas freguesias onde decorreu o trabalho e que sempre que deles dispunham nos facultaram documentação e contactos relevantes. Por fim, o mais importante dos agradecimentos. Ele vai para os próprios jovens, porque foram eles quem nos deu as informações mais decisivas para a concretização do estudo. Quer para os quarenta que entrevistámos individualmente, quer para os muitos mais com quem se travou conhecimento e se trocaram impressões ao longo de dois meses de presença ininterrupta de um dos investigadores no local, quer ainda para os jovens do Grupo Desportivo Ameixialense e para os da Escola-Oficina de Barranco do Velho, pela sua disponibilidade para reflectir conjuntamente, em mais do que uma ocasião, sobre a situação e perspectivas da juventude no interior do concelho de Loulé.

INTRODUÇÃO

Objectivos e contextualização do estudo Embora privilegiando a questão da inserção e das perspectivas profissionais, tal como nos foi solicitado pela Associação In Loco, este estudo contempla outras dimensões decisivas da vida dos jovens do interior do concelho de Loulé, como sejam o enquadramento familiar, a situação e trajectos escolares e respectivas implicações em termos de acesso ao mercado de trabalho, as formas de sociabilidade e de ocupação dos tempos livres, as dinâmicas associativas, as suas expectativas, aspirações e projectos pessoais e ainda as avaliações que fazem sobre o meio local hoje e no futuro próximo e sobre o seu lugar nele. A questão profissional não está isolada dessas outras dimensões, pelo contrário, elas aparecem estreitamente interligadas no quadro de vida do conjunto dos jovens e de cada um deles de forma singular. Pretendeu-se, desta forma, traçar um diagnóstico da situação da juventude local, dotando aqueles que tem responsabilidades institucionais na zona de mais um instrumento de reflexão e fundamentação de acções futuras. A situação dos jovens do interior algarvio não pode ser compreendida fora do contexto mais amplo da juventude em geral, quer no país como um todo quer mesmo em termos internacionais, nomeadamente no espaço alargado de referência que é cada vez mais a União Europeia. Desde os anos 80 têm-se multiplicado, a nível internacional, mas também a nível nacional, tanto pela iniciativa autónoma de investigadores das ciências sociais, como por solicitação de autoridades públicas de diversos níveis de responsabilidade e âmbitos de actuação, estudos sobre a situação social dos jovens em múltiplos aspectos, incluindo, com grande destaque, as questões referentes à transição para a vida activa. Dispõe-se assim, hoje, de um nível razoável de informação e reflexão sobre o tema, informação e reflexão que são convocadas, ao longo do texto, de forma a colocar a questão da inserção socio-profissional dos jovens do interior do concelho de Loulé em contextos comparativos mais vastos. Poderá ver-se, desse modo, aquilo que são padrões muito gerais que esses jovens acompanham, mas também algumas especificidades decorrentes do quadro económico e social particular em que estão inseridos. Se alguma ideia aparece unanimemente destacada em todas essas pesquisas nacionais e internacionais ela é, sem dúvida, a de que as relações entre mercado de trabalho, sistema de ensino e família, e cada um dos três termos dessa relação isoladamente tomado,

sofreram transformações profundas nos últimos 20 a 30 anos e que é nesse novo cenário que deve ser entendida a condição social da juventude de hoje. A muitas vezes alegada falta de projectos profissionais dos jovens, por exemplo, que muitos tendem a atribuir linearmente a alegadas orientações negativas face ao trabalho, decorre em boa medida das próprias mutações sofridas pelo sistema de emprego, que empurram muitos deles para trajectórias instáveis e precárias de contínua rotação laboral. No caso dos jovens de Loulé interior, não se pode, igualmente, ignorar o modo como as características particulares da região em que estão inseridos condicionam a sua situação social e perspectivas profissionais. As marcas estruturais de terciarização, sazonalidade e pluriactividade1 moldam o quadro de constrangimentos e possibilidades que aos jovens se oferece, no que respeita à entrada na esfera profissional e aos trajectos aí percorridos ou a percorrer. A oferta abundante de trabalho, directa ou indirectamente gerado pelo turismo, numa região onde, simultaneamente, a percentagem de jovens é das mais baixas do país2, proporciona-lhes um leque alargado de alternativas laborais, ainda que maioritariamente sazonais e precárias. O facto de o Algarve se ter tornado nos anos 90 uma zona de atracção de imigrantes é o melhor testemunho de que a procura de mão-de-obra excede a oferta, nomeadamente na construção civil e no sector hoteleiro. Por outro lado, a pluriactividade das famílias, muito comum na zona serrana, onde aparece associada a estratégias longamente enraizadas de preservação da pequena propriedade3, garante aos jovens, em conjunturas mais difíceis do mercado de trabalho, uma retaguarda protectora. Outro ponto a merecer atenção particular, neste contexto, é o da evolução demográfica. Se o concelho de Loulé como um todo inverteu, ainda nos anos 80, a tendência de perda de população das décadas anteriores, já na zona interior do concelho essa inversão não parece estar em marcha. A julgar por algumas informações coligidas no curso deste estudo, as previsões constantes do Plano Director Municipal da Câmara Municipal de Loulé, apontando para o 1

Uma análise detalhada destas características da economia e da sociedade algarvias pode encontrar-se em João Pinto Guerreiro, Sistemas Agrários no Algarve. Da Exclusividade Autártica à Integração Pluriactiva, Faro, Universidade de Faro, 1993. 2 Segundo estimativas de 1995, do Instituto Nacional de Estatística, a percentagem de população dos 15-29 anos sobre o total da população era, a nível nacional, de 24,0%. No distrito de Faro era de 21,1%, a quinta mais baixa entre os distritos do continente, a seguir aos três distritos alentejanos e ao de Castelo Branco. O valor mais alto registava-se em Braga (27,9%). Nas freguesias do interior do concelho de Loulé, em 1991, essa mesma faixa etária representava 15,2% em Alte, 15,1 no Ameixial, 15,0 em Benafim, 14,6 em Querença e Tôr e 15,4 em Salir. 3 Para uma excelente análise antropológica e histórica das estratégias das populações serranas face à pequena propriedade e à pluriactividade, entre outros aspectos, ver Cristiana Bastos, Os Montes do Nordeste Algarvio, Lisboa, Cosmos, 1993.

aumento da população de todas as seis freguesias do interior, entre 1991 e 2001, não parecem confirmar-se4. No caso da freguesia do Ameixial, justamente a mais atingida pelo declínio populacional, um recenseamento local efectuado em meados de 19985 revela significativa redução do número de habitantes, por referência aos contabilizados no Recenseamento Geral da População de 1991. Mais especificamente, pôde ver-se que uma boa parte daqueles que tinham entre 20 a 29 anos, em 1991, já não constam entre os actuais residentes da freguesia. Por outro lado, o número de crianças a frequentar, em 1997, o 1º ciclo do ensino básico era, em todas essas seis freguesias, mais baixo do que o registado, também em 1991, nesse mesmo ciclo escolar. Claro que essa redução não espelhará apenas o abandono do interior por população jovem, mas também o declínio da natalidade entre os que ficam. Seja por uma razão ou por outra, o efeito de agravamento da situação demográfica é o mesmo. Se o declínio da natalidade é hoje uma preocupação a nível nacional, ele ainda o é mais em zonas que apresentam já elevados índices de envelhecimento. Em compensação, deve ter-se em conta - e esse foi um resultado inesperado desta pesquisa - a dimensão considerável que parece já ter atingido o contingente de emigrantes regressados ao interior do concelho de Loulé, ao longo das duas últimas décadas. Os efeitos demográficos e socioeconómicos desse regresso não serão certamente negligenciáveis e devem merecer a atenção de quem intervém localmente, seja a que nível for. É digno de realce que metade dos nossos quarenta entrevistados pertençam a famílias regressadas de países europeus e que, desses vinte, seis tenham eles próprios nascido nesses países e regressado em crianças. Acresce que vários outros entrevistados têm familiares próximos na emigração, alguns dos quais com projectos de regresso6.

Metodologia Foi com estes elementos de enquadramento em pano de fundo, que se pôs em prática, entre 1 de Maio e 30 de Junho de 1998, nas seis freguesias interiores do concelho de Loulé (Alte, Ameixial, Benafim, Querença, Tôr e Salir), um conjunto de procedimentos de recolha de informação empírica sobre a população jovem. Tendo em vista essa recolha, e

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Cf. PDM / Demografia, página 36. Levantamento efectuado, porta a porta, pelo Padre Gomes do Ameixial. 6 Esse facto é tanto mais significativo quanto podemos dizer que, desse ponto de vista particular, estamos perante uma amostra puramente aleatória, uma vez que os jovens entrevistados não foram seleccionados em função de serem ou não de famílias de emigrantes. 5

na linha do que tem sido feito em estudos nacionais de referência sobre o tema, o escalão etário seleccionado foi o dos 15-29 anos de idade. No que respeita à recolha directa no local, privilegiou-se, em face da solicitação da Associação In Loco e dos objectivos do estudo, uma abordagem qualitativa, que assentou basicamente na realização de entrevistas, complementada por procedimentos de observação e pela recolha e tratamento de documentação local variada e de dados estatísticos oficiais. Foram entrevistados 40 jovens, distribuídos proporcionalmente pelas seis freguesias e pelos dois sexos. Para além dos parâmetros de idade, sexo e localização geográfica, foram ainda consideradas as variáveis escolaridade e estatuto profissional, de modo a que a amostra final de entrevistados reunisse jovens numa pluralidade de situações. A amostra incluiu uma larga maioria de jovens já inseridos na esfera profissional, mas também alguns que só estudam, sendo que parte deles acumula a dupla condição de estudante e trabalhador. Dos que têm já experiência profissional, sub-conjunto que integra jovens com níveis muito variados de escolaridade, teve-se em conta a duração maior ou menor dessa experiência, situações de instabilidade e precaridade, mas também situações de emprego estável ou de trabalho independente e ainda casos de jovens que se encontravam desempregados no momento de realização da entrevista. Quanto aos estudantes e aos estudantes-trabalhadores, contemplaram-se os que frequentam a universidade, o ensino secundário e ainda o 3º ciclo do básico no sistema de ensino recorrente. O guião previamente definido para essas entrevistas cobria uma pluralidade de dimensões relevantes, detendo-se mais demoradamente nas questões relativas à situação, experiências e expectativas dos jovens face ao mercado de trabalho. O tratamento posterior das entrevistadas gravadas, com duração média de hora e meia, baseou-se numa análise de conteúdo temática, seguindo as dimensões mais importantes do guião. Paralelamente às entrevistas, recorreu-se a outro dispositivo de recolha de informação que consistiu na observação e análise - através de conversas informais, acompanhamento de situações do quotidiano e entrevistas colectivas - de alguns grupos de jovens, seleccionados em função das suas distintas actividades e características e por pertencerem a diferentes freguesias: o Grupo Desportivo Ameixialense (como grupo de amigos e associativo de tipo mais clássico); o Grupo da Escola-Oficina de Carpintaria do Barranco do Velho (como grupo de trabalho) e a Associação APAQUER (como grupo associativo de cariz inovador). Para além dos procedimentos de pesquisa directamente dirigidos aos jovens, utilizaram-se outras fontes de informação. Uma dessas fontes foram as opiniões recolhidas junto de um conjunto amplo de informantes privilegiados, directamente ou indirectamente ligados aos jovens, incluindo

Presidentes das Juntas de Freguesia, professores, dirigentes associativos, responsáveis por instituições ligadas ao emprego e à formação profissional e técnicos e animadores da Associação In Loco. Outra foi a abundante documentação sobre o meio local, disponibilizada por esses e outros interlocutores, da qual foi possível retirar elementos pertinentes sobre alguns aspectos da situação social dos jovens. Uma terceira fonte foram dados estatísticos oficiais sobre as várias freguesias, relativos à composição sociodemográfica e socioprofissional da população em geral e dos jovens em particular. Diga-se, finalmente, que a presença contínua no local de um dos autores do estudo, durante todo o tempo em que decorreu o trabalho de terreno, proporcionando contactos diversos com muitos outros jovens, para além dos entrevistados, foi outro nível importante de observação. Tratou-se de um nível de observação informal, mas de grande utilidade para aferir dos resultados obtidos através dos procedimentos mais formalizados de pesquisa. A benefício da lógica e clareza de exposição, as páginas que se seguem foram organizadas em cinco pontos: situação e relações familiares; situação e trajectos escolares e de formação profissional; transição para o mercado de trabalho e situação profissional; participação associativa; relação com o meio local. Em todos esses pontos incluíram-se, intercalados com o texto, excertos das entrevistas realizadas aos jovens, de forma a dar a perceber, através de um discurso directo, as suas experiências e perspectivas sobre cada um dos temas abordados. Na conclusão retomam-se, sinteticamente, as principais ideias-força de cada um dos pontos precedentes, permitindo uma visão integrada dos resultados obtidos pelo estudo. Como complemento ao relatório, foi organizado um volume de anexos onde se incluem os instrumentos de pesquisa utilizados e documentação qualitativa e quantitativa variada sobre os jovens e a sua inserção no meio local.

SITUAÇÃO E RELAÇÕES FAMILIARES

A grande maioria dos jovens do interior do concelho de Loulé vive em casa dos pais. Dos quarenta entrevistados neste estudo, apenas dois não viviam com os pais, residindo, em todo o caso, em casas pertencentes ao património familiar. Este panorama, que num primeiro olhar se poderia tomar como sinal de falta de autonomia dos jovens, deve merecer, no entanto, uma interpretação mais cuidada.

