Skate: desafios em uma cidade excludente

June 16, 2017 | Autor: Guilherme Böes | Categoria: Sociology, Geography, Skateboarding, Social and Cultural Anthropology
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VI SEMINÁRIO NACIONAL DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA – UFPR CURITIBA, 21 DE MAIO DE 2015. Grupo de Trabalho 08: Estudos socioculturais do esporte.

Skate: desafios em uma cidade excludente

Autor Guilherme Michelotto Böes – PUCRS/PPGCS

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Skate: desafios em uma cidade excludente Guilherme Michelotto Böes1

Resumo: Sensualizada nos espaços de consumo, o espaço urbano tem suas constantes ressignificações para aqueles que se manifestam em uma ordem contrária de seu uso, os skatistas. Da contracultura com que o skate surgiu e a sua sociabilidade possível, o skate se apresenta no século XXI como novas dinâmicas de interação com a cidade, compartilhando novos usos dos espaços no crescente ambiente urbano. Skatistas são constantemente envolvidos na ordem, e o problemas com autoridades, diante da organização da cidade em um modelo excludente de utilização espacial e o seu controle informal, já que nem sempre o uso de espaços públicos por skatistas são aceitos pela população. O quê faz com que a cidade seja privilegiada no uso, e porque se envolve na exclusão dos espaços para além do seu “normal” uso? Analisar essas extensões com que skatistas são desafiados diante das codificações culturais na cidade, entre o direito de uso e contra o controle legal de utilização – no que é proibido fazer – e a compreensão da cidade em suas múltiplas formas de produção e inscrição de identidade social.

Palavras-Chave: skate, cidade, espaço público, exclusão.

Introdução

A imagem da cidade atual já faz parte da rotina de nossa vida. Seja na imagem de uma cidade em que não residimos, seja na imagem de um ambiente que sonhamos. Entre seu o deslocamento habitual pela cidade, é inevitável formas de contemplação e concepção estética, de uso, de arquitetura, de população, etc. A sociedade em sua forma de racionalização se constitui predominantemente urbana. O urbano e a cidade se constroem sob novas formas de relações na sociedade, seu desdobramento impacta sob as formas que nos relacionamos cotidianamente. E assim uma metrópole, ou cada cidade que hoje cresce com novas construções, tem em 1

Doutorando em Ciências Sociais, Mestre e especialista em Ciências Criminais, PUCRS/PPGCS, bolsa FAPERGS/CAPES.

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uma reprodução naquilo que se vê desenvolver. Tem em nosso cotidiano imagens de uma metrópole que impactam por sua grandiosidade das edificações, entre suas infraestruturas aos seus eventos com comportamentos exóticos e ocupações “pouco convencionais”. (MAGNANI, 1999)

“Se o excepcional chama a atenção, o que caracteriza os processos cotidianos é o caráter reiterativo, revelado por um olhar atento às redes de sociabilidade, às formas de uso reiterativo, revelado por um olhar atento às redes de sociabilidade, às formas de uso e apropriação dos espaços públicos, às práticas e aos padrões de comportamento que fundamentam os estilos de vida comuns; vistas desse ângulo, até mesmo algumas das excentridades – assim rotuladas pela mídia – terminam revelando suas próprias e prosaicas rotinas.” (MAGNANI, 1999, p.07)

Interpretar todas essas formas excêntricas com que a urbanização causa é considerar a vida cotidiana na cidade enquanto um enclausuramento em margens na utilização que pode ser desde o seu deslocamento individual e coletivo, ao modelo de organização e posição social. Dentro dessa teia a cidade se organiza na institucionalização coletiva do dia a dia, esvaziando-se, no ponto de existência do cidadão em sua participação social e seu significado diante da vida cotidiana. Isso significa que o espaço urbano tem uma nova condição de reprodução, “meio e produto na reprodução social” a partir da cumulação do capital. (CARLOS, 2015) E sobre essa vida cotidiana na cidade que sempre estaremos nos questionando, o que seria a cidade? Uma espécie de contrapartida da vida no campo, o oposto daquela vida rural que se desenvolveu com a formação do sistema mercantil? Assim, qual é a importância dos processos de realizações culturais, não entre uma comparação do campo e a cidade, mas as vivências com que nas novas formas de uso dos espaços públicos tem criado sobre o desenvolvimento urbano. E onde o skate se relaciona com o presente questionamento sobre a cidade. Bem, os espaços urbanos que compõem a arquitetura moderna criam novos e segrega velhos espaços. Isso significa que o skate se impõem ao contrário de onde o espaço da cidade

