SMART CITIES E A SUSTENTABILIDADE

June 15, 2017 | Autor: Diogo Librelon | Categoria: Environmental Sustainability, Smart Cities
Share Embed


Descrição do Produto

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

SMART CITIES E A SUSTENTABILIDADE Diogo Librelon1, Kátia Madruga2, Paulo Esteves3 Lucas Oliveira4 1Universidade

Federal de Santa Catarina/Programa de Pós-graduação em TIC,[email protected] Federal de Santa Catarina/Programa de Pós-graduação em TIC, [email protected] 3, Universidade Federal de Santa Catarina/Programa de Pós-graduação em TIC,[email protected] 4, Universidade Federal de Santa Catarina/Graduação em TIC, [email protected] 2, Universidade

Resumo: Um dos grandes desafios da sociedade moderna é encontrar caminhos que viabilizem aplicar inovações tecnológicas e incentivar a expansão econômica das cidades e que ao mesmo tempo ofereçam a redução do impacto ambiental. Neste contexto o conceito de Smart Cities ou Cidades Inteligentes considera que as tecnologias serão o caminho para construir uma economia sustentável e uma cidade apta a proporcionar qualidade de vida para seus habitantes. Diante deste fato e complexidade inerente aos temas Cidades Inteligentes, economia e meio ambiente surge a necessidade de estudos para a sua melhor compreensão. No Brasil já há alguns estudos sobre o tema, contudo, ainda são limitadas as pesquisas que discutem sobre a relação entre os referidos temas. O presente artigo de carácter descritivo e exploratório foi realizado por meio de revisão bibliográfica e objetiva apresentar uma estrutura básica para futuras discussões e novas pesquisas que possam colaborar na formulação de políticas públicas. Palavras-Chave: Smart Cities, Sustentabilidade, Tecnologias da Informação e Comunicação

1 INTRODUÇÃO

Estima-se que até 2050, 75% da população mundial esteja vivendo em grandes cidades (UNFPA, 2007):

Em 2008, o mundo alcançará um marco invisível, porém significativo: pela primeira vez na história, mais da metade da população humana - 3,3 bilhões de pessoas - estará vivendo em áreas urbanas. Até 2030, esse número deverá chegar a quase 5 bilhões. Muitos dos novos habitantes urbanos serão pobres. O futuro dessas pessoas, o futuro das cidades nos países em desenvolvimento, o futuro da própria humanidade dependerá das decisões tomadas agora em preparação para esse crescimento (UNFPA, 2007).

Esta constante migração de pessoas faz com que a preocupação sobre questões relacionadas ao planejamento dos espaços urbanos, tornem-se ainda mais importantes. Diversos países e regiões planejam novas estratégias para o crescimento populacional e os desafios inerentes. Neste cenário, Universidades e Governos realizam parcerias para gerar uma gestão mais sustentável das cidades. Uma das propostas para proporcionar um futuro com qualidade de vida no ambiente urbano são as chamadas