Não estamos aqui perante qualquer especificidade local, pelo contrário a situação destes jovens inscreve-se numa tendência mais ampla, a nível nacional e internacional, de uma coabitação de pais e filhos muito mais longa do que há duas ou três décadas atrás. O prolongamento do período de escolarização média e consequente adiamento da entrada no mercado de trabalho, bem como as dificuldades de aí encontrar nos primeiros anos situações de estabilidade, leva a que muitos jovens só acabem por deixar a casa familiar quando têm uma posição profissional firmemente estabelecida ou então quando constituem a sua própria unidade familiar e/ou decidem ter filhos, o que de resto acontece também cada vez mais tarde. Sendo esta uma prática cada vez mais comum entre os jovens das cidades, para os jovens das zonas rurais pode dizer-se que esse padrão urbano de referência se combina e reforça a prática, aí tradicionalmente mais difundida, de coabitação alargada de mais do que um núcleo familiar, os filhos continuando a viver com os pais mesmo depois de terem passado a viver conjugalmente. A democratização das relações familiares, por seu turno, é outro aspecto que tem sido invocado para explicar o prolongamento da coabitação de pais e filhos. Estes gozam de autonomia e independência acrescidas dentro da própria estrutura familiar, tornando-se menos comuns os casos em que a saída de casa dos pais era uma forma de libertação face a relações de tipo mais vertical e autoritário. Neste quadro, e se tivermos ainda em consideração que o abandono da casa dos pais representaria uma perda de padrão de vida, uma vez que teriam de passar a pagar um conjunto de condições de que beneficiam gratuitamente, compreende-se que, mesmo depois de já trabalharem, muitos jovens acima dos 24 ou 25 anos prefiram prolongar por mais alguns anos a situação de coabitação familiar. Mais do que uma forma de passividade ou de falta de vontade de autonomização, a dependência da família é uma escolha racional dos jovens7. Não surpreende assim que a família apareça fortemente cotada nos inquéritos que têm sido efectuados, a nível nacional, sobre os valores dos jovens. A imagem positiva da instituição familiar é generalizada e, para além do aspecto da segurança económica que ela oferece, é sublinhada a sua importância também pelo lado da segurança afectiva, da

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Sobre estas e outras ideias sobre a coabitação duradoura de pais e filhos ver Alessandro Cavalli, "The delayed entry in adulthood: is it bad or good for society?", in Jovens em Mudança - Actas do Congresso Internacional "Growing up between center and periphery", Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 1997, e Bernard Roudet, "Des jeunes en milieu rural", Pour, nº 156, 1997.

preparação para a vida e das relações boas ou muito boas que a grande maioria dos jovens mantêm com os seus pais8. No caso particular dos jovens entrevistados neste estudo, tanto o lado do apoio económico como o das relações de afectividade familiar estão bem expressos nas suas práticas e discursos, o que não significa que não existam divergências geracionais em certas opiniões ou comportamentos. O bem estar material proporcionado pelos pais - que asseguram as despesas correntes dos filhos e apoiam-nos em despesas extraordinárias como sejam a aquisição de automóvel ou motorizada - reflecte não só o desejo de que os filhos tenham uma vida melhor do que eles próprios tiveram quando eram novos, como um conjunto de condições objectivas que permitem aos pais assegurar-lhes esse padrão de vida. A pluriactividade e plurirendimento de muitas famílias, associada à posse de casa própria e ao aproveitamento para auto-consumo de pequenas parcelas agrícolas, deixam margem para esse apoio material, garantido enquanto a coabitação durar. A própria dimensão reduzida das famílias - a larga maioria não tem mais do que dois filhos e há bastantes casos de filhos únicos - facilita-o. Note-se, por outro lado, que se os jovens que trabalham e vivem com a família geralmente não participam das despesas domésticas, são eles que financiam as seus próprias despesas com vestuário e outros bens materiais de consumo pessoal ou os gastos nas saídas de fim de semana, que, caso não trabalhassem, não deixariam de recair, ainda que reduzidos, sobre os orçamentos familiares. Se o negócio não for para a frente, se calhar tenho que alugar uma casa. Mas também posso ficar no meu quarto na casa dos meus pais que ninguém me chateia. Posso ficar à vontade até aos trinta ou mais. 23 anos, sexo masculino, 7º ano incompleto, empregado na hotelaria O que eu peço aos meus pais, está feito. Eles fazem tudo o que eu peço. 29 anos, sexo masculino, desempregado, trabalho ocasional com o pai, 6º ano incompleto Estou pouco tempo com a minha família, é só quando tenho folga. Mas todos os dias me lembro da família, são pessoas com quem desabafamos, em quem a gente faz confiança, são nossos amigos... é a comidinha, é a roupinha passada, é tudo diferente. 22 anos, sexo masculino, 9º ano, empregado num restaurante, vive no litoral durante o tempo de trabalho Os meus pais confiam muito em mim, estou na boa com eles... Quando for para a universidade vai ser difícil separar-me da minha família e não é só dos meus pais, é dos meus primos também, estou muito agarrada a eles. Não me estou a imaginar a viver sem eles... nem quero!... A minha família é muito unida e quando existe um problema as pessoas devem todas tentar resolver. Somos muitos unidos, quando há uma festa andamos todos juntos, quando há uma alegria todos riem, quando há uma tristeza choramos todos, sempre juntos. 16 anos, sexo feminino, estudante do 11º ano

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Sobre este tema ver Paulo Antunes Ferreira, Valores dos Jovens Portugueses nos Anos 80, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais e Instituto da Juventude, 1993.

A família é muito importante para mim, por exemplo se eu arranjasse um trabalho na área da minha profissão mais próximo de casa, mesmo que por menos dinheiro, eu aceitava para estar ao pé da minha família...A minha irmã que vive em Loulé tem pena ... ela diz que se as estradas melhorassem vinha para cá viver, ela vem sempre cá ao fim de semana. 24 anos, sexo feminino, frequência do 12º ano em escola profissional, pasteleira-cozinheira na hotelaria A família é muito importante porque nos apoia no dia-a-dia, principalmente. Tenho um tio que é altamente! 19 anos, sexo masculino, 10º ano incompleto, carteiro

Mas a solidariedade familiar não tem só um sentido. Podem apontar-se várias situações em que ela se manifesta também dos filhos para os pais, não só nas palavras como nos actos. Uma, minoritária, é a dos jovens que, em famílias com menos recursos ou que não dispõem do amparo da pequena agricultura para auto-consumo, participam paritariamente em todas as despesas básicas, contribuindo decisivamente para a subsistência da agregado. Já muito mais frequentes são os casos dos que, num quadro de reciprocidade familiar, em que o que se recebe se dá sob outra forma, ajudam os pais em actividades agrícolas, correntes ou ocasionais. Se é verdade que o trabalho agrícola não é desejado como profissão pela grande maioria dos jovens, o mesmo não se pode dizer da sua atitude face à terra de que as famílias dispõem, por pouca que seja. A participação nas actividades agrícolas é exigida pelos pais, mas há uma ligação pessoal dos próprios a algo que pertence à família e que é quase sempre muito valorizado. Situação homóloga é a dos que ajudam os pais em actividades económicas independentes não agrícolas, como cafés, mini-mercados ou padarias. É lógico que eu tenho que ajudar nos terrenos, a apanhar ou a regar algumas coisas porque os meus pais dizem-me "estás aqui em casa, tens que fazer alguma coisa", é mais para apanhar alfarrobas no Verão, é um bocado cansativo por causa do calor, mas não é coisa que mate ... 18 anos, sexo feminino, estudante do 11º ano Eu quando era pequeno ia para o campo, mais com o meu avô do que com os meus pais. Ele tinha uma grande horta e eu gostava de ir para lá, a regar, a semear. Se tivesse sido obrigado, se calhar não gostava, assim até gostava muito de ir... Nas épocas de apanha, se vier cá, ajudo sempre que posso. 28 anos, sexo masculino, 12 º ano, militar Eu tenho que ajudar os meus pais, e o meu irmão a seguir - o mais novo já tem boa vida -, a apanhar as alfarrobas e as amêndoas 26 anos, sexo masculino, 12º ano via ensino técnico-profissional, funcionário de Junta de Freguesia O meu pai diz para eu e a minha irmã apanharmos as alfarrobas, para ele não perder dias de trabalho com isso, depois ele ou o meu avô vendem e dão-nos o dinheiro e nós costumamos fazer isso todos os anos. 18 anos, sexo feminino, estudante do 12º ano Costumo ir às sextas-feiras ajudar os meus pais e os meus tios na padaria, é o dia que se coze mais pão, para sábado e domingo. Nem sempre vou, mas costumo ir. Mas ainda não sei fazer pão!

24 anos, sexo masculino, estudante universitário

Outros ainda manifestam-se preocupados em compensar os pais, no futuro, dos esforços que estes fazem por eles no presente. Os meus pais já investiram muito em mim e na minha formação, tenho consciência disso, quero começar a trabalhar rapidamente porque agora devo ser eu a tentar ajudá-los. Eles só para eles não precisavam de trabalhar tanto. A minha mãe tem um trabalho pesado e eu sei disso e é por minha causa, eu tenho muitas despesas. 19 anos, sexo feminino, estudante universitária Quando os meus pais deixarem de trabalhar começo eu a pagar as despesas da casa e da alimentação dos meus pais, até lá podem ser eles ou quando eu me casar a meias; é assim que eu penso. 21 anos, sexo masculino, trabalha com o pai por conta própria na construção civil, 12º ano em escola profissional Espero ficar sempre perto deles, cada vez mais o meu pai vai precisar da minha ajuda, o meu irmão ainda é novo e não sei a vida que ele vai levar. 23 anos, sexo masculino, 9º ano, tirador e negociante de cortiça

De destacar, finalmente, num outro plano, que são muitos os jovens que apontam a família e as relações familiares como uma das razões principais para quererem ficar na actual zona de residência, aspecto que desenvolveremos noutro ponto.

SITUAÇÃO E TRAJECTOS ESCOLARES E DE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

Como é sabido, a sub-escolarização é um traço estrutural da sociedade portuguesa e daqueles que mais tem retardado o seu processo de modernização e desenvolvimento. Nos últimos vinte a trinta anos, tem-se assistido a uma notável recuperação, com a rápida multiplicação das proporções de portugueses, sobretudo das camadas mais jovens, que vão atingindo ou completando os sucessivos graus de ensino. Mas face à situação desoladora de atraso em que nos encontrávamos ainda nos anos 70, persiste um défice considerável de escolarização quando nos comparamos com a generalidade dos países da União Europeia. A comprová-lo está, por exemplo, o facto de, em 1996, 67% dos jovens dos 15-29 anos só terem a escolaridade obrigatória e apenas 25%

o ensino secundário9. Mantêm-se, além disso, um pouco por todo o país, níveis não negligenciáveis de abandono escolar antes mesmo do completamento do ensino obrigatório. No contexto nacional, o concelho de Loulé é, mesmo assim, dos que regista uma situação menos desfavorável. Ele faz parte de um grupo de concelhos recentemente caracterizado por ter taxas de insucesso e abandono escolares predominantemente baixas ou médias, ao contrário daqueles outros concelhos onde essas taxas são elevadas ou muito elevadas10. No que respeita aos jovens das freguesias do interior do concelho, embora não dispondo de dados exaustivos e sistemáticos sobre os graus de instrução que atingiram, completaram ou ainda frequentam, as entrevistas realizadas, os testemunhos de informantes privilegiados e a documentação consultada no curso deste estudo, permitem identificar os principais contornos do panorama actual a este respeito. O principal aspecto a destacar é o facto de haver uma elevada proporção de jovens, sobretudo do sexo masculino, fracamente escolarizados. Dos quarenta entrevistados, dez têm apenas a actual escolaridade obrigatória e outros nove menos do que isso, tendo completado apenas seis ou sete anos de escola. Alguns dos que completam o 9º ano e chegam a frequentar o ano seguinte acabam por desistir a meio. Assinalem-se ainda, embora pontuais, os casos dos que cumpriram somente quatro anos de escola. Em suma, não só a finalização da escolaridade obrigatória coincidiu para muitos com o fim do percurso escolar, como se percebe que não era raro o abandono antes mesmo de terminada essa etapa mínima. Ao contrário da ideia bastante difundida, entre os próprios jovens mas não só entre eles, de que não vale a pena estudar muito porque isso de pouco ou nada vale em termos de mercado de trabalho, a verdade é que, como veremos, os trajectos profissionais mais instáveis e precários estão geralmente associados a uma escolaridade baixa ou muito baixa. Fiz a quarta classe e foi difícil... e desisti, comecei a trabalhar. 23 anos, sexo masculino, 4ª classe, ajudante de carpinteiro Não gostava da escola, até diziam que eu era esperto, era bom aluno, mas nunca gostei daquele sistema...Voltei para o ciclo à noite, mas deixei porque me chateei com uma professora...Eu era brincalhão, andava brincando com os moços lá dentro; a gaja chegou-se a mim e arreou-me um estalo na cara e eu disse-me "os meus pais não me batem e chega aqui uma professora e bate-me?!". Joguei-lhe os livros para cima e nunca mais pus os pés na escola, tinha 14 anos. Nunca mais quis saber da escola. 29 anos, sexo masculino, 6º ano incompleto, desempregado

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Ver Jovens Portugueses - alguns dados estatísticos, Lisboa, Secretaria de Estado da Juventude, 1997. Cf. João Ferrão, Caracterização regional dos factores de abandono e insucesso escolar nos 2º e 3º ciclos do ensino básico. Estudo de actualização: ano lectivo 1992/93, Lisboa, Ministério da Educação, PEPT 2000 "Programa de Educação para Todos", 1995. 10

Desisti da escola porque tive desentendimentos com os professores logo no princípio e comecei a ficar saturado por causa daquilo...Da segunda vez que estive no 8º ano, perdi-me com os jogos de futebol. Eu gostava de jogar à bola e deixava as aulas e depois os anos caem em cima da gente, começamos a ficar mais velhos e chegam as noites, gostava de sair à noite, era até à meia-noite, uma hora e depois tinha que me levantar às sete.... e a escola ia ficando para trás. Eu tinha as oportunidades, mas ia-as jogando fora. Da última vez que estive no 8º ano já me sentia velho, tinha 18 anos e os outros eram muito pequenos, já nem tinha amigos e optei por trabalhar e estudar à noite. 21 anos, sexo masculino, frequenta o 3º ciclo do ensino recorrente, ajudante de artes gráficas Não continuei a escola por causa de não haver transportes... Agora voltei à escola para fazer o 7º ano, estou lá há cinco meses, mas pensei em desistir... acho que já não vou mais este ano... porque tenho de ficar aqui até à noite, gasto muito dinheiro em comida, porque é o almoço e o jantar, para ir a casa é longe, não é fácil trazer comida porque são duas refeições, saio muito tarde das aulas e depois quando está a chover é muito chato fazer os 10 km na scooter até casa... Às vezes gosto da escola, outras vezes não gosto. Sou preguiçosa para estudar, não dá para mim estar ali a marrar... por isso é que não vou mais, ainda por cima agora andamos a marcar testes... pensei em desistir... mas pode ser que volte. 25 anos, sexo feminino, cabeleireira por conta própria, frequenta o 3º ciclo do ensino recorrente Não serviu de nada andar um ano na escola em Loulé, eu era ainda novo, tinha que abalar daqui todos os dias às sete da manhã e chegava a casa às sete da noite. Eram muitas horas sem fazer nada lá em Loulé... Vim para a escola de Salir ainda nos tempos em que era uma sala em cada ponta da vila, era cansativo, tínhamos que andar a fugir de uma sala para outra e no Inverno à chuva, e a professora muitas vezes já tinha marcado falta e não queria compreender, umas vezes ela tinha razão porque ficávamos a brincar na rua, outras não. 23 anos, sexo masculino, 9º ano, tirador e negociante de cortiça Isso de estudar não vale de nada...e isso dos cursos de formação também não leva a lado nenhum. Já houve uma altura em que eu gostava de ter tirado o curso de Comércio (acho eu), em Loulé, e eu não consegui entrar. Mas agora não, já é tarde...a não ser que eu não tenha nada para fazer. 21 anos, sexo feminino, 10º ano incompleto, caixa num supermercado

Vários factores convergem para explicar a baixa escolarização de muitos jovens. As fortes solicitações do mercado de trabalho a que eles se encontram expostos desde muito cedo, combinadas com o facto de as suas próprias famílias não valorizarem muito a escolarização prolongada, constituem o par de factores mais decisivos. Por um lado, estes jovens sabem que, em qualquer momento em que deixem a escola, facilmente encontram trabalho. Muitos convencem-se, assim, de que estudar não é decisivo para aceder à vida activa e a um estatuto em que se passa a dispôr de rendimentos económicos próprios para utilizar como se quiser. Essa convicção é reforçada pelo efeito de exemplo dos amigos, vizinhos ou irmãos, dois ou três anos mais velhos, que fizeram já essa transição precoce da escola para o trabalho e servem de prova de como ela é viável. Por outro lado, não parece haver da parte das respectivas famílias uma estratégia de investimento activo na escolarização mais longa dos filhos. O "se quiseres estudar, estudas, se quiseres trabalhar trabalhas, tu é que sabes da tua vida", é uma norma partilhada por muitos pais e mães, reflexo de trajectos pessoais de escolaridade ainda mais reduzida, que,

no entanto, não os impediram de alcançar situações profissionais e económicas satisfatórias. Note-se, de resto, que o facto de serem menos instruídos do que os filhos também lhes torna difícil acompanharem o respectivo percurso escolar. A estes dois factores há que juntar, ainda, as dificuldades inerentes à frequência da escola numa zona como o interior do concelho de Loulé. Frequentar a escola aí significa, quase sempre, deslocações diárias longas e demoradas, com saídas muito cedo de casa e regresso tardio. Todos os que vivem fora das sedes de freguesia, começam a fazê-lo logo no 1º ciclo, outros a partir do segundo e quase todos a partir do terceiro, já que ainda hoje só uma das freguesias dispõe de um estabelecimento do 3º ciclo. Conjugado com os outros factores, este não deixará de influir no sentido de encurtar as carreiras escolares de muitos jovens que, noutro contexto geográfico, poderiam ir mais longe. Diga-se, finalmente, que a própria instituição escolar, e a sua capacidade, muito variável, para motivar os alunos das famílias com menos recursos escolares a permanecerem mais tempo no sistema de ensino, joga também um papel. Ela tanto pode apontar no sentido dos factores anteriores, como conseguir atenuar-lhes os efeitos. Muitos destes jovens estão, do ponto de vista das qualificações, numa situação de dupla desvantagem, já que à fraca escolarização aliam pouca ou nenhuma formação profissional. Os entrevistados com apenas quatro, seis ou sete anos de escolaridade não fizeram qualquer formação profissional formal, e dos que chegaram ao 9º ano apenas alguns a fizeram, pontualmente e por vezes sem sequer concluírem os cursos. Deve, no entanto, dizer-se que a sua falta de formação profissional, para além de ter a ver, em parte, com as mesmas razões que conduziram à sua fraca escolarização, é também condicionada por factores de outra natureza. Não se pode olhar para esta questão como se tudo se resumisse à falta de interesse dos jovens. É preciso contar também com a forma como os detentores de formação profissional são recebidos no mercado de trabalho e aí são vários os testemunhos recolhidos, entre os jovens mas não só, de que os próprios empregadores desvalorizam, muitas vezes, a formação profissional.