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como produto imobiliário2, não se mantêm como espaço produtivo (e relações de consumo) para a realização de sua prática. É na ânsia de utilização e morte desses espaços surge às emoções compartilhadas pelos skatistas, a identidade local, ou a composição de seu não lugar, os skatistas traçam novas rotas, caminhos a ser explorado, em uma constante transgressão a ordem imposta. E essas formas estão diretamente relacionadas com os espaços que moldam toda uma cidade, e é nessa relação entre cidade, espaço e skate como formas de socialização entre eles que pautaremos o restante do trabalho.

A cidade

As sociabilidades na cidade perfazem todas as formas de relações com o espaço e as manifestações de juízo com que delas nos identificamos no espaço-tempo. Os sistemas de valores, práticas coletivas, o tempo espaço individualizado pelo homem é o espaço apropriado com que a obrigação de transmissão do valor que se integra à sua atividade, “conquanto nos cálculos tradicionais não se reconheça como tal o papel do espaço na formação do valor dos bens ou serviços.” (NICOLAS, p.85) O leitor até aqui deve estar confuso com a minha pretensão de conceituar cidade. Também acho difícil realizar uma conceituação do que seria a cidade, mas creio que enquanto uma formação territorial em que se têm as relações sociais pode ser assim a forma de determinar cidade. Em outro aspecto, é que a cidade está determinada sobre um território, igualmente teríamos outro questionamento a ser realizado no sentido da composição de território. Todo esse debate estaria levantando em uma questão central a qual quero compartilhar, as formas de espaços com que o território na cidade se forma. A importância sobre o território é mais complexa, pois envolve questões de ordem no plano de fronteiras e determinações dessas fronteiras, da mesma forma que cidade. Pois então no espaço que é criado por essas determinações é que se produz a socialização, é 2

Ver CARLOS, Ana Fani Alessandri. A reprodução do espaço urbano como momento da acumulação capitalista. In: Crise Urbana. Ana Fani Alessandri Carlos (org.). São Paulo: Contexto, 2015. Pp.25-35.

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no espaço que apresenta as complexas formas de relações sociais. Acredito que essa composição está descrita por JACOBS (p. 97 e segs.) sobre a natureza peculiar das cidades. As cidades são esses lugares concretos que desempenham da observação sobre esses espaços em variedades, que vão desde as regras de condutas (andar na calçada) ao uso de parques desenvolvidos pelo poder público na tentativa de apresentar a cidade com espaços de diversidades de uso. Não estou a determinar a cidade como um organismo vivo, mas que a relação da cidade com a sociedade sempre foi nas formas de sua composição. Ela tem sua organização na proximidade de ordem próxima e a ordem distante. A primeira é formação dos indivíduos grupais estruturados e não estruturados, enquanto a segunda refere-se nas instituições como o Estado e a Igreja. Tudo isso realiza os códigos de culturas entre seu conjunto de significantes. (LEFBVRE. p.52). “Desta forma, a cidade é obra a ser associada mais com a obra de arte do que com o simples produto material. Se há uma produção da cidade, e das relações sociais na cidade, é uma produção e reprodução de seres humanos por seres humanos, mais do que uma produção de objetos.” (LEFBVRE. p.52)

Nesse modelo com que o uso dos espaços que a história desenvolveu a cidade, no mecanismo troca de mercadoria e, isso, foi até hoje aproveitado como exigências e coações para inscrever a ordem sobre os espaços. Os espaços são tornados absolutos para a eleição e rejeição por excelência. A possibilidade de determinar os lugares para seu real uso, o espaço na cidade é limitado por seu próprio direito à cidade. Sabendo que nesses espaços tem a preponderância do sistema capitalista, ao que CARLOS (2015) refere-se que produz esses espaços como forma de mercadoria, ou seja, somente a partir de uma relação de consumo é que se estabelece o conteúdo de realização social. E isso tem uma grande influência sobre as políticas públicas pois é a partir da ação do Estado – seu poder local e legal – que determina a produção desses espaços para setores na “criação de infraestrutura e alterações de usos e funções dos lugares a partir de mudanças de zoneamento, ‘reparcelamento’ do solo urbano, políticas