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

Smart Cities ou Cidades Inteligentes. Segundo Carter e Brine (1995), as Cidades Inteligentes serão capazes de equilibrar o desenvolvimento econômico e social inovador, ser tecnologicamente avançadas e ambientalmente sustentáveis. Neste sentido, é possível associar-se a melhoria de qualidade de vida dos cidadãos através do planejamento inteligente da cidade (SHAPIRO, 2006). Para Gama (2012), o termo cidades inteligentes têm sido, cada vez mais, relacionado ao emprego eficiente de Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) como uma ferramenta para melhorar a infraestrutura e serviços da cidade, consequentemente trazendo melhor qualidade de vida. Muitos autores discutem o verdadeiro sentido da palavra “Smart” na proposta de soluções para as Cidades. Um estudo chamado “Smart Cities, Ranking Of European medium sized cities”, realizado entre as instituições “Vienna University of Technology”, “University of Ljubljana” and “Delft University of Technology”, definiu seis áreas estratégicas para que o desenvolvimento das Cidades possa ser considerado “Smart”, e são elas: Economia, Pessoas, Governo, Mobilidade, Meio Ambiente e Qualidade de Vida (GIFFINGER; et al. 2007). O tema smart cities está em ampla discussão (Hall. R, 2000; Komninos. N, 2006; Caragliu. A., 2009) principalmente nas instituições de pesquisa, europeias e Asiáticas, proporcionando uma base de conhecimento para a realização de novas pesquisas. Muitos trabalhos sobre Cidades Inteligentes (Hall R. E., 2000; Harrison. C, 2010; Pereira. C; Zaslavsky. A; Christen. P.) estão focados no desenvolvimento de tecnologia aplicada, por exemplo, ambientes controlados por sensores e softwares. No Brasil o contexto das Cidades Inteligentes começa a aparecer como objeto de pesquisa (Weiss, Bernardes e Consoni, 2013) de maneira tímida o que abre uma grande lacuna para discussões e reflexões. Entre as seis áreas estratégicas do estudo, acima mencionado, as áreas econômicas e meio ambiente já representam grandes desafios, porque estão relacionadas a várias questões como competitividade, inovação, preservação, proteção ambiental e uso eficiente de recursos. Neste sentido, este artigo tem como objetivo apresentar uma breve discussão sobre o conceito de Smart City e Sustentabilidade Econômica e Ambiental e refletir sobre algumas inter-relações importantes que devem ser consideradas pelos gestores que elaboram políticas públicas. O artigo tem carácter qualitativo e exploratório e está baseado em revisão bibliográfica. Para o alcance do objetivo proposto, o trabalho está estruturado em 06 partes. As três próximas seções apresentam a revisão bibliográfica. Na seção cinco, são

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

apresentados as discussões e resultados. Por fim, na seção seis, são apresentadas as conclusões e sugestões para futuras pesquisas.

2 SMART CITIES ou CIDADES INTELIGENTES

A definição de Smart City é interpretada de diversas maneiras pelos autores que fazem referência na área de estudo. Segundo Hall (2000), a definição aborda questões de infraestrutura tecnológica, serviços e monitoramento dos dados gerados pela Cidade, conforme, a seguir:

Uma cidade que monitora e integra as condições de toda a suas infraestruturas críticas, incluindo estradas, pontes, túneis, trilhos, metrôs, aeroportos, portos, comunicações, água, energia, edifícios. Para poder melhor otimizar seus recursos, planejar a sua maximização preventiva de serviços aos seus cidadãos (Hall, 2000).

As cidades precisam garantir e controlar diversos serviços como oferta de energia, água, limpeza e mobilidade urbana, educação, entre outros. Para Caragliu (2009), o conceito de cidade inteligente define-se como:

Uma cidade é inteligente quando investimentos em capital humano e social e infraestruturas de comunicação tradicionais (transporte) e modernas (TIC) promovem um crescimento econômico sustentável e uma elevada qualidade de vida, sob uma sábia gestão de recursos naturais e processos participativos de governança (CARAGLIU, 2009).

O conceito de integração tecnológica aparece fortemente nos estudos das cidades inteligentes e, normalmente, a caracteriza pelo uso da automação e pela integração por meio da internet e de todos os dispositivos e objetos capazes armazenar e transferir dados. Segundo Harrison et al. (2010), a cidade inteligente é considerada como:

Um conjunto de instrumentos, interconectados e inteligentes da cidade. A Instrumentalização permite a captura e integração de dados do mundo real ao vivo através do uso de sensores, quiosques, metrôs, pessoas, dispositivos, equipamentos, máquinas fotográficas, telefones inteligentes, dispositivos médicos implantados, a web, e outros sistemas para aquisição de dados semelhantes, incluindo as redes sociais como redes de sensores humanos (HARRISON, 2010).