A formação profissional é muito importante, mesmo que já tenhas a prática, porque tens algo que prova que o sabes fazer e podes apresentar em qualquer lado, mas aqui as pessoas não ligam muito, os patrões também não. Por exemplo, se fizessem aqui um curso de formação de pedreiros ninguém ia e ainda se riam do assunto. 23 anos, sexo masculino, 12º ano escola profissional, apicultor Acho que aqui os patrões não ligam nenhuma aos cursos de formação profissional. Eu, por exemplo, nunca tinha trabalhado num stand de carros e nunca soube o que era vender um carro e eles não me ensinaram nada. Entregaram-me a chave, disseram-me o horário de trabalho e pronto. Não ensinaram como se devia falar com o cliente nem nada. Já quando eu estive em Quarteira foi diferente, a senhora ensinou-me a explicar como era feito o artesanato que estava a vender. Há patrões que não se interessam por nada!

21 anos, sexo feminino, 12º ano escola profissional, desempregada com biscates

Para além da estarem bastante desmunidos de qualificações escolares e profissionais, estes jovens têm geralmente uma imagem desvalorizadora da escola e da formação profissional, reforçada pela sua percepção de que em muitos segmentos do próprio mercado de trabalho elas também não são muito valorizadas. Muitos deles negam, assim, peremptoriamente, qualquer intenção de regresso ao sistema de ensino ou de procurarem aceder a cursos de formação. Registe-se, contudo, como sinal positivo, o facto de uma parte deles estar hoje a frequentar o 3º ciclo do ensino recorrente. Podendo haver mera instrumentalidade nessa frequência – poderem aceder a determinados empregos, já que cada vez mais os empregadores pedem o 9º ano -, ou apenas objectivos de mera valorização pessoal, essa frequência não deixará de ter, em qualquer dos casos, efeitos positivos, não só sobre os próprios jovens como, eventualmente, noutros que lhes possam vir a seguir o exemplo, contribuindo para reduzir o défice de escolarização. Pode perguntar-se até que ponto estes mesmos jovens, ou outros, não estariam, apesar do seu cepticismo, disponíveis para frequentar cursos de formação profissional. Os elementos recolhidos durante este estudo permitem dar, ainda que de forma condicional, uma resposta positiva a esta questão. Ou seja, haveria jovens interessados em fazer formação caso esta não colidisse com a continuidade das suas actividades profissionais. Não é de esperar que jovens que trabalham de forma mais ou menos contínua, e que têm aí uma fonte de rendimento a que já estão habituados, acedam a abandonar completamente essa situação em troca de uma bolsa de formação e da possibilidade de vantagens profissionais a prazo. O caso seria provavelmente diferente se os cursos de formação decorressem em horário pós-laboral e em locais onde a questão das acessibilidades não fosse um obstáculo, à imagem justamente do que acontece com o ensino recorrente. Vale a pena pensar também, neste contexto, sobre o significado e o impacto que pode ter o modelo alternativo de formação representado pelas duas Escolas-Oficinas actualmente em curso na zona, uma de doçaria em Alte e outra de carpintaria no Barranco do Velho, ambas desenvolvidas por promotores locais em cooperação com o Instituto de Emprego e Formação Profissional (via Centro de Emprego de Loulé). A dificuldade sentida, de início, em encontrar candidatos para a segunda dessas escolas, frequentada exclusivamente por rapazes, parece prender-se justamente com o que acabámos de referir. Enquanto para as raparigas, confrontadas com uma oferta local e regional de trabalho mais restrita, esse modelo de formação, até pelas condições que oferece em termos

de remuneração e duração, pode constituir uma solicitação interessante, para os rapazes, para quem o leque de alternativas no mercado de trabalho, mesmo fora da época turística, é mais vasto, essa solicitação já será menos atractiva. Embora sejam experiências ainda não concluídas, e não se saiba portanto que resultados poderão vir a ter, um dos parâmetros da sua avaliação deverá ser a ideia de que a situação social dos jovens não é homogénea, nem estão todos perante o mesmo quadro de constrangimentos e possibilidades, nem são portadores dos mesmos interesses, experiências e necessidades. Assim, e ainda no caso da Escola-Oficina do Barranco do Velho, as dificuldades sentidas pelos formandos em equacionarem e levarem à prática, colectivamente, o projecto de constituição, após o período de formação, de uma micro-empresa de carpintaria, têm de ser entendidas à luz do perfil social específico desses jovens. A questão não está tanto em serem jovens alegadamente "desestruturados" ou "sem regras", mas no facto de o tipo de relação que eles têm com a escola e o mercado de trabalho, e, antes deles, a que tiveram os seus pais e os irmãos mais velhos, estar longamente estruturada em moldes muito diferentes daqueles em que uma iniciativa nova como esta pode funcionar. Não se pode esperar, portanto, que eles reúnam, à partida, ou mesmo num período curto de tempo, as condições para a levarem em frente autonomamente. Em contraponto aos jovens fracamente escolarizados, encontram-se, em número menor mas mesmo assim considerável, outros que prolongaram ou prolongam os seus percursos escolares pelos graus secundário e universitário. Incluem-se neste grupo jovens oriundos de famílias elas próprias com escolaridade acima da média, mas também outros cujos pais possuem fraca instrução, o que mostra não estarmos aqui perante determinismos sociais rígidos. São de registar também, neste contexto, os casos das famílias em que o irmão mais novo tem um percurso de escolarização avançada, enquanto o mais velho ou os mais velhos abandonaram a escola só com o ensino obrigatório. Ao contrário do anterior, este grupo é constituído, sobretudo, por raparigas. Elas são claramente maioritárias entre os entrevistados mais escolarizados e que já trabalham, bem como entre os que são estudantes a tempo inteiro, seja no secundário ou na universidade. Embora sujeitos às mesmas solicitações do mercado de trabalho que os jovens menos instruídos, solicitações que, de resto, não deixam de aproveitar durante os períodos de férias escolares, estes não desistiram precocemente de estudar. Para isso contribuiu não só a sua posição pessoal de valorização dos estudos, como a atitude de apoio ou insistência dos respectivos pais e mães, mais até das últimas, mostrando que também neste domínio há orientações familiares diversas.

Agora é diferente. Há dez anos atrás, a universidade parecia uma coisa lá tão em cima, agora qualquer pessoa vai para a universidade, entre aspas. Se calhar, agora aqui em Alte, n rapazes e raparigas andam na universidade, quando eu terminei o 12º ano, há dez anos atrás foi só o filho do fulano tal e tal. 28 anos, sexo masculino, 12º ano, militar Sempre correu bem a escola, a minha irmã também é assim 19 anos, sexo feminino, estudante universitária Estou a repetir o 11º ano para fazer melhoria de notas, para não ter muitos problemas de notas ao nível do 12º ano. O sonho da minha irmã que está em Faro era entrar para a universidade, mas a minha mãe não tinha muitas possibilidades financeiras. Agora o sonho delas é que eu vá para a universidade. A minha mãe é como todas as mães, gostava que eu fosse engenheira, médica, advogada, qualquer profissão dessas. Não sei se é por causa de ser alguém importante. A minha mãe diz: "assim ninguém te pisa, porque é importante; e depois como se ganha muito bem, ninguém te diz nada, toda a gente baixa a cabeça quando passam ao pé de ti". 18 anos, sexo feminino, frequência do 11º ano

No que respeita aos que completaram ou frequentam o ensino secundário, uma boa parte fê-lo ou fá-lo por vias profissionalizantes, seja pelo ramo técnico-profissional dentro do sistema geral de ensino, seja, sobretudo, através das escolas profissionais. Neste contexto, deve-se sublinhar o papel importante que tem sido desempenhado pela Escola Profissional Cândido Guerreiro em Alte, apesar de ela permanecer desconhecida por muitos jovens das restantes freguesias. Se a escola não existisse, certamente muitos dos que a frequentaram ou frequentam teriam ficado pelo 9º ano. Diga-se, também, que alguns dos entrevistados completaram cursos noutras escolas profissionais do Algarve, nomeadamente em Quarteira e Faro. Dos que fizeram o percurso das escolas profissionais e hoje já estão no mercado de trabalho, apenas uma parte encontrou colocações directamente relacionadas com a formação que obteve. Outros exercem profissões em âmbitos distintos da sua formação específica, o que não deixa de originar críticas quanto ao interesse ou aplicabilidade dos cursos ministrados por essas escolas. Seja como for, o que interessa sublinhar é que a generalidade dos que completaram o 12º ano, quer pelas vias profissionalizantes, quer pela via geral, têm quase sempre situações profissionais, que, para além de mais qualificadas, são também mais estáveis e menos precárias do que aqueles que se ficaram pelo ensino obrigatório ou menos. A correlação directa entre nível de formação escolar/profissional e qualidade da integração no mercado de trabalho encontra dupla confirmação. Os menos escolarizados têm, regra geral, piores situações profissionais11; os mais escolarizados têm quase sempre situações profissionais melhores. 11

As situações em que, apesar das baixas qualificações escolares e profissionais, se obtém situações profissionais estáveis são as dos jovens que ficam à frente de pequenas empresas familiares com viabilidade

Os que prosseguem estudos universitários fazem-no tanto na Universidade do Algarve, como em Lisboa ou ainda no Alentejo. Ao contrário do que acontecia há alguns anos atrás, o estudante universitário já não é uma figura singular e rara nas freguesias do interior, encontrando-se em todas elas vários jovens nesta condição. Saliente-se contudo, neste subconjunto, o peso ainda mais desproporcionado de raparigas, continuando a ser pouco frequente encontrar rapazes em situação idêntica. Mesmo no Ameixial, onde se fazem sentir, mais do que em qualquer outra freguesia, os efeitos da interioridade e os problemas de acessibilidade aos equipamentos escolares, há um número considerável de estudantes universitárias, tanto na aldeia como nos montes em volta, o que não deixa de representar trajectos pessoais de esforço e mérito particulares12. É sabido que a questão dos universitários nas zonas rurais interiores constitui uma espécie de paradoxo. Se, por um lado, um dos problemas dessas zonas são os baixos níveis de escolaridade das populações, por outro lado, os que, ainda assim, mais se escolarizam tendem, justamente por se escolarizarem mais, a abandonar essas zonas, contribuindo desse modo para que o nível geral de qualificações escolares permaneça baixo. Dito por outras palavras, nestas zonas a escolarização avançada trabalha contra a fixação. Não sendo o tecido socioeconómico local capaz de absorver os mais qualificados, deve dizer-se que também não faria sentido trocar a fixação pelos estudos universitários, ou seja, abdicar de um trajecto universitário em nome da permanência no local. Para os jovens das zonas mais periféricas, isso representaria uma discriminação adicional, equivalente a dizer-se que as universidades seriam para os jovens urbanos e que para os jovens rurais bastaria o ensino básico ou, então, o secundário profissionalizante. Se o panorama actual entre os jovens do interior do concelho de Loulé é, como se disse, ainda marcado pela prevalência dos fracamente escolarizados, é visível a tendência para a elevação progressiva dos níveis médios de escolarização no futuro próximo. Acompanhando o que se passa no país como um todo, pode dizer-se que o abandono antes do fim dos nove anos de escolaridade obrigatória está a tornar-se mais raro do que há alguns anos atrás. O prolongamento para lá desse patamar mínimo, incluindo o prosseguimento até à universidade, é hoje mais comum. As escolas profissionais, como a Escola Cândido Guerreiro em Alte ou outras, por seu lado, continuarão certamente a ser económica. Nestes casos, pode dizer-se que a ausência de qualificações formais é compensada pela aquisição informal de saberes profissionais por via da própria socialização familiar. 12 Segundo o levantamento demográfico efectuado pelo Padre Gomes, a que já aludimos, havia, em 1998, sete jovens a estudar na universidade, dos quais seis raparigas. Considerando que na população total da freguesia havia, segundo esse mesmo levantamento, onze mulheres no escalão etário dos 20-24 anos, estamos perante uma taxa de frequência universitária feminina bastante elevada.

procuradas por boa parte daqueles que pretendem continuar a sua formação para além do ensino obrigatório.