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de intervenção espacial através da realização de operações urbanas e da chamada requalificação das áreas – principalmente centrais – por meio da realização de ‘parcerias’ entre” setores públicos e privados atuando sobre a orientação dessas políticas públicas. (CARLOS, 2015. p.27) O capitalismo tardio desafia as suas circunstâncias que compõem as estruturas sociais da vida nua à cidade, diante dos “insuportáveis” símbolos de consumo que a vida cotidiana é forçada a conviver. A procura do diferente na socialização da cidade encontra a sua afirmação no próprio uso dessa cidade. “Cotidianamente vivida, a imagem urbana é leitura-tradução do interpretante urbano que, mediante processos perceptivos e remissivos, circunscreve-a gradualmente num mosaico mnemônico. Aqui a memória – sintagma saturado – é o redescobrimento em profundidade do percurso diário que decupa e monta essa imagem. Conciso (sentido amplamente compartilhado) e prolixo (sedimentação histórica), o imaginário urbano guarda as marcas de uma épica em elaboração cujo devir vai sendo decifrado na medida em que cifra no presente seu ethos inaugural, perfazendo o entrecruzamento espaço e linguagem, o lugar do mito.” (ELIAS, 1989. p.28)

Na fortaleza3 da cidade as cruzadas por segurança é a destruição do espaço público. O cerimonial é de que aqueles que não tem um consumo sobre esses espaços, devem ser excluídos. Pois ter um espaço público, é um chamariz aos Sem-teto e os vagabundos. O isolamento social parte da constante ofensiva na arquitetura para construções de templos de lazer e consumo, privatização e espaços moldados para serem preenchidos por qualquer fragmento de concreto de forma a eliminar qualquer espaço que possa vir a ser utilizado como espaço público.

A construção da metrópole ora visível os usos e as formas de apropriação do espaço que se associam, diretamente, às formas de propriedade privado do solo urbano apontando para uma hierarquização socioespacial como expressão da desigualdade – é o que aponta a segregação socioespacial. (CARLOS, 2015. p.28)

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Termo extraído do capítulo “Fortaleza LA” do livro de Mike DAVIS Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles. São Paulo: Boitempo, 2009.

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Na convivência de um sonho de uma Cidade eterna, cercada do “mais alto valor” de belezas cotidianas ignoramos o Direito a Cidade. A questão urbana a que estamos inseridos é dessa dinâmica que situa a Cidade diante de sua crescente urbanização, pois o “modo de vida urbano interfere diretamente sobre o modo em que estabelecemos vínculos com nossos semelhantes e com o território.”4 Dessas condições em que estamos atualmente no espaço-territorial de nossa formação institucional (no sentido de uso do espaço da cidade), nas suas intensas modificações e perspectivas para que todas as pessoas possam viver com a dignidade humana. O território urbano está longe de oferecer as condições de igualdade para toda a população. Ele segrega, degenera, priva, e se limita diante de sua produção de desigualdades. As políticas públicas caminham para esse desconhecimento, visto que produzem cada vez mais a violência institucionalizada em que desenvolvem a complexa reproduções de convencionalidades na urbe, com suas descrições visuais, de referências e de distribuição espacial. Conforme enfatiza Milton SANTOS o objeto de análise social não é o território em si, mas o seu próprio uso. Essa necessidade de se evitar a alienação da existência individual e coletiva, o território é a fluidez da vida real humana, e de que hoje comporta (transporta) as redes de regras e normas para o processo de reconstrução de estigmas. Isso é a análise separada da dualidade entre pobre e rico. A formação de que a Cidade sugere fronteiras de separação é rompida com a sua utilização por todas as “classes” no deslocamento integral, desde idas ao trabalho até o uso de parques, a mobilidade social é ampliada na Modernidade Tardia. As configurações de controle na cidade é a manutenção, sistemática, de diversos signos para as funcionalidades determinadas de usos. Os espaços são reservados para um legal uso, e não a forma contrária de seu uso, o seu contra-uso. Isso é a associação da “dimensão espacial do lugar, que as torna vernaculares, se constituem em contra-uso” na

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Preâmbulo. Carta Mundial pelo Direito à Cidade. Disponível em: http://normativos.confea.org.br/downloads/anexo/1108-10.pdf. Acesso em Janeiro de 2014.