A presença do uso intensivo das tecnologias da informação e comunicação como alternativa para uma melhoria na gestão das cidades é o centro da ideia do modelo

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

das smart cities. Contudo, a tecnologia aplicada não é o único caminho de alcançar o status de inteligência como afirma Fernandes e Gama (2009):

A grande centralidade destes territórios advém da sólida combinação de capacidades individuais, esforços coletivos e novas tecnologias, integrando paralelamente a inteligência humana, coletiva e artificial. Esta abordagem reflete questões do contexto de cidades inteligentes como geradores de inovação (FERNANDES E GAMA, 2009).

Nesta mesma linha, aponta Komninos (2006) que: [..] as cidades e regiões inteligentes são territórios com grande capacidade para a aprendizagem e inovação, construídas com base na criatividade da sua população, das suas instituições de criação de conhecimento e na sua infraestrutura digital de comunicação e gestão de conhecimento.

Chourabi et al. (2012) propõem uma estrutura que apresentam os fatores de sucesso para compreender iniciativas e projetos voltados para promover cidades inteligentes. Estes fatores são os seguintes: 1. Gestão e organização – Este fator aborda as questões organizacionais e gerenciais das cidades. Como principal iniciativa o modelo de e-government (governo digital) utiliza-se da internet como principal ferramenta de suporte. As ações deste modelo de governo propõem uma interação digital entre o e-citizien (cidadão digital) com todos os níveis do governo (municipal, estadual e internacional) através de plataformas conectadas. 2. Tecnologia - O fator tecnológico representa a coleção da computação inteligente aplicada sobre as infraestruturas críticas e serviços. A nova geração tecnológica que integra hardware, software e tecnologia de redes, oferece capacidade para que sistemas de tempo real ajudem as pessoas tomarem decisões e alternativas inteligentes. A tecnologia é a chave para a modernização da gestão e funcionamento da cidade. As tecnologias da informação e comunicação implementadas em cidades, impactam diretamente na qualidade de vida do cidadão, porém podem causar um aumento na diferença social causando uma ruptura digital. Isto ocorre, porque muitos têm acesso ao contexto tecnológico e outros não. Os gestores das cidades devem considerar alguns fatores ao implementar as TICs no que se diz respeito à disponibilidade de recursos, capacidade, vontade institucional e também com relação à desigualdade e a exclusão digital, proporcionando uma mudança na cultura e hábitos. 3. Governança – O fator governança pública define regimes de leis, normas administrativas, decisões judiciais e práticas que controlam e permitem as atividades do governo referentes à produção e entrega de serviços públicos. Projetos desenvolvidos para uma cidade envolvem um grande número de stakeholders ou múltiplas partes interessadas no resultado final. A relação das partes interessadas é