TRANSIÇÃO PARA PROFISSIONAL

O

MERCADO

DE

TRABALHO

E

SITUAÇÃO

Os muitos estudos sobre a juventude realizados ao longo da última década, quer a nível da União Europeia em geral, quer a nível nacional, têm-se mostrado unânimes quanto à generalização de novas formas de transição dos jovens para a vida activa. A sequência contínua e estável - fim da escolaridade, integração na vida activa, constituição de nova família -, que era o padrão mais comum há uma ou duas gerações atrás, deu lugar a trajectos de inserção mais complexos e diversificados. Não sendo independente de factores como a classe social, o nível de instrução, o sexo ou a idade, o que é certo é que, hoje em dia, a entrada na vida activa é cada vez mais marcada pela incerteza e reversibilidade. Muitos jovens têm trajectos, mais ou menos longos, em que circulam por situações de emprego, inactividade, desemprego, formação profissional, trabalho intermitente, trabalho a tempo parcial, regresso ao sistema de ensino. Sendo resultado, principalmente, de transformações estruturais do mercado de trabalho, e das suas novas articulações com o sistema de ensino e a instituição familiar, as actuais modalidades de transição para a vida activa não deixarão de ser influenciadas por mudanças nos valores dos próprios jovens face ao trabalho. O período mais longo decorrente entre a saída definitiva da escola e a estabilização profissional não terá para eles só um lado negativo, na medida em que introduz também um factor de autonomia, de capacidade de experimentação e escolha, de inovação e mudança, de flexibilização entre tempo livre e tempo de trabalho13. A situação e as perspectivas profissionais dos jovens do interior do concelho de Loulé não podem ser vistas fora deste contexto mais amplo, respeitante à juventude em 13

Estes e outros elementos de análise sobre as actuais formas de transição dos jovens para a vida activa podem encontrar-se em José Machado Pais, "Emprego juvenil e mudança social: velhas teses, novos modos de vida", Análise Social, nº 114, 1991; Pedro Moura Ferreira, "Transições, marginalizações e periferia", in Jovens em Mudança - Actas do Congresso Internacional "Growing up between center and periphery", Lisboa, Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, 1997; Joaquim Casal, "Modos emergentes de transición a la vida adulta en el umbral del siglo XXI: aproximación sucesiva, precaridad y desestructuración", ibidem; Alessandro Cavalli, "The delayed entry into adulthood: is it bad or good for society?", ibidem; Carmen Elejabeitia, "El desafío de la modernidad", ibidem; Esperanza Roquero, "Efectos de la movilidad laboral en el rito de passage hacia el estado adulto: el caso español", ibidem.

geral, e que em Portugal condiciona tanto os jovens do litoral como os do interior, os das zonas urbanas como os das zonas rurais. Por outro lado, as características específicas do tecido socioeconómico do Algarve forte terciarização e pluriactividade do emprego, pluriactividade generalizada das famílias da zona serrana - contribuem, só por si, para reforçar essa tendência global no sentido de transições mais flexíveis e indeterminadas para o mercado de trabalho e da permanência, durante vários anos, de vínculos pouco estáveis aos empregadores e ao emprego. De resto, no caso particular do Algarve essa tendência não envolve só os jovens, como uma parte dos seus pais e mães, eles próprios funcionando profissionalmente segundo a lógica da sazonalidade laboral. Os discursos de alguns actores e instituições locais sobre a alegada inexistência entre os jovens de "referentes de vida", de "projectos profissionais definidos" ou de "iniciativa" devem ser, neste contexto, relativizados. Embora os valores dos jovens face ao trabalho, sejam eles mais de um tipo ou de outro, não deixem de influenciar a sua situação profissional objectiva, esses discursos não têm em devida conta que a estabilização ou instabilização profissional dependem pouco das vontades individuais de cada um deles, mas estão inscritas na própria lógica de funcionamento do mercado de trabalho. Em face dessa lógica de funcionamento, mas também da vontade normal que os jovens têm de explorar diferentes alternativas, não seria portanto de esperar que, antes de entrar nesse mercado ou estando nele há pouco tempo, a generalidade dos jovens já tivesse certezas definitivas sobre o que quer como vida profissional e sobre o modo de o encontrar. Não as têm estes jovens em particular como não tem a maioria dos jovens noutros meios sociais e é, no mínimo, precipitado entender isso como passividade ou incapacidade de definir projectos para o futuro. O facto de boa parte dos próprios pais e mães desses jovens ter tido, ou ter ainda hoje, situações profissionais igualmente marcadas pela mobilidade (incluindo emigração), instabilidade ou precaridade deve ser tido em consideração. O efeito socializador pode ser aqui muito forte, tornando muitos jovens de hoje herdeiros dessa forma de relação com o mundo laboral. A oferta abundante de trabalho, gerada, directa ou indirectamente, pelo turismo, coloca os jovens, especialmente os do sexo masculino, perante um leque variado de alternativas laborais, complementadas com a possibilidade de recurso, durante a chamada "época baixa", a actividades complementares, como a construção civil ou os trabalhos agrícolas pontuais. Além disso, parte deles pode contar ainda, mesmo em situações de escassez de trabalho, com a retaguarda protectora constituída pela pluriactividade das respectivas famílias. Tudo isto, numa região que tem das mais baixas proporções de jovens

de todo o país e onde a melhor prova de como a oferta de trabalho excede a procura é talvez a da presença de um contingente já significativo de imigrantes africanos. A questão do desemprego torna-se, assim, relativamente pouco importante para os jovens desta zona. Se é verdade que muitos tem situações laborais precárias, e nessa medida fraca qualidade de emprego, as alternativas existentes permitem que os jovens permaneçam ocupados durante todo o ano, o que não exclui o recurso ao subsídio de desemprego em certos períodos de inactividade, mais ou menos voluntária. Registe-se, contudo, que para as raparigas - que por razões mais culturais do que de outro tipo não podem contar com mercados como o da construção civil ou da cortiça - a situação não é tão favorável, sendo justamente no sector feminino que se encontram mais situações de desemprego. Não admira também, por outro lado, que os primeiros contactos com o mercado de trabalho aconteçam cedo, reflectindo-se no abandono precoce do sistema de ensino, que justamente afecta mais os rapazes do que as raparigas. O começar a trabalhar cedo é, pode dizer-se, um traço estrutural da cultura juvenil da região algarvia. Mesmo aqueles que estão a estudar e não pensam abandonar tão cedo a escola, utilizam frequentemente as férias para trabalhar e ganhar o seu dinheiro, o que é também estimulado e valorizado pelos seus pais. O trabalho ocasional de Verão pode ser mesmo, para os estudantes, uma forma de não ficar isolado e sem nada para fazer durante o dia. A Tôr no Verão parece um deserto, porque a maior parte do pessoal que estuda vai trabalhar, os que trabalham continuam a trabalhar, só ficam uns cinco rapazes que uns vão para a praia outros vão passear ou ficam por aqui, mas não dá. Só se está com o pessoal todo lá para o final do dia. Ir trabalhar é só para não ficar na Tôr sozinho, mais do que qualquer outra coisa. 18 anos, sexo masculino, estudante do 10º ano

Destaque-se ainda, como outra prática comum, a informalidade dos canais de acesso ao mercado de trabalho. Havendo também jovens que recorrem ao Centro do Emprego de Loulé como mais uma via possível de acesso (e essa é a que se destaca, entre as vias formais), para a grande maioria a transição para a vida activa faz-se através contactos interpessoais, seja via família, amigos ou vizinhos. Essa prática, já identificada a nível nacional como especialmente recorrente entre jovens de meios rurais14, terá aqui uma expressão reforçada, já que a mobilidade profissional constante entre litoral e interior e a conservação de um ano para o outro, especialmente no que respeita ao trabalho sazonal no turismo, de contactos profissionais, tece uma rede densa de interconhecimento e informações, em que muitos estão envolvidos e de que todos os potenciais interessados podem beneficiar. 14

Cf. Madalena Andrade, A Juventude Portuguesa: situações, problemas e aspirações. O trabalho, o emprego, a profissão, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, 1989, p. 151.

Embora sujeitos a um quadro comum de constrangimentos estruturais, a situação dos jovens do interior do concelho de Loulé face ao emprego está, no entanto, longe de ser homogénea. Antes se pode dizer que se encontram três perfis-tipo bem distintos, que têm a ver com as diferenças de qualificações escolares e profissionais, com o sexo, com a existência ou não de actividades por conta própria e pequenos negócios na sua família de origem e ainda com a diversidade das suas próprias orientações e preferências neste domínio. Um, predominantemente masculino, é dos jovens pouco qualificados, em termos escolares e profissionais, que se iniciam precocemente na vida activa e têm trajectos laborais de instabilidade e precaridade, com grande rotação entre empregadores. Combinam períodos mais ou menos longos de trabalho sazonal na hotelaria, períodos em que fazem trabalhos ocasionais na construção civil, noutras profissões manuais desqualificadas ou ainda na agricultura, podendo intercalá-los com períodos em que ficam no desemprego e recebem o respectivo subsídio. A sua receptividade à formação profissional ou a um regresso à escola é baixa, já que, a seus olhos, é pouco compensador trocar uma vantagem concreta e imediata a que já estão habituados (trabalho e dinheiro certos) por uma possibilidade de vantagens futuras. Aos 14 anos fui trabalhar para a farmácia, ajudar a arrumar prateleiras, fazer recados, a minha mãe conhecia a dona da farmácia, depois fartei-me não por ter de arrumar as caixas e as prateleiras, mas porque tinha de estar fechado o dia inteiro. Depois larguei aquilo e fui trabalhar na pintura da construção civil, quando acabou fui para a construção civil (servente de pedreiro), andava por aí onde havia a obra, mas larguei porque era muito pesado. Depois trabalhei em fibra de vidro para um patrão, estava eu e o meu irmão, era um senhor de que sou amigo e que tem esse negócio, tinha encomendas para fazer pranchas e bonecos para os parques aquáticos; tinha uns 17-18 anos. Tive um contrato de trabalho de seis meses, outro de um ano... Nunca tive subsídio de desemprego, acho que ainda não existia, ou porque eu era novo, não sei. Depois aos 18 anos fui fazer o curso de construção e reconstrução de arquitectura tradicional mas não acabei por causa de um acidente e depois andei dois anos sem fazer nada e ia dando em louco... Depois trabalhei em Sines na construção na Soares da Costa com um primo, gostei do trabalho que tive como ajudante de topógrafo; depois fui para Lisboa também para a Soares da Costa, também fiz de ajudante de topógrafo. Depois vim para cá e fui trabalhar para uma lavagem de automóveis. Ia morrendo, era Verão e tinha que lavar 70 a 80 carros por dia, era sempre a abrir e vim-me embora. Depois tinha um amigo que estava a tratar de uma horta dum senhor e depois um dia pus um atestado médico por causa da carta de condução e o outro rapaz também faltou nesse dia e no dia seguinte fomos os dois despedidos. Depois fui para o trabalho onde estou hoje; tenho um contrato de seis meses. 24 anos, sexo masculino, frequenta o 3º ciclo básico no ensino recorrente, trabalhador indiferenciado, actualmente cuida de jardins num aldeamento turístico O meu pai falou com um senhor que ele conhecia e pediu trabalho para mim. Ele trabalha como pedreiro e eu fui trabalhar para ele. Tinha 13 anos, desenrasquei-me bem. Trabalhei nove meses. Ó pois vim-me embora... Depois fui para uma agência funerária em Loulé, também foi uma pessoa conhecida. Tive lá quatro anos. Deixei isso também. Chateei-me com um colega e não quis arranjar porrada. E por isso deixei o patrão. Os patrões até gostavam de mim, mas chateei-me... Trabalhei depois a pôr os esgotos e os canos da água aqui, mas deixei. Fui para a carpintaria onde estou agora ... O patrão é daqui, ele perguntou-me se eu

queria, eu fui para ali... Estas profissões a gente aprende bem...faz-se e é assim. Eles dizem e a gente aprende. Aprende-se mais depressa do que numa escola, é muito melhor. 23 anos, sexo masculino, 4ª classe, ajudante de carpinteiro Comecei a trabalhar nas férias e gostei... O trabalho aqui é mesmo assim, sem contratos, pago à semana ou ao mês, em que tudo é combinado "logo lhe telefonamos daqui a quinze dias", "passe cá outra vez para o mês que vem", "quando tivermos falta logo dizemos", é assim. Quando estive na pintura da construção civil desta última vez, o patrão quis que eu me colectasse, mas eu não quis. Agora estou colectado na pintura e batechapas, sou independente, ganho à hora e tenho que passar recibos verdes... Eu sempre gostei de aprender um pouco de tudo, sou muito curioso nisso. Foi bom ter passado por vários trabalhos e gostava de aprender ainda outras profissões que ainda não passei mas que possa vir a aprender. Não sou esquisito, agarro-me ao que aparece. 23 anos, sexo masculino, 6º ano, bate-chapas e pintor numa oficina de automóveis Aos 16 anos foi trabalhar para uma cervejaria, durante um mês, em Albufeira. Depois para um snack-bar em Albufeira, durante um mês. Período de desemprego. Aos 18 anos esteve como empregada de mesa e bar na Quinta do Freixo durante um ano. Período a receber subsídio de desemprego. Começou a trabalhar como empregada de bar numa discoteca, às sextas-feiras e sábados à noite, durante dois anos, e simultaneamente trabalhava durante o dia como empregada de balcão numa loja de lingerie e perfumaria em Loulé. Período de desemprego. Actualmente trabalha como empregada de balcão numa tabacaria em Loulé. 25 anos, sexo feminino, 9º ano incompleto

Começando muito novos, estes jovens chegam aos 23 ou 24 anos já com longos trajectos no mercado de trabalho, com passagem por múltiplas actividades e profissões. Dadas as suas limitações escolares e de formação profissional, será difícil para eles sair deste regime de vulnerabilidade e, a prazo, só poderão encontrar alguma estabilização profissional relativa nos segmentos menos qualificados do mercado de trabalho. No caso dos rapazes na construção civil ou em oficinas, no caso das raparigas em serviços indiferenciados. Não se deve, em todo caso, subestimar o capital de experiência e saberes que estes trajectos sempre permitem acumular. Alguns jovens poderão rentabilizar essa capital profissional no futuro, montando pequenos negócios com o apoio da família - ou herdandoos directamente dela -, justamente nos ramos de actividade sobre os quais adquiriram mais conhecimentos e contactos. Encontrámos alguns exemplos concretos de pessoas que tiveram um percurso deste tipo, como seja o da cabeleireira por conta própria que, anteriormente, trabalhou durante vários anos num estabelecimento desse tipo em Loulé e o do proprietário de uma casa de pasto/restaurante que, antes de ficar à frente desse negócio familiar, trabalhou vários anos, por conta de outrem, na hotelaria no litoral. O segundo perfil, menos frequente mas envolvendo mesmo assim um número apreciável de jovens, mais raparigas do que rapazes, é o dos trabalhadores relativamente qualificados, com escolaridade secundária e/ou formação profissional, que exercem profissão, com estabilidade, alguns já com contratos efectivos, em áreas técnicas bem definidas. Incluem-se aqui os que trabalham em escritórios (de contabilidade, seguros,

advocacia), nos serviços públicos locais (juntas de freguesia, câmaras municipais, casas do povo, centros de dia, creches, etc), profissionais de hotelaria com formação especializada, animadores culturais, entre outros. Ao contrário do anterior, este sub-conjunto caracteriza-se pela entrada mais tardia na vida activa, o que resulta de trajectos mais longos no sistema de ensino, de onde saem geralmente com o 12º ano, seja pela via geral ou pelas vias profissionalizantes. Contam-se também nesta categoria os poucos casos daqueles que, tendo prosseguido para o ensino médio ou superior, encontram depois colocação profissional na zona. A correlação entre a maior estabilidade e qualidade dos empregos ocupados e uma formação escolar e/ou profissional mais alta é aqui notória, embora nem sempre a profissão desempenhada esteja directamente relacionada com a formação adquirida. São raros os jovens que, tendo fraca escolaridade e formação profissional conseguem, trabalhando por conta de outrem, inserções laborais deste tipo. Deste modo, os trajectos profissionais que se encontram neste segundo perfil são mais lineares do que no anterior. Ou se mantém actualmente o primeiro emprego que se encontrou ou, então, ele é precedido apenas de uma ou duas experiências prévias dentro do mesmo ramo de actividade. O terceiro perfil, também quantitativamente importante, é o dos trabalhadores por conta própria que colaboram ou estão já à frente de pequenas actividades económicas de tipo familiar, no comércio, restauração, construção civil ou agricultura. Os dados do Recenseamento Geral da População de 1991, confirmam, com efeito, a existência, nas seis freguesias em questão, de percentagens consideráveis de jovens entre os 20-29 anos com o estatuto de trabalhadores independentes. No conjunto das seis freguesias havia, naquela data, 18% de trabalhadores independentes nesse escalão etário, valor que se pode considerar elevado no contexto nacional. Nas freguesias de Benafim e Salir o valor registado era mais alto do que a média das 6 freguesias, sendo os mais baixos os das freguesias de Querença e Tôr, ambas mais perto do mercado de trabalho da sede do concelho e do litoral, e por isso mais expostas à lógica do assalariamento externo. O trabalho por conta própria é fortemente valorizado por estes jovens, na sequência das orientações que sempre seguiram as suas próprias famílias. São jovens que desde cedo ajudaram os pais nessas actividades e que um dia optam, por sua sugestão ou paterna, por se tornarem seus sócios e sucessores. Ninguém refere intenções de abandonar ou vender o património familiar, por pequeno que seja, antes se manifestam projectos de o modernizar e alargar, logo que reúnam as condições e surjam as oportunidades para o fazer. Se não trabalhasse com o meu pai, se calhar não me dedicava à construção. Eu nunca trabalhei para outro, deve ser chato, porque eu gosto pouco de pessoas a implicar comigo, ali estou à vontade, faço como eu quero, ele deixa-me fazer coisas sozinho, propôr coisas.