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capacidade subvertiva ao uso regular de determinado espaço cindindo-se na estratégia de sua ressignificação ao espaço enquanto objeto de cultura. (LEITE, 2007. p.215) Espaços culturais são regulados para a interação pública, a exclusão é mais viável que a inclusão. A marginalização e a ilegalidade do uso é a estratégia pública para conferir aos espaços da cidade o controle da(s) contracultura(s). A regulação pública é a causa da exclusão do espaço comum como espaço público. Se para utilizar determinado lugar há regras a ser seguida, a imposição de regra gera a transgressão. Transgredir é ser taxado de criminoso, é sofrer a repressão.

O skate na cidade

O skate como movimento contracultural da utilização do espaço urbano da cidade apresenta-se em uma complexa reprodução de convencionalidade da sociedade urbana, com suas descrições visuais, referências e distribuição espacial. Algumas posições de pesquisa sobre o skate e sua relações sociais, a pesquisa com skatistas chilenos na região de Talcahuano (Chile) os autores constataram que a sua prática é a contracultura de microssociedades presente na modernidade tardia que tem uma grande força de alterar o mapa urbano, pois (re)cria uma nova forma de cultura metropolitana a partir de um anonimato que os espaços urbanos formam. Andar de skate é uma forma de se pertencer a determinado espaço simbólico, e não um problema social emergente na alteração da ordem pública. (CORNEJO; CERDA; VILLALOBOS. 2012). Voltando ao Brasil o professor Leonardo BRANDÃO (2011), apresenta seus estudos sobre o skate e a cidade, umas das questões que analisa se torna importante para a compreensão de o skate ter sua figura de estilo sobre a contracultura de 60/70. Isso mostra que o movimento (enquanto contracultura) skate tem uma ampla possibilidade de realizar o diálogo com outros movimentos contraculturais (em sua análise, com o movimento Punk), pois ele (skate) se apresenta como um confronto “contra” valores de normas dominantes. É nesse sentido de envolvimento de espaço enquanto momento de ver a cidade, desde sua possível civilização ou des-civilização, e sua formação dos espaços urbanos

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que são constantemente “remondados”, abandonados. Há obras paradas, espaços “esquecidos”, muros de concretos, tédio dos centros urbanos, do trabalho, estudo. Os espaços que não compreendem todas as formas possíveis de consumo são os espaços e a parte cidade de exclusão. Assim na forma que aantropologia urbana tem a dimensão de estudar o fenômeno cultural no espaço das cidades modernas, e sua sociabilidade, como objetivo nas questões atuais5, BASTOS (2006, p.111 e segs.) discorre sobre as entrevistas que realizou com grupos de skatistas na Cidade de Porto Alegre/RS. É importante notar que o autor apresentou das diferentes formas de estatutos do skate: como estilo de vida, atleta praticante e o consumidor representante de marcas. Em ambos os estatutos foi possível constatar que o estigma estrutura os estilos não são tratados diretamente pelos envolvidos, mas percebe que tem uma forte relação com a sua exclusão diante da sociedade. Os skatistas ignoram o estigma, mas compreendem que são estigmatizados. Compreender essas formas de sociabilidade e exclusão causadas pelo skate na sociedade, temos a tentativa de preencher os conceitos de um direito a cidade em cada um dos seus significados particulares, a partir de como eles próprios (skatistas) visualizam, permitindo que nós pesquisadores tenhamos uma visão sobre o processo de significações6 das Cidades nesse século XXI, e principalmente do Brasil. Esses modos de vida percorrem o itinerário urbano que estamos fragmentando (ou criando); sua ocupação é um modo de os indivíduos transformá-los em espaços não fragmentados, de forma que eles possam se reconhecer, afirmar suas diferenças, representações, consumo, demarcação de território de pertencimento. “[...] os diferentes sentidos atribuídos aos lugares e a forma como são apropriados (consumidos) demarcam as tensões e disputas em torno dos usos e sentidos atribuídos aos espaços urbanos enquanto espaços públicos.” A análise dessas práticas culturais e sociais, ao modo que segrega os espaços para o consumo, não se trata, necessariamente, do esvaziamento do sentido desses espaços urbanos ou o esvaziamento do uso de apropriação política dos lugares (LEITE, 2007. p.67). Entendo que isso é uma ruptura das perspectivas culturais, 5