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

um fator crítico para definir o sucesso ou o fracasso destes projetos. "As relações das partes interessadas" refere-se a quatro questões principais: a capacidade de cooperar entre as partes interessadas, o apoio de liderança, estrutura de alianças e capacidade de trabalhar sob jurisdições diferentes. Além do que, estipula-se estabelecer a famosa relação entre as partes interessadas do setor público-privado. A governança inteligente depende da implementação de uma infraestrutura inteligente de governança que devem ser responsáveis, ágil e transparente. Esta infraestrutura ajuda a permitir a colaboração, o intercâmbio de dados, e a integração de serviços e comunicação. 4. Contexto Político – O fator político inteligente foca e caracteriza as questões urbanas institucionais e não técnicas que criam condições que permitam o desenvolvimento. Inclui-se também as políticas de relações intergovernamentais entre os diferentes níveis do governo. Os projetos de implantação de TI dependem de prévio conhecimento técnico e administrativo para sua implantação em grande escala, dependendo de um prévio conhecimento dos gestores públicos sobre os regulamentos e leis. 5. Pessoas e Comunidades – O projeto de cidade inteligente tem como um dos seus objetivos incentivar a transformação dos cidadãos em pessoas mais informadas, conscientes e participativas. A iniciativa inteligente permite que os membros da cidade participem da governança e gestão da cidade tornando-os incentivando os cidadãos a serem ativos e participativos. É um fator crítico que os cidadãos tornem-se comunidades ativas e organizadas em grupos e coletivos, para que saibam quais são os respectivos desejos e necessidades dentro das cidades. 6. Economia - Uma economia inteligente permeia o incentivo da construção de uma competividade econômica que gere a inovação e novas empresas, a prática do empreendedorismo e tenha o foco na produtividade e na flexibilidade do mercado de trabalho, bem como a integração do mercado nacional ao global. 7. Infraestrutura Construída – A implementação de uma infraestrutura de TIC é fundamental para o desenvolvimento de uma cidade inteligente e depende de alguns fatores relacionados com a sua disponibilidade e desempenho. Infraestruturas em tecnologia da informação e comunicação inclui cabeamento de fibra óptica, Wi-Fi, hotspots wireless, quiosques digitais) e sistemas de informação orientados a serviços. O conjunto de desafios a serem superados pelo fator de infraestrutura são definidos como: segurança, privacidade, custo operacional e disponibilidade).

8. Ambiente Natural – As iniciativas frente a questão ambiental, sobre o contexto das cidades inteligentes, focam o uso da tecnologia para o aumento da sustentabilidade e uma melhor gestão dos recursos naturais. Porém existe um foco particular de interesse sobre a proteção dos recursos naturais e as infraestruturas conectadas, para uma melhor distribuição de energia, água, esgoto. Além disto, outros aspectos importantes incluem a conservação e promoção de espaços verdes, parques, bibliotecas e centros de convivência coletiva direcionadas para atividades físicas e estímulo de uma vida saudável.

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

Para Choraubi et al., 2012, os fatores, acima mencionados, devem estar integrados e os resultados das iniciativas voltadas para promover o conceito de cidade inteligente por meio de políticas e programas públicos dependem dos diferentes contextos e objetivos 3 ALGUMAS INICIATIVAS PARA PROMOVER O CONCEITO DE SMART CITY

Na cidade de Coimbra, Portugal, um estudo de caso realizado para a avaliação da capacidade de uma região tornar-se uma região inteligente, tomou como ação três grandes dimensões. Segundo Gama (2009), são elas: real, digital e institucional. A região demonstrou-se altamente capaz de adaptar-se a uma rede de conhecimento e troca de informações entre centros de pesquisas, empresas e a Universidade de Coimbra. Neste caso, a estratégia foi aproveitar a possível rede de informações que estas instituições poderiam

gerar

a

aproveitá-la

estrategicamente

na

criação

de

inovação

e

desenvolvimento territorial (GAMA, 2009). Outro estudo realizado sobre o caso de Barcelona (Bakici, 2012), demonstrou algumas políticas públicas que podem levar a transformação de uma cidade em uma Smart City e que podem servir de modelo para outras iniciativas. Segundo Bakici (2012), o estudo analisa a aplicação de gestão estratégica para as áreas e envolve o trânsito de automóveis, infraestrutura tecnológica, distritos inteligentes, laboratórios de criatividade, e-Services e Open Data. No Brasil, o estudo de Weiss, Bernardes e Consoni (2013) procurou discutir como cidades como Rio de Janeiro, Porto Alegre e Curitiba materializam o conceito de cidade inteligente como um novo paradigma de gestão urbana. O estudo apontou que a cidade do Rio de Janeiro investiu na implementação sistemática de sensores e câmeras e no centro integrado de controle. As cidades de Porto Alegre e Curitiba buscaram inicialmente a implantação de uma infraestrutura de transmissão de dados e, posteriormente, estabeleceram projetos para o desenvolvimento e disponibilização de sistemas de informação como suporte à oferta de serviços ao cidadão. Além disto, os resultados indicaram que nas três cidades, apesar das restrições de ordem econômica e de convergência política institucional, as redes e sistemas de comunicação estão se tornando mais ativos e presentes e colaborando para a conexão entre cidadãos e empresas e com o próprio governo. No entanto, estas cidades ainda enfrentam questões sociais e ambientais básicas como saneamento, mobilidade, saúde, segurança, educação. Os autores, entretanto, apontam estas questões como possíveis motivadores