21 anos, sexo masculino, 12ª ano, trabalha com o pai por conta própria na construção civil Tudo o que era do meu pai ficou para mim assim que ele faleceu. Como só tenho o meu avô e a minha mãe, sou filho único, deixaram-me logo tudo... mesmo que tivesse muito dinheiro, nunca abandonaria aquilo que os meus pais me deixaram, nem venderia nada, só aumentar. Já os meus avós foram assim e os meus pais também, vender nunca! Só vendo se houver uma grande necessidade. 24 anos, sexo masculino, 8º ano, dono de café / casa de pasto Desde moço que ajudava o meu pai nas terras, gostava muito...Deixava pena abandonar os bons terrenos que os meus pais tinham e depois como eles trabalharam sempre ali na agricultura, os meus avós também... que todos eles se esforçaram para arranjar... O meu pai de início não concordou muito que eu trabalhasse com ele porque ele fazia sempre a coisa à antiga e eu queria fazer à moderna. Ele não tinha mais conhecimento e não estava convencido que era possível fazer os terrenos darem mais rendimento... Eu fui buscar o meu irmão para trabalhar comigo, tínhamos falta de pessoas para trabalhar, é muito difícil arranjar pessoas que saibam e queiram trabalhar no campo, e como ele estava a trabalhar fora e a ganhar muito menos, lá o convenci. Hoje está contente. 29 anos, sexo masculino, 10º ano incompleto, agricultor

Encontram-se neste grupo, mais masculino do que feminino, jovens com escolaridade baixa e sem formação profissional, e outros com escolaridade secundária feita via sistema de ensino geral ou em escolas profissionais. Embora a posse de qualificações escolares e profissionais não deixe de ser importante neste segmento do mercado de trabalho, aqueles que não as possuem acabam por beneficiar de uma estabilidade profissional que não têm os jovens com o mesmo perfil desqualificado que trabalham por conta de outrem. Reproduzindo geracionalmente a pequena economia dos negócios por conta própria do interior do concelho, e sendo, portanto, casos concretos de fixação pelo emprego, esses jovens são geralmente portadores de projectos de modernização e ampliação desses negócios, projectos que só não levam à prática se não contarem com o apoio familiar. Esses projectos, de cuja concretização se podem encontrar já hoje alguns bons exemplos, melhoram a qualidade dessas unidades económicas, atraem novos públicos e consolidam o estatuto de independência. Trata-se, assim, de uma via importante de acesso ao trabalho por conta própria, mas que a maioria das vezes corre estritamente dentro da unidade familiar, à margem de apoios, programas ou aconselhamentos técnicos por parte de organismos formais. São bastantes mais raras as situações dos que, isoladamente e por sua própria conta e risco, se abalançam a uma passagem de trabalhador assalariado a trabalhador independente ou iniciam a vida activa nesta última condição, sem apoio familiar. Por se tratar de um sector de actividade minoritário e pouco desejado pela generalidade dos jovens, merecem destaque, neste contexto, aqueles que enveredaram por trajectos deste tipo no sector agrícola. Trata-se, é claro, de jovens cujas famílias possuem terra suficiente para lhes assegurarem ocupação a tempo inteiro e rendimentos satisfatórios,

sem necessidade de recurso a trabalho exterior. Numa zona em que a terra que se detém é, na maioria das vezes, apenas a de pequenas parcelas dispersas, estes casos são, de algum modo, singulares. Mas, justamente pela sua singularidade, eles constituem uma modalidade de transição para a vida activa a merecer destaque, até por contraste com a imagem muito difundida, também localmente, de que os jovens não se interessam pela agricultura. O facto de muitos desses jovens se lançarem em actividades independentes apenas por via familiar, e sem passarem, portanto, pela submissão de pedidos de apoio a programas públicos de incentivo ao auto-emprego, confere talvez menor visibilidade à sua transição para a vida activa. Isso não significa, contudo, que não constituam exemplos práticos de criação de auto-emprego, não permitindo confirmar alguns discursos de entidades locais quanto a uma alegada falta generalizada de iniciativa neste domínio. Deve sublinhar-se que a orientação e a valorização do trabalho por conta própria não se observa apenas entre os que já têm esse estatuto. Muitos dos outros jovens, tanto os de perfil mais instável e desqualificado, como os de perfil mais estável e qualificado, referem intenções ou ideias, mais ou menos definidas, de montarem no futuro pequenas actividades económicas por conta própria. Muitos não terão suficiente informação sobre como fazê-lo ou terão dificuldade em lidar com os mecanismos formais de apoio, caso decidam recorrer a eles. Poderá ainda dizer-se que esses jovens não disporão de competências de gestão suficientes para avançar para uma actividade económica por conta própria. Em todo o caso, e apesar de se encontrarem numa fase da vida em que também não lhes é fácil reunir as condições financeiras indispensáveis para o concretizar (tanto mais quanto a eventual mobilização nesse sentido pode colidir com a necessidade de fazer outro tipo de investimento, como seja na aquisição de habitação), o interesse pelo trabalho por conta própria foi, sem dúvida, uma das constantes das entrevistas. Ele foi recorrente e espontaneamente manifestado pelos entrevistados, sem nenhuma interpelação directa nesse sentido por parte dos entrevistadores. Quando o meu pai se reformar e largar o café, eu ou a minha irmã estamos a pensar tomar conta, em vez de alugarmos. Se ficar para mim e não tiver ninguém na família para ajudar e se gostar ainda de estar no hotel, fico com o café só em part-time e ponho lá um empregado. 23 anos, sexo feminino, 12º ano via profissional, recepcionista de hotel Acho que já me arrependi de ter aberto o salão, arrisquei mas o negócio está muito mau. O melhor que eu tenho tido é estar à minha vontade, não ter patrões e não ter de andar de transportes de um lado para o outro; o pior é que o rendimento não é melhor, às vezes é mesmo pior, não consigo juntar nada. 25 anos, sexo feminino, frequenta o 3º ciclo do ensino recorrente, cabeleireira por conta própria O maior sonho que eu tenho é ter o meu negócio, mas nunca o vou chegar a concretizar. Gostava de ficar com o negócio dos meus avós, mas eles dizem-me que não vale a pena, que não dá, dá pouco, já há muitas

lojas de roupa. É esse o meu sonho, mas não dá. Talvez onde eles estão não dá. Talvez em Loulé já desse, mas assim as despesas eram muitas e eles não querem...até bastava eu na loja, não era preciso pagar a ninguém 21 anos, sexo feminino, 10º ano incompleto, caixa num supermercado . Mas gostar, gostar, gostava de ter algo meu, um negócio próprio que atraísse as pessoas para virem conhecer a nossa terra e virem saborear algumas coisas que eu sei fazer da gastronomia tradicional da serra. 24 anos, sexo feminino, frequenta o 12º ano via profissional, pasteleira-cozinheira na hotelaria Gostava de criar uma pequenina empresa, eu já tenho a vantagem de ter um espaço meu, que não preciso de alugar ou comprar...Por um lado é negativo ter um negócio próprio, porque é um risco; por outro é positivo porque isto é um meio pequeno,, vais trabalhar para onde? Quem tem só o 9º ano vai fazer o quê? Vai trabalhar para um café, restaurante ou loja...Acho que o negócio da doçaria teria clientes, mas tinha que ser uma coisa muito bem organizada...Para fazermos bolos e licores temos que ter encomendas, ter mais ou menos em vista o mercado. Porque para fazer e estarmos há espera que venham aqui comprar não acho que fosse positivo. Se nós conseguíssemos ter encomendas e mais ou menos tudo controlado, porque não? 27 anos, sexo feminino, frequenta programa Escola-Oficina

Mais do que mera retórica, a tão grande difusão desta disposição para o trabalho por conta própria, que aliás se pode encontrar entre jovens de outras zonas do interior do país15, reflecte, antes, algo que faz parte da matriz cultural profunda da serra algarvia em geral, e do interior do concelho de Loulé em particular, ou seja, o secular apego das famílias à pequena propriedade, viabilizada, desde longa data, pelas migrações e pela pluriactividade16. Os dados do último Recenseamento Geral da População (1991), relativos à composição socioprofissional da população das seis freguesias do interior do concelho de Loulé, mostram com clareza a importância que a pequena propriedade tem naquela zona. Se isolarmos os residentes de sexo masculino com 40 ou mais anos de idade, ou seja, aqueles que já estão profissionalmente estabilizados e entre os quais se contam os que têm filhos jovens, verificamos que o conjunto formado por trabalhadores independentes, camponeses e pequenos proprietários atinge proporções elevadíssimas, variando entre um mínimo de 40% em Querença e na Tôr e um máximo de 86% no Ameixial. Em Alte, Benafim e Salir o peso dessas categorias ligadas à pequena propriedade é de 71%, 60% e 59%, respectivamente.

15

Ver, por exemplo, Paulo Pedroso, "Os estudantes, os seus projectos e o desenvolvimento local", in CIDEC, Oliveira do Hospital - Estudos de Desenvolvimento Socioeconómico, Oliveira do Hospital, Câmara Municipal, 1990. 16 A lógica serrana de apego à pequena propriedade e as estratégias migratórias das suas populações - que partem não para abandonar a serra, mas justamente para viabilizar a continuidade da vida lá - são analisadas, com grande clareza e larga base documental, por Cristiana Bastos, Os Montes do Nordeste Algarvio, Lisboa, Cosmos, 1993; para uma análise socioeconómica pormenorizada das estratégias de pluriactividade das famílias ligadas à agricultura ver João Pinto Guerreiro, Sistemas Agrários no Algarve. Da Exclusividade Autártica à Integração Pluriactiva, Faro, Universidade de Faro, 1993.

Entre os jovens que hoje se encontram, com maior ou menor estabilidade, a trabalhar por conta de outrem no litoral, especialmente aqueles cujas famílias têm actividades económicas independentes, existirão certamente, a curto ou médio prazo, interessados em herdar e prosseguir, sob formas mais modernas, essas estratégias familiares profundamente enraizadas. Há, portanto, aqui um potencial considerável para a criação de auto-emprego, pelo menos nos casos em que os pequenos negócios familiares tenham viabilidade económica e possam ser alargados e modernizados. Pode até dizer-se que o equilíbrio do tecido socioeconómico do interior depende, também, dessa transição intergeracional das pequenas actividades económicas familiares, em que os jovens vão substituindo os seus pais à medida que eles abandonam a vida activa. Os mecanismos de apoio à formação de micro-empresas, independentemente de fomentarem iniciativas de outro tipo, eventualmente mais inovadoras e em sectores económicos não tradicionais, deveriam também contemplar esta modalidade específica de transição para o trabalho independente. Ela pode envolver um número não desprezável de jovens, sendo certo que, neste particular, essa transição depende não só do interesse e iniciativa dos próprios jovens, mas também da adesão dos seus pais, já que são eles que têm a última palavra no que ao património familiar diz respeito.

VIDA ASSOCIATIVA: PLURALIDADE DE PROTAGONISMOS

Bom indicador da integração dos jovens no meio local é a prática associativa de muitos deles, que pode ser importante também como trampolim para inserções futuras. Dos 40 jovens entrevistados, e dos muitos outros com quem se falou informalmente, raros são aqueles que se colocam completamente à margem das dinâmicas associativas ou que se manifestam totalmente indiferentes face a elas. Pode dizer-se, em síntese, que as posições manifestadas pelos jovens a este respeito são de dois tipos principais, ambos num registo mais participativo do que de alheamento, embora representando graus diferentes de envolvimento pessoal. Um é o dos que participam activamente em associações e nas actividades que elas promovem, incluindo aqueles que compõem as direcções dessas associações ou estiveram mesmo na sua fundação. Pode ainda incluir-se aqui aqueles jovens que, não estando hoje, por razões profissionais ou outras, ligados ao movimento associativo, estiveram até há pouco tempo muito envolvidos nele. Outro é o dos que, sem fazerem formalmente parte de

associações, muito menos dos seus orgãos directivos, e podendo até ser algo cépticos relativamente a elas, declaram estar geralmente disponíveis para ajudar na organização e dinamização das actividades promovidas, sempre que para tal são solicitados, seja pelos seus pares de idade, seja por pessoas mais velhas. O dinamismo associativo não é, em todo o caso, idêntico nas várias freguesias. Pode dizer-se que, no momento em que o estudo foi realizado, se destacavam os casos de Alte e do Ameixial, o primeiro pela variedade de associações e actividades, o segundo pela intensidade da militância e pelo grande activismo de uma associação em particular, o Grupo Desportivo Ameixialense. Registe-se, no entanto, o surgimento recente de associações jovens, de diferentes recortes temáticos, em Querença, na Tôr e em Salir. Nesta última, que pela sua maior dimensão se poderia esperar ter mais iniciativas neste campo, vários jovens referem-se a associações que chegaram a atingir expressão considerável, mas que acabaram por morrer. Também em Benafim, única freguesia onde não se registou qualquer associação especificamente formada por jovens, vários testemunhos dão conta e lamentam que iniciativas como o rancho folclórico que funcionou há alguns anos atrás, não tenham prosseguido. As transições geracionais, por um lado, em que o activismo de um grupo particular de jovens se dilui quando se tornam mais velhos e passam a ter outras solicitações, e os conflitos intra-associativos, por outro, são factores que contribuem para que projectos bem sucedidos até certo momento acabam por se desfazer. Parece também ter havido um ou outro caso, em que mudanças de orientação em associações já existentes, e que em determinado momento congregavam a participação juvenil, acabaram por desactivá-la. Pertenço ao Grupo Folclórico de Alte. Os meus pais já fizeram parte. Gosto de representar e de usar o traje de antigamente, gosto do convívio, das saídas para as actuações, fico a conhecer muitos sítios que desconhecia, gosto de dançar. 16 anos, sexo feminino, estudante, frequenta o 11º ano via profissional A direcção da associação (Associação Cultural de Santa Margarida) é pessoal novo; antigamente faziam festas, mas só para aí há dez anos é que começaram a fazer estas festas tradicionais de Verão, quando vêm os emigrantes nas férias. Actualmente continuamos com isso e fazemos jogos tradicionais da serra. 24 anos, sexo masculino, 9º ano, vendedor de produtos para a agricultura Estou a desenvolver um projecto na área ambiental e cultural que estou a desenvolver com os meus amigos projecto AURORA. Já estamos em fase de conversações burocráticas. Os objectivos são a sensibilização das pessoas para a salvaguarda do património ambiental e cultural da região, através das mais diversas actividades. Brevemente vamos fazer uma recolha de lixo, vamos fazer várias limpezas de ribeiras. Futuramente, vamos fazer exposições, concertos, actividades lúdicas das mais diversas. Eu acredito no seguinte lema: pensar globalmente e agir localmente. 21 anos, sexo masculino, 9º ano, desempregado, faz trabalhos ocasionais