Ver: MAGNANI, José Guilherme Cantor. A antropologia e os desafios da metrópole. Tempo soc. Vol.15 n°1, São Paulo: Abril 2003. 6 ver David HARVEY entrevista disponível http://blogdaboitempo.com.br/2013/11/22/o-direito-a-cidade/

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a forma-contra manutenção da ordem moral e da posição de poder nos espaços públicos: a invasão dos skatistas à cidade. Suas formas de ser, estar, ritualizar-se constituem em uma modalidade urbana e sua representação. As transformações dos espaços urbanos violentos que circulam nas mídias e suas formas de manutenção e reprodução de programas de políticas públicas invertem o sentido da manifestação e representação cultural. Faz com que o espaço seja entre o civilizado e o não civilizado, criando as fronteiras territoriais dentro da metrópole (espaço de ordem) e a fronteira cultural (espaço de cultura). Toda cultura é a manifestação contra a ordem imposta é sua exploração de inserção do espaço humano na realidade vivida. (…) a rua não tem somente uma função informativa ou comercial, mas também apresenta uma faceta simbólica e lúdica. É possível, portanto, compreender que a rua se abre para a discussão dos novos objetos construídos socialmente, culturalmente, pois ela contribui para transformar as relações e as práticas urbanas.(BRANDÃO, p.112)

Confrontar o problema que se tem sobre o comportamento em lugares público fornece alguns questionamentos iniciais para a possibilidade de uma etnografia urbana sob o olhar de skatistas. Essa confrontação vem de uma abordagem sobre “estudo do tráfego humano”, que GOFFMAN (1963) percebe sobre os padrões de contatos sociais e seus comportamentos em lugares públicos e semipúblicos. É desses atos que estabelecem o apropriado e inapropriado na composição da cidade moderna que fornecem os juízos de valores na sua utilização em suas regras e ordem de tráfego (no sentido que comunicação cotidiana) que devem se submeter as pessoas. A sustentação dessas “ordens pública” em que “Hoje em dia, cidadãos são obrigados a manter suas calçadas e ruas em bom estado e as terras de sua cidade livres de refugos nocivos.” (GOFFMAN, 1963, p.19) Esses refugos nocivos são constantemente colocados sobre as perspectiva de identificação do skate na cidade, é a cidade enquanto lugar de processos identitários e nas suas formas de apropriação, ou em uma linguagem mais limpa a socialização nos espaços públicos. A partir desses elementos que fazem as perspectivas de estar no

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cotidiano e seus desejos de compreensão entre os sujeitos que se relacionam sem tocar entre si, fazendo um mosaico de várias composições da cidade. (BRANDÃO, 2011). A cidade situa-se nessa batalha em campos de legitimação, em busca de suas liberdades, antes sua posse. Constrói, destrói, a cidade urbana fragmenta todas as relações sociais que ficam perdidas na história em seu processo de destruição. Libertar o sujeito dessa destruição é construir a representação do mundo não como formas espaciais de exclusão, mas no sentido de inclusão nas novas dinâmicas sociais e espaciais. As classes sociais que moldam a cidade são cada vez mais experenciadas pela estética de consumo, em sua forma de lazer, saturando a construção da arquitetura urbana, fazendo com que a cidade seja “móvel”, em que desloca uma grande parte da população para diferentes áreas de sedução do mercado. Analisar a ritualização com que o skate se insere, hoje, na cidade é reconstruir o ambiente estético coletivo em que estamos inseridos. Assim esses símbolos que carregam essa subcultura do skate constituem seu material cultural e contra-cultural de estilos na cidade.

Conclusões

Diante dessas formas de uso da cidade, vejo o espaço é que forma a cidade. São entre os espaços que o homem confronta sua formação histórica de sociedade e envolve sobre seu período histórico. Portanto é essa necessidade de recorrer em Milton Santos sobre o espaço do homem. O espaço e o homem são interdependentes, enquanto o espaço determina o movimento do homem, ou seja, a cidade e seu desenvolvimento. O homem se realiza dentro desse conjunto enquanto sua formação social, já que é pela formação social que se encontra a localização estrutural dos homens: desde a atividades das coisas no espaço de sua necessidade “externas” (modo de produção) às suas necessidades “internas” (estruturas de procura). “O espaço, ele mesmo, é social.” (SANTOS, 1977)