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

ou oportunidades para uma gestão mais integrada por meio de tecnologias e infraestruturas convergentes. O projeto Florip@21 (2013) idealizado pelo Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento (EGC) e o laboratório Agoralab da Universidade Federal de Santa Catarina, aproxima o contexto de pesquisa das Cidades Inteligentes no cenário nacional, e expõem pontos importantes da aplicação de políticas públicas neste setor. O projeto teve como objetivo apresentar uma proposta de criação de uma região inteligente no entorno de um Parque Científico e Tecnológico, em implantação na cidade brasileira de Florianópolis. Segundo Lara et al. (2013), a pesquisa foi norteada pelo chamado desenvolvimento urbano baseado no conhecimento e pelo conceito de cidades inteligentes, e inspirada em estratégias e abordagens bem-sucedidas executadas por cidades como Melbourne, Malta e Barcelona. Percebe-se por meio dos conceitos e iniciativas, acima expostos, que as Cidades Inteligentes são centros urbanos que incentivam o desenvolvimento tecnológico de forma estratégica com foco na infraestrutura de comunicações, serviços públicos, educação e conhecimento, diminuição do impacto ambiental, redução do uso dos recursos naturais e na melhoria na mobilidade urbana. Projetos podem ser elaborados e aplicados dentro de diversas perspectivas relacionadas ao conjunto de serviços entregues à população dentro de sua capacidade de infraestrutura tecnológica. A Cidade Inteligente procura oferecer o caminho para elevar o nível de qualidade de vida para que os cidadãos possam sentir-se bem dentro do perímetro urbano. Além disto, o conceito inclui a ideia de elevar a capacidade empreendedora da sociedade, e de incentivar projetos coletivos entre as comunidades, proporcionando uma inteligência coletiva focada em problemas comuns que requerem soluções para todos.

4. CIDADES E SUSTENTABILIDADE Há uma década cerca de 10% da população mundial vivia em cidades, hoje já chega a mais de 50% e a tendência é haver um acréscimo acelerado nos próximos anos. Nas grandes áreas urbanas há um crescimento desmedidos das favelas e é onde também ocorre 2/3 do consumo mundial e cerca de 75% dos resíduos sólidos são gerados. Além disto, os espaços urbanos centrais perdem boa parte de suas funções produtivas e, portanto, tornam-se obsoletos e esquecidos, o que cria as condições para a formação de guetos de degradação humana, ambiental e urbana. Consequentemente, temas como aquecimento global, mudanças climáticas, justiça social, sustentabilidade e gestão de