O meu pai e o meu marido são sócios do Clube de Caça e Pesca de Salir, porque o meu marido é pescador e o meu pai é as duas coisas. Eu já estive para me fazer sócia, eu gosto bastante de pescar, tenho licença de pesca minha, ele tem a dele, ainda não me associei porque acho que não faz diferença. 21 anos, 12º ano via profissional, desempregada à procura do 1º emprego, faz trabalhos ocasionais ... e este ano estamos a pensar organizar outra vez já com um grupo de nível nacional, mas deste estilo "underground" (Blind Zero, Primitive Reason ou assim), mas desta vez já pedimos apoio à Junta de Freguesia, aguardamos reunião e respostas. 18 anos, sexo feminino, 12º ano, aguarda colocação na universidade O Ghost Boy Club surgiu a partir de uma situação em que quisemos organizar uma prova de "down-hill" (BTT) perto da Tôr, uma vez que não existia nenhuma prova destas no Algarve...Os nossos objectivos são fazer provas de modalidades desportivas menos existentes no Algarve, gostamos de fazer coisas inovadoras. Fizemos duas provas de enduro de motas e três de "down-hill"; depois fizemos jantares e um colóquio sobre droga em colaboração com a Associação In Loco destinado a toda a população, mas que teve muita participação de jovens e agradou aos pais que apareceram; agora gostávamos de ter outros temas que também interessam aos jovens como a questão do primeiro emprego. Há muitos jovens que falam em criar o seu negócio mas não têm informação. 22 anos, sexo masculino, estudante universitário Pertenço à associação ALMARGEM há uns 4 anos. Costumo ir trabalhar para os campos de trabalho do programa "Florestar", cujo principal objectivo é a prevenção de fogos florestais. Gosto muito porque aprendemos a limpar o mato, a conservar os caminhos corta-fogos, controlo e observação na torre de vigia, observar as aves e a flora... Agora eu mais um grupo de jovens aqui da freguesia de Querença ficámos na direcção da APAQUER (Associação de Defesa do Património Ambiental de Querença), porque fomos um pouco empurrados. É engraçado, nós somos todos diferentes uns dos outros, conhecemo-nos daqui mas nunca fizemos parte de um grupo de amigos aqui de Querença. Queremos também... envolver uma série de miúdos mais novos, mais ou menos da idade da minha irmã, para membros activos da APAQUER, queremos ver se pomos toda a malta jovem e disponível de Querença envolvida nisto. 19 anos, sexo feminino, estudante universitária Faço parte do Grupo Desportivo Ameixialense, que é ao mesmo tempo o grupo de amigos. Fazemos a festa de Verão em Agosto, é a grande festa, mais os fins de ano, os bailes típicos da serra mais ou menos de dois em dois meses. Jogamos à bola todos os sábados à tarde e de vez em quando fazemos torneios de futebol com outras aldeias, com a camisola do Grupo vestida... Andámos todos a arranjar esta nova sede do Grupo, era um antigo celeiro, a estucar, a caiar, a pintar, a pôr as puxadas de luz, as instalações do bar. 23 anos, sexo masculino, 9º ano, tirador e negociante de cortiça

A participação associativa dos jovens não se cinge, contudo, a associações especificamente juvenis. Para além destas, que já vão existindo em número significativo, há associações intergeracionais, de tipo recreativo ou desportivo, como sejam, neste último caso, os Clubes de Caça e Pesca, onde os mais novos e os mais velhos coexistem. No campo especificamente cultural, os ranchos e grupos folclóricos são também ponto de convergência e cooperação entre gerações diferentes. Para além dos que estão pessoalmente envolvidos em grupos desse tipo, vários outros mostraram-se bastante interessados na reanimação dos ranchos e grupos folclóricos que existiam há alguns anos e deixaram de funcionar.

Particularmente interessante é o modo como os jovens que participam com satisfação neste tipo de actividades tradicionais as combinam harmoniosamente com práticas de lazer características da cultura juvenil urbana (por exemplo, saídas em grupo nas noites de fim-de-semana para discotecas e bares), práticas que, de resto, se encontram plenamente difundidas na zona. As palavras de uma das entrevistadas, quando diz "gosto tanto de discotecas como de bailes", são a melhor expressão desse casamento de práticas tradicionais e modernas, que não deixa de ser algo surpreendente. A diversificação das áreas de intervenção das associações juvenis é outro ponto a sublinhar. Se até há algum tempo apenas existiam associações cuja actuação se circunscrevia aos moldes clássicos do associativismo recreativo e desportivo, nos últimos anos outras surgiram ou reanimaram-se através justamente da participação de jovens, com interesses e âmbitos de intervenção inovadores, como sejam a defesa, valorização e educação ambiental, o património cultural e etnográfico ou os desportos radicais e de ar livre. Exemplos disso são a Associação de Defesa do Património Ambiental de Querença (APAQUER), agora liderada por um grupo de jovens ou o Ghost Boy Club, da Tôr, que já organizou algumas provas nessas novas modalidades desportivas. Em Salir, por sua vez, surgiu a associação AURORA, virada para iniciativas nas áreas ambiental e cultural, mas ainda em fase de arranque. Em contraste com as associações de tipo mais estritamente recreativo, há, pelo menos num destes casos, um claro protagonismo feminino, o que é também novidade. Outro tipo de prática associativa a merecer registo é o que tem a ver com a pertença a organizações não locais e não especificamente juvenis. Contam-se neste caso os que estão activamente envolvidos em associações profissionais de âmbito regional (concretamente associações de agricultores) e os que militam em partidos políticos. As várias modalidades de participação referidas, independentemente do carácter local ou não local das estruturas em causa e dos seus âmbitos de intervenção, permitem falar de pluralidade de protagonismos no campo associativo, contrariando a ideia, que alguns terão como certa, da falta de iniciativa e de interesse da generalidade dos jovens pelo meio onde vivem. Isso não impede, no entanto, que alguns dos directamente envolvidos neste campo apontem insuficiências e limitações ao associativismo existente. Assim, enquanto alguns apontam a necessidade de repensar em novos moldes alguns das formas mais desgastadas de associativismo tradicional ou criticam os problemas do fechamento e fragmentação associativa, traduzidas em excessos de "localismo", outros manifestam-se a favor de

dinâmicas mais amplas de participação informal da população local, em torno de problemas e interesses comuns.

RELAÇÃO COM O MEIO LOCAL: FIXAÇÃO OU ABANDONO?

A oposição entre interior e litoral, que há algumas décadas atrás era bem vincada e que ainda hoje fará parte das representações sociais de muitos, não é notória entre os jovens. A principal razão para isso é que a sua vida se organiza justamente na pendularidade diária e semanal entre os dois espaços, não só por razões profissionais e escolares, mas também nos tempos de lazer, em que se deslocam ao litoral para, por exemplo, frequentarem discotecas ou irem ao cinema. Como essa pendularidade tem sido crescentemente facilitada pela melhoria gradual dos acessos (exceptuando o caso do Ameixial), e pela posse generalizada de meios de transporte próprios, pode dizer-se que o meio local é, para eles, mais vasto do que as freguesias do interior, e que se estenderá ao concelho de Loulé no seu todo e aos concelhos limítrofes. Não há, nas suas representações, uma clivagem entre interior e litoral ou entre serra e litoral, antes os vêem como integrados, complementares, simultaneamente apropriáveis, o que se poderia sintetizar na expressão "vivo aqui, trabalho (ou estudo lá), divirto-me nos dois sítios". Diga-se, quanto aos jovens do Ameixial, que se as más acessibilidades os impedem de um maior circulação diária ou semanal pelo espaço do seu próprio concelho, eles encontram no vizinho concelho alentejano de Almodôvar uma alternativa, quer para o percurso escolar - muitos fizeram aí o ensino secundário - ou para a ocupação de tempos livres ao fim-de-semana17. Mau grado muitos deles trabalharem ou estudarem fora, e passarem por isso muito tempo afastados da zona de residência, os jovens estão, regra geral, bem integrados nas suas zonas de residência. As fortes relações familiares, a inserção em grupos de amigos, que constituem uma referência fundamental da cultura juvenil e que, neste caso particular, vêm

17

A diluição de distinções tradicionais entre os jovens das grandes cidades e os jovens dos meios mais pequenos e das zonas rurais tem sido assinalada noutros contextos. Em França, por exemplo, Bernard Roudet, op. cit., considera que o contraste rural/urbano já não joga um papel importante na definição dos jovens rurais e que os modos de vida destes últimos têm evoluído, sobretudo, sob a influência das práticas das classes médias urbanas e dos estudantes.

muitas vezes já da infância, e ainda a própria prática associativa contribuem para que assim seja. Embora se queixem, aqui e ali, dos comentários ou atitudes da população mais velha a respeito de comportamentos que, para eles, são parte normal da condição juvenil, os vínculos sociais que mantêm, a esses diversos níveis, com as suas freguesias, levam a um desejo manifesto e bastante generalizado de aí permanecerem no futuro. Para isso contribui, igualmente, o sentimento muito vincado de valorização das qualidades naturais, ambientais e sociais do interior do concelho, sentimento que é comum entre os jovens e que não deixará de reflectir esses vínculos sociais positivos que os ligam às suas zonas de residência. Há, em todas as freguesias, um discurso generalizado de valorização do meio onde vivem, em termos da beleza natural, da tranquilidade, da qualidade de vida ambiental e ainda da integração social. Não só não se observam vestígios de qualquer "complexo de inferioridade" por se ser "serrenho", como há em muitos dos jovens um manifesto orgulho por serem de onde são. Sou altense ferrenha!...O pessoal aqui é todo serrenho e afirma ser serrenho. Mesmo quando vamos para os bares dizemos que somos de Alte. Ainda se diz por brincadeira que nós somos os montanheiros e eles são os da cidade; montanheiros era uma imagem de escravos de trabalho, porque trabalhavam mais na agricultura. Mas agora é mais por brincadeira, porque o pessoal novo daqui está sempre caído lá em baixo em Albufeira. Nós orgulhamo-nos de ser serrenhos e montanheiros, eles qualquer dia estão todos aqui! 16 anos, sexo feminino, estudante do 11º ano, via profissional A pior coisa que me podiam fazer era porem-me a viver num apartamento, cheio de vizinhos à roda, embora goste de passar férias num apartamento. O meu ideal de casa é uma casa isolada no bico do cerro, uma casa tradicional algarvia, com uma piscina e assim. Esta ideia ainda não é realizável, mas gostava, se a vida profissional correr bem, gostava de comprar uma casa velha no bico do cerro e arranjar à minha maneira. Detesto o centro de Loulé para viver, ter vizinhos à roda, já passei pela experiência quando vivi um mês com uma namorada. Quero ter uma casa, mesmo que não seja aqui na freguesia de Salir; é bom estar à vontade. 23 anos, sexo masculino, 12º ano via profissional, apicultor Eu acho que Querença é especial, seja no concelho de Loulé, no distrito de Faro ou seja aonde for. Lá na universidade já estão fartos porque eu estou sempre a falar de Querença, sou eu e um amigo madeirense, esse fala da Madeira e eu de Querença, que é aqui mesmo ao lado de Faro e quase ninguém conhece. Falolhes muito da Fonte da Benémola, até invento algumas coisas, digo que é muito lindo e bem preservado, que não é nada... Gosto tanto dos nossos cerros, o adrozinho da igreja de Querença, tão acolhedor... é bom ser querencense!...Posso vir a dar muitas voltas, mas volto sempre aqui...Querença! 19 anos, sexo feminino, estudante universitária Quero viver na Tôr, para descansar não há melhor sítio. A Tôr é um sítio agradável e está bem localizado, como nós costumamos dizer, "está longe e perto de tudo", porque está perto do litoral e da serra... Dos meus amigos, uns querem ficar, outros ficam porque não têm possibilidade de sair, há outros que têm mas não querem, porque é a melhor terra para descansar, "está-se bem", como nós dizemos. 18 anos, sexo masculino, estudante do 10º ano

Gosto disto aqui para viver, é mais descansado, há menos poluição, tem ar puro das árvores e flores, é melhor para passear... Sinto-me bem em Benafim, é a minha terra. Isto é mais a minha terra que o Porto [local de nascimento], a cidade era muito barulhenta, muita confusão, há assaltos. 23 anos, sexo masculino, 6º ano, bate-chapas e pintor numa oficina de automóveis Gosto do Ameixial, nasci cá e sempre vivi cá. Esse factor faz com que a gente goste da nossa terra. Depois tem uma natureza boa e limpa, aqui todas as pessoas se conhecem, todos falam uns com os outros, que é uma coisa que num meio grande não pode acontecer.... As pessoas do Ameixial têm todas bom coração. 23 anos, sexo masculino, 9º ano, tirador e negociante de cortiça

Os discursos de sentido contrário são raros. Acho que isto é o fim do mundo... sinto-me aqui metida no fim do mundo, acho que posso dizer isso. 25 anos, sexo feminino, frequenta o 7º ano no ensino recorrente, cabeleireira por conta própria Eu não gosto disto aqui, não há nada e o pouco que há as pessoas estragam... é bom para vir ao fim de semana ou passar férias, mas para morar não... é muito pobre tudo...quero ir-me embora, os jovens aqui não têm atractivos para viver. 25 anos, sexo feminino, 8º ano, empregada de balcão numa tabacaria Não vou ficar aqui, não há hipóteses. Para viver gosto mais de Lisboa. 27 anos, sexo feminino, estudante universitária

E, ainda assim, há que distinguir entre eles os que traduzem uma apreciação claramente negativa do meio dos que expressam, sobretudo, expectativas profissionais e pessoais não realizáveis localmente. Com efeito, entre os mais escolarizados, que, como se disse, são sobretudo raparigas, a vontade de sair não decorre tanto de não se apreciar o meio local, mas da constatação objectiva de que o projecto de carreira para que aponta a sua formação escolar tem mais possibilidades de se concretizar fora, num contexto onde haja mais oportunidades de profissionalização. É neste subconjunto da população jovem, para o qual também os projectos matrimoniais tenderão a realizar-se fora, que as perspectivas de abandono do interior, ou mesmo da região algarvia, são mais prováveis e inevitáveis. Para a grande maioria dos jovens, no entanto, o cenário que se desenha tem outros contornos, apontando mais para a fixação do que para o abandono. Para os que já trabalham, seja no litoral, em Loulé ou no interior, como para os que, estando ainda a estudar, venham a encontrar trabalho em qualquer desses espaços, o tipo de inserção que têm nas zonas de residência e a valorização que delas fazem parecem suficientemente fortes para que aí permaneçam no futuro. Dos seus testemunhos pode depreender-se, com efeito, que se dependesse só do gosto por viverem onde vivem, eles não abandonariam o interior. Embora seja também um aspecto a ter em conta, é claro que esse gosto não é condição suficiente para garantir a permanência. Não negligenciando a importância da criação de emprego no interior como

factor de fixação, pode dizer-se que, mais do que do emprego, essa permanência parece hoje depender, sobretudo, da habitação. Mesmo que só consigam trabalhar em Loulé ou no litoral, muitos jovens estão interessados em ficar no interior, desde que consigam resolver a questão da habitação quando abandonarem a casa da família. À excepção dos jovens com qualificação universitária, cujas expectativas profissionais não serão concretizáveis a nível local ou regional, para os restantes a inserção na vida activa não implica, actualmente, abandono da zona de residência. A oferta de trabalho proporcionada pelo concelho de Loulé e pelos concelhos limítrofes e as acessibilidades melhoradas (incluindo aqui a posse generalizada de transporte próprio) fazem com que seja relativamente fácil trabalhar no litoral e viver no interior. Pode mesmo dizer-se que é a relativa abundância de trabalho na faixa costeira e na zona de Loulé que viabiliza a continuidade de residência nas freguesias interiores. A viabilização da permanência das famílias na serra através da procura de trabalho externo é muito antiga18. Mas se, há algumas décadas atrás, a lógica de "partir para ficar" implicava emigração (e regresso, a prazo mais ou menos longo), os jovens de hoje fazemno através de migrações pendulares diárias ou, quando muito, semanais. A comprová-lo estão todos aqueles que já trabalham há vários anos, em diferentes pontos do litoral ou em Loulé, e continuam a viver no interior. A pendularidade diária é, obviamente, mais fácil em Querença e na Tôr do que no Ameixial, mas não deixa de ser generalizada em todo o interior19. Neste contexto, pode dizer-se que a fixação dos jovens não dependerá tanto da criação de postos de trabalho no interior (até porque estes tenderão sempre a ser menos do que os candidatos), mas mais da possibilidade de aí conservarem a residência. A circunstância de os jovens poderem beneficiar da residência familiar é, hoje em dia, justamente uma das condições dessa pendularidade. Mas no momento em que quiserem ou tiverem que deixar a casa dos pais, os dados da questão podem ser reequacionados, já que o acesso à habitação no local, seja construída pelo próprio, comprada ou alugada, é hoje bastante problemático. Os impedimentos de construir nas parcelas familiares que ficam em zonas de Reserva Agrícola ou Reserva Ecológica, o preço inflacionado das casas antigas (não contando com o custo da sua recuperação e modernização) e a fraca expressão local do 18

Cf. Cristiana Bastos, op. cit. É justamente pensando nos casos de Querença e da Tôr, que João Pinto Guerreiro assinala, também, o contraste entre as décadas de 60 e 70, em que as alternativas de trabalho passavam mais pela emigração, e a situação actual, em que essas alternativas passam pela migração interna. Ver João Pinto Guerreiro, "Loulé, um espaço rural em mudança. Breve análise sobre a distribuição da população", Revista do Arquivo Histórico Municipal de Loulé, nº 1, 1992. 19

mercado de arrendamento, deixam pouca margem de escolha para aqueles que pretendam passar a viver na sua própria casa, não admirando, pois, que o tema da habitação seja dos mais referidos pelos jovens quando se referem aos seus problemas e necessidades. A curto e médio prazo, a fixação pela habitação aparece, assim, como uma questão mais decisiva do que a fixação pelo emprego. Num quadro em que o acesso à habitação no interior esteja bloqueado, muitos serão levados a deslocar a residência para onde já estão os empregos, até porque, em termos comparativos, acaba por ser mais fácil encontrar casa em Loulé ou no litoral. Diga-se, além do mais, que a fixação pela residência não deixará de ter efeitos ao nível da própria criação local de postos de trabalho e, desse modo, contribuir também para a fixação pelo emprego. Num cenário de continuidade residencial, haverá provavelmente mercado para um conjunto de pequenas actividades económicas, os chamados serviços de proximidade, destinados a satisfazer as necessidades de uma população com algum poder de compra e, sobretudo, com padrões de consumo mais elevados e variados do que os das gerações mais velhas. Outra forma de ver a relação dos jovens com o meio onde vivem é através do diagnóstico que eles próprios fazem da situação actual das suas freguesias de residência.