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“O movimento do espaço, isto é, sua evolução, é ao mesmo tempo um defeito e uma condição de um movimento de uma sociedade global. Se não podem criar formas novas ou renovar as antigas, as determinações sociais têm que se adaptar. São as formas que atribuem ao conteúdo novo provável, ainda abstrato, a possibilidade de tornarse conteúdo novo e real.” (SANTOS, 1977. p.89)

Podemos assim relacionar que esses modos de produção são expressivos para a luta e interação entre o velho e o novo, é a partir disso que pode se escrever a história sobre o tempo das formações sociais que perfazem o espaço do homem. É como a força da contracultura do skate que se inscreve no espaço, torna esse espaço enquanto significação natural de um lugar: a continuidade do espaço. A evolução da estrutura social é fundamental que esteja na compreensão e reprodução do espaço do homem. Se o espaço é a constante evolução do espaço do homem, sua dinâmica na cidade se envolve cada vez mais nas formas de inscrição e produção das identidades sociais. Compreender essas novas formas de administração do cotidiano pela cidade é analisarmos esses espaços sensualizados para consumo a qual estamos inseridos. Por isso a presente pesquisa entra nesse cotidiano da prática de skate. Uma tentativa de analisar a interação do espaço urbano com a sua prática na emoção compartilhada. A partir das perspectivas dos modelos de administração de espaços públicos que sofrem, e se apresentam, em constantes transformações diante do espaço social na presença da sociedade. Essas transformações não estão afetando, tão somente, as estruturas políticas, mas também seus modelos jurídicos para o controle social. Possibilitar a partir das apropriações realizadas pela contracultura do skate, na forma de inscreve-se em sua dominação contra a ordem pública do Estado na produção de desigualdades urbanas e os novos modelos de construção dos espaços públicos. Sob a óptica geral, o caso-efeito da expansão desestabilizadora da cidade, e as formas de sua resistência perante os espaços que se formam a degradação urbana, uma degradação como a única forma de uso é no consumo mercantil. E nisso o skate compreende novos significados para esses espaços, a possibilidade de se socializar. Skate não é crime, skate desafia os espaços que são representados nas formas sociais de interação pública.

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Bibliografia

BASTOS, Billy Graeff. Estilo de vida e trajetórias sociais de skatistas: da “vizinhança” ao “corre”. Dissert. Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Ciências do movimento humano. Escola de Ed. Física da UFRGS: Porto Alegre, 2006. Orientação de Marco Paulo Stigger. BRANDÃO, Leonardo. A cidade e a tribo skatista: juventude, cotidiano e práticas corporais na história cultural. Dourados: Ed. UFGD, 2011. BORDEN, Iain. A performative critique of the city: the urban practice of skateboarding, 1958-98’. In: The city cultures reader. Malcon Miles, Tim Hall e Iain Borden (eds.). Londres: Routledge, 2000. CARLOS, Ana Fani Alessandri. A reprodução do espaço urbano como momento da acumulação capitalista. In: Crise Urbana. Ana Fani Alessandri Carlos (org.). São Paulo: Contexto, 2015. CORNEJO, Miguel; CERDA, Gamal, VILLALOBOS, Alejandro. El skate uma practica deportiva de tranversalidad sociocultural en los jóvenes chilenos: los jóvenes de Concepción – Talcahuano Chile. IN: Skate e skatistas: questões contemporâneas. [org. Leonardo Brandão e Tony Honorato]. Londrina: UEL, 2012. Mike DAVIS Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles. São Paulo: Boitempo, 2009. ELIAS, Eduardo de Oliveira. Escritura urbana: invasão da forma, evasão do sentido. São Paulo: Perspectiva, 1989. FABRIS, Annateresa. Fragmentos urbanos: representações culturais. São Paulo: Studio Nobel, 2000. FYFE, Nicholas R., Images of the street: planning, identity and control in plubic space. London and New York: Routledge, 1998. GOFFMAN, Erving. Comportamento em lugares públicos. Rio de Janeiro: Ed. Vozes, 2010 (1963). HARVEY, David. O direito à cidade. http://blogdaboitempo.com.br/2013/11/22/odireito-a-cidade/ . Acesso em 25/11/2013. JACOBS, Jane. Morte e vida de grandes cidades. Trad. Carlos S. Mendes Rosa. São Paulo: Martinsfontes, 2013

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