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

cidades estão diretamente relacionados. Entretanto, as áreas urbanas devem ser vistas como oportunidades e não como problemas. Experiências como Barcelona, Portland, Nova Iorque e Bogotá demonstram que é possível reinventar as cidades. Os exemplos exitosos deixam claro que por meio de novos projetos urbanísticos e inovadores é possível fomentar uma nova economia e criar novas oportunidades em áreas abandonadas bem como criar novas funções para as mesmas e seus habitantes. As mudanças serão possíveis se as áreas, em vez de serem expandidas forem compactadas, as infraestruturas otimizadas e, desta forma, os espaços verdes poderão ser protegidos ou recuperados. Uma nova economia, planejada de forma estratégica, promoverá a inovação e fará com que as cidades sejam mais verdes e includentes (LEITE, 2010). Neste cenário é fundamental o entendimento de que a sustentabilidade implica em progresso humano, isto é, evolução das técnicas e tecnologias humanas. Em outras palavras, melhores práticas e técnicas dentro de parâmetros verdes para racionalizar o uso dos recursos, reduzir o uso de energia, reciclar os resíduos, reutilizar a água, melhorar a mobilidade, aumentar as áreas com vegetação e de convivência comum, criar espaços politécnicos, poliesportivos, policulturais de uso comum e que ofereçam novos produtos e serviços e aproxime as pessoas (LEITE, 2010). Dentro deste mesmo contexto, Hu (2015) aponta que o desafio, mas também a oportunidade para os espaços urbanos é desenvolver e implementar políticas e estratégias que explorem as abordagens para a integração da sustentabilidade ambiental e a competitividade econômica e que possam trazer respostas para questões como mobilidade, revitalização de áreas verdes, desenvolvimento de espaços públicos de uso comum, gestão de resíduos, uso eficiente de recursos, equidade e inter-relações sociais, novos mercados e competitividade. Este tipo de discussão tem sido realizada, por exemplo, dentro do plano de ação da cidade australiana de Sidnei que deve ser implementado até 2030. A figura 1, abaixo, apresenta abordagens políticas identificadas no Relatório Sustainable Sydney 2030 e que visam integrar e gerar benefícios mútuos que alimentam a competitividade econômica e a sustentabilidade ambiental. As abordagens incluem: economia verde, redesenvolvimento sustentável, transporte integrado e conectividade, lugares acessíveis e habitáveis, planejamento urbano, sustentabilidade mercadológica e planejamento relacional (HU, 2015).

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

Figura 1 - Integrando a sustentabilidade ambiental e a competitividade econômica.

Fonte: Adaptado de Hu, 2015, pag. 4557.

Da mesma forma que a cidade é um espaço para externalidades negativas do ponto de vista ambiental, social e econômico, esta também pode ser o espaço para a construção dos direitos e deveres, e, assim, a palavra “cidadania” retorna à sua origem – cidade. Isto significa que o projeto urbano tem que ser pensado de forma a considerar o modelo de eficiência e equidade, ou seja, um projeto que considere a cidade como o espaço para a invenção de direitos e inovações sociais (Acserlrad, 1999), porque desta forma, será possível, o entendimento e a prática da sustentabilidade. Por meio de uma rápida pesquisa na internet identificam-se algumas redes que procuram compartilhar e discutir experiências sobre o tema da sustentabilidade. Entre estas redes destacam-se a Sustainable Cities Net e a Rede de Cidades Inteligentes e Humanas e Amsterdamsmartcity. Aparentemente o desafio de reunir sustentabilidade ambiental e competitividade econômica num mundo cada vez mais conectado está bastante relacionado às soluções digitais como alternativa para uma nova economia.

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Por meio de uma breve revisão bibliográfica é apresentado no quadro 1, a seguir, os principais conceitos relacionados às Cidades Inteligentes ou Smart cities:

Quadro 1- Principais definições para Cidades Inteligentes Cidades Inteligentes Autor

Ano

Hall, R. E.

2000

Komninos

2006

Conceito Uma cidade que monitora e integra as condições de toda a suas infraestruturas críticas, incluindo estradas, pontes, túneis, trilhos, metrôs, aeroportos, portos, comunicações, água, energia e edifícios. Para poder melhor otimizar seus recursos, planejar a sua maximização preventiva de serviços aos seus cidadãos. As cidades e regiões inteligentes são territórios com grande capacidade para a aprendizagem e inovação, construídas com base na criatividade da sua população, das suas instituições de criação de conhecimento e na sua infraestrutura digital de comunicação e gestão de conhecimento. Uma cidade é inteligente quando investimentos em capital humano e social e infraestruturas de comunicação tradicionais (transporte) e modernas (TIC) promovem um crescimento econômico sustentável e uma elevada qualidade de vida, sob uma sábia gestão de recursos naturais e processos participativos de governança.