Infraestruturas, actividades e iniciativas sugeridas pelos jovens, por freguesia AMEIXIAL Reserva de caça a ser gerida pela comunidade Criação de postos de trabalho ligados à transformação da cortiça Residencial com restaurante ou mini-hotel Pequenas unidades de turismo rural (casas típicas do Ameixial) para fins-de-semana e férias Circuitos de visita às unidades de produção caseiras existentes na freguesia Finalização de percursos pedestres e de bicicleta na zona Barragem (com aproveitamento agrícola e recreativo) Intercâmbios de visita com alunos de escolas urbanas Melhoramento da estrada que liga Salir ao Ameixial. Repavimentação e alargamento de algumas curvas. Uma enfermeira diária, maior regularidade da visita do médico e um armário com os medicamentos básicos. Maiores apoios da Junta de Freguesia ao Grupo Desportivo Ameixialense. ALTE

Realização do Plano de Revitalização da Aldeia de Alte. Analisar prioridade à fixação dos jovens e à qualidade de vida dos residentes. Pavilhão multi-usos. Pousada da juventude na aldeia de Alte. Bar com pista dançante de pequena dimensão, para os jovens não terem que sair para o litoral. Quinta de turismo que recrie forma de viver e trabalhar tradicional. Alargamento do horário de funcionamento da creche da Casa da Criança, adequando-o aos horários de trabalho dos pais que trabalham no litoral. Novas instalações para a Casa da Criança . Casa da Juventude como espaço de convívio, informação e formação complementar, com monitores e animadores. Clube de Emprego. Maior apoio à criação de emprego jovem, apoiar mais os investimentos iniciais de criação de auto-emprego. Mais cursos de formação complementar (p.e. línguas estrangeiras, informática, etc) e cursos de formação oficinal (p.e. pintura e bate-chapas, mecânico auto, electricista, etc). Envolvimento directo do ninho de empresas de Faro na ajuda aos alunos com PAP’s (projectos finais dos alunos da Escola Profissional Cândido Guerreiro); não bastam os actores locais, é necessário envolver actores regionais. Alargamento do leque de oferta de práticas desportivas da Casa do Povo Melhoria das infraestruturas (água, luz, esgotos) nos arredores da aldeia de Alte Facilitação da construção habitacional nos arredores da aldeia Melhoria das acessibilidades no interior da freguesia BENAFIM Abertura da telescola. Escola de formação associada a um centro recreativo e de informação para os jovens. Espaços de lazer e animação que cativem as pessoas a permanecer na freguesia. Bar ou mini-discoteca, como houve antes, para os jovens não terem que se afastar. Parque desportivo. Atelier-loja de artesanato local, com a assinatura da freguesia. Facilitação do acesso dos jovens à habitação, através de habitação social ou política de reconstrução das casas velhas. Reanimação do rancho folclórico ou criação de uma outra actividade deste género. QUERENÇA Planeamento habitacional, com oportunidades de habitação acessíveis aos jovens. Reanimação das actividades tradicionais, através de programas de ocupação de tempos livres. Formação de guias turísticos jovens (aproveitando os seus conhecimentos de línguas estrangeiras), para dar a conhecer a freguesia aos turistas que chegam ao largo da igreja. Campos de férias para jovens de outras zonas do país, em intercâmbios ligados ao Instituto Português da Juventude. Mais uma edição anual da “Festa do Petisco”. Ambulância. Transformação da Fonte da Benémola num sítio mais turístico, à semelhança das Fontes de Alte. Conservação da Fonte da Benémola na sua versão actual. SALIR

Aposta na qualidade residencial e serviços complementares. Inicio rápido de um projecto de cooperativa habitacional. Alargamento do horário de funcionamento da creche, adequando-o aos horários dos pais que trabalham no litoral. Dotação de equipamentos e infra-estruturas compatíveis com o estatuto de vila. Fomento do associativismo em novos moldes. Maior participação da população em acções e iniciativas. Retoma do rancho folclórico e outros projectos desse tipo. Acções culturais diversificadas (jogos florais, serões tradicionais, concertos, peças teatro de rua, acções preservação dos costumes e arquitectura local, cinema de ar livre, biblioteca com livros e jornais de consulta gratuita, etc). Gabinete de apoio à população, de caracter informativo e de encaminhamento (p.e. auxílio em procedimentos burocráticos de vária ordem). “Espaço Jovem” para o convívio, ocupação de tempos livres (ateliers, teatro, computadores, mediateca, sala polivalente para seminários, ensaios e actuações, intercâmbios com outros jovens, etc), informação e apoio (ensino, formação, emprego, habitação, negócios, sexualidade, cultura, etc), orientado por monitores especializados. Captação de apoios do Instituto Português da Juventude para ocupação dos jovens (tipo OTL). Reuniões de jovens de todas as freguesias do interior, para discutir problemas comuns e formação de um grupo para promoção de iniciativas concertadas. Informação aos jovens sobre possibilidade da desafectação agrícola de terrenos de propriedade familiar, para projectos de habitação própria. Mata para a prática de desportos de ar livre e recreio da população. Criação de uma associação desportiva-ambiental, para dinamizar desportos de ar livre com potencial local (BTT, rappel, slide, montanhismo, parapente, asa delta, etc) e participar em encontros e campeonatos regionais e nacionais. Iniciativas de convívio entre crianças e idosos, colocar jovens como monitores. Acções junto dos idosos a dinamizar pelos jovens (temas como a salubridade das águas, prevenção de acidentes domésticos, primeiros socorros, etc). Colónia de férias para crianças, com jovens como monitores. Constituição de um grupo musical de cariz etnográfico, por jovens e professores da escola EB123. Centro de Formação especializado em cursos oficinais (p.e. carpintaria, mecânica auto, etc). Integração de jovens do interior no futuro quartel de bombeiros. Desenvolvimento da hotelaria. Proteger o castelo (ruínas). Instalar uma caixa multibanco. TÔR Conclusão do parque desportivo multi-usos. Plano de revitalização da aldeia da Tôr (urbanístico, turístico, económico). Aproveitamento das condições locais para a prática de desportos de natureza. Gabinete de apoio aos jovens, com informação e aconselhamento sobre variados assuntos. Convocação de uma assembleia dos jovens da freguesia para discutir prioridades de actuação. Bar, para os jovens não terem que se deslocar todos os fins de semana para fora. Anfiteatro de ar livre multi-usos (cinema, teatro para crianças, música, reuniões públicas, etc). Cursos de formação de ofícios (p.e. serralheiro, carpinteiro, electricista, manutenção, etc) e de formação. complementar (p.e. línguas estrangeiras, informática, etc). Retoma dos cursos de pintura, tapetes, ginástica e outras actividades que existiram anteriormente. Centro de ocupação de tempos livres para os jovens e crianças, com múltiplas actividades, orientadas por monitores e animadores. Renovação do equipamento da escola primária.

As actividades e iniciativas referidas na tabela acima, coincidindo em vários pontos com problemas e necessidades que temos referido ao longo do texto, mostram, pelo seu número, diversidade e especificação, que os jovens estão atentos ao que se passa à sua volta e interessados em propor medidas concretas de desenvolvimento. Essas propostas vão do emprego à habitação, dos equipamentos desportivos às infra-estruturas viárias, passando pelos espaços de diversão para a juventude, pela retoma ou reforço de actividades culturais tradicionais ou pela preservação do património ambiental. A relação dos jovens com o meio local tem, portanto, uma dupla face. A satisfação que manifestam por viverem onde vivem não significa que estejam satisfeitos com o actual estado de coisas. A concretização, ainda que parcial, das iniciativas e sugestões que fazem contribuiria certamente para reforçar a sua ligação a esse meio, que já é hoje uma ligação forte.

CONCLUSÃO

Síntese dos resultados Retomando os cinco pontos em que se desdobrou a apresentação dos resultados deste estudo, podemos sintetizar esses resultados da seguinte forma: No que respeita à situação e relações familiares, a larga maioria dos jovens permanece em casa dos pais até tarde, mesmo depois de ter iniciado a vida activa, situação que é cada vez mais comum entre os jovens de hoje, seja em contexto urbano ou rural. A situação de coabitação prolongada com os pais não é vista pelos jovens como sinónimo de falta de autonomia, já que a democratização das relações familiares lhes permite viver com liberdade e independência dentro da própria estrutura familiar. Existem relações fortes de solidariedade entre pais e filhos. Os pais apoiam muito os filhos em termos materiais, não só garantindo o espaço de habitação e a sua subsistência, mas também ajudando-os ou custeando inteiramente despesas como as de aquisição de transporte próprio. Os filhos retribuem, ajudando os pais nas pequenas actividades económicas familiares, seja nas tarefas agrícolas mais ou menos ocasionais, seja no pequeno comércio e serviços, manifestando-se ainda no sentido da compensação e solidariedade futura com os pais, quando estes mais precisarem deles.

Apesar de discordâncias geracionais em questões de opinião e comportamento, a convivialidade familiar é fortemente valorizada pelos jovens, que apontam a família como uma das principais razões para quererem ficar na actual zona de residência. Quanto à situação e aos trajectos escolares e de formação profissional, pode falar-se de duas situações-tipo. O primeiro engloba uma proporção elevada de jovens fracamente escolarizados, sobretudo do sexo masculino, que completaram apenas os nove anos de escolaridade obrigatória ou mesmo, em vários casos, menos do que isso. Muitos deles associam fraca escolaridade a pouca ou nenhuma formação profissional e têm um discurso de desvalorização dos estudos como meio de promoção pessoal e de melhoria das possibilidades profissionais. A entrada precoce no mercado de trabalho - que sobre eles exerce, desde cedo, fortes solicitações e que muitas vezes também não valoriza a formação profissional -, associada ao facto das respectivas famílias, quase sempre ainda com menos instrução, não terem uma estratégia de investimento nos estudos dos filhos, são as principais razões para este estado de coisas. Nas zonas mais interiores, como nos montes da freguesia do Ameixial, as condições de frequência da escola - deslocações longas de ida e volta, saída muito cedo e regresso muito tarde - não deixam, só por si, de convidar também ao abandono escolar. Registe-se, contudo, o sinal positivo que é o de uma parte destes jovens estar actualmente a frequentar o ensino recorrente, tendo em vista completar o terceiro ciclo. O segundo perfil é o do número crescente de jovens, principalmente raparigas, que prolongam a escolaridade para além do ensino obrigatório. Estando sujeitos às mesmas solicitações do mercado de trabalho, que muitos aproveitam durante os períodos de férias, esses jovens não desistem, no entanto, de estudar, para o que também contribui a atitude de apoio ou insistência das respectivas famílias. Estes jovens, que podem ainda ser estudantes ou estar já inseridos na vida profissional, têm um percurso escolar que tanto passa pelo secundário geral, como pelas vias do ensino técnico-profissional, frequentemente em escolas profissionais. A abertura da Escola Profissional Cândido Guerreiro em Alte, apesar de não ser conhecida de muitos jovens de outras freguesias, foi, neste contexto, de grande importância, já que sem ela certamente muitos dos que a frequentaram e frequentam teriam ficado pelo 9º ano. O sub-conjunto dos universitários, estudando no Algarve, no Alentejo ou em Lisboa, entre os quais a desproporção dos dois sexos é ainda maior a favor das raparigas, tem aumentado. Dado o maior isolamento relativo a que estão sujeitas, merece especial

destaque o número significativo de raparigas do Ameixial, tanto na sede de freguesia como nos montes, que estão a frequentar a universidade. Em termos da transição para o mercado de trabalho e da situação profissional, é comum o início precoce da vida activa, estreitamente relacionado com o já mencionado abandono escolar, no fim ou ainda antes do termo da escolaridade obrigatória. A abundância de emprego sazonal que caracteriza a economia algarvia contribui fortemente, só por si, para que começar a trabalhar cedo se tenha tornado um traço estrutural da cultura juvenil da região. Mesmo aqueles que prolongam os seus trajectos escolares pelo secundário e universitário trabalham muitas vezes nas férias de Verão. A sazonalidade do emprego abrange, de resto, uma boa parte dos próprios pais dos jovens, o que não deixa de constituir um efeito de exemplo importante. Ao mesmo tempo, a pluriactividade dessas e de outras famílias facilita aos filhos a lógica da sazonalidade, já que eles podem sempre contar com uma retaguarda protectora em momentos de desemprego. Descontando os casos dos que só estudam, e que são principalmente raparigas, encontram-se três perfis-tipo principais, no que respeita à situação e trajectos no mercado de trabalho. Um é dos jovens pouco qualificados, em termos escolares e profissionais, que têm trajectos laborais de instabilidade e precaridade, com grande rotação entre empregadores, combinando períodos de trabalho sazonal na hotelaria, períodos em que fazem pequenos trabalhos ocasionais na construção civil ou na agricultura e ainda períodos em que podem só receber subsídio de desemprego. A sua receptividade à formação profissional ou a um regresso à escola é baixa, já que, a seus olhos, é pouco compensador trocar uma vantagem imediata (trabalho e dinheiro certos) por uma possibilidade de vantagens futuras. Começando muito novos, estes jovens chegam aos 23 ou 24 anos já com longos trajectos no mercado de trabalho, com passagem por múltiplas actividades e profissões. Dadas as suas limitações escolares e de formação profissional, dificilmente sairão deste regime de vulnerabilidade ou apenas conseguirão fixar-se, a prazo, nos empregos menos qualificados. Não se deve, em todo caso, subestimar o capital de experiência e saberes que estes trajectos sempre permitem acumular, e que alguns jovens poderão rentabilizar no futuro. Este primeiro perfil-tipo é maioritariamente masculino. Outro, menos frequente mas que mesmo assim envolve um número apreciável de jovens, mais raparigas do que rapazes, é o dos trabalhadores relativamente qualificados, com escolaridade secundária e/ou formação profissional, que trabalham, com estabilidade, em áreas técnicas bem definidas. Incluem-se aqui os que trabalham em escritórios (de contabilidade, seguros, advocacia), nos serviços públicos locais (juntas de freguesia,