Caragliu

Fernandes & Gama

2009

2009

A grande centralidade destes territórios advém da sólida combinação de capacidades individuais, esforços coletivos e novas tecnologias, integrando paralelamente a inteligência humana, coletiva e artificial. Esta abordagem reflete questões do contexto de cidades inteligentes como geradores de inovação.

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

Harrison

2010

Um conjunto de instrumentos, interconectados e inteligentes da cidade. A instrumentalização permite a captura e integração de dados do mundo real ao vivo através do uso de sensores, quiosques, metrôs, pessoas, dispositivos, equipamentos, máquinas fotográficas, telefones inteligentes, dispositivos médicos implantados, a web, e outros sistemas para aquisição de dados semelhantes, incluindo as redes sociais como redes de sensores humanos.

Fonte: Elaborado pelos autores (2015).

Na estrutura proposta por Chourabi et al (2012) os fatores de sucesso para a promoção de cidades inteligentes incluem: Gestão e organização, Tecnologia, Governança, Contexto Político, Pessoas e Comunidades, Economia, Infraestrutura Construída, Ambiente Natural. Estes fatores se inter-relacionam e se retroalimentam, ou seja, dependem um do outro. Isto pode ser percebido nos exemplos de algumas iniciativas no exterior e no Brasil para a promoção de um ambiente urbano inteligente no qual a infraestrutura e comunicações são planejadas para serem integradas e otimizadas e o ambiente econômico, institucional, político fomenta a inovação ou uma nova economia de base digital. Neste sentido, o conceito de cidades inteligentes incorpora o diálogo entre economia e meio ambiente, considerando, que, conforme proposto por Leite (2010) as cidades verdes ou sustentáveis devem ser compactadas e sua infraestrutura otimizada, para que áreas verdes possam ser protegidas ou recuperadas. O ambiente natural necessita ser melhor utilizado, para que questões básicas como saneamento, mobilidade, oferta de água, tratamento de resíduos possam ser resolvidas de forma mais eficaz por meio do suporte das Tecnologias de Informação e Comunicação. Desta forma, será possível a geração dos benefícios mútuos para tornar possível a competitividade econômica alinhada à sustentabilidade ambiental, conforme a proposta de Hu (2015).

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

Em outras palavras, o projeto urbano, conforme proposto por Acserlrad (1999) tem que contar com a participação cidadã e garantir a eficiência e equidade dos direitos e deveres.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste artigo foi apresentar uma breve discussão sobre o conceito de Smart City e Sustentabilidade Econômica e Ambiental e refletir sobre algumas inter-relações importantes que devem ser consideradas pelos gestores que elaboram políticas públicas. Trata-se de um tópico importante, porque a academia junto com outros atores da sociedade ao qual precisa discutir caminhos para transformar as cidades em locais com real qualidade de vida e oferta de tecnologia, saúde, mobilidade, segurança, educação, energia e sustentabilidade. Atualmente a sensação que temos no Brasil e em algumas partes do mundo, é que o processo de aglomeração urbano e as grandes cidades estão fadados a gerar cada vez mais degradação ambiental, consumismo e desigualdades sociais e culturais. Neste cenário é importante que os gestores públicos possam elaborar políticas que fomentem cidades inteligentes, humanas, socialmente includentes e ambientalmente sustentáveis. Para futuros estudos sugere-se o aprofundamento dos conceitos e caminhos para promover cidades inteligentes e sustentáveis bem como sobre os tipos de políticas e ações necessárias para promovê-las e como estas políticas e ações estão ou não se desenvolvendo no Brasil.