câmaras municipais, casas do povo, centros de dia, creches, etc), profissionais de hotelaria com formação especializada, animadores, entre outros. O terceiro perfil, também quantitativamente importante, é o dos trabalhadores independentes que colaboram ou estão já à frente de pequenas actividades económicas de tipo familiar, no comércio, restauração, construção civil e agricultura. O trabalho por conta própria é fortemente valorizado por estes jovens, na sequência das orientações das suas próprias famílias. São jovens que desde cedo ajudaram os pais nessas actividades e que um dia optam, por sua sugestão ou paterna, por se tornarem seus sócios e sucessores. Encontram-se aqui, quer jovens com escolaridade baixa e sem formação profissional, quer com escolaridade secundária feita via sistema de ensino geral ou em escolas profissionais. Embora a posse de qualificações escolares e profissionais não deixe de ser importante neste segmento do mercado de trabalho, aqueles que não as possuem acabam por beneficiar de uma estabilidade profissional que não têm os jovens com o mesmo perfil desqualificado que trabalham por conta de outrem. Reproduzindo geracionalmente a pequena economia dos negócios por conta própria do interior do concelho, e sendo, portanto, casos concretos de fixação pelo emprego, esses jovens são geralmente portadores de projectos de modernização e ampliação desses negócios, projectos que só não levam à prática se não contarem com o apoio familiar. Tratase, assim, de uma via importante de acesso ao trabalho por conta própria, mas que a maioria das vezes corre estritamente dentro da unidade familiar, à margem de apoios, programas ou aconselhamentos técnicos por parte de organismos formais. Por ser um sector de actividade pouco desejado pela generalidade dos jovens, merecem destaque, neste contexto, os casos daqueles que enveredaram por trajectos deste tipo no sector agrícola. Deve sublinhar-se que a orientação e a valorização do trabalho por conta própria não se observa apenas entre os que já têm esse estatuto. Muitos dos outros jovens, tanto os de perfil mais instável e desqualificado, como os de perfil mais estável e qualificado, referem intenções ou ideias, mais ou menos definidas, de montarem no futuro pequenas actividades económicas por conta própria. Embora muitos não tenham informação sobre como fazê-lo e estejam, em todo o caso, numa fase da vida em que não reunem condições para o concretizar, a começar pelas condições financeiras, o interesse pelo trabalho por conta própria foi, sem dúvida, uma das constantes das entrevistas. Mais do que mera retórica, a tão grande difusão desta disposição para o trabalho por conta própria entre os entrevistados reflecte, antes, algo que faz parte da matriz cultural profunda do interior algarvio em geral, e do concelho de Loulé em particular, ou seja, o secular apego das famílias à pequena propriedade. Muitos dos jovens de hoje, especialmente aqueles cujas famílias têm actividades económicas independentes, são

herdeiros e potenciais continuadores, sob formas mais modernas, dessas estratégias familiares profundamente enraizadas. No plano da vida associativa, verifica-se que os jovens valorizam geralmente o associativismo local, tendo, muitos deles, forte participação associativa, particularmente notória em certas freguesias. Eles estão na direcção de associações, não apenas em associações juvenis, mas também em associações intergeracionais, protagonismo que pode ser importante como trampolim para inserções futuras. Ao mesmo tempo que se aprecia muito positivamente formas tradicionais de associativismo recreativo e cultural, com bastante destaque para os grupos ou ranchos folclóricos e festas tradicionais, emergem novas associações com âmbitos de actuação e intervenção inovadores, como sejam a defesa, valorização e educação ambiental, o património cultural e etnográfico ou os desportos de ar livre. Em comparação com as associações de tipo mais clássico, há claramente neste novo associativismo maior protagonismo feminino. Outros aspectos a mencionar, neste plano, são as referências de alguns à necessidade de repensar em novos moldes o movimento associativo, o elogio de dinâmicas de participação informal da população e a crítica a algum fechamento e fragmentação associativa, o que não significa que quem a faz não contribua para reproduzir essa mesma situação. . No que toca, finalmente, às relações com o meio local, é de assinalar que a maioria esmagadora dos jovens está bem integrada, o que não significa que não se queixem de comentários que aqui e ali os mais velhos fazem sobre comportamentos ou atitudes, que, para eles, são parte normal da condição juvenil. Os jovens mantêm relações sociais locais fortes, não só através da família, como dos grupos de amigos, do associativismo e do seu contacto com a população em geral. Independentemente da freguesia de residência, é generalizada no seu discurso a valorização das qualidades do meio local, em termos da beleza natural, da tranquilidade, da qualidade de vida em termos ambientais e ainda da integração social. Não só não há vestígios de qualquer "complexo de inferioridade" por se ser "serrenho", como há em muitos deles um manifesto orgulho por serem de onde são. Se dependesse só do gosto por viverem onde vivem, a grande maioria dos jovens não abandonaria o interior. Embora esse aspecto não seja negligenciável, a questão da fixação ou abandono depende, no entanto, mais da conjugação dos factores emprego e habitação. Mesmo que só consigam trabalhar em Loulé ou no litoral, muitos jovens estão

interessados em permanecer no interior, desde que consigam resolver a questão da habitação quando abandonarem a casa da família. A fixação pela habitação, e não apenas pelo emprego, destaca-se assim como aspecto a merecer atenção particular. Os que se manifestam a favor de abandonar o interior são maioritariamente raparigas, muitas delas porque, dispondo de escolarização universitária, não antevêem perspectivas profissionais no local ou mesmo na região algarvia. Os projectos matrimoniais também não são alheios ao maior abandono das jovens. Embora disponham de redes migratórias extensas e variadas, não só por a sua família ou eles próprios serem emigrantes regressados, mas também por terem muitos familiares próximos no estrangeiro, não se vislumbra na generalidade dos jovens projectos de emigrarem para outro país. Sublinhe-se, finalmente, que para os jovens o "local" não coincide com o interior, ou seja, não vêm as zonas onde residem em oposição ou isoladas de Loulé e do litoral. Tanto nos seus discursos como nas suas práticas quotidianas - escola, trabalho, tempos livres, estilos de vida - o local é mais vasto do que as freguesias do interior, estendendo-se ao concelho de Loulé no seu conjunto e aos concelhos limítrofes.

Sugestões de intervenção

Em face destes resultados, podem identificar-se algumas linhas de possível actuação para as instituições e actores que intervêm no local, linhas que são aqui indicadas sob a forma de sugestões de intervenção. Estas sugestões beneficiam já dos comentários e da discussão de que foram objecto, aquando da apresentação do Relatório Preliminar deste estudo à Associação IN LOCO e aos representantes dos Parceiros do Projecto INTEGRAR, no dia 30 de Outubro, no Centro Brito de Carvalho, em Salir. 1. Estudar a possibilidade de existir oferta de cursos de formação profissional em regime pós-laboral, para jovens poucos escolarizados, com especial incidência em áreas de formação oficinal. Esta sugestão visa suprir a falta de oferta profissional para os jovens de perfil profissional mais vulnerável, ou seja, jovens com trajectos profissionais de instabilidade e precaridade. Neste sentido, é importante conjugar a formação profissional em áreas

específicas de tipo manual (p.e., mecânica auto, pintura e bate-chapas, carpintaria, artes gráficas, electricidade, manutenção de casas e jardins, etc.), com o ensino normal por forma a obterem no mínimo a escolaridade obrigatória, reduzindo assim em alguma medida o grau de vulnerabilidade associado ao seu perfil. A aprendizagem informal do "aprender fazendo" que caracteriza estes jovens, embora indispensável no seu desempenho laboral quotidiano, não os dota de uma certificação profissional, importante no contexto actual de cada vez maior exigência ao nível da escolarização e qualificação profissional, sobretudo se pensarmos em termos das possibilidades de mobilidade profissional. É importante salientar que os jovens com este perfil se mostram largamente interessados em obter a referida certificação desde que consigam conciliar, em termos de horário e acessibilidade, o seu trabalho actual (horário laboral a tempo inteiro) com a formação profissional (em horário pós-laboral). Essa vontade é tanto mais de registar quanto se sabe que muitos dos empresários locais e regionais atribuem pouca importância a esta mesma “certificação”. De acordo com a opinião dos jovens entrevistados, uma estrutura de formação com esta vocação deveria situar-se no interior do concelho de Loulé. Os Parceiros acolheram com agrado esta sugestão, mas salientaram que se trata de criar uma figura legal de formação profissional inexistente actualmente. Assim, para a levar a cabo, seria necessário mobilizar esforços conjuntos a partir de duas entidades que tutelam áreas diferentes - o emprego / formação profissional e a educação – no sentido de contornar a inadequação dos instrumentos de enquadramento da formação profissional em horário pós-laboral. Informaram que nenhum dos organismos regionais destas áreas tem poder, por si, para levar a cabo esta tarefa, pelo que têm que juntar esforços e fazer pressão para tomada de decisões a um nível de decisão hierarquicamente superior. 2. Estudar novas formas de promoção de auto-emprego para os jovens, através do envolvimento conjunto dos jovens e dos seus pais na manutenção/alargamento/modernização de negócios familiares por conta própria. O ponto de partida para esta sugestão é a forte valorização e orientação para o trabalho por conta própria, mesmo que o horizonte de concretização dessa orientação seja mais ou menos longínquo, ou esteja mais ou menos indefinido. Como se disse, mais do que mera retórica, a tão grande difusão desta disposição para o trabalho independente entre os jovens tem a ver com algo que faz parte da matriz cultural profunda do interior algarvio, e do concelho de Loulé em particular, ou seja, o secular apego das famílias à pequena propriedade.

O que se verifica actualmente é que, apesar de existirem diversos instrumentos de incentivo e financiamento à criação de negócios por conta própria, eles não têm sucesso porque assumem como unidade de análise/avaliação, o indivíduo (jovem ou não jovem). A novidade que se propõe aqui é justamente acompanhar os casos de maior interesse, a partir de uma análise multidimensional do campo de possibilidades de sucesso do negócio, mas tomando como base a família. A metodologia proposta é do tipo estudo de caso, em que a unidade de análise é a família, e não apenas o jovem ou os seus pais como recorrentemente se faz, porque o nível de decisão sobre a afectação do património familiar (imobiliário, fundiário ou financeiro) está ainda, na maior parte dos casos, nas mãos dos pais. A isso acresce a falta de capacidade de auto-endividamento da maioria dos jovens justamente pela fase da vida em que se encontram de equacionamento de vários investimentos/gastos (meio de transporte, habitação, etc) . A Associação IN LOCO e os Parceiros demonstraram interesse pela sugestão apresentada nestes termos mas referiram a falta de instrumentos de enquadramento e apoio a uma necessária análise in situ desses casos. 3. Estudar esquemas que facilitem o acesso dos jovens à habitação, de modo a dar-lhes condições para a fixação local que desejam. Tendo em conta o facto de a fixação pela habitação, mesmo trabalhando em Loulé ou no litoral, ser amplamente desejada pela maioria dos jovens, o objectivo será estudar formas de ultrapassar os constrangimentos actuais em matéria de construção habitacional no interior do concelho de Loulé. De facto, verifica-se que o Plano Director Municipal de Loulé, ao definir vastas áreas de Reserva Agrícola Nacional (RAN) e Reserva Ecológica Nacional (REN), impede muitos jovens de construir em terrenos que estão disponíveis no património familiar. A fixação pela habitação é um cenário com múltiplas virtualidades, já que, ao mesmo tempo que previne o abandono dos jovens, é portadora, a prazo, de algum dinamismo em termos de criação de serviços de proximidade e, consequentemente, de emprego local. Vários Parceiros referiram estar atentos a esta questão habitacional, não obstante não existirem medidas específicas para os jovens do concelho de Loulé no que à habitação diz respeito, além daquelas que abrangem todos os jovens a nível nacional. Discutiram-se, ainda, as vantagens e desvantagens de vários modelos possíveis de aumento da oferta habitacional (cooperativas de habitação, recuperação de casas antigas, por exemplo) e o seu enquadramento num contexto como o interior do concelho de Loulé,

tendo-se também referido que a revisão a breve prazo dos Planos Directores Municipais poderá ser um prazo útil para avançar com algumas propostas e reformulações. 4. Incentivar a criação de uma “Plataforma Inter-Associativa dos Jovens de Loulé Interior”. Tendo em vista os riscos de fragmentação e "localismo" das associações existentes, o objectivo será estabelecer, numa base relacional, um grupo formado por todas as associações jovens existentes no interior do concelho de Loulé, com vista à discussão conjunta dos problemas dos jovens, à coordenação de acções e projectos comuns, com optimização dos recursos mobilizados. Esta sugestão foi acolhida com algum interesse no sentido em que visa a discussão e o trabalho numa base cooperativa, modelo ainda pouco enraizado localmente. 5. Criar “Espaços de Juventude”. Podem identificar-se dois formatos principais do que designaríamos por “espaços de juventude”. Um mais minimalista e outro mais ambicioso, em termos dos recursos a afectar e do tipo de projecto conjunto a desenvolver, ambos com vantagens e desvantagens. Na hipótese mais minimalista, poderia criar-se um “espaço jovem” em cada freguesia com um nível mínimo de equipamentos de convívio e informação aos jovens, de acordo com um projecto desenhado pelos jovens locais e tendo em conta as limitações de cada freguesia. É importante perceber que não existem “necessidades universais” e como tal estes espaços não teriam necessariamente que ser iguais nas várias freguesias, devendo atender às ambições, recursos e especificidades de cada uma delas. Na hipótese mais ambiciosa, poderia projectar-se um espaço único, em local a definir fora das sedes de freguesias, mas junto de um eixo estratégico em termos de acessibilidades para todo o interior do concelho (ou num local que se considere estratégico por outros motivos, nomeadamente a recuperação de património imobiliário, etc). Este espaço único, para além das funções de convívio e informação para os jovens, seria animado por monitores e estaria dotado de equipamentos polivalentes para a realização de actividades culturais, artísticas e desportivas. Esses equipamentos poderiam, além disso, ser colocados ao serviço da população do interior do concelho em geral. Os Parceiros mostraram-se receptivos à ideia, mas referiram que será muito difícil concretizar, no curto prazo, o formato do espaço único, devido aos enormes meios a mobilizar. Obviamente que teria que ser um projecto bastante bem planeado em termos de

afectação e optimização de recursos, com mobilização dos actores locais e extra-locais, mas seria sem dúvida um elemento inovador no contexto em estudo e contribuiria para fomentar a necessária reflexão conjunta, a prática da cooperação e a partilha de saberes e resultados. Entre estas duas hipóteses, existe provavelmente um contínuo de muitas outras possibilidades, que os actores no terreno melhor saberão definir. 6. Estabelecer contactos com os jovens que frequentam a universidade, por forma a que eles criem ou conservem ligações a actividades no local, mesmo que venham a abandonar, como é previsível, a sua actual zona de residência. O objectivo será manter a ligação com os jovens universitários que, por razões profissionais, têm expectativas de vir, no futuro próximo, a residir no litoral algarvio e noutros pontos do país. No discurso da grande maioria desses jovens, há uma forte valorização da identidade local e dos laços familiares, laços que pretendem conservar através visitas regulares, e ainda vontade de não vender o património familiar que irão um dia herdar. Neste grupo encontram-se alguns dos jovens mais activistas (mas não necessariamente associativos, no sentido de pertencerem actualmente a associações jovens ou outras) e entusiastas de processos de mudança local, cujas competências escolares e círculos de relacionamentos extra-locais podem ser mobilizados para projectos e acções que sejam, simultaneamente, do seu interesse pessoal e de interesse local.

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