REFERÊNCIAS

ALAWADHI, S., ALDAMA-NALDA, A., CHOURABI, H., GIL-GARICA, J. R., LEUNG, S., MELLOULI, S., ET AL. Building understanding of Smart City initiatives. Electronic Government, (2012). ACSELRAD, H., Discurso da sustentabilidade urbana, Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais, 1999. Disponível em: file:///C:/Users/km/Desktop/estudosurbanos.pdf. Acessado em: 25.08.2015. BAKICI, T., ALMIRALL, E., & WAREHAM, J. A Smart City initiative: The case of Barcelona. Journal of Knowledge Economy, (2013). CARTER, N., BRINE, J. MPF Australia: a vision of sustainable development for a post- industrial society. Australia, (1995). CARAGLIU, A., DEL BO, C., & NIJKAMP, P. Smart Cities In Europe. In Third Central European Conference In Regional Science – Cers 2009, 7–9 October Košice, Slovak Republic, (2009).

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

CHOURABI, H., NAM, T., WALKER, S., GIL-GARCIA, J.R., MELLOULI, S., NAHON, K., PARDO, T.A., SCHOLL, H.J. Understanding Smart City Initiatives: An Integrative Framework, (2012). FERNANDES, R; GAMA, R. SOCIEDADE DO CONHECIMENTO E TERRITÓRIOS INTELIGENTES: O SISTEMA DE CONHECIMENTO DE COIMBRA, Portugal: 2009. GAMA, Kiev; ÁLVARO, Alexandre; PEIXOTO, Eduardo. Em Direção A Um Modelo De Maturidade Tecnológica Para Cidades Inteligentes. VIII Simpósio Brasileiro de Sistemas da Informação. Brasil, (2012). HARRISON, C., ECKMAN, B., HAMILTON, R., HARTSWICK, P., KALAGNANAM, J., PARASZCZAK, J., & WILLIAMS, P. Foundations for Smarter Cities. IBM Journal of Research and Development, (2010). HOLLANDS, R. G. Will the real smart city please stand up? Intelligent, progressive or entrepreneurial? (2008). HU, R. Sustainable Development Strategy for the Global City: A Case Study of Sydney. (2015) KOMNINOS, N., & SEFERTZI, E. Intelligent cities: R&D offshoring, Web 2.0 product development and globalization of innovation systems. (2009). LARA, P, L. et al.; Projeto Florip@21: a construção de uma região inteligente na cidade de Florianópolis, Brasil, 2013. LEITE, C, Cidades sustentáveis? Desafios e oportunidades. ComCiência, n. 118, Campinas 2010. Disponível em: http://comciencia.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S151976542010000400008& lng=es&nrm=iso. Acessado em: 23/08/2015. MCTI. Livro Azul – 4º Conferência Nacional de Ciência Tecnologia e Inovação para o Desenvolvimento Sustentável. CGEE, (2010). NEIROTTI, P; MARCO, B; CORINNA, C; MANGANO, G; SCORRANO, F. Current trends in Smart City initiatives: Some stylised facts. Department of Management and Production Engineering, Politecnico di Torino, Corso Duca degli Abruzzi. Italy. OLIVEIRA, A., Cidades Inteligentes e Humanas, Apresentação, Lisboa, 2015. Acessado em: 25.08.2015. SHAPIRO, J.M. “Smart Cities: Quality of Life, Productivity, and the Growth Effects of Human Capital”, In: The Review of Economics and Statistics, (2006).

4º Simpósio de Integração Científica e Tecnológica do Sul Catarinense – SICT-Sul

UNFPA – Fundo de População das Nações Unidas, Situação da população mundial 2007: desencadeando o potencial do crescimento urbano, Nova Iorque, N.I, 2007. Disponível em: www.unfpa.org.br/Arquivos/swop2007.pdf. Acessado em: 01.08.2015.

WEISS, M. C, BERNARDES, R.C; CONSONI, F, Cidades inteligentes: casos e perspectivas para as cidades brasileiras. XV ALTEC Congresso Latino-Iberoamericado de Gestão de Tecnologia, 7710-7727.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.